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Recanto das Letras
Séries de Web Produção Capítulo 03
Recuperando a Paixão
Novela de José Pereira
Escrita por
José Pereira
Versão Internacional de
“Recuperando a Paixão” (2015)
Personagens deste capítulo
ANDRESSA
BIANCA
CARINA
DANIEL
DANILO
EDUARDO
GÉRSON
GISELE
HELEN
JACKELINE
JEFERSON
MARIÂNGELA
MAURÍCIO
MICHELE
NAYARA
NILZA
PATRÍCIA
SANDRA
SEBASTIÃO
SOFIA
Participação Especial:
ENFERMEIRA
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 1
CENA 01. CASA DE DANIEL. COZINHA. INT. MANHÃ.
No dia seguinte, a discussão entre Daniel e Helen so-
bre a demissão de Andressa continua. Os dois à mesa,
tomam café da manhã. Diálogo inicia mostrando Daniel
servindo-se de pão com manteiga.
Daniel — Continuo achando que você está lou-
ca, Helen.
Helen — Nunca estive tão sã. Aquela incompe-
tente tem de pagar pelo que fez.
Helen conta doze amêndoas para comer.
Daniel — E o que ela fez?
Helen — A supervisora não recebe a carteira
de clientes? Por que ela não tirou o
meu cadastro fora?
Daniel — A nova carteira veio com 10.000 ca-
dastros, como é que Andressa ia achar
o seu?
Helen — Bem, a tonta da Michele achou, não
achou?
Daniel — Helen, foi um mal entendido, mas
compreenda: se seu cadastro fosse para
outra assessoria de cobrança, alguém
ia te ligar de qualquer forma!
Helen — Que me importa? O erro foi que meu
cadastro estava com você e aquela su-
pervisora de merda permitiu que sua
inferior telefonasse para mim!
Daniel — Pode dizer o que quiser, Helen, não
vou demitir a Andressa.
Helen — Tudo bem, querido, então não haverá
trato.
Daniel — Helen, por que as coisas têm de ser
assim entre a gente?
Helen — Irrito-me quando você defende suas
amantes.
Daniel — Quantas vezes vou ter que te dizer
que não tenho nenhuma amante no traba-
lho? Ontem tivemos uma noite maravi-
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 2
lhosa, isso não significa nada para
você?
Helen — Na verdade, significou muito. (sor-
ri, toda safadinha) É que te amo tan-
to...
Daniel se levanta, se aproxima de Helen, a beija, de-
pois sorri.
Daniel — Sua louquinha...
Os dois voltam a se beijar.
Corta para:
CENA 02. COBRASIL. RECEPÇÃO. INT. MANHÃ.
Todas as funcionárias aguardam o início da jornada.
Algumas batem o ponto. Sandra surge do corredor.
Sandra — Será que teremos outro barraco hoje?
Andressa — Chega, Sandra, nem me fale disso.
Gisele — Ainda não sei como você aguentou le-
var tapa na cara daquela ordinária sem
revidar.
Andressa — Ia adiantar alguma coisa? O chefe
estava presente, ele mesmo resolveu a
situação.
Gisele — Ai, viram como ele é forte? Arrastou
a quenga para fora no braço.
Michele — O que significa “quenga”?
Todas as moças começaram a rir de Michele.
Corta para:
CENA 03. CASA DE DANIEL, COZINHA, INT. MANHÃ.
Helen ausente, voltará depois. Daniel está encerrando
o desjejum com uma xícara de café. Danilo entra de ca-
ra amarrada.
Daniel — Bom dia, filho!
Danilo — Só se for pra você.
Daniel — O que houve?
Danilo — Achei que íamos conversar sobre meu
cartão de crédito estourado, mas pelo
visto a noite foi boa entre você e ma-
mãe, hein.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 3
Daniel — (envergonhado) Filho, sua mãe e
eu...
Danilo — (servindo-se) O fogo era tanto que
deu até pra escutar os gemidinhos de-
la, vocês nem desceram para jantar.
CAM abre para Helen voltando à cozinha ao mesmo tempo
em que fala.
Helen — E quem disse que você podia espiar
nossa intimidade, moleque?
Daniel — Querida, não vi você descer.
Danilo — Acho que o bairro inteiro ouviu você
no cio.
Daniel — Danilo, por favor, não vamos falar
em baixarias.
Danilo — Eu só quero saber se vou usar tran-
quilamente meu cartão esse ano. Ou en-
tão cancelo minha matrícula na facul-
dade.
Helen — E vai fazer o quê, ser cobrador
igual às amantes do teu pai?
Daniel — (irritando) Helen! Não se preocupe,
filho, seu pai vai pagar o boleto.
Helen — E vê se põe uma senha mais difícil,
filho, senha 1-2-3-4 é muito obvia.
A família continua o dia sem graça.
Corta para:
CENA 04. CASA DE SEBASTIÃO QUARTO DE JEFERSON. INTERI-
OR. MANHÃ.
Eduardo entra no quarto. Jeferson dormindo, cobertas
até o pescoço. Eduardo o sacode.
Eduardo — Acorda, Finho!
Jeferson — (sonolento) Me deixa em paz, cara,
quero dormir.
Eduardo — Pai me falou que você tem uma entre-
vista de emprego hoje.
Jeferson — Ele é que disse, eu não confirmei
nada.
Eduardo — Levanta logo.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 4
Eduardo puxa a coberta do irmão. CAM mostra Jeferson
da cintura para cima, sem camisa.
Eduardo — Há, olha só quem acha ruim me ver
sem camisa, você dorme peladão!
Jeferson — Você também dorme, cara.
Jeferson pega a coberta de volta.
Eduardo — Mas nunca tive frescura e fingimen-
to. De pé, anda!
Jeferson dá de ombros, debochado, e fecha os olhos.
Corta para:
CENA 05. COBRASIL, SALA DA COBRANÇA, INT. MANHÃ.
Andressa entra na sala com a folha de pagamentos. As
demais funcionárias em suas mesas, já ao trabalho.
Andressa — Bom dia, meninas. Aqui está a folha
de pagamento de ontem. Parece que te-
mos novidades, hein?
Nayara — Deixa-me ver. (pega e lê) Olha, R$
250,00 para Carina!
Carina — (surpresa) Não acredito! O cliente
pagou ontem, era pra hoje!
Nayara — Pagou hoje de manhã via Internet
banking.
Carina — (emocionada) Ai, estou tão feliz!
Todas as cobradoras comemoraram, menos Gisele e Patrí-
cia.
Corta para Gisele que pega a folha. Conversa com Pa-
trícia segue em tom baixo, as demais não escutam.
Gisele — Está vendo, Patrícia? (lê) Olha só,
só um pagamento de R$ 110,00; teve um
cliente que devia R$ 30,00 ontem e não
pagou.
Patrícia pega a folha e lê.
Patrícia — E eu... Recebi nada!
Gisele — Estou dizendo, Patrícia, por culpa
delas estamos de mal a pior.
Patrícia — Não quero nem pensar em ser demiti-
da.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 5
Gisele — Nem eu, temos que ficar espertas.
Essa quenga não vai ocupar nosso lugar
nem o da Amélia.
Corta para:
CENA 06. HOSPITAL DAS CLÍNICAS, QUARTO, INT. MANHÃ.
Sebastião visita Mariângela. Há tensão na conversa, da
parte dela.
Mariângela — Se você veio falar “eu avisei”...
Close em Sebastião, os olhos dele iam fundos em sua
vizinha.
Sebastião — Mariângela... (tom) Eu só queria que
você se cuidasse... Isso poderia ser
evitado. E então sua filha estaria
mais tranquila no emprego.
Mariângela — Espero que ela esteja mesmo tranqui-
la e esqueça um pouco da moribunda
aqui.
Sebastião — É capaz de ela pedir demissão só pa-
ra te assistir.
Mariângela — Nunca! E como vamos comprar os remé-
dios que com certeza receitarão para
mim?
Sebastião — Eu posso ajud/
Mariângela — (corta) Pare, Tião, o médico disse
que eu não posso me estressar.
Sebastião — Eu ainda não o vi/
Mariângela — (corta) E nem é necessário.
Sebastião não entende por que estava sendo cortado.
Ele começa a fazer carinho na cabeça dela, fazendo-a
lacrimejar.
Sebastião — Não chore, querida. Tudo vai ficar
bem. Por nossos filhos.
Mariângela — Assim espero, Tião.
Ele enxuga as lágrimas de Mariângela com muito cuida-
do.
Corta para:
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 6
CENA 07. COBRASIL. RECEPÇÃO/ SALA DE NILZA/ SALA DO
DANIEL/ SALA DA COBRANÇA. INTERIOR. MANHÃ.
Daniel chega ao escritório de cara séria, devido ao
caos familiar. Sandra trabalha em sua mesa.
Daniel — Bom dia, Sandra.
Sandra — Bom dia.
Daniel passa pela porta do Call Center que estava
aberta. De seu ponto de vista, acontece a pequena co-
memoração do primeiro recebimento de Carina e ele a vê
sorrir. Close em Daniel, o semblante meigo e angelical
de Carina o faz também sorrir e esquecer um pouco da
tormenta anterior. Ao se lembrar da mãe enferma no
hospital, ele toma uma decisão.
Corta descontínuo para a SALA DE NILZA, ela está assi-
nando papéis. Daniel para no limiar.
Daniel — Nilza, venha à minha sala.
Nilza apenas escuta e se levanta. Corta descontínuo
para a SALA DE DANIEL, os dois entrando. Enquanto Da-
niel fala, liga o ar condicionado e o computador.
Nilza — Chamou, senhor?
Daniel — (sério) A Carina veio hoje?
Nilza — Veio, Sr. Ferreira.
Daniel — Chame-a para minha sala.
Nilza — Está bem.
Corta descontínuo para a SALA DA COBRANÇA, Nilza para
no limiar e faz gesto para Andressa. Ela se levanta.
Conversa em tom baixo, há diálogos misturados das co-
bradoras conversando com clientes.
Nilza — Andressa, o chefe quer falar com Ca-
rina.
Andressa — Quer dar os parabéns pelo primeiro
pagamento dela?
Nilza — Ela teve pagamento? Já? Meu deus, a
única que conseguiu essa proeza...
Andressa — Foi Amélia, eu sei! Vou chamá-la. (a
Carina, mais alto) Carina!
Carina — Sim?
Andressa — O chefe quer te ver na sala dele.
Carina — Já estou indo.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 7
Corta para Gisele, observa tudo, enciumada.
Gisele — Como? Essa guria vai falar com meu
homem?
Michele — Ela não vai falar com seu homem, vai
falar com o chefe.
Gisele — Cala a boca, retardada, por que não
liga para a dª Helen de novo?
Michele pensa que Gisele estava falando a sério.
Corta para:
CENA 08. FRADINHOS. CASA DE SOFIA. INT. MANHÃ.
Helen e Sofia na sala de estar, elegante, branco pre-
domina o ambiente nas paredes e móveis. Conversa ani-
mada, cada uma em um sofá.
Helen — E então eu consegui enrolar o meu
marido.
Sofia — Como?
Helen — Ele estava tirando a roupa para to-
mar banho, aproveitei o ensejo para/
Sofia — (fingindo choque) Mas, tu não dei-
xaste para trás teu caráter de piri-
guete, hein?
Helen — Para, Helen, fazia “séculos” que eu
não via o peito nu do meu marido,
quanto mais o corpo inteiro! As aman-
tes dele, ao contrário, devem saber
exatamente quantos pelos há no tórax
dele!
Sofia — Você insiste nessa ideia de amantes
no trabalho dele.
Helen — É a pura verdade! Você tinha que ver
como elas ficam todas derretidas quan-
do ele está por perto. Tenho que ga-
rantir o que é meu.
Sofia — E então ele vai mesmo pagar os car-
tões?
Helen — Claro que vai, minha filha, ai dele
se não!
As duas riem.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 8
Corta para:
CENA 09. COBRASIL. SALA DO DANIEL. INT. MANHÃ.
Carina entra na sala, intrigada com o que poderia con-
versar com seu chefe. Daniel faz um gesto para a outra
cadeira.
Daniel — Carina, pode se sentar.
Carina — Obrigada, senhor.
Daniel — Eu te pediria para me chamar de Da-
niel, mas não posso.
Carina se assustou com isso.
Carina — O senhor veio me chamar para quê?
Daniel — (sorrindo) Quero dizer que Nilza me
contou que sua mãe está internada no
hospital, era por isso que você chora-
va no dia em que te conheci?
Carina — Peço perdão por isso, Sr. Ferreira.
Daniel — Eu é que peço perdão por isso. Deve-
ria te deixar cuidar de sua mãe.
Carina — Ah, tá, logo no primeiro dia de tra-
balho?
Daniel — Poderíamos adiar o dia de você come-
çar, sei lá, semana que vem?
Carina — Senhor, minha mãe vai operar hoje,
logo estará em casa.
Daniel — Está bem, façamos o seguinte: vou te
liberar hoje para você olhar por sua
mãe. Espero que dê tudo certo na ci-
rurgia.
Carina — (surpresa) Está falando sério?
Daniel — Estou sim. Minha consciência não me
permitiria uma coisa dessas. Ontem vo-
cê estava preocupada com sua mãe e te-
ve que ouvir minha esposa tendo um
ataque de ciúmes.
Carina — Eu espero que hoje ela esteja mais
calma, senhor.
Daniel — (irritado) Ela tem que estar, por
bem ou por mal. (se acalma) Desculpe,
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 9
estou te molestando. Pode avisar à
Nilza e à Andressa que eu te liberei.
Carina — (se levantando) Obrigada, senhor
Ferreira, muito obrigada. Vou te re-
compensar trabalhando duro e dando o
máximo de mim. Ah, já comecei receben-
do R$ 250,00 de um cliente.
Daniel — (sorridente) Nossa, meus parabéns.
Tchau, Carina, melhoras para sua mãe.
Carina também sorri e sai da sala. Close em Daniel.
Daniel — Meu Deus, como essa mulher é linda!
Nilza — (off) Quem é linda, senhor?
Daniel leva um susto. Nilza está parada na porta.
Corta para:
CENA 10. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INT. MANHÃ.
Sebastião entra, de volta do hospital. Jeferson surge
do corredor, visivelmente chateado.
Sebastião — E então, filho, conseguiu?
Jeferson — Claro que consegui! Só consigo tra-
balhar nessas porqueiras!
Sebastião — Meu filho, veja pelo lado positivo,
você arranjou um emprego.
Jeferson — Eu definitivamente queria algo me-
lhor.
Sebastião — Mas como você quer algo melhor se
nunca levanta a bunda do sofá?
Jeferson fica todo sem graça e se afasta do pai.
Corta para:
CENA 11. COBRASIL. SALA DO DANIEL. INT. MANHÃ.
Continuação da cena 09. Nilza termina de entrar e fe-
cha a porta. Daniel se recompõe.
Daniel — Nada demais, Nilza. Estava pensando
alto.
Nilza — (espetando) Estava pensando na sua
esposa, creio.
Daniel — (cara fechada) Não me fale naquela
maldita.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 10
Nilza — Senhor, posso me meter no que não é
da minha conta, mas acho que deveria
prestar mais atenção na sua família.
Está claro que tem algo errado. E o
pouco que sei sobre seu filho indica
que ele também não está bem.
Daniel — Obrigado pela preocupação, Nilza,
mas não posso pensar nisso agora.
Nilza — Tudo bem, aqui estão os relatórios
atualizados.
Daniel lê as planilhas de pagamentos. Ele estende uma
das folhas.
Daniel — O quê? O que significa isso?
Nilza — Ah, é a planilha de Gisele.
Daniel — Não pretendo pagar comissão para
quem está recebendo essa mixaria, Nil-
za.
Nilza — Se quiser eu posso falar com ela.
Daniel — Se quiser, não: eu quero que fale
com ela.
Nilza — Está bem, senhor, com licença.
Nilza sai apressada da sala.
Corta para:
CENA 12. HOSPITAL DAS CLÍNICAS. QUARTO. INT. MANHÃ.
Mariângela está descansando, abre os olhos ao ouvir
passos. Abre em Carina, entrando sorridente.
Mariângela — Filha, você por aqui?
Carina — Mãe, eu fui liberada para cuidar de
você.
Mariângela — Do que adianta, vou ser operada e
depois dormirei por horas.
Carina — Quero estar aqui para te ver curada.
Mariângela — Foi o patrão que te liberou, não?
Carina — Sim, ele é muito gentil.
Close em Carina, muito animada com o gesto de Daniel.
Mariângela — Filha...
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 11
Carina — (se recompõe) Mãe, não é nada do que
está pensando. Eu amo Eduardo e vou me
casar com ele.
Mariângela — Você pensa assim, mas será que seu
patrão pensa igual?
Carina — Se não, aclararei tudo na primeira
oportunidade.
Mariângela — Assim espero... Ai...
Mariângela começa a sentir dores.
Carina — Mãe, a senhora está se sentindo bem?
Mariângela — Só um pouco de dor. Aaiiii!!!!
A mesma enfermeira do capítulo 02 entra no quarto.
Carina — Mãe? Socorro, enfermeira! Minha mãe
está passando mal!
Enfermeira — Ah, agora que você veio ver tua mãe
morrer?
Carina — Cala a boca, desgraçada, cuide da
minha mãe!
Enfermeira — Ora, sua...
A enfermeira sai do quarto e deixa Mariângela gemendo
de dor.
Carina — Ei, volte aqui, sua vaca! Socorro,
preciso de um médico!
Carina sente a mão de Mariângela agarrar-lhe a blusa
do uniforme. Ela se volta para a mãe. Diálogo dramáti-
co e tenso.
Mariângela — Carina, sinto que chegou meu fim!
Carina — Pare com isso, mãe, não se esforce!
Mariângela — (respirando difícil) Tenho que te
dizer algo! Case-se com o Eduardo, fi-
lha, seja feliz com ele, jure-me isso,
por favor!
Carina — É claro que te juro, mãe, nem preci-
sava pedir isso.
Mariângela — Mas caso vocês passem dificuldades,
peça ajuda!
Carina — Ajuda, a quem?
Mariângela — Ao seu irmão!
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 12
Carina — Nunca mais ouvi falar no Maurício,
nem sei onde ele está!
Mariângela — Ele... Ele está...
Nesse exato momento chega o médico com outras enfer-
meiras.
Médico — Com licença, senhorita Flores, ouvi-
mos seu pedido de socorro.
Carina — Aquela vadia da enfermeira abando-
nou-nos aqui!
Médico — Ela já foi dispensada. Vamos, pesso-
al.
Uma enfermeira aplica algo na veia de Mariângela, en-
quanto isso a maca é levada para a sala de operações.
Carina, chorando, pega seu celular.
Carina — (celular) Eduardo...
Corta para:
CENA 13. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. MEIO-DIA.
Telefone fixo toca. Entra Danilo, apressado, para
atender.
Danilo — O telefone está tocando. (atende)
Alô?
Corta rápido para:
CENA 14. COBRASIL. SALA DE COBRANÇA. INT. MEIO-DIA.
(Alternar diálogos desta cena com a cena anterior) Mi-
chele está bem séria e profissional.
Michele — (tel) Alô, poderia falar com a dª
Helen Pádua Ferreira?
Danilo — (tel) É a minha mãe, mas ela não se
encontra.
Michele — (tel) Com quem eu falo?
Danilo — (tel) Danilo.
Michele — (tel) Danilo, peça para sua mãe en-
trar em contato com a Cobrasil.
Danilo — (tel, rindo) Mas é a empresa do meu
pai!
Michele — (tel) Eu sei, senhor, mas ela está
em débito com o cartão Moneycard e seu
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 13
cadastro veio até nós, não posso dei-
xar de cobrá-la porque ela não é a ra-
inha da Inglaterra. Se bem que a rai-
nha da Inglaterra é muito digna e du-
vido que ela deva algum cartão de cré-
dito.
Danilo — (tel, caindo na gargalhada) Michele,
você é demais! Infelizmente não posso
passar seu recado senão ela te manda-
ria embora, mas já estamos providenci-
ando o pagamento do cartão.
Michele — (tel) A Cobrasil agradece sua aten-
ção e tenha um bom dia.
Michele desliga.
Corta rápido para:
CENA 15. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. MEIO-DIA.
Danilo desliga o telefone com um sorriso no rosto.
Danilo — Puxa, que garota! Pra falar assim da
minha mãe...
Corta para:
CENA 16. COBRASIL. RECEPÇÃO. INT. MEIO-DIA.
As funcionárias saem para almoçar. Sandra, zombadora,
aborda Michele. Gérson vai entrar depois da conversa.
Sandra — Telefonou de novo para a dª Helen,
Michele?
Michele — Sim, deixei recado com o filho dela,
Danilo.
Gisele — Você é mesmo louca, Michele? Ela vai
te matar!
Michele — Apenas faço o meu trabalho, tenho
culpa se ela está devendo?
Michele se afasta. Corta para a porta, Gérson aparece.
Gérson — Boa tarde!
Gisele — Gérson! Que bom que você veio, pre-
ciso de um favorzinho teu.
Patrícia — Vamos logo, Gisele, vai perder seu
horário de almoço.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 14
Gisele — Podem ir, eu vou falar rapidinho com
o Gérson.
Todas descem para o restaurante. Gisele encosta-se a
Gérson. O rapaz, jeito de nerd, fica um pouco nervoso.
Gérson — O que foi, Gisele?
Gisele — Eu preciso que você modifique algu-
mas ocorrências que eu fiz de alguns
clientes.
Gérson — Qual é, Gisele, como me pede algo
assim?
Gisele — É por uma boa causa, é que a Andres-
sa falou que temos de ser mais discre-
tos com nossos relatórios, mas depois
que a gente escreve e dá “Enter” não
conseguimos mais editar.
Gérson — Deve ser muitas mensagens. Olha, eu
não tenho muito tempo, a Andressa me
chamou para outras coisas, mas se qui-
ser eu te ensino como alterar as ocor-
rências e depois você faz por si mes-
ma, está certo?
Era tudo o que Gisele queria ouvir.
Gisele — Está certo! Muito obrigada, Gérson.
Corta para:
CENA 17. HOSPITAL DAS CLÍNICAS. CORREDOR. INT. TARDE.
Eduardo atendeu ao chamado de Carina, agora está espe-
rando com ela. Os dois estão aflitos, entre várias
pessoas que passam por eles. O médico Medeiros vai ao
encontro deles.
Eduardo — Que demora, já é uma da tarde e ain-
da não almocei.
Carina — Pode ir se quiser, Edu.
Eduardo — Nem em sonhos te deixo sozinha numa
hora dessas.
Carina — Lá vem o médico. (o segura) Doutor,
o que aconteceu? Como está minha mãe?
Médico — É inacreditável! No tempo em que sua
mãe esperou para fazer a cirurgia o
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 15
câncer evoluiu e se espalhou para ou-
tros órgãos vitais.
Carina — Ai meu Deus, e o que aconteceu en-
tão?
Médico — Você vai ter que ser forte, senhori-
ta Flores.
Ela solta o médico. Eduardo abraça Carina bem forte.
Carina — Meu Deus, não...
Close de Carina com uma lágrima escorrendo no rosto
dela.
Corta para:
INTERVALO COMERCIAL
CENA 18. HOSPITAL DAS CLÍNICAS. CORREDOR. INT. TARDE.
Continuação da cena anterior. O médico que atende Ma-
riângela está com Carina e Eduardo.
Carina — Meu Deus, não...
Médico — Ela estava muito fraca, talvez não
resistisse à cirurgia...
Carina — Não consigo acreditar, a minha mãe
morreu!
Carina começa a chorar mais alto, Eduardo a abraça com
mais força. Drama ao máximo.
Eduardo — Eu sinto muito, meu bem.
Carina — Ai, Eduardo, que faço da minha vida?
Médico — Com licença, preciso tomar as provi-
dências necessárias. Sinto muito, se-
nhorita Flores.
Close no médico saindo, de modo curioso, ele também
está muito triste com a morte da paciente.
Eduardo — Você vai casar comigo, eu cuidarei
de você.
Carina — Queria que minha mãe estivesse no
casamento.
Eduardo — Chore, querida, chore à vontade, de-
sabafa.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 16
Carina enterra a cabeça no peito dele, choro continua.
CAM vai se afastando. Tempo.
Corta para:
CENA 19. COBRASIL. SALA DA COBRANÇA. INT. TARDE.
Gérson ensina uma irregularidade no sistema para Gise-
le. Ele demonstra gostar da moça, mas ela não lhe dá
mais atenção que o normal.
Gérson — E é assim que se faz a mudança das
ocorrências.
Gisele — Muito obrigada, Gérson, você é um
bom amigo.
Gérson — (incomoda-se com o “amigo”) Só espe-
ro que você tenha mais paciência com
seus clientes, Gisele, para que não
precise modificar tanto.
Gisele — Pode deixar.
Andressa entra na sala, repara em Gisele que ainda não
desceu.
Andressa — Ah, Gérson, você já chegou.
Gérson — Boa tarde, Andressa, qual é mesmo o
problema do sistema?
Gérson atende Andressa enquanto Gisele modifica suas
ocorrências.
Corta para:
CENA 20. HOSPITAL DAS CLÍNICAS. RECEPÇÃO. INT. TARDE.
Carina e Eduardo caminham em direção à saída, param.
Carina — Agora tenho de telefonar para o sr.
Ferreira avisando do ocorrido.
Eduardo — Quer que eu telefone?
Carina — Deixe que eu ligo. Só espero que ele
não pense que estou mentindo.
Eduardo — Ora, o que é isso, você mesma não
disse que ele é boa gente?
Carina — Isso é verdade, ele é gentil, bondo-
so, compreensivo...
Eduardo — (incomodado) E então, vai ligar?
Carina — Agora mesmo.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 17
Carina pega o celular da sua bolsa, disca. Aguarda.
Corta para:
CENA 21. COBRASIL. SALA DE DANIEL. INTERIOR. TARDE.
(Alternar diálogos desta cena com a cena anterior) Te-
lefone toca. Daniel entra na sala apressado e atende
ao telefone fixo em pé.
Daniel — (telefone) Boa tarde.
Carina — (celular) Boa tarde, sr. Ferreira. É
a Carina Flores. Tenho uma péssima no-
tícia.
Daniel — (telefone) Não, Carina, não me diga
que...
Carina — (celular) Sim, senhor, minha mãe
acabou de falecer.
Daniel — (telefone) Sinto muitíssimo, Carina,
você está sozinha no hospital?
Carina — (celular) Não, estou com o meu namo-
rado.
Daniel — (telefone) Seu... N-namorado?
Corta para:
CENA 22. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. TARDE.
Helen entra. Danilo está assistindo TV.
Helen — Alguém ligou?
Danilo — Ninguém em especial. Ein, o cartão
Moneycard ainda está disponível?
Helen — Está querendo gastar também, né? Use
o seu.
Danilo — Pai ainda não pagou.
Helen — O Moneycard também falta pagar.
Danilo — Ah, que pena, então eu vou estudar.
Danilo desliga a TV, levanta-se e sobe as escadas. He-
len está sentada se servindo de café quando recebe
mensagem no celular.
Helen — (lê) “Prezada cliente: resolva seu
débito com o cartão Moneycard! Apro-
veite o desconto de 15% para pagar à
vista ou o parcelamento em até seis
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 18
vezes. Entre em contato com a assesso-
ria Cobrasil”. Não, aquelas piranhas
querem realmente guerra, não é possí-
vel!
Helen atira o celular ao chão.
Corta para:
CENA 23. COBRASIL. SALA DO DANIEL. INT. TARDE.
Continuação da cena 21, segue a conversa por telefone
e os planos alternados entre Daniel e Carina, na RE-
CEPÇÃO. HOSPITAL DAS CLÍNICAS (INTERIOR, TARDE). Close
em Daniel, abismado pela informação de que Carina tem
namorado.
Daniel — (telefone) Você não me disse que ti-
nha namorado.
Carina — (celular) O senhor não perguntou, e
isso era realmente necessário saber?
Daniel — (telefone, disfarçando) Desculpe,
estou falando bobagens. Pode ficar o
tempo que for necessário, Carina, para
resolver tudo com sua mãe. E novamen-
te, sinto muito.
Carina — (celular) Ai, senhor, me sinto en-
vergonhada com tudo isso acontecendo
logo na primeira semana de emprego.
Daniel — (telefone) Nem pense nisso, Carina,
não podíamos prever nada disso.
Carina — (celular) Tudo bem, sr. Ferreira,
muito obrigada por tudo e até mais.
Daniel — (telefone) Até mais (desliga) Coita-
da! Se eu pudesse fazer alguma coi-
sa...
Corta para:
CENA 24. HOSPITAL DAS CLÍNICAS. ENTRADA. EXT. TARDE.
Eduardo e Carina saem para tomar um ar. Eduardo está
com semblante desconfiado.
Eduardo — O que quis dizer com a parte “isso
era realmente necessário saber”?
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 19
Carina — Ele ficou surpreso por eu dizer que
tenho namorado, mas isso não importa.
Eduardo — É, vamos cuidar do enterro. Eu te
ajudo.
Eduardo põe a mão no ombro de Carina e os dois conti-
nuam a andar.
Corta para:
CENA 25. COBRASIL, SALA DA COBRANÇA, INT. TARDE.
Gérson termina o serviço para Andressa. As demais co-
bradoras estão de volta do almoço. Apenas algumas con-
versam com clientes.
Andressa — Muito obrigada, Gérson, pela ajuda.
Gérson — De nada, Andressa, estamos às or-
dens.
A porta se abre e Daniel entra, sério.
Andressa — Aconteceu alguma coisa, chefe?
Daniel — A mãe de Carina acabou de falecer.
Nayara — Isso significa que ela ficará mais
dias sem trabalhar?
Jackeline — Nayara!
Daniel — Sei que isso pode parecer estranho
para quem começou a trabalhar, mas a
vida tem desses imprevistos. Com li-
cença.
Daniel se retira. Corta para Gisele, novamente conver-
sando discreto com Patrícia.
Gisele — Hum, isso está me cheirando a outra
coisa.
Patrícia — O quê?
Gisele — Acho que a mãe da Carina não morreu
coisa nenhuma.
Michele — Ah, vá, menina, quem seria louca de
aprontar assim logo na primeira semana
de emprego?
Gisele — Essa gentalha preguiçosa faz de tu-
do, vai ver ela pensava que só ia tra-
balhar semana que vem e por isso in-
ventou essa lorota. Esperem e verão.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 20
Patrícia dá de ombros, em dúvida.
Corta para:
CENA 26. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INTERIOR. TARDE.
Sebastião confere a hora, vê que Eduardo ainda não
voltara. Pega o celular do bolso e disca para ele.
Sebastião — (celular) Oi, filho, onde você está,
nem veio almoçar.
Corta para:
CENA 27. HOSPITAL DAS CLÍNICAS. ENTRADA. EXT. TARDE.
(Alternar diálogos desta cena com a cena anterior)
Eduardo está visivelmente cansado. Carina não está ao
lado de Eduardo.
Eduardo — (celular) A fome já foi até embora.
Sebastião — (celular) O que aconteceu?
Eduardo — (celular) A mãe da Carina acabou de
falecer.
Sebastião — (celular, sentando no sofá) Ah, que
pena, eu sinto muito! Podemos ajudar?
Eduardo — (celular) Precisa não, pai.
Sebastião — (celular) Pensando bem, vou ai sim,
e vou levar o seu irmão. Sabia que ele
conseguiu o emprego?
Eduardo — (celular) Uma boa notícia no meio
disso tudo. Estamos no Hospital das
Clínicas.
Sebastião — (celular) Já estamos indo.
Corta rápido para:
CENA 28. CASA DE SEBASTIÃO. SALA. INTERIOR. TARDE.
Sebastião desliga. Close em seu rosto, transtornado,
chocado. Ele enterra o rosto nas mãos e chora amarga-
mente. Jeferson entra e encontra o pai assim.
Jeferson — Pai, o que aconteceu?
Sebastião — (olha para ele) Nossa vizinha Mari-
ângela faleceu, Finho! Não aguentou
esperar a cirurgia.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 21
Jeferson — Que barra pesada, pai! Nina e Edu
ainda estão no hospital?
Sebastião — Sim. Eu até queria mesmo te chamar
para ajudá-los.
Jeferson — Então vamos, Nina precisa de nós.
Jeferson vai para seu quarto, botar roupa melhor. Se-
bastião enxuga as lágrimas.
Corta para:
CENA 29. COBRASIL. SALA DE NILZA. INT. TARDE.
Nilza e Gisele estão sentadas, cada uma em seu lugar.
Nilza — Gisele, preciso conversar seriamente
com você.
Gisele — Algum problema, Nilza?
Nilza — O chefe quase enfartou quando viu
seu relatório de pagamentos.
Gisele — Infelizmente, Nilza, estou numa maré
de azar. Um cliente meu que deve ape-
nas R$ 30,00 teve a pachorra de não
pagar. Já clientes da Nayara que devem
R$ 700,00 a R$ 800,00 pagam à vista.
Nilza — Mas, não é o primeiro mês, Gisele,
você está tendo alguma dificuldade?
Gisele — (petulante) A dificuldade é que os
melhores clientes só vão para Nayara,
Amélia, e agora para essa Carina, que
supostamente teve a mãe morta.
Nilza — O que você quer dizer com “suposta-
mente”?
Gisele — Mal conhecemos a guria, certo?
Nilza — Justamente por isso que não devemos
julgar. Nayara e Carina estão fazendo
um ótimo trabalho, e Amélia teve mere-
cidamente suas férias depois de dar
duro na empresa por mais de um ano.
Todas podem sair vencedoras.
Gisele — E se eu não me sair vencedora, serei
trocada pela Carina quando a Amélia
voltar?
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 22
Nilza — Eu não disse nada, é você quem está
falando. O recado foi dado, Gisele,
pode voltar ao trabalho.
Gisele sai revoltada da sala.
Corta para:
CENA 30. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. TARDE.
Helen, sentada no sofá maior, telefona para a Cobra-
sil.
Helen — (celular) Alô, é da Cobrasil?
Corta rápido para:
CENA 31. COBRASIL. SALA DE COBRANÇA. INTERIOR. TARDE.
(Alternar diálogos desta cena com a cena anterior) Bi-
anca atende a ligação, depois CAM vai até Andressa,
cujo diálogo será tenso.
Bianca — (telefone) Isso mesmo.
Helen — (celular) Eu gostaria de falar com a
Andressa. Ela me ligou e sou uma cli-
ente.
Bianca — (telefone) Passarei a ligação, só um
minuto.
Corta para Andressa, solícita em sua mesa.
Andressa — (telefone) Cobrasil, Andressa, boa
tarde.
Helen — (telefone) Andressa, sua irresponsá-
vel, outra vez mandando suas meninas
me atormentarem?
Andressa — (telefone) Dª Helen?
Helen — (celular) Não se faça de desentendi-
da, eu recebi uma mensagem no meu ce-
lular mandando ligarem para vocês.
Pois bem, estou respondendo.
Andressa — (telefone) Dª Helen, não é a inten-
ção de ninguém incomodar a senh/
Helen — (celular, corta irritada) Eu só vou
dizer uma coisa, piranha, você vai pa-
gar caro por tudo isso. Já vi que a
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 23
empresa do meu marido é uma zona mes-
mo. Pegue o meu débito e enfie no seu/
Andressa desliga o telefone na cara de Helen.
Corta para:
CENA 32. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. TARDE.
Helen percebe que do outro lado ficou mudo.
Helen — (furiosa) Alô? Desgraçada, desligou
na minha cara! Isso não vai ficar as-
sim!
Close em Helen espumando de raiva.
Corta para:
CENA 33. TABUAZEIRO. FUNERÁRIA. INT. NOITE.
Visão ampla e planos gerais do ambiente. Pessoas de
preto, amigos e vizinhos conversam discretamente, no
centro o caixão semiaberto com Mariângela descansando
em paz. Ao lado do caixão, em pé, Carina olhando a mãe
com tristeza. Jeferson se aproxima, a abraça de lado.
Jeferson — Sinto muitíssimo, Carina, por tudo
isso.
Carina — Obrigada, Jeferson. Pelo menos nem
tudo é tristeza, estou sabendo do seu
emprego.
Jeferson — Ai, nem me fale. Queria algo melhor,
mais vantajoso.
Carina — Ora, pedreiro ganha muito bem.
Jeferson — Mas e o esforço...
Carina — (pouquinho alegre) “Sem sacrifício
não há vitória”, ouvi essa de um fil-
me.
Jeferson — E você, começou a trabalhar agora
também?
Carina — Com tantas faltas, acho que não pas-
sarei na experiência.
Jeferson — Ninguém faria uma coisa dessas com
uma garota tão linda como você. Não se
preocupe.
Carina — Deus te ouça.
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 24
Eduardo se aproxima dos dois. Jeferson solta Carina.
Eduardo — E ai, meu bem?
Carina — Vou levando numa boa. Olhe só para
ela...
Carina observa sua mãe pela última vez repousando em
paz no caixão.
Corta para:
CENA 34. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Daniel chega do trabalho. Helen de roupas leves, à
vontade no sofá vendo TV. Danilo vai descer as escadas
daqui a pouco.
Daniel — Boa noite, Helen.
Helen — Há quanto tempo você não me chama de
“querida”, “meu amor”...
Daniel — Ai, não começa, Helen...
Helen — Está vendo? (se levanta) Assim nosso
casamento nunca vai para frente, amor.
Ela o beija. Danilo desce as escadas.
Danilo — Agora vão acasalar aqui na sala, é?
Daniel — (farto) Filho, por favor. Eu acabei
de chegar, gente será possível um pou-
co de paz?
Daniel sobe irritado para o quarto.
Helen — (a Danilo) Está vendo, por sua culpa
ele se zangou. É por isso que ele se
envolve com as amantes do escritório,
ele não encontra paz e amor aqui.
Danilo — Ainda está com esse pensamento desde
que papai fundou a empresa?
Helen — Pensamento não, certeza! Em especial
a novata.
Danilo — Chegou funcionária nova lá?
Helen — Está vendo? Vocês homens parecem que
só pensam com a cabeça de baixo, pelo
amor de Deus!
Danilo — Como você consegue falar em Deus no
meio de uma frase obscena?
Helen — Ah, filho, para de me encher, vá...
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 25
Helen sai.
Corta para:
CENA 35. CEMITÉRIO DE MARUÍPE. EXTERIOR. MANHÃ.
Dia seguinte. Estão todos reunidos para o discurso fú-
nebre do padre e o enterro de Mariângela das Flores. O
padre discursa, sem áudio dele, apenas leve música de
fundo triste no lugar.
Carina — (baixo) Adeus, mamãe.
Eduardo está sempre ao seu lado. Jeferson e Sebastião
também estão à distância. Corta para outro ponto, um
pouco afastado dos demais, Daniel está presente, de
óculos escuros.
Corta para:
CENA 36. CASA DE DANIEL. SALA DE ESTAR. INT. MANHÃ.
Danilo desce as escadas, bem vestido para sair. Helen
o aborda vinda da cozinha.
Helen — Danilo, você viu o seu pai?
Danilo — Se não está em casa, deve ter ido
para o trabalho.
Helen — Eu precisava falar com ele, vou to-
mar café e ir ao escritório.
Danilo — E eu tenho que ir para a faculdade
acertar uns detalhes.
Helen espera Danilo sair para expressar sua dúvida.
Helen - Foi bem cedo, que disposição. Será
que é pela quenga?
Corta para:
CENA 37. COBRASIL. RECEPÇÃO. INTERIOR. MANHÃ.
As funcionárias se reúnem, esperando dar a hora de
iniciar mais uma jornada. Discussão entre Nayara, Mi-
chele, Gisele e Andressa. As demais estão nos sofás.
Nayara — Pelo amor de Deus, Michele, não te-
lefone para a esposa do chefe!
Michele — Espero que ela esteja pagando o dé-
bito para isso!
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 26
Andressa — Como disse, Michele? Foi você quem
mandou uma mensagem ontem?
Michele — Fui eu, Dessa.
Andressa — Isso foi imprudente da sua parte,
Michele, ela ficou furiosa.
Michele — Mas... Por ser esposa de empresário,
não vai pagar?
Andressa — Cobrar a esposa do patrão seria como
cobrar o próprio patrão! Teria coragem
de fazer isso?
Michele — (tom de desafio) Teria sim! Meu tra-
balho é convencer aos endividados a
resolverem seu problema, não interessa
se é a Presidente ou um faxineiro!
Gisele — Então te desafio a isso, Michele.
Andressa — Cale a boca, Gisele.
Michele — Pode deixar, Dessa. Aceito o desa-
fio, já que foi você quem começou is-
so.
Gisele — Estava apenas brincando, você que é
retardada e não sabe distinguir piada
de coisa séria.
Andressa — Chega, meninas, vamos entrar na sala
e ligar nossas máquinas.
Todas se dirigem à sala da cobrança.
Corta para:
CENA 31. CEMITÉRIO DE MARUÍPE. EXTERIOR. MANHÃ.
Todos começam a se retirar após o enterro completo.
Carina deixa flores. Daniel vai se aproximando.
Eduardo — Agora vamos para casa descansar.
Carina — Tenho que ver se consigo alguma de-
claração para a Cobrasil.
Daniel — Isso não será necessário.
Carina leva um susto. Daniel estava atrás dela. Ela se
vira rapidamente, impressionada.
Carina — Chefe? Sr. Ferreira?
Recuperando a Paixão Capítulo 03 Pág.: 27
Daniel — Como vai, Carina? Vim dar meus pêsa-
mes em pessoa. Esse deve ser teu namo-
rado. Olá, sou Daniel Ferreira.
Eduardo — Olá, Daniel. Sou Eduardo Aguiar.
Os dois homens apertam mãos. Close em Carina, emocio-
nada com a presença do seu patrão.
Corta para:
CENA 38. COBRASIL. RECEPÇÃO. INTERIOR. MANHÃ.
Helen chega se achando a poderosa. Sandra a atende.
Helen — Bom dia, eu vim falar com meu mari-
do.
Sandra — Com quem, senhora?
Helen — Com meu marido, é surda, idiota?
Sandra — Senhora, ele ainda não chegou.
Helen — Como assim ele não chegou???
Close no rosto indignado de Helen.
Corta.
FIM