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REFORMA E PERMANÊNCIA NA UFF: ESTUDANTES POBRES SOB A
ÓTICA DA POLÍTICA EDUCACIONAL
Anderson Paulino da Silva35 IESP/UERJ
Giselle Pinto36 PUC-Rio
Eixo temático: Políticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Comunicação Oral
I - INTRODUÇÃO
Estruturado sob o prisma da Reforma de 1968, o sistema de ensino superior no Brasil
compõe uma complexa rede de instituições públicas e privadas, que podem ser
diferenciadas e dispostas hierarquicamente de acordo com suas finalidades econômicas,
sociais e culturais. Essa característica se origina de um processo de “expansão”
orientado para a criação de vias de ascensão para a classe média emergente no curso da
industrialização sem comprometimento dos gastos públicos, de onde se configurou um
quadro de expansão com contenção (Martins, 2009).
A restrição da demanda no setor público viabilizou a formação de um mercado sensível
aos serviços da rede privada. De acordo com a avaliação do Censo da Educação
Superior de 2010, o segmento privado de educação superior concentra 74% das
matrículas, onde a maior parte dos estudantes está alocada em instituições isoladas,
voltadas para a profissionalização do alunado para áreas específicas do mercado.
Já as instituições financiadas com recursos públicos, embora conservem o menor
percentual na taxa de matrícula, organizam-se predominantemente pelo modelo
universitário, com seu diferencial de qualidade destacado pela realização do binômio
ensino e pesquisa, principalmente por ser esta última desenvolvida de forma esparsa e
parcial na maioria das instituições privadas.
35 Doutorando em Sociologia pelo IESP/UERJ. Bolsista CNPQ. [email protected] 36 Doutoranda em Serviço Social pela PUC-Rio. [email protected]
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Esta divisão social do trabalho acadêmico ordena um princípio de hierarquização que se
estende a dimensão social, na medida em que estabelece uma reconhecida clivagem no
perfil dos estudantes que acessam a sua formação. Além disso, a gratuidade constitui
outro aspecto de oposição com as instituições privadas, e um dado extraordinário da
atratividade e seletividade da clientela que assenta os quadros discentes das
universidades públicas.
As desigualdades socioeconômicas no ensino superior têm seu prolongamento nas
décadas de 1980 e 1990 pela crise administrada pelo Estado, que manteve a retenção
dos investimentos no ensino superior. Com efeito, um movimento de reação começa a
se organizar a partir da década de 1990, quando tem início uma série de mobilizações
com vistas à ampliação do acesso das camadas populares aos espaços de excelência
acadêmica. Como expressão da aspiração das classes populares surgem então os cursos
Pré-vestibulares para Negros e Carentes e o movimento pela implementação de ações
afirmativas nas universidades públicas, liderada pelo movimento negro nacional.
Em 2003, a proposta das ações afirmativas, sob a forma da reserva de vagas, foi
incorporada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o que deu início a
um intenso debate sobre o papel social das universidades públicas. Cinco anos após,
mais de 1/3 das universidades públicas já adotavam alguma modalidade de ação
afirmativa no ingresso37. A Universidade Federal Fluminense, lócus do presente estudo,
adotou em 2007 uma política de bônus para estudantes de escolas públicas em
praticamente todos os cursos ofertados.
Paralelamente a isso, temos a retomada dos investimentos governamentais, através do
Programa de Apoio à Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI)
a partir de 2007. Aproveitando-se dos recursos dessa política de reforma, a UFF adota
uma política de agressiva expansão, orientada pela criação de novos cursos, e
principalmente, replicação de algumas formações em municípios do interior fluminense.
Como resultado dessa política a Universidade sai de um patamar de 3600 matrículas no
37 Mapa das Ações Afirmativas no ensino superior. LPP/UERJ, 2008. Disponível em http://www.lppbuenosaires.net/olped/acoesafirmativas
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início da década para mais 7 mil em 2010. No mesmo período, a proporção de
estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aprovados no vestibular salta
de 15,4% em 2004 para 32,7% em 2010.
Portanto, um aspecto importante que devemos considerar na investigação sobre a
incorporação dos estudantes pobres nos espaços de formação universitária está
relacionado à parcela do debate dedicada às suas possibilidades de permanência no
ambiente universitário. Em muitos casos, a disposição das instituições de ensino
superior para ampliação do acesso deste agrupamento social aparece desacompanhada
de uma efetiva disposição política para implantação de propostas de permanência, sem
as quais fica comprometido o processo de democratização do ensino.
Neste sentido, este artigo tem por objetivo analisar o atendimento à demanda por bolsas
sociais na Universidade Federal Fluminense, avaliando a efetividade da política de
permanência quanto ao perfil de renda apresentado pelos ingressantes no contexto de
expansão de matrículas observado na última década.
A metodologia da pesquisa recorre de dados da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis
(PROAES), do vestibular e dos relatórios de gestão anualmente divulgados pela
Universidade, estabelecendo a correspondência entre as características de renda dos
ingressantes e o atendimento operado pela política de assistência da UFF. E muito
embora devamos salientar a disposição dos gestores para o fornecimento das
informações, notamos que boa parte dos dados disponibilizados encontrava-se em meio
não digital, o que trouxe prejuízo para a amplitude das análises. Devido a organização
dos dados, portanto, neste primeiro momento da investigação, focalizaremos o ano de
2010.
Vale ressaltar que o procedimento que define o acesso a bolsas sociais é regido por
edital público, divulgado ao final do segundo semestre letivo de cada ano. Para acessá-
la os estudantes devem manifestar espontaneamente sua necessidade que é avaliada por
uma equipe de profissionais de Serviço Social, com base em critérios de natureza
estritamente socioeconômicos.
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Já os dados do vestibular são coletados no momento do processo seletivo. O
questionário segue um modelo padrão e as respostas são dadas de forma espontânea
pelos candidatos, que tem a opção de não fazê-lo.
II – A PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO
O movimento por mudança nos mecanismos de acesso ao ensino superior não seguiu no
mesmo compasso a preocupação pela permanência dos ingressantes beneficiados por
esta política. Dessa forma é preciso considerar que a diversificação da vida no campus
implica também no êxito na realização do ciclo que se complementa com a igualdade
nas oportunidades de participação e resultados entre os estudantes. Em outros termos,
podemos considerar que as ações de permanência devem ter por fim o aperfeiçoamento
institucional e o desenvolvimento da sociedade como um todo (Júnior e Zoninsein,
2004).
Desta perspectiva, pretendemos ressaltar a precedência das ações institucionais sobre os
recursos a quem recorrem os estudantes para assegurar seu percurso na vida acadêmica.
Todavia, a análise que aborda as condições de permanência dos estudantes de origem
popular no universo acadêmico deve ser considerada a partir de dimensões de duas
ordens. Uma primeira envolve a atenção às necessidades materiais dos estudantes,
manifestada em termos de deslocamento, vestimenta, alimentação e acesso aos recursos
indispensáveis à realização de seu curso, medidos na forma de recursos financeiros.
Outra dimensão, a simbólica, consiste na integralidade do envolvimento nas atividades
acadêmicas, que vão além da diplomação (Tenório e Vieira, 2009).
Esta divisão não significa a dissociação entre os fatores, que de outro modo poderia
implicar em comprometimento da política. De outro modo, a que se ter ainda
consideração às estratégias recorridas pelo estudante para assegurar a manutenção de
sua trajetória no ensino superior.
Zago (2006) observa nos déficits de formação no ensino médio e no tipo de relação
estabelecida com o mercado de trabalho os fatores mais decisivos das dificuldades de
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permanência e sucesso de estudantes de origem popular, “oriundos de famílias de baixo
poder aquisitivo e reduzido capital cultural” (idem, p.5) que ingressam em
universidades públicas de qualidade. Nas observações de sua pesquisa a autora nota a
concomitância com o trabalho como a alternativa mais considerada pelos estudantes
para a manutenção de suas necessidades, findo o “pé de meia” reservado para os
primeiros tempos na universidade.
Na pesquisa são incluídos na categoria de estudantes-trabalhadores todos aqueles com
ligação direta ou indireta com o mercado de trabalho formal ou informal e também os
situados na condição de bolsistas da universidade. Estes últimos, de um modo geral, se
distinguem pela carga horária mais curta de suas funções e por gozarem das vantagens
de uma maior inserção na vida acadêmica. Desta maneira, Zago (idem) emprega a
noção de estudante parcial para caracterizar os estudantes em função do grau de
inserção na vida acadêmica ou da prioridade dada aos estudos.
Avaliando dados sobre a Universidade Federal Fluminense, Silva (2006) apontou a
existência de 45% de estudantes-trabalhadores, observando o fato da menor parcela
destes estudantes estar concentrada nos cursos das áreas de formação tecnológica e
saúde. Conforme assinala o autor, a carga horária das disciplinas e o turno do curso são
variáveis com peso decisivo na formação da trajetória acadêmica dos estudantes.
Outra consideração sobre a possibilidade de permanência de estudantes pobres no
ensino superior remete à formação das redes de relações identificadas por Teixeira
(2003; 1998) como um dos aspectos mais determinantes tanto do acesso quanto da
permanência dos estudantes negros e pobres que ascendem ao ensino superior. Como
demonstrou a autora, a integração numa rede é o elemento que orienta e preserva o
projeto dos agentes no ambiente universitário, na forma de financiamento de boas
escolas, acesso a cursinhos pré-vestibulares, auxílio nos gastos com transporte,
alimentação ou mesmo de incentivos morais.
Contudo, consideramos que a explicação dada pela rede de relações não abarca a
totalidade dos casos, o que nos leva a partir para novas hipóteses e especulações. É
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nesse sentido que discutiremos a seguir o papel desempenhado pelas políticas
institucionais da universidade voltadas para a permanência e o sucesso dos estudantes.
III – POLÍTICAS INSTITUCIONAIS DE PERMANÊNCIA NA UFF
As políticas institucionais de apoio à permanência são compreendidas pelas ações de
assistência estudantil e incentivo ao desempenho acadêmico mantidas com recursos
próprios da universidade ou em articulação com os órgãos de fomento ao ensino e a
pesquisa. Em ambos os casos, a forma comum de operação destas políticas consiste na
transferência direta de recursos financeiros para os beneficiários sob a forma de bolsas
de apoio ao estudo.
As bolsas de incentivo ao desempenho acadêmico têm por norma a introdução e o
aperfeiçoamento dos estudantes para futuro exercício das atividades fins da instituição.
A gestão e a distribuição das bolsas são feitas diretamente pelos professores, segundo
critérios próprios, mas geralmente relacionados com seus interesses de pesquisa e
docência.
No caso das bolsas sociais, o acesso ao recurso aparece necessariamente atrelado à
comprovação da efetiva necessidade junto ao serviço de assistência estudantil. No caso
da UFF, a comprovação passa pelo preenchimento de formulários e a entrega de
documentos comprobatórios das informações. Em casos particulares a concessão do
benefício pode passar pela exigência de entrevista individual e visita da equipe de
assistentes sociais ao domicílio do solicitante para confirmação de sua condição
socioeconômica.
Estes requisitos, elaborados para atender os princípios de justiça e efetividade na
distribuição dos recursos, podem levar seus beneficiários à excessiva exposição de sua
privacidade. Além disso, em certos casos o recebimento dos recursos deve ser
convertida em horas de trabalho, em apoio não-especializado em setores da
universidade, não necessariamente relacionados com a área de formação do estudante.
Assim, o que deveria ser uma forma de apoio ao sucesso acadêmico pode se tornar um
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obstáculo, aceito por conta das dificuldades financeiras e pela oportunidade de ter
acesso às ferramentas da estrutura universitária, como telefones, computadores, internet
etc.
A partir de 2008, os recursos alocados para a realização da política de permanência
passou a estar orientado pelos objetivos do Plano Nacional de Assistência Estudantil
(PNAES), criado pelo Ministério da Educação, no rastro aberto pelas propostas de
ampliação do acesso ao ensino universitário. O objetivo do programa é viabilizar
através de diversas ações organizadas pelas universidades a igualdade de oportunidades
entre todos os estudantes e contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico, a
partir de medidas que busquem combater as situações de repetência e evasão,
identificadas como os maiores problemas enfrentadas pelos estudantes de baixa renda.
No gráfico 1 apresentamos a variação da oferta de ambas as modalidades de bolsas na
UFF entre 2005 e 2012, conforme dados disponíveis nos relatórios de gestão anual da
Universidade.
Gráfico 1 – Expansão do número de bolsas na UFF – 2005 a 2012
Fonte: relatório de gestão da Universidade Federal Fluminense, 2005-2012.
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Como resultados dos recursos disponibilizados pelo PNAES, concomitante aos
programas de inovação científica patrocinado pelas agencias governamentais de
fomento, podemos identificar a partir de 2009 um consistente movimento de expansão
em todas as modalidades de bolsas, tanto as sociais quanto as de desenvolvimento
acadêmico. As primeiras se compõem pelas bolsas de alimentação, treinamento e
transporte. As bolsas de desenvolvimento acadêmico são compostas pelas bolsas de
extensão, monitoria e pesquisa.
Dentre estas últimas, a bolsa de monitoria foi aquela que apresentou menor variação na
taxa de crescimento, muito embora não tenha conservado a maior oferta dentre todas as
modalidades analisadas. Importa, no entanto, dizer que estas bolsas são pagas com
recursos da própria universidade. As bolsas de extensão apresentaram crescimento de
60%, partindo de um faixa de 300 bolsas para 500 em 2011. Em 2012 houve redução na
oferta nessas bolsas, mantidas na faixa de 400. O crescimento mais expressivo dentre as
bolsas oferecidas nesta modalidade é observado nas bolsas de pesquisa, como resultado
da política de incentivo a produção científica patrocinada pelo governo federal, que faz
triplicar o número de bolsas de iniciação em 2012.
Entre as bolsas sociais, a maior expansão foi verificada na bolsa treinamento que se
eleva da faixa de 200 bolsas para a faixa de 900. O mesmo movimento é acompanhado
pelas bolsas de alimentação. Entretanto, diferente das outras bolsas nesta modalidade,
esta bolsa consiste na concessão de autorização para realização das refeições no
restaurante universitário. As bolsas transportes foram criadas apenas em 2010, o que
pode ser apresentado como um indicativo das novas demandas apresentadas pelos novos
ingressantes. Em 2012 o número total dessas bolsas aparece situado pouco acima de
200.
Considerada a dimensão assumida pelas bolsas de treinamento para a estrutura da
política de permanência no interior da Universidade, nos dois quadros a seguir fazemos
uma análise da sua execução com fins a apreciar a efetividade quanto a demanda
apresenta pelos estudantes pobres incorporados pela instituição. Desta forma, listamos
no quadro 1, os dez cursos com maior proporção de estudantes com renda familiar de
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até um salário mínimo, condição que os torna elegíveis às bolsas sociais da
Universidade, separados por interior e sede.
Quadro 1 – Ingressantes com renda inferior a um salário mínimo por curso –
interior e sede, 2010 Campus Interior Campus Niterói
Curso (%) curso (%) Pedagogia (Pádua) 24,0 Pedagogia 14,3
Matemática (Pádua) 18,8 Letras 12,3
Serviço Social (Campos) 11,9 Matemática 11,6
Fonoaudiologia (N. Friburgo) 10,5 Serviço Social 10,7
Serviço Social (R. Ostras) 10,2 Filosofia 7,6
Geografia (Campos) 8,8 Ciências Contábeis 7,5
Pedagogia (A. dos Reis) 8,3 Turismo 7,5
Administração Pública (V. Redonda) 8,0 Física 6,6
Ciências Econômicas (Campos) 6,7 Educação Física 6,4 Ciências Contábeis (Macaé) 5,3 Biblioteconomia 6,3
Fonte: COSEAC/UFF - 2010
Como se poderia prever, o percentual de estudantes pobres em cursos no interior supera
seus correspondentes na sede de forma bastante expressiva. Vale notar também que
determinados cursos mantêm participação semelhante de estudantes pobres em suas
extensões para o interior, como nos casos dos cursos de Pedagogia, Matemática, Serviço
Social e Ciências Contábeis. Muito provavelmente esta seja uma tendência geral, não
observada em outros cursos pelo simples fato destes não haverem prolongado suas
unidades.
O quadro 2 informa os 10 cursos do interior e da sede ordenados conforme o número de
concessões realizadas para a Bolsa Treinamento.
Quadro 2 – Distribuição da Bolsa Treinamento por curso – Interior e Sede, 2010
Campus Interior Campus Niterói
Curso N. Bolsas Solicitadas
N. Bolsas Concedidas
Atendimento por curso (%) Curso N. Bolsas
Solicitadas N. Bolsas
Concedidas Atendimento por curso (%)
Serviço Social (Campos) 74 27 36,5 Serviço Social 156 85 54,5
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Eng. Metalúrgica (Volta Redonda) 31 10 32,3 Pedagogia 104 53 51,0
Matemática (Pádua) 12 8 66,7 Letras 83 49 59,0
Serviço Social (R. das Ostras) 12 4 33,3 Biblioteconomia 30 19 63,3
Eng. Mecânica (Volta Redonda) 11 3 27,3 Matemática 30 13 43,3
Produção Cultural (R. das Ostras)
11 3 27,3 Arquivologia 17 11 64,7
Administração (Volta Redonda) 4 2 50,0 História 25 11 44,0
Enfermagem (R. das Ostras) 7 2 28,6 Psicologia 14 11 78,6
Psicologia (R. das Ostras)
8 2 25,0 Física 16 10 62,5
Pedagogia (A. dos Reis) 6 2 33,3 Enfermagem 14 9 64,3
Total 176 63 35,8 Total 489 271 55,4
Fonte: PROAES/UFF - 2010 Note-se que o quadro representado por estes vinte cursos representa precisamente
83,5% das 400 Bolsas de Treinamento concedidas pelo processo seletivo em questão. O
número total de inscritos foi de 853, o que nos possibilita identificar na tabela acima
77,9% dos inscritos.
A análise de correspondência entre as informações contidas no quadro 1 – perfil de
renda dos ingressantes – e no quadro 2 aponta para níveis satisfatórios de focalização da
política interna de distribuição de bolsas interna da universidade. Dentre os cursos
listados no campus Niterói, seis são identificados nas duas tabelas: Serviço Social,
Letras, Matemática, Biblioteconomia e Física.
Nos cursos abertos no interior do estado, cinco apresentam a mesma situação: Serviço
Social (Rio das Ostras), Matemática (Pádua), Pedagogia (Angra) Administração (Volta
Redonda) e Serviço Social (Campos). A diferença, no entanto, pode ser atribuída ao fato
dos outros cursos listados no quadro 1 terem sido criados no mesmo ano, ou seja,
realizaram um único vestibular, situação que coloca seus alunos fora dos critérios de
elegibilidade às bolsas de treinamento.
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IV – CONCLUSÃO
A efetividade na operacionalização das ações de assistência estudantil, indicada pela
análise dos dados sobre a bolsa treinamento, aponta para um aspecto positivo na
operação da política de permanência na UFF, entretanto, importa chamar atenção para
os déficits no atendimento. Além disso, a concorrência elevada por esta modalidade de
bolsa incorre em risco do aumento das exigências burocráticas sobre os solicitantes, sob
a justificativa de caça aos “mentirosos”, o que pode incorrer em riscos de
estigmatização do acesso. Por outro lado, o aumento da procura pode representar
também a percepção da assistência estudantil como direito adquirido, o que levaria a
opção entre os estudantes pobres por uma vida acadêmica plena, ou seja, sem
concomitância com o mundo do trabalho.
Outro aspecto que demanda aprofundamento da pesquisa diz respeito a concentração
elevada dos estudantes mais pobres nos cursos das áreas das ciências humanas e
licenciaturas, o que induz a pensar sobre o impacto das medidas de democratização do
acesso sobre as desigualdades internas da universidade.
V- REFERÊNCIAS
JUNIOR, J. F; ZONINSEIN, J. (orgs). Ação afirmativa e universidade: experiências nacionais comparadas. Brasília: Ed UnB, 2006.
MARTINS, C. B. A reforma universitária de 1968 e a abertura para o ensino privado no Brasil. Revista Educação e Sociedade, Campinas, vol. 30, n. 106, p. 15-35, jan./abr. 2009. SILVA, A. P. Mérito, Mobilidade e Raça: uma abordagem entre negros e brancos na universidade. Dissertação de Mestrado em Educação da Universidade Federal Fluminense, 2009. 169p
TEIXEIRA, M. P. Negros em ascensão- trajetórias de alunos e professores universitários no Rio de Janeiro. Tese (doutorado). Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro: 1998. _____. Negros na Universidade. Rio de Janeiro. Penesb/Pallas: 2003.
TENÓRIO, RM; VIEIRA, M.A., (orgs). Avaliação e sociedade: a negociação como caminho [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, 306 p.