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O Assentamento Maceió está localizado a cerca de 60 quilômetros do município de Itapipoca, na região norte do estado do Ceará. São mais de 5 mil hectares onde vivem aproximadamente 1200 famílias. O Maceió é formado por 12 comunidades. É terra de gente de garra e fibra que luta para preservar seu modo de vida na terra e no mar através de seus costumes e tradições. Na comunidade Sítio Coqueiro uma das 12 comunidades que formam o Assentamento, vive a família de Maria José Martins Alves conhecida como Zeza, seu companheiro Raimundo Filho dos Santos, que atende pelo apelido de Pequeno e seus três filhos – Bárbara, Gustavo e Otávio. O manejo agroecológico do quintal de Zeza inclui a criação galinhas, gansos, ovelhas e abelhas. A história dessa mulher enquanto agricultora agroecológica, começou a partir do ano 2004, quando ela participou do curso de Agentes Multiplicadores em Agroecologia realizado em Itapipoca pelo CETRA. “Antes do curso, não gostava de me envolver em nenhum movimento e não entendia por que o Pequeno dedicava tanto do seu tempo para participar de reuniões nas comunidades. Mas o conhecimento leva a gente a pensar de maneira diferente, com o curso comecei observando, aí pensava, será que se eu tentar vai dar certo”, afirma Zeza. E foi assim, que começou a experimentar algumas práticas agroecológicas em seu quintal de quase 2 hectares. Os intercâmbios realizados no decorrer do curso e o incentivo da equipe técnica do CETRA estimularam a experimentação que foi transformando aos poucos seu Quintal. Ela lembra que naquele tempo a terra era solta e seu primeiro passo foi deixar de queimar, então começou a cobrir toda área com folhas secas e gravetos. “A terra precisa de roupa para se proteger assim como nós”, reforça Zeza. Hoje em seu Quintal são produzidas diversas variedades de frutas como: banana, mamão, amora, abacaxi, acerola, siriguela, sapoti, cajá, caju, carambola, ata, manga, pitanga, goiaba, araticu, murici, coco, laranja, limão entre outras e são cultivadas no mesmo espaço milho, feijão, mandioca, urucum, gergelim e uma diversidade de plantas medicinais e espécies nativas. São mais de 60 variedades de plantas. Zeza explica que de vez enquando é necessário fazer um desbaste, uma poda, para entrar sol nas áreas, pois quando as plantas crescem demais, dificulta a entrada de luz solar no ambiente. Para ampliar sua criação de galinhas ela acessou o Fundo Rotativo Solidário, projeto gerenciado pelos agricultores/as em parceria com o CETRA, que tem o objetivo geral de estruturar e fazer funcionar um fundo rotativo territorial para custear a implantação e reestruturação de unidades produtivas de manejo agroecológico da agricultura familiar. Quintais para a Vida A Experiência de Zeza na Produção de Alimentos Agroecológicos Quintal Agroecológico Criação de Galinhas e Gansos Itapipoca, Ceará - Julho/2011

Quintais para a Vida - Zeza

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Experiência de transição agroecológica

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Page 1: Quintais para a Vida - Zeza

O Assentamento Maceió está localizado a cerca de 60 quilômetros do município de Itapipoca, na região norte do estado do Ceará. São mais de 5 mil hectares onde vivem aproximadamente 1200 famílias. O Maceió é formado por 12 comunidades. É terra de gente de garra e fibra que luta para preservar seu modo de vida na terra e no mar através de seus costumes e tradições. Na comunidade Sítio Coqueiro uma das 12 comunidades que formam o Assentamento, vive a família de Maria José Martins Alves conhecida como Zeza, seu companheiro Raimundo Filho dos Santos, que atende pelo apelido de Pequeno e seus três filhos – Bárbara, Gustavo e Otávio.

O manejo agroecológico do quintal de Zeza inclui a criação galinhas, gansos, ovelhas e abelhas.

A história dessa mulher enquanto agricultora agroecológica, começou a partir do ano 2004, quando ela participou do curso de Agentes Multiplicadores em Agroecologia realizado em Itapipoca pelo CETRA. “Antes do curso, não gostava de me envolver em nenhum movimento e não entendia por que o Pequeno dedicava tanto do seu tempo para participar de reuniões nas comunidades. Mas o conhecimento leva a gente a pensar de maneira diferente, com o curso comecei observando, aí pensava, será que se eu tentar vai dar certo”, afirma Zeza.

E foi assim, que começou a experimentar algumas práticas agroecológicas em seu quintal de quase 2 hectares. Os intercâmbios realizados no decorrer do curso e o incentivo da equipe técnica do CETRA estimularam a experimentação que foi transformando aos poucos seu Quintal. Ela lembra que naquele tempo a terra era solta e seu primeiro passo foi deixar de queimar, então começou a cobrir toda área com folhas secas e gravetos. “A terra precisa de roupa para se proteger assim como nós”, reforça Zeza.

Hoje em seu Quintal são produzidas diversas variedades de frutas como: banana, mamão, amora, abacaxi, acerola, siriguela, sapoti, cajá, caju, carambola, ata, manga, pitanga, goiaba, araticu, murici, coco, laranja, limão entre outras e são cultivadas no mesmo espaço milho,

feijão, mandioca, urucum, gergelim e uma diversidade de plantas medicinais e espécies nativas. São mais de 60 variedades de plantas. Zeza explica que de vez enquando é necessário fazer um desbaste, uma poda, para entrar sol nas áreas, pois quando as plantas crescem demais, dificulta a entrada de luz solar no ambiente.

Para ampliar sua criação de galinhas ela acessou o Fundo Rotativo Solidário, projeto gerenciado pelos agricultores/as em

parceria com o CETRA, que tem o objetivo geral de estruturar e fazer funcionar um fundo rotativo territorial para custear a implantação e reestruturação de unidades produtivas de manejo agroecológico da agricultura familiar.

Quintais para a VidaA Experiência de Zeza na Produção de Alimentos Agroecológicos

Quintal Agroecológico

Criação de Galinhas e Gansos

Itapipoca, Ceará - Julho/2011

Page 2: Quintais para a Vida - Zeza

Com seu primeiro acesso no valor de R$ 1.000,00 (Um mil reais), Zeza fez a ampliação do galinheiro e a aquisição de novas galinhas aumentando sua produção em 100% e aproveita o esterco das galinhas para adubar plantas e assim não desperdiçar nada gerando maior sustentabilidade na sua área.

A apicultura é outra atividade desenvolvida por Zeza em sua unidade familiar de onde tira o mel para o consumo da família. Além do valor nutricional e medicinal, o mel ainda é utilizado por Zeza como matéria prima na confecção de sabonetes e cremes, que aprendeu a fazer participando de oficinas de capacitação e hoje ela multiplica esse conhecimento

facilitando oficinas de produção de cosméticos à base de mel. A maior parte dos alimentos que vão para a mesa da família vem do quintal, a parte

excedente é comercializada na Feira Agroecológica e Solidária de Itapipoca, feira esta fruto da organização dos agricultores/as do Território Vale do Curu e Aracatiaçu. Zeza afirma com orgulho que na feira aprendeu a ser solidária, pois cada um apoia e valoriza o outro.

A Feira é realizada pela Rede de Agricultores/as Agroecológicos/as do Território da qual Zeza faz parte e sua presença tem estimulado a participação de outras mulheres em espaços coletivos. Para Zeza a Rede é um espaço de intercâmbio e partilha de conhecimento, onde com outros agricultores/as ela pode planejar, compartilhar saberes e formas de como multiplicar as experiências agroecológicas pela região a fora.

Para Zeza os intercâmbios lhe possibilitaram conhecer as experiências de agricultores/as do Ceará e de outros estados. E hoje sente-se orgulhosa por também receber em sua unidade familiar agricultores/as de diferentes lugares e nestes momentos além das trocas de saberes, sementes e receitas, nascem novos laços, novas relações de amizade.

O projeto de vida de Zeza é poder sustentar sua família com a produção agroecológica. Ela acredita que essa decisão é fundamental para a vida de sua família. “Eu não me deixei seduzir pelos empregos das fábricas na cidade. Penso que como agricultora nunca vou ser uma desempregada. Todos os meus planos estão ligados a agricultura. Não me vejo fora desta vida. Onde vivo tem sentido e sentimento”. Afirma decidida Zeza.

A experiência de Zeza como agricultora agroecológica a despertou para uma maior participação política, atualmente ela integra o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais. A agricultura agroecológica promoveu o reencontro de Zeza com agricultura. Hoje ela e Pequeno compartilham o cuidado com as crianças com a casa e com a produção do quintal. Juntos multiplicam conhecimentos e trocam sementes. Juntos sonham e contribuem com a construção de um mundo mais justo, solidário e sustentável.

Diversidade na produção

Realização: Parceiros:

DO VALE DO CURU E ARACATIAÇUREDE ATER NORDESTE AS-PTA, APAEB, ASCOOB, ASSOCENE, CAATINGA, CENTRO SABIÁ, CETRA, ESPLAR, DIACONIA, MOC, PATAC E SASOP

“Eu amadureci sendo agricultora. Essa condição me trouxe consciência. Sai do meu mundo individual e

fui dividir com mais pessoas”. Zeza