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7422 RELATO DE EXPERIÊNCIA ACERCA DE UMA AULA EXPERIMENTAL DE FÍSICA: AS DUAS LEIS DA TERMODINÂMICA Juliane RODRIGUES, Pamella Aline ALMEIDA, Hadassa Harumi Castelo ONISAKI, Universidade Federal de São Paulo Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES ) Eixo 01 - Formação inicial de professores de educação básica [email protected] 1. Introdução Questões complexas a uma fase muito importante na vida de qualquer ser humano - o adolescer - têm sido o foco de atenção de muitos profissionais. Atualmente, professores de todas as áreas, desenvolvem projetos e pesquisas com a finalidade de encontrar respostas a estas questões. Afinal, conhecer e entender a fase pela qual seus alunos estão passando é imprescindível para qualquer professor que queira alcançar sucesso em seu objetivo. Para os adultos a adolescência tem como obrigatoriedade realizar o desejo reprimido pelo adulto, contando com o ideal de autonomia, de liberdade e ausência de limites. “O adolescente é aquele que “interpreta” e realiza o desejo inconsciente do adulto moderno. Ao adolescente é permitida a vivência de um prazer pleno marcado pela ausência dos limites aos quais os adultos tiveram de se submeter” (Calligaris, 2000). A adolescência é o período no qual o jovem vai desenvolvendo os atributos necessários para a vida adulta como maturidade cognitiva, capacidade de argumentação, autonomia e independência e ao mesmo tempo ele constrói a sua identidade e evolui em maturidade hormonal para uma vida plena em todos os campos (sexual, afetivo e profissional). “É um momento de perda de ansiedade diante do novo, de vivência de várias crises emocionais. Os adolescentes sentem a dor de deixar para trás a infância, o corpo infantil, a dependência. Ao mesmo tempo, temem não conseguir corresponder às expectativas do mundo adulto e se inquietam diante do futuro, o eterno desconhecido. Mas todas essas crises são transitórias, como um caleidoscópio sempre em movimento (Amaral, 2006)”. Na busca de identidade os jovens querem explorar o seu caminho a seu modo. Acredita ter seus ideais, sonhos, como por exemplo o desejo e a certeza que pode mudar o mundo. Buscam conquistar a emancipação para a construção de sua identidade e

RELATO DE EXPERIÊNCIA ACERCA DE UMA AULA …200.145.6.217/proceedings_arquivos/ArtigosCongressoEducadores/6… · Juliane RODRIGUES, Pamella Aline ALMEIDA, Hadassa Harumi Castelo

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    RELATO DE EXPERIÊNCIA ACERCA DE UMA AULA EXPERIMENTAL DE FÍSICA:

    AS DUAS LEIS DA TERMODINÂMICA

    Juliane RODRIGUES, Pamella Aline ALMEIDA, Hadassa Harumi CasteloONISAKI, Universidade Federal de São Paulo

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

    Eixo 01 - Formação inicial de professores de educação básica

    [email protected]

    1. Introdução

    Questões complexas a uma fase muito importante na vida de qualquer ser

    humano - o adolescer - têm sido o foco de atenção de muitos profissionais. Atualmente,

    professores de todas as áreas, desenvolvem projetos e pesquisas com a finalidade de

    encontrar respostas a estas questões. Afinal, conhecer e entender a fase pela qual seus

    alunos estão passando é imprescindível para qualquer professor que queira alcançar

    sucesso em seu objetivo.

    Para os adultos a adolescência tem como obrigatoriedade realizar o desejo

    reprimido pelo adulto, contando com o ideal de autonomia, de liberdade e ausência de

    limites. “O adolescente é aquele que “interpreta” e realiza o desejo inconsciente do adultomoderno. Ao adolescente é permitida a vivência de um prazer pleno marcado pela

    ausência dos limites aos quais os adultos tiveram de se submeter” (Calligaris, 2000).

    A adolescência é o período no qual o jovem vai desenvolvendo os atributos

    necessários para a vida adulta como maturidade cognitiva, capacidade de argumentação,

    autonomia e independência e ao mesmo tempo ele constrói a sua identidade e evolui em

    maturidade hormonal para uma vida plena em todos os campos (sexual, afetivo e

    profissional). “É um momento de perda de ansiedade diante do novo, de vivência de

    várias crises emocionais. Os adolescentes sentem a dor de deixar para trás a infância, o

    corpo infantil, a dependência. Ao mesmo tempo, temem não conseguir corresponder às

    expectativas do mundo adulto e se inquietam diante do futuro, o eterno desconhecido.

    Mas todas essas crises são transitórias, como um caleidoscópio sempre em movimento

    (Amaral, 2006)”.

    Na busca de identidade os jovens querem explorar o seu caminho a seu modo.

    Acredita ter seus ideais, sonhos, como por exemplo o desejo e a certeza que pode mudar

    o mundo. Buscam conquistar a emancipação para a construção de sua identidade e

    mailto:[email protected]

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    possuem um desejo de experimentar o desconhecido (sem vínculos afetivos). Se

    levarmos em consideração a complexidade subjetiva desta fase e somarmos as

    mudanças hormonais, teremos como resultado as emoções a flor da pele, ou seja, jovens

    intensos e sem saber lhe dar com estas emoções e tantas mudanças.

    “É essencial a identificação para a construção do novo adulto, por isso os

    adolescentes se organizam em “grupos de pares” ou “melhores amigos” (Lacan, 1999)”.

    Aqui encontramos uma explicação para o fato dos adolescentes estarem sempre em

    grupos, e lutarem e se esforçarem para serem aceitos.

    Os adolescentes vivem em um mundo desafiador e cheio de cobranças, onde

    precisam definir seu futuro, sofrem com a pressão para a escolha da profissão certa, se

    preocupam em encontrar seu primeiro parceiro sexual, e com tantas outras questões

    como gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis, cuidado com o corpo,

    enfim há questões individuais também. Neste momento há a necessidade de que os

    adultos confiem neles, acompanhem seus sonhos, fiquem ao seu lado, acreditem em

    suas capacidades.

    Voltando a relação professor - adolescente precisamos nos ater ao significado da

    palavra Formar. “Formar é: levar o aluno a achar o seu próprio caminho, a transformar-se,

    a evoluir, a refletir, a mover-se, a relacionar-se. É aquele que vai ao encontro dos temas

    de interesse do aluno. Nesse processo, o professor apaixonado se coloca como

    mediador, facilitador ou catalisador do processo de formação e, ao mesmo tempo, como

    alguém também se formando movimentando-se, transformando-se, evoluindo,

    relacionando-se com trocas enriquecedoras e significativas ( Gutierra, 2003)”. Ora o que

    é a adolescência se não o formar de um novo adulto, analisando os pontos citados acima

    e a importância do professor nesta formação, e respeitando as condições do que é ser

    adolescente, montamos uma aula experimental de Física a cerca do tema as Duas Leis

    da Termodinâmica.

    2. O Local e o Grupo Participante

    A aula experimental de Física com o tema as Duas Leis da Termodinâmica foi

    ministrada aos alunos do 2º ano do ensino médio do período da manhã (um total de 76

    alunos frequentes) com faixa etária entre 16 e 17 anos, matriculados na Escola Estadual

    Professor Riolando Canno, situada na Rua Tapuias,509; Bairro Conceição na cidade de

    Diadema, estado de São Paulo.

    As aulas foram ministradas por 3 alunas da Unifesp campus Diadema,

    participantes do projeto Pibid de Física (2015), juntamente com a professora contratada

    pelo estado de São Paulo para ministrar aulas regulares de física para os alunos em

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    questão na escola citada acima. O tema de termodinâmica foi abordado no período entre

    os dias 05 de outubro de 2015 á 05 de novembro de 2015.

    2.1 Etapas desenvolvidas pelo grupo

    O Pibid2 de Física (2015) da Unifesp1campus Diadema, foi composto por um

    professor coordenador (que faz parte do corpo docente da Unifesp campus Diadema),

    por 8 alunos do curso Licenciatura plena em Ciências (Unifesp1campus Diadema) e por

    um professor da rede pública contratado pelo estado de São Paulo. Se realizava reuniões

    periódicas afim de discutir temas acerca da educação de jovens e montagem de planos

    de aulas para alunos do 2º ano do ensino médio a respeito de Física.

    As reuniões se iniciaram com leituras acerca da sociedade contemporânea, com

    foco no que é ser adolescente, assim levantando questionamentos sobre o assunto como

    por exemplo a importância de o professor conhecer e saber respeitar seus alunos

    conforme as dificuldades apresentadas pelos mesmos.

    Em seguida ocorreu a atualização acerca dos temas que se deve ser abordado no

    2º ano do ensino Médio na área de Física através da Parâmetros Curriculares Nacionais

    (Mec- SEMT EC, 2002), assim o grupo foi dividido em grupos e definiram quais temas

    cada grupo iria abordar em sala de aula. Os temas foram definidos de acordo com a

    Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Física Ensino Médio (Secretaria da

    Educação, 2008).

    Com os temas já definidos cada grupo foi responsável por planejar e por em

    prática (com os alunos e local citado no item acima) um plano de aula segundo os temas

    escolhidos, este texto irá relatar especificamente sobre o tema escolhido pelo grupo

    destas que os escreve, que foi termodinâmica, assim ocorrerá a descrição a respeito da

    aula experimental a cerca deste tema.

    A apresentação do grupo Pibid de Física (2015) aos alunos do 2º ano do Ensino

    Médio do período da manhã da Escola Estadual Professor Riolando Canno ocorreu em

    agosto de 2015, onde o grupo se dirigiu até a escola, foram apresentados um a um, foi

    abordado sobre o que é Pibid, objetivos e intensões do grupo e houve a oportunidade

    para apresentar a Unifesp. Após a apresentação o grupo começou a desenvolver com os

    alunos os planos de aulas que haviam montado anteriormente, iniciando com o tema de

    calorimetria em agosto de 2015.

    3.Montagem desenvolvida na aula

  • 7425Figura SEQ Figura \* ARABIC 1 : Aluno

    O iniciar da aula foi através do experimento para prender a atenção dos alunos e

    os surpreendê-los e instigar a curiosidade dos mesmos.

    A aula em questão foi titulada como As Duas Leis da Termodinâmica, a aula foi

    dividida em duas partes, a primeira foi dedicada a montagem do experimento, e a

    segunda a execução do experimento.

    O experimento em si se trata da montagem de um barquinho a vapor utilizando

    garrafa pet (250 ml), vela, tubo de cobre (3mm).

    A garrafa pet foi previamente cortada e furada (por questão de economia de

    tempo), o cobre e a vela foram inseridos pelos alunos, o cobre foi manuseado com o

    auxílio de um alicate.

    Nas imagens abaixo podemos observar o material preparado pelos alunos e o

    momento em que os alunos montavam seus respectivos barcos, sendo mediados pelas

    instruções das alunas de graduação:

    Figura 2: Alunos sendo mediados na montagem do barco pela aluna de graduação.Figura 1: Barcos feitos por todas as turmas

    participantes do experimento.

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    Os alunos foram divididos em grupos de 5

    integrantes, eles escolheram seus

    grupos, e cada grupo montou um

    barquinho. Após a montagem os

    alunos foram dirigidos ao pátio, onde foi

    preparado um taque (cheio de água) para o funcionamento do barquinho. O desafio em

    questão era colocar o cobre e a vela de forma que o barquinho não afundasse e andasse

    ao acender a vela. O grupo que conseguisse cumprir o objetivo ganharia um prêmio

    nosso.

    Enquanto a segunda parte da aula era executada foi aproveitado para explicar o

    funcionamento do barquinho e como a 1ª e 2ª Lei da Termodinâmica se aplicava neste

    caso. Foi necessário elaborar algumas questões para maior reflexão dos alunos:

    ● Por que o barquinho anda?● Neste experimento ocorre mudanças de estado da água, com base nas

    observações do grupo em que momento estas mudanças ocorrem?

    Explique detalhadamente.● De acordo com o que foi estudado em Calorimetria podemos dizer que

    houve troca de calor neste experimento?● Podemos dizer que houve um rendimento de 100%? Por quê?

    Vale ressaltar que para um melhor aproveitamento é necessário que se tenha

    ministrado uma aula anterior a respeito das Leis da Termodinâmica.

    4. Considerações Finais

    Figura 4: Barco feito pela turma b dentro da bacia com água.

    Figura 3: Adolescentes sendo orientados pelas alunas de graduação

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    A aula ministrada aos alunos da Escola Estadual Professor Riolando Canno, foi

    planejada e executada cuidadosamente, respeitando e compreendendo os alunos nos

    seus aspectos adolescente de ser.

    Durante a aula em questão foi dada a liberdade de escolha, onde cada aluno

    pode escolher seu próprio grupo, provando que existia uma relação de confiança. Ao

    montarem seu barco cada grupo de certa forma provou de sua autonomia. Um

    acontecimento que chamou a atenção foi o fato dos alunos colocarem nomes em seus

    barcos, sendo que algo assim não foi pedido, ou seja, pôde se observar que eles se

    sentiram a vontade para soltar a criatividade, deixando claro que a presença do grupo

    não os reprimiu.

    Referente a execução do experimento os alunos se mostraram competitivos, e

    ficou claro como cada um enfrenta desapontamentos, houve alunos que aceitaram não

    ter sido o grupo perdedor, alguns se mostraram desapontados e alguns não aceitando o

    resultado final pediram para refazer o experimento.

    No geral foi despertado o interesse pelo tema proposto, os alunos questionaram o

    porque do barquinho não andar, o porque do afundar e principalmente o porque do

    barquinho andar, após as explicações mesmo a competições terem acabado, alguns

    grupos refizeram seus barquinhos para os fazerem funcionar.

    O maior obstáculo ao colocar este plano de aula em prática foi a compra de

    materiais, o tubo de cobre foi o material mais difícil de se encontrar, e o material também

    se mostrou pouco flexível.

    Apesar das adversidades, que são comuns ao ministramos aulas práticas em

    salas de aulas que não apresentam o ambiente adequado para tal, acreditamos ter sido

    alcançado o objetivo da compreensão das leis da termodinâmica, além de despertar o

    interesse dos alunos para a física.

    REFERÊNCIAS

    AMARAL, M. T. Educação, Psicanálise e Direito: Combinações Possíveis para

    se Pensar a Adolescência na Atualidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

    BRASIL. Secretaria de Educação Média: Parâmetros Curriculares Nacionais + -

    Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros

    Curriculares Nacionais. Física. Secretaria de Educação Média. Brasília: MEC –

    SEMTEC, 2002. 122p

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    FREUD, S. (1914) Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar.Edição Standard brasileira das Obras Psicológicas completas deSigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Ed. LTDA, 1987, v. XIII.

    GUTIERRA, B. C. C. Adolescência, Psicanálise e Educação: o mestre

    possível dos adolescentes. São Paulo: Avercamp, 2003.

    LACAN, Jacques. O Seminário: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar, 1999. Livro 5. Tradução de Vera Ribeiro.

    Feira de ciências. Disponível em: . Acesso em 2 de fevereiro de 2016.