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I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 REFLEXÕES SOBRE CIDADANIA E SOCIALIZAÇÃO DE GÊNERO ENTRE A JUVENTUDE (2008-2015) Jussara Reis Prá 1 Janifer Fagundes 2 Resumo: O artigo apresenta resultados de investigação sobre gênero e juventude na qual são examinadas percepções e comportamentos sobre a participação de mulheres e homens em espaços públicos e privados. O texto aborda as construções sociais de gênero entre a juventude em cenários de socialização e exercício da cidadania. O estudo, de cunho exploratório e natureza qualitativa, focaliza o impacto destas construções entre jovens de ambos os sexos, com idade de 15 a 29 anos. A pesquisa incluiu dados de grupos de diálogo (2008- 2014) formados por jovens porto-alegrenses de distintos segmentos sociais e níveis de escolaridade. Os resultados do estudo evidenciam convergências nas opiniões das e dos jovens, mas também percepções e comportamentos ainda pautados por ideologias e estereótipos de gênero. Palavras-chave: Gênero; Juventude; Feminismo; Cidadania; Socialização. Considerações iniciais Identificar a subalternidade do sujeito juvenil desde nosso discurso adultocêntrico ou acadêmico é requisito prévio para a análise do juvenil quando não se é jovem (LÓPEZ, 2015, p. 126). A relação gênero e juventude é tema de debate político e discussão acadêmica em período recente. Mesmo assim, de maneira restrita. A indiferença quanto ao tema poderia ser imputada ao desconhecimento da questão, à falta de interesse sobre o assunto ou por se tratar de algo de que é melhor não falar. A opção aqui é abordar o tema e, além disso, registrar a voz da e do sujeito juvenil. Como diz Gayatri Spivak (2010), o subalterno deve falar. Por esse prisma, o artigo examina as construções sociais de gênero presentes entre a juventude em cenários de socialização e de exercício da cidadania. O objetivo do estudo é refletir sobre as percepções e os comportamentos desse grupo em relação à participação de 1 Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo/USP; Professora no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; Líder do Grupo de Pesquisa CNPq "Gênero, Feminismo, Cultura Política e Políticas Públicas"; Bolsista de Produtividade do CNPq [email protected] 2 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. [email protected]

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REFLEXÕES SOBRE CIDADANIA E SOCIALIZAÇÃO DE GÊNERO ENTRE A

JUVENTUDE (2008-2015)

Jussara Reis Prá1

Janifer Fagundes2

Resumo: O artigo apresenta resultados de investigação sobre gênero e juventude na qual são examinadas

percepções e comportamentos sobre a participação de mulheres e homens em espaços públicos e privados. O

texto aborda as construções sociais de gênero entre a juventude em cenários de socialização e exercício da

cidadania. O estudo, de cunho exploratório e natureza qualitativa, focaliza o impacto destas construções entre

jovens de ambos os sexos, com idade de 15 a 29 anos. A pesquisa incluiu dados de grupos de diálogo (2008-

2014) formados por jovens porto-alegrenses de distintos segmentos sociais e níveis de escolaridade. Os

resultados do estudo evidenciam convergências nas opiniões das e dos jovens, mas também percepções e

comportamentos ainda pautados por ideologias e estereótipos de gênero.

Palavras-chave: Gênero; Juventude; Feminismo; Cidadania; Socialização.

Considerações iniciais

Identificar a subalternidade do sujeito juvenil desde nosso discurso

adultocêntrico ou acadêmico é requisito prévio para a análise do juvenil

quando não se é jovem (LÓPEZ, 2015, p. 126).

A relação gênero e juventude é tema de debate político e discussão acadêmica em

período recente. Mesmo assim, de maneira restrita. A indiferença quanto ao tema poderia ser

imputada ao desconhecimento da questão, à falta de interesse sobre o assunto ou por se tratar

de algo de que é melhor não falar. A opção aqui é abordar o tema e, além disso, registrar a voz

da e do sujeito juvenil. Como diz Gayatri Spivak (2010), o subalterno deve falar.

Por esse prisma, o artigo examina as construções sociais de gênero presentes entre a

juventude em cenários de socialização e de exercício da cidadania. O objetivo do estudo é

refletir sobre as percepções e os comportamentos desse grupo em relação à participação de

1 Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo/USP; Professora no Programa de Pós-Graduação

em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; Líder do Grupo de Pesquisa CNPq

"Gênero, Feminismo, Cultura Política e Políticas Públicas"; Bolsista de Produtividade do CNPq

[email protected] 2 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS.

[email protected]

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mulheres e homens em espaços públicos e privados. O conceito de gênero é adotado como

categoria analítica e expressão de relações de poder a fim de captar as orientações das e dos

jovens investigados na definição das competências sociais de cada sexo. Pretende-se, assim,

vislumbrar elementos capazes de traduzir as dificuldades de as mulheres contestarem valores,

práticas, símbolos e normas que legitimam a subalternidade feminina.

A análise empírica expõe parte dos dados de estudos realizados entre 2008 e 2014 com

jovens porto-alegrenses de ambos os sexos. A pesquisa contempla a coorte de 15 a 29 anos

em atenção ao intervalo etário definido para fins de políticas públicas pelo Conselho Nacional

da Juventude (Lei 11.129/05) e no Estatuto da Juventude (Lei 12.852/13) (BRASIL, 2013). A

despeito dessa delimitação, vale notar que a juventude comporta “vários conceitos, que são

fruto de uma representação histórica específica dessa população” (SOUZA; PAIVA, 2012,

p.353). Assim, a juventude pode ser considerada “uma categoria em permanente construção

social e histórica, variando no tempo, de uma cultura para a outra, e até mesmo no interior de

uma mesma sociedade” (AQUINO, 2009, p. 29). Ademais, é uma categoria sujeita “a

modificações e interferências nos entrecruzamentos com a classe social, o gênero e a raça”

(SILVA, 2009, p. 60).

No sentido das reflexões proposta, as noções de público e privado são utilizadas para

explorar as manifestações das e dos jovens a respeito da ideia de masculino e feminino no

contexto de relações familiares, sociais e políticas. Nesse plano, são examinadas questões

conexas à cidadania e à socialização de gênero, incluindo aspectos referentes à divisão de

tarefas domésticas e de cuidado (crianças); e à definição de prioridades entre a família, a

carreira profissional e a vida política. Recorte adotado para referenciar aspectos da presença e

da participação das mulheres no mundo privado/doméstico e público/político. Para o

proposto, parte-se de um marco teórico fundado em estudos feministas para selecionar o

quadro interpretativo do exame empírico. O estudo é situado no âmbito da Ciência Política,

priorizando abordagens específicas da teoria feminista concernentes às relações de poder e ao

sistema de gênero que as direciona.

A exposição do artigo agrega duas seções. A primeira expõe os aportes teóricos do

estudo, tendo em vista o impacto do sistema de gênero na socialização diferenciada por sexos.

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A mesma seção traça um panorama dos estudos sobre juventude e do uso do recorte de

gênero. A segunda seção apresenta os aspectos empíricos do estudo e a síntese dos resultados

de pesquisa mencionada, que envolveu a formação de oito grupos de diálogos e contou com a

participação de jovens porto-alegrenses, de distintos segmentos sociais e níveis de

escolaridade. Nesse âmbito, gênero e juventude são referenciados teórica e empiricamente no

artigo em tela.

Conexões de gênero e juventude como objeto de estudo

A centralidade dos temas da cidadania e da socialização na teoria política não suscitou

suficientes debates tendo gênero e juventude como objeto ou problemática de estudo.

Trabalhos desenvolvidos na América Latina destacam esse fato e defendem a pertinência de

combinar a análise política aos enfoques feministas para apreender as necessidades e as

experiências das e dos jovens (DEL VALLE, 1991; CHICUY, 2001, SILVEIRA, 2002).

Nesse patamar é ressaltada a importância de considerar os pontos de vista desses segmentos

para planejar a vida social e política. Os mesmo trabalhos questionam a tendência de a

juventude ser avaliada em um contínuo que vai da rebeldia à alienação. Ademais, questionam

a identificação dos jovens a situações de risco (drogas e violência) e das jovens à procriação

(gravidez, maternidade), sendo ignorado o seu potencial de participação social e intervenção

na realidade (CHICUY, 2001; SILVEIRA, 2002). No mesmo sentido, são criticadas visões

que vinculam a juventude a problemas sociais e desqualificam sua capacidade de atuar como

sujeito político (ABRAMO, 2007).

A cidadania, entre o leque de possibilidades para defini-la desde a noção de

pertencimento à comunidade política, pode ser entendida em referência ao lugar de mulheres

e homens na hierarquia social. Assim, o exercício da cidadania deve contemplar deveres e

direitos sem restringi-los a alguma esfera da vida social. Essa restrição integra as reflexões

feministas interessadas em estratégias para ampliar o exercício da cidadania feminina e dos

direitos das mulheres. Ao lado disso, é estimulado o debate sobre os processos de

socialização, tendo em vista o seu potencial de transmitir normas e valores que pautam os

óbices da interação entre os sexos.

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O impacto da socialização de gênero na formação da identidade das pessoas é

enfatizado nas abordagens feministas a partir de um processo de identificação e atribuição de

padrões de comportamento masculino e feminino ocorrido ainda na infância. As diferenças aí

constituídas são apontadas como elementos para definir projetos e estilos de vida: daí o

trabalho produtivo apresentar aos jovens a possibilidade de ingresso na vida adulta; em

sentido inverso, esse ingresso se dá para as jovens mediante a realização de tarefas de

reprodução e cuidado. Tais projetos têm implicações distintas do ponto de vista de gênero.

Enquanto o primeiro leva à autonomia econômica e ao reconhecimento cidadão, o segundo

pode criar situações de dependência e gerar cidadanias delegadas (SILVEIRA, 2002),

cidadanias estas também situadas como de segunda categoria. Não obstante, cumpre notar que

esse mesmo status não raro é conferido à juventude, bem como a outros subalternos

(SPIVAK, 2010),

No debate sobre socialização de gênero, a noção de divisão sexual do trabalho é

utilizada pelo feminismo para identificar a dicotomia entre público e privado. Esta vista como

resultado de um processo histórico e secular no qual a definição das esferas de competência

para os dois sexos restringe, sobremaneira, o âmbito de influência das mulheres à família, ao

lar e ao doméstico. A esfera pública, a da razão, passa a ser de competência masculina e a

esfera privada, a da natureza, identificada como feminina. Tal distinção, construída ainda na

antiguidade, é reforçada no século XIX quando o novo conceito de "social" demarca os

limites de ação das mulheres, com a separação absoluta entre o público e o privado (RILEY,

1988).

Pelo enfoque dos estudos de gênero, a designação social da esfera pública de

produção, ao homem, e a da esfera privada de reprodução e cuidado dos outros, à mulher,

resulta na valorização diferenciada das responsabilidades, escolhas, hábitos e comportamentos

de cada sexo. Com isso, a naturalização dos trabalhos doméstico e reprodutivo (tarefas

familiares e de cuidado de crianças, idosos e doentes) aumenta a vulnerabilidade das mulheres

ante a violência familiar e sexual; debilita a sua autoestima; interfere no seu desempenho

socioeconômico e representa um dos principais obstáculos para acessar e ter o controle de

bens e recursos (SILVEIRA, 2002; PRÁ, 2004).

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Sem detalhar essa discussão, interessa reter do exposto o impacto do sistema de gênero

na segmentação de competências (público e privado), que delimita, pelo sexo, os processos de

inclusão ou de exclusão da cidadania. Como argumenta Judith Astelarra, o sistema de gênero,

enquanto “organização social cuja base é a divisão sexual do trabalho, determina espaços

sociais femininos e masculinos e formas de relação entre mulheres e homens”

(ASTELARRA, 1987, p.151). Em vista disso, a autora considera adequado empregar como

marco teórico “a divisão sexual do trabalho e a organização social que a regula, o sistema de

gênero” (idem, p.159), quando se utiliza o sexo como variável comparativa. E isso se justifica,

diz ela, pois independente das nuances desta divisão nas sociedades contemporâneas em todas

elas desempenham-se atividades ainda tidas como femininas e masculinas.

Não por acaso, por lógica semelhante operam outros sistemas como os de raça/etnia,

idade ou situação socioeconômica para demarcar os lugares sociais a serem ocupados por

cada pessoa. Decorrem daí, como assevera Boaventura de Souza Santos, diversas condições

ou situações que provocam indignação ou desconforto e geram inconformismo, dentre elas, a

do silêncio impingido a povos ou grupos sociais, que tornaram impronunciáveis as suas

formas de conhecer e de ver o mundo. Como adverte o autor, não se deve esquecer que, “sob

a capa de valores universais autorizados pela razão, foi de fato imposta a razão de uma raça,

de um sexo e de uma classe social” (SANTOS, 1999, p.30).

Retornando ao problema da socialização de gênero e direcionando o enfoque à

população juvenil, pelo menos duas considerações se fazem necessárias. A primeira é a de

que existe uma contradição básica entre a socialização para o mundo privado e a socialização

para o mundo público. A segunda consideração, decorrente da anterior, é a de que a dicotomia

estabelecida entre os dois mundos não significa apenas que o mundo público seja masculino,

mas que ele tem maior valor econômico, social e político do que o do espaço privado

(ASTELARRA, 1987, p.159). Assim, de acordo com os padrões de socialização estabelecidos

por cada sociedade, os seres humanos aprendem quais tarefas podem ou devem desempenhar

e a entender a ordem social como um fato natural. Sustentam esse aprendizado, “normas que

prescrevem os comportamentos aceitáveis para uns e para outras e mecanismos de sanção e

controle, para impedir que se produzam desvios nas condutas individuais” (Idem).

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Com isso se quer realçar que ser jovem no feminino tem significado diverso de ser

jovem no masculino (SILVEIRA, 2002). Destarte, tal realidade nem sempre é considerada em

investigações sobre o comportamento social e político, o que fica evidente quando se busca

relacionar analiticamente juventude e gênero, como é feito a seguir. Para tal, mesmo com o

risco de simplificar o argumento, serão aqui condensados e brevemente discutidos alguns dos

aportes que buscam uma releitura da população juvenil como objeto de estudo.

À luz da literatura sobre juventude verifica-se que o assunto já ocupou um lugar de

destaque nos estudos políticos em quase todo o mundo. No amplo debate em torno das

manifestações estudantis desencadeadas nas décadas de 1960 e 1970, e, em especial nas de

1968, a participação política da juventude emerge como objeto de especial atenção. No Brasil,

a ênfase desses estudos recai inicialmente na participação estudantil dos anos 1960 e 1970. É

quando se examinam entidades estudantis, suas “práticas, representações, orientações e

valores envolvidos na adesão a essa forma de socialização política” (CARRANO, 2002, p.

185). Outras investigações discutem a participação juvenil no âmbito de distintas agências

sociais (Cebs, Pastorais, organizações comunitárias etc.) 3

.

O esgotamento da participação que culminou no maio francês de 1968 estava

praticamente decretado nos anos 1980. Certa nostalgia em relação ao ocorrido naquele

momento envolve avaliações nas quais são detectados o conservadorismo e a alienação

política entre a população juvenil (REGUILLO, 2000). Paulo César Carrano (2002) afiança

esse argumento pelo exame de estudos sobre juventude e participação política. Segundo o

autor, o reconhecimento da aliança em torno de ideologias, questões culturais e projetos

coletivos das manifestações de 68 é uma espécie de divisor de águas em relação a outros

eventos. Mobilizações posteriores são vistas como ações pontuais, a exemplo dos “cara-

pintadas”, no Brasil (1992), que se manifestaram em defesa da ética na política sem serem

identificados como revolucionários.

Quanto aos estudos sobre juventude e política, a metade da década de 1980 marca a

sua retomada no Brasil. Destarte, o conhecimento então produzido fica limitado à

3 O teor discursivo e o conteúdo da produção acadêmica sobre juventude elaborada no Brasil e em países da

Europa e América Latina são detalhados por Rosangela Barbiani (2007).

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reconstituição histórica das mobilizações contra a ditadura militar. Horizonte este ampliado

nos 1990 com as análises sobre novas formas de participação e organização da juventude

(voluntariado, ecologia). Voltar a olhar para a população juvenil, todavia, não alterou a

tendência de situá-la em polos opostos do campo político: revolucionários, de um lado, e

alienados, de outro.

Avaliações dos anos 1990, sustentadas por dados empíricos, questionam tanto as

versões do conservadorismo juvenil como as que veem esse segmento como sujeito central

das mudanças sociais. Segundo Suely Martins, a população juvenil não é por índole

conservadora ou revolucionária, mas afeita aos padrões de socialização expressos pela

sociedade na qual se insere. Daí considerar que “ao interagir com as instituições

socializadoras, a juventude pode criar espaços próprios de sociabilidade que em maior ou

menor grau lhe dão características específicas e vão modelando o seu fazer político na

sociedade” (MARTINS, 2002, p.72). A autora, contudo, salienta que este fazer “pode

representar conservação ou mudança” (Idem).

Na busca de enfoques alternativos para retomar a juventude como objeto de

investigação da política, estudos voltados aos temas da socialização e da cidadania

(BAQUERO, 1997; SCHMIDT, 2001; MARTINS, 2002; NAZZARI, 2002, ARAÚJO, 2007),

analisam a população juvenil e buscam os motivos desta participar ou não de ações sociais e

políticas. Nesse cenário, baixa participação, ceticismo e desinteresse político deixam de ser

associados à juventude, vez que o fenômeno atinge amplos setores sociais; para serem vistos

como resultado das incertezas políticas e econômicas daquele momento.

Algumas investigações sobre a juventude portuguesa aportam outros elementos para

discutir esse ponto. Segundo Pedro Ferreira e Manuel Cabral (2002), a população juvenil

serve de parâmetro para medir o exercício da cidadania. Com efeito, as práticas desse grupo

além de denotarem a tendência social servem para reproduzi-las. Sendo assim, a ação dos

jovens é tida pelos autores como peça vital para romper o ciclo da não participação. As

disposições culturais e subjetivas da juventude, sua maior disponibilidade para mudanças do

que a de outros grupos etários, e o seu potencial para defender grandes causas sociais, são

alguns dos motivos arrolados para justificar sua posição. Por conseguinte, argumentam ser

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possível prever, com certa segurança, que mudanças no exercício da cidadania podem emergir

dos grupos jovens; probabilidade que tende a aumentar se as políticas públicas orientadas a

eles forem capazes de dinamizar certos processos e de sedimentar a conscientização e as

ações coletivas.

Os mesmos autores lembram que os registros da baixa propensão da população para a

ação coletiva preocupam quem estuda a política, pois, além de sugerirem passividade perante

o Estado apontam para o desinteresse ou apatia em relação à participação coletiva. Ao mesmo

tempo, destacam que estudos sobre associativismo, cidadania e participação social mostram

que os jovens não são nem mais nem menos ativos que a população em geral. Por fim,

enfatizam que o fato de não se evidenciarem rupturas geracionais expressivas faz supor que o

baixo envolvimento no exercício da cidadania não deve ser imputado apenas aos processos de

socialização. Sendo assim, esse déficit pode ser atribuído, sobretudo, “a razões que se

prendem com a organização societal, em particular, as relações entre esfera pública e privada

mais precisamente, ou as relações entre Estado e a sociedade civil de um ponto de vista mais

especificamente político” (FERREIRA; CABRAL, 2002, p.1, grifo meu).

Desse prisma, há que se destacar a pertinência de investir em abordagens de gênero,

em especial, nas que trazem ao debate as dicotomias entre público e privado e apontam para a

necessidade de dimensionar o impacto do processo de aquisição de papéis e identidades de

gênero sobre a inserção da cidadania no mundo público. Isso sem desconsiderar a importância

de temas relacionados à educação, família, mercado de trabalho ou de assuntos recorrentes,

sobretudo, de situações que emergem com o advento de economias de consumo e sociedades

globalizadas. Com efeito, ao se enfocar as e os jovens é preciso ter em conta que estes não

formam universos homogêneos e que abarcam situações e realidades distintas (BARBIANI,

2007). Afinal, há muitas maneiras de ser jovem e de viver a juventude e estas também se

expressam em termos de classe social, raça/etnia, idade e de gênero.

Quanto se evoca o gênero como objeto de estudo não há como desconhecer a

importância do conhecimento produzido sob essa rubrica. O enfoque de gênero permitiu

compreender as especificidades da condição feminina; dimensionar a contribuição social das

mulheres e registrar distintos fenômenos de opressão e dominação, que as situam em posições

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subalternas nas mais diversas sociedades. Permitiu, assim, identificar as assimetrias de gênero

que se manifestam de várias formas, entre elas: na feminização da pobreza; na discriminação

salarial, na violência doméstica e na predominância de níveis inadequados de saúde ou de

reduzida participação feminina nos sistemas políticos (PRÁ, 2004).

Avaliações dessa natureza, associadas à ação política de distintos grupos de mulheres,

em especial os feministas, produzem desdobramentos significativos. Com efeito, estas além

de tornar pública a exclusão das mulheres dos cenários social, econômico, político e cultural,

levam as forças políticas a se posicionarem em relação às reivindicações trazidas pelos

feminismos. Ao mesmo tempo, suscitaram nas mulheres um sentimento de pertença ao gênero

feminino (GUZMÁN, 1998; CHICUY, 2001).

As pesquisas feministas, somadas aos estudos de gênero, também incidem no “fazer

científico, situando-o como prática social, caracterizada por jogos de poder que têm como

consequência a naturalização da diferença e a hierarquização das relações de gênero”

(MEDRADO; LYRA, 2000, p.3). Nessa direção, Boaventura de Souza Santos atribui às

correntes culturais, entre elas às feministas, a capacidade de confrontar realidades que causam

desconforto e indignação, estas omitidas na teoria crítica moderna em nome da universalidade

dos problemas sociais. Entende, assim, a contribuição dos estudos culturais para os quais

“convergem as diferentes ciências sociais e os estudos literários e onde se tem produzido

conhecimento crítico, feminista, antissexista, antirracistas, pós-colonial” (SANTOS, 1999,

p.202). Nesse diapasão, o autor credita à “sociologia feminista” o mérito de ter produzido “a

melhor teoria crítica” no decorrer das duas últimas décadas do século vinte (Idem).

Mesmo assim, também se tem o registro de que ainda falta às pesquisas feministas

dedicar espaço suficiente para tratar da conexão gênero e juventude. Com efeito, se o

feminismo logrou tirar a mulher da invisibilidade, tal não se verifica no que respeita à jovem

como objeto de estudo. Como adverte Astrid Chicuy, a jovem comumente integra “um grupo

humano caracterizado historicamente por seu silêncio, sua invisibilidade e, em última

instância, por sua ausência” (CHICUY, 2001, p.77). Como então explicar tal omissão?

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Análises feministas direcionadas ao Brasil e a outros países da América Latina notam

que embora as mulheres jovens sejam elemento de análise das ciências sociais, sua presença

aí ainda é pouco explorada. E isso, de certa forma, pode ser explicado pelo fato de o enfoque

centrado na realidade da mulher adulta dificultar a percepção das especificidades do universo

das jovens, mas também, em razão de a juventude ser examinada como se fosse assexuada.

Como esclarece Chicuy, tal lacuna em parte tem a ver com a novidade do tema. Como

visto antes, a juventude adquire mais significado social somente a partir dos anos 1970.

Situação expressa nas duas décadas seguintes pelo intento de conhecer a realidade desse

grupo. Mesmo assim, a autora considera que “não houve uma década em que os jovens

tenham sido um dos objetos de mais interesse das distintas disciplinas do conhecimento”

(Idem, p.4). Ao mesmo tempo, diz ela, a possibilidade de elaborar políticas públicas

específicas para este setor sem dúvida é fato positivo, contudo, também tem desvantagens,

pois em geral estas não se sustentam sobre uma base teórica, mas sim mediante a perspectiva

de problema social. Este traço, além de mantido, torna-se marcante ao longo da década de

1990, dada a associação, quase exclusiva, entre o mundo juvenil, sobretudo o popular, e os

temas do consumo das drogas e do álcool. A esse comentário a autora acrescenta o seguinte

questionamento: O que as mulheres têm a ver com estes temas? (Idem).

A avaliação de Benedito Medrado e Jorge Lyra (2000, p.1-2) permite ilustrar esse

ponto em sua referência ao fato de a adolescência e a juventude normalmente serem

associadas à ideia de problema social e de risco generalizado (conflito e tensão). A tradução

disso surge em declarações como: “gravidez de risco, risco de contrair o HIV, risco de uso de

drogas ilícitas, risco de vida frente à violência.” A noção de risco, por seu turno, traz

embutida a divisão de gênero. Nesse sentido, excetuada a “gravidez precoce (arena da

reprodução) os demais fatores de risco são, em geral, atribuídos ao adolescente ou jovem do

sexo masculino, descrito como, naturalmente, violento, agressivo, promíscuo, inconsequente,

aventureiro e impulsivo” (MEDRADO; LYRA, 2000, p.2).

A atribuição de condutas de risco para cada sexo expõe o sistema de gênero por outro

ângulo, ao demarcar a divisão sexual do trabalho pelo vínculo do feminino ao âmbito privado,

no plano da sexualidade, e do masculino à transgressão no mundo público. Para além dos

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prejuízos de tais enquadramentos, quando se enfoca a população juvenil como objeto de

estudo ou de políticas públicas é notório que tais ênfases dificultam conhecer outras

realidades desse segmento, bem como as suas potencialidades sociais, econômicas, políticas

ou culturais. Como expressa Marília Spósito (2002, p.22), “ainda há um desconhecimento

sobre a condição juvenil na sociedade brasileira” para dar conta da realidade plural

(desigualdades sociais, culturais e étnicas) que a juventude oferece à pesquisa acadêmica4.

Somado a isso, a compreensão da juventude como categoria de distintas origens

(étnico-raciais, de classe etc.) ou de dois sexos permanece ausente de muitas análises e sem

tratamento empírico adequado. E isso se verifica independente do incremento dos estudos

sobre o tema. Conforme Spósito (2009, p.34), quando se considera “que aspectos importantes

derivados da condição rural e urbana, das relações de gênero e étnico-raciais começam a ser

incorporados” em estudos de juventude, é possível detectar avanços em seu desenvolvimento.

Contudo a autora ressalva que isso ocorre de maneira ainda desigual; assinala, também, que

“um elemento ainda pouco explorado nas análises é o entendimento da categoria juventude a

partir de um ponto de vista relacional” (Idem, p.35)5.

No mesmo sentido, é criticada a carência de recortes de gênero nos estudos de

juventude e a ausência desta categoria nas avaliações feministas. A partir desse

questionamento, defende-se que a constatação de déficits dessa natureza deve estimular o

investimento no tema, bem como o de ver nas gerações mais jovens a capacidade de reciclar

valores sociais e de afrontar as assimetrias de gênero (COUTINHO, 2006). Ainda sobre a

relação gênero e juventude, é possível sustentar, parafraseando Astrid Chicuy (2001, p.4), o

quanto é difícil “construir teoricamente o objeto de estudo chamado jovem mulher”.

Investigar a dimensão da jovem, assevera a autora, é tarefa bem mais complexa do que a de

estudar o jovem posto que a delimitação institucional é mais restrita em relação a ela, a ponto

de identificar-se “a mulher jovem, ou, a jovem mulher, somente a partir de temas ou

4 Spósito refere-se ao um Banco de Dados com 387 registros na área de Educação e Juventude

(1984-1998). O acervo está disponível na página de Ação Educativa:

http://www.acaoeducativa.org 5 O estudo utiliza o banco de teses da Capes (1999-2006), nas áreas das Ciências Sociais, Educação e Serviço

Social, incluindo por volta de 1.290 registros.

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problemas associados a sua sexualidade, como se esse fosse o único campo de identificação”

(Idem).

A dificuldade de construir a jovem como objeto de estudo é alvo da própria crítica

feminista. Mary Castro questiona a falta de investimento feminista na compreensão das

culturas juvenis atribuindo-a “ao fato de as mulheres jovens ainda não se constituírem em um

coletivo feminista, sujeito social de pressão, sujeito de uma cidadania ativa juvenil feminista”

(CASTRO, 2004, p.298). Indo além, Wivian Weller (2005) contesta a invisibilidade feminina

nas (sub)culturas juvenis e a ausência de estudos e pesquisas sobre jovens e adolescentes do

sexo feminino, tanto na análise feminista quanto na dedicada à juventude. Elaine Muller

(2004, p.4), por seu turno, constata a irrelevância analítica da categoria gênero nas abordagens

clássicas sobre juventude, afiançando que o seu máximo avanço é o de refletir um pouco

sobre os papéis sexuais e as diferentes formas de socialização de meninos e meninas.

Ademais, como assevera Janaína Coutinho, se faz necessário construir uma nova visão

de juventudes com seu protagonismo, o que sugere considerar o contexto hierárquico de

gênero em que se inserem. Igualmente, cumpre reconhecer nelas “o papel estratégico

potencial na reciclagem das ideias hegemônicas vigentes com relação às diferenças de sexos –

que afetam suas vidas diárias e estruturam o todo social” (COUTINHO, 2006, p.1). Ou como

postula Rossana Reguillo (2000), reconhecer as e os jovens como sujeitos de direitos, com

necessidades, demandas particulares e potencialidades em relação a outros grupos etários,

requer pensar na sua singularidade e diversidade. Necessário, então, assumir que diferentes

aspectos da condição juvenil precisam ser teorizados e dimensionados a luz da evidência

empírica. Com base no exposto, direciona-se a atenção para os diálogos das e dos jovens,

antes abrindo parênteses para informar os procedimentos adotados na pesquisa em questão.

Diálogos entre e com a juventude: limites e possibilidades

Procedimentos da pesquisa

Para abordar a questão empírica são apresentados resultados da pesquisa “Gênero e

Juventude no Processo de Socialização e Construção da Cidadania”, desenvolvida a partir de

2008 com o propósito de apreender diferenças e similaridades nas percepções (opiniões) e nos

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comportamentos de rapazes e moças da coorte de 15 a 29 anos. A coleta e a análise dos dados

da pesquisa seguiram o método misto e a estratégia exploratória sequencial, priorizando a

natureza qualitativa da abordagem e a integração de abordagens na fase de interpretação dos

dados (CRESWELL, 2007).

O procedimento quantitativo permitiu obter um quadro geral de aspectos

sociodemográficos, além de dados sobre comportamentos e atitudes das e dos jovens

brasileiros em termos longitudinais, que não serão aqui abordados. Já o estudo qualitativo,

cujos fragmentos serão integrados a esta exposição, permitiu relacionar o processo de

socialização das e dos jovens ao de construção/constituição das identidades de gênero e

observou, entre outras atividades: seleção de informantes chaves; formação de grupos de

diálogo; classificação e ordenamento das narrativas, de acordo com os temas centrais da

investigação, e interpretação dos resultados. A geração de dados pela técnica de grupos de

diálogos tem por objetivo propiciar a interação entre as pessoas investigadas, estimulando-as a

expor e ouvir diferentes pontos de vista, fazer questionamentos e trocar experiências. A

pesquisa realizada até então é identificada como um estudo experimental no qual são

buscados subsídios para aperfeiçoar os roteiros qualitativos e indicadores para a elaboração de

instrumento de medida6.

Até 2014 foram conduzidos oito grupos de jovens (4 a 6 participantes cada) na cidade

de Porto Alegre/RS, formados por mocas e rapazes de diferente origem social e grau de

escolaridade (reuniões de duas horas e trinta minutos). O binômio público e privado orientou

os diálogos, focalizados em questões sobre família, escola, trabalho, política cultura e mídia.

Dito isso, chega-se às falas das e dos jovens ouvidos nos grupos, destacando fragmentos dos

diálogos sobre família, trabalho e política.

Participação no espaço privado e no espaço doméstico

A igualdade de direitos e de oportunidades, para passar de um direito formal,

escrito, a um direito real, exercido por homens e mulheres, deverá ter em

conta a divisão dos espaços que compõem a vida social dos indivíduos em

6 A pesquisa com os grupos de diálogo está em andamento dá sequência aos encontros realizados entre junho de

2008 e novembro de 2014.

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uma sociedade: o espaço público, o espaço privado e espaço doméstico

(BATTHYÁNY, 2004, p.21).

Nos diálogos sobre a participação de mulheres e homens no espaço privado a ideia de

que os afazeres domésticos devem envolver ambos converge em diferentes grupos. Contudo,

também é verbalizado que na prática isso não ocorre. Tal realidade foi atribuída à influência

da mãe sob a alegação de que ela “ensina o machismo” e que as mães “não ensinam as tarefas

domésticas aos meninos”. Outro fator arrolado é o de que essa atitude da mãe contribui para

tornar o homem “dependente da mulher”. Em relação ao cuidado de crianças, tanto nos

grupos formados apenas por mulheres como nos grupos mistos foi reiterado que “a mulher se

dedica mais ao cuidado dos filhos por uma ligação iniciada na gestação, mas não justifica o

homem abster-se”. Já entre as jovens a opinião é de que “os homens devem compartilhar o

serviço doméstico”, porém consideram que “por uma questão histórica, cultural, é natural que

as mulheres se dediquem mais as tarefas de cuidado da casa e dos filhos”.

A noção da possibilidade de mudanças na divisão sexual do trabalho aparece nas falas

das jovens quando manifestam que “antigamente a mulher era responsável por tudo e hoje em

dia é possível dividir com um homem as tarefas de cuidar dos filhos e qualquer outra

atividade em relação à família”. Para um dos jovens isso “tudo depende do modelo que se tem

em casa”. Na maioria das falas houve consenso de que “deve haver um acordo, um

equilíbrio”. Não obstante, tal equilíbrio aparece condicionado a uma suposta disponibilidade

de tempo: “Quem tem mais tempo livre é que faz mais. Quem trabalha fora faz menos”.

Manifestações dessa ordem dão atualidade ao estudo de Diane Alméras (1997) sobre

as responsabilidades familiares, no qual identifica quatro tipos de repartição das tarefas

prestadas por mulheres e homens na família, a saber:

- tipo tradicional; as tarefas domésticas e de cuidado dos filhos são

responsabilidade exclusiva da mulher, ainda quando esta trabalha fora do lar.

- Tipo de transição incipiente: segue o tipo tradicional, mas com uma

repartição simbólica das tarefas [...] que conta com a ajuda do homem.

- Tipo em transição avançada: a repartição das tarefas domésticas e de

cuidado dos filhos se fazem sobre a base de negociações abertas entre o

homem e a mulher.

- Tipo equitativo (moderno): as responsabilidades familiares são repartidas

entre o homem e a mulher, incluindo em suas negociações as preferências

individuais (ALMÉRAS, 1997, p. 26-28).

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A coexistência destes modelos revela um contínuo na evolução da lógica de gênero e

pode indicar o desenvolvimento de práticas mais e/ou menos equitativas entre mulheres e

homens (ALMÉRAS, 1997). Dessa perspectiva, a eloquência nas opiniões das e dos jovens

em favor de mudanças no espaço doméstico não significa o avanço em direção ao terceiro e

ao quarto modelo, nem o aumento da “autonomia feminina em relação às incumbências da

esfera privada” (SANTOS, 2008, p.105). Na verdade, o evidenciado é a tendência de um

movimento pendular entre o tradicional e o moderno (BATTHYÁNY, 2004). Dualismo este

também expresso para as jovens diante da tensão de ter de conciliar vida familiar e vida

profissional, como visto a seguir.

Fronteiras entre a vida familiar e a vida profissional

O ponto aqui examinado diz respeito ao significado da participação das mulheres no

mercado de trabalho para a conquista da autonomia feminina. Segundo as jovens investigadas

o trabalho é sinônimo de liberdade e autossuficiência para a mulher. Nesse quesito,

ressaltaram a relevância do trabalho para conquistar a independência financeira, “sem

depender do homem em nenhum momento”, pois “a mulher pode ser casada e independente”.

Os rapazes dos grupos mistos corroboraram essas ponderações e afiançaram ser “obrigação de

ambos” o sustento da casa. Pese a defesa da participação feminina no mercado de trabalho, as

e os jovens questionaram o fato de poucas mulheres ocuparem cargos de chefia.

As e os jovens expressaram que as empresas obteriam benefícios ao terem mais

mulheres em postos de decisão “porque as mulheres têm uma visão mais abrangente e

planejam melhor suas ações”. Já, os homens, são tradicionais na forma de empreender, pois

“arriscam de forma mais aventureira”, enquanto as mulheres “arriscam de maneira planejada”.

No entanto, sublinharam que o fato de as mulheres exercerem cargos de chefia não muda as

relações de poder, pois “o poder é dos homens” e porque os “salários continuam menores que

os deles”. Importante destacar a respeito que a maior parte dos diálogos expressou as

desigualdades de gênero nas relações de trabalho em moldes muito próximos aos inscritos nas

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abordagens feministas. No mesmo teor, eles e elas mencionaram as dificuldades impostas às

mulheres para conciliar vida pessoal, familiar e profissional (PRÁ, 2013).

Desse ponto de vista, dados de pesquisa apresentados pela Organização Internacional

do Trabalho (OIT, 2007) revelam as dificuldades de as mulheres conciliarem o trabalho

remunerado à vida familiar. Segundo estudos realizados com executivos/as de diferentes

países as mulheres que postergam o casamento ou a constituição de uma família em favor da

carreira profissional são 32% mais numerosas do que os homens, enquanto as que decidem

não ter filhos são 12% contra 1% dos homens. O interesse em investir na carreira profissional

ou em postergar o casamento e a decisão de ter filhos também aparece como prioridade entre

uma parcela das jovens dos grupos de diálogos. Entretanto, isso não é consensual. Para as

jovens das classes populares, a família e os filhos são prioritários em relação ao trabalho e à

profissão. Já entre as universitárias e as da classe média, predomina o interesse em adiar a

constituição da família e buscar a afirmação profissional. É oportuno notar aqui a escassez de

manifestações dos jovens durante os diálogos sobre as fronteiras entre família e profissão.

Nesse sentido, como expressa Tania Steren dos Santos:

As fronteiras entre vida profissional e familiar são menos delimitadas para as

mulheres do que para os homens. Na realidade social contemporânea, a

igualdade de condições de vida e trabalho entre homens e mulheres passa

necessariamente pela questão da articulação da esfera profissional com a

doméstica e por oportunidades mais igualitárias entre os sexos na esfera

pública e no lar (SANTOS, 2008, p. 100).

Antes de encerrar esse ponto, vale fazer referência aos componentes da socialização de

gênero presentes nos diálogos das e dos jovens ouvidos na pesquisa. Assim, as manifestações

relativas aos lugares disponibilizados a elas no âmbito familiar (doméstico) e na esfera

profissional, refletem a divisão sexual do trabalho que conforma o sistema de gênero com

base “na flexibilidade e na capacidade de adaptação das mulheres” (BATTHYÁNY, 2004,

p.53). Em contrapartida, discursos igualitários minimizam as tensões provocadas pelas

desigualdades de gênero, com teor semelhante aos utilizados para ocultar outros marcadores

sociais de desigualdade, entre eles, os étnicos, culturais e geracionais. A partir desses

comentários são apresentadas, na sequência, breves reflexões sobre as manifestações das e

dos jovens em relação à sua participação na política.

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Participação no espaço público e político

A visão da política compartilhada entre as e os integrantes da pesquisa revelou sua

rejeição aos políticos e às instituições. As e os jovens ressaltaram de modo contundente não

confiar em políticos e partidos. Além disso, as e os jovens afirmaram não saber no que

acreditar devido ao excesso de “manipulação da mídia” e à manipulação exercida pelos

partidos políticos. Usaram expressões tais como “hipócrita” e “individualismo” para

caracterizar a ação e o discurso dos políticos. Também afirmaram que as ações dos políticos

“não tem por objetivo um bem maior, a população, buscam o bem só para si.” Essa rejeição à

política, conforme Anne Müxel (1994, p.153) pode ser verificada diariamente nas expressões

de denúncias realizadas com a mesma convicção e força “tanto pelos estudantes como pelos

assalariados, pelos jovens sejam eles diplomados ou não, de direita, de esquerda ou sem

orientação política definida”.

Mesmo rejeitando a política formal, as e os jovens mostraram-se predispostos a

participar de algum tipo de associação ou movimento social, com a ressalva de que se

envolveriam apenas em entidades sem “vínculo com partidos políticos”. No que se refere às

formas dessa participação, as e os jovens consideram o engajamento político em associações e

movimentos sociais o tipo mais eficaz, opinando que “é preciso mudar os problemas que estão

ao redor; começar por ações pequenas, depois mudar o mundo.” Assim, para elas, com esse

tipo de participação é “mais fácil, pois você reúne um grupo e consegue mudar”. Ademais,

consideraram que seria “mais fácil” obter mudanças sociais e políticas públicas por meio dos

movimentos sociais, como ONG´s e fóruns de democracia deliberativa, como o Orçamento

Participativo, rejeitando os partidos políticos como porta-vozes de suas deliberações.

A despeito disso, Lígia Amâncio chama atenção para as relações complexas e

contraditórias da política afirmando serem elas reveladoras das limitações para o

'engajamento' político das mulheres. Uma das questões centrais desta tensão está relacionada

com o próprio conceito de política e de participação. A mobilização das mulheres assume

características que escapam às definições convencionais de ativismo político, o que significa

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que a sua participação não é considerada, traduzindo-se na percepção de que os principais

atores sociais são os sindicatos, as igrejas, os estudantes, ou os funcionários públicos, e não os

movimentos de mulheres, invisíveis e inqualificáveis (AMÂNCIO, 1994).

Concernente ao voto, as opiniões ficaram bem divididas. Algumas jovens afirmaram

que continuariam exercendo o direito de votar, mesmo se o voto fosse facultativo. Entretanto,

segundo elas, por causa do “jeitinho brasileiro”, o brasileiro não está preparado para o livre

exercício do voto, sugerindo que as eleições não transcorreriam em perfeitas condições caso

as pessoas não tivessem a obrigação de ir as urnas. Outras jovens, por sua vez, demonstraram

não ter convicção quanto ao ato de votar, alegando não saber se continuariam votando nas

eleições se fosse facultativo; posição semelhante foi encontrada entre os jovens.

Nos diferentes grupos de diálogo, as e os jovens enfatizaram não dispor de

conhecimento e informação suficientes para entender o jogo político. Uma das jovens

expressou-se nos seguintes termos: “Eles (os políticos) não nos dão o precisamos. Não nos

dão educação, acesso a cultura. Não nos dão tudo o que é mais necessário, que nos faça

enxergar e querer mudar. [...] O povo quanto mais inteligente, mais ele vai querer mudança”.

Também para Müxel, a política é o “domínio das pessoas sem escrúpulos” e não inspira a

aprovação. Por esse motivo, diz ela, os jovens têm o sentimento de dispor de poucos

elementos para compreender a situação política.

Quando questionadas sobre quais mudanças deveriam ocorrer para que viessem a se

interessar mais por política e fossem mais participativas, as opiniões, de um modo geral,

encaminharam-se em defesa da necessidade de ter “menos corrupção e mais credibilidade”.

As jovens verbalizaram ainda que faltam investimentos em políticas públicas voltadas para as

áreas da saúde, educação: “eu penso que teriam de melhorar os postos de saúde e as escolas

públicas”, destacou uma delas. Essa postura também encontra ressonância na avaliação de

Müxel, quando observa que a restauração entre os jovens cidadãos e a política se daria por

meio da construção de uma nova moral política, na qual emergiriam “dignidade e

transparência, coesão antes que coerção, unidade e respeito às diferenças, comunicação e

reforço da democracia” (MÜXEL, 1997, p.156).

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Ainda sobre os grupos de diálogo, o observado nesse âmbito permitiu identificar

percepções, orientações e manifestações das e dos jovens acerca da participação no espaço

público e privado. No mesmo sentido, propiciou apreender padrões de comportamento da

população juvenil e relacionar aspectos da construção/constituição das identidades de gênero

entre a juventude. Assim, ficaram evidentes os déficits de cidadania da juventude da pesquisa.

No mesmo sentido, emergiram questões conexas à socialização de gênero em aspectos

referentes à participação das e dos jovens investigados no espaço privado (doméstico) e no

espaço público e político, corroborando os objetivos da pesquisa.

Considerações Finais

Com as reflexões apresentadas buscou-se relacionar as categorias gênero e juventude

no âmbito da Ciência Política e dos estudos feministas. Conexão examinada como parte de

um processo no qual o gênero dá significado a relações de poder. Nesse plano, as

manifestações das e dos jovens sobre a participação no espaço público e privado expressaram

a influência das interações de gênero na definição dos comportamentos nesses espaços.

Experiências de socialização pertinentes ao feminino e ao masculino evidenciaram a

construção/constituição das identidades de gênero nas duas dimensões, legitimando os

questionamentos da pesquisa.

Percepções sexistas subjacentes a esse tipo de construção pontuaram boa parte dos

diálogos das e dos jovens pesquisados. Eles e elas expressaram tensões e ambiguidades

pertinentes à reprodução de assimetrias de gênero. Consoante à família isso foi evocado em

razão da ingerência da mãe na reprodução dos papéis de gênero, pois “ela ensina o

machismo”. Já as percepções sobre o âmbito do trabalho denotaram a presença de

discriminações de gênero com referência às diferenças salariais ou à dificuldade de as

mulheres chegarem a cargos de chefia, confirmando as avaliações da literatura pertinente

(AMÂNCIO, 1994). Com efeito, mesmo que as e os jovens pesquisados entendam necessário

mudar essas realidades, ideologias de gênero perpassam seus diálogos ou são tidas como

“naturais” e, até mesmo, inevitáveis (GUERREIRO; ABRANTES, 2007).

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Os resultados obtidos também possibilitaram constatar o desinteresse das e dos jovens

investigados pela participação em espaços políticos formais, apesar de sua participação

adquirir mais relevo hoje no Brasil. Ademais, evidenciaram a prevalência de uma visão

negativa sobre a sua possível atuação política. Na mesma direção, os dados indicaram que a

juventude carece de incentivo para estreitar relações com atores políticos e instituições

governamentais. A ideia generalizada entre integrantes dos grupos de diálogo é a de que a

classe política não merece crédito. O desinteresse político, presente nos diálogos, denuncia

déficits de cidadania e de socialização política. Mesmo assim, as e os jovens manifestaram

interesse em participar de organismos ou instituições “desde que não vinculadas a partidos

políticos”, o que indica especificidades e singularidades da participação juvenil que precisam

ser investigadas.

Assim, não faltaram convergências de opinião entre os grupos investigados, sem que

se pudesse aprofundar o debate sobre as implicações disso. Portanto, a exploração de

tendências dessa natureza permanece em aberto à investigação. Nesse sentido, embora hoje se

ressalte a importância de considerar as necessidades da juventude e incorporar seus pontos de

vista e ideias para planejar o desenvolvimento da vida social e política, estudos relacionando

gênero e juventude são ainda minoritários. Situação a sugerir a pertinência de empreender

investimentos acadêmicos que deixem de ter em conta o jovem como afeito a posturas

extremas, que vão da alienação à transgressão, e deixem de rotular a jovem pela sexualidade

ou por seu vínculo “natural” à esfera doméstica, Além disso, registrar percepções (opiniões) e

comportamentos de gênero pode fornecer subsídios para explicações analíticas sobre o

imaginário juvenil na arena pública, ainda mais quando se aceita a ideia de que uma nova

visão está surgindo a respeito das questões de gênero e de juventude.

Em suma, vale reiterar que as construções sociais de gênero interferem na conquista da

cidadania juvenil. Em consequência, discriminações reproduzidas no contexto familiar e nos

ambientes de trabalho, somadas ao afastamento da política formal, condicionam as

oportunidades disponibilizadas para as e os jovens. Dessa forma, são mantidas situações que

beneficiam os segmentos masculinos, adultos, brancos e escolarizados, acentuando a

vulnerabilidade das jovens e dos jovens.

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