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REAL OU VIRTUAL? URBANO OU RURAL? REPENSANDO A
CARACTERIZAÇÃO ESPAÇO-TERRITORIAL DO
DESENVOLVIMENTO
Christian Ganzert - USP
1. Introdução conceitual: Espaço físico-territorial na era da redescoberta
do território
Os arranjos produtivos regionais se estabeleceram em torno da
necessidade de fomentar processos que garantissem a eclosão de inovações,
para manter níveis de competitividade de mercado, gerando melhorias em
produtos e processos. Autores como Gertler (2003) afirmam que o processo de
inovação, seja incremental ou total, dependem do conhecimento tácito em
maior quantidade do que do conhecimento explícito, registrado em algum tipo
de suporte. São as trocas de experiências entre pesquisadores, e a vivência
derivada dessa interação, que proporcionam a possibilidade de combinar
múltiplos conhecimentos e deriva-los em algo que possa oferecer vantagens
competitivas às organizações.
Segundo Howells (2002), baseando-se em estudo empírico sobre o
assunto, “a transferência de conhecimento tácito é sensível à distância”
(HOWELLS, 2002, p. 880). Significa dizer que a busca por inovações, uma vez
baseada no conhecimento tácito, necessita da aproximação dos agentes
promotores das inovações necessárias à competitividade. Essa aproximação,
embora possa ser substituída parcialmente pela utilização dos dispositivos
comunicacionais telemáticos, tende a possuir maior eficiência quando os
agentes ocupam o mesmo espaço físico. Essa é a razão do estabelecimento
dos clusters, definidos por Porter (1992) como concentrações geográficas de
empresas de determinado setor e os demais agentes correlatos a elas
conectados, tais como universidades e fornecedores. Dalsgaard (2001)
enxerga os clusters como “redes de firmas e instituições de conhecimento com
estruturas em condições comuns. Suas inter-relações criam competências
20
compartilhadas, possibilitando uma produção com relativamente alto valor
agregado” (DALSGAARD, 2001,p. 351).
De acordo com os estudos de Markusen, Hall e Glasmeier (1986), quatro
séries de variáveis devem explicar o surgimento de concentrações regionais de
empresas voltadas para oferecimento de produtos em torno de uma mesma
base tecnológica. Seriam classificadas em: condições amenas pra o
estabelecimento de famílias (bom clima, boas opções para educação), meios
de acesso (estradas, portos e aeroportos), desenvolvimento econômico
(serviços de assistência ao negócio, disponibilidade de agentes financeiros) e
fatores sócio-políticos (nível médio de renda, equidade social, gastos públicos
em tecnologia). Entretanto, todas essas condições, ainda que combinadas, não
garantem o sucesso da região enquanto geradora de inovações. É necessário
combinar elementos típicos do estabelecimento de Sistemas Regionais de
Inovação e criar meios para que estes possam se integrar de forma a favorecer
a dinâmica de criação.
Segundo Edquist (2005), um sistema de inovação “compreende todos os
determinantes do processo de inovação” (EDQUIST, 2005, p. 182). No caso
dos Sistemas Regionais de Inovação, percebemos a notória presença de três
peças fundamentais: indústrias, centros de pesquisa e universidades. Sem a
integração desses participantes indispensáveis, fica difícil imaginar processos
de inovação realizados em escala regional.
A Tecnologia de Informação, responsável pela intensificação dos fluxos
informacionais ocorrida nos últimos quarenta anos, tem atrelada a ela uma
indústria de alta competitividade responsável por manter a dinâmica de
melhoria constante das técnicas de comunicação humana e processamento de
informações. Algumas das nações e regiões que iniciaram a implantação de
arranjos produtivos em Tecnologia da Informação passaram a ter destaque no
novo cenário do espaço mundial globalizado. O papel do desenvolvimento da
TI para os Estados Unidos, por exemplo, foi tão importante que, segundo
Drucker (1987), salvou a economia americana da estagnação prevista pelos
padrões cíclicos de obsolescência tecnológica de Kondratieff (SCHUMPETER,
1982, 1983; KONDRATIEFF; DANIELS, 1984), não somente pela mudança do
paradigma tecnológico, mas também pela inovação dos arranjos produtivos e
pelo empreendedorismo (DRUCKER, 1987), tal qual o modelo encontrado no
21
Vale do Silício. Esses fatores mostraram ao mundo a importância dessa região
produtiva muito particular, em um setor de alta competitividade, baseado na
inovação e no conhecimento. A era da informação havia chegado, através da
aplicação produtiva e social de produtos de uma nova indústria, a indústria de
TI. A região que melhor representa essa nova indústria é justamente o Vale de
Santa Clara, onde se constituiu o cluster de TI mais importante do mundo.
Antes mesmo da invenção do transistor em 1946 pela Bell Labs
(CHANDLER;
CORTADA, 2003), a região surgia como um importante marco referencial para
a emergente indústria da recente “Tecnologia da Informação” (ou simplesmente
TI). O Vale do Silício californiano, apelido concedido ao maior cluster de TI do
mundo, com a maior parte de sua extensão situada no condado de Santa
Clara, tem como pedra fundamental a fundação da Hewlett-Packard em Palo
Alto, em janeiro de 1939 (LÉCUYER, 2006). Dois jovens estudantes de
Stanford montaram em uma garagem, patrocinados pelo reitor da universidade,
uma microempresa de engenhocas eletrônicas que iniciaria a tendência de
empreendedorismo da região e criaria o “mito da garagem”, ideia
fundamentada no sucesso econômico de vários empreendimentos que
começaram com pouco ou nenhum capital nas residências de estudantes
universitários (MALONE, 2007). Esse tipo de fenômeno econômico se
reproduziu mais de uma
vez, gerando grandes corporações como Microsoft e Apple.
Bangalore, na Índia, mostrou-se uma região conectada com o
empreendedorismo
observado no Vale do Silício (VENKATARAMAN, 2004). Como mostra
Saxenian (2000), isso não era fruto de uma coincidência, pois uma enorme
quantidade de pesquisadores indianos imigrou para trabalhar no Vale do Silício
entre as décadas de 1970 e 1980. A este fenômeno, Saxenian (1994) deu o
nome de Brain Drain. Surgiu um momento em que os imigrantes começaram a
voltar para a Índia, ora “contaminados” pela cultura do empreendedorismo.
Instalaram-se em algumas regiões de destaque tecnológico, em especial na
região de Bangalore, iniciando o processo intitulado por Saxenian (2006) como
Brain Circulation, no qual os talentos explorados por anos a fio pelas empresas
americanas voltaram aos seus lares e constituíram uma revolução na indústria
22
local de TI. Saxenian (2006) nomeia esses novos empreendedores como os
“novos argonautas”.
Bangalore se tornou um notável cluster de TI, principalmente no que
tange ao setor de serviços e desenvolvimento de softwares (KEELEY, 2007;
CASTELLS, 1999;
PRASHANTHAM, 2008). O sucesso da região pode ser equiparado com outros
eventos
parecidos ao redor do mundo, tendo como pano de fundo a ação constante do
empreendedorismo.
A formação de clusters se mostrou colaborativa com o crescimento do
setor de TI em nível internacional. Frente ao sucesso observado em regiões da
Ásia, tal como Bangalore (Índia), a exemplo do modelo americano do Vale do
Silício, outros países passaram a incentivar a formação de clusters
tecnológicos. O que mais chama a atenção para o surgimento de um centro de
excelência produtiva de TI em Bangalore é a notável distância de sua
economia daqueles padrões encontrados nos Estados Unidos. Enquanto o
Vale do Silício está localizado no país que detém a maior economia do mundo,
representante emblemático do sistema de produção capitalista, a Índia está
bem aquém do desenvolvimento financeiro e econômico americano. O sucesso
de Bangalore mostra que há mais questões envolvidas na formação de um
cluster tecnológico de excelência do que a mera disponibilidade de recursos
materiais e uma economia essencialmente capitalista.
Os dois exemplos mostram que, seja na Índia ou nos Estados Unidos, a
condição para atingir a excelência na atuação em mercados de alta tecnologia
é promover a inovação continua, gerando competitividade. Quando voltamos a
atenção para o âmbito regional, o empreendedorismo se torna peça chave da
competitividade, oxigenando as estruturas organizacionais para manter o
ineditismo necessário ao processo de inovação, não somente no âmbito
produtivo, mas também no que tange as questões administrativas e de
relacionamento com o mercado. Os clusters, enquanto configurações
produtivas, mostram-se ideais para a transferência de conhecimento tácito,
dada a proximidade entre os agentes de inovação, além de favorecerem a
competitividade – outro fator que impulsiona o processo de pesquisa e
desenvolvimento – pela concorrência entre agentes internos. Ou seja, até
23
mesmo a indústria da tecnologia que permitiu o estabelecimento de novos
conceitos sobre o termo espaço, ainda necessita da proximidade física de seus
agentes para que haja compartilhamento de conhecimento tácito e implemento
competitivo em seus processos e produtos.
Castells (1999) assume a importância do encurtamento das distâncias
entre agentes de inovação quando afirma, baseado nos estudos de Saxenian
(1994), que “conversas noturnas em bares e restaurantes, como o Walker's
Wagon Wheel Bar e o Grill in the Mountain View, fizeram mais pela difusão da
inovação tecnológica do que a maioria dos seminários de Stanford."
(CASTELLS, 1999, p. 72). O conceito de comunidade não se perdeu com a
reformulação do conceito de espaço, mas ainda está atrelado à sensibilidade
da distância quando o foco é a produção da inovação. Percebe-se daí a
necessidade de coabitar, segundo os parâmetros produtivos do capitalismo,
tanto nos espaços do mundo real quanto na virtualidade do mundo digital.
2. Rediscussão do espaço e da virtualidade na temática
desenvolvimentista
O espaço, segundo Kellerman, “pode ser considerado uma das noções
primárias da
geografia” (KELLERMAN, 2002, p. 30). A ocupação humana do espaço faz
surgir novos conceitos sobre o mesmo, todos embebidos em um ponto de vista
antropomórfico, considerando-o condicionado à manutenção das diversas
necessidades da sociedade humana. Dessa maneira, o espaço que antes era
considerado um termo que expressasse conceitos relacionados a uma
determinação física natural, torna-se algo subjetivo e relegado à atuação
humana – tal como o “espaço dos fluxos” de Castells (1999). A tecnologia de
informação trouxe novos adendos culturais, que acabaram por aproximar o
conjunto de símbolos típicos de diferentes culturas de uma “cultura do meio”,
ou seja, a cultura que margeia a utilização dos mecanismos de comunicação
informatizados. O surgimento destes mecanismos não ocorreu do dia para a
noite, nem tampouco com a mera inserção da referida tecnologia informacional
no meio social. Como definiu Santaella (2003):
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A cultura digital não brotou diretamente da cultura de massas, mas foi sendo semeada por processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais a que chamo de “cultura das mídias”. Esses processos são distintos da lógica massiva e vieram fertilizando gradativamente o terreno sociocultural para o surgimento da cultura digital ora em curso. (SANTAELLA, 2003, p. 13)
Segundo Santaella (2003), houve um período determinante entre as
culturas de massa e digital que tornou possível que a última surgisse. Podemos
considerar a cultura de massa como um desdobramento da chamada
“sociedade de consumo”. Nesta, era necessário que fossem inseridos na
cultura tradicional elementos que pudessem alavancar o consumo de artigos
produzidos por uma indústria cada vez mais sedenta de mercados. Segundo
Ewen (1976), a sociedade de consumo “surgiu na década de 1920, não como
uma progressão suave dos padrões anteriores e menos ‘desenvolvidos’ de
consumo, mas como um recurso agressivo de sobrevivência empresarial”
(EWEN, 1976, p. 54). A cultura de massa veio a dar suporte a este
tipo de relação entre indústria e mercado. Era necessário incitar o consumo,
transformar os cidadãos em consumidores. Isso acabou impactando nas
formas tradicionais de cultura, como nos mostra Santaella (2003):
O advento da cultura de massas a partir da explosão dos meios de reprodução técnico-industriais – jornal, foto, cinema – seguida da onipresença dos meios eletrônicos de difusão – rádio e televisão – produziu um impacto até hoje atordoante naquela tradicional divisão de cultura em erudita, culta, de um lado, e cultura popular, de outro. (SANTAELLA, 2003, p. 52)
O período que caracteriza em Santaella (2003) a cultura das mídias
serve para
individualizar a produção cultural. Enquanto a produção cultural era
massificada, as opções de escolha de obtenção de produtos culturais do
indivíduo médio da sociedade estavam reduzidas face às características de
massificação dos veículos e suportes de informação. O salto quântico que
redirecionaria os rumos da sociedade para uma cibercultura necessitava de
apoio sobre um novo modelo cultural que individualizasse o consumo de
produtos culturais. Esta cultura das mídias, que intermedeia o processo de
transição da cultura de massas para a cibercultura, encontra representação
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simbólica no vídeo-tape, na TV a cabo, entre outros. Como define Santaella
(2003):
novas sementes começaram a brotar no campo das mídias com o surgimento de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponível e do transitório (...) Essas tecnologias, equipamentos e linguagens criadas para circularem neles têm como principal característica propiciar a escolha e consumo individualizados, em oposição ao consumo massivo. São esses processos comunicativos que considero como constitutivos de uma cultura das mídias. (SANTAELLA, 2003, p. 15-16)
O surgimento da cultura das mídias começa dar significado às redes no
ambiente cultural da sociedade. Essas redes se dão pela liberdade de escolha
e valorização das diferenças propiciadas pelo contato individualizado com a
produção cultural. Segundo Santaella (2003), as mídias possuem participação
fundamental no processo de preparação para a cultura digital porque:
tendem a se engendrar como redes que se interligam e nas quais cada mídia particular (...) tem sua função que lhe é específica. É a cultura como um todo que a cultura das mídias tende a colocar em movimento, acelerando o tráfego entre suas múltiplas formas, níveis, setores, tempos e espaços. (SANTAELLA, 2003, p. 53)
Percebe-se na análise de Santaella (2003) que o espaço não ganhou
nova aparência para os olhos do agente humano em um passe de mágica. Foi
necessário um processo gradual de reformulação cultural, oriundo da
vinculação de novos elementos advindos da esfera tecnológica para o cerne
cultural, tornando viável a adoção de uma “cultura do meio”. No âmbito da
atuação humana sobre o espaço, o coletivo no imaginário individual, outrora
reforçado por dispositivos massificados de comunicação, deu espaço a uma
segmentação tão brutal que chegou à customização total do consumo de
produtos informacionais. A era das mídias abriu as portas para um tipo de
concepção individualizada do ambiente coletivo, do espaço físico e da coisa
pública em função da independência do indivíduo quanto ao acesso dos
conteúdos. As tecnologias telemáticas teriam, a partir de então, como interligar
de forma mais coesa os grupos e os indivíduos sob um mesmo referencial
cultural, oriundo do meio de comunicação/informação. E esse referencial
26
cultural, longe de se esmerar na massificação, baseia-se em elementos que,
claramente, ressaltam a individualidade e a diferenciação individual.
O espaço físico, apesar de se opor conceitualmente aos “espaços
virtuais”, passou a se pautar, pelo menos a partir da metade do século XX, nos
mesmos elementos frios e objetivos, assépticos e absolutamente funcionais,
desprendidos de uma caracterização cultural comunitária e favorável às
necessidades do capitalismo e suas premissas, que enxergamos se
reproduzindo no mundo virtual.
A cultura do meio talvez não tenha seu embrião na tecnologia, mas na
objetividade da funcionalidade dos ambientes humanos. Isso pode ser
explicado pela dinâmica do não-lugar, presente em Augé (2000). Foi,
possivelmente, transposta para o meio digital por um tipo de afinidade eletiva
respaldada pela racionalidade do conceito de eficiência comunicacional,
essencial para os processos de produção do informacionalismo. Então, em
gênese, o ambiente virtual – que também pode ser enxergado como a ausência
de “espaço entre os espaços” – fez com que se desenvolvessem adendos
culturais que já estavam presentes, ao menos em sua forma embrionária, na
temática da objetividade do capitalismo.
A relação do homem com o espaço físico, outrora dada pela cultura,
passa a dividir a atenção do indivíduo com as relações estabelecidas com o
novo tipo de espaço, que também possui uma cultura, mas asséptica e
desprovida de uma historicidade regional ou étnica. E assim, as linhas
conceituais que amarram a ação do indivíduo com os dois tipos de espaço se
confundem, gerando impressões idênticas para todo tipo de relação
estabelecida para todo tipo de espaço. No imaginário coletivo – um coletivo
obviamente fragmentado pelo frenético movimento contínuo de individualização
do homem no informacionalismo – o espaço “virtual” se torna algo como o
prolongamento do espaço físico, onde a subjetividade da informação se
destaca da objetividade do suporte, que não deixa de habitar o mundo real.
Isso faz com que os conceitos de espaço, seja qual for sua orientação,
deixem de contemplar a verdade tátil de que o “ciberespaço é uma alucinação
consensual experimentada todos os dias por bilhões de operadores legítimos
(...) é uma representação gráfica de dados extraídos dos bancos de cada
computador no sistema humano” (HILLIS, 1999, p. 22).
27
3. A problemática da caracterização urbano-rural
A discussão acerca da urbanização dos países recentemente
industrializados tem ganhado maior destaque com o crescimento da
importância desses no comércio internacional. A mesma discussão abre alas
para a busca de uma nova definição do território urbano, considerando todas
as suas particularidades e perspectivas. Na tentativa de delimitar as
características específicas da urbanidade, surge, a reboque, a necessidade de
redesenhar as fronteiras conceituais do ambiente rural, termo que há muito tem
sido abordado como a oposição natural do que é urbano. Muito além da
oposição semântica praticada no senso comum, rural e urbano são termos que
expressam conceitos complementares, principalmente quando seu uso ocorre
no plano da análise social-econômica.
Enquanto a maioria das pesquisas aponta para a existência de um
movimento crescente de migração para os centros urbanos, principalmente nas
últimas cinco décadas, outros ideólogos acreditam que a metodologia
empregada para caracterizar a urbanidade tem sido equivocada, por tratar
apenas da contenção espacial do ambiente urbano. A crítica usualmente
presente nos estudos acerca dos termos rural e urbano é de que não há uma
medida expressa do nível de penetração dos elementos típicos do ambiente
rural naquilo que é considerado ambiente urbano, e vice-versa. Tal
caracterização híbrida derivou naquilo que se alcunhou pelo neologismo
“rurbano”, termo que expressa a dificuldade em separar um conceito de outro
pela mera observação do espaço social. O uso do termo remete a Sorokin,
Zimermann e Garopin (1930; 1986), e já não configura um conceito novo, mas
bastante evidenciado desde o segundo quartil do século XX. Trata-se da
constatação de um imbróglio ao maniqueísmo da oposição entre rural e
urbano, ainda presente no senso comum e evidenciado na própria produção
cultural humana desde a tomada de consciência do fenômeno civilizatório,
tendo como exemplo a obra de ficção de Queirós (2006) de publicação
póstuma em 1901, intitulada “A Cidade e As Serras”.
O romance de Queirós faz uma crítica da vida na cidade, como
demonstrado na epígrafe, exaltando as qualidades da vida no campo e
evidenciando as diferenças do estilo de vida e cultura dos dois ambientes. Mas
28
a dicotomia construída pelo imaginário popular no uso dos termos rural e
urbano não traz em sua essência a explicação acerca da conformação de seus
conceitos. Enquanto o ambiente urbano está usualmente associado à ideia do
progresso positivista, o rural está conectado, ao menos no imaginário popular,
ao sossego de uma vida tradicionalista associada ao baixo desenvolvimento
tecnológico, social e econômico. Entretanto, a realidade cada vez mais
afirmada nas economias emergentes é de um progresso rural paralelo ao
desenvolvimento do meio urbano. Dessa forma, torna-se cada vez mais difícil
enxergar a diferença entre os termos, mais uma vez remetendo ao rurbano de
Sorokin, Zimermann e Garopin (1930; 1986).
Em meio à problemática da contenção conceitual dos termos rural e
urbano, propõe-se neste artigo uma nova perspectiva de delimitação territorial,
através da busca de uma metodologia de avaliação que não se prenda apenas
ao escopo espacial ou censitário, abrangendo também tópicos como a
produção de riqueza e a apropriação de elementos culturais típicos dos
conceitos. Por conta da necessidade de arbitrar a transformação de
percepções subjetivas em instrumentais práticos de ordem quantitativa, busca-
se aqui a conceituação dos problemas concernentes ao tema, para uma futura
busca de dispositivos não paramétricos, que tornariam possíveis as aferições
de resultados expressos em valores, mas que também sofreriam,
invariavelmente, a influência da percepção humana individualizada. Dessa
forma, o trabalho desempenhado não ignora a volatilidade do aparato, mas o
torna declarado nas figuras dos indivíduos que viabilizariam, em um momento
posterior ao deste artigo, a constituição do método de caracterização mais
compatível com a sistêmica social.
4. Do Rural ao Urbano – Um resgate conceitual da avaliação dos
conceitos à sua perspectiva sistêmica
A dicotomia entre rural e urbano encontra sua retomada no alvorecer da
idade moderna, quando se resgataram valores e ideias oriundas da forma de
organização dos clássicos gregos (COULANGES, 1975). A idade média pode
ser entendida, dessa forma, como um hiato que adicionou novos elementos
29
aos conceitos apropriados, a partir dos séculos XIII e XIV, pela renascente
civilização ocidental daquilo que era parte da cultura helênica. Esses adendos
foram fundamentais para a modernização dos procedimentos técnicos,
oriundos da civilização oriental, e culminariam na expansão da gênese do
capitalismo nos séculos que se seguiram até a consolidação do sistema no
século XIX (HOBSBAWM, 2006). Como perspectiva de legitimação ao
processo produtivo capitalista, o positivismo exerceu o papel de pano de fundo
ideológico para uma série de mudanças resultantes da busca pelo excedente
desencadeada no âmbito produtivo, validada por um novo perfil ético coerente
com a retomada do conceito da urbe (WEBER, 2008).
Dizer que o conceito de civilização é algo concebido a partir da era
moderna é privar-se das origens daquilo que viria a ser para a renascença o
arcabouço filosófico e político. A noção de urbe advém do período clássico,
mas sofre profundas transformações a partir dos eventos migratórios iniciados
com a Revolução Industrial. Somente a partir da associação do proletariado e
da indústria às cidades é que se atribui o seu sentido mais usual nos dias de
hoje, atrelado ao progresso tecnológico da transformação produtiva mediada
pela máquina. A urbe de nossos dias é diferente da urbe grega, mas seu
alicerce ainda é o mesmo. Trata-se da convergência de interesses em torno de
uma territorialidade de identidade específica, valores definidos pela
produtividade e cultura penetrada pelas exigências do mercado.
Segundo Mendes (2002), “a cidade é um lugar de encontros” (MENDES,
2002, p. 153). Essa afirmativa se apoia na raiz da existência das cidades, uma
zona de confluência das relações humanas de ordem econômica, social e
política, de onde transbordam novos elementos para a cultura local, regional e
nacional. O mesmo pensamento se aplica à noção de comunidade, tendo em
mente que a cidade é formada por um tipo específico de comunidade, na qual
valores são desenvolvidos e transformados em torno da produção social e a
emergência das relações humanas sob o espaço comum. É necessário
reconhecer que há diferenças evidentes entre os modelos de comunidades
estabelecidos em torno da urbanidade e em torno da ruralidade, as quais são
percebidas principalmente por peculiaridades que definem tais espaços. Até
mesmo os problemas sociais típicos são diferenciados nos dois ambientes,
influenciando no comportamento psiquicamente induzido dos indivíduos. Blazer
30
et al. (1985) mostra que nítidas diferenças na incidência de desordens
psiquiátricas em indivíduos oriundos dos meios urbano e rural, o que valida a
existência de uma distinção entre os dois ambientes e sua interação com a
percepção do ambiente social.
Os modelos de vida dos dois espaços são tão nitidamente diferentes que
exercem diferentes impactos na psique de seus habitantes. Entretanto, em
sintonia com a crítica lírica de Queirós (2006), é notória a impossibilidade de
estabelecimento de um padrão evolutivo entre os conceitos urbano e rural.
Como salienta Abramovay (2000), “ruralidade não é uma etapa do
desenvolvimento social a ser superada com o avanço do progresso e da
urbanização. Ela é e será cada vez mais um valor para as sociedades
contemporâneas” (ABRAMOVAY, 2000, p.26). Significa dizer que associar o
urbano ao desenvolvimento natural do ambiente rural é um erro conceitual. A
ideia de desenvolvimento associado à urbanidade encontra críticas em outros
trabalhos, que corroboram a ideia de que o meio urbano é um fenômeno
crescente da modernidade, e inclui em seu rol de elementos representativos o
dispêndio energético e o ritmo acelerado de produção. A análise de Harris
(1998) mostra que países de maior consolidação do modelo urbano, como os
EUA da década de 1970, chegam a consumir cerca de 60 vezes mais energia,
por habitante, do que países essencialmente rurais da mesma época, como a
Índia (HARRIS, 1998).
Nesse ponto é necessário que seja revisto o conceito de
desenvolvimento que melhor se aplica a este trabalho. Amartya Sen condiciona
o desenvolvimento como a gradação de acesso à liberdade de ação do
indivíduo em um sistema social (SEN, 2000). Dessa forma, o conceito de
desenvolvimento não pode se limitar à condição estreita de análise empírica do
desempenho econômico de uma determinada circunscrição geopolítica. O
paradigma de desenvolvimento humano delineado por Sen (2000) encontra um
paralelismo com peculiaridades adjacentes ao conceito de desenvolvimento
local elucidado por Martinelli e Joyal (2004), onde se observa que o
desenvolvimento que realmente interessa é aquele que enseja a melhoria de
vida das pessoas de uma determinada localidade, sob a premissa da
sustentabilidade e redução da dependência (MARTINELLI; JOYAL, 2004).
Dessa forma, não basta encarar o desenvolvimento como o mero acúmulo de
31
renda de uma determinada localidade, mas sim a análise de como essa renda
pode contribuir para a ampliação do acesso, individual e coletivo, às
alternativas de ação social no âmbito de uma dada circunscrição espacial.
Essas características do conceito de desenvolvimento aqui utilizado
permitem a constatação de que pode haver desenvolvimento de âmbito rural ou
urbano. Ainda que um ambiente não se caracterize plenamente como um
desses dois tipos, sendo na realidade posicionado em uma gradação entre
eles, é possível verificar que em ambos há a possibilidade de melhoria de
acesso à liberdade de ação aos indivíduos que compõem o tecido social de sua
localidade. Significa dizer que o desenvolvimento, tal qual delimitado
anteriormente, pode ocorrer no meio urbano ou no meio rural, diferentemente
da típica vinculação do progresso social e técnico apenas ao meio urbano que
se verifica na atribuição de peso de valor positivo ao que é oriundo da cidade.
Contrariando o senso comum, que vincula o desenvolvimento à urbanização,
como salienta Veiga (2004), “a visão de uma inelutável marcha para a
urbanização
como única via de desenvolvimento só pode ser considerada plausível por
quem desconhece a imensa diversidade que caracteriza as relações entre
espaços rurais e urbanos dos países que mais se desenvolveram” (VEIGA,
2004, p. 26).
Há, dessa forma, uma relação estreita entre os termos, mas não é
possível caracterizá-los como opostos. Recentemente, até mesmo a ideia de
continuum (na qual se consideram os termos como partes indissociáveis de um
todo) tem sido rediscutida entre os teóricos da área, enumerando suas notórias
diferenças e dicotomias. Entretanto, segundo Tavares (2007), “as zonas
urbanas, suburbanas e rurais são cada vez mais interdependentes e os
problemas de uma delas também interferem nas outras” (TAVARES, 2007,p.
113). Dessa forma, a compreensão do conceito exige um esforço de abstração
que conceda a possibilidade de um continuum que permita a existência da
dicotomia. A partir dessa observação, é possível retomar o conceito de rurbano
caracterizado anteriormente. Toda a dificuldade de definição se dissipa sob a
mera observação de que, na verdade, não se trata de dois conceitos isolados,
opositivos ou complementares, mas de esferas de contenção de significados
que possuem relações sistêmicas entre si e entre outros conjuntos conceituais.
32
Muitas das origens dos problemas que afligem às cidades advêm do campo, e
vice-versa. Há uma teia de relações entre os dois ambientes e, em certos
momentos, torna-se impossível dizer com exatidão o grau de urbanidade ou
ruralidade de uma localidade. No meio desse contexto, cabe espaço para uma
pergunta divisora de águas: a que interessa a caracterização de um ambiente
como rural ou urbano?
Todo tipo de caracterização tem, em primeiro momento, uma finalidade
didático-cognitiva e, posteriormente, servirá como referencial para
compreensão da realidade. Tentar compreender a realidade dispondo de
ferramentas conceituais dicotômicas como os termos urbano e rural é tão útil
quanto tentar compreender a cor cinza dispondo apenas das cores preto e
branco. É preciso, antes de tudo, saber que elas se misturam, e que a mistura
gera algo inteiramente novo e peculiar.
Dentro dessa lógica, Veiga (2004) relembra a proposta do conceito de
ecossistema territorial. Segundo o autor, o ecossistema territorial é “entendido
como o espaço sem o qual um ecossistema urbano não pode exercer o
conjunto de suas próprias funções vitais” (VEIGA, 2004, p. 26). Explicando a
incapacidade de dissociação entre os conceitos frente à sua conexão com a
atividade social do indivíduo, Veiga (2004) ainda percebe que:
se o ecossistema territorial é composto tanto de elementos do
ambiente físico-biológico, quanto do ambiente construído e do
ambiente antrópico, torna-se impossível, então, recusar todo e
qualquer tipo de determinismo geográfico para explicar a localização
das atividades e das populações, como pretendiam os primeiros
teóricos da economia espacial. (VEIGA, 2004, p. 26).
Essa percepção do autor está em nítida sintonia com a ideia de
Larceneux (1996) acerca da categorização do espaço urbano. Significa dizer
que, apesar da percepção das distinções entre os ambientes urbano e rural
impactar diretamente a ação humana, condicionando-a através de uma cultura
típica da vida social estabelecida naquele ambiente, é impossível determinar
com clareza uma tipificação que delimite as fronteiras entre os dois conceitos.
Dessa forma, não se trata de um continuum, tampouco de termos opostos, mas
33
somente de configurações múltiplas conectadas à variável espacial da
dinâmica do tecido social.
Estudos de diversas épocas mostram as diferenças entre as práticas
salariais daquilo que é tido como ambiente rural em relação ao ambiente
urbano. Tal qual o estudo de Bacha (1979), o grande problema desse tipo de
estudo econômico é a caracterização do que é urbano e o que é rural, voltando
ao cerne da questão aqui discutida. Se o salário é reflexo do mercado de mão
de obra sob a influência do desempenho dos produtos de um determinado
setor (VARIAN, 1992), falta determinar com maior zelo se há influência interna
entre setores correlatos, definindo suas fronteiras por componentes
geopolíticas ou outro tipo de variáveis. Nesse momento, deve-se ter em mente
a característica sistêmica de comportamento econômico, onde fatores de um
subsistema impactam indiretamente em outros (CAPRA, 2006). Pode-se dizer
que, trazendo à análise sistêmica, os sistemas econômicos, ainda que sob o
escopo da análise geográfica, comportam-se como sistemas interagentes, nos
quais suas componentes independentes exercem influências entre si (BAUER,
1999).
Para que haja um estudo correto das influências exercidas entre um
setor e outro (impacto do rural sobre o urbano e impacto do urbano sobre o
rural), seria necessário encarar o tema sob a perspectiva de um modelo
analítico estrutural. Por haver a noção do impacto direto de um termo (urbano)
sobre o outro (rural), pode-se dizer que há uma relação de dependência
estrutural estabelecida, passível de ser avaliada por métodos analíticos de
influência e dependência. Alinhando o tema ao âmbito das discussões da teoria
dos sistemas aplicada ao estudo dos arranjos produtivos (rurais ou urbanos), é
possível dizer que o conceito de dependência estrutural inclui a dependência
funcional e a dependência produtiva existente entre os dois cenários. A
dependência estrutural é um conceito discutido no âmbito dos sistemas
produtivos, que soa como um termo geral frente aos termos específicos de
dependências produtiva e funcional. Enquanto a dependência funcional se
apoia na rede de veiculação do produto ao mercado, estritamente
dimensionada no escopo geográfico da distribuição de produtos e serviços e
relacionamento com clientes, a dependência produtiva está na cadeia de
fornecimento de matéria-prima e outros recursos para a composição de um
34
produto ou serviço final (GUZMAN-CUEVAS; CÁCERES-CARRASCO;
SORIANO, 2009). Já a dependência estrutural é a composição dos dois tipos
anteriores, e está atrelada às condições ambientais de estabelecimento de
relações com outras unidades produtivas ou agentes econômicos, determinada
por variáveis macroeconômicas e padrões da cultura regional.
Do mesmo modo que adotar o termo dependência estrutural significa
transpor conceitos macroeconômicos para o embate temático rural/urbano, é
possível conceber seu alinhamento ao uso recorrente do termo equilíbrio
estrutural (HEIDER, 1946; NEWCOMB, 1953). A teoria do equilíbrio estrutural
foi concebida em meio a preceitos matemáticos complexos, e originou um sem
número de outras teorias no campo da sociologia e economia (WASSERMAN;
FAUST, 1994), tendo sua aplicação mais significativa no campo das ciências
comportamentais obtida por Harary (1959), baseando-se em Heider (1946). A
partir de Harary (1959) foi possível alinhar a perspectiva qualitativa de
dependência estrutural com os métodos matemáticos de verificação do
equilíbrio estrutural. Subtraindo-se a questão epistemológica relacionada às
duas formas de tratamento dos termos urbano e rural, há complementaridade
entre os conceitos, que permite sua observação como grupos interagentes a
partir de Harary (1959).
O conceito sistêmico de dependência estrutural expressa maior
abrangência do que a mera oposição dos conceitos rural e urbano. Na teoria
dos sistemas, a dependência estrutural é vista como uma propriedade inerente
a todo tipo de sistema. Tendo em vista que sistemas são estruturas de relações
entre entidades conectadas com um propósito comum (ESPEJO, 1996), deriva-
se a ideia de que cada agente conectado ao sistema depende da relação que
estabelece com o meio, e também há validade nessa perspectiva se dividirmos
esse meio em dois grandes conjuntos de características (rural e urbano), com
indivíduos localizados além de suas fronteiras. Essa dependência se
estabelece no ato de relacionar-se com outro agente, dado pela necessidade
ou conveniência de um ou de outro, no ambiente além da fronteira rural/urbana
ou dentro de suas delimitações. A própria relação depende da pré-disposição
dos agentes em se conectarem, o que significa dizer que se torna um pré-
requisito para o estabelecimento de laços no interior do sistema. De igual teor,
não há sistema sem dependência, já que toda interação gera certo grau de
35
dependência (ainda que próximo do nulo) e que não há sistema sem interação.
A dependência é tão natural em um sistema, mesmo naqueles compostos por
múltiplos subsistemas, quanto a existência de relações. Capra (2002) observa
que:
Não existe nenhum organismo individual que viva em isolamento. Os
animais dependem da fotossíntese das plantas para ter atendidas as
suas necessidades energéticas; as plantas dependem do dióxido de
carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado
pelas bactérias em suas raízes; e todos juntos, vegetais, animais e
microorganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições
propícias à preservação da vida. (CAPRA, 2002, p. 14)
Dessa forma, a dependência está presente na cadeia de relações de
sistemas complexos como a biosfera, argumento corroborado por Lovelock
(1991). Sob esse comentário, traz-se o debate dos conceitos rural e urbano a
um outro nível, aquele em que sua interação é observada de uma forma
sistêmica e interagente, sem dissociação entre os conjuntos de elementos
culturais ou de ação social que compõem sua caracterização.
5. Considerações Finais
A proposta de reavaliação da metodologia de caracterização dos
ambientes urbanos e rurais descrita neste trabalho aponta para a incorporação
do pensamento sistêmico para melhor definir os critérios de análise dos dados
levantados e seu relacionamento para originar melhores condições de
compreensão dos dois ambientes, sabendo que um possui ligações estreitas
com o outro. Na verdade, a própria concepção do urbano depende da
existência do ambiente rural. Ampliar a compreensão dessa dependência pode
melhorar o estabelecimento de novas políticas que venham a melhorar o modo
de gestão dos dois ambientes, seja no âmbito social ou econômico.
Os efeitos do informacionalismo sobre a distribuição espacial das
sociedades humanas podem ser enxergados nos fenômenos que cercam a
vida em metrópoles e regiões típicas da produção do aparato informacional.
Novos elementos se inseriram nas culturas locais, norteando a própria
36
ocupação territorial humana, de acordo com as premissas da nova fase do
capitalismo. Por conta da necessidade de expansão do sistema, baseando-se
na inovação como recurso de fomento da competitividade, as organizações
buscaram se estruturar no espaço geográfico de forma a favorecer a
emergência de novas ideias, valendo-se da possibilidade de transferência do
conhecimento tácito, sensível à distância.
Em um esforço final, podemos encarar as novas tecnologias da
informação como grandes simulacros das “fendas espaciais” teorizadas pela
física, por onde somente passam informações, de variadas espécies. Se isso já
é suficiente para garantir a interação humana em alguns âmbitos, passando por
cima de diferenças culturais seculares e pelas distâncias impostas pelo espaço
físico, ainda não foi capaz de substituir alguns laços comunitários e os
fenômenos típicos que somente aparecem em sua forma original, física e táctil,
tais como a mudança e a sensibilização do homem para com o seu
semelhante.
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