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REFLEXÕES SOBRE A NACIONALIDADE BRASILEIRA
Aquisição, perda e reaquisição
INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva oferecer ao leitor uma idéia geral sobre a nacionalidade
brasileira, sua aquisição, perda e reaquisição, à luz da Constituição Federal de 1988, já com as
alterações promovidas pela EC 54/2007, possibilitando a reflexão sobre o assunto.
O ponto de partida se dá com a apresentação de alguns conceitos que estão
diretamente relacionados com a nacionalidade e que devem ser entendidos para que haja uma
melhor compreensão do que vem a ser discutido posteriormente.
Posteriormente, serão feitos comentários sobre as formas de aquisição da nacionalidade
brasileira e qual ou quais o(s) critério(s) adotado(s) pelo Brasil para efeito de atribuição da
nacionalidade. Analisar-se-á, dessa forma, as hipóteses de aquisição originária e se o Brasil
adota o critério do direito do solo, direito do sangue ou um critério misto para atribuição da
nacionalidade de origem. Verificar-se-á, ainda, as formas de aquisição derivada (secundária) e
o procedimento necessário para adquiri-la. Este capítulo finaliza demonstrando se há ou não
alguma diferença entre brasileiro nato e naturalizado.
Ato contínuo, serão discutidas as hipóteses constitucionais de perda da nacionalidade
originária e secundária e a possibilidade ou não de reaquisição.
Este trabalho não tem o intuito de esgotar todos os conceitos que aqui foram
utilizados, e tampouco o tema abordado.
O principal objetivo desta obra, como dito anteriormente, é oferecer uma idéia geral
sobra a nacionalidade brasileira, instigando a reflexão sobre o assunto e, se possível, ser
utilizado como fonte de consulta para dirimir alguma dúvida referente ao tema apresentado.
1. NACIONALIDADE: ASPECTOS GERAIS
Inicialmente, antes de estudarmos o conceito de nacionalidade e, ato contínuo, as
hipóteses de sua aquisição, perda e reaquisição no contexto da Constituição Federal de 1988,
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mister se faz apresentar alguns conceitos relativos ao instituto em questão, sem a pretensão de
esgotá-los, traçando, inclusive, um paralelo com os direitos humanos, para melhor
compreensão do tema.
1.1. ESTADO E NAÇÃO
Temos que admitir, de início, que é difícil encontrarmos uma única definição para
Estado, pois sendo o Estado um ente complexo, poderá ser abordado sob diversos pontos de
vista.
O ilustre jurista Dalmo de Abreu Dallari apresenta um conceito que vai ao encontro de
nosso interesse, qual seja, o Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem
comum de um povo situado em determinado território 1.
Pela análise desse conceito, percebe-se que para a existência desse Estado são
necessários três elementos: soberania, povo e território, sendo que a ausência de qualquer um
deles é o suficiente para descaracterizá-lo.
É oportuno mencionar que Estado e Nação, embora sejam conceitos que se relacionem,
não se confundem. Nação resulta da associação de indivíduos de igual origem étnica, que
falam a mesma língua, vinculam-se aos mesmos precedentes históricos, cultuam e preservam
os usos, os costumes, as peculiaridades, as tradições e os sentimentos religiosos e ideológicos
comuns 2. Como bem observa Dallari, nação jamais teve significação jurídica, não indicando a
existência de um vínculo jurídico entre seus membros3.
O vínculo existente entre as pessoas que pertencem a um determinado Estado é jurídico
e o vínculo existente entre as pessoas de uma mesma nação é resultado de características
comuns; é um vínculo sociológico-cultural, ou seja, não é jurídico.
Ademais, tendo em vista o conceito de nação apresentado, podemos verificar a
ausência de um dos elementos constitutivos do Estado que é a soberania. Não há que se falar
em nação soberana, pois o único detentor de soberania é o Estado. Se a nação se tornar
soberana, conseqüentemente ela se torna um Estado.
1Dalmo de Abreu Dallari, Elementos da Teoria Geral do Estado, p. 119.2 Francisco Xavier da Silva Guimarães, Nacionalidade – aquisição, perda e reaquisição., p.3. 3 Dalmo de Abreu Dallari, op. cit., p. 133.
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3
1.2. POVO E POPULAÇÃO
Tendo em vista o conceito de Estado apresentado anteriormente tivemos a
oportunidade de observar que, além do território e da soberania, o povo é um elemento
essencial à constituição do Estado, até porque é para ele que o Estado se forma.
Mas o que deve se entender por povo?
Dallari diz que:
deve-se compreender como povo o conjunto dos indivíduos que,
através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado,
estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente,
participando da formação da vontade do Estado e do exercício do
poder soberano 4.
Nas palavras de Francisco Xavier da Silva Guimarães, povo é denominação de
conteúdo estrito que se refere à soma de nacionais de um Estado 5.
Diante dos conceitos supramencionados percebe-se que povo é uma expressão utilizada
para indicar o conjunto de indivíduos que possuem um vínculo jurídico com o Estado e que
estão submetidos a sua ordem jurídica soberana onde quer que se encontrem.
Neste momento, é vale registrar que povo não se confunde com população. Por
população devemos entender a quantidade de indivíduos que habitam o território de um
Estado, num determinado momento, compreendendo nacionais e estrangeiros 6. É mera
expressão numérica que totaliza a quantidade de pessoas que habitam o território num dado
momento. O fato de alguém se incluir na população de um Estado nada revela quanto ao
vínculo jurídico entre a pessoa e o Estado. É uma expressão que não possui sentido jurídico e
não pode ser usada como sinônimo de povo.
1.3. CONCEITO DE NACIONALIDADE
Vimos até aqui, resumidamente, qual o conceito de Estado e que ele possui alguns
elementos necessários à sua constituição. Dentre estes, destacamos o seu elemento humano,
qual seja, o povo. Feito isto passamos a verificar o significado de povo.
4 Dalmo de Abreu Dallari, op. cit., p. 99/100.5 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p.6.6 Ibid, p. 4.
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4
Mas, o que a nacionalidade tem a ver com isso que foi visto até agora ?
Ora, a idéia de nacionalidade se inspira na organização dos indivíduos em sociedade
política (Estado) e na conseqüente necessidade de determinar quais são as pessoas que compõe
essa sociedade (povo). Noutros termos, é a organização dos indivíduos em sociedade política
que enseja a nacionalidade. É a necessidade de indicar quais os membros efetivos da sociedade
política que a justifica.
Mas, qual a razão de se querer identificar quais os membros efetivos de um Estado?
Com o nascimento do Estado Nacional, no século XVIII, em contraposição ao
absolutismo até então vigente, ocorre a separação das esferas pública e privada e,
principalmente, a substituição da soberania real pela soberania nacional. Com isso, o poder
passa a emanar do povo que, por sua vez, passa a ser o novo titular da soberania.
Dessa forma, o povo passa, por intermédio de um ente superior, o Estado Nacional, a
regular sua própria vida em sociedade, surgindo, por conseqüência disso, direitos e deveres
tanto para o Estado como para os indivíduos que o compõem.
Daí decorre a necessidade de se identificar as pessoas que fazem parte do elemento
humano (povo) de determinado Estado. O nacional passa a ter direitos e obrigações perante o
Estado, razão pela qual mister se faz sua correta identificação.
Pode-se pensar, portanto, que o instituto da nacionalidade está muito atrelado ao
surgimento do Estado Nacional.
Por isso, não há como se falar em nacionalidade sem antes falar em Estado, nem como
conceber Estado sem seu elemento humano (povo), pois o povo é a razão de ser do Estado.
Frise-se que para a nacionalidade, em sentido jurídico, o que importa não é a figura da
nação, mas a do Estado (que pode abranger diversas nações), como bem observa Celso D.
Albuquerque Mello em sua obra Curso de Direito Internacional Público 7.
Com relação ao conceito, a nacionalidade, segundo Jacob Dolinger, é geralmente
definida como o vínculo jurídico-político que liga o indivíduo ao Estado, ou, em outras
palavras, o elo entre a pessoa física e um determinado Estado 8.
7 Celso Duvivier de Albuquerque Mello, Curso de Direito Internacional Público, p. 930. 8 Jacob Dolinger, Direito Internacional Privado, p. 137.
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Francisco Xavier da Silva Guimarães afirma que o vínculo que une, permanentemente,
os indivíduos, numa sociedade juridicamente organizada, denomina-se nacionalidade 9.
A nacionalidade, portanto, nada mais é do que o vínculo jurídico entre o indivíduo e o
Estado, do qual surgem direitos e deveres para ambas as partes.
1.4. CIDADANIA E NACIONALIDADE
Muitas pessoas utilizam o termo nacionalidade como sinônimo de cidadania.
Acontece que, originariamente, como vimos no tópico anterior, a expressão
nacionalidade tem seu nascimento atrelado ao surgimento do Estado Nacional, durante o
século XVIII.
A palavra cidadania, por sua vez, já era utilizada na Roma antiga para indicar a situação
política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa possuía ou podia exercer. Os romanos
livres tinham cidadania; eram, portanto, cidadãos, mas nem todos podiam ocupar altos cargos
políticos, como o de senador ou magistrado. Fazia-se uma distinção entre cidadania e
cidadania ativa. Somente os cidadãos ativos tinham o direito de participar da vida política e de
ocupar altos cargos administrativos.
Como se vê, em sua origem o termo cidadania, diferentemente da nacionalidade, era
utilizado para designar a situação política de um indivíduo.
Além desta diferença originária, fato é que o Estado pode estabelecer determinadas
condições, cujo atendimento é pressuposto para que o nacional adquira o direito de participar
da formação da vontade do Estado e do exercício da soberania. Neste caso, somente aqueles
que atenderem a esses requisitos serão denominados cidadãos. Se o cidadão deixar de atender
a alguma dessas condições, poderá perder ou ter reduzidos os atributos da cidadania, segundo
o próprio Estado dispuser, sem, no entanto, perder a nacionalidade.
No Brasil é assim, pois a cidadania, aqui, pressupõe a condição de nacional, mas exige
que, além disso, o indivíduo obtenha a qualidade de eleitor que, documentalmente se manifesta
na posse do título eleitoral válido. Os direitos de cidadania, portanto, no Brasil, se adquirem
mediante o alistamento eleitoral na forma da lei.
9 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 01.
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6
O alistamento eleitoral e o voto, nos termos do artigo 14 e seus parágrafos da CF/88 é
obrigatório para os maiores de 18 anos e facultativo para os maiores de 16 e menores de 18;
analfabetos e maiores de setenta anos. Já os estrangeiros e, durante o período do serviço
militar, os conscritos são inalistáveis, estando privados, por conseguinte, do exercício dos
direitos da cidadania.
Oportuna as lições de José Afonso da Silva que diz:
...cidadão, no direito brasileiro, é o indivíduo que seja titular dos
direitos políticos de votar e ser votado e suas conseqüências.
Nacionalidade é conceito mais amplo do que cidadania, e é
pressuposto desta, uma vez que só o titular da nacionalidade
brasileira pode ser cidadão 10.
Deve-se ter sempre em mente que a cidadania é um conceito complexo e dificilmente
teremos uma concepção única, em razão dos vários aspectos que ela pode ser abordada.
Para nós interessa mais a análise sob o ponto de vista jurídico e nesse sentido a
cidadania, no Brasil, pode ser definida, consoante visto anteriormente, como o uso e gozo dos
direitos políticos, distinguindo-se, assim, do conceito de nacionalidade.
Destacando a diferença entre nacionalidade e cidadania, Florisbal de Souza Del’Olmo11
afirma que:
Cidadania é o status jurídico de que se vêem investidos aqueles,
dentre os nacionais, que, pelo implemento de condições especiais,
como a idade, formam um vínculo político com o Estado, de que são
exemplos os direitos-deveres de votar e ser votado. Embora
empregada, algumas vezes, como sinônimo de nacionalidade, não
deve com ela ser confundida, até porque a nacionalidade é mais
abrangente, incluindo os menores e os incapazes, que não são
abrangidos pelo instituto da cidadania, pelo menos na conotação
jurídica que se aborda neste estudo.
Além disso, até nossa atual Lei Maior distingue nacionalidade de cidadania. No título
relativo aos direitos e garantias fundamentais, há um capítulo dedicado à nacionalidade
10 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, p.345.11 Florisbal de Souza Del’Olmo. Curso de Direito Internacional Público, p. 226.
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(capítulo III) e outro dedicado aos direitos políticos (capítulo IV), compondo estes as
características da cidadania. No artigo 22, XIII, a CF/88 estabeleceu a competência privativa
da União para legislar sobre nacionalidade, cidadania e naturalização. Se o legislador
constituinte tivesse a intenção de considerar os termos cidadania e nacionalidade como
sinônimos não haveria razão para a existência dos capítulos III e IV do Título II, bem como a
discriminação da competência realizada pelo artigo 22, XIII, retromencionado.
Como bem lembrado por Luis Ivani de Amorim Araújo12, ressaltando a distinção entre
os dois conceitos ora analisados, o texto constitucional conferiu ao cidadão e não apenas ao
nacional a legitimidade para a prática de alguns atos, como a propositura de ação popular (art.
5º, LXXIII) e a iniciativa de projeto de lei (art. 61 CF).
1.4.1. EXCEÇAO A REGRA DE QUE A NACIONALIDADE É PRESSUPOSTO DA
CIDADANIA
Com relação a regra de que a nacionalidade é pressuposto da cidadania, uma exceção
entre nós diz respeito aos portugueses, que podem exercer certos direitos políticos sem serem
nacionais 13. Isto ocorre, pois o parágrafo 1º do artigo 12 da Constituição Federal de 1988,
com a redação dada pela Emenda Constitucional Revisora nº 3, de 1994, dispõe que: Aos
portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição.
Como se vê, o dispositivo constitucional supra atribui aos portugueses um privilégio
adicional, qual seja, o de obterem o reconhecimento dos direitos inerentes ao brasileiro, desde
que residam permanentemente no país e que se verifique tratamento recíproco por parte de
Portugal, ressalvados sempre os casos previstos na Constituição Federal, reservados aos
brasileiros natos.
Atualmente, a reciprocidade entre Brasil e Portugal no que tange à Igualdade de
Direitos e Obrigações Civis e o Gozo dos Direitos Políticos encontra respaldo no Decreto
3927/2001 que promulgou o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre os referidos
países, celebrado em Porto Seguro/BA em 22/04/2000.
12 Luis Ivani de Amorim Araújo. Curso de Direito Internacional Público, p. 66.13 Jacob Dolinger, op. cit, p. 139.
7
8
O português que se encontrar regularmente no Brasil e pretender obter os benefícios do
Estatuto da Igualdade, sem perder a nacionalidade originária, poderá pleitear ao Ministro da
Justiça14:
a) aquisição de igualdade de direitos e obrigações civis, provando, neste caso:
I) que tem capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II) residência permanente no Brasil; e
III) gozo da nacionalidade portuguesa
b) aquisição do gozo dos direitos políticos, comprovando:
I) residência no território brasileiro pelo prazo de 3 (três) anos;
II) saber ler e escrever o português; e
III) estar no gozo dos direitos políticos no Estado de nacionalidade.
O requerimento pertinente aos direitos civis pode ser feito conjuntamente com o dos
direitos políticos, desde que preencha o interessado os requisitos exigidos para ambos, ou
isoladamente.
Estas exigências são iguais para os brasileiros em território português.
1.5. NATURALIDADE E NACIONALIDADE
A expressão nacionalidade também não se confunde com naturalidade, uma vez que
esta é uma terminologia utilizada para indicar o lugar do nascimento da pessoa, em certa
região ou lugar. Por esta razão que quando se pergunta qual a naturalidade de determinada
pessoa, a resposta geralmente se relaciona com a cidade de seu nascimento e não com seu
Estado Nacional (nacionalidade).
1.6. PRINCÍPIOS GERAIS DA NACIONALIDADE
14 Disponível em: http://www.mj.gov.br Ministério da Justiça – departamento de estrangeiros.
8
9
Assim como outros institutos estudados pelo direito, a nacionalidade possui alguns
princípios que lhe são próprios, mas estão longe de serem absolutos.
Apontaremos aqui os 04 princípios mencionados pelo ilustre doutrinador Celso D. de
Albuquerque Mello15:
1) Todo indivíduo deve ter uma nacionalidade e não mais que uma. Este princípio é o ideal da
sociedade internacional. Todavia, na prática, ele não é levado muito em consideração, haja
vista as hipóteses de apatrídia e dupla nacionalidade;
2) A nacionalidade é individual, não se estendendo a parentes ou dependentes;
3) A nacionalidade não é permanente, podendo o indivíduo, por conseguinte, mudar de
nacionalidade;
4) Via de regra, por tratar-se de manifestação do poder soberano, é assunto de competência do
Estado, sujeito em determinadas hipóteses às normas e controles internacionais.
1.7. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE
Costuma-se distinguir a nacionalidade em originária e secundária.
A nacionalidade é originária quando decorre do nascimento. Denomina-se, também,
primária ou atribuída16. Este tipo de nacionalidade decorre, via de regra, de dois critérios que
incidem no momento do nascimento: o ius soli e o ius sanguinis e que, às vezes, se combinam
em critério eclético17.
De acordo com o critério do direito do solo (ius soli), a nacionalidade originária se
estabelece pelo lugar do nascimento, independentemente da nacionalidade dos pais 18. Por este
critério, a nacionalidade dos pais não interfere em nada, o que importa é o lugar do
nascimento. Este sistema dá ao indivíduo a nacionalidade do Estado em cujo território ele
tenha nascido. Geralmente, esta forma de atribuição da nacionalidade é adotada por países de
imigração, como o Brasil.
Eduardo Augusto Garcia, citado por Florisbal de Souza Del’Olmo defende que o
critério do jus soli é o mais justo e adequado, porquanto permite ao indivíduo, desde o
15 Celso Duvivier de Albuquerque Mello, Curso de Direito Internacional Público, p. 931/932. 16 Ibid, p. 10.17 Jacob Dolinger, op. cit, p. 141.18 Ibid, p. 142.
9
10
nascimento, identificar-se com o meio ambiente em que nasceu, se criou, foi educado e vive
com seus compatriotas, trabalhando e perseguindo os mesmos ideais.19
De outra parte, consoante o critério do direito do sangue (ius sanguinis), os filhos
adquirem a nacionalidade que os pais tinham à época de seu nascimento, não sendo afetado
por eventuais mudanças de nacionalidade que posteriormente ocorram a seus pais 20. Deve-se
observar que quando se fala em nacionalidade dos pais, tanto pode ser a de ambos, como
também só de um deles. Isso pode variar de país para país.
Vale ressaltar que o critério do direito de sangue é aquele que atribui a nacionalidade
em razão da filiação. Neste caso o que importa é o fato de ser filho de nacional, ou seja, é a
nacionalidade dos pais (vínculo jurídico) - ambos ou de somente um deles - e não a
consanguinidade sob o aspecto biológico racial. Se assim não fosse, o filho do naturalizado não
deveria seguir a nacionalidade do pai, ante a sua vinculação étnica a grupo diverso. Por este
motivo a denominação direito do sangue recebe algumas críticas.
Com relação ao ius sanguinis, nenhuma dúvida surge quando os pais possuem a mesma
nacionalidade. Todavia, a celeuma é levantada quando os pais possuem nacionalidades
diferentes. Nesse caso, segundo Dolinger, o filho seguirá a nacionalidade do pai, seguindo a
nacionalidade da mãe em caso de ser filho natural ou de ser desconhecido o pai, ignorados
ambos os pais, o filho terá sua nacionalidade fixada pelo critério do “ius soli” 21. Todavia,
pode-se perceber pelos estudos até aqui realizados que, em razão da atribuição da
nacionalidade ser uma manifestação da soberania do Estado, este pode adotar a solução que
melhor lhe convenha.
Em regra, este critério é adotado pelos países de tendência emigratória, pois retrata a
vontade do Estado em manter o vínculo originário, não só do imigrante, como da família por
este constituída, fora de seu território. Neste momento, convém citar as lições de Florisbal de
Souza Del’Olmo no sentido de que:
A emigração diminui o número de nacionais residentes no
país, e o emprego do jus sanguinis no ordenamento jurídico desses
Estados vai propiciar que os descendentes, nascidos nas novas terras,
continuem ligados pela nacionalidade à pátria de seus genitores,
19 Florisbal de Souza Del’Olmo, op. Cit. P. 230.20 Ibid, p. 142.21 Ibid, p. 142.
10
11
aonde ao chegarem estarão capacitados para uma integração mais
fácil. Por isso o jus sanguinis é o critério admitido, existindo países,
como a Itália, que nem mesmo limita o número de gerações dos
descendentes para continuarem nacionais. As ordens jurídicas, em
sua maioria, contudo, limitam em uma geração, no caso, os filhos, os
descendentes aptos ao reconhecimento da nacionalidade originária
pelo jus sanguinis.22
Francisco Xavier da Silva Guimarães23, bem como, Celso D. Albuquerque Mello24,
mencionam, ainda, o critério misto que se caracteriza pela conjugação dos critérios do jus
sanguinis e do jus soli, refletindo a tendência moderna de adoção de formas jurídicas flexíveis
que atendam melhor à evolução da humanidade e ao convívio internacional.
A nacionalidade será secundária, adquirida ou de eleição, quando surge por
solicitação, escolha ou opção do indivíduo e é aceita e concedida pelo Estado, em substituição
à de origem25. É a aquisição da nacionalidade que se verifica após o nascimento. Cumpre
salientar que o sistema internacional não admite a naturalização forçada ou compulsória.
Segundo Celso Duvivier de Albuquerque Mello26, o indivíduo pode adquirir uma
nacionalidade diferente daquela que ele tem pelo nascimento por diversos modos: benefício da
lei; casamento; naturalização; “jus laboris”; nos casos de mutações territoriais (cessão,
anexação); o “jus domicilli”. Estes critérios variam de Estado para Estado. O Brasil admite
apenas a naturalização como forma de aquisição da nacionalidade secundária.
1.8. CONFLITOS DE NACIONALIDADE – APATRIDIA E POLIPATRIA
A aplicação simultânea e diversificada, pelos diferentes Estados, dos critérios do ius
soli e do ius sanguinis, dá margem a numerosos conflitos, doutrinariamente, denominados
conflitos de nacionalidade.
Assim, se o filho do nacional de um Estado que segue o princípio do sangue nasce no
território de outro que se orienta pelo ius soli, dá-se o chamado conflito positivo, porque
ambos os Estados reivindicam a subordinação desse indivíduo, que o Direito Internacional
22 Florisbal de Souza Del’Olmo, op. Cit.., p. 228.23 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 11.24 Celso Duvivier de Albuquerque Mello, op. cit. p. 933.25 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 10.26 Celso Duvivier de Albuquerque Mello, op. cit., p. 934.
11
12
qualifica de polipátrida. Esse acontecimento também é conhecido como dupla nacionalidade,
pois o indivíduo ao nascer pode ter duas nacionalidades, uma em razão da filiação e outra do
lugar do nascimento, de acordo com a lei do país.
Nos casos em que se verifica a plurinacionalidade, o Estado não pode exercer proteção
diplomática sobre indivíduo considerado seu nacional, no território de outro Estado que o
considere, também, como seu nacional.
Desse modo, como bem observa Francisco Xavier, em se tratando de polipátrida, no
Estado “X” a pessoa terá a nacionalidade “X”. No Estado “Y” terá a nacionalidade “Y”.
Num terceiro Estado, poderá ser reconhecida a qualidade de multinacional ou considerada,
apenas, como nacional de um outro Estado, conforme dispuser a lei desse terceiro Estado27.
Exemplo sempre citado pela doutrina para ilustrar esta situação é o caso Canevaro.
Rafael Canevaro, peruano pelo ius soli e italiano pelo ius sanguinis que, ante um processo na
área tributária do Peru, e na iminência de expropriações em seus bens, invocou proteção
diplomática da Itália. A sentença arbitral proferida no caso, em 1912, não acolheu o pedido
por não admitir a ação de um dos Estados de que o indivíduo seja nacional contra o outro,
podendo, entretanto, qualquer deles agir contra terceiro país em seu favor.28
Não é correto dizer que o Brasil não admite a dupla nacionalidade, pois a nossa
Constituição Federal em seu artigo 12, parágrafo 4º, inciso II, alíneas “a” e “b”, com a redação
dada pela EC de revisão nº 03/94, expressamente admite tal possibilidade.
A alínea “a”, do dispositivo constitucional supramencionado, estabelece que o
indivíduo não perderá a nacionalidade brasileira quando adquirir outra nacionalidade, desde
que haja reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira. De acordo com este
dispositivo constitucional, se ao brasileiro for conferida nacionalidade originária por lei
estrangeira, ele não perde a nacionalidade brasileira e, por conseguinte, passa a possuir duas
nacionalidades.
No mesmo caminho sinaliza a alínea “b”, do inciso II, parágrafo 4º, do artigo 12 da
CF/88, porquanto ao brasileiro que for imposta a naturalização como condição para
permanência no território ou para o exercício dos direitos civis será mantida a nacionalidade
brasileira. Neste caso, portanto, o indivíduo terá a nacionalidade imposta pelo país estrangeiro,
bem como a nacionalidade brasileira.27 Francisco Xavier da Silva Guimarães, ob. cit., p. 14.28 Florisbal De Souza, p. 235.
12
13
Deve-se tomar cuidado em dizer dupla cidadania, quando há o desejo de se referir ao
polipátrida, pois a cidadania pode depender do preenchimento de alguns requisitos fixados por
cada Estado, além da nacionalidade. No nosso caso, vimos que nacionalidade e cidadania são
conceitos diferentes e que o fato de ser nacional não significa que o indivíduo seja também
cidadão. O mais aconselhável é dizer dupla nacionalidade.
Na verdade, uma possível solução para o conflito positivo de nacionalidade seria que
toda pessoa tivesse somente uma nacionalidade, devendo o indivíduo ser cidadão de um só
Estado e só nele possuir direitos políticos. Este é o caminho apontado e desejado pela
sociedade internacional, como visto no tópico 1.5, no qual vimos que o primeiro princípio
geral da nacionalidade é que todo indivíduo tenha apenas uma nacionalidade.
Todavia, acreditamos que, para isso se tornar realidade, seria necessário a adoção de
um único critério de atribuição da nacionalidade para todos os Estados.
Por outro lado, se o nascimento do filho de uma nacional de Estado que adota o ius
soli ocorre no território de outro que adota o ius sanguinis, resulta desse fato o chamado
conflito negativo, porque nenhum desses Estados reconhece como seu nacional a esse
indivíduo, que no Direito Internacional é conhecido como Apátrida ou heimatlos.
A apatrídia é o nome que se dá a situação dos que não têm nacionalidade, que nunca
tiveram ou que já tiveram e perderam29.
Quanto a denominação do conflito negativo, Florisbal de Souza defende a utilização do
termo anacionalidade, pois segundo ele não existe ser humano sem pátria, sem vinculação
sócio cultural, mas sim pessoa sem nacionalidade, sem vínculo jurídico político30.
Apesar da sugestão do termo anacionalidade/anacinal, certo é que a expressão apátrida
já se consagrou no cenário internacional, razão pela qual será por nós adotada.
De acordo com o artigo 1 do Decreto 4.246 de 22 de maio de 2002, que promulgou a
Convenção sobre o Estatuto do apátrida, “apátrida designará toda pessoa que não seja
considerada seu nacional por nenhum Estado, conforme sua legislação”.
A polipatria é um acontecimento que não cria nenhuma dificuldade. Ao contrário, via
de regra, beneficia o indivíduo, pois o portador de dupla nacionalidade estará amparado por
dois Estados. Já o apátrida não estará amparado por nenhum, ou seja, não poderá pedir
29 Ibid, p.13.30 Florisbal, p. 227.
13
14
proteção, nem exigir nenhum direito perante nenhum Estado. É um fenômeno que cria
enormes dificuldades para o indivíduo, porquanto lhe gera restrições jurídicas em qualquer
Estado em que viva.
De acordo com Celso D. Albuquerque Mello31 uma possível solução para o problema
do conflito negativo de nacionalidade seria adotar o critério do domicílio para se atribuir a
nacionalidade.
Como o apátrida não está vinculado a nenhum Estado ele submete-se a legislação do
país que se encontra. Deve-se ressaltar, contudo, que com a promulgação do Decreto
4246/2002, Estatuto do apátrida, o estatuto pessoal de todo apátrida será regido pela lei do
país de seu domicílio ou, na falta de domicílio, pela lei do país de sua residência (art. 12).
1.9. COMPETÊNCIA
É importante destacar que o direito positivo de cada Estado é o competente para
legislar sobre a sua nacionalidade, até porque a atribuição da nacionalidade é uma manifestação
da soberania do Estado. Aliás, como mencionado no tópico anterior, a competência estatal é
um dos princípios gerais da nacionalidade.
Nesses termos, A Dardeau de Carvalho32 afirma que outro não foi o critério adotado
pela Convenção de Haia em 12/04/1930, em seu artigo primeiro, aderida pelo Brasil em
19/05/1931, embora sob a reserva de que a legislação interna de cada Estado, para ser
respeitada pelos demais, deve estar de acordo com as convenções internacionais e os princípios
geralmente admitidos em matéria de nacionalidade.
No Brasil, a competência para legislar sobre a nacionalidade é privativa da União,
conforme podemos verificar do artigo 22, XIII, da Constituição Federal de 1988:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XIII – nacionalidade, cidadania e naturalização.
1.10. NACIONALIDADE E DIREITOS HUMANOS
31 Celso Duvivier de Albuquerque Mello, op. cit., p. 939.32 Dardeau de Carvalho, Nacionalidade e Cidadania, p. 20.
14
15
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 não definiu exatamente o que
vem a ser direitos humanos. Esta tarefa, como não poderia deixar de ser, ficou a cargo dos
estudiosos do direito.
Nesse passo, via de regra, os doutrinadores tem definido os direitos humanos como
aqueles inerentes ao ser humano, que visam resguardar sua integridade física e psicológica
perante seus semelhantes e o próprio Estado, sendo válidos para todos os povos em todos os
tempos.
Selma Regina Aragão, citada por Florisbal de Souza33, em sua obra Direitos Humanos
na Ordem Mundial, conceitua direitos humanos como os direitos em função da natureza
humana, reconhecidos universalmente, pelos quais indivíduos e a humanidade, em geral,
possam sobreviver e alcançar suas próprias realizações.
Na prática, muitas expressões têm sido utilizadas como sinônimo de direitos humanos,
como, por exemplo, direitos fundamentais, direitos do homem, direitos subjetivos públicos,
liberdades públicas, etc.
Há quem sustente que direitos humanos não se confundem com direitos fundamentais.
Enquanto aqueles constituem valores e garantias asseguradas ao ser humano decorrentes de
sua própria natureza e reconhecidos pela ordem internacional, os direitos fundamentais são
aqueles direitos essenciais reconhecidos por determinada ordem jurídica, estando delimitados
espacial e temporalmente.
Um dos grandes expoentes na matéria de direitos humanos, o magistrado e jurista Ingo
Wolfgang Sarlet, em sua obra A eficácia dos direitos fundamentais (3ª edição, Porto Alegre,
Livraria do advogado – 2003) faz uma distinção entre direitos do homem, direitos humanos e
direitos fundamentais. Os primeiros seriam os direitos naturais ainda não positivados. Os
segundos seriam os direitos do homem positivados na ordem internacional e os terceiros
(direitos fundamentais) seriam os direitos reconhecidos ou outorgados e protegidos pelo
direito interno de cada Estado.
Nesta ótica, pode-se dizer que direitos humanos são o gênero do qual os direitos
fundamentais são a espécie.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada pela Assembléia Geral da
ONU em 1948, estabelece em seu artigo XV que:
33 Florisbal de Souza, p. 244.
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1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem
do direito de mudar de nacionalidade.
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966, instrumento criado para
dar eficácia social (efetiva aplicação aos casos concretos) à Declaração Universal dos Direitos
Humanos, no elenco dos principais direitos, estabelece o direito a uma nacionalidade. No
mesmo caminho, a Declaração Americana dos Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa
Rica), principal instrumento do sistema interamericano de proteção dos direitos do homem.
Não bastasse este reconhecimento pela ordem internacional de que a nacionalidade
trata-se de direito humano, inerente a própria natureza do ser humano, fato é que a
Constituição Federal de 1988, caminhando na mesma direção, reconhece, expressamente, a
nacionalidade como direito fundamental. Em seu Título II, a Lei Maior vigente estabelece os
direitos e garantias fundamentais, subdivindo-os em cinco capítulos: direitos individuais e
coletivos; direitos sociais; nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos.
Tratando-se de direito fundamental do indivíduo, a nacionalidade adquire toda a
proteção inerente aos direitos fundamentais. À título de ilustração, uma norma internacional
sobre nacionalidade, por tratar-se de norma sobre direitos humanos, poderia entrar no
ordenamento jurídico pátrio com status de norma constitucional, desde que preenchido o
procedimento legislativo previsto no artigo 5º, parágrafo 3º da CF/88, com a redação dada
pela EC 45/2004.
Da mesma forma, tratando-se de direito humano e fundamental, eventual violação ao
direito da nacionalidade pode ser defendido, também, pelo Ministério Público, já que trata-se
de instituição responsável pela defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.
E porque a nacionalidade é reconhecida como direito humano e fundamental?
Ora, um indivíduo sem nacionalidade é um ser humano desprovido de proteção estatal,
desprovido de pleitear a efetivação de seus direitos perante uma ordem jurídica soberana.
Negar a nacionalidade, portanto, seria dizer ao indivícuo que ele não possui direitos, muito
menos proteção, seria negar o mínimo necessário para uma existência digna.
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Na visão de Ilmar Penna Marinho, um indivíduo nacionalmente desprotegido, tal qual
o mendigo, que, sem teto, sem família e sem amigos, só pode invocar o vago e impreciso
apoio da caridade pública34
Vale registra, aqui, os belíssimos ensinamentos de Ingo Wolfgang Sarlet35 para quem a
negação dos direitos fundamentais, dentre os quais se inclui a nacionalidade, é a negação da
própria dignidade humana:
Em suma, o que se pretende sustentar de modo mais enfático é
que a dignidade da pessoa humana, na condição de valor (e princípio
normativo) fundamental que “atrai o conteúdo de todos os direitos
fundamentais”, exige e pressupõe o reconhecimento e proteção dos
direitos fundamentais de todas as dimensões (ou gerações, se assim
preferirmos). Assim, sem que se reconheçam à pessoa humana os
direitos fundamentais que lhe são inerentes, em verdade estar-se-á
negando-lhe a própria dignidade.
2. AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA NA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
2.1. NACIONALIDADE DE ORIGEM - BRASILEIROS NATOS
Como visto anteriormente (item 1.6.), a nacionalidade originária é aquela que o
indivíduo tem em virtude do nascimento, dependendo do critério adotado por cada Estado.
O Brasil adota o critério do “ius soli” para atribuição da nacionalidade originária como
regra, ou seja, basta que o indivíduo nasça no Brasil que ele será considerado brasileiro nato.
Todavia existem algumas exceções a esta regra. Em razão disso, surgem algumas discussões a
respeito se o Brasil adota um critério misto ou não. A nosso ver, muito embora as opiniões em
sentido contrário, entendemos que o Brasil adota um critério misto, na medida em que em
alguns casos admite a aplicação do ius sanguinis, como veremos adiante.
34 Ilmar Penna Marinho, Tratado sobre a nacionalidade, p. 330.35 Ingo Wolfgang Sarlet, Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais, p. 84/85.
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Neste sentido, Celso Mello36 observa que o Brasil adota o “jus soli” tradicionalmente,
mas atualmente são tantas as exceções em favor do “jus sanguinis” que se pode dizer que
adotamos o sistema misto.
Deve-se registrar, que a condição de brasileiro nato vem tratada, com exclusividade, na
Carta Magna, que esgota, assim, as hipóteses de atribuição dessa condição. Trata-se de regra
jurídica constitucionalmente exaustiva, que cerceia a atividade do legislador ordinário.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 12, inciso I, elenca as três hipóteses em
que se verifica a nacionalidade originária brasileira.
2.1.1. 1ª Hipótese de aquisição da nacionalidade de origem
A primeira hipótese de aquisição da nacionalidade brasileira originária vem prevista no
artigo 12, inciso I, alínea “a” que dispõe que são brasileiros natos:
os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país.
Conforme pode-se notar, a regra contida na primeira parte deste dispositivo consagra o
princípio do ius soli, na medida em que afirma que as pessoas nascidas na República
Federativa do Brasil são brasileiros natos. Esta é a regra geral. Neste caso, não se leva em
consideração a nacionalidade dos pais, mas sim o local do nascimento, pois os nascidos em
território brasileiro é que serão considerados brasileiros natos.
Diante disso, mister se faz precisar o que deve ser entendido como “República
Federativa do Brasil”. Devemos entender o que é considerado território brasileiro para efeitos
de atribuição da nacionalidade.
36 Celso Duvivier de Albuquerque Mello, op. cit., p. 833.
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Quando se fala em território, a primeira coisa que vem à nossa cabeça é a idéia de
espaço terrestre. A partir disso, definiríamos território brasileiro como sendo a área terrestre
do Estado brasileiro. Acontece que não é tão simples assim. De acordo com Dardeau de
Carvalho37 território brasileiro compreende o território propriamente dito, isto é, o território
limitado pelas fronteiras geográficas do Brasil; os navios e aeronaves de guerra brasileiros,
onde quer que se encontrem; os navios mercantes brasileiros em alto mar ou de passagem em
mar territorial estrangeiro; as aeronaves civis brasileiras em vôo sobre alto mar ou de passagem
sobre águas territoriais ou espaço aéreo estrangeiro. Acrescenta, ainda, que os navios
mercantes estrangeiros de passagem em mar territorial brasileiro, bem como as aeronaves
comerciais estrangeiras de passagem sobre espaço aéreo brasileiro, incluído neste as águas
territoriais não devem ser considerados território brasileiro.
Jacob Dolinger 38 diz que a República Federativa do Brasil deve ser entendida como
toda extensão terrestre, fluvial, lacustre, marítima e aérea delimitada pelas normas de Direito
Internacional Público.
Como se vê, o território brasileiro abrange muito mais que o simples espaço terrestre.
Poderíamos falar que República Federativa do Brasil equivale a toda localidade na qual o
Estado brasileiro exerce sua soberania. A partir disso, podemos dizer que todo indivíduo que
nasça em um lugar onde o Brasil exerça sua soberania, é considerado brasileiro nato.
A segunda parte do dispositivo legal em questão - ainda que de pais estrangeiros,
desde que estes não estejam a serviço de seu país - revela uma exceção a regra do direito do
solo, pois se os pais estrangeiros tiverem no Brasil a serviço de seu país o filho terá a
nacionalidade dos pais, não se aplicando, nesta hipótese, o “ius soli”. Neste caso, o nascimento
no território nacional não tem qualquer influência sobre a nacionalidade, pelo que entendemos
ser hipótese de incidência do critério do direito do sangue.
A referência de pais no plural não significa necessariamente que ambos devem estar a
serviço de seu país, para que o filho aqui nascido não seja brasileiro, bastando que um deles –
pai ou mãe – esteja a serviço de seu país para excluir o filho aqui nascido da regra sobre a
nacionalidade adquirida pelo ius soli. De acordo com esse entendimento, Rezek39 afirma que
“reputam-se a serviço de nação estrangeira ambos os componentes do casal, ainda que apenas
um deles detenha cargo, na medida em que o outro não faça mais que acompanhá-lo”. Aliás,
37 Darceau de carvalho, op. cit., p. 57.38 Jacob Dolinger, op. cit., p. 148.39 José Francisco Rezek, Direito Internacional Público, p. 186.
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para excluir a operação do ius soli basta que um dos pais seja estrangeiro e esteja a serviço de
seu país, mesmo que o outro genitor seja brasileiro. Segundo Dolinger40, esta interpretação
da letra “a” se harmoniza com a regra contida na letra “b”.
Há que se verificar, todavia, que a Lei nº 818/49, em seu artigo 2º, dispôs que quando
um dos pais for estrangeiro, residente no Brasil a serviço de seu governo e o outro for
brasileiro, o filho, aqui nascido, poderá optar pela nacionalidade brasileira, na forma do artigo
129, nº II da Constituição Federal de 1946.
A nosso ver, trata-se de hipótese de nacionalidade criada pelo legislador ordinário, o
que em nosso sistema não é permitido, uma vez que, como dito anteriormente, cabe
exclusivamente à Constituição estabelecer as condições de nacionalidade, tanto originária
como secundária. Não tendo a Carta Magna de 1988 estabelecido a hipótese prevista pela Lei
818, não há como considerá-la válida por afronta ao texto constitucional.
Quanto a adoção da hipótese do artigo 2º da lei 818/49 Dolinger afirma que contradiz
o sistema de nacionalidade previsto em nossa ordem jurídica. Para mencionado autor
considerar brasileiro filho de pai ou mãe a serviço de outro país no Brasil redundaria na
aplicação de dois critérios opostos: quando só um dos pais é brasileiro e está a serviço do
Brasil no exterior, o filho lá nascido é brasileiro nato, e, quando um estrangeiro (pai ou
mãe) estiver no Brasil, a serviço de seu país, isto não afeta a nacionalidade do filho aqui
nascido, que será brasileiro41.
Devemos registrar, também, que a letra da lei diz “a serviço de seu país”. Sendo assim,
de acordo com Francisco Xavier, caso os pais estrangeiros, de filhos nascidos no Brasil, não
estejam a serviço de seu país, mas de um terceiro, será aplicado a regra do ius soli42.
Outro ponto que deve ser destacado é que a expressão constitucional serviço abrange
não só funções diplomáticas e consulares, como, também, missões oficiais, serviço público em
geral, sejam de natureza federal, estadual e municipal43.
Uma observação que deve ser feita é se esta exceção consiste em uma aplicação do “ius
sanguinis” ou não. Entendemos que sim, pois partimos do princípio que se a nacionalidade é
conferida levando-se em consideração a nacionalidade dos pais e não o lugar do nascimento, o
40 Jacob Dolinger, op. cit., p. 148.41 Jacob Dolinger, op. cit., p. 153.42 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 2443 Ibid, p. 23.
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critério que está sendo aplicado é do direito do sangue. Jacob Dolinger44, bem como José
Afonso da Silva45, também entendem que, neste caso, há aplicação do “ius sanguinis”. Deve-se
frisar, todavia, que há entendimentos contrários. Francisco Xavier da Silva Guimarães46, por
exemplo, afirma que este caso não é de aplicação do sistema do direito do sangue, mas sim de
exclusão do sistema do direito do solo.
2.1.2. 2ª Hipótese de aquisição da nacionalidade de origem
A segunda hipótese de aquisição da nacionalidade originária brasileira vem prevista no
artigo 12, inciso I, alínea “b”, que dispõe que são brasileiros natos:
os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde
que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil.
A nosso ver, a regra contida neste dispositivo constitucional é uma exceção a regra
geral e consiste na aplicação do critério do ius sanguinis somado a um elemento funcional, na
medida em que, o indivíduo nasce fora do Brasil e ele vem adquirir a nacionalidade do pai ou
mãe brasileiros (direito do sangue), desde que um destes esteja a serviço do Estado brasileiro
(elemento funcional). De acordo com esse entendimento Jacob Dolinger47, Francisco Xavier da
Silva Guimarães48 e Alexandre de Moraes49.
A expressão “a serviço da República Federativa do Brasil, como bem observa
Dolinger50, abrange toda e qualquer missão do governo federal, dos governos estaduais e
municipais, bem assim das empresas de economia mista, pois controladas pelo acionista
governamental, suas atividades encerram interesse público.
Compartilhando desse entendimento Rezek51 diz que serviço no Brasil não é apenas o
serviço diplomático ordinário afeto ao Executivo Federal. Compreende todo encargo
derivado dos poderes da União, estados e municípios. Compreende, mais, nesses três planos,
44 Jacob Dolinger, op. cit., p. 148.45 José Afonso da Silva, op. cit., p. 290.46 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit. p. 23.47 Jacob Dolinger, op. cit., p. 148.48 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 26.49 Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, p. 194.50 Ibid., mesma página.51 José Francisco Rezek, op. cit, p. 187.
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as autarquias. Constitui serviço do Brasil, ainda, o serviço de organização internacional de
que a República faça parte.
Como se vê, para a aplicação desta regra, basta que um dos pais seja brasileiro e que
esteja a serviço do Brasil.
3.1.3. – 3ª Hipótese de aquisição da nacionalidade de origem
A terceira hipótese de aquisição da nacionalidade de origem está prevista no artigo 12,
inciso I, alínea “c”, com a redação dada pela EC nº 54/2007, que considera brasileiro nato:.
os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira
Neste dispositivo, pode-se verificar que o Brasil não adota a regra geral para aquisição
da nacionalidade brasileira, na medida em que o indivíduo não nasce em território nacional.
Neste caso, entendemos que há a aplicação do critério do “ius sanguinis” somado a presença
de outros requisitos. O indivíduo, além de não nascer em território nacional, adquire a
nacionalidade do pai ou da mãe brasileiros, desde que seja registrado em repartição brasileira
competente ou venha residir no Brasil e opte pela nacionalidade brasileira, após atingida a
maioridade.
Há que se notar que o Brasil não acolhe o ius sanguinis puro, que exige que ambos os
pais possuam a mesma nacionalidade, pois basta que um dos pais seja brasileiro, podendo o
outro ser estrangeiro.
É importante frisar que o registro em repartição brasileira ou a fixação da residência no
Brasil, bem como a opção, tal como previstas, não geram a nacionalidade, pois esta já existe
antes daquelas condições, que apenas suspendem o exercício da condição de brasileiro
enquanto não ocorridas. São, portanto, condições suspensivas.
O texto constitucional, neste caso de aquisição da nacionalidade de origem, gera
algumas críticas, pois um brasileiro pode morar a vida inteira fora e com uma idade avançada
vir residir no Brasil e, mesmo assim, terá direito a ser brasileiro nato.
22
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Outra crítica, segundo Dolinger52, foi manter o que estava no texto original da
Constituição, de que a opção pode ser exercida a qualquer tempo. Qual é a condição daquele
que veio residir no Brasil e ainda não optou pela nacionalidade brasileira? Consoante este
jurista, evidentemente esta pessoa não será brasileira, pois para a aquisição da nacionalidade,
neste caso, mister se faz a concretização dos dois requisitos apresentados, quais sejam, a
residência e a subseqüente opção. Com isso, a pessoa que já reside no Brasil, mas ainda não
optou não será considerada brasileira. Também criticável o texto constitucional quando fala em
residência sem estabelecer a obrigação de fixação de domicílio no Brasil. Como está o texto, o
filho de brasileiros que nasceu no exterior não só poderá viver quase toda a sua vida fora do
Brasil, como até continuar com seu domicílio no estrangeiro, estabelecer no Brasil apenas
residência e, a qualquer tempo, optar pela nacionalidade brasileira.
2.2 – NACIONALIDADE SECUNDÁRIA - BRASILEIROS POR OPÇÃO
Antes de começarmos a estudar essa forma de aquisição da nacionalidade derivada,
gostaria de comentar, sem a pretensão de alcançar uma “solução” para essa questão, que há
um discussão com relação ao nome naturalização.
Ora, se o indivíduo está adquirindo a nacionalidade, não seria mais correto dizermos
nacionalização?
Aluísio Dardeau de Carvalho diz que sim. Segundo ele a expressão naturalização não
exprime com exatidão a natureza do ato, embora seja empregada por quase todas as
legislações. Nacionalização, na verdade, seria o termo adequado, pois levando-se em conta o
aspecto jurídico-político da nacionalidade, o que se faz é justamente isto: tornar nacional o
estrangeiro, fazendo-o participar, em regra, dos mesmos direitos e deveres dos nacionais
natos53.
Concordamos com respeitável autor que a expressão nacionalização (nacionalizado)
seria melhor, pois o indivíduo está se tornando nacional. Temos que, para nós, a expressão
naturalização pode ter sido empregada para distinguir aqueles que são nacionais desde o
nascimento e aqueles, que por opção, se tornaram nacionais após o nascimento. Mas como não
temos a pretensão de esgotar o assunto, adotaremos o termo naturalização, até porque já é
uma expressão consagrada.52 Jacob Dolinger, op. cit., p. 151.53 Aluísio Dardeau de Carvalho, op. cit., p. 134.
23
24
Após este breve comentário sobre a denominação utilizada, passemos ao exame do
conceito de naturalização.
A naturalização é uma forma de aquisição da nacionalidade secundária. É o ato pelo
qual alguém adquire a nacionalidade de outro país.
Nas palavras de Dolinger54, a naturalização é um ato unilateral e discricionário do
Estado no exercício de sua soberania, podendo conceder ou negar a nacionalidade a quem,
estrangeiro, a requeira.
A naturalização resulta da soberania e discricionariedade do Poder Público que tem a
faculdade exclusiva de concedê-la ou recusá-la, segundo critérios de conveniência e
oportunidade políticas, dispensada a revelação dos motivos de uma eventual recusa. A
concessão da naturalização está inteiramente dominada pelo poder discricionário expresso na
faculdade do Governo apreciar o pedido sob o aspecto da conveniência e oportunidade, a seu
exclusivo juízo de valor.
Devemos registrar que no artigo 12, II, alínea “a”, a Constituição permitiu ao legislador
ordinário elencar hipóteses de aquisição da nacionalidade brasileira derivada. Diante disso, as
hipóteses de aquisição da nacionalidade brasileira secundária não se encontram somente na
Constituição Federal, como ocorre com a nacionalidade de origem. Em nossa legislação, a Lei
6.815/80 prevê alguns casos de aquisição da nacionalidade brasileira secundária.
O Estado brasileiro não está obrigado a conceder a nacionalidade mesmo quando o
requerente preenche todos os requisitos estabelecidos pelo legislador, consoante o disposto na
Lei 6.815/80 em seu artigo 121: A satisfação das condições previstas nesta lei não assegura
ao estrangeiro o direito à naturalização. Frise-se, todavia, que essa discricionariedade
presente neste dispositivo aplica-se somente a alínea “a” do inciso II artigo 12 da Constituição
Federal de 1988. No caso da alínea “b” a naturalização não é ato discricionário, não depende
de critério governamental e deverá ser concedida.
Há que se salientar, ainda, que a naturalização brasileira é concedida pelo Estado,
mediante livre manifestação de vontade do pretendente, expressa em pedido formal e
observadas as condições previstas em lei. Não há, assim, concessão de ofício. A naturalização
brasileira é expressa e voluntária.
54
Jacob Dolinger, op. cit., p. 156/157.
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25
Casos de naturalização tácita, no Brasil, ocorreram apenas em 1824 e 1891, quando, no
primeiro caso, foram admitidos como brasileiros os portugueses provenientes das colônias
lusas e, no segundo caso, a primeira Constituição Republicana concedia a nacionalidade
brasileira ao estrangeiro que se achasse no país no dia 15/11/188 e não declarasse, no prazo de
seis meses, a contar da entrada de vigor da Carta Magna, seu desejo de conservar a
nacionalidade de origem55.
Via de regra, a aquisição da nacionalidade brasileira, por naturalização em virtude de
lei, implica, necessariamente, na perda daquela ou daquelas detidas pelo naturalizado, que
deverá renunciá-las por efeito da opção pela brasileira, evitando-se, assim, a polipatria.
A renúncia da nacionalidade originária, como ato unilateral, manifestado perante a
autoridade judiciária brasileira, tem o efeito declaratório de querer alguém se desvincular dos
laços políticos que o une ao país de origem, para se considerar, unicamente brasileiro.
Por fim, frise-se que o Brasil admite somente a naturalização como forma de aquisição
da nacionalidade brasileira derivada.
2.2.1 - Brasileiros naturalizados
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 12, inciso II, dispõe sobre a
naturalização:
Art. 12. São brasileiros :
II – naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos
e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.
55 Dardeau de Carvalho, A. nacionalidade e cidadania, pp. 74-76.
25
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Para uma melhor compreensão das hipóteses em que o Brasil concede a nacionalidade
aos estrangeiros, por meio da naturalização, adotaremos a classificação empregada pelo
Ministério da Justiça56. Segundo o órgão governamental a naturalização pode ser:
a) Comum: concedida ao estrangeiro residente no Brasil pelo prazo mínimo de quatro anos,
que atenda as demais exigências do artigo 112, da Lei 6.815/80.
b) Extraordinária: concedida ao estrangeiro residente no Brasil há mais de quinze anos, sem
condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira. Esta forma de naturalização
está prevista no artigo 12, inciso II, alínea “b”, da Constituição Federal de 1988.
c) Provisória: concedida para os que foram admitidos no Território Nacional durante os
primeiros cinco anos de vida e a requerem antes da maioridade se aqui definitivamente
radicados. Nesta hipótese, poderá o estrangeiro requerer, junto ao Departamento da Polícia
Federal ou ao protoloco geral do Ministério da Justiça, enquanto menor, por intermédio de seu
representante legal;
d) Definitiva: O titular do certificado provisório poderá torná-la definitiva por manifestação
expressa, até dois anos após a maioridade, consoante o artigo 116, parágrafo único, da Lei
6.815/80.
e) Especial: concedida ao cônjuge casado há mais de cinco anos com diplomata brasileiro em
atividade e aos empregados em missão diplomática brasileira ou repartição consular do Brasil,
com mais de 10 anos de serviço ininterruptos. Esta hipótese está prevista no artigo 114 da lei
6.815/80.
Embora o Ministério da Justiça não tenha mencionado, o ilustre constitucionalista
Pedro Lenza, em sua excelente obra Direito Constitucional Esquematizado, menciona ainda a
naturalização em razão da conclusão de curso superior, hipótese esta expressamente prevista
na CF/67 e que hoje encontra respaldo no artigo 115, parágrafo 2º, II, da Lei 6815/80, in
verbis: estrangeiro que tenha vindo residir no Brasil antes de atingida a maioridade e haja
feito curso superior em estabelecimento nacional de ensino, se requerida a naturalização até
1 (um) ano depois da formatura.
2.2.1.1. - Naturalização comum
56 Disponível em http://www.mj.gov.br. Ministério da Justiça – departamento de estrangeiros. Acesso em 20/09/2007.
26
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A naturalização, pelo procedimento comum, prevista nos artigos 112 e 113 da Lei
6.815/80, dirige-se aos estrangeiros residentes no Brasil há mais de quatro anos ininterruptos,
que a requerem e comprovem satisfazer as oito condições elencadas em lei, cumulativamente:
I) capacidade civil, segundo a lei brasileira: A maioridade aqui tratada é a civil e não a
política, isto é, aquela alcançada aos 18 anos de idade ou por emancipação (art. 5º CC/02),
segundo a legislação brasileira e não a originária do país do naturalizado. Segundo Francisco
Xavier57, essa exigência ocorre, pois a escolha de uma nacionalidade deve resultar de
manifestação plena e amadurecida da vontade.
II) ser registrado como permanente no Brasil: o naturalizando deve portar o visto que
caracteriza sua permanência definitiva no Brasil. Não importa se ele já resida em território
nacional há mais de quatro anos ininterruptos. Se ele não portar o visto de permanência
definitiva, sua naturalização não será aceita.
III) residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos,
imediatamente anteriores ao pedido de naturalização: a residência no Brasil deve ser
contínua, ininterrupta e de, no mínimo, quatro anos. No que pertine a este prazo, devemos
salientar que não é qualquer ausência que enseja a interrupção do prazo de residência no
Brasil. Somente aquela imotivada segundo critério pessoal do Ministro da Justiça que, no
período, de quatro anos, ultrapassar 18 meses. Nesse sentido, o parágrafo 3º do artigo 119 do
Decreto 86.175/81:
Quando exigida residência contínua por quatro anos para a
naturalização, não obstarão o seu deferimento as viagens do
naturalizando ao exterior, se determinadas por motivo relevante, a
critério do Ministro da Justiça, e se a soma dos períodos de duração
delas não ultrapassar de dezoito meses.
O prazo de residência contar-se-á do requerimento para trás. Isto nos leva a crer que o
naturalizando, no momento do pedido, esteja radicado e residente no país. Se interrompida a
contagem desse prazo, nova contagem deve ser iniciada a partir da última entrada do
estrangeiro no Território Nacional.
Devemos destacar que o prazo de quatro anos de residência poderá ser reduzido,
conforme dispõe o artigo 113 da Lei 6.815/80, para:
57 Ibid, p. 44.
27
28
a) 1 ano – se o naturalizando tiver filho ou cônjuge brasileiro; for filho de brasileiro ou
tiver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça;
b) 2 anos - se recomendar-se, em razão de sua capacidade profissional, científica ou
artística;
c) 3 anos – se o naturalizando for proprietário, no Brasil, de bem imóvel, cujo valor
seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Referência; se for industrial que disponha
de fundos de igual valor; se possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo,
idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e permanentemente, à
exploração de atividade industrial ou agrícola.
IV) ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando: a
exigência do conhecimento da língua tem o efeito de demonstrar a integração do estrangeiro
na comunidade social brasileira. Esse requisito é aferido em duas oportunidades:
preliminarmente, quando da instrução do pedido e, porteriormente, por ocasião da entrega do
Certificado de naturalização, pelo Juiz.
V) exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família:
A lei exige que o naturalizando tenha uma profissão suficiente para se manter com sua família,
uma vez que a ociosidade não contribui positivamente para a sociedade que deseja integrar. Se
não tiver emprego ou profissão determinada, deve o estrangeiro possuir bens, com rendas
suficientes para sua subsistência em condições dignas. Se viver sob a dependência econômica
de terceiros que tenham obrigação legal de sustentá-lo, deve fazer prova de tal situação, de
modo justificadamente aceitável.
VI) bom procedimento: com este requisito, procura-se apurar a conduta do naturalizando,
ou seja, a ausência de nota desabonadora que reflita bom caráter, probidade e honestidade em
todo o período de sua permanência no Brasil.
VII) inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por
crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada,
superior a 1(um) ano: A denúncia e a pronúncia são causas suspensivas do exame do pedido
de naturalização, até que se verifique o julgamento final do processo penal. Isto porque se o
naturalizando for absolvido, a restrição deixa de existir. A condenação penal, por si só, não
constitui óbice a naturalização. Consoante este requisito, somente a condenação por crime
doloso a que seja cominada pena mínima superior a um ano de prisão é que é causa impeditiva
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da naturalização. Isto significa que a condenação por crime culposo, ou mesmo doloso a que
seja cominada pena inferior a uma ano, não constitui impedimento à naturalização.
VIII) boa saúde: Este último requisito refere-se a saúde física e mental do naturalizando, que
não deve ser portador de doença infecto-contagiosa. Cuida-se, aqui, da incapacidade para o
trabalho e o convívio social pleno.
Há que se notar, todavia, que, consoante o parágrafo 1º do artigo em questão, tal
requisito será dispensado caso o estrangeiro resida no país a mais de dois anos. Francisco
Xavier58 afirma que a dispensa do exame de saúde para os que estão no país a mais de dois
anos torna praticamente morta essa exigência, pois incompatível com a regra geral de
residência de quatro anos.
Devemos observar, ainda, que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 12, inciso
II, alínea “a”, limita a exigência para os originários de países de língua portuguesa, que
pretendam naturalizar-se brasileiros, a dois requisitos somente, quais sejam, a residência por
um ano ininterrupto e idoneidade moral. Neste caso, o candidato à naturalização deve estar
radicado definitivamente no Brasil, o que é aferido pelo visto permanente. Além disso, deve
comprovar satisfatoriamente sua idoneidade moral, não bastando que o candidato não seja
criminoso ou contraventor. Deve possuir boa conduta, caráter, probidade e atividade
produtiva.
2.2.1.2 – Naturalização extraordinária ou simplificada
A naturalização extraordinária que se processa pela forma simplificada está prevista no
artigo 12, inciso II, letra “b”, da Constituição Federal de 1988, in verbis:
os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
Podemos perceber da leitura deste dispositivo legal a presença de três requisitos que
devem ser preenchidos pelo estrangeiro que deseja se tornar brasileiro:
a) Residência na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos - Não é
qualquer saída do território nacional que se configura como causa interruptiva do prazo.
58 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 48.
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Viagens ao exterior que não tenham o ânimo de mudar a residência para outro país são
permitidas. A contagem desse prazo deve ser feita do requerimento para trás, ou seja, os
quinze anos devem ser anteriores ao pedido de naturalização.
b) Ausência de condenação penal – a nosso ver, trata-se, aqui, de qualquer tipo de condenação
penal, seja por crime culposo ou doloso, qualquer que seja a pena. Caso a Constituição Federal
quisesse se referir a determinado tipo de condenação penal teria o feito.
c) Requerimento – o estrangeiro deve manifestar sua vontade de se tornar brasileiro.
2.2.1.3 – Naturalização provisória
A naturalização provisória está prevista no artigo 116 e seu parágrafo único da Lei
6.815/80, in verbis:
Art. 116. O estrangeiro admitido no Brasil durante os primeiros
5 (cinco) anos de vida, estabelecido definitivamente no território
nacional, poderá, enquanto menor, requerer ao Ministro da Justiça,
por intermédio de seu representante legal, a emissão de certificado
provisório de naturalização, que valerá como prova de nacionalidade
brasileira até dois anos depois de atingida a maioridade.
Parágrafo único. A naturalização se tornará definitiva se o
titular do certificado provisório, até dois anos após atingir a
maioridade, confirmar expressamente a intenção de continuar
brasileiro, em requerimento dirigido ao Ministro da Justiça.
Consoante pode se notar do artigo supramencionado, ao requerer o certificado
provisório de naturalização perante o Ministério da Justiça, deve haver comprovação da data
de nascimento e de ingresso no Território Nacional até cinco anos de idade. Além disso, é
necessária a prova de estar o naturalizando estabelecido definitivamente no Brasil, prova que
se faz pela condição de permanência definitiva no Território Nacional.
Sendo o naturalizando menor de idade, o pedido deverá ser feito pelo seu representante
legal que, conforme o caso, deverá representá-lo ou assisti-lo. Se maior de 18 anos, deverá o
pedido ser instruído, também, com o atestado policial de antecedentes criminais.
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Frise-se que esse pedido pode ser feito até ser atingida a maioridade, bastando para
tanto que o estrangeiro esteja legalmente no Brasil antes de ter atingido cinco anos de idade.
Obtido o registro provisório de naturalização, esta deverá ser confirmada, perante o
Ministro da Justiça, até dois anos após a maioridade, quando ocorrerá a definitividade pela
consolidação da condição de brasileiro naturalizado. Caso não ocorra a expressa confirmação
no prazo e na forma estabelecida na lei, caducará o certificado provisório e o brasileiro
naturalizado deixará de ser o seu detentor.
2.2.1.4 – Naturalização definitiva
Como dito anteriormente, o titular do certificado provisório, após dois anos de atingida
a maioridade, que no nosso caso é de 18 anos (art. 5º CC/02), poderá requerer expressamente
ao Ministro da Justiça a definitividade de sua naturalização.
2.2.1.5 – Naturalização especial
A naturalização especial recebe essa denominação, pois privilegia os naturalizandos que
reúnem condições especiais. Ela está prevista no artigo 114 e incisos da Lei 6.815/80:
Art. 114. Dispensar-se-á o requisito da residência, exigindo-se
apenas a estada no Brasil por trinta dias, quando se tratar:
I – de cônjuge estrangeiro casado há mais de cinco anos com
diplomata brasileiro em atividade;
II – de estrangeiro que, empregado em Missão Diplomática ou
em Repartição Consular do Brasil, contar mais de 10(dez) anos de
serviços ininterruptos.
Como se vê, é dispensado o requisito de residência contínua. Basta apenas a presença
do pretendente à naturalização por 30 dias em Território Nacional, sem que este período siga a
regra geral de contagem, imediatamente anterior a pedido.
As duas condições mencionadas pelo artigo 114 não são causas determinantes, mas
faculdade conferida pelo Estado, para o que concorre a vontade expressamente manifestada
pelo interessado em pretender a naturalização.
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No que pertine ao cônjuge de diplomata, o Decreto regulamentador nº 86.715/81, em
seu artigo 124, exige a prova da autorização pelo governo brasileiro, se o casamento tiver
ocorrido após o ingresso do cônjuge brasileiro na carreira diplomática com pessoa estrangeira
à previa licença do Ministro do Estado.
2.2.3. – Procedimento para naturalização
O procedimento para concessão da naturalização varia muito de Estado para Estado.
Segundo Francisco Xavier da Silva Guimarães59, algumas legislações adotam o sistema
administrativo, outras o judiciário, havendo, ainda, Estados que prevêm o sistema misto.
Há que se frisar que no Brasil, a concessão da naturalização é ato de exclusiva
competência do Poder Executivo, devendo fazer-se mediante Portaria do Ministro da Justiça.
O pedido de naturalização é instruído via procedimento administrativo, perante o
Ministério da Justiça, onde é verificado o atendimento às condições impostas por lei, iniciando-
se o processo por petição do interessado.
Nos termos do artigo 115 da Lei 6.815/80, a petição inicial deverá conter: o nome por
extenso, naturalidade, nacionalidade, filiação, sexo, estado civil, dia, mês e ano de nascimento,
profissão, lugares onde haja residido anteriormente no Brasil e no exterior, se satisfaz ao
requisito a que alude o item VIl do artigo 112 e se deseja ou não traduzir ou adaptar o seu
nome a língua portuguesa.
Ademais, com a petição inicial o requerente deve apresentar a seguinte
documentação60:
a) Naturalização comum:
- Requerimento por meio de formulário próprio a ser obtido junto ao Departamento da Polícia
Federal;
- Cópia autenticada da cédula de identidade para estrangeiro permanente atualizada;
59 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. cit., p. 60.
60 Disponível em: http://www.mj.gov.b. Ministério da Justiça – departamento de estrangeiros. Acesso em: 20/09/2007.
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- Atestado de antecedentes criminais expedido pela Secretaria de Segurança Pública do Estado
de residência, ou da Corregedoria quando for o caso (original);
- Certidão negativa do imposto de renda;
- Cópia da última declaração de imposto de renda (pessoa física);
- Certidão dos cartórios de distribuição de ações cíveis da comarca de residência;
- Certidão dos cartórios de distribuição de ações criminais da comarca de residência;
- Certidões do cartório de distribuição da comarca de residência referente a protesto de títulos;
- Certidão de nada consta das Fazendas Públicas Federal, Estadual e Municipal;
- Certidão do cartório de distribuição da comarca de residência referente a execuções fiscais;
- Atestado de antecedentes criminais expedido pelo país de origem, legalizado junto à
repartição consular brasileira e traduzido por tradutor público devidamente inscrito na Junta
Comercial ou Juramentado;
- Cópia autenticada da última conta de água ou luz e contrato de locação de imóvel ou
escritura de compra e venda;
- Declaração, sob as penas da lei, de que não é indiciado em inquérito policial, nem responde a
processo criminal e não sofreu condenação penal no Brasil e no exterior, com firma
reconhecida;
- Documento comprobatório de estada regular no território nacional no período
de____________ a __________, devidamente autenticado;
- Declaração, sob as penas da lei, de ausências do País especificando datas de saídas e
chegadas no território nacional, com os respectivos locais de viagem e motivo, com firma
reconhecida;
- Cópia autenticada da certidão de casamento;
- Cópia autenticada da certidão de nascimento do filho brasileiro;
- Cópia autenticada da carteira de trabalho;
- Cópia autenticada do contato social, e alterações contratuais, quando for o caso, da empresa
empregadora;
- Cópia autenticada dos últimos contra-cheques;
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- Declaração comprobatória de percepção de rendimentos – DECORE, assinada por contador
devidamente inscrito no Conselho Regional de Contabilidade;
- Cópia autenticada do Cartão do Imposto sobre Serviços – ISS, bem como comprovante de
seu recolhimento;
- SPC/Serasa;
- Comprovante do recolhimento da taxa GRU/Funapol.
b) Naturalização extraordinária ou simplificada:
- Requerimento por meio de formulário próprio a ser obtido junto ao Departamento da Polícia
Federal;
- Cópia autenticada da cédula de identidade para estrangeiro permanente atualizada;
- Atestado de antecedentes criminais expedido pela Secretaria de Segurança Pública do Estado
de residência, ou da Corregedoria quando for o caso (original);
- Cópia autenticada da última conta de água ou luz e contrato de locação de imóvel ou
escritura de compra e venda;
- Certidão dos cartórios de distribuição de ações criminais da comarca de residência;
- Certidão negativa de antecedentes criminais da Justiça Federal do Estado de residência;
- Declaração, sob as penas da lei, de ausências do País, dos 15 anos anteriores ao pedido de
naturalização, especificando datas de saídas e chegadas no território nacional, com os
respectivos locais de viagem e motivo, com firma reconhecida;
- Declaração, sob as penas da lei, de que não é indiciado em inquérito policial, nem responde a
processo criminal, e não sofreu condenação penal no Brasil e no exterior, com firma
reconhecida;
- Documento comprobatório de estada regular no território nacional no período
de____________ a __________, devidamente autenticado;
- Atestado de antecedentes criminais expedido pelo país de origem, legalizado junto à
repartição consular brasileira e traduzido por tradutor público devidamente inscrito na Junta
Comercial ou Juramentado;
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- Comprovante de recolhimento da taxa GRU/Funapol.
c) Naturalização provisória
- Cópia autenticada da cédula de identidade para estrangeiro permanente;
- Cópia autenticada da cédula de identidade do representante legal;
- Prova do dia de ingresso no território nacional;
- Certidão de nascimento ou certificado de inscrição consular;
- Prova de nacionalidade;
- Comprovante de recolhimento da taxa GRU/Funapol.
d) Naturalização definitiva
- Cópia autenticada da cédula de identidade brasileira;
- Original do certificado provisório de naturalização
e) Naturalização Especial
No caso de cônjuge estrangeiro de diplomata brasileiro em atividade:
- prova do casamento devidamente autorizado pelo governo brasileiro
Na hipótese de funcionário de missão diplomática ou repartição consular brasileira:
documentos fornecidos pelo Ministério das Relações Exteriores que provem estar o
naturalizando em efetivo exercício, contar mais de dez anos de serviços ininterruptos e
recomendar a naturalização.
Em ambos os casos, estando o candidato no exterior:
- documento de identidade em fotocópia autêntica ou pública forma vertida, se não grafada em
português;
- documento que comprova a estada no Brasil por 30 dias;
- atestado de sanidade física e mental, passado por médico credenciado pela autoridade
consular brasileira, na impossibiliadde de realizar exame de saúde no Brasil;
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- três planilhas datiloscópicas tiradas no órgão competente do local de residência ou na
repartição consular brasileira, quando inexistir registro do estrangeiro no Brasil, ou não puder
comprovar ter sido registrado como estrangeiro no território nacional.
Quando se julgar necessário, outros documentos poderão ser solicitados. Vale lembrar
que todos os documentos expedidos no exterior deverão ser legalizados junto às autoridades
consulares brasileiras no exterior, e traduzido por tradutor público juramentado.
2.2.3.1. – Ato concessivo da naturalização
Estando o processo da naturalização corretamente instruído, com todos os documentos
necessários, será ele submetido à autoridade decisória, que determinará a inclusão do nome do
interessado na portaria concessiva de naturalização.
Baixada a portaria ministerial (Ministério da Justiça) e feita sua publicação no Diário
Oficial, será expedido o certificado de naturalização.
Nas hipóteses de naturalização comum e extraordinária, os certificados serão
encaminhados ao Poder Judiciário, cabendo ao Juiz Federal da cidade onde tenha o interessado
residência realizar sua entrega ao interessado e lavrar o respectivo termo. A entrega se
processa em audiência solene, na qual o juiz exigirá do naturalizando, previamente:
- demonstração de conhecer a língua portuguesa, pela leitura de trecho da Constituição, o que
só é dispensado aos portugueses e estrangeiros que residem no Brasil há mais de 15 anos;
- compromisso de bem cumprir os deveres de brasileiro.
Nos casos de naturalização provisória e definitiva, os certificados serão entregues pelo
Departamento de Estrangeiros, através do órgão da Polícia Federal mais próximo da residência
do naturalizando.
No que pertine aos funcionários de Embaixadas brasileiras, a entrega do certificado de
naturalização e as eventuais exigências são feitas através do Ministério das Relações
Exteriores.
2.2.3.2. - Prazo para retirada do certificado
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O naturalizando tem o prazo de 12 (doze) meses, contados da data da
publicação, para comparecer em juízo e solicitar a entrega do certificado da naturalização
comum ou extraordinária. Não obedecido este prazo, salvo motivo de força maior
devidamente comprovado perante o Ministro da Justiça, o certificado será devolvido ao
Departamento de estrangeiros, a fim de que seja determinado o cancelamento do mesmo, assim
como o arquivamento do processo.
Neste caso, o ato de naturalização não se aperfeiçoará, ficando completamente sem
efeito.
2.2.4 – Nulidade da naturalização
O artigo 112 caput da Lei 6815/80 estabelece as condições necessários para a
concessão da naturalização.
De acordo com o parágrafo 2º do dispositivo legal retromencionado, verificada, a
qualquer tempo, a falsidade ideológica ou material de uma das condições necessárias ou dos
requisitos previstos nos arts. 113 e 114 do mesmo diploma legal, o ato de naturalização será
declarado nulo, sem prejuízo da ação penal cabível.
A declaração de nulidade será processada no Ministério da Justiça, de ofício ou
mediante representação fundamentada, concedendo-se ao naturalizado o prazo de 15 dias para
defesa, contados da notificação.
2.2.5 – Efeitos da naturalização
A aquisição da nacionalidade derivada por meio da naturalização só se completa com a
entrega do certificado, quando, então, começa a produzir os efeitos legais. A partir deste
momento é que o estrangeiro pode ser considerado um nacional, com todos os direitos civis e
políticos pertinentes, ressalvadas as exceções constitucionais. Neste sentido, o artigo 122 da
Lei 6815/80:
Art. 122. A naturalização, salvo a hipótese do artigo 116, só
produzirá efeitos após a entrega do certificado e confere ao
naturalizado o gozo de todos os direitos civis e políticos, excetuados
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os que a Constituição Federal atribui exclusivamente ao brasileiro
nato.
Outro efeito gerado pela naturalização, previsto no artigo 123 da Lei 6815/80, consiste
no fato de que a aquisição da nacionalidade brasileira derivada não nacionaliza
automaticamente o cônjuge e os filhos do naturalizado, muito menos os autoriza a entrarem ou
se radicarem no Brasil sem que satisfaçam as exigências legais. Aqui verificamos, pois, a
incidência do princípio da individualidade da nacionalidade (tópico 1.5 – item 2).
Além desses efeitos, deve-se ressaltar que a naturalização não extingue a
responsabilidade civil ou penal que o naturalizando estava sujeito anteriormente em qualquer
outro país.
Por fim, cumpre mencionar que a naturalização opera efeitos ex nunc, ou seja, somente
a partir da entrega do certificado de naturalização, não havendo que se falar em efeitos
retroativos.
2.3 – Diferenças entre brasileiro nato e naturalizado
Existe alguma diferença entre brasileiro nato e naturalizado ?
Essa resposta nos é dada pela Constituição Federal de 1988, quando, em seu artigo 12,
parágrafo 2º, diz:
A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos
e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
Como podemos observar, a regra geral é a de igualdade entre brasileiros natos e
naturalizados. Todavia, a própria Carta Magna, reservou para si, o direito de estabelecer a
distinção entre eles, quando lhe for conveniente.
As distinções ocorridas, de exclusiva sede constitucional, são as seguintes:
a) Extradição – O brasileiro nato jamais poderá ser extraditado. Já o naturalizado, em
determinada situação, poderá o ser, consoante se observa do artigo 5º, inciso LI, CF/88:
nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
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praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
b) Alguns cargos são privativos de brasileiro nato - artigo 12, parágrafo 3º:
São privativos de brasileiro nato os cargos:
I – de Presidente e Vice-Presidente da República;
II – de Presidente da Câmara dos Deputados;
III – de Presidente do Senado Federal;
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V – de carreira diplomática;
VI – de oficial das Forças Armadas;
VII – de Ministro de Estado da Defesa
c) Atividade nociva ao interesse nacional – artigo 12, § 4º, I, CF/88: consoante
muito bem destacado por Pedro Lenza61, somente o brasileiro naturalizado poderá perder a
nacionalidade em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.
d) Integrantes do Conselho da República - Artigo 89, inciso VII, CF/88: o
Conselho da República é formado pelo Presidente da República, Vice-presidente, Presidente
do Senado Federal, Presidente da Câmara dos deputados, líderes da maioria e minoria na
Câmara dos deputados e no Senado Federal, Ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros
natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da
República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos
com mandato de três anos, vedada a recondução.
e) Propriedade de empresa jornalística e de radiofusão sonora e de sons e imagens
- Artigo 222 CF/88
O artigo 222 da Lei Maior, com a redação que lhe foi dada pela EC 36/2002,
estabelece claramente uma distinção entre brasileiro nato e naturalizado ao dispor que: a
propriedade de empresa jornalística e de radiofusão sonora e de sons e imagens é privativa
de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos, ou de pessoas jurídicas
constituídas sob as leis brasileiras e que tenha sede no país.
61 Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado, p. 499.
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Como se vê, tanto no caput, como nos parágrafos do artigo 222, exige-se para os
brasileiros naturalizados um determinado período de naturalização (10 anos) para que possam
ser proprietários de empresas jornalísticas e de radiofusão sonora e de sons e imagens, bem
como exercer as atividades de edição, seleção e direção da programação veiculada.
Por fim, devemos deixar claro que nem todos os países fazem distinção entre os seus
nacionais, sejam originários ou naturalizados, para efeito de gozo de direitos civis e políticos.
Os que não distinguem, são mais rígidos em na concessão da naturalização, estabelecendo
prazos de residência maior e aferindo mais rigorosamente os requisitos a serem atendidos.
O Brasil, como vimos, preferiu reservar certos direitos somente aos natos ou facultar o
exercício somente após decorrido certo tempo da naturalização.
3. PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA NA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
3.1 – HIPÓTESES DE PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA
As hipóteses de perda da nacionalidade brasileira estão taxativamente previstas nos
incisos I e II, parágrafo 4º, do artigo 12, da Constituição Federal. Tratando-se de hipóteses
exaustivamente reconhecidas em sede constitucional, por óbvio, o legislador ordinário não está
autorizado a ampliar o rol previsto na Lei Maior, sob pena de inconstitucionalidade.
De acordo com mencionado dispositivo constitucional as hipóteses de perda da
nacionalidade são apenas duas:
- cancelamento da naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional;
- aquisição de outra nacionalidade.
4.1.1 – Cancelamento da naturalização
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41
Inicialmente, como o próprio nome indica, esta hipótese de perda da nacionalidade
refere-se apenas ao brasileiro naturalizado.
A condição necessária para que o naturalizado perca sua nacionalidade é a prática de
alguma atividade nociva ao interesse nacional.
Sobre a adequação desta forma de perda da nacionalidade, Jacob Dolinger62, citando
Pontes de Miranda e Ilmar Penna Marinho, afirma que:
Enquanto Pontes de Miranda aprova a perda-punição, Ilmar
Penna Marinho critica com veemência esta forma de perda da
nacionalidade, considerando-a antipática e antijurídica. Se o Estado
se sente ameaçado pela ação de indivíduo naturalizado tem meios
eficazes de punir o culpado, seu nacional. Desnacionalizar o culpado,
visando certamente expulsá-lo, permitirá que de seu país de origem
ou em qualquer outro volte a conspirar contra o Brasil, exclama o
autor.
O procedimento de cancelamento, de natureza constitutivo negativa, encontra-se
disciplinado pela Lei 818/49.
A competência para conhecer e julgar o processo de cancelamento da naturalização é
da Justiça Federal, por força do disposto no artigo 109, inciso X, da CF/88:
Art. 109 Aos juízes federais compete processar e julgar:
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de
estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de
sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à
nacionalidade, inclusive respectiva opção, e à naturalização.
A legitimidade ativa da ação que visa o cancelamento da naturalização do indivívuo que
praticar atividade nociva ao interesse nacional é do Ministro da Justiça ou qualquer cidadão.
A decisão que cancelar a naturalização, declarando a perda da nacionalidade brasileira,
produz efeitos ex nunc, isto é, o naturalizado somente sua nacionalidade a partir da sentença
transitada em julgado.
62 Jacob Dolinger, Direito Internacional Privado (Parte Geral), p.164.
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Da decisão que cancelar a naturalização, cabe apelação, sem efeito suspensivo, para o
Tribunal Regional Federal, no prazo de 15 dias, contados da notificação da decisão (art. 33 Lei
818/49). O mesmo prazo terá o Ministério Público Federal para apelas da sentença absolutória
(parágrafo único do artigo 33 da CF/88).
3.1.2 – Aquisição de outra nacionalidade
A segunda hipótese de perda da nacionalidade refere-se tanto ao brasileiro nato como
ao naturalizado.
De acordo com o inciso II, do parágrafo 4º do artigo 12 da CF/88, o brasileiro nato ou
naturalizado perderá sua condição de nacional se adquirir outra nacionalidade, salvo a hipótese
de reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira e de imposição de
naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como
condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
Não é a simples aquisição de outra nacionalidade que acarreta a perda da
nacionalidade. Como visto no parágrafo anterior, a imposição de naturalização, bem como a
concessão de nacionalidade originária, pela lei estrangeira não implicam a perda da
nacionalidade brasileira.
Dessa forma, pode-se concluir que apenas no caso do brasileiro desejar adquirir outra
nacionalidade, com a intenção de não mais integrar o elemento humano da República
Federativa do Brasil é que perderá a nacionalidade brasileira.
Com bem ensina Pedro Lenza, a perda da nacionalidade em decorrência da aquisição de
outra, dar-se-á após procedimento administrativo, onde seja assegurada ampla defesa, por
decreto do Presidente da República (art. 23 da Lei 818/49).
4. REAQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA NA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
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4.1. REAQUISIÇÃO DA NACIONALIADE
A reaquisição da nacionalidade brasileira ocorre quando o brasileiro, nato ou
naturalizado, depois de perder sua nacionalidade, tem a intenção de voltar a ser brasileiro.
A Constituição Federal de 1988 não regulamenta expressamente o assunto. A matéria
encontra-se disciplinada pela Lei 818/49.
4.2. REQUISITOS NECESSÁRIOS
Por primeiro, cumpre registrar que a nacionalidade somente pode ser readiquirida se
tiver sido perdida em razão da aquisição de outra nacionalidade. Por conseguinte, o brasileiro
que tiver perdido sua nacionalidade em razão de cancelamento da naturalização não poderá,
em princípio, readiquirí-la. Este indíviduo apenas poderá voltar a ser nacional no caso de
revogação, via rescisória, da decisão que cancelou sua naturalização.
Os requisitos necessários que devem ser cumpridos pelo brasileiro que desejar
readiquirir sua nacionalidade são:
- domicílio no Brasil
- a aquisição de outra nacionalidade não pode ter sido motivada para se eximir de deveres a
cujo cumprimento estaria obrigado se se conservasse brasileiro.
4.3. EFEITOS DA REAQUISIÇÃO
Os efeitos da reaquisição operam a partir de sua concessão (ex nunc), inexistindo
efeitos retroativos.
Para explicar os efeitos produzidos pela reaquisição da nacionalidade, existem duas
correntes doutrinárias.
A primeira no sentido de que a reaquisição da nacionalidade coloca o indivíduo no
mesmo status que possuía antes de perdê-la, ou seja, se brasileiro nato, volta a ser brasileiro
nato, se naturalizado volta a ser naturalizado. Neste sentido, Jacob Dolinger, José Afonso da
Silva e Luis Ivani de Amorim Araújo63.
63 Luis Ivani de Amorim Araújo, p. 73.
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44
Celso D. Albuquerque Mello, partidário da primeira corrente, afirma que
...se esta é a nossa posição, devemos assinalar que existe uma grande
discussão na nossa doutrina. Ilmar Penna Marinho, Oscar Tenório e
José Afonso da Silva defendem a posição que apontamos. Entretanto,
para Pontes de Miranda, Franciso Rezek e Mirtô Fraga o indivíduo
para a ter direitos de naturalizado.
Por outro lado, a segunda corrente afirma que a reaquisição não coloca o indivíduo no
status quo ante, passando ele a ser considerado brasileiro naturalizado.
Compartilhando desta segunda vertente Francisco Xavier da Silva Guimarães64 assevera
que:
quem perde a nacionalidade brasileira por escolha de outra,
estrangeiro passa a ser. Esta, aliás, não é a única causa em que a
pessoa nascida no Brasil não é brasileira. Assim, a reintegração de
ex-brasileiro ao seu país de origem dá-se por naturalização, com
efeitos ex nunc. Se assim não fosse, estar-se-ia dando efeitos
retroativos, sem atender para o lapso de tempo em que a pessoa
deixou de ser nacional, vinculado que foi à outra cidadania. Não é
possível, assim, que uma pessoa reassuma a capacidade de brasileiro
nato, desde que a perdeu por sua livre opção. Será considerado
estrangeiro no período que se inicia com a perda da nacionalidade,
até o momento em que a readquirir, por naturalização.
Com todo o respeito as opiniões em sentido contrário, compartilhamos do mesmo
entendimento esposado pelos defendores da primeira corrente, para quem a reaquisição da
nacionalidade coloca o indivíduo no mesmo status que possuía antes de perdê-la. Esta é a
posição, inclusive, do Supremo Tribunal Federal.
Ora, quem readquiri algo, readquiri, por óbvio, exatamente aquilo que perdeu. Se
perdeu a nacionalidade originária, recupera sua condição de brasileiro nato. Se perdeu a
nacionalidade derivada, recupera o status de naturalizado. Se assim não fosse, não haveria que
se falar em reaquisição, mas sim em simples naturalização.
64 Francisco Xavier da Silva Guimarães, op. Cit., p. 109.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estado, criado pelo homem para organizar a vida em sociedade, tem como principal
objetivo o bem comum de todos os seus habitantes. Acontece que para a existência do Estado
mister se faz a presença de três elementos: povo, soberania e território, sem os quais não há
que se falar em Estado.
A nacionalidade nada mais é do que o vínculo que une o indivíduo ao Estado, de onde
surgem direitos e deveres para ambas as partes. É a necessidade de indicar quais os membros
efetivos do Estado que justifica a nacionalidade. É através dela que o Estado define quais as
pessoas que compõe seu elemento humano, ou seja, seu povo. Por este motivo, não há que se
falar em nacionalidade sem antes falar em Estado.
A atribuição da nacionalidade é uma manifestação da soberania do Estado e, por essa
razão, o direito positivo de cada Estado é o competente para legislar sobre sua nacionalidade,
estabelecendo os critérios que melhor lhe convenha.
O Brasil adota o critério do ius soli para atribuição da nacionalidade originária como
regra, na medida em que basta que o indivíduo nasça em território brasileiro para que seja
considerado brasileiro nato. Todavia, no nosso entender, em alguns casos, o Brasil admite a
aplicação do critério do ius sanguinis, desde que preenchidas determinadas condições, pois o
indivíduo passa a possuir a nacionalidade do pai ou da mãe. Nosso entendimento, parte-se do
princípio que se a nacionalidade é conferida tendo em vista a nacionalidade do pai ou da mãe o
critério que está sendo aplicado é do direito do sangue. Sendo assim, entendemos que o Brasil
adota um critério misto para atribuição da nacionalidade originária.
A nacionalidade secundária ou derivada é a adquirida após o nascimento. Ela pode ser
ou não concedida pelo Estado, devendo ser requerida pelo indivíduo e preenchidos os
requisitos exigidos em cada caso.
No Brasil a nacionalidade derivada somente é adquirida por meio da naturalização,
sendo que a Constituição Federal permitiu ao legislador ordinário prever outras hipóteses de
aquisição da nacionalidade secundária, além das previstas na própria Constituição Federal.
A naturalização atribui ao naturalizado a nacionalidade e com ela se adquire, não
somente a capacidade para o gôzo de direitos políticos, mas, também, todos os demais direitos
decorrentes da qualidade de nacional, excetuados alguns, expressamente reservados aos
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brasileiros natos. Observa-se, dessa forma, que a Constituição Federal prevê a igualdade entre
brasileiro nato e naturalizado, salvo os casos em que ela mesma estabelece a distinção.
A análise do sistema internacional, bem como da ordem jurídica pátria nos permitem
concluir que a nacionalidade configura um direito inerente a natureza do ser humano, direito
sem o qual fica comprometida a existência saudável e digna da pessoa humana.
Num mundo onde as relações humanas crescem a cada dia e a globalização é um fator
inevitável, a questão da nacionalidade sempre será pertinente, razão pela qual a reflexão a
respeito do assunto merece guarida.
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