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Reforma agrária e socialismo na América Latina: Cuba e Chile Joana Salém Vasconcelos 1 Quienes emprendan la reforma evolutiva de los niveles de ingreso se encontrarán con la resistencia organizada de los sectores sociales privilegiados de América Latina y de sus protectores militares. Deberá, además, afectar inevitablemente a los inversionistas norte-americanos. Por ello, tendrán que afrontar, más tarde o más temprano, este dilema: o se decide a realizar las transformaciones por las vías revolucionarias, o se sufrirá la misma derrota que todos los procesos reformistas experimentaron en las últimas décadas latinoamericanas. Carlos Rafael Rodríguez presidiu o Instituto Nacional de Reforma Agrária de Cuba nos anos 1960. Declaração no 13º período de sessões da CEPAL em Lima, 10 de abril de 1969. (Rodriguez, 1983, p.283) En los años 50, yo escribí un libro sobre la reforma agraria en América Latina. Antes que se pasara todas esas cosas. En este libro, yo decía lo siguiente: “la reforma agraria tiene que ser rápida, drástica y masiva. Esta frase me la achacaran encima veinte mil veces. Como que yo era responsable. Pero creo que en el fundo yo tenía razón. Jacques Chonchol foi ministro da agricultura do governo Salvador Allende. Entrevista realizada em Santiago do Chile, 15 de abril de 2016 (Chonchol, 2016b). 1. Introdução Houve um tempo em que o assunto “reforma agrária” era incontornável na agenda política latino-americana. Embora a ideia gerasse desconfiança e aversão entre setores das velhas oligarquias rurais, que ocupavam ainda postos-chaves nos Estados nacionais, entre as décadas de 1950 e 1970, o fortalecimento de projetos reformistas de cunho desenvolvimentista e o acirramento das lutas camponesas alçaram a questão agrária ao centro da arena política continental. O termo reforma agrária, porém, nunca foi portador de um único significado. Muito pelo contrário. A possibilidade de identifica-lo com diferentes conteúdos políticos mobilizou disputas ferozes no decorrer do século XX, especialmente contagiadas pela Guerra Fria e pela revolução cubana. A emergência da reforma agrária como “questão continental” foi impulsionada por diversos sujeitos políticos e movimentos sociais, no contexto da crise da divisão internacional 1 Historiadora, Mestra em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp, doutoranda em História Econômica pela USP e bolsista FAPESP. Email: [email protected]

Reforma agrária e socialismo na América Latina: Cuba …€¦ · socialista, tema ausente no processo transitório cubano10. Por fim, acreditamos que o estudo das reformas agrárias

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Reforma agrária e socialismo na América Latina: Cuba e Chile

Joana Salém Vasconcelos1

Quienes emprendan la reforma evolutiva de los niveles de ingreso se

encontrarán con la resistencia organizada de los sectores sociales

privilegiados de América Latina y de sus protectores militares. Deberá,

además, afectar inevitablemente a los inversionistas norte-americanos. Por

ello, tendrán que afrontar, más tarde o más temprano, este dilema: o se

decide a realizar las transformaciones por las vías revolucionarias, o se

sufrirá la misma derrota que todos los procesos reformistas experimentaron

en las últimas décadas latinoamericanas.

Carlos Rafael Rodríguez presidiu o Instituto Nacional de Reforma Agrária

de Cuba nos anos 1960. Declaração no 13º período de sessões da CEPAL em

Lima, 10 de abril de 1969. (Rodriguez, 1983, p.283)

En los años 50, yo escribí un libro sobre la reforma agraria en América

Latina. Antes que se pasara todas esas cosas. En este libro, yo decía lo

siguiente: “la reforma agraria tiene que ser rápida, drástica y masiva”.

Esta frase me la achacaran encima veinte mil veces. Como que yo era

responsable. Pero creo que en el fundo yo tenía razón.

Jacques Chonchol foi ministro da agricultura do governo Salvador Allende.

Entrevista realizada em Santiago do Chile, 15 de abril de 2016 (Chonchol,

2016b).

1. Introdução

Houve um tempo em que o assunto “reforma agrária” era incontornável na agenda

política latino-americana. Embora a ideia gerasse desconfiança e aversão entre setores das

velhas oligarquias rurais, que ocupavam ainda postos-chaves nos Estados nacionais, entre as

décadas de 1950 e 1970, o fortalecimento de projetos reformistas de cunho

desenvolvimentista e o acirramento das lutas camponesas alçaram a questão agrária ao centro

da arena política continental. O termo “reforma agrária”, porém, nunca foi portador de um

único significado. Muito pelo contrário. A possibilidade de identifica-lo com diferentes

conteúdos políticos mobilizou disputas ferozes no decorrer do século XX, especialmente

contagiadas pela Guerra Fria e pela revolução cubana.

A emergência da reforma agrária como “questão continental” foi impulsionada por

diversos sujeitos políticos e movimentos sociais, no contexto da crise da divisão internacional

1 Historiadora, Mestra em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp, doutoranda em História Econômica

pela USP e bolsista FAPESP. Email: [email protected]

do trabalho. Em decorrência das guerras mundiais e da crise de 1929, a reconfiguração dos

fluxos internacionais de mercadorias tornou possível e necessária a industrialização por

substituição de importações em alguns países capitalistas periféricos. Como analisou Octávio

Ianni, nesse processo, as oligarquias rurais de corte liberal se enfraqueceram perante novas

frações da burguesia, alinhadas com o pensamento nacional-desenvolvimentista, defensores

da industrialização e da formação de mercados internos robustos (Ianni, 1975). Estas novas

frações burguesas protagonizaram uma onda reformista, que incluía em seu horizonte a

mudança da função da agricultura no conjunto da economia. Com o surgimento da CEPAL

em 1948, forjou-se um arsenal teórico e um aparato técnico que pautou as disputas pela

reforma agrária em diferentes países, nos marcos do programa das reformas estruturais. Neste

sentido, a reforma agrária era uma proposta classicamente capitalista, apresentada em um

contexto periférico, que a ela, porém, impunha fortes restrições2.

Tais restrições eram proporcionais à força histórica das oligarquias rurais de alguns

países, muito especialmente os exportadores de produtos agrícolas tropicais3. Para citar alguns

exemplos, Brasil, Argentina, Equador, Colômbia, Cuba e Guatemala tiveram projetos

capitalistas de reformas agrárias bloqueados, por afetarem interesses oligárquicos e exigirem

enfrentamento excessivo para agenda reformista. Houve casos, contudo, em que a reforma

agrária capitalista foi bem sucedida e contou com expressiva redistribuição da terra, como no

México de Lázaro Cárdenas4.

Diante dos limites da reforma agrária capitalista “clássica” nos países periféricos, os

partidos da esquerda latino-americana e a intelectualidade marxista disputaram seus

conteúdos com diferentes perspectivas. Os setores alinhados a um etapismo stalinista viam a

2 Os teóricos cepalinos estabeleceram que o problema do subdesenvolvimento latino-americano decorria do

caráter primário-exportador de suas economias. Para eles, a reforma agrária seria um complemento estratégico

para a industrialização: por um lado, forneceria alimentos para o novo proletariado industrial, deslocando a

agricultura de seus fluxos de exportação; por outro, auxiliaria na redução das desigualdades sociais por meio da

distribuição da terra (Prebisch, 1986; Rodríguez, 1981). Para uma comparação entre as políticas agrárias

varguista e peronista no contexto do nacional-desenvolvimentismo, ver Ribeiro, 2008.

3 Nos anos 1960, mais da metade da população latino-americana vivia em países exportadores de produtos

agrícolas tropicais, que concentravam sua principal fonte de divisas na monocultura latifundiária com mão de

obra quase servil (Furtado, 1969, p. 62-4).

4 O estudo de Stavenhagen (1978, p. 35) sobre a reforma agrária de Lázaro Cardenas no México dos anos 1930

conclui que a economia camponesa de subsistência, embora seja constantemente espoliada pela lógica da

acumulação capitalista, é também recriada pelo sistema, na medida em que lhe é funcional. Para o autor, a

reforma agrária dos ejidos mexicanos foi bem sucedida nesse sentido, pois aliviou a pressão social das periferias

urbanas, gerando maior estabilidade política, fez dos novos camponeses um exército industrial de reserva

“amansado” pela posse da terra, mas que permanecia pressionando para baixo os salários urbanos e, por último,

funcionaria como válvula de escape para as flutuações de uma industrialização dependente.

reforma agrária como parte de uma revolução burguesa modernizadora, que combateria os

resquícios feudais da colonização. Nesse sentido, se aproximavam da CEPAL, embora

operando com outras categorias. Já os agrupamentos de influência trotskista defendiam a

reforma agrária como elemento indispensável de uma revolução democrática que transitasse à

revolução socialista, tal como proposto pela teoria da revolução permanente. Para além dessa

polarização tradicional, outras compreensões marxistas surgiram sobre o problema agrário,

entre as quais se destacou a visão de Mariategui sobre a questão indígena5.

Enfim, estas “décadas da reforma agrária” não seriam as mesmas sem as crescentes

lutas camponesas e indígenas pela terra, que encarnavam os maiores temores das oligarquias

rurais. Aproveitando as brechas de seu enfraquecimento relativo, movimentos autônomos de

diversos países entraram em uma dinâmica cada vez mais intensa de disputa territorial,

acumulando experiências, formulações, métodos de ação e autodefesa. Ainda que a resistência

indígena seja um fato social permanente desde a invasão europeia e as lutas camponesas e

quilombolas datem também da era colonial, os anos 1950 e 1970 foram marcados por uma

acelerada aglutinação destes movimentos em entidades políticas de lutadores rurais,

superando o relativo isolamento das iniciativas locais que predominava anteriormente6.

Nesse cenário, um espectro amplo de ideologias, instituições, partidos, movimentos

sociais, entidades camponesas e comunidades tradicionais reivindicava a ideia de “reforma

agrária” na América Latina com intenções bastante diversas. Seus variados sentidos foram

construídos, confundidos e disputados, inclusive dentro da esquerda. Como alertava Michel

Gutelman7:

Sendo sua necessidade universalmente admitida pela esquerda, quaisquer

que sejam as divergências concernentes aos seus fins e suas modalidades de

aplicação, a reforma agrária há longo tempo constitui um ponto de referência

comum aos revolucionários e aos reformistas, que, de certa maneira, se

5 Mariategui defendeu uma posição incomum sobre a aproximação construtiva entre pré-capitalismo e pós-

capitalismo: “deixando de lado razões doutrinárias, considero fundamentalmente esse fator incontestável e

concreto que dá um caráter peculiar ao nosso problema agrário: a sobrevivência da comunidade e de elementos

de socialismo prático na agricultura e vida indígenas” (2007, p. 69). Uma antologia de documentos

representativos das diferentes tradições marxistas da América Latina pode ser encontrada no clássico livro

organizado por Lowy, 2006. Para uma crítica da esquerda etapista latino-americana, ver Prado Junior, 2004.

Sobre a teoria da revolução permanente, ver Trotsky, 2007.

6 No Brasil, com as Ligas Camponesas; em Cuba com a guerrilha de Sierra Maestra; no Chile, com o

ressurgimento das tomas mapuches e camponesas na Araucanía e formação dos sindicatos rurais; na Bolívia com

a ação indígena e camponesa que resultou na revolução de 1952, apoiadas pelos MNR e POR; no Peru com a

Confederação Campesina; na Argentina com as greves de cortadores de cana; na Colômbia com no processo de

radicalização da luta agrária que deu origem às FARC-EP; entre outros.

7 Michel Gutelman foi um agrônomo francês da equipe do economista Charles Bettelheim, que esteve em Cuba

para assessorar o governo revolucionário ao longo da década de 1960 (ver Bettelheim, 1982; Gutelman, 1975).

demarcam nitidamente da direita tradicional. Porém quando se está lá, por

menos tradicional que lhe possamos crer, ao se colocar em marcha autênticas

reformas agrárias, desmantelando latifúndios e redistribuindo as terras, a

confusão mais completa se instala (Gutelman, 1971, p. 13, tradução da

autora).

Com a presente reflexão, pretendemos analisar brevemente duas experiências de

reformas agrárias socialistas, de Cuba e do Chile, considerando, por um lado, os limites do

reformismo capitalista e, por outro, as novas polêmicas vivenciadas pelos projetos agrários da

esquerda. Embora guiados por estratégias políticas distintas, Cuba e Chile atravessaram

concomitantemente tentativas de transição a um sistema econômico socializado, com

acelerada redistribuição da terra e contenção das imposições de mercado. Ironicamente,

Salvador Allende, que morreu em defesa de uma via pacífica e democrática ao socialismo, foi

fotografado em suas últimas horas no Palácio de La Moneda segurando a AK-47 que lhe fora

presenteada por Fidel Castro em 1971, na qual se registrava a mensagem: “A meu bom amigo

Salvador Allende, de Fidel, que por meios diferentes tenta atingir os mesmos objetivos” (apud

Winn, 2010, p. 177).

Apesar das diferentes estratégias, as experiências cubana e chilena foram semelhantes

na sua rejeição ao etapismo de alguns partidos comunistas. Ambas as revoluções fizeram

repercutir as teses do desenvolvimento desigual e combinado das formações periféricas, isto

é, de que a modernização capitalista traria o agravamento das contradições sociais e dos

anacronismos econômicos, e não o contrário. Nesse sentido, as duas revoluções se

assemelharam por desacreditar na necessidade de uma etapa de modernização capitalista rumo

à superação dos problemas do subdesenvolvimento, apostando diretamente no trânsito ao

socialismo8.

Os processos de transição cubano e chileno foram marcados por duras divergências

internas. Em ambos os casos, a reforma agrária foi um ponto nevrálgico das polêmicas, que

pautavam o novo regime de propriedades, de cultivos e de trabalho da agricultura, bem como

sobre os organismos representativos do campesinato e seu relacionamento com o Estado

ocupado pelas esquerdas. Protagonizaram, assim, um dos períodos mais efervescentes da

experiência política radical latino-americana9.

8 Sobre as teses do desenvolvimento desigual e combinado nas formações periféricas, ver Amin, 1976. Sobre o

conceito de “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, ver Frank, 1968.

9 A esse respeito, caracterizamos a década de 1960 em Cuba como um “laboratório de estratégias” (Vasconcelos,

2016a).

Embora a curta duração do governo Allende possa levantar questionamentos sobre os

limites de tal experiência, o núcleo fundamental das polêmicas internas da Unidade Popular

sobre a organização do sistema agrícola socialista e sobre a velocidade das mudanças

sintonizava-se com dilemas comuns à revolução cubana. Por outro lado, os diferentes papéis

da agricultura em cada uma das sociedades e a presença de uma expressiva população

indígena no Chile, serão, efetivamente, um grande diferenciador. No caso chileno, se tornam

evidentes os conflitos em torno do papel das formas pré-capitalistas indígenas na transição

socialista, tema ausente no processo transitório cubano10.

Por fim, acreditamos que o estudo das reformas agrárias socialistas de Cuba e do Chile

torna-se relevante na atualidade, quanto mais se aprofunda o processo de reprimarização das

economias latino-americanas e eclodem catástrofes socioambientais geradas pelo agronegócio

do século XXI.

2. Reforma agrária e socialismo em Cuba

Antes da revolução cubana, o debate marxista sobre a centralidade do operariado ou

do campesinato na construção do socialismo latino-americano ainda representava mais um

eco das controvérsias bolcheviques do que propriamente um problema prático11. Posta em

marcha a revolução, novas polêmicas surgiram sobre a organização do sistema agrário

socialista no contexto de uma economia de plantation, sobre o papel da propriedade estatal

centralizada, do modelo cooperativista com ênfase no poder local e da propriedade privada

camponesa. Por que a reforma agrária cubana se tornou socialista? Por que tal reforma não

superou a monocultura canavieira, embora defendesse a diversificação agrícola? Quais as

novas formas de propriedade que substituíram o latifúndio? Como o trabalhador rural e o

camponês cubano participaram da construção deste novo sistema agrário? Essas são algumas

das perguntas que busquei explorar na minha dissertação de mestrado12.

10 Sobre a centralidade das formas pré-capitalistas na construção dos imaginários e práticas pós-capitalistas, ver

também Santos, 2011.

11 Sobre as controvérsias econômicas da transição soviética na década de 1920, ver Dobb, 1972 e Bettelheim,

1976. Elaborei uma síntese deste debate em Vasconcelos, 2013b. Sobre o debate marxista e anarquista da

questão agrária no contexto da revolução russa, ver Marcos & Fabrini, 2010.

12 Defendida no programa de pós-graduação em Desenvolvimento Econômico, no IE/UNICAMP, na área de

História Econômica, com orientação do prof. Plínio de Arruda Sampaio Junior (Vasconcelos, 2013a). O trabalho

será publicado em breve pela editora Alameda, com auxílio FAPESP, sob o título “História agrária da revolução

cubana: dilemas do socialismo na periferia” (no prelo).

A reforma agrária cubana se tornou socialista porque qualquer projeto político que

buscasse alterar os fundamentos da plantation modernizada afetaria o coração da acumulação

capitalista do país, contrariando grupos oligárquicos cubanos e investidores bilionários dos

Estados Unidos13. O capitalismo cubano, caso emblemático da dominação neocolonial

(Fernandes, 2007), praticamente não abria brechas para reformas, muito menos aquelas que

ameaçassem o monopólio da terra. O conglomerado Rockefeller-Sullivan, por exemplo,

comandava um total de 480 mil hectares de terras em Cuba (superfície equivalente à área de

Trinidad y Tobago) e 79.460 trabalhadores apenas nas usinas, sem contar as plantações14.

Outro exemplo da avassaladora concentração fundiária era Julio Lobo Olavarría, “o

imperador do açúcar”, que comandava quase sozinho a produção de 15 centrais açucareiras

correspondentes a 163 mil hectares de terras e 45.836 trabalhadores, além do controle das

duas maiores refinarias do país15. Segundo o censo agrícola de 1946, 2,8% dos proprietários

rurais em Cuba concentravam 57% da superfície agrícola do país, ao passo que 78% das

propriedades rurais eram minifúndios com menos de 27 hectares, ocupando somente 15% da

superfície (Chonchol, 1961, p. 5).

O presidente Carlos Prío Socarrás, eleito em 1948, foi um reformista infeliz, pois ao

tentar ampliar participação do capital cubano na exploração do níquel, sendo ele mesmo

diretamente interessado no negócio, desagradou os interesses dos Rockefeller. Além disso,

Socarrás adotou uma política expansionista para o açúcar, eliminando barreiras e cotas de

produção, o que não agradava aos investidores estadunidenses. Foi suficiente para o golpe de

1952. Naquele contexto, não surgiram em Cuba outros reformismos que abrissem

13 O conceito de “plantation modernizada” está desenvolvido no Capítulo 1 da minha dissertação de mestrado

(Vasconcelos, 2013a). Basicamente, seria resultado do processo modernizador da estrutura agrária da plantation

colonial, determinado por uma história política de submissão aos interesses estadunidenses e pela acelerada

dinâmica especulativa que afetava a produção açucareira mundial.

14 Nos anos 1950, os Rockefeller-Sullivan também controlavam a Compañía Cubana de Teléfonos, que detinha

monopólio do serviço telefônico, investiam na extração de níquel do Oriente com a Freeport Sulphur Company e

a American Smeltin & Refining Company (AS&R), exploravam o petróleo cubano com a Esso Standart Oil

Company, além de possuírem braços no setor de transportes com o monopólio Ferrocarriles Consolidados

(Jimenez, 2000; Pino-Santos, 1983, p. 519, 544). Com tanto a perder, o conglomerado financiou o golpe de

Estado de 1952 que derrubou o presidente Carlos Prío Socarrás, faltando apenas 80 dias para as eleições.

Fulgêncio Batista foi escolhido para abrir novos caminhos de investimentos e garantir facilidades.

15 Julio Lobo era proprietário dos principais corredores comerciais e empresas de exportação de açúcar do

mundo. A Galbán Lobo Trading Company controlava 35% a 60% do açúcar cubano e porto-riquenho e 60% do

refino do mercado norte-americano. Lobo também possuía a National Bonded Warehouses Company, um

depósito açucareiro que armazenava o produto de 21 usinas, além de ser proprietária de um porto. Era dono do

Banco Financiero, com depósitos dos 21 centrais que armazenavam açúcar com Lobo; da Corporación

Aeronáutica Antillana S.A., uma companhia aérea com circulação interna às suas propriedades, uma das três

“linhas tributárias” da ilha, ou seja, isenta de impostos por transportar o correio oficial; e a Corporación

Inalámbrica Cubana S.A. de radio e telégrafo (Jimenez, 2000).

possibilidades legais e capitalistas de mudança da concentração fundiária. Sendo assim, a

guerrilha do Movimento Revolucionário 26 de Julho deu início à redistribuição de terras pela

via armada, antes mesmo de chegar ao poder, a partir da lei nº 3 da Sierra Maestra de outubro

de 1958. Isso lhe conferiu, como se sabe, crescente prestígio com o campesinato, que em 1960

fundou a Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP), organismo da própria

revolução.

A reforma agrária cubana foi distributivista no início, entregando as superfícies

expropriadas pela guerrilha na forma do “mínimo vital” de 27 hectares por família de até

cinco pessoas. Já nos primeiros meses do governo revolucionário, a primeira lei de 17 de maio

de 1959 proibiu a existência de latifúndios maiores que 402 hectares, incluindo raras exceções

para propriedades de alta produtividade. Sob a lei de reforma agrária, 1,2 milhões de hectares

foram expropriados dos latifundiários nacionais e estrangeiros no período de dois anos. As

leis de nacionalização n°851 e 890 de 1960 expropriaram mais 2,1 milhões de hectares

(Chonchol, 1961, p. 28). Já a segunda lei de reforma agrária, de 10 de outubro de 1963,

eliminou definitivamente o latifúndio, restando somente as propriedades privadas menores

que 67 hectares, a maioria delas politicamente organizadas pela ANAP. Ao final da aplicação

da segunda lei, em dezembro de 1963, 60% das terras agricultáveis da ilha eram estatais e

40% ocupadas por pequenas propriedades privadas.

Entre 1961 e 1962, ocorreu um debate agrário a respeito das novas formas de

propriedade estabelecidas pela revolução, com participação de técnicos estrangeiros e

dirigentes cubanos. Entre os estrangeiros se encontravam os agrônomos Jacques Chonchol,

Michel Gutelman e René Dumont, que foram a Cuba a convite do governo para assessorar a

reforma. Os três defendiam a forma de cooperativas mistas como mais adequada às condições

técnicas e econômicas da ilha16. Porém, dentro do governo revolucionário a posição

hegemônica era pela criação de Granjas Estatais e o assalariamento geral dos trabalhadores

rurais.

Apesar da força argumentativa dos agrônomos estrangeiros, que alertavam para os

perigos da eliminação abrupta do excedente privado local, a posição do governo estava em

consonância com uma porção expressiva do campesinato cubano, que durante os meses da

16 A gestão mista combinava direção local da cooperativa, eleita em assembleia, com administradores estatais. A

possibilidade da acumulação de excedente privado nas cooperativas era um dos principais argumentos dos

agrônomos estrangeiros em defesa da preservação da produtividade agrícola (Vasconcelos, 2015). Sobre a

participação de Jacques Chonchol como engenheiro agrônomo da FAO na reforma agrária cubana, ver a

entrevista Chonchol & Vasconcelos, 2012.

safra canavieira se assalariava, desenvolvendo uma experiência subjetiva híbrida, camponesa

e proletária. A transmissão da memória coletiva das inúmeras espoliações sofridas pelas mãos

da Guarda Rural desde o século XIX, porém, tornou esse sujeito híbrido mais confiante no

assalariamento do que na posse da terra17. Sendo assim, em setembro de 1962, um

Congresso Nacional de Cooperativas decidiu pela conversão de todas as cooperativas em

granjas estatais, com 1.381 votos favoráveis e 3 contrários (Fernandes, 2007, p. 186). O

debate agrário sobre cooperativas e granjas estatais ocorrido entre 1961 e 1962 antecipará as

principais polêmicas da transição socialista desenvolvidas no grande debate econômico

cubano dos anos seguintes (Pericás, 2004; Vasconcelos, 2011, 2015).

Desde então, a tendência estatizante da agricultura cubana foi hegemônica até os anos

1990. Mas o governo cubano buscava distanciar-se da traumática experiência stalinista da

coletivização forçada, defendendo o “princípio da voluntariedade”. Ao mesmo tempo, criou

uma ambígua política de “coletivização voluntária”, pela qual estabelecia vantagens

econômicas aos camponeses que entregassem suas terras ao Estado e se assalariassem. Tal

política não alcançou a velocidade esperada de redução da propriedade privada, gerando a

opinião, entre a nova burocracia estatal, de que a economia camponesa poderia ser uma das

culpadas pelo insucesso das metas da Junta Central de Planificação (JUCEPLAN). É nesse

contexto que se inicia o período da “ofensiva revolucionária” de 1967.

É certo que a Guerra Fria fazia de Cuba uma verdadeira panela de pressão. O governo

sentia uma necessidade geopolítica de comprovar que o modelo estatal cubano era viável e

superior ao capitalismo periférico, não somente em termos sociais, mas também econômicos.

A permanente ameaça de invasão estadunidense e as divergências programáticas entre Cuba e

União Soviética, a primeira progressivamente mais estatizada e a segunda cada vez mais

flexível, exigiam que o governo cubano comprovasse a todo custo suas capacidades técnicas e

políticas. Diante dessa situação, o Estado empreendeu um processo violento contra o

campesinato, convertendo a safra de 1970 na tábua de salvação do socialismo (Vasconcelos,

2016a). Esse processo violento foi chamado por René Dumont de “terceira reforma agrária”,

uma vez que reduziu a superfície agrícola do campesinato de 40% para 15% entre 1964 e

1970 (Gutelman, 1975, p, 88; Valdés Paz, 2009, p. 51). Mais tarde, a ANAP realizou balanços

17 Segundo o cubano José Acosta, estudioso da história agrária, “a produção açucareira determinou o surgimento

e desenvolvimento de um proletariado agrícola com um peso relativo majoritário no total da população rural”

(1972, p. 80-1).

e autocríticas públicas da sua atuação nesse período durante o Congresso de Pequenos

Agricultores de 1971 (Barrios, 1987).

No fundo, a “terceira reforma agrária” seria também resultado direto de uma polêmica

estratégia de construção do socialismo pela monocultura. Esse tema, o regime de cultivos, foi

certamente um dos mais difíceis para a revolução cubana. Há uma frase atribuída a Jean-Paul

Sartre que sintetiza a estupefação gerada pela ideia de um socialismo canavieiro: “edificar

sobre o açúcar é melhor do que edificar sobre a areia?” (apud Galeano, 2004, p. 86). As

fragilidades de uma sociedade monocultora eram conhecidas dos dirigentes revolucionários e

dos economistas da esquerda cubana. Por que, então, não puderam realizar a devida

diversificação produtiva e comercial que propunham em 1959? Desde José Martí, a ideia da

diversificação comercial se transformara em uma bandeira dos setores reformistas, sem que

houvesse, porém, espaço para reformas dentro do enquadramento político capitalista18. Estava

nítido também que a diversificação produtiva e a diversificação comercial eram duas partes

interdependentes da mesma mudança, argumento que o mexicano Juan Noyola reforçou em

suas conferências sobre desenvolvimento econômico para trabalhadores cubanos nos

primeiros três anos da revolução (Noyola, 1978).

Entre 1959 e 1963, a diversificação agrária cubana foi acelerada. Embora

correspondesse a uma diretriz do governo revolucionário, tratou-se muito mais de um

processo espontâneo e desorganizado, decorrente de uma série de fatores. O bloqueio

econômico estadunidense, propagado por quase toda a América Latina e Caribe com alta

velocidade, havia estrangulado as importações alimentares, que desde 1958, correspondiam a

20% da pauta importadora da ilha (Barkin, 1976, p. 136). Essa súbita dificuldade coincidiu

com um aumento da demanda interna por alimentos, decorrente da rápida melhoria da renda

do trabalhador cubano. Apenas em 1959, houve aumento de 22% dos salários e a tarifa

elétrica foi reduzida em 30% (Piñero, 1960, p. 85). A política de ampliação dos serviços

públicos, estatais e gratuitos contribuiu para a melhoria rápida da qualidade de vida da

população pobre. Ademais, o uso da capacidade produtiva ociosa, na contramão da lógica

especulativa, permitiu uma política de emprego de alta absorção de mão de obra no setor

18 Nunca é demais relembrar as clássicas palavras de Martí na Conferência Monetária das Repúblicas da América

em 1891, posteriormente reproduzidas por Che Guevara na Conferência de Punta del Este de 1961, que originou

a Aliança Para o Progresso: “É preciso equilibrar o comércio para assegurar a liberdade. O povo que quer

morrer, vende a um só povo, e o que quer salvar-se, vende a mais de um. O influxo excessivo de um país no

comércio de outro, se converte em influxo político. (...) O primeiro que faz um povo para dominar outro, é

separá-lo dos demais povos. O povo que quer ser livre, seja livre em negócios. Distribua seus negócios entre

países igualmente fortes” (Martí, 2005, p. 154-155).

estatal. Os resultados foram muito rápidos: entre 1957 e 1963, os postos de trabalho

aumentaram em 25%, ocupando mais de 50% da mão de obra cronicamente desempregada.

Nesse período, 425 mil pessoas ingressaram no mercado de trabalho, dissolvendo o

desemprego estrutural (CEPAL, 1964, p. 272). A diversificação agrária inicial também

foi fruto da crise do neocolonialismo, pois as relações com os Estados Unidos desmoronavam

sem que houvesse um cenário futuro nítido. Com medo da fome, os trabalhadores do campo

se lançaram a produzir roças de subsistência, gerando um mosaico de pequenas culturas

diversificadas. Com isso, em 1963, constatou-se a redução da superfície canavieira em 15%

em relação a 1959 (CEPAL, 1964, p. 287). Sendo a principal fonte de divisas da ilha, essa

situação acarretou sérios desequilíbrios nas contas públicas, que só foram sanados por

empréstimos soviéticos a baixos juros.

Tais desequilíbrios preocuparam a direção revolucionária que, para cumprir suas

promessas de investimentos sociais, precisavam de divisas. O governo tomou então a decisão

de desacelerar o processo diversificador e adiá-lo. A nova estratégia de transformações

agrárias se baseou no convênio assinado com a União Soviética em dezembro de 1963,

através do qual Cuba prometia vender 24,1 milhões de toneladas de açúcar aos soviéticos até

1970 em troca de uma série de vantagens econômicas: preços estáveis e altos pelo açúcar,

preços baixos pelo petróleo, empréstimos a juros simbólicos e prazos flexíveis, assessorias

técnicas e investimentos produtivos na ilha (Gutelman, 1975, p. 233).

O acordo não significou adesão instantânea de Cuba ao modelo soviético, que só teria

sido efetivamente adotado depois de 1970. Para justificar a falta de alternativas da ilha diante

da oferta soviética, Roberto Regalado utiliza a ideia da “revolução insertada” (Regalado,

2012). O fortalecimento das ditaduras anticomunistas no entorno cubano teria obstruído a

possibilidade de diversificação comercial regional e, consequentemente, de diversificação

produtiva. Segundo esta interpretação, o entorno hostil fez do acoplamento ao comércio

soviético a única opção. Ainda assim, os revolucionários cubanos traçaram um plano futuro

de diversificação agrária, paradoxalmente alavancado pela monocultura e pelo próprio

convênio soviético, apostando em um grande salto a partir da safra de 1970. A ideia era

radicalizar a monocultura, expandir seus excedentes ao máximo e com eles financiar a

diversificação agrícola, criando condições de desenvolvimento para a siderurgia do níquel19.

19 A essa estratégia, David Barkin, economista estadunidense que viveu em Cuba nos anos 1970, deu o nome de

“turnpike”, isto é, a tentativa de alcançar um destino (a diversificação) pelo caminho mais longo (a monocultura)

percorrido a uma velocidade mais rápida (a safra de 1970) (Barkin, 1976).

A estratégia turnpike sucumbiu por diversos motivos, sobretudo o fracasso da safra de

1970 e a acomodação do Estado cubano a uma situação relativamente confortável de

acoplamento20. Ademais, era a conjuntura específica da Guerra Fria que gerava as vantagens

geopolíticas da União Soviética no financiamento externo contínuo do socialismo cubano,

uma vitrine desestabilizadora do capitalismo latino-americano. Desfeitas tais condições, o

esquema cubano do “socialismo monocultor” desabou, dando origem a um dos períodos mais

difíceis da história da ilha. O desmoronamento do sistema agrário cubano nos anos 1990 foi

resultado direto das limitações da monocultura como motor de um sistema socialista. A crise,

entretanto, não foi suficiente para demover do poder os grupos ligados à revolução, que hoje

desenvolvem outros modelos de agricultura21.

Consideramos, por fim, que a esquerda latino-americana pode aprender muito com a

história agrária de Cuba, desde que não reduza suas análises ao maniqueísmo pueril de “erros”

e “acertos” mal examinados. Para isso, é preciso estar disposto a identificar, sem agendas pré-

determinadas, a real margem de decisão dos sujeitos políticos e as constrições estruturais e

conjunturais a eles impostas pela história.

3. Reforma agrária e socialismo no Chile

Após perderem o controle da economia cubana e serem derrotados na invasão da Baía

dos Porcos em abril de 1961, os Estados Unidos foram levados a alterar sua estratégia de

manutenção da ordem continental. Foi constituída a Aliança para o Progresso, uma plataforma

de reformas estruturais patrocinadas pelo capital monopolista estadunidense, inspiradas nas

formulações cepalinas. A iniciativa foi formalizada no encontro do Conselho Interamericano

Econômico e Social em agosto de 1961 no Uruguai, dando origem à Carta de Punta del Este.

Com uma retórica que mimetizava o léxico das esquerdas, o documento exaltava a “vocação

revolucionária” da América e estabelecia doze objetivos para as nações latino-americanas,

entre eles, a reforma agrária (OEA, 1962, p. 621-623). Como um antídoto para novas

revoluções, a Carta foi aprovada na mesma reunião em que o bloqueio econômico contra

Cuba disseminou-se, embora a ilha fosse o país que mais se aproximasse de algumas

20 Sobre a safra de 1970 ver Vasconcelos, 2016a. Sobre a dependência externa de Cuba, ver Vasconcelos, 2016b.

21 Sobre a agricultura cubana do século XXI, ver Marcos & Fabrini, 2010 e Thomaz, 2016.

diretrizes elencadas no mesmo evento22. Tratava-se, enfim, de uma política bem-sucedida de

deslocamento da CEPAL para o polo oposto à revolução cubana, por meio do financiamento

externo de reformas tuteladas. Uma fusão do reformismo com o imperialismo foi criada para

fazer face ao reformismo revolucionário

É nesse contexto que a reforma agrária chilena23 se tornou um discurso comum

enunciado pela Aliança para o Progresso, por setores das elites nacionais, incluindo a

Sociedade Nacional de Agricultores (SNA), e pelo presidente Jorge Alessandri, um político

independente da direita, eleito em 1958 com apoio de Liberais e Conservadores. Em 1962,

empréstimos baseados na Aliança para o Progresso foram demandados por Alessandri a

Washington (Garrido, 1988, p. 83; O’Brien, 1969, p. 462).

A reforma agrária era uma demanda antiga no Chile. A retórica da distribuição

fundiária via “colonização” já fazia parte da política chilena há pelo menos 30 anos,

sedimentando expectativas de acesso a terra repetidamente frustradas (Garrido, 1988, p. 54).

Sendo um país exportador de minérios, ao contrário de Cuba, a agricultura chilena nunca

representou a principal fonte de divisas, mas sim a possibilidade de substituição de

importações alimentares24. Esse foi um diferenciador fundamental em relação ao debate

agrário da esquerda cubana. A alta rentabilidade do salitre e depois do cobre tornou o norte

chileno um eixo territorial de exportação. Enquanto isso, a fronteira sul, além de não

representar lucros tão promissores, ofereceu uma histórica resistência mapuche, que garantiu

por longo tempo um efetivo controle territorial indígena da Araucanía ao sul do rio Bío-Bío,

assinando tratados fronteiriços com espanhóis e chilenos25. Na segunda metade do século

XIX, o Estado chileno intensificou uma ofensiva militar intitulada “Pacificação da

Araucanía”, produzindo um massacre e territorializando, enfim, o Estado capitalista chileno

(Klubock, 2014, p. 14). Desde então, os mapuche remanescentes passaram a reivindicar seu

22 Pouco depois, em 31 de janeiro de 1962, Cuba seria expulsa da OEA e Che Guevara denunciaria a Aliança

para o Progresso como uma “gran estafa que se hace a los pueblos de América” (Guevara, 2003, p. 52).

23 Objeto de minha atual investigação de doutorado no Programa de Pós-Graduação em História Econômica da

USP, com orientação do professor Jorge Grespan.

24 Entre 1925 e 1980, a exportação de cobre e nitratos representou entre 40% e 70% das exportações do país

(Furtado, 1969, p. 232; Winn, 2010, p. 63). Em 1961, somente 29% da população economicamente ativa

trabalhava na agricultura chilena. No mesmo ano, o percentual de trabalhadores agrícolas alcançava 70% a 90%

em outros países latino-americanos (Garrido, 1988, p. 88).

25 Em 1641, foi assinado o Tratado de Quillin, pelo qual os espanhóis reconheceram a autonomia territorial

mapuche. Em 1825, foi firmado o Tratado de Tapihue entre chilenos e mapuches, renovando o princípio da

autonomia recíproca. Durante o século XIX, os mapuche chamavam o território ao norte do rio Bío-Bío de “El

país” e diziam “La Tierra” para a fronteira Sul que ocupavam (Correa; Molina; Yáñez, 2005).

direito às “terras usurpadas”, luta que impactaria a reforma agrária conduzida pela Unidade

Popular26.

Em 1962, o governo de Alessandri aprovou a lei 15.020, alinhada com a Aliança para

o Progresso. Estabeleceu-se a possibilidade de expropriação de terras (antes inexistente),

porém mediante indenização com preços de mercado, o que na prática tornaria a reforma

agrária impossível (Chonchol, 2016b). Seu objetivo era mercantilizar a terra e difundir a

propriedade privada individual no campo, preservando os mecanismos de reconcentração

fundiária. Tais intenções conformavam a substância conservadora de uma política reformista

e serão retomadas com o projeto agrário pinochetista. Como era de se esperar, a lentidão da

distribuição de terras não foi superada com a nova armadura jurídica de 1962, um dos motivos

pelos quais Alessandri chegou desgastado ao pleito de 196427.

Na década de 1960, a estrutura agrária do Chile correspondia àquilo que Celso Furtado

denominou binômio minifúndio-latifúndio (Furtado, 1981, p. 97). Em 1965, 2% das

propriedades agropecuárias do país controlavam 55% da superfície agrícola nacional, ao

passo que 81% delas ocupavam somente 9,7% da superfície (Barraclough & Fernandez,1974).

Como resultado de um extenso processo de concentração fundiária, os trabalhadores da terra,

em sua maioria, não eram proprietários e estabeleciam diferentes relações de trabalho com os

latifundiários. Entre eles, estavam os inquilinos, trabalhadores permanentes de fazendas, que

de geração em geração eram submetidos a um nexo servil e paternalista com os latifundiários,

repetidamente usados como base eleitoral compulsória; os afuerinos, que realizavam serviços

temporários e sazonais, alternados com a subsistência em minifúndios; e os medieros,

camponeses que repartiam sua produção com os proprietários (Bengoa, 2015; Chonchol,

2016a, 2016b).

Em 1964, a reforma agrária foi um dos temas centrais das eleições vencidas pelo

Democrata-Cristão Eduardo Frei. Seu slogan, “uma revolução em liberdade”, novamente

indicava o temor da cubanização do Chile, refletida também no aporte financeiro que

26 Além da guerra, um processo colonizador contínuo massacrou os mapuche ao longo dos séculos XIX e XX, já

que sucessivos governos adotaram a política de ocupação ilegal da Araucanía com “comunidades de

proprietários” brancos. As desvantagens dos mapuche no terreno jurídico foram exploradas para legalizar um

intenso processo espoliador (Correa; Molina; Yáñez, 2005). Como analisou Boaventura de Sousa Santos, a

dominação epistemológica era e é uma arma fundamental da acumulação capitalista. Nesse caso, os sistemas de

justiça dos colonizadores, ao conferir a “ilusão do direito”, absorveram energia da luta mapuche para batalhas

perdidas dentro das instituições (Santos, 2011).

27 Para Jacques Chonchol (2016b), o fato da primeira lei de reforma agrária da história do Chile ter sido

emplacada por um governo da direita significou uma grande vantagem simbólica para a esquerda.

empresas estadunidenses dispenderam em sua campanha. Vencedora com 54% dos votos, a

centrista DC atravessou anos de tensão interna e dissidência devido à polarização cada vez

mais acirrada entre as alas direita e esquerda do partido (Winn, 2010, p. 53; O’Brien, 1969, p.

462). Tal acirramento culminou, em 1967, com uma nova lei de reforma agrária, gestada no

interior do governo democrata-cristão por visível influência de sua ala esquerda, da qual

participava Chonchol como vice-presidente do INDAP (Instituto Nacional de

Desenvolvimento Agropecuário). Posteriormente, Chonchol romperia com a DC, fundaria o

Movimiento de Acción Popular Unitária (MAPU) e ingressaria na Unidade Popular,

tornando-se uma figura chave no governo Allende como ministro da Agricultura. Pouco

depois, o MAPU atravessaria outra dissidência, que resultou na formação da Izquierda

Cristiana (IC).

Três novidades importantes marcaram a nova lei de 1967. A primeira foi a categoria

assentamento, como etapa transitória entre a distribuição da terra pelo Estado e a propriedade

privada individual. A possibilidade da propriedade coletiva da terra foi objeto de intensas

críticas da parte das associações latifundiárias. A segunda foi o limite de tamanho da

propriedade a 80 hectares de riego básico28 (HRB). Além disso, propriedades maiores que 40

HRB que permanecessem ociosas teriam três anos para serem produtivas ou seriam

expropriadas (Barraclough & Fernandez, 1974). Em terceiro, a lei permitia a sindicalização

rural e acelerou o processo de organização da luta camponesa pela base (Chonchol, 2016a).

Embora reformador, Eduardo Frei não pretendia perder o controle do processo de

modernização capitalista. Mas suas concessões à esquerda, ao invés de apaziguarem os

ânimos da luta de classes, catalisaram uma radicalização social e política que abriu caminho

para vitória eleitoral de Salvador Allende em 1970 com apenas 36% dos votos, representando

a Unidade Popular (PC, PS, MAPU, IC). Desencadeou-se assim um processo inédito na

história do continente: uma transição socialista desbravada por dentro das vias institucionais

(Sader, 1982).

Com a eleição de Allende ocorreu um acirramento das tensões sociais no campo e nas

cidades. Ao criar as áreas de propriedade social (APS), o governo da Unidade Popular abriu

caminho para modificação radical das relações sociais de produção nas fábricas. Em Santiago,

os cordões industriais se organizaram como uma experiência nova de poder popular, com

28 HRB foi uma unidade técnica criada na Lei 16.640 (art. 172) para permitir comparações de terras com graus

diferentes de fertilidade, relativizando o tamanho em superfície como critério único de expropriação (Garrido,

1988, p. 163).

assembleias e comitês de trabalhadores tomando decisões horizontais sobre as atividades de

produção. A radicalidade transformadora dos cordões, tanto na vida de cada trabalhador,

quanto na organização econômica de toda a sociedade, conduziu as divergências entre os

partidos da esquerda aos seus limites (Borges, 2015).

No caso da reforma agrária, a lei de 1967 ofereceu arcabouço suficiente para que

Allende não necessitasse alterá-la de imediato, conseguindo acelerar a redistribuição da terra

com respaldo legal do governo anterior. Simultaneamente, movimentos sociais camponeses e

as comunidades mapuche renovaram seu fôlego de luta pela terra, organizando tomas para

forçar expropriações. Na Araucanía, o sucesso da toma do Fundo Ruculán, mais tarde

assentamento Nicolás Ailío, por uma comunidade mapuche em aliança com militantes do

MCR (Movimento Campesino Revolucionário, ligado ao MIR), desencadeou uma série de

outras tomas espontâneas (Winn, 2010, p. 95). Estudantes da Universidade de Concepción

agitaram o slogan “Arauco vuelve a la lucha” em defesa das tomas mapuches e da

recuperação das terras usurpadas (Chonchol, 2016b).

Quando Chonchol assumiu o ministério da Agricultura, em novembro de 1970, a luta

social da fronteira sul estava tão efervescente que Allende lhe recomendou transferir o

ministério para Temuco. Durante três meses, Chonchol despachou a expropriação de 150 mil

hectares devolvidos aos indígenas, diretamente da Araucanía, embora a lei de 1967 nada

mencionasse sobre “terras usurpadas” ou mapuches. Nessa circunstância, ocorreu um

impasse: um conflito entre povos mapuche e pequenos proprietários descendentes dos

usurpadores do século XIX. Segundo Chonchol, “nós, por nenhum motivo queríamos

expropriar aos pequenos agricultores, porque era dar uma arma à direita, que dizia que a

reforma agrária ia terminar com todos os agricultores possíveis” (Chonchol, 2016b). Além das

ameaças da direita parlamentar chilena, com quem Allende buscava mediar, tal conflito

evidenciava outra dificuldade relevante para as atuais esquerdas latino-americanas, sintetizada

nos limites da palavra de ordem “a terra para quem a trabalha”. A ausência da menção aos

povos indígenas na lei de reforma agrária evidenciava certa limitação teórica e política do

marxismo no trato da questão indígena. O que fazer com os povos que “não trabalham” e

sequer possuem essa ideia dentro de seus sistemas de pensamento e cultura?29

Outro conflito desencadeado pela radicalização da reforma agrária ocorreu entre os

diferentes tipos de trabalhadores rurais mencionados. A expropriação “propriedade a

29 Essa pergunta é central para a investigação de doutorado em andamento.

propriedade” privilegiava os inquilinos em relação aos afuerinos, que circulavam pelo

território de modo itinerante e não mantinham um vínculo fixo com as fazendas, perdendo

muitas vezes a chance de participar da sua redistribuição. Nesse contexto, para que os

inquilinos não fossem privilegiados em relação aos outros trabalhadores rurais, surgiu a

proposta de expropriações de um grupo de fazendas e formação dos Centros de Reforma

Agrária (CERA). Os CERA eram grupos de assentamentos organizados como propriedade

coletiva transitória, compartilhando máquinas e, sobretudo, canais de representatividade com

o governo. A ideia era que, ao cabo de três anos de capacitação administrativa e experiência

de trabalho coletivo, os trabalhadores tomassem uma decisão sobre a forma econômica que

melhor se adequava às expectativas do grupo30.

Em meio ao acelerado processo de reorganização do campo chileno, a vanguarda

partidária mirava o futuro e buscava definir seus próximos passos. Muitos dos conflitos entre

PC, PS, IC, MAPU e MIR pautavam estratégias para um tempo que não chegou a existir.

Entre elas, os métodos de decisão que seriam adotados pelos CERA sobre as formas de

propriedade definitivas após os três anos de experiência. Enquanto os comunistas defendiam a

consulta aos Conselhos de Reforma Agrária, formados por representantes de entidades, os

socialistas defendiam os Conselhos pela Base, isto é, assembleias com voto direto. Os

Conselhos de Reforma Agrária foram estabelecidos por decreto presidencial. Os Conselhos

Pela Base, dos socialistas, chegaram a ocorrer sem vinculação legal em alguns lugares.

Entre as principais acusações da direita contra o governo Allende estava a

coletivização da propriedade da terra: criados por decreto, os CERA e os CEPRO foram

apontados como inconstitucionais. Quando o golpe militar foi desferido em setembro de 1973,

a transição socialista chilena sofreu uma violenta reversão e um processo de contrarreforma

agrária. A política agrária de Pinochet eliminou a propriedade coletiva da terra e chegou a

lotear inclusive terras indígenas em propriedades privadas individuais, desenvolvendo, por

exemplo, o Projeto Perquenco, que visava a “capacitação técnica” de “pequenos proprietários

mapuches” (Garrido, 1988, p. 196-197). Ao buscar converter mapuches em pequenos

empresários capitalistas, o regime Pinochet encarnava com brilhantismo a proposta da

Aliança Para o Progresso, fundindo de maneira pioneira o “reformismo-imperialismo” com os

primeiros rascunhos das narrativas neoliberais. A divisão da terra em propriedades privadas

30 Outra propriedade coletiva que surgiu à época eram os Centros de Produção (CEPRO). Eram estatais e quase

só existiram em Magallanes, em zonas de produção de ovelhas (Garrido, 1988, p. 107).

individuais foi uma estratégia de mercantilização, acumulação por espoliação e desterro dos

povos originários.

A reforma agrária no Chile foi obstruída não somente pelas oligarquias rurais, mas

especialmente por burguesias consideradas “modernas”, por grupos tecnocráticos de poder e

pelas forças de inteligência estadunidense. Nesse contexto, o reformismo cepalino atolou,

perdendo espaço para o “reformismo-imperialismo”, por um lado, ou para o reformismo

socialista, por outro. A ideia de reformismo tornou-se, então, a antessala de projetos radicais,

fossem de direita, patrocinados pela Aliança para o Progresso, ou fossem de esquerda,

agitados pela militância marxista ou pelos movimentos populares. Com a onda de ditaduras

macarthistas no Cone Sul e a derrota geral das esquerdas no século XX, a captura do

“reformismo” pela direita repercute até hoje nas concepções hegemônicas de reforma agrária

e no poder político sobre os significados das palavras.

4. Considerações finais

Nas epígrafes deste texto, Carlos Rafael Rodríguez e Jacques Chonchol, protagonistas

políticos das reformas agrárias analisadas, criticam a posição dos “reformistas lentos”, isto é,

aqueles que defendem processos graduais de mudanças agrárias no continente. Para eles, o

reformismo lento não seria capaz de atingir a profundidade e velocidade necessárias para que

os objetivos anunciados por seus próprios defensores pudessem se concretizar. Políticas de

reformismo lento serviriam, então, como válvula de escape do capitalismo dependente, uma

espécie de descompressor, cuja abertura e fechamento permaneceriam controlados pelos

grupos oligárquicos ou pela burguesia tecnocrático-modernizadora. No momento em que o

reformismo lento ultrapassasse certos limites ou que as crises estrangulassem o excedente

econômico para sua realização, podem ser rapidamente substituídos, com maior ou menor

grau de violência, pelos “projetos tradicionais”. A funcionalidade do reformismo lento para o

sistema de desigualdades do capitalismo dependente, portanto, precisaria ser historicamente

examinada por todos os genuínos reformistas. Esse argumento foi insistentemente

desenvolvido por Carlos Rafael Rodríguez nas reuniões da CEPAL da década de 1960

(Rodríguez, 1983).

Quando a CEPAL tomou oficialmente a decisão de aderir à Aliança para o Progresso e

tornar-se cúmplice do bloqueio contra Cuba, ocorreu um marco na história da reforma agrária

e das chamadas reformas estruturais. A concepção de reforma agrária da Aliança para o

Progresso foi tão fortalecida e bem sucedida na manutenção da ordem continental que se

tornou definitivamente o conteúdo hegemônico do termo até os dias atuais. A “reforma

agrária a conta-gotas”, confundida com colonização, tanto quanto a “reforma agrária

tecnocrática” confundida com revolução verde (Mota, 2009) permitem que a dinâmica

mercantil-espoliadora da concentração fundiária desfaça toda noite o trabalho realizado

durante o dia. Assim, enquanto o senso comum crê que existem políticas de reforma agrária

por assentamentos, nas estruturas silenciosas permanece o mesmo processo de concentração

fundiária, que estrangula o espaço de populações camponesas e indígenas. A flexibilidade da

válvula de escape permite o ajuste do número de assentamentos de acordo com a necessidade

política ou econômica de cada conjuntura. A ordem latifundiária nunca é ameaçada. Enquanto

existirem sujeitos políticos do reformismo lento capazes de domesticar os movimentos de

base nos ritmos que convêm, tanto mais eficiente será a manutenção da ordem. A ideologia

da modernização e da revolução verde também capturaram com sucesso os significados da

reforma agrária. A confusão semântica acerca do termo é extremamente funcional aos

defensores do agronegócio, do mercado de agrotóxicos e das multinacionais das sementes

transgênicas.

Será possível retomar a disputa em torno do termo “reforma agrária”? Quais palavras

com novos conteúdos políticos poderiam amalgamar as lutas contra o latifúndio? Seria a

agroecologia o novo programa das esquerdas, munidas de uma palavra ainda não capturada

pela ordem? Quais os seus desafios e limites? Enfim, as experiências agrárias do socialismo

cubano e chileno podem representar parâmetros históricos e políticos sobre os caminhos

percorridos e ainda por percorrer pelas esquerdas latino-americanas.

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