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Relação com a arte, cultura, poesia
Antes de falarmos do slam, algumas perguntas sobre as formas como utilizas o teu tempo, sobre as tuas actividades.
1. Quais são as tuas áreas de interesse, os teus hobbies, actividades de tempos livres?
Então o que é que eu faço nos tempos livres? Trabalho para a comunidade onde eu
vivo. Sei lá…
Podes explicar melhor?
Moro na República. É preciso manter a casa, trabalhar em grupo, a dinâmica…tratar
de assuntos da casa…agora com a Lei do Arrendamento e tudo o mais. Andar aí
sempre para trás e para a frente. Mais…hobbies., hobbies…viajar claro, bastante.
Bastante mesmo.
2. No que toca à cultura, à arte, como usa(s) o teu tempo? Que actividades fazes?
Sei lá. Música no geral. Ouvir música, todo o tipo de música e mais algum. Poesia.
Estamos aqui a falar de poesia. É lógico, também. Mais? Já há muito tempo que
ninguém me fazia uma pergunta assim. Isto faz-me lembrar aquelas coisas quando
éramos putos. Tento ir sempre que posso a concertos. Não vou a cinema. Não gosto
de cinema. Sei lá, exposições. Sempre que posso, algumas coisas, sempre que o
dinheiro permite. Mas…sei lá, como é que ocupo o meu tempo? Geralmente, ocupo
o tempo a aprender coisas que não sei. Ou a tentar descobrir culturas que não estou
muito por dentro, conhecer um bocado mais. Sei lá…é o enriquecimento pessoal.
3. Lês poesia?
Já li mais, já li mais. Mas ainda leio alguma.
4. Tens algum autor/a (conhecido ou não, consagrado ou não), poema preferido?
Não. Poemas preferidos não tenho, acho eu. Autores, também é assim, no geral, no
geral não tenho. Não tenho. Se calhar era muito Português dizer que Fernando
Pessoa e tudo o mais, não é?
E há algum tipo de poesia que gostes mais?
Todo o tipo de poesia que não é de quadra e que não rime. (risos) todo o tipo de
poesia mais para o experimental, não é? Quanto mais experimental melhor, nesse
sentido.
5. Em que momentos lês poesia? É uma leitura regular ou de momentos?
Lês à noite, antes de dormir? Numa caminhada, numa pausa do trabalho, num sítio
especial, etc.)?
Sei lá, viagens de autocarro, comboios, tempos mortos né? Para ocupar o tempo,
para preencher o tempo. Sei lá. Agora ando muito a ler poesia, por exemplo,
Africana. Por causa das cadeiras (disciplinas) que tenho. Também muito…poesia
angolana, Agostinho Neto por exemplo. Alguma moçambicana, cabo-verdiana e
são-tomense. É mais por causa das cadeiras que tenho né? Também quero fazer o
Mestrado sobre isso, sobre Literatura Africana. Pronto. Neste momento ando
mesmo mais virado para a poesia africana, para a poesia do negro e do mestiço.
6. Compras livros de poesia? Onde? O que te faz comprar um livro de poesia/como
escolhes?
Sim. olha ainda no outro dia a Leya estava em liquidação total ali na Baixa. Estava
em liquidação total, então de repente dei por mim a comprar a antologia de poesia
moçambicana por 1,95 euros. Comprei a antologia da Maria Teresa Horta. Custava
para aí 50 euros ou assim uma coisa pornográfica. Comprei por 15 euros. Comprei
Conceição Lima de São Tomé.
E numa situação que não seja de saldos ou promoções, onde é que costumas
comprar livros de poesia?
Geralmente é ao acaso. Alfarrabistas, claro. Um bocado mais numa de “não
conheço este ou aquele”.
E o que é que te leva a dizer “vou comprar este livro”?
Normalmente é o cheiro. Se cheirar bem, logo que não cheire industrial (risos).
Primeiro é o cheiro, yah. Levo muito pelo cheiro e pela capa em si. Sou um bocado
convencido pelo marketing (risos). Mas…sei lá, tento, ando a tentar comprar mais
poesia feminina. Que é um erro que tenho andado a reparar que há. Eu gosto muito
de poesia mas procuro sempre homens. As mulheres ficam sempre lá atrás. Ando a
tentar agora preencher a biblioteca com poesia do feminino. Sei lá. Geralmente
ando à procura de nomes que não sejam conhecidos vá. Para…também para…
7. Lês poesia na Internet? Tens/Vais a algum site/blogue?
Não. Sou info-excluído. Sou info-excluído. Eu não tenho computador. Eu só vou ao
computador 5 min, 10 por dia no máximo. É o tempo máximo de utilização. Gmail,
Facebook, vá tchau, não há novidades. E não leio mesmo, blogues ou isso. Não faço
ideia, não tenho mesmo esse hábito.
8. Escreves poesia? Se sim, quando começaste a escrever? Costumas partilhar o que
escreves com alguém? Tens algo publicado em papel, suporte digital (cd, dvd), na
web (blogue, site, etc.)?
Já escrevi mais, também. Neste momento é mesmo só para o slam. Eu e o Carapau
juntamo-nos. Neste momento só ando a fazer poesia para o slam. Comecei a
escrever para aí no 10º ano práí, no 11º. A poesia do coração, do romantismo, toda
bonita. Partilhava muito o que escrevia. Na verdade, comecei a escrever poesia por
causa de uma professora minha, naquela “ah, não sei quê, escreves…”
relativamente bem que eu era de Desporto. Não era difícil alguém de Desporto
escrever bem. Então pronto, eu era dos que tinha mais à vontade com a escrita
naquele curso. A professora começou a dizer “ah, escreve, escreve.” E “tens uma
dicção fixe”. E partilhava muito com ela na verdade. Era só quase com ela. Depois
com as namoradas da altura né? Com a minha mãe, uma ou outra, aquelas que que
convinha, só para dar aquele toque. (risos) aquele toque de adolescente em
construção. É verdade.
Alguma vez fizeste algum tipo de publicação? Papel, digital?
Não, não. Só neste caso os vídeos que temos lá da Equi. Não tenho mais
publicações. Já pensei, aqueles sonhos que toda a gente tem, aqueles
sonhos…ideias não é?
Quando digo publicações falo de várias opções, independente, policopiada, etc.
Não, nunca publiquei mesmo nada. Neste momento nem estou para aí virado, na
verdade. Não estou muito…sei lá. Para já não quero viver da poesia. Nem quero, no
geral, sei lá, publicar. Não tenho muito…na verdade a poesia que eu tenho neste
momento nós não temos os textos dela. Eu não tenho os textos dela. Não faço ideia
mesmo. Depois do slam acabamos por perder os textos. A minha actividade poética,
hoje em dia, está muito dependente do slam, digamos. É aquela periodicidade que
temos, uma vez por mês vamos fazer, vamo-nos juntar e vamos fazer uma
brincadeira qualquer. Brincadeira entre aspas. De resto não.
9. Que tipo de eventos culturais frequentas? Onde?
10. Que eventos relacionados com poesia frequentavas e/ou continuas a frequentar?
Pois, é uma boa pergunta. Ia àqueles sarauzitos não é? Saraus caseiros entre aspas
de café. Cheguei a ir…é um dos eventos mais bonitos que eu guardo na minha
memória que é poesia com os presos em Paços de Ferreira. E foi cá fora, assim
mesmo no centro do Concelho. Foi das coisas mais bonitas, dos contactos mais
bonitos que eu tive com a poesia. Foi esse.
Mas estiveste na preparação disso?
Não. Era essa tal minha professora. Estou agora é a iniciar aqui em Coimbra. Estou
aqui a criar em Coimbra. E depois desses saraus da treta, enchi-me rapidamente
deles e comecei a tentar organizar. No 11º ano já organizei também lá na terra uma
coisa com os poetas locais, vá que seja, e com miúdos, miúdos das escolas. Fiz isso
durante 2 anos, no 11º e no 12º e no 1º ano da Faculdade, 3 anos. Com os putos, com
vários temas e não-sei-quê. Depois fiz aqui em Coimbra uma conferência sobre o
Eugénio de Andrade com o António Oliveira que era um professor meu de Santo
Tirso. É poeta também. Depois fiz o ano passado…o ano passado não, há 2 anos,
com os miúdos da Brotero, surdos-mudos em Língua Gestual. E agora tou a fazer
isto aqui…tou há um ano a tentar iniciar isto aqui na prisão. Basicamente é isso. Não
tenho ido a muitos…fui ao slam do Porto, vou aqui aos de Coimbra, fui àquele em
Famalicão que vocês também foram. Aliás, foi por vossa causa que eu fui, não é? E
de resto não fui assim a muitas coisas. Porque também me enchi rapidamente.
Cansei-me muito rápido daquela poesia da Florbela e do Camões e do Pessoa pá.
Isso dá sono. Preferi começar a organizar algumas coisas do que propriamente…
11. Já organizaste ou organizas eventos culturais/artísticos? Quais?
Depois organizei também em Santo Tirso o 1º Torneio de Basquetebol adaptado, em
cadeira de rodas, no 12º ano, 4 equipas. Um evento de um dia inteiro, um Sábado. E
depois organizei as poesias. Exacto. Estive a ajudar lá na organização através da Câmara
de Santo Tirso. Aqui digamos que só fiz esses 2: a conferenciazita com a exposição e
textos originais e inéditos do Eugénio, porque esse professor era amigo do Eugénio
e…um amigo dele que é o Dario. E o Dario é que tem o espólio todo dele, tudo, tudo,
tudo. É incrível, assustador mesmo. O gajo é fanático pelo Eugénio, é mesmo uma
cena…é uma pessoa que vale a pena conhecer. E…depois foi a tal com os miúdos da
Brotero em Língua Gestual. Ao mesmo tempo eu estava a dizer os poemas e eles
estavam a…eles estavam a fazer em Língua Gestual e alguns a tocar música também.
Foi uma experiência muito bonita. Na altura tive a parceria também da UCTV e eles
ficaram de editar os vídeos e eu nunca mais fui lá buscar aquilo. E quero agora fazer com
os presos também um bocado…um bocado digamos que embalado por aquela
experiência que eu tive em Paços de Ferreira. Pronto, quero desenvolver com eles.
Estamos em projecto, a aprovação do Ministério, não-sei-quê.
12. E como artista? Participas, trabalhas, actuas? Em que áreas?
Relação com o Poetry Slam
1. Quando ouviste, leste, etc. sobre o Poetry Slam pela 1ª vez?
Oh, foi com vocês. Quando começaram a organizar aqui, desde a 1ª edição. Foi a partir
daí que eu tive contacto. Não sabia minimamente. Só depois é que fiquei a saber de
Lisboa e não-sei-quê. Porque não…não tinha ideia por acaso. Lá está, estou-me a info-
excluir.
2. E por que é que ficaste interessado no Poetry Slam?
Para já porque era uma organização independente né? Ou seja, não há Câmaras, não há
editoras a dizer “vamos organizar isto”. E só por aí dava para prever um tipo de, um tipo
de apresentação e de público digamos diferente, mais descontraído, mais…pronto é
isso, mais descontraído, mais tranquilo. E porque dava para prever que não era a poesia
do coração nem a da rima. Ou seja, era uma oportunidade de brincar com as palavras,
digamos, tar ali, juntar e experimentar outras coisas, outras formas de apresentar a
poesia. Mais independente.
3. Achas que há uma relação entre o teu envolvimento na arte e na cultural em geral
e o teu envolvimento no poetry slam? Há uma relação entre o papel da arte e da cultura
na tua vida e o interesse que tens pelo poetry slam? /achas que o interesse que tens
pela arte e cultura em geral condiciona o interesse que tens, que sentiste pelo poetry
slam?~
4. Conheces Poetry Slams de outros pontos do país? E de outros países?
Fui ao Porto uma vez, à edição 1. Eles tinham feito a edição Zero né? fui ao Porto. Neste
caso só fui ao Porto também. Estamos a pensar agora ir, temos vindo a falar e estamos a
pensar ir ao de Lisboa para…pronto, para testar outros públicos, digamos. Embora não
seja um objectivo do concurso em si mas também ter uma opinião crítica daquilo que
fazemos, outras formas de estar, outros impactos. Quase como…eu sei lá, espalhar a
palavra por aí, quase como os profetas.
Já ouviste falar de Slams de outros países?
Já ouvi falar mas não conheço praticamente nenhum.
5. Participas no slam X em que vertentes: organização, slammer, público, júri?
Até agora temos sido participantes, como slammers. Basicamente é isso. Até agora, a
todos os que fomos. Nunca fomos fazer parte do júri.
6. Em que outros Poetry Slams já participaste? Como slammer, público, júri,...?
No Slam do Porto, como slammer.
7. (se respondeu sim à pergunta anterior) Que semelhanças existem entre os Poetry
Slams em que já participaste? E diferenças?
Acima de tudo é a inexperiência dos organizadores, não é? Do Porto. Neste caso no
Porto. Notava-se a boa vontade e ao menos ainda se faz alguma coisa mas notava-se
uma certa inexperiência. Também é normal, era a 2ª vez que estavam a apresentar, num
sítio com bastante público no geral. Não só pelo slam né? a inexperiência deles.
Estavam muito atrapalhados, muito à nora. O sistema de concurso em si. Por exemplo,
aqui em Coimbra é cada poema uma eliminatória, não é? Eles lá fizeram, pelo menos
naquela edição, cada slammer dizia 2 poemas e depois fazia-se a média e passava. Nem
tinham, se não me engano, a questão de anular a pontuação mais alta e a mais baixa.
Acho que não tinham. Era mesmo…contava tudo. Naquele dia foi um bocado
assustador a escolha do júri. Por exemplo, aqui faz-se “quem é que quer ser júri?”. Tudo
bem que já se possa saber que não há ninguém que queira à partida. Mas eles lá foi “tu
vais ser júri. Tu vais ser júri”, assim uma coisa mesmo muito “wow, assim tão rápido?”. E
pronto, outras diferenças. O próprio ambiente em si. Sei lá, estamos a falar do Maus
Hábitos, um sítio hippie-freak-chique no Porto, com cerveja a 2 euros. Olha, outra
diferença, eles ofereciam 2 cervejas aos participantes. Lá no Maus Hábitos. Não sei se
era a organização, se era do bolso deles ou do Café em si. Um ambiente muito…um
bocado selecto, eu achei. Uma coisa muito…também tinha…tinha havido a
apresentação de um livro de poesia. Assustou-me isso. Cheguei lá e estava a ouvir a
apresentação do livro e o Genesis ao mesmo tempo. E a poesia. Assustou-me um
bocado. E pronto, só por aí dá para ver o tipo de público que lá estava, né? uma coisa
cheia de estilo, muito…embora não seja, não fosse da rima. Tinha lá um concorrente ou
outro que era da rima, vá. Mas…estava uma coisa assim muito…muito estranha, um
ambiente muito estranho. Também, agora olhando para trás, acho que é normal
porque…é uma coisa que as pessoas estão a ter contacto agora lá, ou seja, não há uma
ideia formada. As pessoas também estão lá assim, tentam fazer a sua poesia. Acima de
tudo é isso que se pretende, não é? Mas pronto, tava ali um bocado…notava-se que as
pessoas ainda não estarem ambientadas com aquela situação.
Semelhanças…semelhanças…que eu assim tenha visto…é que, na verdade, não houve
assim muitas semelhanças. Mesmo. Não houve muitas semelhanças. Eu pelo menos
achei. Para não falar no sistema da cotação, pronto. O júri votava né? mas não notei
assim muitas, muitas semelhanças. Sei lá. Eles, por exemplo, tinham um DJ lá. Tava lá a
pôr música, não-sei-quê. Um projector com as cotações e não-sei-quê. Uma cena
muito…muito forma entre aspas. Outras semelhanças…não…não notei. Por exemplo,
não havia mulheres lá. Não havia mulheres a…não havia mulheres como slammers.
Éramos 8 concorrente e todos homens. Não havia nenhuma equipa também. Não havia
nenhuma equipa, era tudo individual. Acima de tudo, eram pessoas jovens. Eram. Havia
um estrangeiro, também, como na última vez aqui em Coimbra. De resto, não havia
assim…não achei muitas semelhanças. E depois foi muito cansativo porque notava-se
perfeitamente que eles eram 2 amigos e que…eu acho que eles têm um blog ou um
Facebook qualquer de poesia deles. Ou um deles está mais assim virado para essas
coisas de…videoarte e poesia ao mesmo tempo. E eles apresentavam sempre um
poema, assim uma coisa mesmo…entre cada série. Apresentavam um poema deles ou
um poema que eles queriam dizer de não-sei-quem. Eh pa, estavam ali como que
digamos, a vender o peixe deles quase. É um bocado essa a impressão que eu tive. Ao
mesmo tempo, numa de organização mas de autopromoção entre aspas. E semelhanças
é mesmo isso. Não noto, pronto, a não ser a questão do público, mais ou menos
descontraído ao mesmo tempo que era formal, quando se trata de poesia. Neste
sistema de concurso que um vai para a frente, outro vem, não-sei-quê. Estava ali uma
coisa mais ou menos descontraída. Não é aqueles saraus de poesia terríveis. Mas
estava…e não vi muitas mais semelhanças, na verdade.
8. Como descreverias o poetry slam?
Acima de tudo é um espaço. É um espaço onde as pessoas, individual ou
colectivamente, têm oportunidade de dizer a sua poesia. Em que, dependendo da
vontade de cada um, podem levar aquilo muito a sério no sistema de competição
apenas por divertimento. Eu acho que, acima de tudo, deve ser um divertimento.
Defendo que as pessoas deviam ir para o Slam para se divertirem, não é? Para
conhecermos outras formas. E que, pronto, é um ambiente descontraído, as pessoas
estão ali na boa, não sentem aquela pressão de “vou fazer disto a minha vida depois de
ganhar isto. Depois de participar nisto vou ter atrás de mim 30 mil editoras a querer-me
pôr não-sei-aonde” sei lá…acho que não, não é por aí. Basicamente é isso. É um espaço
onde as pessoas podem, podem espalhar a palavra digamos. E mostrar-se um bocado
aos outros e contribuir para…para uma continuidade oral, pelo menos, da poesia. Que é
uma coisa que cada vez menos existe, a tradição oral poética. Cada vez mais isso é um
mito, tá uma coisa muito escondida, só para os grande senhores que tÊm voz grande e
que sabem declamar o Camões e não-sei-quê. Acima de tudo é isso. É é uma forma de
fazer chegar, através de sítios usuais, diários, uma forma…e assim sim, os slams ganham
muito, que é: não vão para as salas de chá nem para os salões nobres. Acho que é esse o
caminho que a poesia deve tomar enquanto iniciativa cultural. É mesmo isso, é
aproveitar os sítios mais caseiros e triviais, digamos, para fazer as pessoas, os que lá vão
de propósito ou desprevenidos, para fazer pensar um bocado e desenvolver um espírito
crítico sobre a poesia. Acho que é mais ou menos isso que eu diria. E quanto mais não
seja, a possibilidade de ganhar uma garrafa qualquer. Quanto mais não seja, por isso. À
partida é sempre…essa foi outra diferença. Porque, por exemplo, no Porto o prémio, o
1º lugar ganhou os livros e o 2º lugar ganhou a garrafa. Ou seja, compensa mais ficar em
2º lugar do que em 1º. Eu dei uma vista de olhos nos livros, aquilo era terrível. “não vinha
para aqui de maneira nenhuma tentar ganhar isto”. E o próprio vencedor disse “”se eu
sabia, queria ficar em 2º”. O vinho do Porto era realmente bom. Sei lá, aquela poesia
provavelmente encontravas no blog qualquer. Claro que tás a alimentar o vício que é
não comprar poesia, é uma verdade. Tou a ter uma posição um bocado contraditória
mas…mas pronto, naquele caso os livros não valiam muito a pena e era preferível
mesmo o vinho do Porto.
Organizador/a
1. Podes fazer uma caracterização breve do Poetry Slam X (data de início, entidade
organizadora, local de realização, frequência)
2. Como foi o processo de criação deste Poetry Slam?
3. Podes falar-me de como correu o 1º poetry slam que organizaste?
4. Que situações e/ou circunstâncias foram obstáculos/dificuldades na criação do
Poetry Slam?
5. E que situações e/ou circunstâncias foram facilitadoras?
6. Existiram/existem apoios e/ou parcerias na criação e organização periódica do
Poetry Slam?
7. O Poetry Slam X costuma ter convidados? De que áreas artísticas?
8. É importante para vocês, organizadores, ter a participação de pessoas de outras
áreas artísticas? Porquê?
9. Que tipo de reacções e comentários tens tido da comunidade?
10. Como descreves a relação entre os Poetry Slams de Portugal? (slammers,
organizadores, público)?
11. Como vês o futuro do Poetry Slam X? E o futuro do Poetry Slam em Portugal?
Slammer
1. Já leste ou fizeste performances com a tua poesia, o teu trabalho noutros eventos
para além do Poetry Slam?
Em casa com o Carapau. Quando não podemos ir…aliás, sempre que nós não
podemos ir ao Poetry Slam tentamos fazer uns comunicados, digamos. Uns
comunicados “à imprensa”. À partida fazemos isso. Lá está, tendo em vista
sempre…
E no passado?
Não, no passado não. Não fazia…
E na Oficina de Poesia?
Mas na própria Oficina de Poesia nunca tive nenhuma apresentação, por exemplo.
Ou pelo menos eu nunca fui. Nunca fui a nenhuma apresentação. Tivemos lá,
estivemos a fazer os exercícios e não-sei-quê, não-sei-que-mais mas
não…performances e assim não.
2. O que significa ser slammer, para ti? Como descreves a participação enquanto
slammer no Poetry Slam?
Muito positiva. Muito positiva. É um sítio onde me sinto bem, é um…pelo menos
são umas horas em que me sinto particularmente bem. Ainda para mais aqui em
Coimbra ao Sábado está tudo morto. É uma forma de dar uma outra cor ao fim de
semana. Também porque o grosso das pessoas são nossas conhecidas, ou seja,
estamos ali à vontade mesmo, na boa. Não vamos para aquela de concurso, não
vamos para aí, vamos só numa de…se calhar ao fim de alguns prémios, talvez. “se
calhar este poderá dar para ganhar”. Mas não é esse o objectivo né? é mesmo
aquela coisa crítica. E…como é que eu descrevo? Gosto. Gosto bastante. Também
porque acho que há uma grande diferença entre…uam grande diferença não em
termos qualitativos, nem quero pegar por aí. Não pego por aí. Proque acho que pelo
menos nós conseguimos…também quanto mais não seja somos só nós em equipa
não é? Uma equipa, que é uma coisa…só por aí é diferente. É uma coisa distinta.
Mas pela forma…a nossa poesia distingue-se um bocado dos outros, na forma de
estar distingue-se. E por aí também me sinto…sentimo-nos acho eu, o Carapau para
acompanhar é porque também deve sentir.
3. O que é a escrita do Poetry Slam? Como é escrever para participar num Poetry
Slam?
4. Como é que vocês escolhem os textos que vais usar num slam?
Isso é muito engraçado. Sabes que nós já pensámos fazer um texto com os
estatutos da nossa equipa. E geralmente até agora foi sempre assim. Juntamo-nos
tipo sábado, sábado à tarde e quanto mais perto da hora mais as coisas saem. “olha,
eh pá, o que é que vamos fazer?”. Por exemplo, na 1ª edição em que éramos a
Equipa, tínhamos a Carol, a 3 é um bocado mais complicado porque, sei lá, não
temos um…não tínhamos o hábito de poesia experimental, se é que assim
podemos chamar vá. Sei lá. Partimos do cadáver esquisito, por exemplo. Tentar sair
dali, tentar juntar alguma coisa. A partir daí, dessa experiência também, não
desenvolvendo a técnica da interlocução digamos, nós não desenvolvemos
praticamente. Lá está, se praticássemos mais durante o mês, talvez poderíamos ter
uma facilidade maior e um outro tipo já de apresentação. Mas normalmente é isso.
“eh pá olha, quem é que vamos…em quem é que vamos dar na cabeça agora?”. É
àquele, é àquela coisa ou à Igreja ou ao político. E pronto, e depois tentamos
arranjar uma forma…por exemplo, “eh pá, eu pensei numa coisa porreira. Vamos
fazer só com a 1ª sílaba e tentar fazer uma brincadeira”. Fazemos um conjunto de
palavras, digamos. Depois, “olha, o que é que tu queres dizer?” “dizes isto. Quem é
que diz isto, quem é que diz aquilo?”. Uma coisa muito…e depois ensaiamos,
geralmente. Como por exemplo…ensaiámos no próprio Slam já. Já aconteceu. “eh
pá, esta merda ainda não acabou. Temos que ir jantar.”. eu vou jantar, depois
encontramo-nos Às 22h e decidimos. Já aconteceu várias vezes ensaiarmos no
próprio Pop Fresh, por exemplo. Já aconteceu isso várias vezes, assim mesmo
naquela. Oh pá, não levamos aquilo a sério do ponto de vista do concurso. Isso não
interessa. O que interessa mesmo é fazer as pessoas pensar e fazer pensar a nossa
forma de estar com a poesia e a nossa relação com a poesia, de que modo é que a
queremos transmitir. Acho que é basicamente isso. Há coisas que saem mais giras
do que outras. Também funciona muito o acaso, o que também é engraçado. Por
exemplo, aquele vídeo “A Equi queimou-se”…pá aquilo foi uma cena incrível. Foi de
um exame electroencefalográfico meu. Nós fizemos e pensámos “olha, como é que
vamos dizer isto?” e começámos os 2 a falar ao mesmo tempo, assim naquela
tipo…de repente, “isso tá fixe. Isso encaixa fixe”…encontrámos ali uma forma…e
de repente “olha, podíamos fazer um vídeo como da outra vez”. “vamos fazer”,
“ok”. Pusemos a câmara a gravar e ficámos calados à frente. E depois o que é que
aconteceu? As coisas coincidiam. O que foi brutal. Incrível. Nós primeiro fizemos o
texto, ou ao contrário. Mas acho que foi primeiro o texto. Gravámos o texto. Depois
gravámos o vídeo e juntámos. E dava uma diferença de 10 segundos no final. A
imagem tinha mais 10 segundos que a gravação, o que só por si é brutal e depois há
muitas partes no vídeo que coincidiam e nós a pensar “parece que foi feito mesmo
de propósito”. É mesmo o acaso. Fazemos uma coisa, gostamos daquilo, oh pá tá
bom. Não queremos ganhar o Prémio Camões com a poesia que fazemos nem eu
quero ganhar o Prémio Camões no geral. Apesar de serem 100 mil euros não quero
ganhar. Mas…pronto. É mesmo isso. É uma coisa muito…e acho que nesse sentido
contribui muito a experiência poética do Carapau, em termos de leitura. É uma
pessoa muito mais velha que conhece muito mais poesia do que eu, muito mais e
uma poesia subversiva só por si, muito subversiva. E então pronto, ele diz “uma vez
vi isto. Vamos tentar fazer? Vamos tentar adaptar?” ou “podíamos fazer uma coisa”,
“de repente saiu-me aqui uma coisa”. Digamos que…não vou…vou um bocado
atrás dele…como disse é um bocado arbitrário, é uma coisa que surge por acaso. Eu
acho que é normal. Ele tem mais experiência, tem mais…acaba por…e eu
concordando com as ideias dele não vejo qualquer entrave. Não é que é só ele que
faz a poesia, de maneira nenhuma. Mas quase sempre parte dele o 1º passo. Parte
sempre dele “oh pá vamos começar a fazer isto”. A gente faz. Não é assim
muito…e pronto, é aquilo, crítica, crítica e fazer as pessoas pensar através de uma
outra forma, sei lá, que não a normal de estarem ali 2 pessoas de mãos cruzadas a
dizer poesia, um fala, o outro fala. Não. Vamos dizendo, vamos (inaudível). logo que
a gente se divirta a fazer aquilo e que tenha algum prazer e acho que é uma boa
forma de passar a mensagem que queremos. Não nos preocupamos muito. É
mesmo só…na verdade nunca falei disto com o Carapau. Nunca falei disto com o
Carapau, que poesia é que nós fazemos, o que é que vamos fazer. Geralmente até
gozamos muito. “eh pá cuidado que já ganhámos o último. Temos que fazer uma
cena. E agora vai tar lá uma editora”, gozamos muito com isso. Mas é engraçado,
nunca falámos mesmo. Não tenho ideia de alguma conversa com o Carapau sobre
que poesia é que queremos fazer. Porque acho que é um fruto do relacionamento
que tenho extra-poesia com ele. Sei lá, damo-nos bem, partilhamos muitos espaços,
muitas opiniões. Então, por naturalidade as coisas, as coisas vão surgindo e vamos
estando em acordo e vamos de encontro um ao outro.
Podes dizer que a forma como vocês falam de alguns temas enquanto discussão se
transpõe um bocadinho para outro formato?
Sim, sim.
Na poesia falam daquilo que falam também quando estão a discutir a actualidade?
Sim, sim, sim. é mesmo resultado disso. Resultado de conversas que a gente tem e
que vai tendo, do mundo que está À nossa volta. E acho que temos formas de estar
na vida muito parecidas, no geral. Embora sejamos, ainda assim, pessoas muito
diferentes, temos uma forma de estar bastante parecida e idêntica. E depois acaba
por surgir com muita originalidade.
5. Preparas-te, de alguma forma, para a tua participação no Poetry Slam?
6. E como te preparas?
7. Consideras-te poeta? Porquê?
8. (para slammers que não são organizadores) Como é que descreverias o teu
envolvimento, a tua relação com o Poetry Slam?
Isso é um bocado…(risos). Então como é que vejo isso? Acho engraçado o próprio
sistema, a ligação entre o concurso, digamos, que não é, nunca chega a ser um
concurso a sério, não é? Hmmm…
Por exemplo, há pouco dizias que uma vez por mês te juntas com o Nuno para
fazerem alguma coisa para o slam.
Exacto, olha.
Como é que te vês dentro do Poetry Slam?
Essencialmente por um trabalho em equipa. Essencialmente com o Carapau. Damo-
nos bem, relativamente bem. E é giro porque também é a 1ª vez ou foi a partir daí
que comecei a criar poesia em grupo, em conjunto. Pronto, e é engraçado…o
envolvimento…através do Nuno, né? através da Equi, é engraçado e acho que é um
envolvimento um bocado crítico para um Poetry Slam. É uma oportunidade digamos
de fazer outro tipo de poesia.
Público
1.0 (para organizadores e slammers) Também participas no Poetry Slam como parte do
público? Sim, na verdade qualquer slammer em si é sempre um público, está sempre atento ao que
os outros estão a dizer não é? Acho que sim. desse ponto de vista também me considero público porque também estou interessado em ouvir outras coisas. Não estou preocupado “eh pá, vamos arrumar agora e vamos embora”. Não. Sei lá. Estamos lá também para conhecer outras, outras poesias e desenvolver o nosso espírito crítico em relação à poesia. Também parte muito daí – aquilo que nós não queremos fazer, aquilo que nós não queremos transmitir ou não queremos, sei lá, pronto. É certo que somos anti-poesia tradicional, da quadra. Isso é ponto assente. Nem pensar. Mas pronto. Nesse ponto de vista sou público, sim.
1. (se não é slammer) Como soubeste da existência do Poetry Slam?
2. Por que escolhes o poetry slam em relação a outros eventos ou outras actividades
que poderias fazer à mesma hora e dia do slam?
Basicamente porque é poesia, na verdade. E…sendo a poesia uma coisa com a qual
me identifico e trabalho em função dela e em prol dela, pelas coisas que tenho
vindo a organizar, mas não só por aí, por me identificar bastante com a poesia e por
defender que se deve contribuir para a continuidade de oportunidades como essas.
De a gente poder, ainda assim, ter espaços de…sei lá…para bares e estar em
esplanadas tenho a semana inteira e o mês inteiro para ir. Não custa nada. É uma
coisa que…até faz bem, não é? Tás ali, na boa. É um programa diferente. Embora
nos conheçamos todos e sejamos todos amigos, é sempre um programa diferente e
um programa pelo qual nós, né?, queremos que continue sempre, que é para haver
sempre a contra-cultura também. Um gajo tem que insistir. Porque senão, então,
isto torna-se terrível. Ainda para mais numa cidade tão reacionária como Coimbra,
tchiii.
3. (só para público) como definirias a tua participação no Poetry Slam?
4. Pensas participar no slam numa das outras vertentes: organizando, competindo ou
fazendo parte do júri? Se sim, porquê?
Porque não? Porque não? E já pensei várias vezes em Santo Tirso inclusive. Via-me
facilmente a…organizar. Dependendo do tempo que tenha ou não. Já pensei nisso.
Acho que é uma boa forma de abordar a poesia em si. Apesar de toda aquela coisa
do tempo e não-sei-quê. Pronto, fora isso. Mesmo nós nunca respeitamos isso. É
raro, por exemplo, termos um cronómetro. Escrevemos e sabemos mais ou menos
que vai dar para ali. Se der…também porque o nosso tipo de poesia é muito
objectivo e não convém estar ali a perder muito tempo. Nunca é perder tempo mas
pronto. Não estamos ali com muitos rodeios. Preferimos…prefiro… acho que
posso falar pelo Nuno também, preferimos muita objectividade, muita crítica. Acho
que…é mais ou menos isso.
5. Já fizeste parte do júri de um slam?
Não.
Júri
1. Como decides a pontuação a dar?
2. Quais são as tuas principais dificuldades?
Relação com o Poetry Slam
O Poetry Slam tem, geralmente, uma parte de competição e uma parte de open mic. A
primeira tem algumas regras e uma certa ordem. A segunda pressupõe uma participação
com menos limites (tempo, adereços) e não tem a atribuição de pontuação.
1. O que pensas sobre o formato de competição?
Do formato de competição? Já pensei algumas vezes sobre isso. Para falar verdade,
já pensei algumas vezes sobre isso. Até que ponto é que o tal sistema de concurso
pode afastar ou não as pessoas, pode levar ou não as pessoas a querer participar. E
acho que a conclusão a que eu cheguei é que, feliz ou infelizmente, essa
competitividade, embora não tão estática no sentido de competitividade e de
competição, é uma forma das pessoas criarem mais, das pessoas…pronto, pode
levar…no nosso caso não mas pode levar as pessoas a desenvolver mais, a pensar
“eh pá, olha agora para o 2º vou ter que fazer um mega poema porque quero
passar, quero ir à final”. Acho que acima de tudo pode ser um motivo para as
pessoas trabalharem mais. E embora sendo competição e embora tendo a garrafa
como prémio o vencedor, também só por si pode levar, pode arrastar as pessoas a
fazer poesia. Depende de como cada um aborda a competição e os frutos que cada
um quer tirar daquilo né? mas sim. eu penso “estamos ali no poetry slam, a gente
conhece-se praticamente toda, é como se estivéssemos no café da aldeia. Olha, tem
concurso. Que tenha. Que tenha. É exactamente a mesma coisa. Até porque há
open mic”. Se nós não quisermos…se não passarmos ou não-sei-quê, nada nos
impede de continuar a…nada nos impede de continuarmos a dizer a nossa poesia.
Não é por falta de liberdade que deixamos de…agora o concurso também é um
sistema engraçado. Lá está, é o outro lado engraçado do concurso, que são as
bocas, que é muito fixe. “ei, não mereces isso”, “ei, ele é teu amigo”, “é teu
namorado”. Pronto. Até porque acaba por criar um ambiente assim mais
descontraído. Claro, há pessoas que ficam mais chateadas do que outras, né?
mas…há pessoas que ficam mais chateadas mas no geral até cria assim um
ambiente mesmo…já cheguei a fazer um paralelismo, é quase como se
estivéssemos a ver a bola, “eh pá, é falta”, “não é nada”, “ei, não digas isso”. E os
silêncios e as coisas…acho que sim. acho que faz falta. Ainda para mais, sendo
conctracultura, digamos, ainda para mais com isso é uma forma de incentivar e de
chamar mais pessoas e…só a partir do momento em que…eu já pensei que o ideal
era não haver competição mas para chegarmos a esse ponto temos que criar uma
base, tem que se criar uma base de participantes e uma regularidade de
participantes e depois as pessoas dizem “olha, já não é preciso. Vamo-nos juntar”. E
se calhar até já não é ao 1º sábado e já é tipo, de repente por mensagem “olha,
vamo-nos juntar ali, vamos fazer poesia”, por exemplo. Mas até lá chegar é preciso
criar uma regularidade e um sistema e esquematizar a coisa mais ou menos bem e
criar nas pessoas um hábito, que é uma coisa, ainda para mais com a poesia não há.
E também por isso, que é contracultura, não há esse hábito, não há o hábito da
poesia de café, não há o hábito de nada disso. Pronto, tem que ser. Acho que é,
acho que é quase inevitável contornar isso. Agora lá está, eu tou a dizer isto do
ponto de vista aqui de Coimbra. É aquele que eu conheço mais a sério. Fui aquela
vez ao Porto mas pronto. Mas se calhar se conhecesse outros slams já teria um
outro ponto de vista, né? se calhar…eh pá, somos 70 aqui, vamos ter que…não vai
toda a gente dizer agora “cada um tem 20 min para dizer um poema”, né? se calhar,
há sítios em que a competição faz mesmo falta para normalizar…é uma forma de
teres um padrão, cada um tem os seus 3 min. É uma forma também de…não vão
todos dizer um poema ao mesmo tempo. Era muito bonito, se calhar, mas tem que
haver uma ordem ainda assim. Embora não seja muito a favor da ordem, há coisas
que tem que haver a sua ordem. E se calhar aí faz todo o sentido porque,
independentemente das formas que as pessoas possam abordar em competição, é
uma forma de haver uma organização lógica dos inscritos. Digo eu.
Achas que isso também permite a quem está como público de poder ususfruir
melhor, ou mais, tendo em conta que está estruturado?
Pois. Poderá, poderá perfeitamente. Na verdade, toda…todas as competições…ou
toda a actividade competitiva tem fases, não é? Então também é uma forma de o
próprio público se interessar, “eh pá, não vou à fase de grupos. Só vou à meia final
ou à final porque ali é que deve estar mesmo a cena”. E se calhar uns dizem “eh pá,
olha, não vou à final ou não-sei-quê. Vou só aqui a estes porque se calhar ouço mais
poesia. Não está tão…” acho que sim. poderá também criar no público a…
1.1. A utilização deste formato no poetry slam faz-te repensar o conceito de
competição?
2. E o que achas da parte de open mic, microfone aberto?
3. O que pensas do papel, da função do júri?
É um papel engraçado. É um papel…interessante, na verdade. Porque, pronto.
Dependendo sempre do júri que calha. Acho que a posição do júri, tratando-se de uma
posição que as pessoas não estão habituadas nem acostumadas ao que é poesia ou À
poesia contracorrente ou À poesia não-comum…pronto, é um confronto do pessoal, da
educação que também é outro problema – a educação poética que todos nós temos, que é
terrível – é um confronto e depois vai muito no gosto ou não gosto, apenas. Acho
que…pelos públicos…pelos júris que temos tido acho que não há muito aquele senso,
aquele senso do poeticamente aceitável, do poeticamente bom mas há muito o “gosto ou
não gosto”, “identifico-me ou não me identifico”.
Por que é que achas isso?
Acho que, essencialmente, a culpa é da Educação poética que tivemos que é muito
castradora, na verdade. Então, só por si, limita as pessoas a horizontes poéticos
muito…limita mesmo. Tou um bocado perdido nas ideias. Mas limita muito as pessoas
de…sei lá, por exemplo, eu noto perfeitamente, já cheguei a notar isso em alguns poemas
que tivemos, a questão do engraçado ou do não-engraçado. Num critério poético, à partida
não entra, é engraçado ou não é engraçado…à partida vai-se pensar “o que é que estes
gajos tentaram dizer?”, “como é que eles transmitiram a mensagem?”, “transmitiram
bem?”, “o que é que poderiam ter feito para transmitir melhor?”. Acho que, se calhar, os
critérios seriam outros. Aliás, nota-se perfeitamente isso no voluntariado do público. É
quase zero.
Por que é que achas que é assim?
Porque as pessoas realmente não estão habituadas a ouvir poesia. Acho
essencialmente isso. Porque as pessoas não estão habituadas a ouvir poesia e têm
medo de avaliar. E também porque o público não é assim tão grande quanto isso
que permita estender-se além dos amigos e dos conhecidos. Que também é muito
isso. O júri tem-se baseado nos conhecidos que vão por arrasto dos participantes.
Que á partida pode criar uma certa tendência, pontual ou não, não discuto isso.
Mas…essencialmente é isso. O à vontade de estar a ajuizar alguma coisa também é
uma coisa muito comum. As pessoas darem algum juízo de valor sobre as outras. As
pessoas têm medo do que o outro possa pensar “ihh, eu vou-lhe dar 6 pontos. Que
coisa terrível” “vou estar ali mesmo À frente de todos a olhar para eles”. Não sei.
Na verdade nunca perguntei a nenhum júri por que é que ele foi júri.
4. Achas que deviam ser dados critérios prévios ao júri para a avaliação que fazem?
Não. Não. Acho que aí perderia muito a essência.
E achas que o júri devia ter algum tipo de formação na área da poesia?
Não vamos aqui pedir currículos, né?
Mas achas que seria positivo ou achas que não deve, de todo, ser assim?
Agora fizeste-me lembrar uma coisa do Porto. Eles fazem um poema piloto. Isso
para mim, eu acho que isso é terrível. Eu acho isso terrível. Acho isso terrível porque
é quase como virar-se para o júri e dizer “olha, este tipo de poesia, que pontuação é
que vocês vão dar a este tipo de poesia?”. Por muito que a boa vontade seja para
treinar e para as pessoas ensaiarem e não-sei-quê. Acho que acaba por limitar muito
os critérios do próprio júri. Porque o júri, quanto mais desprevenido for mais sincero
é porque mais reproduzirá os seus estereótipos e os seus preconceitos. Agora,
quando chegas lá e dizes, não é?. Por exemplo, suponhamos que há um concorrente
que chega e que está a pensar dizer um poema só com um A. Se o poema piloto for
o A e o júri votar tudo zero, o concorrente já não o vai dizer. Eu penso assim. À
partida vai limitar logo a participação de alguém porque sabe que aquele formato
deu aquela pontuação. Por muito que seja a organização, por muito que seja quem
seja, sabem que têm aquela, aquela pontuação. Agora critérios não, nem pensar. É
uma coisa que para mim…acho que é mesmo, é mesmo, acho que aí perderia o
carácter de livre arbítrio e passaria a ser uma coisa imposta. Já chega perfeitamente
o regulamento para os participantes e o resto, eh pá, “olha, têm até 10 e 2 casas
decimais”, chega perfeitamente. Ou seja, já que os participantes são livres, o júri
também deve ser livre e é interessante haver esse confronto. Para aqueles que
levem a competição mais a sério. “olha, aquele ali vai-nos queimar”. Já sabes que
aquele ali não gostou nada. “o próximo vai ter que ser um bocado diferente”. Pode
acontecer isso. E nós conseguimos perceber isso através dos primeiros poemas que
se dizem – aquele não gosta, aquele já é mais assim, aquele já é mais assado, aquele
achou piada e não-sei-quê. É isso. Os critérios, não sou nada a favor disso.
5. Como é que é o público do poetry slam?
6. O que pensas sobre a condição de os textos terem que ser da autoria do slammer
para que possa participar na competição?
7. Na tua opinião, qual foi a razão para se criar um evento desta natureza, com estas
características?
8. Qual a tua opinião sobre os textos que são lidos, performados no poetry slam?
Pois…então? Se naquelas primeiras edições estava habituado àquela poesia mais,
mais ritmada, mais…disciplinada, digamos, mais, mais sonora do ponto de vista
rimático, acho que tem-se caminhado lá está, aqui em Coimbra, tem-se caminhado
muito…por exemplo, a própria Bárbara que tem, apresentou aquela coisa do Cage,
apareceu aquelas raparigas que também eram da Oficina. Também foi a 2ª equipa
que participou, não foi? Acho que tem havido uma alteração do ponto de vista dos
textos. Já há mais…não há tanto…até os próprios MC’s também. Acho que tem
havido uma maior abertura para fugir ao padrão normal.
9. Achas que há um tipo de texto, um tipo poesia do poetry slam, que tem mais a ver
com o poetry slam? (se sim) Podes descrever, dizer como é, esse tipo de texto?
Não. Não. Acho que, essencialmente, é uma convicção individual que as pessoas
têm. Também por as pessoas saberem que vão encontrar outros tipos de poesia,
também tÊm o à vontade de…e é bom que não haja esse padrão. É bom que não
haja esse padrão porque foi o medo que eu tive no Porto, que se criou, que foi estar
ali uma poesia muito tendencial para aquilo, muito…virada para aquele…para uma
poesia mais regular, mais bem comportada digamos. E, de resto, não há padrão.
Nós temos o nosso padrão, cada um tem o seu padrão., é lógico. Mas lá não há
nenhum texto que seja padrão porque cada um sente-se à vontade de dizer coisas
completamente diferentes. Há pessoas muito distintas lá. Mesmo coisas, desde o
Valinhas àquela rapariga que apareceu na 1ª edição. Depois a Carolina também. Lá
está, são formatos completamente diferentes e acho que isso é que é a coisa mais
interessante e mais bonita do próprio slam. É as pessoas terem o à vontade de tar
ali, dizem a sua cena, quem gosta gosta, quem não gosta temos pena. As pessoas
divertem-se, acho eu. Há os que ficam zangados e não aparecem mais, não é? Mas ,
sei lá, acho que não há padrão. Não há padrão, não. Nem há um texto indicado
para…quanto muito as pessoas podem alterar a ordem dos textos em função da
ordem de participação e em função da eliminatória do júri. Quanto muito as pessoas
podem fazer isso. Agora no geral não.
10. O que gostas mais no Poetry Slam?
Poder trabalhar em equipa com o Carapau. Ter sido um motivo para trabalhar com o
Carapau. Trabalhar poesia com ele e criar um projecto poético os 2. Ter sido um
motivo para criarmos um projecto poético. Além disso, o que possa gostar? É o que
temos vindo a falar. O carácter descontraído, estarmos ali muito informalmente,
dizer poesia, sentirmo-nos bem, podermos fumar onde dizemos poesia, que é muito
bom (risos) e beber. E…acho que é isso.
11. O que gostas menos?
Pá, é da falta de participantes. Basicamente é isso. O que eu gosto menos é…se
calhar tinha criado uma expectativa na 1ª edição de que nunca iria haver slams, fora
épocas de exames ou épocas natalícias, em que não houvesse concurso, em que
não houvesse gente suficiente para a poesia. Pensei “ai e tal, aqui, fim de semana,
as pessoas…podem ter um pretexto para ficarem cá ao Sábado uma vez por mês”.
Mas basicamente é isso que eu não gosto. E, sei lá, agora ali no Base Tango mete-
me confusão pôr o cú no chão. É um bocado terrível. De resto é isso. O que é que eu
não gosto? Claro que se calhar é uma posição…tudo bem, à partida somos os que
menos temos a dizer sobre o que não gostamos porque temos tido…temos ganho
algumas edições mas…mas no geral não há nada que eu não goste, a não ser a falta
de participantes e a falta de movimento social poético, digamos. É disso que eu não
gosto porque poderia estar melhor, poderia crescer.
12. Já falaste sobre o Poetry Slam com pessoas que não ouviram falar ou nunca
estiveram num? O que dizes?
“Olha, vou ao Slam Poetry”. Não vou dizer que vou a um concurso de poesia porque
não queria um hábito no ouvido das pessoas. É importante ter o nome. E tendo em
conta que é um movimento…é um movimento que passa Coimbra e que passa
muitas fronteiras, é importante dizer isso. E que me vou lá divertir com um colega
de equipa, vou espalhar a palavra, vamos espalhar a palavra, vamos brincar com as
palavras e que é um sítio descontraído onde as pessoas estão lá e conhece-se várias
poesias e que é um bom sítio para começar uma noite. Pronto.
Já falaste com pessoas que não sabiam o que era?
Sim, muitas.
E o que é que as pessoas te dizem?
“e o que é isso?” “eh pá, olha, havendo as pessoas suficientes as pessoas fazem um
concurso. tÊm 3 minutos, tem tempo limitado, têm eliminatórias, há um júri que
vem público (que é importante) e que vota. Um júri aleatório, ou mais ou menos
aleatório dependendo do voluntariado que existe e pronto, as pessoas estão ali,
dizem poesia e depois vai para um para o seu canto no final. E é mais um programa,
é mais uma coisa diferente num dia de uma pessoa”. Acho que basicamente é isto
que eu digo, geralmente. É o júri, é o tempo limitado, é isso. E que é num café,
pronto. E que é num café.
13. Na tua opinião, o que é que atrai as pessoas, público e slammers, no Poetry Slam?
14. Na tua opinião, para que serve o Poetry Slam?
15. No mundo da poesia, o Poetry Slam é um evento mainstream (de massas, popular)
ou underground, de contracultura (é uma sub-cultura com normas e valores que se
opõe àquilo que é mainstream, ex: Beat generation, hippies)?
Sim (é de contracultura). Para já porque é um formato em que as pessoas não estão
habituadas a ver a poesia. É um formato diferente. Ainda para mais, é contracultura
em Portugal, ou aqui em Coimbra, porque é uma coisa que não é…que não está
presente logo à primeira na cabeça das pessoas. Aí, se já seria cultura e não
contracultura, por estar num plano inferior de conhecimento das pessoas ou de…é
contracultura, claro que sim. o próprio formato de concuros. Não há nenhum
concurso em 2 horas, assim de repente…em 2 horas com 3 minutos é. É uma coisa
completamente distinta do resto. Por esses saraus fora basta ver perfeitamente que
é uma contracorrente. É o único espaço que eu conheço, e embora não seja o mais
conhecedor do que por aí fora se faça, é um espaço onde vários tipos de poesia se
juntam. À partida, não há assim muitas oportunidades de se organizar um sarau
poético ou um encontro poético em que coisas tão diferentes se juntem com
linguagem tão livre e sem qualquer tipo de restrição. Até o próprio sistema de
inscrição, por exemplo. É uma coisa muito…não é leviana mas é uma coisa muito
soft. É assim mesmo muito tranquilo, muito…é contracultura para mim.
16. Achas que existe uma comunidade em torno do Poetry Slam em Portugal? Porquê?
17. Achas que há grupos/comunidades de diferentes tipos de poesia?
18. Identificas algum tipo de relação entre as pessoas dos Poetry Slams de Portugal?
Apercebes-te de circulação de pessoas entre slam´s? (excepto para organizadores)
19. (excepto para organizadores?) Achas que o Poetry Slam é influenciado por outras
áreas artísticas (excepto poesia, performance)? Como?
20. Baseando-te na tua experiência de frequentadora de eventos de poesia, podes
fazer uma comparação entre o poetry slam e outros eventos de poesia em que há
leituras e performances de poesia?
Então, como é que eu comparo? Acima de tudo, a forma como se aborda a poesia. O
facto de não haver, lá está, um padrão textual e performativo, embora havendo
limitação de não poder levar adereços. Faz com que várias formas poéticas se
encontrem…ou desencontrem. E…
Comparativamente com outros eventos? Achas que isso não acontece noutros
eventos?
Pelo menos os que eu tenho conhecimento não. Porque geralmente quando há uma
organização poética, tem sempre um fim à vista. Ou é para fazer a abertura da
exposição ou é para dar os Parabéns aos Bombeiros Municipais ou…percebes? Ou
para o lançamento de uma revista ou de um jornal, é giro meter lá uns gajos a dizer
poesia porque a poesia é muito fixe. Acho que acima de tudo é isso. É diferente,
mesmo. Dá oportunidade, não é uma coisa imposta, muito arbitrária, muito flexível
e…pronto. Permite, com isso, que as pessoas vão lá e digam a sua cena. Acho que é
mais ou menos isso.
E a poesia do Poetry Slam comparando com a poesia na sua generalidade aqui em
Portugal?
Pois…é uma poesia que…tanto quanto o que tenho percebido é uma poesia…que
não é, do ponto de vista literário editável, digamos. Ou comprável, no sentido
de…porque não há esse hábito, porque não há esse hábito, precisamente. Sei lá, o
próprio caso…o vosso caso, aranhiças & elefantes, vocês vão lá dizer, que hábito é
que existe de poesia experimental aqui?, que hábito é que existe de comprar um cd
poético a não ser na FNAC, do Fernando Pessoa, do Cesário Verde? Não há esse
hábito. Ao mesmo tempo é mau, pronto, é por isso. E é por isso que não é
comprável, porque não há o hábito das pessoas estimularem esse tipo de coisas. E
nesse sentido, é uma poesia que se distingue da poesia comercializada. É uma
poesia que está um pouco à margem. E acima de tudo é uma posição em relação À
poesia de promoção, que é muito bom. Que é “oh pá, todos nós estamos fartos de
conhecer o autor X ou a autora Y mas não conhecemos o vizinho do lado, o que ele
diz”. “Todos nós vamo-nos juntar e pegar no livro de não-sei-quem e vamos dizer
poesia”. Não. É bom conhecer a pessoa que está ao nosso lado, que poesia é que tu
tens. É uma forma de incentivo e, acima de tudo, lá está, a promoção,
independentemente de que estilo seja, da poesia em si. E como não é uma poesia
muito comum faz com que…estimula à criação poética e acaba por fazer, obrigar as
pessoas a fazer uma poesia diferente. Como, à partida, os públicos são mais jovens,
né?, estão alguns mais cansados dos formatos tradicionais, faz com que as pessoas
criem uma outra poesia. Acho que é isso.
Como é que comparas a poesia do Slam com a poesia que se estuda?
Não tem nada a ver (risos). Não tem nada a ver. pelo menos no geral, embora haja
nitidamente aqueles casos em que tu vês “olha, este ainda não se desprendeu da
poesia salmística da Bíblia” mas no geral não tem mesmo…pronto. A própria
questão da rima, o facto de…de não haver ali um rigor de júri ou isso faz com que as
pessoas tenham poesias completamente diferentes. Não sei. É uma boa pergunta. E
especialmente comparando a nossa poesia que nós fazemos e aquela que estamos
habituados a ouvir (inaudível). não há praticamente, não há muitas semelhanças.
Acho que não há mesmo…não há a cultura da contrapoesia ou da poesia…neste
momento estamos muito…e eu próprio tou muito virado para a poesia do ponto de
vista experimental. Acho que não há. Tenho a certeza que não há. Não há mesmo
essa…
Achas que a poesia de um slammer poderia ser estudada na Universidade?
Na verdade, isso é o que faz falta. Não propriamente em termos de um slammer ou
o que quer que seja mas no sentido de estudar poesia. Que é uma coisa que não se
faz. Estudam-se poetas. Já estão enterrados e maior parte deles não faz falta já. E
geralmente não se estuda poesia, reproduz-se poesia. Eu acho. Também por isso, há
uma falta de sensibilidade e uma…uma postura inculta muito grande. Também em
consequência disso. Claro que se poderia estudar, perfeitamente, como, sei lá. Da
mesma maneira que defendo que se devia estudar poesia feminina, que é uma coisa
que não se estuda por exemplo. As Novas Cartas Portuguesas, um dos livros mais
importantes da Literatura Portuguesa do séc. XX, é um assunto tabu. Mesmo na
própria Faculdade. É um assunto tabu, que não existe. Da mesma forma que
defendo que se deva estudar outras formas de poesia, defendo que se deva estudar
a poesia do slammer. Agora, claro que é a credibilidade, é a questão da
credibilidade. “será que ele tem credibilidade? Quem é esta pessoa? Vamo-nos pôr
agora a estudar a poesia que uma pessoa faz num guardanapo? Isso agora é
poesia?” sim, sim, é poesia. Isso é uma forma de desconstruir o próprio sentido de
poesia, o espírito crítico da poesia. Eu defendo perfeitamente que se deva estudar,
claro que sim. no geral, é um princípio para criar um hábito poético diferente do que
existe hoje. Há muitas pessoas que estão presas às referências ponto. Estão presas
àquelas referenciazinhas, àqueles nomes e aparece-lhes um poema…por exemplo,
eu vejo muito isso em Literatura Africana. Há um poema qualquer de…aparece um
formato diferente, as pessoas não sabem interpretar. “isto é poesia? O que é isto?”
qualquer estudo de poesia que não seja a padrão e a que vem do Básico e da
Primária, é boa para se estudar porque faz as pessoas pensar no que é a poesia e
para que serve a poesia. Até que ponto a poesia nos faz questionar coisas e nos
levanta problemas.
21. (excepto para organizadores) Como vai ser o futuro do Poetry Slam em Portugal?
Gostarias de acrescentar alguma coisa?
Talvez uma maior…se houvesse uma maior divulgação. Não tou a dizer só no vosso
caso em concreto. Mas sei lá. Por exemplo, gostava de ver, como vocês tentaram
fazer, não sei se em Lisboa também é assim ou não, mas a questão de juntar os vídeos,
tentar juntar os vídeos e isso. Poderia pensar num formato Slam Poetry interarte. Estar
várias pessoas ali. Digamos que o slam seria um pretexto para as pessoas fazerem
alguma coisa para apresentar. Cruzar coisas. Acho que isso é muito importante. Apesar
de que, claro, já estamos a partir do princípio de que só a poesia não chega para
prender as pessoas. Mas acho que a poesia deve ser inclusiva e quanto mais estímulos
tiver…quanto mais não seja e uma actividade cultural. É uma actividade cultural…da
mesma forma que não gosto de ir a um concerto e só ouvir música. Gosto de ver o
cartaz que tenho à porta ou o que é que tenho na casa de banho escrito. Também
gostava de ver slams com…se calhar para isso, para criar um hábito poético digamos
que diferente, poderia passar pela televisão, pela RTP2. Eles há pouco tempo fizeram
aquela coisa, os 30 segundos de poesia. Sei lá, poderia perfeitamente fazer referência
ao poetry slam.