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COLÉGIO PEDRO II - U.E. SÃO CRISTÓVÃO III PASTA DE HISTÓRIA COORDENADOR: PAULO SEABRA 1ª SÉRIE – ENSINO MÉDIO TURMA: DATA: PROFESSOR RODRIGO MOURÃO REFORMAS RELIGIOSAS EUROPA OCIDENTAL DOS SÉCULOS XVI E XVII Em 1520 um monge agostiniano alemão, Martinho Lutero, queimou em praça pública a Bula papal que o excomungava, em uma atitude que desafiava a autoridade do papa. Isto foi a continuação de sua atitude anterior, que questionava uma série de práticas e crenças da Igreja. Lutero havia afixado, em 1517, na porta do castelo de Wittenberg, capital do principado da Saxônia, suas 95 teses que contestavam pontos essenciais da doutrina preconizada pela Igreja Católica. É o marco inicial da chamada Reforma protestante, que dividiu de forma irreversível a cristandade ocidental e mergulhou a Europa em sangrentas e custosas guerras de religião. 1 - POR QUE AS CRÍTICAS DE LUTERO ENCONTRAM ECO? QUAL A SITUAÇÃO HISTÓRICA NA EUROPA OCIDENTAL QUE FAVORECIA O APARECIMENTO DE CONTESTAÇÕES À IGREJA CATÓLICA? Como resultado das transformações de caráter político e social, há o questionamento do poder temporal da Igreja, assim como seus tribunais e riquezas. O clero católico não era submetido à autoridade dos reis que, naquele momento histórico, buscavam a afirmação de sua autoridade nos reinos. O universalismo da Igreja, muitas vezes, entra em choque com a nascente idéia de "nação". Além disso, impostos pagos a Roma significavam a evasão de divisas dos Estados em formação. A crise do século XIV havia gerado uma enorme insatisfação. Segundo a mentalidade da época, Deus estava “punindo os homens”, talvez devido ao fato de que a busca de Deus estaria sendo feita de forma equivocada. Há então um sentimento de profunda religiosidade: era necessário buscar a verdadeira maneira de se alcançar as bênçãos de Deus. No entanto, os "novos caminhos", de acordo com valores defendidos por humanistas e renascentistas, enfatizavam a possibilidade do homem, feito à imagem e semelhança do Criador, chegar a Deus e salvar-se. Assim sendo, a intermediação da Igreja, corrupta e afastada do cristianismo original, seria desnecessária. A nobreza, e mesmo os servos, face à escassez de terra, questionavam a enorme quantidade de terras sob controle da Igreja. O monopólio cultural da Igreja Católica vê-se contestado em função dos novos valores surgidos nas cidades, primordialmente entre a burguesia e intelectuais, é também preciso não esquecer o contemporâneo movimento renascentista. A Igreja Católica passava por uma grave crise interna. Membros do alto clero ocupavam seus cargos mediante o pagamento de quantias significativas, muitos não tendo a menor vocação religiosa. Por sua vez, grande parte do baixo clero era despreparado para a função, não sabendo nem mesmo o latim, língua oficial da Igreja usada em todos os cultos.

Reforma Protestante - COMPLETO

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Material didático produzido por mim para aulnos do Colégio Pedro II - UESC III

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1ª SÉRIE – ENSINO MÉDIO TURMA: DATA:

PROFESSOR RODRIGO MOURÃO

REFORMAS RELIGIOSASEUROPA OCIDENTAL DOS SÉCULOS XVI E XVII

Em 1520 um monge agostiniano alemão, Martinho Lutero, queimou em praça pública a Bula papal que o excomungava, em uma atitude que desafiava a autoridade do papa. Isto foi a continuação de sua atitude anterior, que questionava uma série de práticas e crenças da Igreja. Lutero havia afixado, em 1517, na porta do castelo de Wittenberg, capital do principado da Saxônia, suas 95 teses que contestavam pontos essenciais da doutrina preconizada pela Igreja Católica. É o marco inicial da chamada Reforma protestante, que dividiu de forma irreversível a cristandade ocidental e mergulhou a Europa em sangrentas e custosas guerras de religião.

1 - POR QUE AS CRÍTICAS DE LUTERO ENCONTRAM ECO? QUAL A SITUAÇÃO HISTÓRICA NA EUROPA OCIDENTAL QUE FAVORECIA O APARECIMENTO DE CONTESTAÇÕES À IGREJA CATÓLICA?

Como resultado das transformações de caráter político e social, há o questionamento do poder temporal da Igreja, assim como seus tribunais e riquezas. O clero católico não era submetido à autoridade dos reis que, naquele momento histórico, buscavam a afirmação de sua autoridade nos reinos. O universalismo da Igreja, muitas vezes, entra em choque com a nascente idéia de "nação". Além disso, impostos pagos a Roma significavam a evasão de divisas dos Estados em formação.

A crise do século XIV havia gerado uma enorme insatisfação. Segundo a mentalidade da época, Deus estava “punindo os homens”, talvez devido ao fato de que a busca de Deus estaria sendo feita de forma equivocada. Há então um sentimento de profunda religiosidade: era necessário buscar a verdadeira maneira de se alcançar as bênçãos de Deus. No entanto, os "novos caminhos", de acordo com valores defendidos por humanistas e renascentistas, enfatizavam a possibilidade do homem, feito à imagem e semelhança do Criador, chegar a Deus e salvar-se. Assim sendo, a intermediação da Igreja, corrupta e afastada do cristianismo original, seria desnecessária.

A nobreza, e mesmo os servos, face à escassez de terra, questionavam a enorme quantidade de terras sob controle da Igreja.

O monopólio cultural da Igreja Católica vê-se contestado em função dos novos valores surgidos nas cidades, primordialmente entre a burguesia e intelectuais, é também preciso não esquecer o contemporâneo movimento renascentista.

A Igreja Católica passava por uma grave crise interna. Membros do alto clero ocupavam seus cargos mediante o pagamento de quantias significativas, muitos não tendo a menor vocação religiosa. Por sua vez, grande parte do baixo clero era despreparado para a função, não sabendo nem mesmo o latim, língua oficial da Igreja usada em todos os cultos.

A necessidade de bens materiais, principalmente de moeda, levou determinados papas e bispos a práticas abusivas como, por exemplo, a cobrança do dízimo (mesmo da população mais pobre), a prática da simonia (venda de cargos eclesiásticos e de relíquias de santos) e a venda de indulgências. A retribuição à Igreja de algum bem material por conta do perdão dos pecados era entendida como uma “boa obra” e, portanto, um caminho para a salvação.

2 - COMO ESTAVAM OS PRINCIPAIS PAÍSES DA EUROPA QUE, DIRETA OU INDIRETAMENTE, SE VEEM ENVOLVIDOS COM OS MOVIMENTOS REFORMISTAS?

ALEMANHA

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A Alemanha de hoje era então um território subdividido em uma quantidade significativa de ducados, principados e cidades independentes. Todos oficialmente fazendo parte de um Império, o Sacro Império Romano Germânico, sendo submetidos à autoridade do papa e do imperador.

Os assuntos políticos de interesse de todos eram tratados na Dieta, uma assembléia da qual participavam os representantes dos territórios alemães mais importantes. A assembléia controlava o imperador, resolvia as questões referentes à paz e a guerra, decidia os impostos comuns e como manter a paz interna. Era importante o controle sobre o imperador de forma a manter o fracionamento do poder entre os mandatários de cada região. Não havia, portanto, exército do rei, tesouro real ou ainda um corpo de funcionários submetidos à autoridade do imperador.

No entanto, a situação social e política não era tranqüila. A alta nobreza, leiga ou eclesiástica, controlava boa parte das terras. A pequena nobreza (cavaleiros), as cidades e o campesinato, por sua vez, buscam não só o acesso a terra como também maior autonomia em relação aos príncipes. A oposição à Igreja alcança tais grupos sociais na medida em que cabia ao clero a propriedade da maioria das terras.

FRANÇANo século XVI o processo de centralização de poder na Franca já estava bastante

avançado. Há algumas gerações que reis franceses, desde Filipe IV o Belo da casa de Valois, empenhavam-se na obtenção do controle do poder em todo o território considerado nacional, tendo o apoio principalmente da nobreza de toga (funcionários civis e militares do rei). O rei Francisco I, que governou de 1515 a 1547 havia inclusive conseguido, através da assinatura da Concordata de Bolonha em 1516, a submissão da Igreja à sua autoridade.

Na segunda metade do século XVI, devido ao crescente movimento reformista e as guerras de religião (católicos x calvinistas franceses-huguenotes) entre 1562 e 1598, o processo de centralização se vê por vezes ameaçado. A ascensão ao poder da família Bourbon na pessoa de Henrique IV, em 1589, marca a retomada do caminho para a concentração da autoridade nas mãos da monarquia. INGLATERRA

A nobreza feudal inglesa havia se enfraquecido tremendamente por conta da Guerra dos Cem Anos e da Guerra das Duas Rosas – sendo esta última a disputa do trono entre as famílias de York e Lancaster. O enfraquecimento das duas permitiu que a coroa fosse conquistada por Henrique VII, aparentado das duas famílias em guerra, dando início a dinastia Tudor em 1485.

Em seu reinado Henrique VII impediu que os senhores feudais continuassem mantendo seus exércitos e criou um tribunal que tinha como função o controle da aplicação da lei real. Cercou-se ainda de um conselho de sua estrita confiança. O processo de centralização de poder estava em franco progresso.

É no reinado de Henrique VIII, seu filho e sucessor, que ocorre a Reforma na Inglaterra, finalizando a obra de centralização, já que há a neutralização da autoridade do papa e do clero na Inglaterra através do Ato de Supremacia de 1534.

ESPANHAA unificação do território espanhol foi completada pelos reis católicos Fernão de Aragão

e Isabel de Castela, através de seu casamento e da guerra de Reconquista.Em 1516 Charles V, neto dos reis católicos herdou a coroa espanhola (que dominava vasto

território colonial na América, além de parte da Itália meridional). Em 1519, após a morte de seu avô, o imperador Maximiliano, do SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO, herdou os

domínios da família Habsburgo da Áustria e foi eleito Imperador. A partir daí renasce o sonho de uma centralização de poder no SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO, em estreita aliança

com a Igreja Católica, tradicional sustentáculo do poder real na Espanha. É durante o período de Charles V imperador que se dá o movimento Luterano

3 - COMO ACONTECEU O MOVIMENTO DE REFORMA PELA EUROPA?

O cargo de Imperador do SIRG era eletivo. Era eleito por um conselho de príncipes chamado de Dieta. No entanto, nem todos os principados eram eleitores. Havia aqueles que, por tradição eram os chamados “principados eleitores”, e sempre em

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NOTA: Na doutrina da salvação pela fé (e não pelas obras) está o cerne da Reforma luterana. No centro do novo culto, Lutero colocou a leitura direta e a interpretação pessoal do Evangelho. O mais importante, porém, ocorreu no plano político: o luteranismo significou o abandono da idéia da superioridade da Igreja sobre o Estado.

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O movimento que quebrou a unidade da Igreja Católica na Europa Ocidental (grande parte da Europa Oriental estava vinculada à Igreja Ortodoxa Grega criada no século XI a partir do Cisma do Oriente de 1054) começou no SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO.

No início do século XVI a situação da Igreja na região agrava-se sobremaneira em função de um escândalo. Em 1514, Alberto de Brandemburgo, bispo de Magdeburgo e Halberstadt, desejava tornar-se bispo de Magonza, de forma a aumentar sua riqueza e seu poder, na medida em que Magonza era um dos principados eleitores. Para tal era necessário que pagasse a taxa de 100 mil ducados ao papa. A quantia foi obtida através de empréstimos dos banqueiros Függer. O papa Leão X, necessitando de fundos para a construção da Basílica de São Pedro, autorizou Alberto a “vender” indulgências durante oito anos. Metade do lucro serviria para o pagamento dos Függer e a outra parte seria enviada a Roma.

REFORMA LUTERANAEm 1517 o monge agostiniano Martinho Lutero afixa na porta do castelo de Wittenberg suas

95 teses contra a Igreja Católica, denunciando suas irregularidades, atitude essa desencadeada pela permissão, dada pelo papa, de cobrança de indulgências no Sacro Império. Lutero tinha o apoio de Frederico, príncipe eleitor da Saxônia que, assim como outros príncipes, pretendia opor-se às intenções do imperador católico, Charles V, de centralizar o poder na região.

A grande questão filosófico-teológica envolvida era a salvação da alma. Lutero acreditava que o homem está para sempre condenado em função da gravidade do pecado original. No entanto, se mantiver a fé, apesar da consciência do pecado, será salvo. Para a salvação não era necessária ou válida a caridade ou ainda a obediência estrita às ordens do clero. A Lei de Deus estava estabelecida única e exclusivamente na Bíblia. Enquanto as propostas de Lutero permaneceram conclusões e questionamentos estritamente particulares, não houve grandes preocupações entre o clero católico. Era apenas mais uma heresia entre tantas surgidas na época. A questão revelou-se problemática quando houve a divulgação das idéias de Lutero. Tal fato ocorreu em função da venda de indulgências. De acordo com a crença católica, a venda de indulgências, entendidas como o perdão antecipado pelos pecados veniais ou perdoáveis, obtido mediante o pagamento de um valor estipulado pela Igreja, era perfeitamente justa. A doação de bens a Igreja era considerada uma boa obra e, boas obras, aliadas à fé eram o caminho para a salvação. Para Lutero era essencial a manutenção da consciência do pecado. A fé inabalável seria então o único meio de salvação. A indulgência desvanecia a consciência de que o homem é um pecador, sendo sua venda ou concessão, portanto, inaceitável. Do momento em que é autorizada pelo papa a venda de indulgências no Sacro Império Romano Germânico, Lutero manifestou-se através de suas 95 teses. Tendo o documento chegado a Roma, Lutero foi excomungado, não sendo preso e condenado à fogueira por ter como protetor o duque Frederico da Saxônia. A questão poderia ter tido fim nesse momento se Lutero não tivesse seguidores. Ao contrário de outros movimentos, podemos dizer que o luteranismo foi uma "heresia que deu certo", contando com uma quantidade significativa de seguidores, oriundos de vários grupos sociais.

A reação da Igreja fez-se sentir através da Bula Papal de 1520, que excomungava o monge. Dramaticamente Lutero queima a bula em praça pública, Tendo sido condenado pela Dieta de Worms convocada por Charles V, Lutero consegue fugir com o auxílio de Frederico, que o acolheu em seu castelo. Ali Lutero traduziu a Bíblia do latim para o alemão e aprofundou seus estudos e propostas, formulando os princípios de uma nova doutrina, quais sejam:

1- Livre interpretação da Bíblia2- A salvação se faz pela fé 3- Introdução dos idiomas nacionais em cultos religiosos em

substituição do latim4- Simplificação do culto, cujo fundamento seria a leitura das

Sagradas Escrituras e sua interpretação pelos próprios fiéis5- Preservação de apenas dois sacramentos – eucaristia e

batismo

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A visão calvinista era rigorosíssima. Proibia o lazer e a diversão, e exaltava o trabalho e a poupança como pedras angulares da conduta humana. “Calvinista” tornou-se sinônimo de severa sobriedade. O manual da teoria calvinista, Instituições da Religião Cristã, prega rigidamente que o governo deve estar nas mãos do clero controlador, que prepara as leis e define a ordem. Era a ruptura radical como o catolicismo. Os valores morais e políticos da burguesia comercial atingem aí o seu ápice: a usura, o trabalho, a poupança e o lucro estavam consagrados.

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6- Rejeição da hierarquia eclesiástica e o fim do celibato clerical.

A propagação da doutrina levou Charles V à convocar a Dieta de Augsburgo em 1530. Os reformistas, já então conhecidos como luteranos, expuseram suas propostas. Contavam eles com o apoio de vários príncipes que viam na expansão do movimento no Sacro Império a chance de neutralizar o poder da Igreja Católica em seus principados, além de legitimar confisco de bens eclesiásticos e, a possibilidade de enfraquecimento de Charles V. A não aceitação da doutrina na Dieta levou a uma guerra religiosa que só termina em 1555 com a assinatura da Paz de Augsburgo.

A Paz de Augsburgo reconhecia oficialmente a nova doutrina e concedia aos príncipes germânicos o direito de estabelecer a religião de seus territórios e de impô-la a seus súditos. (A religião dos súditos é a religião do príncipe). Tal fato na verdade significou a divisão do SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO em principados católicos e luteranos, mantendo igualmente a descentralização do poder político.

REFORMA CALVINISTA O intelectual e monge católico francês João Calvino, ao tomar contato com as idéias de

Lutero, também aderiu a projetos reformistas, tendo sido expulso da França por autoridades católicas. Refugiado em Bale e posteriormente em Genebra, na Suíça, escreveu sua obra maior As Institutas da Religião Cristã, de sucesso considerável.

No entanto, apesar de manter em essência a doutrina de Lutero, diverge em pontos importantes. Enquanto Lutero defendia que a salvação é dada pela fé, Calvino propunha que, se Deus é tudo e o homem é quase nada, a salvação é dada por Deus a quem ele quer, ou seja, os “eleitos” ou “predestinados”. Assim sendo, o homem não é dotado de livre arbítrio no que concerne a seu destino. Ele nasce predestinado à salvação ou a condenação eterna.

A riqueza material seria um dos sinais dados por Deus de que o indivíduo havia sido abençoado, cabendo a ele bem utilizá-la e não esbanjá-la em prazeres e luxo. O trabalho, duro e sóbrio, seria a forma ideal de honrar e louvar a esse Deus que deu a graça da salvação que, na verdade, só seria conhecida após a morte.

Cabia ao homem seguir sua vocação e assim obedecer aos desígnios de Deus. Devido a essas características a doutrina calvinista estabeleceu novas bases para uma ética do trabalho e do lucro, considerada por muitos como favorável ao desenvolvimento do capitalismo.

Tais idéias foram rapidamente assimiladas pela burguesia de Genebra, pois justificavam não só o comércio, como também as atividades financeiras a ele associadas, tais como os juros e o lucro.

Foi Calvino quem contestou o milagre da transubstanciação no momento da missa. Para ele a hóstia seria uma representação do corpo do Cristo (consubstanciação) e não o próprio corpo de Deus.

No que tange a moral e comportamento, a doutrina de Calvino caracterizou-se por um profunda rigidez de costumes. Genebra, a Roma do Calvinismo, governada pela Igreja Calvinista, viveu um regime que pode ser considerado teocrático, marcado pela intolerância. Miguel de Servet, por exemplo, ao negar a Trindade, foi condenado à morte e queimado vivo em 1553.

Fora da Suíça o calvinismo encontrou eco primordialmente em regiões onde crescia a ação de burguesias mercantis e manufatureiras como a Renânia, Baviera e Países Baixos. Na França chegou, em determinadas regiões, a suplantar o luteranismo. Chegou ainda à Inglaterra e, na Escócia, o discípulo de Calvino, John Knox, fundou a Igreja Presbiteriana

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O protestantismo é, hoje, a religião predominante em alguns países que assistiram (ou assistem) a grande desenvolvimento da economia capitalista, como os EUA, a Alemanha, Suíça e a Inglaterra. O catolicismo, por sua vez, predominou em países em que o capitalismo se desenvolveu tardiamente, como a Itália, a Espanha, Portugal e as

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REFORMA ANGLICANA

Na Inglaterra, ao contrário de outras regiões, não são estudiosos ou monges que lideram o processo de reforma. É a Coroa que se aproveita do descrédito do papado e da antiga tendência da Igreja inglesa à autonomia. É o rei Henrique VIII que toma a iniciativa do movimento de reforma, por ter motivos pessoais, (seu divórcio da princesa espanhola Catarina de Aragão fora negado pelo papa), econômicos (possibilidade de confisco de bens e terras do clero inglês) e políticos (necessidade neutralizar o poder do clero como mecanismo para reafirmar sua autoridade).

A separação de Catarina e o casamento com Ana Bolena levou à excomunhão de Henrique VIII, que reagiu forçando o Parlamento a aprovar o Ato de Supremacia em 1534, pelo qual o monarca inglês passava a ser autoridade máxima da Igreja na Inglaterra. Em seguida o rei exigiu do papa o pagamento de uma indenização de dois milhões de libras e confiscou os domínios de 1200 mosteiros, cujas terras foram vendidas à nobreza, angariando as simpatias da mesma à política real.

Na medida em que a reforma na Inglaterra não resulta de sérias questões doutrinárias, embora houvesse estudiosos que questionavam propostas do clero e da doutrina católicas, os dogmas e a liturgia católicas permanecem, ao menos em princípio, praticamente intocados.

No reinado de Eduardo VII, entre 1547 e 1553 cresce significativamente a influência do calvinismo na Inglaterra. Maria Tudor, que reinou entre 1553 e 1558 tentou, em vão, restabelecer o catolicismo no reino. Sob a autoridade de Elizabeth I, que governou entre 1558 e 1603, é que se estabeleceu definitivamente a doutrina anglicana, sendo a Lei dos 39 artigos, de 1563, a base da mesma, em muitos pontos semelhante à calvinista.

São fundamentos da Igreja anglicana:1- O (a) monarca é a autoridade máxima da Igreja Anglicana2- As Sagradas Escrituras contêm toda a lei que é necessária. Os dogmas que nela não

se encontram não são exigidos como dogmas de fé.3- A salvação se dá pela fé4- Manutenção da hierarquia eclesiástica 5- Manutenção da liturgia católicaElizabeth I perseguiu os católicos e quaisquer outros

"protestantes" que contestassem não só a doutrina como a sua autoridade. É o caso dos calvinistas ingleses que buscavam "purificar" a Igreja inglesa e a adoção integral dos princípios de Calvino. São os chamados puritanos que desempenharão importante papel não só na história inglesa como na colonização dos EUA. Foram essencialmente aqueles que sofriam perseguição religiosa na Inglaterra que buscaram a proteção de uma nova terra na América, onde haveria liberdade religiosa, ao menos para os próprios...

4 - REFORMA CATÓLICA OU A CONTRA-REFORMA

A Igreja Católica não reagiu imediatamente ao avanço do protestantismo, limitando-se a ações repressivas. A ação que inicia a renovação não vem diretamente do papa, mas do frei Inácio de Loyola que, em 1534, funda a Companhia de Jesus. Reconhecida pelo papa em 1540 , a nova ordem religiosa foi proposta para enfrentar o espírito da Reforma, utilizando como "arma fundamental" a educação de jovens, em princípio nobres ou de casas reinantes. Graças à ação dos jesuítas, regiões como a Baviera e domínios da Casa de Áustria foram reconquistados para o catolicismo. Foram também eles que levaram a fé católica à América, Ásia e África, dentro de um espírito missionário de catequese.

Em 1543 a Santa Sé instituiu o Index, catálogo de livros proibidos aos católicos por serem considerados perniciosos à fé. Entre eles podemos destacar obras como D. Quixote de La Mancha de Miguel Cervantes e O Príncipe de Maquiavel.

O passo decisivo foi dado com a reunião do Concílio de Trento, reunido a partir de 1545, que terminou seus trabalhos em 1563. Coube a ele importantes decisões no que tange às questões de caráter doutrinário. No plano dogmático não é feita nenhuma concessão ao protestantismo. O concílio reafirma o monopólio da Igreja de interpretação da Sagrada Escritura, mantém os sete sacramentos, o culto aos santos, reafirma a presença real do Cristo na Eucaristia ( transubstanciação) e a noção que a salvação se dá pela fé e pelas boas obras.

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No entanto, a fim de moralizar o sacerdócio e aprimorar sua formação, as decisões do concílio mantiveram a proibição de casamento para os membros do clero, foram criados seminários e foi mantida a supremacia do papa.

Como complemento a essas atitudes a Igreja reorganizou o Tribunal do Santo Ofício, cuja função era o combate à Reforma naqueles Estados onde os monarcas permitissem sua atuação. Na verdade, o poder do Tribunal muitas vezes foi considerado um obstáculo ao poder efetivo de reis ou ainda um mecanismo para a eliminação de adversários ao poder real.

Bibliografia.LAMBIN, Jean Michel (org) Histoire / Geographie. Paris: Hachette,1983KOSHIBA, Luís. História – Origens, Estruturas e Processos – Uma leitura da História Ocidental para o ensino médio. São Paulo: Atual, 2000.PAZZINATO, Alceu & SENISE, Maria Helena. História Moderna e Contemporânea. 14ª ed. São Paulo:Ática,2002.REZENDE, Antonio Paulo, DIDIER, Maria Thereza. Rumos da História – História Geral e do Brasil. São Paulo: Atual,2001.Textos produzidos pela profª. Suzana Souza e Silva para o Colégio de São Bento