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Realização - UEL€¦ · 11 CERIMONIAL DO KIKI (contado por Américo Rodrigues) 12 A ONÇA E O BÊBADO (contado por José Ekor Bonifácio) 13 A PESCARIA (contado por José Ekor

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Realização

U51c Universidade Estadual de Londrina. Narrativas da Terra Indígena do Apucaraninha / Museu Histórico de Londrina. Universidade Estadual de Londrina, organizadores : Márcia Rejaine Piotto e Payakan Gadje Uvupuru; Projeto gráfico e editoração Petra Maria Schauff Mendes. – Londrina : UEL, 2018.

32p. : il. ; 21 cm. – (Programa Contação de Histórias do Norte do Paraná)

ISBN 978-85-7846-531-5

1. Paraná – História. 2. Educação Patrimonial. 3. Memória. I. Piotto, Márcia Rejaine, org. II. Uvupuru, Payakan Gadje, org. III. T. IV. Coleção.

981.62

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

UNIVERSIDADE ESTADUALDE LONDRINA

ReitorSergio Carlos de Carvalho

Vice-reitorDecio Sabbatini Barbosa

Centro de Letras e Ciências Humanas

DiretorViviane A. B. Furtoso

Departamento de HistóriaChefe de Departamento Rogério Ivano

MUSEU HISTÓRICO DE LONDRINA

Direção AcadêmicaRegina Célia Alegro

SecretariaCesar Augusto de Poli

Auxiliares Operacionais Ailton Alves Marcelino Alex Pereira Neiva Lemes Albrecht Batista

Ação Educativa Regina Célia Alegro Edeni Ramos Vilela

Biblioteca e Documentação Rosangela Ricieri Haddad Ruth Hiromi Shigaki Ueda

Comunicação SocialBarbara Daher Belinati

Imagem e Som Célia Rodrigues de Oliveira Rui Cabral Auxiliar: Vanessa Andréia Borela Ferreira

Objetos Tridimensionais Auxiliar: Amauri Ramos da Silva

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS DO NORTE DO PARANÁ: MEMÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIALPrograma de Extensão PROEXT-UEL

CoordenadorRegina Célia Alegro

DocentesClaudia Regina Alves Prado FortunaDeise Maia

Alunos de Graduação da UELAdja Nadine de Souza Amanda Maki KobayashiAmanda Soares SteffenAna Carla Florio de PaivaAna Luisa Moure PeresAna Paula Bellomo de SouzaAnanda Fernandes Della GiustinaAndre Alexander AlvesAndre Xavier da SilvaBarbara F de Carvalho FranciscoBarbara Taiane Gomes das NevesBianca de Lima BondioliBianca Neves BolettiCamila de Almeida BritoCristiano Aparecido do NascimentoDaniel Henrique Alves de CastroEduardo Eiiti FujikawaEnzo Crosati SaavedraFelipe Augusto Leme de OliveiraFlavio Alfredo MartinsGabriel Arantes CorreaGabriel Formigoni Jardinette Gabriela de Carvalho RibeiroGabriella Ribeiro Ferreira do CoutoGiovanna Barboza da CruzGregório Bernardino MatosoGuilherme Tavares Lopes BalauGustavo Andre de Souza da SilvaHenrique Jun YoshidaHenrique Mantovani PetrusIsabella Pezzo BeraldoJaqueline Aparecida Araujo CraveiroJoão Victor RigoniJonatas Filipe de PaulaJuliana Sayuri Nakatani ChidaJuliana Souza BelasquiLarissa Moraes Martins

Laura Zecchini dos AnjosLeticia Fernandes de OliveiraLuana Bortoletto Gonçalves Lucas Ferreira MottaMarcela Almeida Brasil Matheus de Freitas Figueiredo Natan RibeiroMarcello Leonardi CaciolatoMarcelo Kloster JuniorMariana de Quadros SilvaMatheus Silva DallaquaOsvaldo Fiorato JuniorPatrick Eduardo de BarrosPedro Henrique CezarPetra Maria Schauff MendesRafael Vitor Mattos PiresRitielly Gouvêa MeloRuan Lucas MarcianoRubens Estevam de CarvalhoRubia Fernandes da SilvaSandra Sanches da CunhaTaiane Vanessa da Silva Thiago Machado GarciaThiago Souza BritoVander Felipe Ortiz dos SantosVinicius Luiz Iatecola da Cunha

Colaboradores ExternosAryane Kovacs FernandesCristina Megumi KawabataEdson Kenji KawabataEduardo Eiiti FujikawaEmily Ayumi Ozaki KurodaErick Shimote LimaInês Kiyomi Koguissi MorikawaJuliana BalduinoLeane Pedroso BorgesTaiane Vanessa da SilvaVanda de MoraesVictoria Caroline Lira FurtadoVictoria da Silva Santos

Projeto Gráfico e EditoraçãoPetra Maria Schauff Mendes

CapaDesenho porPrisiele Fotãnh Galdino Rodrigues

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Sumário

5 APRESENTAÇÃO

6 AO LEITOR

9 CAUSO DA AVÓ DE AMÉRICO (contado por Américo Rodrigues)

10 A CULTURA INDÍGENA (contado por Américo Rodrigues)

11 CERIMONIAL DO KIKI (contado por Américo Rodrigues)

12 A ONÇA E O BÊBADO (contado por José Ekor Bonifácio)

13 A PESCARIA (contado por José Ekor Bonifácio)

14 O INDINHO TRAVESSO (contado por José Ekor Bonifácio)

15 O fOGO (contado por José Ekor Bonifácio)

16 A AMEAÇA (contado por Lourival Ren Vai de Oliveira)

17 O SURGIMENTO DOS ÍNDIOS COROADOS (contado por Aparecido Marcolino)

18 A COR DO ÍNDIO (contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

19 MINA SAGRADA (contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

20 CERIMONIAL DO BATIZADO (contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

21 MISTÉRIO (contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

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22 O DUELO (contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

23 MUSHAY AUYNÃ (contado por Payakan Gadje Uvupuru)

25 O ATAQUE NO ACAMPAMENTO (contado por Payakan Gadje Uvupuru)

27 CONQUISTA (contado por Payakan Gadje Uvupuru)

28 PERSEVERANÇA (contado por Payakan Gadje Uvupuru)

30 SABEDORIA DE AVÓ (contado por contado por Marcos Ganga O Piraí )

Desenho por Leziane Murígtẽ Rosa.

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APRESENTAÇÃOPrograma Contação de Histórias do Norte do Paraná

(UEL - PROEXT-MEC/SESU - Secretaria de Educação do Município de Londrina/PR)

Coletar narrativas de moradores sobre a construção do norte do Paraná e trazê-las à sala de aula é o propósito do Programa Contação de Histórias do Norte do Paraná, um projeto de extensão da universidade Estadual de Londrina (uEL) realizado com o apoio do ProEXT-mEC/SESu, em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Londrina. O Programa Contação se concretiza como ação educativa do museu Histórico de Londrina, órgão suplementar da uEL vinculado ao Departamento de História (CLCH).

os professores participantes do projeto de extensão elaboraram o próprio plano de pesquisa acerca da memória local e os desenvolvem junto com seus alunos. O estudo teórico, a escolha dos moradores a serem entrevistados, o preparo de estudantes para atuarem como entrevistadores e transcritores, a exploração dos registros produzidos na sala de aula, sendo esses conteúdos atrelados aos objetivos disciplinares, são atividades do Contação de Histórias.

Equipados com gravadores, blocos de anotação e roteiro de entrevista os alunos foram ao encontro dos vizinhos e conhecidos. O ato de lembrar desses moradores despertou sentimentos diversos nos discentes. Agregarem-se ao redor dessas figuras, ouvir suas histórias de vida, permitiu aos alunos perceber os acontecimentos latentes à sua volta e atentar às vozes que estão no seu entorno, sobretudo dos mais idosos. Sob a condução dos professores em sala de aula, pontuando essa voz narradora, os alunos vislumbram outras vozes.

Nesse contexto, a professora márcia rejaine Piotto e Payakan Gadje uvupuru coletaram entre os moradores da Terra Indígena do Apucaraninha, lembranças que habitam as falas dos Kaingang. E nos permitem conhecer e admirar ainda mais esse povo de presença tão antiga nas terras que hoje conhecemos como norte do Paraná.

Que esse livro nos ajude a apreender a dinâmica do procedimento criativo pelo qual indivíduos e grupos praticam a consciência de si no tempo/espaço.

Regina Célia Alegro

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AO LEITOR

Em minhas andanças por Terras indígenas, muito ouvi de seus habitantes, Narrativas embebidas de alegrias, verdades e de orgulhos.

Contaram histórias engraçadas, emocionantes e de espanto, nas quais o arrepio, a sacudidela e o assombro eram apenas algumas das consequências de ser ouvinte!

Nesse livro trouxe algumas das histórias contadas por Américo Rodrigues, José Ekor Bonifácio, Lourival Ren Vai de Oliveira, Aparecido Marcolino, Payakan Gadje uvupuru, Theodomiro mendes de Carvalho, João Prestes de Moraes e Marcos Ganga O Piraí. Apresentaram-se habilidosos na arte de narrar suas fascinantes lembranças de seus antepassados.

Tanto ouvi, como contei também, aos meus filhos Jivago, Júlia e Nícolas contei causos contados por minha mãe milca, que por sua vez eram contados por minha avó maria, que por sua vez, eram contados por minha tataravó maria Luisa, bisavó de meu avô orozimbo, pai de minha mãe.

Da oralidade para a escrita, também como os povos indígenas, eu conto embebida de alegria, verdade e de orgulho.

Agradeço ao Programa de Extensão, Contação de Histórias do Norte do Paraná realizado no museu Histórico de Londrina, da universidade Estadual de Londrina, o apoio recebido. Assim também agradeço ao apoio do ProEXT/mEC/SESu ao Programa Contação, agradeço aos meus colegas participantes do Programa.

Agradeço, especialmente, a comunidade indígena do Apucaraninha, aos professores e estudantes das escolas indígenas. E, aos desenhistas que, nestas escolas, pude conhecer e admirar.

Márcia Rejaine Piotto

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Aos pRofessoRes dAs escolAs indígenAs

Ester Eloy de Sant’Anna Geslaine

Jorge Maria Rodrigues Valdirene

MauroValeria Vicente

e seus Alunos

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Américo conta que sua avó era uma pessoa que “sabia das coisas”. Ela contava que viajava à noite quando dormia. Que através das viagens conhecia vários lugares, inclusive nascentes de rios, sabia como estavam dispostas as pedras nesses lugares, enfim, descrevia em detalhes a região. A veracidade desses fatos foi comprovada por Américo. Ele acredita que ela tinha uma visão espiritual, pois ela associava o canto de determinados pássaros a diferentes acontecimentos, que por ventura acontecia. Expõe que vivenciando os fatos, Américo adquiriu alguns conhecimentos com sua avó.

“O não-índio não sabe, mas o índio não conta tudo que ele sabe, quem sabe das coisas indígenas”.

Afirma que, Ele sabe tudo de índio, “índio velho e índio novo”, “índio novo sabe nada”.

CAUSO DA AVÓ DE AMÉRICO(contado por Américo Rodrigues)

Desenho por Aliciel.

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Em 2014, na Festa do Emi, em Barão de Antonina, Américo teve sua participação representando os costumes indígenas, através de exposições de momentos do cotidiano.

Havia fogo, dormia em cima de sapé, cobria só da cintura para cima, amarrava um pano na cabeça, e da cintura para baixo se aquecia pelo fogo. Havia flechas, lanças para caçada, cozinhava em seu sistema: “amarradinho”, inclusive carne com palmito. Esse “amarradinho” significa que a panela fica dependurada sobre o fogo, sistema indígena Kaingang. Enfatiza que acontecia debaixo de uma árvore grande. Também demonstrou o uso da folha do caeté sobre a madeira para alimentar-se. Explicou sobre o “Endê”, que significa cozinhar na terra, onde consiste em fazer um buraco no chão, encher de pedras e fazer o fogo sobre as pedras, depois limpa esse local e coloca a cana-de-acúcar, em seguida cobre com caeté (folha de planta nativa), e cobrir com terra. Este procedimento inicia-se no período da manhã para estar pronto no período da tarde.

A CULTURA INDÍGENA (contado por Américo Rodrigues)

Desenho por Maytẽ.

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Américo recorda uma lembrança de sua avó sobre o cerimonial do kiki, onde havia outros eventos ao qual ele não presenciou.

Conta que quando havia jovens abaixo de 20 anos, solteiros, cada jovem pegava três pedaços de madeira, que a uma distância determinada por um índio mais velho deveriam acertar outro pedaço de madeira pendurado num cipó. Se errasse as três chances, ficaria claro que esse rapaz já havia “colocado mulher em seus braços”.

CERIMONIAL DO KIKI (contado por Américo Rodrigues)

Desenho por Marletel.

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o avô de José Ekor e alguns parentes foram para a cidade próxima chamada Tamarana fazer compras. Alguns à cavalo, as crianças e mulheres à pé.

Antes de chegar à cidade de Tamarana fizeram uma pausa para se alimentarem e prepararam palmito para a refeição.

De tardezinha retornaram para a aldeia, por volta das 2 horas da manhã entraram na mata da aldeia. No entanto, o primo de seu avô não aguentou a canseira da jornada, pois havia tomado umas pinguinhas a mais e caiu no chão, acabou dormindo por ali mesmo.

Lá pelas três horas da manhã, apareceu uma onça que cheirou ele e ainda cheirou a boca dele.

A onça ajudou o primo de seu avô a se sentar, pois ele estava melhorando. Então, a onça o pegou pelas mãos e o ergueu, colocando-o em suas costas, carregando-o para o mato, cobrindo-o com ciscos e folhas.

o primo de seu avô permaneceu quietinho, enquanto a onça o rodeava olhando-o e cheirando sua boca. Depois de tantos rodeios e cheiradas a onça partiu descendo em meio à floresta.

Quando se sentiu seguro, levantou-se e saiu na carreira em direção a aldeia entrando em sua oca, assustado contou para seu primo, o avô de José Ekor Bonifácio.

Todos caiaram na risada!!!

A ONÇA E O BÊBADO(contado por José Ekor Bonifácio)

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No tempo em que José conviveu com seu avô, nas florestas, nas pescarias, nas caçadas lhe traz profundas lembranças emocionantes.

Quando José Ekor tinha dez anos seu avô o convidou para uma pescaria. Seu avô providenciou uma linha de costurar roupas e fabricou um anzol, dessa forma houve a necessidade de passar uma erva na linha para não perder a puxada. Para aprender a pescar e não perder peixe.

Seu avô fez uma quirera de milho que seria o “chamarisco” dos peixes. E então partiram para o Rio Apucaraninha, onde há o saltinho que tinha muito lambaris.

Seus familiares como pai, mãe e avó foram juntos.

Em menos de uma hora de pescaria os dois encheram uma sacola cada um.

Seu avô e José jogavam a linha sucessivamente e tiravam peixes sucessivamente sem perder nenhuma fisgada!

Seu avô sugeriu dar uma pausa na pescaria para assarem os peixes, porém sua mãe sugeriu fazer um ensopado de peixe. Junto ao ensopado, iria torrar o emi e fazer o bolo de milho.

Em certo momento José colocou a isca e em seguida arremessou o anzol para jogar na água, neste impulso fisgou seu avô que se encontrava um pouco atrás, sentado no barranco. O anzol fisgou o beiço de seu avô que desesperadamente gritou, e ainda deu a maior trabalheira para retirar o anzol, rasgando até o beiço, sangrando muito. Escolheu uma erva medicinal própria para o ferimento e estancar o sangue e continuou a pescaria.

Depois do ocorrido seu avô por precaução, achou por bem manter uma distância considerável. Ainda brincou com ele dizendo que ele em vez de pegar lambari, o fisgou!

A PESCARIA(contado por José Ekor Bonifácio)

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um grupo de indinhos combinou pra ir ao anoitecer num vizinho arrendatário que criava porcos e galinhas, perto do Rio Apucarana Grande. Lá havia uma casa, um paiol e um mangueiro (chiqueiro de porcos).

indinho José percebeu que as galinhas dormiam em cima da cerca do chiqueiro. Então, outro indinho que o acompanhava combinou que ele, indinho José pegasse as galinhas que estavam sobre a cerca do chiqueiro e colocasse dentro do saco que eles haviam levado.

Foi de mansinho e pegou pelo pescoço destroncando a galinha para que ela não gritasse, pegou outra pelo pescoço e mais outra e por última mais outra, assim sucessivamente num total de quatro galinhas.

Depois da travessura partiram, chegando a casa, foi em direção a sua mãe que estava fazendo comida e muito contente por sua proeza. Contou a ela que havia ido junto a seus amiguinhos indinhos fazer uma caçada e em seguida abriu o saco. Sua mãe muito perplexa questionou ao seu filho José:

– Que tipo de galinha é essa aí, filho?

Sua mãe caiu na risada e ao mesmo tempo ficou brava, pois seu filho José havia pegado quatro urubus.

Indinho José lembrou-se que havia um porco morto dentro do chiqueiro.

O INDINHO TRAVESSO(contado por José Ekor Bonifácio)

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No ano de 1987, um grupo de índios adolescentes foi pescar, pegaram bastante bagre e mandi. Comeram os peixes e foram dormir na beira do rio.

Ah, levaram umas pinguinhas e tomaram!

Eles se deitaram ao redor do fogo, cada um para um lado. Seu amigo cutucou o adolescente José e disse-lhe:

– Tem uma onça ali em cima da pedra nos olhando!

Pois havia uma pedra muito grande próxima a eles, em cima da pedra eles a enxergavam, a onça era enorme e estava sentada olhando em direção a eles.

Seu amigo disse:

– Zé, vou dar um tiro nela!

imediatamente, José respondeu que não deveria fazer isto, pois a onça os pegaria, que ainda era melhor deixá-la quieta.

Ficaram observando a onça enorme. De repente a onça não estava mais lá.

Quando começou amanhecer, por volta das cinco horas, eles ouviram uns berros de bezerro.

Perceberam que eles foram salvos porque havia a fogueira e eles estavam próximos a ela, pois a onça planejava devorá-los. Não conseguindo partiu para o pasto atacando um bezerro.

O fOGO(contado por José Ekor Bonifácio)

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Através do avô de seu amigo, Cacique Lourival conta que onde era a Catedral em Londrina foi lugar de morada indígena. Havia um paiol que era coberto e cercado com folhas de palmitos e o buracão abaixo da rodoviária também pertencia aos indígenas.

Cacique esclarece que depois de alguns anos foram ameaçados por homens brancos, armados com revolveres e espingardas, à cavalo. Disseram que as Terras pertenciam a eles, que era para os indígenas irem embora, partirem, se não o fizessem os matariam, pois haviam comprado aquelas Terras.

Cacique Lourival fica indignado pelo fato de que ainda hoje a história se repete: ainda estão em busca de suas Terras.

A AMEAÇA(contado por Lourival Ren Vai de Oliveira)

Desenho por Carlos Francisco Gaság.

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Surgiram da terra índios com marcas, os KAMÉ com duas listras na face. Quando saíram da terra, suas visões foram clareadas para um novo mundo, viram matas, pássaros cantando, muitas criações.

Naquela alegria eles fizeram uma festa com fogo, um fogaréu. Então começaram a dançar e cantar, a cantar e dançar.

Em seguida, em lado oposto, surgiram outros índios com marcas diferentes, os KAIRU com três pintas na face. Todos se alegraram.

As lideranças máximas, os Caciques, os Pajés, eram detentores do saber; todos falando uma só linguagem, eram todos Coroados, apenas com diferentes marcas.

Os KAIRU ouviram os KAMÉ cantando e viram sinal de fumaça que foram enviadas, então houve troca de sinal de fumaças e perceberam que falavam a mesma língua e eram parentes. Por este reconhecimento, as lideranças foram de encontro com os KAMÉ.

Ao se encontrarem se alegraram muito, depois de muita conversa, eles perceberam que se entendiam, deveriam se unir e chamaram os parentes em uma só festa.

resolveram que os índios de mesma marca não poderiam se casar, pois foi através dos sonhos que foram orientados por TUPEN YWHADHU (Deus), que eram parentes próximos como irmãos, primos e outros.

Se não obedecer e casar com a mesma marca, o índio viverá em conflitos e terá vida curta.

Aconteceram casamentos de marcas diferentes e é mantida a tradição até hoje.

O SURGIMENTO DOS ÍNDIOS COROADOS(contado por Aparecido Marcolino)

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Na cultura indígena dos Kaingangs, Payum relata as tradições sobre a escolha na cor da pele e cabelo dos futuros descendentes.

Payum conta que sua cor escolhida foi a cor escura.

Esses conhecimentos vêm dos antepassados, quando o casal quer ter filho da cor da pele e cabelo mais clara ou escura, eles vão até a mata escolhe uma erva específica para esse fim.

Se a cor escolhida da pele e cabelo for mais clara, cozinha a erva e depois bebe.

Se a cor escolhida da pele e cabelo for mais escura cozinha a erva e depois come.

Essa tradição tem sido passada de geração em geração.

A COR DO ÍNDIO (contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

Desenho por Emiliano.

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o avô de Payum contou que certa vez apareceu uma pessoa na aldeia, e essa pessoa tinha uma missão de andar pelo mundo de aldeia em aldeia, ele se chamava João Maria.

Essa pessoa escavou uma mina d’água na aldeia de Payum, para que essa água fosse sagrada e também fosse uma fonte de cura de muitas doenças.

Conta que esta mina d’água ainda existe na aldeia, os indígenas se curam das doenças graves e das doenças menos graves.

MINA SAGRADA(contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

Desenho por Jagni Peira.

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Para realizar o batismo indígena, Payum conta que tem que pegar a criança após o sétimo dia de nascimento para realizar o cerimonial do batizado.

O índio vai até a floresta colher uma erva específica para o cerimonial, moe essa erva. Depois de moída, coloca em uma vasilha e conversa com a erva por um longo tempo.

Terminado o ritual, banha-se a criança.

CERIMONIAL DO BATIZADO(contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

Desenho por Laudeir Pereira.

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Há muito tempo atrás, o tio de Payum estava voltando de Tamarana para a Aldeia Apucaraninha e não havia estrada, apenas “picada” em meio à floresta. Estava seu tio e sua esposa à cavalo.

A lua clareava a floresta!

Quando estavam no meio do mato, no “carreador” escutaram um grito longe, não demorou muito e ouviram aquele “trupé” atrás deles. Então, se afastaram do carreador e de repente, viram como que dois “bichos”, um homem e uma mulher. Tinham cabelos compridos, caídos em seus corpos.

Seu tio possuía cavalo e chicote bons, seu chicote estralava quando batia, então decidiu dar uma surra neles. Pegou o chicote e correu em cima deles chicoteando-os.

Os “bichos” gritavam!

Os “bichos” se afastaram, sumiram e em questão de dois minutos gritaram longe, cerca de dez quilômetros.

MISTÉRIO(contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

Desenho por Jacier Campolin

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O irmão do avô de Payum contou que viu um “bicho” misterioso.

Conta que uma pessoa morreu e ele foi comprar umas roupas em Tamarana e ao entardecer na volta para a Aldeia ouviu um grito, pensou ser um bicho. Naquele tempo havia muitos bichos nas florestas, diferente de hoje. O irmão do avô de Payum tinha pressa para levar as roupas para o velório.

De repente, o “bicho” chegou e foi atacando, o cavalo era bom e pulava sobre o “bicho” e o irmão do avô de Payum chicoteava o “bicho”, pois carregava consigo sempre um chicote bom.

Depois de certo tempo de muita luta o “bicho” cansou de lutar, virou-se e caiu, então, o cavalo pisoteou o “bicho” caído no chão. O irmão do avô de Payum manteve-se firme sobre o cavalo.

Em seguida o “bicho” levantou-se e foi embora. Ouvia-se a batida das orelhas dele.

Sempre dizia que se tem esse “bicho” por perto das aldeias, não se deve deixar os indinhos chorarem, pois é perigoso ele “o bicho” levar a alma desses indinhos.

É muito perigoso!!!

O DUELO(contado por Aparecido Marcolino – nome indígena Payum)

Desenho por Eragon Sãnhkrig Correia.

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Numa tardezinha dentro de uma oca na Aldeia Yndyapohã estava Payakan em seus seis aninhos de vida.

Sua mãe e sua avó estavam tentando convencê-lo a ir junto com elas para Mungahay (ritual indígena na casa de reza).

De repente, Payakan ouviu soar em seus ouvidos uma voz suave dizendo-lhe que não era para ele ir, pois precisavam conversar.

Sua mãe e avó à frente já da oca, insistentemente não desistiam e continuavam a pressioná-lo.

Ao sair da oca para contar o que tinha escutado, surgiu entre ele e a entrada da oca uma grande bolha transparente da cor do arco-íris como uma grande bolha de sabão colorida, e dentro dela havia uma índia de meia idade sentada de cócoras, cabelos longos até o chão, tão negros quanto uma noite sem luar, de pele avermelhada, olhar sereno e sorriso meigo.

Acenava com as mãos para que ele permanecesse e a ouvisse, pois ela tinha uma mensagem para ele.

Payakan permaneceu paralisado, porém sem medo, plácido, sentiu a divindade ali presente.

A mensageira dirigiu-se a ele falando em Tupi-guarani, apresentou-se como Mushay Auynã.

Ela havia trazido à mensagem de seu destino, pois aquela criancinha ali presente, num futuro próximo seria liderança e representante dos povos indígenas, independente da etnia.

Payakan seria um homem virtuoso e sábio!

Payakan deveria seguir à risca o mungahay (ritual indígena na casa de

MUSHAY AUYNÃ (contado por Payakan Gadje Uvupuru)

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reza) da sua cultura indígena e lutar para defender seu povo, nunca esmorecer.

Payakan naquele instante sentiu-se abençoado em sua missão.

rapidamente chamou sua mãe e avó para que voltassem e vissem a mensageira que ali permanecia.

Payakan contou-lhes e mostrou-lhes, no entanto, apenas ele via a mensageira, elas nada viam, apenas ouviam murmúrios.

Desenho por Josias - Matan - Mãnh - Luis.

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O ATAQUE NO ACAMPAMENTO(contado por Payakan Gadje Uvupuru)

Payakan relembra que em 2008, Cacique e lideranças da Aldeia Apucaraninha se dirigiram ao Ministério Público e Polícia Federal em Londrina, para avisar que iriam retomar as terras que sempre pertenceram a eles e estavam nas mãos de outros não indígenas.

Então, se fixaram em suas terras, estavam retomando. Muitos indígenas, muitas famílias fizeram acampamentos.

Se houvesse algum conflito, não esmoreceriam, enfrentariam a situação, pois estavam em seus direitos.

Certa noite estavam todos reunidos ao redor da fogueira, tensos pela situação.

Depois da pescaria na represa, que era próxima ao acampamento, ao chegar, foram colocando os peixes dependurados em um varal sobre a fogueira, pois era alimento para o dia seguinte. Eram muitos os peixes, pois a pescaria foi coletiva, envolvendo a todos do acampamento, inclusive as crianças.

No entanto, ao amanhecer o varal de peixe estava vazio, não havia nenhum peixe.

Ficaram estarrecidos, questionaram que seria impossível a um gato comer todos aqueles peixes, pois eram muitos.

Ficaram sem entender o que havia acontecido, porém atentos para a noite seguinte.

Foram pescar novamente no outro dia, comeram um tanto de peixes e o restante colocaram novamente no varal sobre a fogueira que era no meio de duas cozinhas comunitárias, pois havia cerca de 800 indígenas entre adultos e crianças.

Contaram muitos causos ao redor da fogueira, também cantaram muitas

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músicas da cultura indígena.

Ah, fizeram muitas brincadeiras com a criançada!

Combinaram que iriam fazer plantão para descobrir o que estava acontecendo. E assim foi... lá pelas tantas se deitaram no chão.

Payakan acabou adormecendo, quando de repente seu parente o acordou mostrando-lhe o “bicho”. Naquele instante pensou ser brincadeira, mas percebeu que era real o “bicho”. Avistava, arregalando os olhos um “bicho”, era como se fosse um cachorro comprido, exageradamente comprido, um metro e oitenta, mais ou menos, enorme, baixo, focinho e orelhas compridas, os cabelos cobrindo o corpo.

Estava comendo os peixes do varal, passando a boca, comendo rapidamente os peixes.

Todos viram, era por volta das três da madrugada.

A noite estava enluarada, noite muito clara.

Os índios partiram para cima do “bicho” com arcos, flechas, bordunas e pedras, seguidos pelos cachorros do acampamento. O “bicho” correu em direção à estrada, onde também havia índios armados com arcos, flechas e bordunas.

Porém o “bicho” fugiu sem ninguém conseguir pegá-lo.

Esse “bicho” é um “bicho” do mau!

Quem conta esse causo, conta a verdade!

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Payakan esclarece que o índio luta pelas causas indígenas no coletivo, por todas as etnias.

Como liderança, pensa que líder já nasce líder.

relembra que há poucos anos atrás, por volta do ano de 2013, foi reconhecido o direito dos indígenas de terem dentro do centro urbano de Londrina uma área verde. Essa área verde está localizada entre o Conjunto Cafezal e o Jardim Botânico, com o nome provisório de Chácara São Miguel.

Esse local era uma usina de asfalto desativada, pertencente à Prefeitura Municipal de Londrina.

Depois de uma longa conversa com o prefeito Alexandre Kireeff, autoridades, antropóloga marlene, FUNAI, Cacique, Lideranças e indígenas das Aldeias, oficializou-se a entrega dessa área verde.

Atualmente está sendo ocupada por estudantes, artesãos e famílias. Local onde se mantém a cultura indígena viva.

Quando o estudante indígena vem para a cidade frequentar a universidade há um choque cultural muito grande para ele, então essa área verde que é a chácara São miguel dá acolhimento, ainda apresenta semelhança à aldeia indígena pela área verde, há nascente e rio no local.

CONQUISTA(contado por Payakan Gadje Uvupuru)

Desenho por Landa Nig Pereira.

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Em 1990 foi doada para os povos indígenas uma área verde localizada entre o Conjunto Luís de Sá e Conjunto Aquiles em Londrina.

Esta área chama-se Ângelo Kretã, em homenagem ao saudoso guerreiro indígena que muito lutou pelos povos indígenas.

Os indígenas das aldeias de São Jerônimo da Serra e Barão de Antonina é que vieram se instalar nessa área.

Começaram a trabalhar no artesanato. Payakan conseguiu 3700 mudas de árvores para reflorestar a área, pois parte havia sido destruída por vândalos, todos estavam muito felizes.

o prefeito naquela época prometeu dar apoio e reestruturar o local, no entanto nada fez. Dessa maneira, foi ficando difícil para os povos indígenas, inclusive, pessoas de más influências, drogados, marginais que poderiam “contaminar” os jovens e as crianças indígenas estavam por perto.

Esse tempo durou cerca de três anos.

Almejavam e necessitavam de apoio para que o local se tornasse um patrimônio histórico indígena, pois para que isso acontecesse haveria a necessidade de união e investimento de vários órgãos, inclusive segurança policial.

As famílias estavam correndo risco de vida nesta área, sem nenhum órgão apoiar a comunidade indígena.

As lideranças se reuniram e decidiram que todos deveriam retornar para as terras indígenas.

Payakan e comunidade indígena ficaram decepcionados, no entanto, sabem que essa área pertence a eles, pois “uma vez dada, não tem como tomar de volta”.

PERSEVERANÇA(contado por Payakan Gadje Uvupuru)

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“A floresta para nós é sagrada!”, afirma Payakan.

“Nós indígenas respeitamos as autoridades, porém exigimos ser respeitados também, pois, da mesma forma somos autoridades.”

Desenho por Thaize Gugnãn de Oliveira.

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Então minha avó fala assim, ó:

É Marquinho, quando eu era nova, quando eu tinha meus 15, 13 anos, não existia remédio pra nóis.

Ela falava assim, né:

Quando nóis fazia um corte no braço, em qualquer lugar, machucado, a gente cortava cipó do mato. A gente nunca ia em postinho de saúde, porque naqueles tempos não existia nem carro, só existia cavalo e burro, só naqueles tempos, né!

É então, daí ela falava assim:

Então nóis nunca ia pro posto de saúde, nóis nunca ficava doente à toa.

Ela falava assim pra gente:

Aí, às vezes, eu cortava minha perna, meu braço. A gente não pegava e costurava assim não, a gente pegava umas formigona da cabeça bem grande, que tem uns ferrão, daí eles fazia assim, ó, eles ia grudano assim na pele. Daí eles matava a formiga, cortava só a cabeça né, daí então, a formiga grudava. Daí eles tirava a cabeça, a cabeça da formiga ficava grudada assim.

Minha vó contava essa história pra mim, aí ela ficava tudo costurada assim né, a minha vó, porque ela já coloco já, né. Então daí ela, com certo dia, mais ou menos uns quinze dias, já começava a cicatriza, já certinho. Daí depois só pegava a cabeça da formiga e tirava assim, já tava bem fechado o machucado. Só que daí, ela colocava remédio dentro do machucado primeiro, antes de corta a formiga ainda. A formiga já era o remédio também. O líquido que a formiga joga na pele já era o remédio.

SABEDORIA DE AVÓ (contado por contado por Marcos Ganga O Piraí )

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Desenho por Lais Vergilio.

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CRIANÇA ALBINA

Desenho por Tamires.

A REVOLTA DOS ÍNDIOS

Desenho por Laiane.

MISTÉRIO

Desenho por Fernando Kokranh Pereira Soares.

O INDINHO TRAVESSO

Desenho por Crismail Tug Tu Marcolino.

O fOGO

Desenho por Claudiel Gonva Pires.

O SURGIMENTO DOSÍNDIOS COROADOS

Desenho por Hally.