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erika-salgado
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(Parênteses: na minha modesta opinião, um idioma que divirja jus- tamente na frase “Eu te amo” não pode ter nenhuma esperança de unificação, falada, escrita ou o que seja.) Eu não perdi as esperanças. Se até o confisco do Pla- no Bresser está reaparecendo, eu tenho certeza de que a- inda vou ter os meus tremas e acentos de volta A ortografia inglesa não faz sentido? À primeira vis- ta, não. Mas se a escrita fosse fonética, como diferenciar ―eight‖ de ―ate‖, ―see‖ de ―sea‖?
Citation preview
Uma crônica é uma narração que segue uma ordem tempo-
ral.Pode ser um relato de eventos históricos em ordem cronoló-
gica ( historiografia), ou uma narração curta e frequente em re-
vistas e jornais ( literatura e jornalismo).
A crônica difere da notícia e da reportagem porque, embora
utilizando o jornal ou revista como meio de comunicação, não
tem por finalidade principal informar o destinatário, mas refletir
sobre o acontecido. Desta finalidade resulta que, neste tipo de
texto, podemos ler a visão subjetiva do cronista sobre o universo
narrado. Assim, o foco narrativo situa-se invariavelmente na pri-
meira pessoa.
Aqui teremos crônicas sobre os temas: ‗‘ momento de des-
coberta Truman‘‘, ‗‘Um olhar sobre a cidade‘‘, ‗‘Uma crônica
esportiva‘‘, ―De repente, adolescência‘‘ e, além disso, algumas
crônicas de jornal, revista, de Martha Medeiros ( colunista do
jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Ja-
neiro), e Nelson Rodrigues (um importante dramaturgo, jorna-
lista e escritor brasileiro).. Também contamos com a presença
dos editores Yasmin Leite Gomes e Isabella Bellintani, estudan-
tes do primeiro ano da escola Visconde de Porto Seguro, que ti-
veram bastante trabalho em montar esta coletânea, e esperam
que todos gostem do trabalho apresentado.
Em busca de justiça .............................................................. P.04
Desigualdade nos dias atuais..................................................P.05
Um pequeno gesto já é um bom começo................................P.06
Consciência na Humanidade..................................................P.07
De repente Adolescente...........................................................P08
Tristeza e competição..............................................................P09
Decepção no estádio ...............................................................P10
Crônica de Jornal.............................................................P11 e 12
Crônica de Revista......................................................P13,14 e 15
Crônica de Martha Medeiros...........................................P16 e 17
Crônica de Nélson Rodrigues...........................................P18 e19
Acordei com uma gritaria de flanelinhas que, como eu, potes-
tavam contra alguma coisa que ainda não fazia idéia do que e-
ra. Até que no meio da confusão ouvi um homem gritar que
um novo repelente estava acabando com nossas vidas. Alem
de liberar um cheiro horrível, não conseguíamos nos aproxi-
mar dos carros. Entrei em pânico. Sem limpar os carros, não
ganharia minhas moedinhas que me sustentaram durante toda
minha vida. Mesmo que fossem muito poucas, eram dessas
que eu dependia. Naquela manhã , reunimos todos os flaneli-
nhas para promover uma passeata contra o repelente. ‗‘Não
somos mosquitos‘‘ , gritavam todos os flanelinhas ali presen-
tes. Me lembro como se fosse hoje. A polícia resolveu agir
contra nosso bando e nos agrediu violentamente como se fos-
semos criminosos.
Acordei de novo, no hospital publico com uma enfermeira en-
faixando meu braço e perguntando o que teria acontecido co-
migo. Disse apenas que foi por uma boa causa. Me senti jul-
gado pela sociedade, pelo meu tom de pele mais escuro e mi-
nhas condições mais humildes. Aquela passeata teria
sido um fracasso, porém tinha em minha mente uma consci-
ência tranqüila, de quem lutou por valores de uma vida digna
em busca da felicidade e de justiça.
É engraçado pensar como a humanidade se tornou tão egoísta
e preconceituosa ao passar dos anos. Ao invés de aprender-
mos com os erros dos outros e nos esforçarmos para tornar-
mos pessoas melhores, estamos sempre regredindo e fazendo
questão de menosprezar os outros, como se dinheiro tornasse
alguém superior. Mas afinal, por que agir assim, se dinheiro
não compra caráter e muito menos humildade?
Foi ao entrar no mercadinho, que algo me chamou atenção.
Um novo produto acabara de ser fabricado e estava sendo co-
mercializado sem nenhuma restrição pela cidade. ‗‘Repelente
para flanelinhas‘‘, chamava. Um sentimento de ódio tomou
conta de mim e como reação, sai rapidamente do mercado.
Dirigindo por duas quadras, pude finalmente parar em um fa-
rol, onde se encontravam um amontoado de meninos flaneli-
nhas. Automaticamente, juntaram-se ao redor do meu carro e
com um tom amedrontado em sua voz, o mais novo do grupo
falou:
-- Oi tio, posso limpar seu vidro?
Olhei no fundo de seus olhos e pude ver toda uma vida do-
lorosa e difícil da qual deve ter passado e que com certeza ali
não era onde desejava estar, mas infelizmente por injustiças
do destino estava, e respondi:
--Obvio, minha criança.
Acordei com um pensamento estranho, do qual nunca ha-
via me passado antes. Uma série de perguntas para qual
não conseguia encontrar respostas, repentinamente, tam-
bém me vieram a cabeça.
Ao longo do mesmo caminho, do qual diariamente sigo
para o trabalho, uma cena lamentável prendeu minha a-
tenção. Catadores de sucata, trabalhavam duro para man-
ter a ordem e a limpeza de nossa cidade, enquanto pesso-
as desrespeitosas, ignorantes e egoístas, continuavam a
passar e jogar seus lixos pela rua, como se estivessem de
olhos vendados, sem ao menos notar que as pessoas já
trabalhavam ali, catando o lixo que outros mal educados,
já haviam descartado. Será possível , em pleno século
XXI, com tantas possibilidades de nos tornarmos um país
unido e cooperativo , tenhamos nos tornado egoístas e in-
dividualistas? Que ao menos não saibamos trabalhar jun-
tos, para formar um mundo melhor?
Como um rápido momento de alucinação, saltei do carro
e segurei uma mulher que havia no exato momento joga-
do uma latinha de refrigerante no chão. Não precisei nem
dizer e como se um olhar valesse mais que mil palavras,
ela voltou e apanhou o que havia deixado para trás. Con-
tinuei supervisionando a rua por mais algumas horas e fui
embora decidido que, um belo começo de transformar o
mundo, era com um pequeno gesto como esse.
Um dia desses, estava no engarrafamento na cidade de São
Paulo. Uma fila quase infinita de carros na marginal que
parecia não acabar. Percebi como as pessoas estavam irri-
tadas e impacientes consigo mesmas só pela quantidade de
buzinas que estavam soando.
Presa no transito, sem saber o que fazer, olhei para fora da
janela e observei todo aquele lixo jogado no rio. Percebi
como as pessoas não se importavam com o lixo jogado nas
ruas, muito menos com a poluição e com o trabalho duro
dos catadores de sucata.
É impressionante como a raça humana tem uma mentali-
dade ignorante e egoísta. Só pensam em si próprios e não
se importam com o que esta acontecendo em sua volta. Eu
agia como eles, mas depois de refletir durante horas na-
quela tarde, percebi o quanto é importante termos um mí-
nimo de consciência com a natureza e não pensarmos so-
mente em si próprio.
É muito comum ouvirmos de nossos familiares, ou até
mesmo de pessoas mais velhas, para que aproveitemos
nossa fase como criança, pois o tempo passa rápido de-
mais. E hoje, vejo que todos eles estavam realmente cer-
tos, o tempo voa.
Acordei nessa manhã ensolarada, com uma sensação estra-
nha. Olhei ao meu redor, mas nada estava diferente, a não
ser eu mesma. Meu lençol estava com uma mancha aver-
melhada. Fiquei parada por alguns minutos, imóvel, e ate
mesmo espantada, até realmente me tocar do que estava a-
contecendo. A bebezinha da mamãe estava ficando moci-
nha. Corri para o banheiro, e por horas, fiquei a me obser-
var ao espelho. Minha pele, já não era mais o mesmo pês-
sego de antes. Espinhas monstruosas surgiam em meu ros-
to, me deixando assustada, e incontrolavelmente irritada, o
que provavelmente podia ser entendido como a famosa
TPM e para piorar, pelos em regiões que eu nunca espera-
va encontrar, também resolveram aparecer. Lágrimas
quentes de raiva escorreram pelo meu rosto. Resolvi con-
versar com minha mãe, e ela amorosamente, me explicou
que eram fases de vida, e que toda mulher um dia também
passaria por isso.
O resto do dia permaneci sentada na varanda, pensando
em tudo por qual eu já havia passado e pude entender, que
a vida é uma só, e se você não aproveita, o tempo passa, e
você fica para trás.
Dia ensolarado e tranqüilo na cidade de São Paulo. Todos es-
tão ansiosos para o jogo que ocorrerá no final da tarde, pois
este, decide o final do campeonato. Mas eu, como cidadão,
não estava nada feliz. Sempre gostei muito de jogos de fute-
bol, até presenciar um acontecimento lamentável na saída do
estádio de um jogo em que fui com meu filho torcer e assistir.
O jogo ocorreu tranqüilo, até o primeiro tempo, onde o placar
se mantinha estável e não favorecia a nenhum dos times. Mas
infelizmente, o jogo começou a mudar. O time adversário a
qual nos torcíamos estava perdendo, e sua torcida, não muito
contente, resolveu atirar pedras em nosso lado da arquibanca-
da. A confusão começou, e uma série de policias armados en-
traram no estádio para tentar acalmar a situação. Corri com
meu filho para fora do estádio, e entrei no primeiro taxi que
vi passar pela rua. A caminho de casa, podíamos ver ambu-
lâncias passando, e pessoas sangrando. Ao chegar em casa, e
por a cabeça no travesseiro parei para pensar, em como um
esporte que deveria servir para divertir e trazer prazer as pes-
soas, poderia fazer tão mal. Não acreditava, em como o vicio
e a paixão por um time, poderia ser capaz de tirar a vida de
pessoas inocentes, que só estavam lá, assim como eu, para se
distrair.Uma lagrima fria escorreu pelo meu rosto, me levan-
do a crer, que mesmo em dia ensolarados como o dia de hoje,
seriam capazes de me fazer esquecer o que os jogos de fute-
bol hoje em dia representam, sofrimento e disputa, e não mais
um simples momento de diversão.
Fui assistir a um jogo do são Paulo no estádio pela pri-
meira vez. Era um jogo imperdível e depois de implorar
quase de joelhos para minha mãe, ela concordou em me
levar ao jogo, porem não aconselhava que eu fosse sozi-
nha e resolveu ir junto. A partida foi um sucesso, todos
os torcedores vibravam como nunca. Tudo ocorria muito
bem ate a hora em que ouvi barulhos de tiros e avistei
cavalos da policia em volta do estádio. Uma multidão de
pessoas foi atropelada pela policia. Minha mãe agarrou
em meu braço com muita força e saímos as duas corren-
do em direção ao lugar menos movimentado possível.
Finalmente conseguimos chegar ate o carro, eu estava
muito assustada com aquilo tudo, nunca imaginei que
poderia resultar num desastre como esse. Depois de ou-
vir um sermão de minha mãe, pedi desculpas por ter pe-
dido para ir ao jogo, e prometi para mim mesma que não
iria nunca mais. Foi realmente uma decepção, nunca
pensei que isso pudesse acontecer por causa de uma
simples partida de futebol.
Q U AR TA - F E I R A, 11 D E M AR Ç O D E 2 0 0 9 - Crônica Acabo de devorar um livro que é a melhor e mais embasada crítica já escrita ao acordo ortográfico do português. Trata-se de “The Mo-ther Tongue: English and how it got that way” (algo como “A Língua Materna: como o inglês ficou desse jeito), de Bill Bryson, o mesmo do genial “Uma breve história de quase tudo”. Está bem, está bem: o livro não é exatamente sobre o acordo orto-gráfico do português. Não foi publicado agora, mas em 1990. E Bill Bryson não deve saber xongas sobre as diferenças entre as varian-tes do português dos dois lados do Atlântico – nem ao menos que o nosso “Eu te amo”, em solo luso, se diz “Amo-te”. (Parênteses: na minha modesta opinião, um idioma que divirja jus-tamente na frase “Eu te amo” não pode ter nenhuma esperança de unificação, falada, escrita ou o que seja.) O que “The Mother Tongue” traz é uma fórmula vencedora de auto-ajuda para toda língua que queira conquistar amigos e influenciar pessoas. E a fórmula que fez do inglês o idioma mais influente do planeta, afirma Bryson, é justamente a sua falta de regulamenta-ção. Olhe que interessante: o período em que o inglês mais evoluiu foi durante os 300 anos – entre 1066 e 1399 – em que reis normandos mandaram na Inglaterra. Enquanto o francês era a língua oficial da Corte, a patuléia pôde fazer da língua inglesa o que bem lhe aprou-vesse. Foi quando os gêneros acabaram abolidos, as conjugações verbais foram simplificadas, e os plurais saxões terminados em “n” e “r” foram naturalmente uniformizados em “s”.
Ao retomar o status de idioma oficial, o inglês mo-
derno estava mais enxuto, mas continuava suficientemen-
te vira-lata para incorporar tudo o que viria a passar pelo
seu caminho: o vocabulário deixado pela corte francofô-
nica, os neologismos fabricados pelos elizabetanos e vito-
rianos, os termos importados das colônias, as estruturas
inventadas pelos americanos.
Até hoje ingleses e americanos não têm uma orto-
grafia comum – nem querem ter. Os ingleses seguem o
dicionário Oxford, os americanos seguem o Webster – e
os dicionários seguem os britânicos e os americanos, re-
gistrando as grafias que ocorrem e vingam na vida real.
A ortografia inglesa não faz sentido? À primeira vis-
ta, não. Mas se a escrita fosse fonética, como diferenciar
―eight‖ de ―ate‖, ―see‖ de ―sea‖?
Eu não perdi as esperanças. Se até o confisco do Pla-
no Bresser está reaparecendo, eu tenho certeza de que a-
inda vou ter os meus tremas e acentos de volta
Cronica Da Revista O Globo De 5 De Agosto
Crônica do Amor Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por con-junção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pe-la fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não li-ga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. E-le não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia românti-ca também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemá-tica: eu linda + você inteligente = dois apaixona-dos. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o a-mor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a manei-ra mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa
A TRISTEZA PERMITIDA (
Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair
da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu
convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas
providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os ri-
tuais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como
tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra com-
pras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se
eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não en-
contrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje le-
vantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai rea-
gir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo,
ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que
eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra
eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a
ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é
mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de
ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma do-
ença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma.
Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa?
Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo
com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste,
também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento
tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que
ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é
estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é
estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou
consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é desco-
brir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm
essa mania de serem discretas.
Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não
me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu an-
do tão down...‖ Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos
versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada,
melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desa-
marrar a cara. ―Não quero te ver triste assim‖, sussurrava Roberto Car-
los em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a en-
frentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para dis-
farçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de
existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-
oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro
que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor
mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria
das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus a-
baixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem
pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspec-
ção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar.
Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabe-
doria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o
fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.
Freud no futebol
Um amigo meu que foi aos Estados Unidos informa que, lá, todo mun-
do tem o seu psicanalista. O psicanalista tornou-se tão necessário e tão coti-
diano como uma namorada. E o sujeito que, por qualquer razão eventual,
deixa de vê-lo, de ouvi-lo, de farejá-lo, fica incapacitado para os amores, os
negócios e as bandalheiras. Em suma: — antes de um desses atos gravíssi-
mos, como seja o adultério, o desfalque, o homicídio ou o simples e cordial
conto-do-vigário, a mulher e o homem praticam a sua psicanálise.
O exemplo dos Estados Unidos leva-me a pensar no Brasil ou, mais e-
xatamente, no futebol brasileiro. De fato, o futebol brasileiro tem tudo, me-
nos o seu psicanalista. Cuida-se da integridade das canelas, mas ninguém se
lembra de preservar a saúde interior, o delicadíssimo equilíbrio emocional
do jogador. E, no entanto, vamos e venhamos: — já é tempo de atribuir-se
ao craque uma alma, que talvez seja precária, talvez perecível, mas que é in-
c o n t e s t á v e l .
A torcida, a imprensa e o rádio dão importância a pequeninos e mise-
ráveis acidentes. Por exemplo: — uma reles distensão muscular desencadeia
manchetes. Mas nenhum jornal ou locutor jamais se ocuparia de uma dor-de
-cotovelo que viesse acometer um jogador e incapacitá-lo para tirar um vago
arremesso lateral. Vejam vocês: há uma briosa e diligente equipe médica,
que abrange desde uma coriza ordinaríssima até uma tuberculose bilateral.
Só não existe um especialista para resguardar a lancinante fragilidade psí-
quica dos times. Em conseqüência, o jogador brasileiro é sempre um pobre
ser em crise.
Isabella Bellintani – 9
Yasmin Leite - 27
Professora Érica Salgado
21MA5
Produção de texto
Contracapa
Este artigo pode conter de
150 a 200 palavras.
Uma das vantagens de usar
o boletim informativo como
ferramenta promocional é a
possibilidade de aproveitar
outros materiais de marke-
ting, como informações à
imprensa, estudos de mer-
cado e relatórios.
O segredo de um trabalho
bem-sucedido é apresentar
um conteúdo útil ao leitor.
Uma forma de apresentar
um conteúdo eficiente é
desenvolver e escrever seus
próprios artigos ou incluir a
programação de eventos
futuros ou uma oferta espe-
cial promovendo um novo
produto.
Pesquise outros artigos ou
inclua artigos
”complementares“ acessan-
do a World Wide Web. Você
poderá escrever sobre uma
variedade de assuntos ou
optar por artigos resumidos.
Grande parte do conteúdo
do boletim informativo pode
ser aproveitada para seu site
da Web. O Microsoft Publi-
sher oferece uma maneira
simples de converter seu
boletim informativo em uma
publicação da Web. Quando
terminar de escrever o bole-
tim informativo, converta-o
para um site da Web e publi-
que-o.
art que você poderá esco-
lher e importar para o bole-
tim informativo. Há também
várias ferramentas para
desenhar formas e símbo-
los.
Após escolher uma imagem,
coloque-a próxima ao arti-
go. Certifique-se de inserir
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ração do boletim informati-
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Título do artigo interno
Título do artigo interno
melhorias no gerenciamen-
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crescimento da empresa.
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contêm uma coluna atuali-
zada a cada edição: uma
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rária, uma carta do presi-
dente ou um editorial. Você
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Se preferir, poderá fazer
observações sobre as ten-
dências comerciais ou eco-
nômicas ou previsões para
clientes.
Se fizer uma distribuição
interna, poderá analisar
novos procedimentos ou
Página 20 Volume 1, edição 1
Legenda da imagem ou do
elemento gráfico.
Legenda da ima-
gem ou do ele-
mento gráfico.
“Para chamar a
atenção do
leitor, insira
uma citação ou
frase
interessante do
texto aqui.”
Para nós, o futebol não se traduz em termos técnicos e táticos, mas pu-
ramente emocionais. Basta lembrar o que foi o jogo Brasil x Hungria*, que
perdemos no Mundial da Suíça. Eu disse ―perdemos‖ e por quê? Pela supe-
rioridade técnica dos adversários? Absolutamente. Creio mesmo que, em
técnica, brilho, agilidade mental, somos imbatíveis. Eis a verdade: — antes
do jogo com os húngaros, estávamos derrotados emocionalmente. Repito:
— fomos derrotados por uma dessas tremedeiras obtusas, irracionais e gra-
tuitas. Por que esse medo de bicho, esse pânico selvagem, por quê? Nin-
guém saberia dizê-lo.
E não era uma pane individual: — era um afogamento coletivo. Nau-
fragaram, ali, os jogadores, os torcedores, o chefe da delegação, a delega-
ção, o técnico, o massagista. Nessas ocasiões, falta o principal. Estão a pos-
tos os jogadores, o técnico e o massagista. Mas quem ganha e perde as par-
tidas é a alma. Foi a nossa alma que ruiu face à Hungria, foi a nossa alma
que ruiu face ao Uruguai. E aqui pergunto: — que entende de alma um téc-
nico de futebol? Não é um psicólogo, não é um psicanalista, não é nem
mesmo um padre. Por exemplo: — no jogo Brasil x Uruguai entendo que
um Freud seria muito mais eficaz na boca do túnel do que um Flávio Costa,
um Zezé Moreira, um Martim Francisco. Nos Estados Unidos, não há uma
Bovary, uma Karênina que não passe, antes do adultério, no psicanalista.
Pois bem: — teríamos sido campeões do mundo, naquele momento, se o
escrete houvesse freqüentado, previamente, por uns cinco anos, o seu psica-
nalista.
Sim, amigos: — havia um comissário de polícia, que lia muito X-9,
muito Gibi. Para tudo o homem fazia o comentário erudito: — ―Freud ex-
plicaria isso!‖. Se um cachorro era atropelado, se uma gata gemia mais alto
no telhado, se uma galinha pulava a cerca do vizinho, ele dizia: — ―Freud
explicaria isso!‖. Faço minhas as palavras da autoridade: — só um Freud
explicaria a derrota do Brasil frente à Hungria, do Brasil frente ao Uruguai
e, em suma, qualquer derrota do homem brasileiro no futebol ou fora dele.