Upload
trinhquynh
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CAFOD, Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil, Pastorais Sociais da CNBB e Comissão
Brasileira de Justiça e Paz (CBJP)
Relatório Final de Avaliação Final Externa
Projeto: “Programa Justiça Econômica (2007-2013)”
Elaborado por Evilasio da Silva Salvador
Brasília-DF, janeiro a outubro de 2013.
2
Índice
Lista de abreviatura e siglas............................................................................................................................. .......... p. 3
Resumo executivo................................................................................................... ....................................................p. 4
Introdução................................................................................................................... ................................................p. 13
Percurso da avaliação............................................................................................................................ ......................p. 15
O que revelam os documentos? ..................................................................................................................................p. 17
Resultados dos Grupos Focais, das visitas in loco e das entrevistas com agentes multiplicadores............................p. 31
As Vozes dos Dirigentes.............................................................................................................................................p. 38
Conclusões e recomendações................................................................................... ...................................................p. 47
Anexo 1 – Lista de documentos consultados ............................................................................................. ................p. 57
Anexo 2 – Lista de entrevistados................................................................................................................................p. 60
Anexo 3 – Termo de Referência............................................................................................. .....................................p. 61
Anexo 4 - Resumo do currículo do avaliador............................................................................................. ................p. 65
3
Lista de Abreviaturas e Siglas
ABRUC - Associação Brasileira de Universidades Comunitárias
ACB – Análise Custo Benefício
ANEC - Associação Nacional de Educação Católica no Brasil
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CBJP – Comissão Brasileira de Justiça e Paz
CDHIC - Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante
CF – Campanha da Fraternidade
CFB – Constituição Federal do Brasil
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CONSEP - Conselho Episcopal Pastoral
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social
DRU – Desvinculação dos Recursos da União
DS – Direitos Sociais
FSM - Fórum Social Mundial
FSSM - Fórum Social Mundial das Migrações
GT – Grupo de Trabalho
GTALK – Google Talk
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
MDDS – Movimento em Defesa dos Direitos Sociais
MSN - The Microsoft Network
PEA - População Economicamente Ativa
PEC – Proposta de Emenda Constitucional
PIS - Programa de Integração Social
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PMM - Pastoral da Mulher Marginalizada
PO - Pastoral Operária
PT – Partido dos Trabalhadores
PUC – Pontifícia Universidade Católica
RGPS - Regime Geral da Previdência Social
RT – Reforma Tributária
SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
SSB - Semana Social Brasileira
SUS - Sistema Único de Saúde
UPA - Unidade do Pronto Atendimento da Saúde
4
Resumo Executivo
1. Esta avaliação externa buscou alcançar os quatros eixos de ação do Programa Justiça
Econômica: a) formação e capacitação de agentes multiplicadores sobre direitos sociais; b) a
política de advocacy realizada junto ao parlamento brasileiro e os movimentos sociais; c) a
influência e o envolvimento da igreja na defesa e ampliação dos direitos sociais; e d) o
fortalecimento institucional do Programa por meio do acúmulo técnico e da capacitação dos
parceiros.
2. Para tanto, a avaliação adotou critérios visando averiguar: i) a relevância e adequação do
desenho institucional do programa; ii) a eficácia do Programa Justiça Econômica no sentido de
alcançar os efeitos esperados ou desejados pela sua atuação, compreendendo os fatores que
dificultaram ou não a realização do objetivos, o sistema de monitoramento e o valor agregado na
atuação dos parceiros; iii) a eficiência do Programa no que se refere ao uso racional dos recursos
disponíveis para alcançar os objetivos propostos; e, iv) Os impactos intencionais ou não alcançados
pelos eixos ação do Programa.
3. A dinâmica da metodologia levou em conta as questões de igualdade de gênero e os
mecanismos que foram adotados pelas entidades parceiras na promoção da transparência e partilha
de informações com o público-alvo do Programa. As questões que balizaram e orientaram a
avaliação foram: Os objetivos do trabalho de incidência estavam claros para todos os parceiros,
eram realísticos, alcançáveis? As estratégias de incidência foram bem definidas, eram claras e
apropriadas para o contexto e objetivo do programa? Quais as mudanças no contexto externo e
interno e como estas afetaram o desempenho do programa na parte de incidência? O que os
parceiros aprenderam com a experiência de incidência? Quais foram os resultados alcançados pelo
programa neste período? E quais elementos nos permitem atribuir estes resultados a ação do
programa?
4. A primeira parte da avaliação do Programa Justiça Econômica foi dedicada a leitura, estudo
e sistematização por nossa parte dos seguintes documentos: proposta do programa e projetos
aprovados pela CAFOD; relatório e projeto financeiro e narrativo do primeiro e segundo ano do
programa e relatório de 6 meses do terceiro ano; relatórios de visitas de monitoramento da CAFOD;
atas da reuniões de planeamento e avaliações parciais do programa e do movimento com outros
parceiros; material produzido; bancos de dados e agentes treinados; e, outros documentos
identificados e solicitados durante o processo.
5. A segunda etapa foi dedicada a realização de entrevistas e de dois grupo Focais em São
Paulo. Um primeiro grupo de 5 pessoas (sendo 2 mulheres e três) foi realizado, em 22/04/2013, no
Bairro Jardim Laura e Parque Alvarenga em São Bernardo do Campo e o segundo grupo foi
realizado, em 23/04/2013, no Centro de Imigrantes com a presença de 2 homens e uma mulher. A
sistematização cuidadosa das discussões forneceu pistas e insigths sobre os eixos de ações do
Programa Justiça Econômica. Os dados colhidos foram preciosos para subsidiar o processo de
avalição e foram analisados por meio das citações textuais dos participantes, e pela codificação dos
conteúdos da categorias que apareceram nas discussões. Por fim, foram entrevistados agentes
multiplicadores das diferentes regiões do Brasil, por meio da aplicação de um questionário
semiaberto.
6. Na terceira etapa do processo de avaliação foram realizadas visitas in loco as entidades do
Programa Justiça Econômica, a saber: Rede Jubileu Sul Brasil, em São Paulo; Pastorais Sociais da
CNBB, em São Paulo e em Brasília; e, a Comissão Brasileira da Justiça e Paz (CBJP), em Brasília.
Além disso de dois encontros com o Grito dos Excluídos, em São Paulo e em Brasília. Nessas
visitas foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os dirigentes das organizações, além de
um grupo focal com a CBJP. As questões balizadoras da avaliação, visaram sobretudo averiguar a
5
relevância e adequação institucional do programa, a eficiência e a eficácia e os impactos da ações
realizadas.
7. O desenho institucional foi relevante e adequado para alcançar a missão de mudar a forma
de atuação das quatro entidades, que tinham um conjunto de ações próprias e dispersas. O novo
desenho institucional tem como principal mérito a sinergia que foi criada para o alcance com
eficácia e eficiência de ações em patamar superior, ao que seria obtido individualmente pelas
entidades. Os quatros eixos são adequados para contribuir no fortalecimento da justiça econômica, a
partir da defesa efetiva dos direitos sociais no campo da seguridade social. Mas, o planejamento do
programa é incompleto ao não incorporar a previsão dos cenários econômicos e políticos que
podem afetar a realização das atividades; ao não elaborar planos para lidar com as surpresas que
ocorrem no decorrer da execução das ações; e, por não são identificar atores relevantes que podem
contribuir ou atrapalhar o sucesso das atividades do Programa.
8. Destaca-se no período avaliado a ausência do registro sistemático de várias atividades, assim
como, o não apontamento desta lacuna nos relatórios narrativos. O registro sistemático é
fundamental para o monitoramento, o acompanhamento e a avaliação do Programa. Para diversas
atividades que foram indicadas como realizadas, não há documentos comprobatórios ou os que
existem são de baixa qualidade. A ausência de documentos comprobatórios das atividades propostas
impacta diretamente nas demonstrações do alcance dos objetivos, portanto, na avaliação de eficácia
do programa e na construção dos indicadores de capacidade.
9. A elaboração de indicadores é outro aspecto do desenho institucional do programa e de sua
matriz de planejamento que precisa ser enfrentado. No período avaliado, uma das falhas no
monitoramento das atividades do programa, foi a ausência de indicadores adequados. Em grande
parte, os indicadores apontados na matriz não foram construídos e, portanto, serviram muito pouco
ao monitoramento do projeto.
10. O programa foi eficaz e eficiente no processo de capacitação de milhares de pessoas no
Brasil na temática dos direitos sociais, por meio da realização de cursos e da produção de materiais,
a um custo orçamentário baixo.
11. No eixo “política/advocacy/ lobby para os direitos sociais/formação de rede” o principal
sucesso de atuação eficaz do Programa foi o trabalho realizado para impedir que a Câmara dos
Deputados aprovasse uma Reforma Tributária regressiva e que sepultava o financiamento dos
direitos sociais no âmbito do sistema de seguridade social. Além disso, um efeito não planejado
dessa ação foi a constituição de uma importante rede em defesa dos direitos sociais no Brasil, que
permanece atuante.
12. No terceiro eixo de atuação do programa, as diversas manifestações públicas da CNBB, o
envolvimento da entidade na defesa dos direitos sociais na Reforma Tributária, o tema da saúde na
Campanha da Fraternidade e o envolvimento da igreja na coleta de assinaturas para garantir 10%
das Receitas Brutas do Orçamento para saúde, são exemplos de atividades que foram eficazes no
alcance do resultado esperado de influenciar e envolver a igreja com um todo na defesa dos Direitos
Sociais.
13. O Programa também foi eficaz no aumento da sua visibilidade junto a outras organizações
com influência direta em vários movimentos da sociedade civil brasileira, como por exemplo, a
inclusão do tema direitos sociais na assembleia popular. Assim como, do ponto vista do
fortalecimento institucional, metade das entidades do Programa ampliaram as fontes de
financiamento e há importantes passos construídos no campo da comunicação.
14. Registramos também a ineficácia em atividades que eram relevantes no planejamento, mas
que não foram executadas ou foram apenas parcialmente realizadas. No primeiro eixo, o cadastro
dos multiplicadores foi apenas parcialmente realizado e não há o acompanhamento dos egressos dos
6
cursos de formação, impossibilitando com isso averiguar o engajamento dos capacitados na defesa
dos direitos sociais e na realização de incidência política ao nível local.
15. No eixo de advocacy/lobby, o Programa não teve sucesso na construção de uma proposta
alternativa para ampliação e universalização da seguridade social no país, o que comprometeu, em
parte, as atividades e os resultados esperados no planejamento. Um dos motivos foi a correlação de
forças políticas desfavorável e a letargia que marcou os movimentos sociais nos dois primeiros anos
do Governo da Presidente Dilma Rousseff. O Programa também não comprovou a realização de
atividades-chave neste eixo de atuação, entre elas, a ausência da lista de deputados defensores dos
direitos sociais e o diálogo com este grupo com o fornecimento de subsídios.
16. A avaliação da eficácia do terceiro eixo do Programa ficou, em parte, comprometida pela
ausência de vários documentos comprobatórios da realização das atividades, entre elas, a lista dos
40 bispos para receber informações periódicas sobre os direitos sociais; o mapeamento dos bispos
para serem referências dos Direitos Sociais em suas regiões; o mapeamento de artigos e outros
documentos publicados na mídia católica; e o monitoramento dos hits do site do programa que vem
dos sites católicos.
17. No eixo do fortalecimento institucional, o Programa não foi eficaz no desenvolvimento de
estratégia de comunicação a partir de novas mídias e mídias alternativas, em que pese ter sido
constituído o GT de comunicação (não previsto no planejamento) que pode encontrar um rumo para
o desenvolvimento destas atividades.
18. A avaliação da eficiência do Programa, no que se refere ao uso racional dos recursos
disponíveis para alcançar os objetivos propostos, ficou comprometida pelo fato da execução
orçamentária não ter aderência com a matriz do planejamento e pelo não demonstração do uso dos
recursos por atividade realizada ou pelo eixo de atuação. Contudo, grosso modo, o rol de atividades
realizadas frente a poucos recursos humanos, materiais e financeiras podem indicar o baixo custo do
Programa diante da eficácia das ações realizadas no período desta avaliação.
19. Registramos algumas informações extraídas a partir das entrevistas com os dirigentes que
permitem compreender como as mudanças no contexto afetaram o desempenho do programa e as
lições aprendidas. Entre os principais resultados podemos destacar: a formação de uma rede
nacional em defesa dos direitos sociais; a presença pública da CNBB nos debates dos direitos
sociais recuperando respeito e legitimidade junto as entidades da sociedade civil brasileira; o
reconhecimento do Programa por diversas entidades da sociedade civil brasileira, demonstrando um
importante aprendizado do trabalho em rede com assessoria técnica e reconhecimento político pelo
trabalho de incidência realizado na RT.
20. São beneficiados diretos do Programa os que fizeram cursos e atividades ao longo desse
período e com isso melhoraram a capacitação para atuarem em outras redes e fóruns da sociedade
civil brasileira, expandido o alcance do Programa para diversas entidades, incluindo, intelectuais,
professores universitários, técnicos, ativistas e movimento popular. Há inúmeros beneficiários
indiretos, sobretudo aqueles que estavam já inclusos na seguridade social, mas que poderiam perder
direitos, mas também a massa de excluídos do sistema de seguridade social e da previdência social
no Brasil.
21. Diante do diagnóstico avaliativo e dos os achados, encontrado ao longo do período
avaliativo, nas entrevistas, nos grupo focais, no documentos; apresentamos as seguintes
recomendações que se seguem, segundo critério de relevância:
21.1Criação de um registro sistemático, padronizado e obrigatório de todas atividades que são
realizadas pelas entidades do Programa e que constam na matriz o planejamento. Este
registro deve ser feito pela Secretaria Executiva do Programa e de foram profissionalizadas.
A título de exemplo, citamos, que toas as reuniões realizadas devem ter atas e lista de
assinaturas dos presente. Todos os cursos devem ter relatórios acompanhados de lista de
7
presença. Atividades no parlamento devem ser comprovadas mediante fotografias e registro
de notas que divulgam essas atividades (notícias do evento).
21.2Aperfeiçoamento do cadastro mediante a implantação um cadastro único (on line) a ser
disponibilizado em área reservada (acesso mediante senha) no site do Programa, para
registrar os beneficiários de cursos e os participantes das atividades realizadas. Este
cadastro deverá ser mantido/preenchido de forma obrigatória por todas as entidades do
Programa. Deverá ter uma padronização mínima dos dados para que seja útil para fins de
mobilização e incidência política, contendo dados básicos, como data de nascimento,
identificação de gênero; endereço completo; telefones; e-mail; skype; página do facebook;
twitter; entidade; área de atuação; cursos e atividades que as pessoas participaram; datas
que ocorreram essa participação. O cadastro pode se tornar um poderoso instrumento
político, além de uma ferramenta gerencial para auxiliar o monitoramento do engajamento
dos multiplicadores em atividades de políticas públicas e na defesa dos direitos sociais.
21.3 As atividades de incidência no parlamento requer preparo organizacional e técnico. Nesse
sentido deve ser aproveitado a janela de oportunidades criada a partir das mobilizações
ocorridas no Brasil, além da conjuntura eleitoral que se aproxima e a experiência do
Programa para fortalecer a incidência política e o trabalho de lobby/advocacy. Seria
importante a designação, entre as entidades, de uma assessoria parlamentar.
Recomendamos as atividades que se seguem: mapeamento dos projetos em tramitação no
Congresso Nacional que podem afetar os direitos sociais; criação de um cadastro de
parlamentares com o registro do posicionamento sobre os direitos sociais, em particular, os
vinculados à seguridade social; manutenção atualizada deste cadastro; criação de uma
agenda de contatos nos poderes Executivo e Judiciário e no Ministério Público; criação de
uma lista de contatos na imprensa tradicional e alternativa; criação de um GT técnico e
político para elaboração de uma proposta que amplie a seguridade social no Brasil;
fortalecimento da rede em defesa dos direitos sociais; realização II Seminário de Direitos
Sociais, em agosto/2014; com a presença das candidaturas a presidência. Essas atividades
podem indicar um caminho propositivo para atuação na incidência política.
21.4 Recomendamos que no próximo período o Programa avance qualitativamente na produção
de material e na realização dos cursos de formação. Torna-se necessário a atualização dos
documentos e das cartilhas formativas, incluindo um projeto de editoração gráfico moderno
e profissional. A capacitação precisar avançar com os usos de novas mídias e parta tanto o
site do programa precisa se transformado no portal do direitos sociais no Brasil,
necessitando de uma nova diagramação e de atualização tecnológica. A página do Facebook
deve ser plenamente utilizada e com uma meta ousada de acesso, no mínimo 10 mil
seguidores no próximo triênio. Nos cursos e na comunicação, as novas mídias são
importantes; além do Facebook, a conta do twitter precisa entrar em funcionamento. Para os
cursos recomendamos fazer uso de vídeos e busca utilizar a plataforma moodle
(http://www.moodle.org.br), que é gratuita. O público jovem deve ser priorizados nos
cursos de capacitação. Também recomendamos a realização de capacitação para
conselheiros de políticas públicas, notadamente na política de saúde. Os egressos dos
cursos já devidamente cadastrados devem ser acompanhados pelo período de três anos,
recebendo informações periódicas das atividades do Programa e outros materiais que
fortaleçam a incidência política a nível local e nas redes/entidades de atuação desses
multiplicadores.
21.5A incidência na Igreja precisa ser evidenciada e registrada nos relatórios do programa.
Sobre este ponto as recomendações constantes no item I e III desta seção são válidas para
atividades de envolvimento da Igreja na defesa dos direitos sociais, em particular, da
CNBB. Algumas das atividades previstas e não realizadas podem ser retomadas no
próximo período: abastecimento com informações sobre direitos sociais e o posicionamento
8
do Programa para um conjunto de bispos; mapeamento dos bispos e de paróquias pelas
regiões do Brasil, definido táticas para reprodução das ideias do programa e do
engajamento dos religiosos na defesa dos direitos socais; e, c) aproveitamento eficaz dos
meios já existentes de comunicação católica para pautar o tema de do direitos sociais.
21.6 O processo de planejamento precisa ser aprimorado. Um ponto fundamental é a construção
de indicadores de qualidades para mensurar a evolução das atividades vis à vis aos
resultados esperados. Para tanto a matriz do planejamento deve apontar explicitamente a
sua finalidade, os meios de verificação e seus pressupostos. Outro ponto que deve ser
aprofundado é a governabilidade sobre as atividades propostas, limitando a atuação sobre
ações que as entidades possam de fato serem protagonistas. O sistema de planejamento
precisa incorporar os cenários considerados referentes à situação política, econômica e
social; no mínimo a aposta do cenário provável, e de preferência as indicações alternativas
de cenários pessimistas e otimistas. O planejamento devem listar quais são os atores
relevantes que atrapalham ou que contribuem para o sucesso das atividades do Programa.
Recomendamos assim a adoção da ferramenta SWOT, que é um importante instrumento
utilizado para planejamento estratégico que consiste em recolher dados importantes que
caracterizam o ambiente interno (forças e fraquezas) e externo (oportunidades e ameaças).
21.7 Reformular a estrutura orçamentária do Programa que deve ter aderência a matriz do
planejamento. O orçamento deve ser feito e executado por eixos e atividades constantes na
matriz. A prestação de contas deve seguir a estrutura da matriz do planejamento, somente
assim será viável a realização de avaliação por eficiência do Programa.
21.8Fortalecer e aprimorar a comunicação interna do Programa, o que passa pela utilização de
novas ferramentas tecnológicas como o uso de arquivos em nuvens do Skype para
realização de reuniões e conferências; a criação de um informativo mensal que contenha o
balanço das atividades realizadas e o cronograma de eventos futuros. Recomendamos a
adoção de metodologia que vincule a realização de cada tarefa ao atingimento dos objetivos
propostos no planejamento. Isso pode facilitar o gerenciamento e a correção de rotas das
ações propostas.
21.9 As pautas de reuniões do GT do programa precisa incluir e priorizar o monitoramento das
atividades previstas no planejamento. Pelo menos uma reunião no ano deve ser exclusiva e
com tempo para que as entidades parceiras do programa discutam o monitoramento das
ações de planejamento e com o uso do indicadores. A reuniões devem ser pautadas não
somente pela conjuntura política, social e econômica, mas sobretudo pela matriz do
planejamento, verificar quais foram as surpresas no período, quais novas atividades que não
estavam previstas e quais que não fazem mas sentido em serem realizadas. Quais as
explicações para as atividades não realizadas.
9
CAFOD, Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil, Pastorais Sociais da CNBB e
Comissão Brasileira de Justiça e Paz
Projeto: “Programa Justiça Econômica (2007-2013)”
Relatório Final de Avaliação Final Externa
I – Introdução
Nos últimos quinze anos o Brasil vem registrando queda na desigualdade de rendimentos
medida pelo Coeficiente de Gini. Contudo, a análise com base nesse único indicador revela-se
bastante limitada para compreensão das desigualdades socioeconômicas do Brasil do Século XXI.
Em que pese as análises eufóricas de alguns pesquisadores e de integrantes do governo com base no
coeficiente de Gini, a estrutura da renda e da riqueza não apresenta mudanças substanciais em
relação às últimas décadas do século passado.
As políticas públicas (econômicas e sociais) adotadas de intervenção na desigualdade
brasileira apontam para um movimento de diminuição das diferenças entre as classes baixas e
médias, mantendo o padrão de grandes diferenças entre ricos e pobres do Brasil. As dimensões
fundamentais da renda do trabalho, o acesso às políticas de proteção social, as desigualdades na
distribuição funcional da renda, as configurações do mercado de trabalho, e das desigualdades
tributárias evidenciam um cenário de alterações pouco expressivas das desigualdades
socioeconômicas no Brasil, principalmente quando referenciadas na classe trabalhadora e na
perpetuação do ciclo de pobreza.
As políticas sociais não foram universalizadas no período pós-1988, em que pese as
indicações do texto Constitucional para edificação do sistema de proteção social. Além do acesso à
educação, o sistema de seguridade social, integrado pelas políticas de previdência, assistência social
e saúde, deveria ter um papel chave na garantia dos direitos sociais fundamentais de homens e
mulheres no Brasil. Permanecem fora da previdência social mais de 1/3 da População
Economicamente Ativa (PEA), sendo as desigualdades de gênero e raça no acesso a este direito
gritantes, pois enquanto 56% dos homens brancos conseguem contribui para a previdência social,
apenas 38,4% das mulheres negras terão este direito assegurado.
O direito à saúde também não foi universalizado. Apesar do princípio constitucional da
universalização do acesso à saúde, o gasto nacional com esta política revela que o dispêndio público
corresponde apenas por 44% do montante de recursos aplicados em saúde. A outra política que
compõem o tripé da seguridade social, a assistência social, permanece residual ao extremamente
pobres (renda per capta inferior a ¼ do salário mínimo). Neste caso, os direitos são focalizados e a
10
população submetida a teste de meios e condicionalidade para acesso ao direito. Além de uma
precária rede socioassistencial.
O mercado de trabalho no Brasil, apesar da elevada geração de postos de trabalho formais
de baixa remuneração, não se alterou substancialmente em relação à desestruturação vivenciada nas
duas últimas décadas do século XX. A marca indelével é a não generalização da condição de
assalariamento para o conjunto da PEA, agravando com isso as desigualdades socioeconômicas
intraclasses.
Outro tema fundamental para o entendimento da desigualdade socioeconômica é o
financiamento do Estado. Os ricos no Brasil continuam participando desigualmente da estrutura
tributária, uma vez que sua participação não ocorre proporcionalmente a sua capacidade
contributiva e porque grande parte de suas rendas em estão isentas de impostos. Ressalta-se também
que a participação dos lucros aumentou consideravelmente sua proporção na renda nacional nos
primeiros oitos anos deste século, contudo a tributação no Brasil não acompanhou este movimento.
O financiamento do Estado brasileiro é feito por meio de recolhimento de tributos que
incidem sobre a renda dos assalariados e dos servidores públicos, além da elevada carga tributária
regressiva que atinge a população mais pobre, sobretudo a feminina. Ao mesmo tempo em que a
maior parcela do orçamento é destinada ao capital portador de juros, por meio do pagamento de
juros e amortização da dívida pública em detrimento da universalização dos direitos de proteção
social. Estudo divulgado recentemente pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
demonstra que o Brasil é o campeão da desigualdade tributária na América Latina e Caribe1,
destacando o tratamento preferencial que é dado à renda de capital, que devido a isenções ou
arranjos especiais para esse tipo de renda, ele quase não é tributado.
Este breve contexto exposto anteriormente revela que os temas da perpetuação da pobreza e
da exclusão socioeconômica de grande parte da população brasileira, que são objetos da atuação do
Programa Justiça Econômica (Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil, as Pastorais Sociais da
CNBB, Comissão Brasileira de Justiça e Paz - CBJP), permanecem na ordem do dia do Brasil neste
Século XXI. As mobilizações populares que tomaram as ruas do Brasil, no mês de junho de 2013,
tinha no rol de reivindicações a ampliação de políticas públicas de transporte, educação e saúde.
A fase atual do Programa Justiça Econômica financiado pela CAFOD teve início em 1 de
março de 2010, com duração prevista de três anos. Esta proposta de avaliação externa, sob
supervisão da Gerente de Programa da CAFOD, refere-se ao período percorrido (quase 6 anos) no
sentido de averiguar os progressos e avanços em relação aos objetivos e resultados esperados do
Programa, além da identificação dos seus impactos intencionais ou não.
1 Disponivel em http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=37768295
11
Neste relatório apresenta-se a avaliação dos aprendizados e da lições apreendidas pelas
entidades parceiras do Programa Justiça Econômica: Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil,
as Pastorais Sociais da CNBB; e ao final um conjunto de recomendações para a elaboração da
proposta do próximo triênio.
II – Percurso da Avaliação
Esta avaliação externa buscou alcançar os quatros eixos de ação do Programa Justiça
Econômica:
a) formação e capacitação de agentes multiplicadores sobre direitos sociais;
b) a política de advocacy realizada junto ao parlamento brasileiro e os movimentos sociais;
c) a influência e o envolvimento da igreja na defesa e ampliação dos direitos sociais; e
d) o fortalecimento institucional do Programa por meio do acúmulo técnico e da capacitação
dos parceiros.
Para tanto, a avaliação adotou critérios visando averiguar:
i) A relevância e adequação do desenho institucional do programa.
ii) A eficácia do Programa Justiça Econômica no sentido de alcançar os efeitos
esperados ou desejados pela sua atuação, compreendendo os fatores que dificultaram
ou não a realização do objetivos, o sistema de monitoramento e o valor agregado na
atuação dos parceiros.
iii) A eficiência do Programa no que se refere ao uso racional dos recursos disponíveis
para alcançar os objetivos propostos.
iv) Os impactos intencionais ou não alcançados pelos eixos ação do Programa.
A dinâmica da metodologia levou em conta as questões de igualdade de gênero e os
mecanismos que foram adotados pelas entidades parceiras na promoção da transparência e partilha
de informações com o público-alvo do Programa. As questões que balizaram e orientaram a
avaliação foram: Os objetivos do trabalho de incidência estavam claros para todos os parceiros,
eram realísticos, alcançáveis? As estratégias de incidência foram bem definidas, eram claras e
apropriadas para o contexto e objetivo do programa? Quais as mudanças no contexto externo e
interno e como estas afetaram o desempenho do programa na parte de incidência? O que os
parceiros aprenderam com a experiência de incidência? Quais foram os resultados alcançados pelo
programa neste período? E quais elementos nos permitem atribuir estes resultados a ação do
programa?
12
A primeira parte da avaliação do Programa Justiça Econômica foi dedicada a leitura, estudo
e sistematização por nossa parte dos seguintes documentos: proposta do programa e projetos
aprovados pela CAFOD; relatório e projeto financeiro e narrativo do primeiro e segundo ano do
programa e relatório de 6 meses do terceiro ano; relatórios de visitas de monitoramento da CAFOD;
atas da reuniões de planeamento e avaliações parciais do programa e do movimento com outros
parceiros; material produzido; bancos de dados e agentes treinados; e, outros documentos
identificados e solicitados durante o processo, que estão listados no anexo. O resultado desta etapa
está sistematizado na próxima seção (III - O que revelam os documentos) deste relatório final.
A segunda etapa foi dedicada a realização de entrevistas e de dois grupo Focais em São
Paulo. Um primeiro grupo de 5 pessoas (sendo 2 mulheres e três) foi realizado, em 22/04/2013, no
Bairro Jardim Laura e Parque Alvarenga em São Bernardo do Campo e o segundo grupo foi
realizado, em 23/04/2013, no Centro de Imigrantes com a presença de 2 homens e uma mulher. A
sistematização cuidadosa das discussões forneceu pistas e insigths sobre os eixos de ações do
Programa Justiça Econômica. Os dados colhidos foram preciosos para subsidiar o processo de
avalição e foram analisados por meio das citações textuais dos participantes, e pela codificação dos
conteúdos da categorias que apareceram nas discussões. Por fim, foram entrevistados agentes
multiplicadores das diferentes regiões do Brasil, por meio da aplicação de um questionário
semiaberto. O resultado desta etapa foi consolidado na seção IV, deste relatório, denominada
“Resultados dos Grupos Focais, das visitas in loco e das entrevistas com agentes multiplicadores”.
Na terceira etapa do processo de avaliação foram realizadas visitas in loco2 as entidades do
Programa Justiça Econômica, a saber: Rede Jubileu Sul Brasil, em São Paulo; Pastorais Sociais da
CNBB, em São Paulo e em Brasília; e, a Comissão Brasileira da Justiça e Paz (CBJP), em Brasília.
Além disso, tivemos dois encontros com o Grito dos Excluídos, em São Paulo e em Brasília. Nessas
visitas foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os dirigentes das organizações, além de
um grupo focal com a CBJP. As questões balizadoras da avaliação, visaram sobretudo averiguar a
relevância e adequação institucional do programa, a eficiência e a eficácia e os impactos da ações
realizadas. Esses encontros in loco com atividades em grupos entre o consultor e os
participantes/dirigentes das entidades ajudaram a construir coletivamente o reconhecimento e a
definição da avaliação do Programa registrada neste Relatório. A seção V “As Vozes dos
Dirigentes” registra os resultados dessas entrevistas e visitas.
Por fim, apresentamos na última seção “conclusões e recomendações” as principais
recomendações de forma priorizada. Registra-se que, em 26/05/2013, foi apresentando o resultado
2 As visitas foram realizadas nos seguintes dias: 22/04/2013, ao Jubileu Sul; 10/06/2013, à CBJP; e, às Pastorais
Sociais, em 17/06/2013.
13
preliminar da avaliação com a presença das entidades integrantes do Programa Justiça Econômica e
da CAFOD, em São Paulo.
III. O que revelam os documentos?
Recebemos um total de 56 documentos do período de 2007 a 2012. Destacam-se nos
documentos o recebimento das matrizes do Matriz do Programa 2009 e do Programa 2010 a 2013,
com suas versões anuais de 2010, 2011, 2012 e 2013. A matriz do período de 2010 a 2013 foi
atualizada e prorrogada até 2014 (BRA494 Matriz do Programa 2010-2014). Além disso, durante as
visitas a Rede Jubileu Sul, a Pastorais Sociais da CNBB e a Comissão Brasileira da Justiça e Paz
recebemos diversas publicações e outros documentos das atividades realizadas. O Grito dos
Excluídos Brasil também remeteu documentos e publicações produzidas nos últimos seis anos.
As matrizes e os documentos comprobatórios das realizações das atividades são a base de
nossa análise e forneceram suporte para elaboração das questões das entrevistas e da estruturação
das etapas da avaliação que foram realizadas de forma grupal com os envolvidos no Programa
Justiça Econômica.
Os documentos comprovam a realização de diversas atividades previstas no planejamento e
de outras ações não planejadas. Podem ser destacados quatro eixos presentes na atuação do
programa desde 2009: i) formação e capacitação de multiplicadores; ii) política/ advocacy/ lobby
para os direitos sociais/ formação de redes; iii) influenciar/ envolver a igreja como um tudo na
defesa dos DS; e, iv) fortalecimento institucional.
No período anterior a 2009, pode-se dizer que foram anos intensos consolidação do
programa para lidar com uma nova forma de atuação visando superar o excesso de atividades
específicas de cada entidade parceira em prol da construção de um programa comum, garantindo a
agenda coletiva. Nesse período várias atividades foram realizadas, destacadamente: produção de
material de formação, cursos de capacitação de jovens e lobby/advocacy para barrar reformas que
ameaçavam dos direitos sociais. Além disso, as principais atividades do programa foram: encontros
dos parceiros; 5 reuniões do Grupo de Trabalho (GT); produção e manutenção da primeira fase do
site do programa justiça econômica; produção de sete mil cartilhas “todos os direitos básicos para
todas as pessoas – como acessar direitos”; lobby junto à CNBB; incidência nas pastorais sociais;
participação no seminário do Conlutas; aplicação de questionário avaliativo; reunião com o
Ministro da Previdência Social; entrega da cartilha no fórum nacional da previdência social;
incidência no plebiscito sobre dívida pública; interferência na pauta da 3a conferência de paz
incluindo o tema dos direitos sociais; subsídio a campanha da fraternidade de 2008 com o tema base
“direitos sociais”; participação no seminário da PUC (2007) sobre previdência e seguridade social;
14
e participação na Marcha das Margaridas com uma tenda de capacitação de pelo menos 500
mulheres trabalhadoras. No período de março de 2007 a março de 2008 foram realizadas 32
atividades formativas entre cursos e reuniões, além de grupo de estudos dos direitos sociais, dessas
atividades participaram 3.835 pessoas que foram beneficiários diretos do Programa Justiça
Econômica.
Destacam-se a seguir três atividades realizadas pelo programa e que foram marcantes no
período de 2007 a 2009.
O projeto de capacitação de jovens e lideranças comunitárias na região periférica de São
Bernardo do Campo (Grande Alvarenga), iniciado em 2008, onde foram feitos cursos com a cartilha
“direitos sociais para superar a crise”. Desses encontros de capacitação o Programa articulou com
os jovens alguns compromissos, como o de fazer levantamento na região de pessoas em situação de
extrema pobreza, visando à obtenção do benefício de prestação continuada da assistência social
(pago pelo INSS) e dá sequência na realização de cursos para aprofundar o tema da crise e dos
direitos sociais.
No período de 2007 a 2009, uma parte importante da atuação das entidades do Programa
esteve voltada para a realização de lobby e advocacy para garantir os direitos sociais ameaçados
em duas propostas de reformas, a primeira da previdência social (que acabou não concretizando na
forma de uma Proposta de Emenda Constitucional-PEC) e a segunda, a de Reforma Tributária (RT)
que foi formalizada por meio da PEC 233/2008. Essa atuação do programa está em sintonia com a
decisão tomada, em março de 2008, de realizar uma campanha de pressão junto ao Congresso pela
universalização dos direitos sociais como forma de barrar reformas que ameaçavam/ameaçam dos
direitos constitucionais já conquistados.
Destaca que a intensa atuação das entidades do programas contribuiu para impedir que o
Governo Lula enviasse ao Congresso Nacional uma nova proposta de reforma da previdência
social, que seria gestada no âmbito do fórum nacional da previdência. Um fato relevante foi atuação
das entidades do Programa que pressionaram pela manifestação da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB ), que veio a ocorrer em 21 de junho de 2007, como uma carta enviada ao
excelentíssimo Senhor Presidente da República (Luiz Inácio Lula da Silva), que se contrapõe a uma
possível reforma deletéria aos trabalhadores e ainda cobrava a garantia dos direitos sociais básicos
do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e a manutenção das regras da Constituição Federal
do Brasil (CFB) de 1988. Além da inclusão no sistema previdenciário da parte mais expressiva do
mercado de trabalho brasileiro, que são trabalhadores/as em relações informais.
As entidades do Programa Justiça Econômica tiveram atuação decisiva juntamente com
outras organizações da sociedade civil brasileira para barrar a PEC 233/2008 (reforma tributária). A
atuação do Programa na Câmara dos Deputados em Brasília é o melhor exemplo, nesse período de 6
15
anos, de um lobby eficaz em prol dos direitos sociais no Brasil. Rapidamente sistematizamos essa
atuação, devido ao caso exemplar.
Durante segundo mandato do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, o governo encaminhou
uma nova proposta de reforma tributária ao Congresso Nacional. Trata-se da Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 233/2008, que “altera o Sistema Tributário Nacional e dá outras
providências”, trazendo graves consequências ao financiamento das políticas sociais no Brasil. A
reforma alterava de forma substancial a vinculação das fontes de financiamento exclusivas das
políticas da seguridade social (previdência, saúde e assistência social), educação e trabalho e não
tornava o sistema tributário mais justo, com maior tributação sobre a renda e o patrimônio. O
sistema tributário é um dos elementos centrais da desigualdade social no Brasil, sendo o combate a
injustiça tributária uma questão central para reduzir as desigualdade sociais no Brasil.
Em fevereiro/2008, o Programa começou a realizar reuniões e participou com instituições e
movimentos sociais (principalmente vinculados à saúde) fazendo as articulações para discutir
alternativas conjuntas para incidência política sobre a reforma tributária. No rol de preocupações
das entidades estava a defesa dos direitos sociais, principalmente do financiamento das políticas de
seguridade social (previdência, assistência social e saúde), educação e trabalho, fortemente
atingidos pela proposta reforma do governo brasileiro.
O Programa desempenhou papel central na articulação e mobilização da sociedade civil
alertando para os riscos da PEC 233/2008 que produziria, caso fosse convertida em lei, em um
retrocesso no financiamento dos direitos sociais no Brasil, além de não alterar a estrutura regressiva
do sistema tributário.
A proposta de RT apresentada desmontava o sistema de proteção social no Brasil, que é
distante dos principais países europeus, mas é um sistema em construção desde a Constituição de
1988, notadamente o sistema de seguridade social. A PEC 233/2008 eliminava as fontes de
financiamento da seguridade social, da educação (com a extinção da contribuição social do salário-
educação) e do trabalho, particularmente, o seguro-desemprego, pois extinguia a contribuição social
do Programa de Integração Social (PIS).
O Programa colaborou na construção uma ampla coalizão com entidades representativas da
sociedade civil brasileira, com organizações populares, movimentos sociais, sindicato de
trabalhadores, entidades religiosas e grupos de pesquisas vinculados às universidades para se opor à
reforma. Sob a liderança das entidades do Programa foi estruturado o “movimento em defesa dos
direitos sociais ameaçados na reforma tributária” com a reunião de mais 100 organizações da
sociedade civil, que trabalhou com o Parlamento brasileiro e realizou advocacy junto ao Poder
Executivo no período de maio de 2008 a outubro/2010.
16
A criação da coalização é decorrente também da percepção das entidades das dificuldades
de influenciar de forma isolada na reforma tributária. Obviamente que uma coalização tão ampla,
tinha divergências entre suas entidades, contudo, dois princípios unificavam o movimento. O
primeiro que o sistema tributário brasileiro deveria ser mais justo com impostos sobre a renda e o
patrimônio. O segundo a defesa das conquistas da Constituição de 1988, que assegurou as fontes
exclusivas de financiamento das políticas sociais. Esses princípios foram consolidados no manifesto
entregue ao Presidente da Câmara dos Deputados.
Dezenas de reuniões foram realizadas com as lideranças partidárias na Câmara dos
Deputados. O dia 04/3/2009 foi decisivo na realização de advocacy no parlamento brasileiro. Nesta
data um grupo de entidades vinculadas ao Movimento em Defesa Dos Direitos Sociais Ameaçadas
na Reforma Tributária teve uma audiência com o Deputado Federal Michel Temer (PMDB-SP),
então Presidente da Câmara dos Deputados,3 além de reuniões com diversos líderes partidários.
A audiência com o Deputado Michel Temer, Presidente da Câmara foi decisiva para impedir
a votação da proposta de reforma tributária na forma proposta pelo Poder Executivo. O Movimento
em Defesa dos Direitos Sociais Ameaçados na Reforma Tributária entregou o Manifesto ao
Presidente da Câmara. Diversas entidades do movimento fizeram pronunciamentos. Na mesma
audiência foi entregue também o documento da CNBB.
A mobilização realizada pelo Movimento em Defesa dos Diretos Sociais Ameaçados na
Reforma Tributária, por meio da PEC 233, interagiu como governo e no parlamento brasileiro
visando impedir que as mudanças no sistema tributário prejudicasse o financiamento das políticas
sociais, ao mesmo tempo em que pautava na sociedade o debate sobre a necessidade de reversão
dos impostos regressivos no país.
É possível vislumbrar as estratégias adotadas pelo Movimento em Defesa dos Diretos
Sociais Ameaçados na Reforma Tributária visando influenciar a Proposta de Emenda
Constitucional da Reforma Tributária encaminhada pelo Executivo ao Parlamento: a) a produção de
estudos técnicos e políticos qualificados que informavam sobre as implicações da proposta de
reforma tributária sobre os direitos sociais; b) a produção da cartilha/jornal sobre as ameaças da
reforma tributária aos direitos sociais c) realização advocacy no Congresso Nacional com reuniões e
audiências com importantes deputados brasileiros; d) advocacy no Poder Executivo com reuniões
com ministros e membros do governo; e) advocacy no sistema judiciário com reuniões com
membros do Ministério Público Federal; f) participação com documentos e manifestos em
mobilizações populares; g) exposições e palestras em seminários realizados em várias regiões do
3 Michel Temer Mandato foi deputado federal no período de 16 de março de 1987 a 31 de dezembro de 2010 (6
mandatos consecutivos). Sendo presidente da Câmara dos deputados no período de 1997 até 2001 (2 mandatos
consecutivos) e pela terceira vez no período de 2 de fevereiro de 2009 até 17 de dezembro de 2010. Atualmente é Vice-
Presidente da República Federativa do Brasil (mandato 01/01/2011 a 31/12/2014).
17
Brasil a convite da sociedade civil e membros do Parlamento; e) presença na mídia impressa e
eletrônica por meio de artigos e reportagens sobre o tema.
Destacamos de forma mais detalhada a atuação do Programa no caso da reforma tributária,
pois diversas ações realizadas não constavam no planejamento do Programa, contudo, foram
decisivas para o objetivo maior da atuação das entidades que é a defesa dos direitos sociais. Em
termos de planejamento estratégico segue na linha ressaltada por Matus4, que o planejamento
estratégico visa à preparação para que se tente criar o futuro com imaginação, a partir das
possibilidades que sejamos capazes de imaginar e descobrir. Portanto, é um cálculo que precede e
preside a ação para criar o futuro, sendo que um bom plano é uma “aposta estratégica, não uma
aposta para o futuro”, o que significa ter capacidade de se adequar a realidade concreta e superar as
surpresas.
Antes de fazermos a avaliação do Programa para o período de 2010 a 2013, convém elucidar
alguns conceitos importante nesse processo. O primeiro diz respeito ao conceito de monitoramento
e avaliação.
O monitoramento e avaliação do projeto, ou mesmo os processos de controle, visa monitorar
a evolução da implementação de cada atividade, consagrada em seu escopo por meio de inspeções
priorizando: visão geral do progresso e eventos significativos; situações de recursos; atualização de
finanças do projeto, orçamentos e justificativas para remanejamento ou aumento de recursos;
situação técnica; e, falhas, problemas, visão geral das atividades futura, ação corretivas e proposta
de revisão.
Um evento de importância estratégica dentro da gestão de projeto/programa é a avaliação da
eficiência e eficácia do projeto. Na visão de Aguilar e Ander-Egg5 “(...) à avaliação é uma forma de
pesquisa social aplicada, sistemática, planejada e dirigida; destinada a identificar, obter e
proporcionar de maneira válida e confiável dados e informação suficiente e relevante para apoiar
um juízo sobre o mérito e o valor dos diferentes componentes de um programa (tanto na fase de
diagnóstico, programação ou execução), ou de um conjunto de atividades específicas que se
realizam, foram realizadas ou se realizarão, com o propósito de produzir efeitos e resultados
concretos; comprovando a extensão e o grau em que se deram essas conquistas, de forma tal que
sirva de base ou guia para uma tomada de decisões racional e inteligente entre cursos de ação, ou
para solucionar problemas e promover o conhecimento e a compreensão dos fatores associados ao
êxito ou ao fracasso de seus resultados" .
4 MATUS, Carlos. Adeus senhor president: governantes e governados. São Paulo: FUNDAP, 1996.
5 AGUILAR, Maria José; ANDER-EGG, Ezequiel. Avaliação de serviços e programas sociais. Petrópolis: Vozes,
1994.
18
O conceito de eficiência diz respeito à relação entre os resultados e os custos envolvidos na
execução de um projeto ou programa. Quando ambos podem ser traduzidos em unidades
monetárias, recorre-se à Análise Custo-Benefício (ACB), que, grosso modo, pretende verificar se os
benefícios líquidos do projeto excedem seus custos operacionais.6 A noção de eficácia se refere ao
“grau em que se alcançam os objetivos e metas do projeto na população beneficiária, em um
determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados.7
Para Cotta (1998)8, em se tratando de avaliação de resultados, portanto, as questões que se
colocam são as seguintes: a) o programa ou projeto surtiu algum efeito sobre a população-alvo?; e,
b) em caso afirmativo, como classificar tais efeitos? (diretos, indiretos etc.).
Os Indicadores são ferramentas de medição que quantificam as saídas do processo, com o
propósito de avaliar se os resultados do processo (um conjunto de atividades que recebe uma
entrada (input), agrega valor utilizando recursos da organização e gera uma saída (output) para um
cliente (interno ou externo) estão sendo alcançados. Conforme Oliveira9
, um indicador de
desempenho é uma relação matemática entre duas ou mais medidas dos resultados de um processo,
resultado este que pode se referir à qualidade ou a produtividade do processo acompanhado. Outra
definição de indicador de desempenho é que “são dados objetivos que descrevem uma situação ,
sob o ponto de vista quantitativo”.10
Quanto à tipologia, um indicador pode ser quantitativo, qualitativo ou quanti-qualitativo; de
uso permanente, final ou de controle; podendo ser simples, composto, direto, indireto, específico,
global, direcionador ou resultante11
. Importante destacar que os índices são os resultados numéricos
obtidos a partir dos indicadores. Os índices evitam decisões baseados em conceitos subjetivos,
como “bom”, “rápido”, isto é, refletem os resultados efetivamente obtidos.12
Há certa convergência na literatura sobre o conceito de indicador. Pode-se definir então que
“O indicador é uma medida, de ordem quantitativa ou qualitativa, dotada de significado particular e
utilizada para organizar e captar as informações relevantes dos elementos que compõem o objeto da
observação. É um recurso metodológico que informa empiricamente sobre a evolução do aspecto
observado”.13
6 COTTA, Tereza Cristina. Metodologias de avaliação de programas e projetos sociais: análise de resultados e de
impacto. Revista do Serviço Público/Fundação Escola Nacional de Administração Pública, n.2, Brasília, Abr-Jun/1998. 7 COHEN, E. e FRANCO, R., Avaliação de projetos sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
8 Obra citada.
9 OLIVEIRA, Saulo Barbará de et AL. Gestão por processos:fundamentos, técnicas e modelos de implementação. Rio
de Janeiro: Qualitymark, 2006. 10
MARANHÃO, Mauriti. O Processo nosso de cada dia. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. 11
VALLE, Rogério, Avaliação de desempenho e indicadores. In: OLIVEIRA, Saulo Barbará de (org.). Gestão por
processos: fundamentos, técnicas e modelos de implementação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006 12
OLIVEIRA, Saulo Barbará de et AL. Gestão por processos:fundamentos, técnicas e modelos de implementação. Rio
de Janeiro: Qualitymark, 2006. 13
FERREIRA, H.; CASSIOLATO, M.; GONZALEZ, R. Como Elaborar Modelo Lógico de Programas: um roteiro
básico. Nota Técnica. Brasília: IPEA, 2007.
19
Após esta breve contextualização teórica passamos a avaliação documental do Programa
Justiça Econômica para o período de 2010 a 2013, por meio da matriz que foi atualizada e
prorrogada até 2014 (BRA494 Matriz do Programa 2010-2014), dos planos de trabalhos anuais e
dos relatórios narrativos semestrais e de outros documentos complementares.
Em relação ao ano de 2010, comprobatórios comprobatórios ando a Matriz do Projeto, o
Plano de Trabalho e Orçamento e o Relatório Narrativo, destacam-se as seguintes atividades:
a) Das cinco reuniões anuais previstas para realização em 2010, há indicativos da realização de
três reuniões em Brasília. As reuniões buscaram fortalecer a articulação política e estabelecer
estratégias. Destacam-se mais quatro reuniões realizadas no âmbito do Movimento em Defesa dos
Direitos Sociais. Registra-se que essa nova rede não estava prevista na matriz de planejamento,
sendo decorrente do movimento em realizado em defesa dos direitos sociais ameaçados na reforma
tributária, conforme relatado anteriormente.
b) Há indicativos que as reuniões de trabalho do GT foram realizadas juntamente com as
reuniões do Programa, mas não há documentos comprobatórios dessas reuniões. A informação
prestada pelas entidades, contudo, não há atas, isto porque o GT funciona como secretaria operativa
de encaminhamentos práticos das ações do Programa.
c) Manutenção e otimização da página Web do programa. Em que pese a indicação da
atividade no plano de trabalho de 2010, o relatório narrativo não faz referência a realização desta
atividade. Contudo, há comprovações que a página esteve bastante ativa em 2010 em, especial,
quando da divulgação do Seminário Direitos Sociais: Avanços e Perspectivas.14
d) A manutenção e consolidação do programa e do movimento passou pela realização de atividades
com entidades parceiras do programa e de rede que integram o Movimento em Defesa dos Direitos
Sociais. Para tanto, há registro de atividades no eixo “política/ advocacy/ lobby para os direitos
sociais/ formação de redes”. Em destaque a realização do seminário “Direitos Sociais – avanços e
perspectivas”, em 17 de junho de 2010, com a presença de 200 pessoas e com os representantes do
candidatos à presidência da República. Ao final do seminário foi apresentada a Carta Compromisso
Direitos Sociais (disponível no site www.direitosociais.org.br). Registre-se que o Seminário não
estava previsto na matriz do planejamento (BRA494), contudo, há na matriz atividades (genéricas)
que se relacionam ao seminário como “2.2.1 – definir ações visando às eleições para pautar DS,
incluindo a elaboração de uma proposta propositiva para ampliação de seguridade social (sic)”.
e) A produção do material popular “Carta compromisso Direitos Sociais” para eleições que
ocorreram em 2010. O documento foi produzido e lançado no dia 17 setembro. Na realidade o
texto é decorrente do seminário realizado em junho. Contudo, não há avaliação dos impactos do
14
Vide divulgação em outro sites tendo como referência a página do programa.
http://www.cefep.org.br/divulgacao/seminario_direitos_sociais
20
documento nas eleições presidencial e estadual. Assim como, não há registro da forma que o
Programa trabalhou com o documento nos estados e com os chamados agentes multiplicadores.
f) Presença do programa na elaboração do novo texto do projeto popular para o Brasil. O Programa
esteve presente na II Assembleia Popular (26 a 28 de maio de 2010) sendo responsável direto pelo
capítulo que trata dos direitos sociais no documento “O Brasil que Queremos”. Um dos
entrevistados, nesta avaliação, revela “(...) quando você olha o material da Assembleia Popular ela
foi toda orientada a partir de eixos de direitos. E isso não é atoa. Ele teve uma influência, eu diria
aqui especificamente, das três organizações do programa: Jubileu, Grito e Pastoral Social, que são
as três organizações que atuam nesse espaço, no espaço da Assembleia Popular”.15
A presença do
programa também pode ser comprovada:
http://www.assembleiapopular.org/images/stories/downloads/instrumento%20de%20trabalho%20pr
eparao%20a%20ii%20ap%202010%20verso%20final.pdf
g) Fazer experiência de utilização de blog e twitter para apresentar o Programa. Não há registro de
realização desta atividade. Mostra-se inexistente, em que pese a importância, a utilização de blog e
do twitter pelo Programa.
i) Outras atividades realizadas em 2010: realização do 16o Grito do Excluídos/Brasil; lançamento do
DVD do Seminário Direito Sociais; elaboração da Cartilha “eleições de 2010: o chão e o
horizonte”; participação plebiscito sobre o limite da propriedade (a data que foi realizada o
plebiscito não foi informada nos documentos que analisamos); e, acompanhamento do GT sobre
aposentadoria da CNBB (não há registro da quantidade de reuniões acompanhadas e nem as datas
que foram realizadas).
De acordo com a Matriz do Projeto, foram definidos 16 objetivos do programa, com 18
horizontes de indicadores que seriam construídos com a implementação e execução de 33
atividades. Os resultados apresentados para 2010, conforme relatórios narrativos, evidenciam a
construção de 10 indicadores. Desses indicadores construídos, foram apresentadas 7 atividades no
plano de trabalho e comprovada por meio de documentação a realização de 4, havendo indícios da
realizados de outras duas atividades.
Em relação ao ano de 2011 confrontando a Matriz do Projeto, o Plano de Trabalho e
Orçamento e o Relatório Narrativo, destacam-se as seguintes atividades:
a) Reuniões anuais do Programa. Das quatro reuniões previstas há registro da realização de
duas reuniões do Programa em março e agosto no relatório narrativo. Contudo, foram realizadas
reuniões do Movimento em Defesa dos Direitos Sociais - MDDS (18/02/2011; 15/03/2011 e
04/08/2011), que possivelmente foram precedidas de reuniões das entidades do Programa.
15
Entrevista concedida por Ari Alberto, em 22/04/2013.
21
b) Das três reuniões previstas do GT, há o registro da realização de duas nos meses de março e
agosto (não há ata ou outro documento comprobatório da reunião), conforme relatório narrativo.
c) Manutenção e otimização da página Web do programa. Trata-se de uma atividade rotineira da
secretaria do Programa, que consta como atividade no plano de trabalho, mas que poderia
perfeitamente ser inclusa nas rotinas administrativas, sem necessidade de registro em planejamento
estratégico.
d) Pautar no novo Congresso uma agenda propositiva para uma reforma tributária com direitos
sociais. O relatório narrativo registra a não realização dessa atividade devido à conjuntura política
desfavorável.
e) Mobilização/resistência e trabalho de lobby no Congresso para evitar propostas de reformas
regressivas e apresentação de emendas de ampliação de direitos. Igualmente há no relatório
narrativo o registro da não realização dessa atividade devido à conjuntura política desfavorável.
f) Material impresso e audiovisual sobre o fim da Desvinculação dos Recursos da União (DRU) e
orçamentário previdenciário. Não encontramos documentos que comprovem a realização desta
atividade e o relatório narrativo não faz referência sobre o assunto.
Além disso, o relatório narrativo registra a realização de algumas atividades não previstas no
plano de trabalho: a) reunião do GT comunicação (foi criado em 2011); b) reunião com Código Sur
e reunião da equipe pulsar para elaboração de cinco programas de rádio; c) 17o grito do excluídos
nacional; d) participação no V Fórum Social das migrações (direito dos migrantes); e) reunião de
avaliação e planejamento do Programa com CAFOD (2 a 5 dezembro/2011) e f) reunião nacional de
articuladores do Grito (9/12/2011). Sobre a proposta de programas de rádio não encontramos
registros ou links na página do Programa sobre assunto.
De acordo com a Matriz do Projeto, foram definidos 16 objetivos do programa, com 18
horizontes de indicadores que seriam construídos com a implementação e execução de 33
atividades.
Os resultados apresentados, conforme relatórios narrativos, evidenciam a construção de 9
indicadores. Desses indicadores construídos, foram apresentadas 6 atividades no plano de trabalho e
comprovada por meio de documentação a realização de 4.
A nossa avaliação é que o ano de 2011 foi marcado por atividades internas e articulações
entre os parceiros para futura resistência ao Governo da Presidente Dilma Rousseff que se iniciava e
que não apresentava claramente uma agenda para o país, o que também gerou certa paralisia no
Congresso Nacional, inibindo as atividades de lobby e mobilização no parlamento brasileiro. Por
outro lado, também se observa uma passividade de aguardar proposições do governo para reagir, o
que é práxis nos movimentos sociais do Brasil. Por fim, registra-se a falta de governabilidade de
algumas atividades proposta para o ano de 2011 como “pautar no Congresso uma agenda
22
propositiva para uma reforma tributária com direitos sociais”, pois envolveria uma correlação de
forças políticas para além da capacidade de articulação do próprio Programa. Sobre a
governabilidade nas ações do planejamento estratégico, Carlos Matus16
nos ensina que a eficácia
de um plano depende do grau de controle do ator do Plano sobre as variáveis que interferem no
sucesso das atividades propostas. No caso específico as entidades do Programa não tinham
governabilidade sobre a pauta do Congresso Nacional, o que torna a proposta apresentada inviável.
No ano de 2012 foram propostos cinco grande grupos de atividades. Confrontando a Matriz
do Projeto, o Plano de Trabalho e Orçamento e o Relatório Narrativo, destacam-se as seguintes
atividades:
a) As quatro reuniões anuais previstas do programa foram realizadas. Nos dias 15 e 16 de maio
de 2012 com a presença da CAFOD. A segunda foi realizada no dia 24/08/2012. Outra reunião
realizada em 21/09/2012 (comprovado por meio da pauta da reunião) e outra ocorrida durante o
seminário realizado na cidade de Santo Antônio do Descoberto-GO, de 14 a 16 de Dez/2012.
b) Reuniões do GT e Comunicação. O plano de trabalho informa a previsão de três reuniões. O
relatório narrativo do período registra duas reuniões, sendo uma no dia 18/02/2012 e outra no dia
02/03/2012. Além de reuniões virtuais com Código Sur. Em pedido de esclarecimento realizado à
Secretaria do Programa fomos informados da realização de reuniões em São Paulo, nos dia 17 e 18
de junho e nos dias 24 e 25 de junho no Rio Grande do Sul com a presença de uma representante
da CAFOD. O resultado destes dois encontros estão no documento “Briefing novo site” entregue
durante o processo avaliativo. Uma das proposições deste documento consta a utilização do site
como uma “consultoria virtual” em que usuários vão poder interagir por chat (MSN, Yahoo, Gtalk,
Skype) com experts sobre como acessar seus direitos. Essa ação ainda não foi encaminhada pelo
Programa.
c) Manutenção de uma Central online dinâmica para alimentar os debates, formação e
mobilização em defesa dos direitos sociais. Essa é uma atividade de difícil monitoramento e não há
indicadores adequados na Matriz do planejamento que possibilite o monitoramento da atividades. O
relatório narrativo informar algumas atividades do GT comunicação, já informadas no item anterior.
Consultando o site www.direitosociais.org.br observa-se que o mesmo é atualizado, contudo, não é
de fato uma central online de direitos e há o banner para acesso uma “consultoria virtual”, mas que
está em fase de teste. O site direitos sociais, em 16 de outubro/2013, aparece como o segundo
indicado no buscador do www.google.com.br .
d) O quarto grupo de atividades está relacionado à realização de cursos e encontros. Registra-
se uma intensa agenda neste grupo de atividades em 2012: seminário nacional sobre a campanha da
fraternidade 2012 – “saúde pública e fraternidade”; mobilização dos Grito dos Excluídos com o
16
MATUS, Carlos. Adeus senhor presidente: governantes e governados. São Paulo: FUNDAP, 1996.
23
tema “queremos um Estado a serviço da nação, que garanta direitos a toda população”; congresso
pastoral estadual da pastoral da saúde em SP, com o lançamento da plataforma saúde e abaixo
assinado reivindicando 10% das receitas bruta do orçamento para saúde; congresso pastoral
estadual da pastoral da saúde no RS, com o lançamento da plataforma saúde e abaixo assinado
reivindicando 10% das receitas bruta do orçamento para saúde; reunião na CNBB (Programa,
MDDS, CNBB) para discutir a CF de 2012 e a formação de uma frente em defesa da saúde
pública; atividades na Rio+20 com palestra sobre migrantes e direitos.
e) O relatório narrativo registra um conjunto de assessorias em 2012: assembleia diocesana de
Santa Cruz; lançamento da 5a semana Social Brasileira e da edição gaúcha.
O ano de 2012 é marcado por um processo de articulação de redes e de presença do
Programa em atividades de mobilização, sobretudo, aquelas relacionadas a defesa da saúde pública
no Brasil. Também foi um ano marcado pela influência do Programas nos debates internos da
Igreja, especialmente na CNBB. Por outro lado, não há registro de atividades de advocacy e lobby
para os direitos sociais junto ao parlamento brasileiro. Os resultados apresentados, conforme
relatórios narrativos, evidenciam a construção de 12 indicadores. Desses indicadores construídos,
foram apresentadas atividades no plano de trabalho e comprovada por meio de documentação a
realização de nove.
Ainda sobre o principal documento de suporte desta avaliação, a Matriz do Programa
Justiça Econômica para o período de 2010 a 2013 que foi atualizada e prorrogada até 2014
(BRA494 Matriz do Programa 2010-2014), cabem as seguintes observações sobre os resultados
esperados, indicadores e atividades:
i) O eixo “formação e capacitação de multiplicadores” tinha entre os seus resultados esperados
que os 3.500 multiplicadores já capacitados atuassem no processo de influência em políticas
públicas ao nível regional e estadual. Sendo que uma das atividades listadas para alcançar esse
resultado seria a criação de um cadastro dos multiplicadores que participaram das capacitações
realizadas pelo Programa. Contudo, o cadastrado até o momento (última data de atualização é
28/11/2011) apresenta o registro de somente 972 pessoas, portanto, apenas 28% da meta prevista.
Não há indicativo na base de dados de cursos ou outras capacitações realizadas pelas pessoas e que
foram ofertadas pelo Programa. Ademais, é necessária uma padronização mínima dos dados para
que o cadastro seja útil para fins de mobilização e incidência política. Precisam dados básicos,
como data de nascimento, identificação de gênero; endereço completo; entidade; área de atuação;
cursos e atividades que as pessoas participaram; datas que ocorreram essa participação. O cadastro é
um importante instrumento para acompanhamento dos egressos das atividades do Programa e para
que de fato consiga-se realizar o monitoramento e a averiguação do engajamento dos
multiplicadores em atividades de políticas públicas ao nível local, conforme indicava o resultado
24
esperado na matriz de planejamento. O indicador apontado para acompanhamento dessa atividade é
de difícil mensuração, pois trata-se de uma informação abstrata e de elevada expectativa, ao esperar
que todos os multiplicadores estarão envolvidos na disseminação dos direitos sociais.
ii) O segundo resultado esperado, no mesmo eixo de formação de multiplicadores, era o
estabelecimentos de novos meios para fazer formação, capacitação e comunicação para assegurar
informação acessível ao grupo alvo. Para tanto, o planejamento indicava que os novos meios de
formação e capacitação ocorreriam também via a WEB do programa e com a utilização de novas
mídias. Além do mapeamento de equipamentos públicos, uma atividade prevista e não cumprida.
Sendo o único indicador do engajamento dos multiplicadores na defesa dos direitos sociais o
aumento de cliques/hits nas novas mídias sobre direitos sociais e o programa, o que também é um
indicador inadequado para mensurar o resultado esperado. Convém assinalar que das atividades
esperadas para o sucesso desse resultado, somente duas de fato avançaram: a redação do novo texto
da assembleia popular e a articulação com outras organizações para disseminar informações sobre
direitos sociais. Não há comprovação do uso do indicador nos documentos apresentados, assim
como a novas mídias não foram de fato aproveitadas no período. Registra-se que a página do
Facebook do programa17
tem apenas “22 curtidas” e a conta no twitter não está em funcionamento.
iii) No segundo eixo de atuação do programa “política/advocacy/lobby para os direitos
sociais/formação de rede”, há dois resultados que não foram efetivamente alcançados: a) o
programa esta na disputa política com uma proposta propositiva de seguridade social que seja
inclusiva; e b) o movimento em defesa de direitos sociais se rearticula e se fortalece em torno desta
nova proposta de seguridade social inclusiva e as organizações estão participando de uma forma
efetiva em defesa dos direitos sociais. Sobre este último resultado esperado observa-se, que na
realidade, são dois resultados em um só, e que ainda assim dependeria da formulação de um
proposta de seguridade social inclusiva, o que de fato não ocorreu nos últimos anos. Pelo menos
quatro atividades previstas não foram realizadas neste eixo ou não foram comprovadas durante este
processo de avaliação, são elas: a) criar e manter uma lista de deputados defensores de DS –
dialogar com este grupo e manter subsídios contínuos; b) definir ações visando às eleições para
pautar DS, incluindo a elaboração de uma proposta propositiva para ampliação da seguridade
social; c) montar uma comissão do programa para começar a desenvolver posição sobre uma
proposta propositiva; e d) marcar reuniões com os candidatos e os movimentos sociais sobre DS
para socializar esta proposta. Há três indicadores que seriam instrumentos de mensuração desses
resultados, que não foram comprovados durante o processo de avaliação. O primeiro diz respeito
ao aumento do número de deputados a favor dos direitos sociais (agora 40); que dependeria da
17
https://www.facebook.com/pages/Programa-Justiça-Econômica/395356300529852?fref=ts
25
execução da atividade lista de deputados.18
Ademais registra-se a falta de governabilidade sobre tal
indicador, assim como a dificuldade em pautar no Congresso Nacional uma proposta alternativa
para uma seguridade social inclusiva. Outro indicador previsto era de difícil mensuração, e não foi
demonstrado durante a avaliação que o trata dos “exemplos de mudança de posição de tomadores de
decisão como resultado do trabalho de pressão política do programa”. Por fim, o indicador
“aumento do número de organizações e redes atuando contra reformas negativas e a favor da
universalização de direitos sociais” também não foi registrado ao longo da execução do
planejamento. Sobre este indicador caberia saber quais são as organizações que hoje que atuam em
defesa dos direitos sociais a partir da perspectiva universalista e quais são exatamente “as reformas
negativas” em pauta no país; a partir deste levantamento e que seria viável o monitoramento das
atividades como o uso deste indicador.
iv) No terceiro eixo de atuação do programa “influenciar/envolver a igreja como um todo na
defesa do DS” destaca-se que três dos quatro indicadores para mensurar o resultado “a manutenção
e ampliação dos diversos níveis eclesiais na defesa e ampliação de DS” não foram comprovados: a)
aumento nas solicitações das dioceses para capacitação; b) evidência de um aumento em
informação publicada sobre direitos sociais na mídia católica e c) aumento do número de cliques no
site que vem de outros sites católicos. Além disso, não encontramos registros da realização das
seguintes atividades: a) fazer lista dos 40 bispos deste campo para desenvolver informações
periódicas sobre o tema; b) mapear os bispos para serem referências dos DS em sua regiões e
identificar estratégias para engajar este grupo; c) identificar e aproveitar os meios já existentes de
comunicação católica (incluindo blogs) para colocar artigos sobre o tema de DS (...); e d) monitorar
os hits do site do programa que vêm dos sites católicos.
Pode-se apreender da documentação apresentada uma falha na sistematização e no registro
da atividades realizadas, devido ausências de documentações que comprovem de fato algumas das
ações previstas na matriz de planejamento. Além disso, vários dos resultados esperados no
planejamento estavam fora da governabilidade do programa. Nesse sentido, a seção V deste
relatório, que traz o resultado das entrevistas com as lideranças das organizações envolvidas, é
importante para esclarecer as diversas lacunas encontradas nos documentos, permitindo com isso
evidenciar respostas para as questões que balizaram e orientaram este processo avaliação do
Programa.
Os planos de trabalhos anuais e os respectivos relatórios narrativos nem sempre apresentam
aderência das atividades à Matriz dos Projetos, o que dificulta bastante o trabalho de avaliação
18
Durante entrevista com a CBJP para esta avaliação ficou de ser remetida a referida lista de deputados, o que não
ocorreu.
26
externa. Há também o desafio de uma ação articulada dos vários parceiros nos quatros eixos de
atuação do programa.
Levando-se em conta a natureza e a especificidade das atividades, podemos inferir que há
evidências da realização das atividades propostas nos planos de trabalho, por se tratar de tarefas
passivas de construção de indicadores de esforços, de caráter qualitativo. Vale lembrar que,
ausência de documentos comprobatórios das atividades propostas impacta diretamente nas
demonstrações do alcance dos objetivos e na construção dos indicadores de capacidade. Para
Aguilar e Ander-Egg19
a noção de eficácia refere-se ao “grau em que se alcançam os objetivos e
metas do projeto na população beneficiária, em um determinado período de tempo,
independentemente dos custos implicados”. Na visão de Cotta (1998) aferir a eficácia de uma
intervenção significa estabelecer um nexo causal entre, de um lado, alguns de seus aspectos e, de
outro, eventuais alterações na situação ou nos atributos dos destinatários.
Sem pretender resolver o conflito da qualidade dos indicadores, qualitativo e quantitativo,
vale ressaltar que ambas tem suas pertinências e limitações. Os projetos passam por um ciclo e
concepção, surgimento, crescimento, maturidade, declínio e desaparecimento. Esses eventos são
chamados de “fases do ciclo de vida do projeto”. A função da avaliação é validar os acontecimentos
de cada evento do ciclo de vida do projeto. Como bem mostram Cohen e Franco20
, a avaliação não
é apenas um instrumento para determinar em que medida os projetos sociais alcançam seus
objetivos. Sua pretensão também visa racionalizar a alocação de recursos, por meio do
aprimoramento contínuo das ações que visam modificar segmentos da realidade. Esta perspectiva
aponta para avaliação de eficiência em projetos e programas sociais, isto é, a otimização na
aplicação de recursos humanos, materiais e financeiros e a sua relação com os benefícios
alcançados.
Por outro lado, a avaliação por eficiência em políticas e programas sociais tem recebido
crítica de inúmeros autores. Para Faria21
trata-se da adoção de uma ótica gerencialista de influência
do setor privado da economia na perspectiva de tipificar e fragmentar os processos avaliativos, com
intuito de reduzir recursos para os programas sociais. Trata-se da perspectiva custo-benefício, que
visa verificar o benefício monetário para cada unidade de custo investida, assim tanto os custos
quantos os benefícios são calculados em termos monetários.22
Na realidade programas e políticas
sociais constituem elementos de um processo complexo e contraditório de regulação política e
19
AGUILAR, Maria José; ANDER-EGG, Ezequiel. Avaliação de serviços e programas sociais. Petrópolis: Vozes,
1994. 20
COHEN, E. e FRANCO, R. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis, RJ: Vozes; 1993. 21
FARIA, Carlos. A política de avaliação de políticas públicas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.
20, n. 59, out. 2005. 22
CANO, Ignácio. Introdução à avaliação de programas sociais. São Paulo: FGV, 2006.
27
econômica em uma sociedade de classes, cuja avaliação deve ultrapassar a mera disposição e
utilização primorosa métodos e técnicas racionais, limitados a eficiência e ao custo-benefício.23
Feitas essas ressalvas críticas, cabe ressaltar as dificuldades para realização de avaliação por
eficiência do Programa Justiça Econômica, pois os dados orçamentários apresentados não têm
aderência com os eixos de atuação e suas respectivas atividades previstas na matriz do
planejamento. Para realização desta avaliação foram entregues informações financeiras de 2010 a
2012, que acompanham os relatórios narrativos. Sendo que a última informação financeira
disponível é de fevereiro de 2012. No período de março/2010 a fevereiro/2012, a execução
orçamentária informada foi de R$ 282.615,49 para um orçamento disponível de R$ 349.267,84.
Entre os motivos que dificultam uma análise por eficiência pode se destacar o fato que as
rubricas do orçamentos não são as mesmas nos relatório narrativos, assim como não são
correspondentes as atividades previstas nos planos de trabalho. O Relatório Narrativo de março a
setembro/2012 não veio acompanhado do orçamento executado. No Relatório Narrativo de março
de 2011 a fevereiro de 2012 consta a informação que a partir do projeto de 2012 será seguido o
modelo proposto por CAFOD, com a prestação de contas realizada por atividade segundo os gastos
previstos para cada uma delas. Contudo, não encontramos documentação com esse novo modelo de
prestação de conta. Enfim, as informações fornecidas são insuficientes para realização de uma
análise a contento pela ótica da eficiência do Programa.
Mas, no entendimento da dirigente Luciane Udovic, do Grito dos Excluídos, o Programa foi
eficiente na utilização dos recursos, pois na opinião dela “publicamos milhares de materiais
impresso, publicamos áudio visuais, viajamos por todo o Brasil dando assessorias e divulgando
nossas publicações, criamos uma rede permanente de discussão, reflexão debate e ação em torno do
nosso eixo, enfim acredito que soubemos administrar bem os recursos para um trabalho que
considero até ambicioso pela verba que tem”.
IV. Resultados dos Grupos Focais, das visitas in loco e das entrevistas com agentes
multiplicadores
Como parte da segunda etapa do processo de avaliação foram realizadas visitas in loco em
dois projetos que tiveram intervenção do Programa Justiça Econômica com a capacitação pessoas.
Durante a visita foram realizados grupos focais visando propiciar uma maior interação entre o
avaliador e os beneficiários diretos do projetos.
23
BOSCHETTI, Ivanete . Avaliação de políticas, programas e projetos sociais. In: CFESS; ABEPSS. (Org.). Serviço
Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS, 2009, p. 575-592.
28
Os dois grupos Focais foram realizados em São Paulo. Um primeiro grupo foi com 5
pessoas (sendo 2 mulheres e três homens) foi realizado, no dia 22/04/2013, no Bairro Jardim Laura
e Parque Alvarenga em São Bernardo do Campo e, o segundo grupo foi realizado no dia
23/04/2013, no Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) com a presença de
dois homens e uma mulher.
O Bairro dos Alvarengas é um bairro do município de São Bernardo do Campo e localiza-se
em uma área distante do centro da cidade, em uma região periférica da cidade. Desde 2007, o
Programa Justiça Econômica desenvolve atividades de formação política com lideranças da
Região. Foram ministrados dois cursos em Mongaguá-SP sobre direitos sociais, em especial com
jovens entre 17 e 20 anos. E outro curso no próprio bairro.
No grupo focal realizado participaram: Ranildo Romes de Souza (Mancha); Tanisvalda
Leite de Souza (Valda); Eduarda Silva; Francisco Silva e André Santos (Tiú).
Os participantes são vinculados a Sociedade amigos de bairro do Jardim Laura e Parque
Alvarenga e ao Clube de Mães. Os participantes relataram que as relações com o Programa Justiça
Econômica e com o Grito dos Excluídos tiveram início com a qualificação de 42 jovens e o
trabalho com as cartilhas produzidas pelo Programa, destacadamente “Direitos Sociais para Todas
as Pessoas”.
Os participantes destacaram que o bairro, apesar de antigo (1954), é muito carente e
construído em área manancial, e com o lixão na região. De acordo com um dos presentes “os cursos
incentivaram as pessoas a procurarem seus direitos, cobrar seus direitos. Eu estava até falando com
uma pessoa, não adianta você ir no ônibus reclamar dos defeitos do cobrador com o motorista, tem
que reclamar no local certo. Então esses cursos foram importantes (…) não podemos deixar a
peteca cair”24
. Os participantes do grupo focal cobraram a continuidade das atividades de formação
no local.
Como consequência das atividades formativas, os participantes dos cursos juntamente com a
Associação desenvolveram várias ações na comunidade, entre elas um parceria com o INSS para
esclarecer e tomar providências relativas à direitos previdenciários e acesso ao Benefício de
Prestação Continuada (BPC) da assistência social. Participaram desta atividade 104 pessoas na
comunidade que são, portanto, beneficiários indiretos do Programa. Há outras atividades relatadas
como a organização de mutirão para limpeza da represa local, em conjunto com a Sociedade dos
Amigos do Bairro e Professores e Alunos da escola Domingos Peixoto e a Prefeitura de São
Bernardo do Campo; a visita de médicos oftalmologistas para atendimento à população local; e o
programa de entrega de leite (viva o leite), desenvolvido pelo Clube de Mães, que atende 300
famílias, sobretudo, aquelas com crianças desnutridas.
24
Participante Ranildo Romes de Souza.
29
Parte importante da juventude capacitada nas atividades de formação do Programa hoje
estão fazendo curso universitário, conforme relatado pelos participantes do Grupo Focal e está
inserida no mercado de trabalho. Um dos jovens qualificados também foi candidato a vereador no
município de São Bernardo do Campo.
Há dificuldades concretas da mensuração dos avanços qualitativos, como destaca um dos
participantes do grupo focal “Uma das coisas que antecede avanços qualitativos, são os avanços
quantitativos. Quantitativos é fácil, quantas pessoas conseguiram o leite, quantas pessoas têm
asfalto? Mas com que qualidade e o que realmente melhorou? Era bom conversar um pouco sobre
isso, eu acho né?”25
Já outra participante26
enumera como avanços qualitativo, o aumento da consciência política
do jovens e o envolvimento da comunidade em várias ações, como a limpeza do córrego, a
conquista da Unidade do Pronto Atendimento da Saúde (UPA) depois de pressão da comunidade
junto ao prefeito e ao secretário de saúde, os encaminhamentos dos direitos relacionados à
previdência social e também da assistência social, a iluminação pública, enfim, o fato de
conscientizar o cidadão/ã local a fazer suas reivindicações junto aos órgãos públicos.
Então um dos participantes relata, como exemplo prático, a relação com a empresa pública
de água e esgoto local (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP). Na
voz do participante “aqui nós tínhamos um problema assim, por exemplo, a SABESP, ela cobra
uma taxa de esgoto em um local que não existe esgotamento sanitário. Aqui não tem esgoto, aqui
caí nos córregos e cai direto nas represas. Só que nós pagamos uma taxa, uma taxa que se brincar
ela é mais cara que a água. (...) E nós fizemos um trabalho aqui sobre isso, até na reunião da
associação eu disse: calma aí a gente; vamos tirar uma comissão aqui e vamos até a SABESP. E
isso teve bom resultado, a gente conseguiu, quem foi lá tirou a taxa”.27
Os participantes também relatam o trabalho desenvolvido dentro da escola Domingos
Peixoto com professores, com a Secretaria do Meio Ambiente, com as lideranças dos bairros, de
maneira que colocaram mais de 100 pessoas em um mutirão para limpar a represa. Nesse sentido, é
muito importante que o Programa desenvolva trabalho com jovens, que poderão articular a defesa
de um conjunto de direitos no âmbito local.
O segundo grupo focal realizado, em São Paulo, foi no CDHIC com a presença das
seguintes pessoas: Paulo Illes (Peru)28
; Tania Bernuy Illes (Peru)e Wilbert Riva Pena (Bolívia). O
CDHIC é uma organização da sociedade civil que tem como objetivo promover, organizar, realizar
25
Partincipante Francisco Silva. 26
Participante Tanisvalda Leite de Souza. 27
Participante Ranildo Romes de Souza. 28
Mas morou por 22 anos no Paraguai.
30
e articular ações que visem à construção de uma política migratória que respeite os Direitos
Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais dos imigrantes e suas famílias no Brasil.
Atua por meio de ações diretas na assessoria para a regularização migratória, bem como por meio
de atividades de formação política e informativas visando a sustentabilidade dos empreendimentos
dos imigrantes e a garantia de condições dignas de trabalho a todos/as. A figura humana, a pessoa
do imigrante, seu protagonismo e sua cidadania é o eixo das ações da entidade.29
A relação entre o Programa e o CHDIC começou no Fórum Social Mundial das Migrações
(FSMM) que é um dos processos temáticos decorrentes do Fórum Social Mundial (FSM).30
O
primeiro ocorreu em 2005, em Porto Alegre. O segundo e o terceiro FSMM teve espaço em Rivas,
Madri-Espanha, em 2006 e 2008.
Os participantes do grupo focal destacam a importante parceria como o Programa Justiça
Econômica “nós precisamos de parcerias para trabalhar os temas sociais, como incluir os
imigrantes na luta por um Brasil melhor, eu acho que essa é a grande pergunta que a gente tem feito
e aí encontramos justamente no programa, um grande eixo dos direitos sociais para poder trabalhar,
não só em âmbito, mas principalmente de cursos de diplomação. Nós tivemos, eu acho que o mais
importante (...) foi o curso que nós tivemos em Mongaguá, que foi o diferencial e agora nós temos
que retomar esse, fazer mais (...)”.31
Os participantes do CHDIC destacam que o processo de formação foi na área de direitos
sociais, em particular, no tema da previdência social, destacando que tiveram cursos de áudio
visuais, de mídia e outros os meios de comunicação.
O impacto mais importante na opinião dos participantes foi sobre a vida de muitos jovens
imigrantes, que começaram a se desenvolver mais na sociedade brasileira e também ampliaram as
possibilidades de formação de diversas áreas.
Por outro lado, há claramente a falta de acompanhamento dos egressos do curso por parte
do Programa Justiça Econômica, como destaca um participante do grupo focal “a partir daí não teve
continuidade, perdeu-se o contato com essa turma, que é uma turma muito rica. Se tivesse
continuidade você teria uma turma fazendo, multiplicando, esse aprendizado que teve para outros
jovens. Que no caso, na área social ficamos, Pedro, Jorge, eu, e tem outro menino, o Zeinado, que
gostamos de fazer, de atuar de dar um pouco do nosso tempo para conviver, ajudar a nossos
conterrâneos imigrantes para que eles também possam ter a mesma oportunidade que nós tivemos.
29
Informação extraída de http://www.cdhic.org.br/?page_id=2 30
Conforme Terezinha Santin “a partir da carta de princípios do FSM, o Serviço Pastoral dos Migrantes; o Grito dos
Excluídos; as Pastorais Sociais, entre elas a Pastoral dos Migrantes coordenada pelas irmãs scalabrinianas; O CIBAI
Migrações, entre outros parceiros organizaram a primeira edição do Fórum Social Mundial das Migrações - FSMM,
com o tema “Travessias na de$ordem Global”, o qual ocorreu em Porto Alegre, Brasil, em 2005”. 31
Conforme o participante do grupo focal Paulo Illes.
31
Acho que a ideia foi muito bem recebida, sob tudo pelos jovens, só que acho que seria muito
importante essa iniciativa de dar continuidade para abranger mais”.32
Um dos impactos com beneficiários indiretos a ação do Programa junto com o CDHIC foi a
criação do grupo “juventude sem fronteiras”, que é formado por jovens imigrantes, em grande parte,
por bolivianos, mas também por imigrantes de outros países. Este grupo tem forte atuação na
comunidade de imigrantes em São Paulo, seus integrantes estão na frente de ações políticas como
na marcha dos imigrantes, como atesta uma das participantes do grupo focal.33
Umas das
reivindicações do grupo é o direito ao voto, com a campanha “Viva te Voto”. Ao contrário de
alguns países europeus, os imigrantes não têm direito a voto no Brasil.
Uma das participantes também destaca a questão cultural como necessária para integração
dos imigrantes e que deve ser incluída no campo dos direitos, diz ela “é um atendimento necessário
apontar pra um caminho mediante a cultura né, a difusão do folclore, a difusão da cultura própria
(...). É necessário começar a trabalhar esse tipo de eventos culturais para mostrar na sociedade
brasileira que não somente a gente veio trabalhar. Para tirar da cabeça esse pensamento errôneo que
o imigrante veio para tirar emprego de brasileiro. Então a gente tem ponderações, tem muitos
grupos folclóricos, dançarinos, tem grupos formados que fazem algumas apresentações”.34
Os participantes do grupo focal destacam que os jovens ao realizarem o curso
desenvolveram um novo olhar sobre a realidade deles e do Brasil, pois passam a ser ver como
sujeitos de direitos. Há todo um trabalho de reivindicação para atendimento no Sistema Único de
Saúde (SUS) e no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de incidência junto aos
órgãos públicos para atendimento ao imigrante. Um dos participantes destaca que no “posto de
saúde do Bom Retiro, em torno de 60% das mulheres que fazem o pré-natal são imigrantes. Ali tem
um dos coordenadores de agentes de saúde, o Jorge Gutier, é um boliviano”35
. Há parcerias já
estabelecidas também entre o CDHIC e o CRAS. Nas escolas eles destacam uma conquista
histórica no Estado de São Paulo, resultado de um longo processo, que resultou na criação de uma
portaria municipal e outra estadual obrigando a escola a matricular a criança imigrante,
independentemente de ter ou não documento.
Por fim, os participantes destacaram a mobilização política dos imigrantes no Brasil, que
indiretamente o Programa Justiça Econômica contribui com a conscientização dos direitos, eles
chamam atenção pela recente aprovação da Lei da Anistia Migratória no Brasil, isto é, a Lei
sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2/7/2009, que autoriza a residência
provisória de cidadãos estrangeiros em situação irregular no Brasil. Pela nova lei todos os
32
Idem. 33
ConformeTania Bernuy Illes. 34
Idem. 35
Conforme Paulo Illes.
32
estrangeiros que estejam em situação irregular e tenham entrado no Brasil até 1/1/2009 e
regularizem sua situação, terão a liberdade de circulação, direito de trabalhar, acesso à saúde e
educação públicas e à Justiça.
Contudo, a Lei vai beneficiar apenas 1/3 dos imigrantes em situação irregular no Brasil, pois
apenas 50 mil terão condições de cumprir os requisitos exigidos na lei, ficando de fora outros 100
mil imigrantes. O que exige a continuidade da luta dos imigrantes e eles esperam contar com o
apoio do Programa.
Também foram entrevistados, por meio de um questionário semiaberto, alguns
multiplicadores do Programa. Das 13 indicações de entrevistas com multiplicadores do Programa,
apenas seis devolveram o questionário enviado respondido. Cabe esclarecer que um dos indicados
foi desconsiderado, pois já tinha concedido entrevista com assessor de uma das entidades do
Programa. Sendo assim, o retorno das entrevistas foi baixo, de apenas 50% do público-alvo. Dos
multiplicadores que responderam a pesquisa, 67% eram homens. Do total dos entrevistados/as
quatro eram do Sudeste, sendo três de São Paulo e um do Rio de Janeiro. Outros dois eram da
Região Nordeste, sendo um de Fortaleza e outro de Natal. Em relação à faixa etária, dois
entrevistados/as tinham menos de 25 anos; dois entre 28 e 31 anos; um entrevistado 39 anos e uma
entrevista 60 anos de idade.
Todos os/as entrevistados/as confirmaram que participaram de atividades do Programa.
Todas as atividades citadas são posteriores a 2009, com forte concentração em 2011 e 2012.
Destacam-se nas atividades citadas pelos multiplicadores:
a) 5a Semana Social Brasileira (2012);
b) Jubileu Sul Brasil - Formação sobre o Estado Financeirizado (2012);
c) Encontro preparatórios para a Cúpula dos Povos (2012)
d) Formação sobre megaeventos e megaprojetos e dividas (2011, 2012, 2013);
e) Ciclo de Debates – modelo de desenvolvimento e o Projeto Popular para o Brasil (2009);
f) Cursos sobre o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE (2011);
g) Seminário sobre o Estado para que e para quem? (2012);
h) Curso sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (2009/2010/2011/2012);
i) Ato dos Movimentos em defesa dos direitos sociais e contra a Reforma Tributária (2009);
j) Projeto Acompanha Jovem (2012 e 2013);
k) Seminário sobre saúde pública e defesa do SUS (2012);
l) 2a assembleia popular nacional.
33
Os multiplicadores destacam nas entrevistas os impactos relevantes para sua atuação
política, militante, profissional e na igreja decorrentes das atividades realizadas pelas entidades do
programa. Foram diversos os impactos indicados pelos multiplicadores decorrentes das atividades
do programa, que aglutinamos resumidamente em três grandes contribuições. Uma primeira esta
relacionada ao entendimento sobre o uso dos recursos públicos (orçamento) e o pouco
comprometimento do Estado brasileiro com os direitos sociais (saúde, educação, mobilidade
urbana, lazer, previdência e assistência social) vis à vis aos recursos que são alocados em favor do
Capital (pagamento de juros, grandes obras, megaeventos). Um segundo agrupamento possível, a
partir das respostas dos entrevistados, é o impacto que as atividades trouxeram na atuação política e
até mesmo profissional, no sentido de uma abordagem mais ampla com os públicos que esses
multiplicadores se relacionam. Uma das entrevistadas destacou “muitas pessoas que passam por
essa paróquia para pegar a cesta básica e recebem informações sobre documentos, orientações sobre
seus direitos, realizamos visitas as famílias e damos orientações. Por isso, os cursos, os debates, os
seminários dos quais participei ajudaram bastante a nos abrir os olhos para os problemas do país e
assim passamos a trabalhar na defesa dos direitos dessa população excluída e carente”. Por fim, tem
impacto importante na formação pessoal e política, principalmente no entendimento de uma das
políticas da seguridade social, a de saúde. O impacto diz respeito as articulações que os
multiplicadores puderam fazer no âmbito da mobilização de jovens, principalmente dentro da igreja
e na militância social.
Dos estudos e outros materiais produzidos pelo Programa neste período de avaliação, a
metade dos entrevistados conheciam os seguintes documentos: Todos os Direitos Básicos para
todas as pessoas – como acessar direitos; Cartilha Reforma Tributária Afeta os Direitos Sociais;
Carta compromisso Direitos Sociais; e Plataforma em Defesa da Saúde Pública. Dois entrevistados
conheciam apenas o documento “Plataforma em Defesa da Saúde Pública”.
Os multiplicadores utilizaram de diversas estratégias na divulgação junto a sociedade
brasileira das ideias defendidas pelas entidades que compõem o Programa Justiça Econômica.
Chama atenção nas respostas a utilização das redes sociais (virtuais) e outros fóruns de discussões
na internet, o que demostra que há espaços importantes para utilização das novas mídias sociais na
atuação do programa. Em segundo lugar, nas respostas ficou, a distribuição/reprodução dos
materiais em eventos políticos, encontros e seminários. Por fim, destaca-se a distribuição dos
documentos para famílias que frequentam a igreja.
As duas últimas questões do questionários buscavam inferir as respostas dos multiplicadores
a respeito dos direitos sociais no Brasil e do sistema tributário, dois temas, como já relatado
amplamente trabalhado pelas entidades do Programa ao longo desse período da avaliação. Percebe-
34
se que as respostas dos multiplicadores está sintonia com as ideias defendidas e propagadas pelas
entidades do Programa Justiça Econômica.
No tocante aos Direitos sociais os multiplicadores demonstram claramente a opinião que
eles devem ser universalizados e garantindo pelo Estado, apresentaram uma visão crítica aos
programas focalizados e de caráter assistencialista. Todos/as os/as entrevistados/as falaram da
necessidade de concretizar os direitos assegurados na Constituição de 1988.
O tema da reforma tributária foi mais árduo para ser compreendido pelos multiplicadores,
mas as respostas vão ao encontro das proposições apresentadas pelas entidades no sentido de uma
reforma tributária progressiva que onere mais o patrimônio e a renda e assegure o financiamento
exclusivo dos direitos sociais, sobretudo, das políticas vinculadas à seguridade social.
V. As Vozes dos Dirigentes
Foram entrevistados os/as dirigentes das quatro entidades que compõem o Programa Justiça
Econômica: Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil, Pastorais Sociais da CNBB e Comissão
Brasileira de Justiça e Paz.
As questões orientadoras36
que balizaram as entrevistas e o grupo focal foram divididas em
quatro blocos, a saber:
Bloco 1
1) Os objetivos de formação e capacitação de agentes multiplicadores sobre direitos sociais
estavam claros para sua entidade?
2) Você considera realístico os objetivos traçados?
3) Das atividades previstas para formação e capacitação de multiplicadores, quais você
considera que foram as mais relevantes?
4) Quais as atividades e ações que você que considera que fracassou?
5) Você considera que o público qualificado se engajou na defesa dos direitos sociais?
Bloco 2
1) Em relação à Política/ advocacy/ lobby para os direitos sociais/ formação de redes estava
claro para sua entidade a forma de incidência do programa?
2) Quais as atividades que você destacaria na incidência junto ao parlamento que mostram o
acerto do programa?
3) O Programa estimava em 2009, que 40 deputados estavam a favor dos direitos sociais? Você
avalia que este indicador melhorou no processo?
4) Qual o principal resultado da incidência no parlamento que você destacaria?
5) Você entende que o Programa Aumentou o número de organizações e redes atuando contra
reformas negativas e a favor de universalização de direitos sociais?
6) Qual/is entidade/s que passaram atuar junto após o trabalho do Programa?
36
As questões apenas orientavam as entrevistas e balizaram o grupo focal, os dirigentes ficaram livres para dissertar
sobre as questões e outros temas que julgavam importantes.
35
Bloco 3
1) Qual o indicador que você pode citar sobre o maior envolvimento da igreja na defesa dos
direitos sociais?
2) Você considera que foi ampliado a presença dos diversos níveis eclesiais na defesa e
ampliação do DS?
3) Quais as manifestações da CNBB a favor do DS que decorrem da influência do Programa?
Bloco 4
1) Quais os principais pontos positivos nos últimos anos que você destacaria no fortalecimento
institucional do Programa?
2) Como sua entidade contribui para isso?
3) Você entende que ocorreu uma maior agilidade interna e externa de comunicação e utilização de
outros meios para alcançar os objetivos do programa?
Os entrevistados foram os seguintes:
a) Grito dos Excluídos – Luciane Udovic.
b) Jubileu Sul – Grupo - Rosilene Wansetto; Francisco Vladimir Lima da Silva e Edson
Gonçalves Pelagalo Oliveira Silva.
c) Pastorais Sociais/CNBB – Ivo Poletto e Pe. Ari Antônio dos Reis.
d) Comissão Brasileira de Justiça e Paz – grupo - Pedro Gontijo, Carlos Moura, Sidney
Sabino, Gilberto Sousa, Daniel Seidel.
No primeiro bloco de questões visamos identificar a atuação das entidades, a partir das
perguntas balizadoras desta avaliação (vide introdução deste documento), no primeiro eixo do
planejamento do Programa “formação e capacitação de agentes multiplicadores sobre direitos
sociais”.
A dirigente dos gritos dos excluídos, Luciane Udovic, destacou no primeiro bloco de
questões que o programa alcançou objetivos importantes no processo de formação, a começar por
pautar o tema da defesa dos Direitos Sociais instituídos na CF 1988, que era pouco discutido e, em
particular, a defesa do sistema de seguridade social. De acordo com ela “foi graças a capacidade do
Programa de reunir 4 entidades parceiras focadas num mesmo eixo comum, que possibilitou
estabelecer um plano de formação que contribuísse para unificar estes movimentos ligados as
entidades parceiras a defesa e luta pelos direitos sociais básicos”. O processo de formação permitiu
criar uma cultura de direitos e uma agenda comum entre os parceiros.
O Grito dos Excluídos considera que a estratégia de ação em difundir informação e
formação para os direitos sociais constitucionais teve êxito, pois formou multiplicadores no país,
36
por meio das diversas tiragens das três cartilhas sobre acesso aos direitos, da plataforma em defesa
do SUS, e também por meio de materiais que não eram específicos do Programa, mas que o
Programa influenciou.
A entrevistada cita engajamento dos articuladores e dos multiplicadores em lutas comuns,
destacadamente:
a) 2007 - Reforma Previdenciária - mobilização no Fórum que discutiu a reforma
previdenciária para influenciar, incidir e permitir junto à outras redes bem como aos
poderes governamentais constituídos que os direitos da seguridade social não fossem
abolidos.
b) 2008/2009 - Reforma Tributária. Luta contra o Projeto da Emenda Constitucional –
(PEC 233/2008) que previa a desconstrução do Sistema de Seguridade Social.
c) 2010 - Seminário: Direitos Sociais – avanços e perspectivas – propostas propositivas de
política social.
d) 2011 - Participação no V Fórum Social das Migrações pautando o tema “Direitos
Sociais dos Migrantes” e maior presença dos multiplicadores nas Conferencias
Municipais de Saúde.
e) 2012 – Campanha da Fraternidade – em Defesa da Saúde Pública.
Os entrevistados do Jubileu Sul, em especial, a dirigente Rosilene Wansetto, destaca que o
eixo da entidade sempre foi o trabalho de formação e de produção de documentos, mas ressalta que
foi desafiador incorporar a temática dos direitos sociais, que não era devidamente apropriada antes
das atividades desenvolvidas no Programa. A dirigente destaca que a questão da formação logrou
êxito no período. São suas as palavras “(...) em termos da formação, eu avalio que pelo menos para
o Jubileu, foi plenamente atingido. (Quanto à) Clareza do desafio, que era trabalhar o tema dos
direitos sociais focado em seguridade social, previdência, tributária, enfim, isso ainda era um
desafio. Então, a elaboração dos vários materiais, cartilhas, ajudou muito os parceiros a
compreender o que que significava esse trabalho e relacionar com o trabalho de cada um, no caso
do jubileu era relacionar com o orçamento público, a questão da dívida que está diretamente
relacionado quando você olha o que é investido em direitos sociais, o que é investido na dívida isso
para nós é muito tranquilo”.
Os dirigentes do Jubileu consideram que as pessoas que participaram dos cursos e das
qualificações realizadas pelo Programa estão hoje mais engajadas nas defesas dos direitos sociais.
Destacam, que principalmente em São Paulo, as pessoas estão atuando nas organizações de crianças
e adolescentes. Por outro lado, concorda com este avaliador que não há acompanhamento dos
egressos das atividades de formação do Programa. A dirigente Rosilene Wansetto destaca que “não
37
tem como dá mais concretude a isso porque a gente não fez um acompanhamento sistemático e não
pensamos isso como resultado do programa. A gente até fez, eu acho que fracassou o cadastro. O
máximo que a gente conseguiu foi lançar o nome das pessoas”.
Ivo Poletto, ex-assessor das Pastorais Sociais/CNBB, observa que apesar dos objetivos
serem realistas nem todos foram alcançados, porque a conjuntura exigiu mudanças de rota em vista
de reagir as propostas de desmonte de direitos sociais, especialmente os direitos previdenciários.
Mas, isso levou a resultados não previstos nos objetivos iniciais, como a constituição do
Movimento em Defesa dos Direitos Sociais.
O Pe. Ari, dirigente das Pastorais Sociais/CNBB, destaca que o trabalho de formação
caminhou em três dimensões. A primeira foi o diálogo constante e formativo com os agentes que
ocupam funções nas pastorais com a realização de dois encontros por ano, em Brasília, destacando
as atividades formativas na linha de direitos sociais. O segundo nível de formação foi a presença da
assessoria da Comissão 8 (pastorais sociais) em atividades das 17 regionais, levando a temática dos
direitos sociais. Por fim, a produção de material que incluía a questão dos direitos sociais. Pe Ari
destacou a cartilha missão das pastorais, que tratava também do tema de defesa dos direitos sociais.
Os dirigentes da CBJP relatam que o novo padrão de financiamento das entidades, deixando
de ser individual para ser no padrão Programa com as quatro entidades, trouxe vários desafios
organizacionais. Justamente porque cada entidade tinha sua meta individual e que agora passaram a
ser as metas do Programa. A CBJP tem uma tradição de atuação no Congresso Nacional e, portanto,
na relação com o parlamento. O desafio era de manter as atividades próprias e ao mesmo tempo
conciliar com as atividades do programa. Relatam alguns conflitos iniciais para o trabalho em
conjunto.
Em relação à formação e capacitação de agentes multiplicadores sobre direitos sociais, os
dirigentes da CBJP ressalvam que contribuição inicial foi a de entender primeiro o que era
exatamente os direitos sociais por parte dos dirigentes. A Cartilha dos Direitos Sociais foi
instrumento fundamental para a capacitação. Nas ações da CBJP a pauta dos direitos sociais esteve
sempre presente e foi fundamental na criação de novas comissões de justiça e paz. Conforme
Daniel Seidel, o menu dos cursos de formação da CBJP era a mediação de conflitos para construir
um cultura de paz no Brasil e a utilização do Caderno. Destaca as atividades da Comissão no Pará,
Mato Grosso do Sul, Ceará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná. Trabalhou-se com 25
multiplicadores nacionais que ficaram responsáveis por reproduzir a nível local a formação, que
hoje alcançou na base, a formação de 718 (a meta era 640 agentes locais) e que, de acordo com os
dirigentes, esses multiplicadores locais foram acompanhados. Sidney Sabino destacou que esses
cursos chegaram a ser demandado localmente pelo poder público local, como foi o caso da cidade
Barreiras-BA. Por outro lado, Pedro Gontijo, também destaca que não há um cadastro adequado do
38
718 multiplicadores locais, mas que estão buscando solucionar adequadamente o registro.37
O grupo
destaca que o registro único/cadastro é umas das atividades que fracassou no planejamento.
Gilberto Souza destaca que em 2008 e 2009, a atividade de coleta de assinaturas para o projeto
“ficha limpa” concorreu com as atividades do Programa, que dispersou energia na atuação para o
Programa.
O segundo bloco de questões buscou inferir dos dirigentes da atuação do Programa no eixo
“política/ advocacy/ lobby para os direitos sociais/ formação de redes”. A dirigente do Grito dos
Excluídos, Luciane Udovic, destaca que, exceto para a CBJP, a prática do lobby não fazia parte da
tradição das entidades que compõem o Programa. Atuar junto ao parlamento e aos outros Podres
exige capacidade técnica e mobilização, elementos que não estavam presente de forma articulada
nas entidades isoladamente, mas que como Programa isso foi possível, sendo algumas alcançadas.
A dirigente destaca que o momento mais marcante da incidência política na Câmara dos Deputados
foi a que resultou no arquivamento da Proposta de Reforma Tributária (PEC 233/2008). De forma
que nas palavras de Luciane Udovic “a ação do Programa permitiu reunir estes elementos
necessários para um lobby de qualidade: técnicos, intelectuais e pessoas experientes nos temas
apresentados na PEC da RT e com a capacidade de mobilização dos movimentos e das redes
sociais. Conseguimos com a assessoria destes técnicos, universidades e institutos capacitar e
apoderar o movimento social de um tema difícil e desconhecido até mesmo dentro do próprio
congresso. O lobby foi bem coordenado, bem direcionado e o objetivo do Programa de arquivar a
PEC, foi atingido”. Contudo, o programa não conseguiu atuar de forma propositiva no parlamento
ficando refém da pauta do governo.
Para dirigente o programa teve um papel muito importante na ampliação de uma rede comum de
defesa dos direitos sociais. Conforme Luciane “hoje o Programa tem legitimidade para convocar
(as demais das entidades parceiras) outras redes importantes e de peso na sociedade civil para
debater assuntos relacionados a defesa dos direitos sociais”.
A dirigente do Jubileu, Rosilene Wansetto, também destaca, como principal atuação do
Programa, o lobby para impedir a Reforma Tributária, que afetava os direitos sociais. Para a
dirigente foi importante o trabalho realizado com outras entidades que não eram do programa,
fortalecendo a atuação em rede na sociedade civil brasileira. As organizações da sociedade civil
começaram incorporar o tema dos direitos sociais e também o da reforma tributária. Ela cita, a Rede
Brasil, o Grito nacional, a Assembleia Popular, a Pastoral Operária (PO), a Pastoral da Mulher
Marginalizada (PMM).
37
Registra-se que este avaliador recebeu os documentos relativos aos cursos realizados, incluindo programação, lista
de presença e fotografias dos eventos.
39
O Pe Ari, dirigente das Pastorais Sociais/CNBB, destaca que dentro da Comissão 8 da
CNBB, o trabalho junto aos conselheiros de políticas sociais da área federal (saúde, assistência
social, educação e igualdade racial). A preocupação de reunir com esses conselheiros e de trabalhar
a incidência política colocando-os direto em contato com os líderes das pastorais. Pe. Ari lembra os
limites do parlamento e da importância de trabalhar com a democracia participativa.
Ivo Poletto, ex-assessor das pastorais sociais, diz que não se confirmou a “previsão em
relação ao número de deputados, pelo menos pelo que sei. Na verdade, o comprometimento da base
do governo com os objetivos dos projetos contrários aos direitos sociais fez com que poucos
deputados aderissem explicitamente ao Movimento”.
Os dirigentes da CBJP destacaram que a derrota do governo na PEC da Reforma Tributária foi a
maior evidência do sucesso de lobby do Programa e da aglutinação de novas forças políticas e
entidades para trabalhar em uma coalização da sociedade civil brasileira em defesa dos direitos
sociais, especialmente com as entidades do campo da saúde. Entre as entidades destacadas também
a associação de aposentados, a ANFIP, a Campanha Auditoria Cidadã da Dívida, Fórum do
Secretários Municipais de Saúde, entre outras.
Em 2010, ocorreu um fato importante que o foi o debate com os candidatos à Presidência da
República do Brasil organizado pela igreja, via CNBB e estruturado pela CBJP. O debate teve a
presença dos quatro principais candidatos à presidência e foi amplamente coberto pela imprensa38
com a presença de mais por 200 jornalistas, inclusive internacionais. 39
Durante o debate foi
realizada uma pergunta específica sobre direitos sociais, que foi formulada pela CBJP. O debate
também foi importante para ampliar o laços com parceiros na sociedade civil, como Associação
Brasileira de Universidades Comunitárias (ABRUC) e a Associação Nacional de Educação
Católica no Brasil (ANEC).
No período mais recentemente há dificuldades de articular um trabalho conjunto no parlamento,
devido a proposta de reforma tributária que está sendo realizada de forma fatiada. Daniel Seidel
destaca como um dos fracassos a falta de preparo do Programa para lidar com essa forma de
atuação fragmentada do governo. Ocorreram outras incidências no parlamento, mas que não dizem
respeito aos direitos sociais, estão centradas na reforma política, na resistência ao código florestal,
na defesa do marco regulatório da comunicação no Brasil e na defesa dos direitos humanos.
Daniel Seidel destaca o mapeamento dos deputados no Congresso Nacional que serviu para o
trabalho de lobby na Câmara dos Deputados. Também destaca a missa, acompanhada de café da
38
Registra-se que a lista dos jornalistas credenciados não chegou ao conhecimento deste avaliador. 39
Vide: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,cnbb-confirma-presenca-de-4-presidenciaveis-em-debate-dia-
23,600226,0.htm. Os vídeos do debate podem também ser vistos em
http://www.youtube.com/watch?v=LGhy36WCkhc.
40
manhã, realizada mensalmente na CNBB com os parlamentares e a atuação conjunta com a
assessoria política da CNBB.40
Os dirigentes da CBJP destacam a realização de outras atividades não previstas na matriz do
planejamento como as ações realizadas durante a Rio + 20 por todos os parceiros do Programa e a
constituição de um observatório de Saúde na sede da CBJP, em Brasília-DF, com reuniões
periódicas.
Sobre as atividades que deveriam ser realizadas, como: a) criar e manter uma lista de
deputados defensores dos DS – Dialogar com este grupo e manter subsídios contínuos; b) definir
ações visando às eleições (2010) para pautar DS, incluindo a elaboração de uma proposta
propositiva para ampliação da seguridade social. E os indicadores que deveriam monitorar o
progresso de tais atividades “aumento no número dos deputados favor dos direitos sociais (agora
40)” e “aumento no número de organizações e redes atuando contra reformas negativas e a favor da
universalização de direitos sociais”. Não existem evidências que tais atividades foram
desenvolvidas e que os indicadores foram acompanhados, além da falta de documentos
comprobatórios, as entrevistas com os dirigentes não revelaram o cumprimento dessas ações.
O terceiro bloco de questões tem por objetivo auferir o desempenho do Programa em
relação ao eixo de influenciar e envolver a igreja como um todo na defesa dos DS.
Luciane Udovic, dirigente do Grito dos Excluídos, afirma que “mesmo considerando os
limites da Instituição, todas as pautas apresentadas pelo Programa para a CNBB, foram discutidas e
encaminhadas”. A dirigente destaca, sobretudo, a presença da CNBB por influência do Programa,
na defesa dos direitos sociais ameaçados na RT. A CNBB lançou uma carta pública contra a
reforma e Dom Guilherme esteve presente em várias atividades convocadas pelo Programa, em
especial, na audiência com o então Presidente da Câmara, Deputado Michel Temer.
Luciane Udovic, destaca neste eixo, a influência no conteúdo e no formato de um momento
muito importante da Igreja que é a Campanha da Fraternidade (CF). A Igreja se pronunciou
publicamente em rede nacional de rádio e TV, em 22/02/2012, no lançamento oficial da CF,
apresentando as denúncias elaboradas pelo Programa e pelo Movimento em Defesa dos Direitos
Sociais. O tema da CF foi “Fraternidade e Saúde Pública”. O Programa conseguiu pautar durante a
CF as principais demandas do movimento de saúde. O texto base da CF que é discutido em todo o
Brasil por meio de grupos formados pelas Paróquias, trouxeram demandas sugeridas pelo
Programa. Por fim, a CNBB publicou com sua marca a “Plataforma de Defesa de Saúde Pública”
elaborada pelo Programa. Este material já alcançou mais de 10 mil pessoas no processo de
formação e segue sendo utilizado durante o ano de 2013.
40
Este avaliador registra que o referido documento não foi entregue ao longo desse processo de avaliação.
41
A dirigente do Jubileu Sul, Rosilene Wansetto, diz que quando o Programa refere-se à igreja
como um todo, está se referindo mais a CNBB. Rosilene também reforça dois envolvimentos da
CNBB na defesa dos direitos sociais: durante o processo da RT e na CF.41
Mas recorda também o
abaixo-assinado para aplicação de 10% das receitas brutas na política de saúde, cujas assinaturas
vêm sendo coletadas. Além da presença dos bispos da CNBB em seminários das entidades que
defendem a saúde pública no Brasil.
Pe. Ari, dirigente das Pastorais Sociais/CNBB, destaca também as notas públicas da CNBB
em defesa dos direitos sociais, como a divulgada no dia do trabalhador, a que se refere ao dia da
consciência negra e outras que tratam de políticas sociais. Em uma das Assembleias da CNBB, a de
2009, as pautas sociais estavam aparecendo pouco na CNBB, principalmente, devido aos grupos
mais conservadores. Na conversa realizada em uma das reuniões internas daquela assembleia
articulou-se para pautar os direitos sociais nas discussões. Pautar o tema é um coisa, ressalta Pe.
Ari, a outra coisa é a forma de incorporação do tema e o seu aprofundamento, ele lembra da falta de
governabilidade do Programa e das Pastorais Sociais sobre as paróquias pelo Brasil afora. Na
opinião do dirigente avançou-se na pauta interna da CNBB: assembleia anual, nas três reuniões
anuais do Conselho Permanente; e nas reuniões do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP). As três
últimas presidências da CNBB têm tido bastante sensibilidade ao tema dos direitos sociais. A
CNBB vem pautando tema dos direitos agrários e a questão do trabalho escravo, que será o tema da
CF de 2014.
Os dirigentes da CBJP destacam os pronunciamentos da CNBB nos seguintes temas
relacionados aos direitos sociais, com a produção de documentos42
: ameaças da reforma tributária;
previdência social e saúde. O dirigente, Pedro Gontijo, destaca a decisão da CNBB em aderir a
campanha nacional pelo 10% das Receitas Brutas do Orçamento para a saúde, que hoje tem 700 mil
assinaturas colhidas pela igreja. Eles destacam também a 5a Semana Social Brasileira (SSB) com o
tema “Um novo Estado, caminha para uma nova sociedade do bem viver: Estado para que e para
quem?” que é um processo nacional, em curso desde 2011, em todo o Brasil e que promove a
participação de pessoas e entidades, a abertura ao ecumenismo e diálogo inter-religioso, o
pluralismo de ideias e valores, o exercício do debate democrático em todas as instâncias e o ensaio
coletivo de iniciativas transformadoras. A 5a SSB encerrou seus trabalhos em 5 de setembro de
2013. A CNBB produziu um conjunto de vídeos, cartilhas e documentos sob a influência na CBJP.
41
Ver nesse sentido a nota da CNBB em http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/sala-de-imprensa/notas-e-
declaracoes/1421-nota-da-cnbb-em-defesa-dos-direitos-sociais-basicos-sob-ameaca-na-proposta-de-reforma-tributaria 42
Este avaliador recebeu os relatórios da Comissão. Contudo, os links e as cartas com manifestação da CNBB ou
mesmo links para tais documentos não foram recebidos.
42
Neste bloco de questões e, portanto, no eixo de atuação de influenciar a igreja como um
todo na defesa dos DS, não conseguimos evidenciar o cumprimento das seguintes atividades: a)
fazer a lista dos 40 bispos para desenvolver atividades periódicas sobre DS; b) mapear os bispos
para serem referências dos DS em suas regiões e identificar estratégias para engajar este grupo; d)
mapeamento de artigos ou outros documentos publicados na mídia católica; e e) monitorar os hits
do site do Programa que vem dos sites católicos. Além da falta do monitoramentos da maior parte
dos indicadores constantes neste eixo.
Por fim, o último bloco de questões com os dirigentes busca evidenciar os resultados
esperados em relação ao fortalecimento enquanto organização e enquanto programa, ou seja, o
fortalecimento institucional.
Luciane Udovi, do Grito dos Excluídos, destaca que houve avanços no fortalecimento
institucional pelo fato que foi conseguido estabelecer entre as entidades um eixo comum de
atuação e de atividades, resultado de uma lenta construção. Destaca a dirigente que “também de
início, não estávamos habituados com a nova metodologia proposta por CAFOD. Levou algum
tempo para abandonarmos o hábito de nos impormos uma lista enorme de tarefas com objetivos
pouco claros”. Luciane destaca que o principal ganho do Programa foi “justamente disciplinar as
entidades a trabalhar com foco, com metas claras que se chega a resultados objetivos claros. Isso
tem sido um aprendizado que tem trazido, paulatinamente, resultados positivos”.
Por outro lado, ela destaca que o ponto frágil foi o monitoramento do impacto do trabalho,
pois as entidades ainda não se organizaram no acompanhamento dos indicadores e, portanto, dos
resultados das atividades realizadas. Ela destaca a necessidade do Programa ter instrumentos mais
efetivos de comunicação com os multiplicadores.
No entendimento Rosilene Wansetto do Jubileu Sul, ocorreram avanços na comunicação
entre as entidades do Programa, o que era uma dificuldade anterior. Avançou-se pouco na captação
de novos recursos, devido à situação da cooperação internacional que vem se retirando do Brasil,
mas as entidades ainda conseguem manter receitas, em um contexto de perda de financiamento das
organizações brasileiras. Os avanços que tivemos de comunicação no Programa advém de
provocação da CAFOD, mas o processo ainda está em andamento. O Jubilieu em particular tem
usado as novas mídias (Facebook e twitter).43
A dirigente destaca o GT de comunicação, que pode
avançar bastante em uma nova forma de atuação essas mídias, por parte do Programa.
Pe. Ari, dirigente das Pastorais Sociais/CNBB, destaca que deve ser criado um espaço
ordinário de compartilhar o trabalho das entidades com mais fôlego para a própria atuação interna
dos parceiros. As Pastorais têm mais quatro projetos em andamento com financiamento e dois são
43
Vide https://twitter.com/JubileuSul e https://www.facebook.com/jubileusul.brasil
43
novos no período, um que trata do programa de discussão ao combate do trabalho escravo e outro
referente à 5a SSB, de maneira que no período a entidade cumpriu a meta de ter mais um novo
projeto fonte de financiamento aprovado.
Os dirigentes da CBJP destacam que tiveram novos projetos de financiamento no período,
com duas novas fontes de recursos. Além de avanços na estrutura física para funcionamento do
escritório da entidade. Houve no período tentativas de avançar na criação de novas formas de
financiamento em conjunto com as pastorais sociais. Apresentou-se uma proposta para que a
CNBB cria-se um setor próprio para captação de recursos a serem destinados as pastorais e aos
organismos vinculados, como a CBJP.
O grupo focal da CBJP também destacou problemas de comunicação e na utlização das
novas mídias para reuniões internas, como o Skype. Em que pese a CBJP, enquanto entidade, tem
avançado no uso de novas mídias.44
Destaca-se que nesse eixo de atuação o Programa teve dificuldades no cumprimento de
algumas atividades, notadamente: a) construir um E-Group e b) desenvolver estratégias de
comunicação a partir de novas mídias (enquanto Programa).
VI. Conclusões e recomendações
Este processo avaliativo envolveu conjunto de atividades (análise documental, entrevistas
com beneficiários e multiplicadores, com dirigentes, visitas in loco) visando, principalmente, à
comparação dos resultados entre o planejado e o alcançado, para fundamentar a tomada de decisões
racionais por parte dos parceiros do Programa e pela CAFOD, considerando, entre outros critérios,
as dimensões de eficácia e eficiência. Além de inferir as mudanças significativas, previstas ou não,
na vida dos beneficiários do Programa. Ao longo deste relatório foram demonstrada as atividades
que o Programa logrou eficácia na sua realização, as que deixaram de ser realizadas e as que
tiveram baixa eficácia na execução. Evidenciamos também os impactos que as ações do Programa
tiveram na vida direta dos beneficiários e outros impactos que não estavam previstos. Nesta última
seção, retomaremos em caráter sintético e conclusivo os principais aspectos abordados neste
relatório e apresentaremos um conjunto de recomendações.
O quadro 1 abaixo apresenta uma síntese da avaliação das atividades do Programa. A
conclusão é que o Programa, com base na matriz de planejamento 2010-2013, avançou mais nos
eixos de atuação de formação e capacitação de multiplicadores e de influenciar a igreja na defesa
44
Vide https://www.facebook.com/cbjp.dacnbb?fref=ts . A Página da entidade no Facebook tem mais de “1.200”
curtidas.
44
dos direitos sociais. Há pelo menos 6 resultados cujas atividades relacionadas estão paralisadas e
que, portanto, encontram-se com dificuldades de avançar, o que requerem atenção das entidades do
Programa no seu próximo planejamento. Destacamos, sobretudo, as atividades de incidência
política e de formação de redes. Neste eixo também registram-se dois resultados que não tiveram
atividades realizadas, notadamente, a formulação de uma proposta alternativa de seguridade social.
As atividades não realizadas ou com dificuldades de andamento, todas citadas ao longo deste
relatório, revelam a não eficácia em alguma das ações propostas. Mas no geral, o balanço entre as
atividades previstas e aquelas realizadas, é positivo; além da realização de outras atividades não
previstas anteriormente no planejamento.
Quadro 1
Avaliação dos Resultados Esperados na Matriz do Programa 2012 (2010-2013)
Resultados Esperados Avançou Dificuldades para
avançar Paralisado
1. Formação e capacitação de multiplicadores
1.1 Os 3500 multiplicadores já capacitados consolidam seus conhecimentos sobre direitos sociais e se engajem em disseminar estes conhecimentos ao grupo alvo e/ou no processo de influencia em políticas publicas ao nível relevante (regional estadual)
1.2 O programa tem estabelecido novos meios para fazer formação, capacitação e comunicação para assegurar que a informação esta accessível para o grupo alvo.
1.3 O grupo alvo se engaja na defesa de seus direitos e se engajem em buscar os seus direitos sociais.
2. 2. Política/ advocacy/ lobby para os direitos sociais/ formação de redes
2.1 O programa contribui de forma efetiva para impedir a votação da Leis e Projetos que ameacem recursos para seguridade social e os direitos sociais constituídos
2.2 O programa esta na disputa política com uma proposta propositiva de seguridade social que seja inclusiva
2.3 O programa atua efetivamente nas ações de lobby junto aos parlamentares e movimentos sociais.
2.4 O movimento em defesa de direitos sociais se rearticula e se fortalece em torno desta nova proposta de seguridade social inclusiva e as organizações estão participando de uma forma efetiva em defesa de direitos sociais.
3. 3. Influenciar/ envolver a igreja como um tudo na defesa dos DS
3.1 A Manutenção e ampliação da participação dos diversos níveis eclesiais na defesa e ampliação de DS.
4. 4. Fortalecimento institucional
4. 1 Estar fortalecido enquanto organização e enquanto Programa.
45
4.2 Maior agilidade interna e externa de comunicação e utilização de outros meios para alcançar os objetivos do programa.
4.3 O programa mantém seu protagonismo no movimento em defesa DS e esta fortalecida como resultado
4.4 O programa tem sustentabilidade financeira
Elaboração própria
Legenda:
Avançou Dificuldades de avançar
Paralisados
O Programa adota no seu planejamento uma estrutura simplificada do Marco Lógico,
indicando na Matriz o objetivo do programa; os resultados esperados; os indicadores e as
atividades. Para obter respostas objetivas, o Modelo de Marco Lógico trata os programas ou
projetos como conjuntos logicamente estruturados de processos organizacionais que devem atingir
tanto a finalidade quanto os objetivos destes programas ou projetos.45
O desenho institucional foi
relevante e adequado para cumprir com a missão de mudar a forma de atuação das quatro entidades,
que tinham um conjunto de ações próprias e dispersas. O novo desenho institucional, que migrou do
financiamento individual das entidades para o financiamento na forma do Programa Justiça
Econômica, tem como principal mérito a sinergia que foi criada para o alcance com eficácia e
eficiência de ações em patamar superior, ao que seria obtido individualmente pelas entidades. Os
quatros eixos são adequados para contribuir no fortalecimento da justiça econômica, a partir da
defesa efetiva dos direitos sociais no campo da seguridade social. Por outro lado, registra-se que o
planejamento do programa e, portanto, no seu desenho institucional, é incompleto ao não incorporar
a previsão dos cenários econômicos e políticos (provável, pessimista e otimista) que podem afetar a
realização das atividades. Além disso não há elaboração de planos para lidar com as surpresas que
ocorrem no decorrer da execução das ações e também não são identificados atores relevantes que
podem contribuir ou atrapalhar o sucesso das atividades do Programa.
Ainda, no campo da relevância e adequação institucional do Programa, destaca-se que um
sério problema do período avaliado foi a ausência do registro sistemático de várias atividades, assim
como, o não apontamento desta lacuna nos relatórios. O registro sistemático é fundamental para o
monitoramento, o acompanhamento e a avaliação do Programa. Para diversas atividades que foram
indicadas como realizadas, não há documentos comprobatórios ou os que existem são de baixa
qualidade. Cabe dizer que o registro sistemático de atividades não dever ser visto apenas como um
instrumento gerencial, mas ele é fundamental para o Programa e, pode se constituir em um
poderoso instrumento político.
45
Conforme TCU. Técnicas de auditoria: marco lógico. Brasília: Tribunal de Contas da União, 2001.
46
Os projetos visam atingir um propósito e alcançar objetivos específicos de mudanças na
realidade social. Eles envolvem gastos, ações e empreendimentos com riscos, que deve ser
completados ao longo de um período de tempo, por consumir recursos e precisam ter e comprovar
alguma expectativa de desempenho, com registros e documentos aderentes a Matriz do
planejamento. Como dito anteriormente, a ausência de documentos comprobatórios das atividades
propostas impacta diretamente nas demonstrações do alcance dos objetivos, portanto, na avaliação
de eficácia do programa e na construção dos indicadores de capacidade.
A questão dos indicadores é outro aspecto do desenho institucional do programa e de sua
matriz de planejamento que precisa ser enfrentado. No período avaliado, uma das falhas no
monitoramento das atividades do programa, foi a ausência de indicadores adequados. Em grande
parte, os indicadores apontados na matriz não foram construídos e, portanto, serviram muito pouco
ao monitoramento do projeto. Em parte pela ausência do registro sistemático das informações, e
também porque alguns “indicadores” previstos na realidade constituem atividades (ex.: ao menos 2
estudos de caso que mostram...) ou são de difícil construção (ex.: exemplos de mudança de posição
de tomadores de decisão como resultado do trabalho de pressão política do programa).
Os indicadores são importantes instrumentos para identificar e mensurar aspectos
relacionados a um determinado conceito, fenômeno ou resultado de uma intervenção na realidade,
de maneira a tornar operacional a observação, monitoramento e avaliação das atividades. Para isso
devem ter qualidades e a matriz do planejamento devem apontar claramente a sua finalidade, os
meios de verificação e seus pressupostos. Acima de tudo deve se abolir a intenção de medir tudo,
quem quer medir tudo acaba não medindo nada,46
pois as medidas devem ter significância,
mesurando o que é relevante e útil.
O programa foi eficaz em várias das atividades realizadas, como já destacado ao longo deste
relatório. De forma sintética enfatizamos, nesta seção, os principais sucesso de atuação do programa
no alcance dos objetivos proposto por eixo de atuação.
O programa foi eficaz e eficiente (ao menos com as informações disponíveis do orçamento)
no processo de capacitação de milhares de pessoas no Brasil na temática dos direitos sociais, por
meio da realização de cursos e da produção de materiais, a um custo orçamentário baixo. Validam
essas informações os documentos apresentados, as entrevistas com multiplicadores, os grupos
focais e as entrevistas com os dirigentes.
No eixo “política/advocacy/ lobby para os direitos sociais/formação de rede” o principal
sucesso de atuação eficaz do Programa é anterior a 2010, que foi o trabalho realizado de forma
46
Ver mito sobre os indicadores em Guia Referencial para Medição de Desempenho e Manual para Construção de
Indicadores, publicado pelo Ministério do Planejamento, em 2009, disponível em
http://www.gespublica.gov.br/Tecnologias/pasta.2010-05-24.1806203210/guia_indicadores_jun2010.pdf
47
decisiva para impedir que a Câmara dos Deputados aprovasse uma Reforma Tributária regressiva e
que sepultava o financiamento dos direitos sociais no âmbito do sistema de seguridade social. Essa
atuação do Programa foi longamente descrita nas páginas 6 a 9 deste Relatório, além de ter sido
destacada por, praticamente, todos os entrevistados e, de reconhecimento na sociedade civil
brasileira. Além disso, um efeito não planejado foi a constituição de uma importante rede em defesa
dos direitos sociais no Brasil, que permanece atuante.
No terceiro eixo de atuação do programa, as diversas manifestações públicas da CNBB, o
envolvimento da entidade na defesa dos direitos sociais na Reforma Tributária, o tema da saúde na
Campanha da Fraternidade e o envolvimento da igreja na coleta de assinaturas para garantir 10%
das Receitas Brutas do Orçamento para saúde, são exemplos de atividades que foram eficazes no
alcance do resultado esperado de “influenciar e envolver a igreja com um todo na defesa dos DS”.
O Programa também foi eficaz no aumento da sua visibilidade junto a outras organizações
com influência direta em vários movimentos da sociedade civil brasileira, como por exemplo, a
inclusão do tema direitos sociais na assembleia popular. Assim como, do ponto vista do
fortalecimento institucional, metade das entidades do Programa ampliaram as fontes de
financiamento e há importantes passos construídos no campo da comunicação.
Por outro lado, cabe registrar a ineficácia em atividades que também eram relevantes no
planejamento, mas que não foram executadas ou foram apenas parcialmente realizadas. No primeiro
eixo, o cadastro dos multiplicadores foi apenas parcialmente realizado e já apontamos anteriormente
as consequências negativas da realização aquém do esperado desta atividade. Ressaltamos aqui a
necessidade de acompanhamento dos egressos dos cursos de formação pois, somente assim será
possível averiguar o engajamento dos capacitados na defesa dos direitos sociais e na realização de
incidência política ao nível local.
No eixo de advocacy/lobby o Programa não teve sucesso na construção de uma proposta
alternativa para ampliação e universalização da seguridade social no país, o que comprometeu, em
parte, as atividades e os resultados esperados no planejamento. Pode-se atribuir, em parte, a
correlação de forças políticas desfavorável e a letargia que marcou os movimentos sociais nos dois
primeiros anos do Governo da Presidente Dilma Rousseff, o que parece está mudando neste ano,
podendo abrir, assim, uma “janela de oportunidades” de retomar a incidência política no
parlamento. O Programa também não comprovou a realização de atividades-chave neste eixo de
atuação, destacamos: ausência da lista de deputados defensores dos DS e o diálogo com este grupo
com o fornecimento de subsídios.
A avaliação da eficácia do terceiro eixo do Programa ficou, em parte, comprometida pela
ausência de vários documentos comprobatórios da realização das atividades, em que pese, por
outros caminhos, e por meio das entrevistas conseguimos solucionar, em parte, esta lacuna. Mas
48
atividades importantes não foram realizadas, em destaque: a) fazer lista dos 40 bispos para receber
informações periódicas sobre os direitos sociais; b) mapear os bispos para serem referências dos DS
em suas regiões; c) mapeamento de artigos e outros documentos publicados na mídia católica; e e)
monitorar os hits do site do programa que vem dos sites católicos.
No eixo do fortalecimento institucional, o Programa não foi eficaz no desenvolvimento de
estratégia de comunicação a partir de novas mídias e mídias alternativas, em que pese ter sido
constituído o GT de comunicação (não previsto no planejamento) que pode encontrar um rumo para
o desenvolvimento destas atividades.
A avaliação da eficiência do Programa, no que se refere ao uso racional dos recursos
disponíveis para alcançar os objetivos propostos, ficou comprometida pelo fato da execução
orçamentária não ter aderência com a matriz do planejamento e pelo não demonstração do uso dos
recursos por atividade realizada ou pelo eixo de atuação. Contudo, grosso modo, o rol de atividades
realizadas frente a poucos recursos humanos, materiais e financeiras podem indicar o baixo custo do
Programa diante da eficácia das ações realizadas no período desta avaliação.
Por fim, merece registro algumas informações extraídas a partir das entrevistas com os
dirigentes que permitem compreender como as mudanças no contexto afetaram o desempenho do
programa e as lições aprendidas. Entre os principais resultados podemos destacar:
a) A formação de uma rede nacional em defesa dos direitos sociais, que teve origem na
resistência a reforma tributária. Essa rede vem se mantendo vigilante e com ações
propositivas na defesa dos direitos sociais no Brasil.
b) A presença pública da CNBB nos debates dos direitos sociais recuperando respeito e
legitimidade junto as entidades da sociedade civil brasileira.
c) O Programa é reconhecido pelos parceiros e hoje convoca reuniões em que
participam diversas entidades da sociedade civil brasileira, demonstrando um
importante aprendizado do trabalho em rede com assessoria técnica e reconhecimento
político pelo trabalho de incidência realizado na RT.
d) São beneficiados diretos do Programa os que fizeram cursos e atividades ao longo
desse período e com isso melhoraram a capacitação para atuarem em outras redes e
fóruns da sociedade civil brasileira, expandido o alcance do Programa para diversas
entidades, incluindo, intelectuais, professores universitários, técnicos, ativistas e
movimento popular.
e) Uma lição importante foi que as entidades do programa também foram beneficiadas
pelas parcerias realizadas, porque cresceram politicamente e produziram atividades
com mais foco e com uma nova metodologia de atuação.
49
f) Há inúmeros beneficiários indiretos, sobretudo aqueles que estavam já inclusos na
seguridade social, mas que poderiam perder direitos, mas também a massa de
excluídos do sistema de seguridade social e da previdência social, estima-se que 1/3
da População Economicamente Ativa (PEA) não tem acesso à previdência47
.
g) A CAFOD é mais que uma agência financiadora, ela atua como parceira na
construção de ações e apontando alternativas para minimizar concretamente os
efeitos de uma concepção perversa de política econômica, que nos últimos anos tem
como foco, diminuir os direitos sociais básicos e fundamentais da população mais
excluída da sociedade.
Diante do diagnóstico avaliativo resumido nesta seção, que reflete os principais pontos deste
relatório, e os achados encontrado ao longo deste período avaliativo nas entrevistas, grupo focais,
documentos; apresentamos as recomendações que se seguem, segundo critério de relevância.
I. Criação de um registro sistemático, padronizado e obrigatório de todas atividades que são
realizadas pelas entidades do Programa e que constam na matriz o planejamento. Este
registro deve ser feito pela Secretaria Executiva do Programa e de foram profissionalizadas.
A título de exemplo, citamos, que toas as reuniões realizadas devem ter atas e lista de
assinaturas dos presente. Todos os cursos devem ter relatórios acompanhados de lista de
presença. Atividades no parlamento devem ser comprovadas mediante fotografias e registro
de notas que divulgam essas atividades (notícias do evento).
II. Aperfeiçoamento do cadastro mediante a implantação um cadastro único (on line) a ser
disponibilizado em área reservada (acesso mediante senha) no site do Programa, para
registrar os beneficiários de cursos e os participantes das atividades realizadas. Este cadastro
deverá ser mantido/preenchido de forma obrigatória por todas as entidades do Programa.
Deverá ter uma padronização mínima dos dados para que seja útil para fins de mobilização e
incidência política, contendo dados básicos, como data de nascimento, identificação de
gênero; endereço completo; telefones; e-mail; skype; página do facebook; twitter; entidade;
área de atuação; cursos e atividades que as pessoas participaram; datas que ocorreram essa
participação. O cadastro pode se tornar um poderoso instrumento político, além de uma
ferramenta gerencial para auxiliar o monitoramento do engajamento dos multiplicadores em
atividades de políticas públicas e na defesa dos direitos sociais.
47
A PEA do Brasil, conforme dados da PNAD/IBGE (2012) é 100.064 milhões de pessoa, estima-se que pele menos
33.021 milhões de brasileiros/as não tem direito a cobertura da previdência social.
50
III. As atividades de incidência no parlamento requer preparo organizacional e técnico. Nesse
sentido deve ser aproveitado a janela de oportunidades criada a partir das mobilizações
ocorridas no Brasil, além da conjuntura eleitoral que se aproxima e a experiência do
Programa para fortalecer a incidência política e o trabalho de lobby/advocacy. Seria
importante a designação, entre as entidades, de uma assessoria parlamentar. Recomendamos
as atividades que se seguem: mapeamento dos projetos em tramitação no Congresso
Nacional que podem afetar os direitos sociais; criação de um cadastro de parlamentares com
o registro do posicionamento sobre os direitos sociais, em particular, os vinculados à
seguridade social; manutenção atualizada deste cadastro; criação de uma agenda de contatos
nos poderes Executivo e Judiciário e no Ministério Público; criação de uma lista de contatos
na imprensa tradicional e alternativa; criação de um GT técnico e político para elaboração
de uma proposta que amplie a seguridade social no Brasil; fortalecimento da rede em defesa
dos direitos sociais; realização II Seminário de Direitos Sociais, em agosto/2014; com a
presença das candidaturas a presidência. Essas atividades podem indicar um caminho
propositivo para atuação na incidência política.
IV. Recomendamos que no próximo período o Programa avance qualitativamente na produção
de material e na realização dos cursos de formação. Torna-se necessário a atualização dos
documentos e das cartilhas formativas, incluindo um projeto de editoração gráfico moderno
e profissional. A capacitação precisar avançar com os usos de novas mídias e parta tanto o
site do programa precisa se transformado no portal do direitos sociais no Brasil,
necessitando de uma nova diagramação e de atualização tecnológica. A página do Facebook
deve ser plenamente utilizada e com uma meta ousada de acesso, no mínimo 10 mil
seguidores no próximo triênio. Nos cursos e na comunicação, as novas mídias são
importantes; além do Facebook, a conta do twitter precisa entrar em funcionamento. Para os
cursos recomendamos fazer uso de vídeos e busca utilizar a plataforma moodle
(http://www.moodle.org.br), que é gratuita. O público jovem deve ser priorizados nos cursos
de capacitação. Também recomendamos a realização de capacitação para conselheiros de
políticas públicas, notadamente na política de saúde. Os egressos dos cursos já
devidamente cadastrados devem ser acompanhados pelo período de três anos, recebendo
informações periódicas das atividades do Programa e outros materiais que fortaleçam a
incidência política a nível local e nas redes/entidades de atuação desses multiplicadores.
V. A incidência na Igreja precisa ser evidenciada e registrada nos relatórios do programa. Sobre
este ponto as recomendações constantes no item I e III desta seção são válidas para
atividades de envolvimento da Igreja na defesa dos direitos sociais, em particular, da CNBB.
Algumas das atividades previstas e não realizadas podem ser retomadas no próximo
51
período: abastecimento com informações sobre direitos sociais e o posicionamento do
Programa para um conjunto de bispos; mapeamento dos bispos e de paróquias pelas regiões
do Brasil, definido táticas para reprodução das ideias do programa e do engajamento dos
religiosos na defesa dos direitos socais; e, c) aproveitamento eficaz dos meios já existentes
de comunicação católica para pautar o tema de do direitos sociais.
VI. O processo de planejamento precisa ser aprimorado. Um ponto fundamental é a construção
de indicadores de qualidades para mensurar a evolução das atividades vis à vis aos
resultados esperados. Para tanto a matriz do planejamento deve apontar explicitamente a sua
finalidade, os meios de verificação e seus pressupostos. Outro ponto que deve ser
aprofundado é a governabilidade sobre as atividades propostas, limitando a atuação sobre
ações que as entidades possam de fato serem protagonistas. O sistema de planejamento
precisa incorporar os cenários considerados referentes à situação política, econômica e
social; no mínimo a aposta do cenário provável, e de preferência as indicações alternativas
de cenários pessimistas e otimistas. O planejamento devem listar quais são os atores
relevantes que atrapalham ou que contribuem para o sucesso das atividades do Programa.
Recomendamos assim a adoção da ferramenta SWOT, que é um importante instrumento
utilizado para planejamento estratégico que consiste em recolher dados importantes que
caracterizam o ambiente interno (forças e fraquezas) e externo (oportunidades e ameaças).
VII. Reformular a estrutura orçamentária do Programa que deve ter aderência a matriz do
planejamento. O orçamento deve ser feito e executado por eixos e atividades constantes na
matriz. A prestação de contas deve seguir a estrutura da matriz do planejamento, somente
assim será viável a realização de avaliação por eficiência do Programa
VIII. Fortalecer e aprimorar a comunicação interna do Programa, o que passa pela utilização de
novas ferramentas tecnológicas como o uso de arquivos em nuvens do Skype para realização
de reuniões e conferências; a criação de um informativo mensal que contenha o balanço das
atividades realizadas e o cronograma de eventos futuros. Recomendamos a adoção de
metodologia que vincule a realização de cada tarefa ao atingimento dos objetivos propostos
no planejamento. Isso pode facilitar o gerenciamento e a correção de rotas das ações
propostas.
IX. As pautas de reuniões do GT do programa precisa incluir e priorizar o monitoramento das
atividades previstas no planejamento. Pelo menos uma reunião no ano deve ser exclusiva e
com tempo para que as entidades parceiras do programa discutam o monitoramento das
ações de planejamento e com o uso do indicadores. A reuniões devem ser pautadas não
somente pela conjuntura política, social e econômica, mas sobretudo pela matriz do
planejamento, verificar quais foram as surpresas no período, quais novas atividades que não
52
estavam previstas e quais que não fazem mas sentido em serem realizadas. Quais as
explicações para as atividades não realizadas.
53
Anexo 1
Lista de Documentos Consultados
1. 5a Semana Social Brasileira: Estado para que e para quem? (subsidio de estudo)
2. A Missão da pastoral social
3. Ata de Reunião com Parceiros da Cafod – Brasília – 8 e 9 de fevereiro de 2010.
4. BRA494 – Plano Operativo 2012.
5. Breve relatório de Atividades da CBJP: 01/03/2008 a 31/08/2008
6. Breve relatório de Atividades da CBJP: 01/03/2009 a 31/08/2009
7. Breve relatório de Atividades da CBJP: 01/09/2008 a 28/02/2009
8. Breve relatório de Atividades da CBJP: 01/09/2009 a 28/02/2010
9. CAFOD - Programa Justiça Econômica. Relatório Narrativo Semestral – Março a Setembro
de 2010-Sumário Executivo. Anexo a este documento: balancete contábil período março a
agosto de
10. CAFOD Feedback Anual – (GRITO-BRA476) & PROGRAMME(BRA494).
11. Carta compromisso Direitos Sociais;
12. Carta da CNBB enviada ao Presidente Lula sobre a Reforma da Previdência – Brasília, 21
de junho de 2007.
13. Cartilha - Seminário Nacional sobre Campanha da Fraternidade 2012 “ Saúde Pública e
Fraternidade”.
14. Cartilha - Todos os Direitos Básicos para todas as pessoas – como acessar direitos
15. Cartilha Reforma Tributária Afeta os Direitos Sociais;
16. Consentimento Livre e Esclarecimento – Atividade de Treinamento.
17. Direitos Sociais para Superar a crise
18. Em busca dos sinas dos tempos (CBJP)
19. Encontro de Formação – Conquistas dos Direitos Sociais para promover a Vida –
Mangaguá, SP, 15, 16, 17 de maio de 2008.
20. Encontro dos parceiros da COFAD – Programa Justiça Econômica: dívida e direitos sociais
– Brasília 24-25 de abril de 2007.
21. Encontro dos parceiros do Programa Justiça Econômica – sexta-feira 14/12 ate
16/12(material didático).
22. Encontro entre a CNBB e o ministro da previdência Social, Luiz Marinho – 29 de agosto de
2007.
54
23. Feedback sobre os documentos do programa BRA494 – anexo: Relatório Financeiro do
Programa LatT003-BRA 494(2º semestre de 2009 a março de 2010).
24. Juventude na 5a Semana Social Brasileira (Folder)
25. Matriz de monitoramento do programa (2009)
26. Matriz do Programa 2010-2013 – Seção C: BRA 494.
27. Memória da Reunião do Programa Justiça Econômica – 26 e 27 de agosto de 2009. Centro
Cultural de Brasília.
28. Memória da Reunião do Programa Justiça Econômica – 6 a 8 de dezembro de 2009. Caldas
Novas/GO.
29. O Brasil que queremos (4a e Rede Jubileu Sul)
30. Pauta de reunião da Coordenação do Movimento em Defesa dos Direitos Sociais –
IBRADES-BSB- 18 de outubro de 2011.
31. Pauta de reunião do Movimento dos Direitos Sociais – Brasília, 04 de agosto de 2011.
32. Pauta de reunião dos parceiros do programa Justiça Econômica – 02 a 05 de dezembro de
2011.
33. Pauta de Reunião dos Parceiros do Programa Justiça Econômica – Brasília – 9 a 12 de
dezembro de 2010.
34. Pauta de reunião Programa Justiça Econômica – Brasília, 04 de agosto de 2011.
35. Pauta de reunião Programa Justiça Econômica – São Paulo, 04 de abril 2011.
36. Plano de Trabalho e Orçamento do Programa Justiça Econômica – 2010.
37. Plano de Trabalho e Orçamento do Programa Justiça Econômica 2012.
38. Plano de Trabalho e Orçamento do Programa Justiça Econômica.
39. Plano de Trabalho e Orçamento para Projeto Ponte do Programa Justiça Econômica 2013.
40. Plataforma em Defesa da Saúde Pública.
41. Por uma reforma do Estado com participação democrática
42. Programa LatT003-BRA487* - Plano de Trabalho e Orçamento do Programa Justiça
Econõmica Triênio 2010-2012.
43. PROJETO: Administração e Apoio ao Projeto – BRA 494 – Justiça Econômica. Balancete
Contábil período março a agosto de 2010.
44. Quadro de atividades para 2010. (30 ações previstas no decorrer do ano de 2010).
45. Relatório do encontro dos parceiros do programa Justiça Econômica – Dívida e Direitos
Sociais – Pirenópolis 13 e 14 de dezembro de 2007.
46. Relatório Financeiro – Programa Justiça Econômica – BRA487.
47. Relatório Narrativo Mar/2012/Agos, Set 2012.
48. Relatório Narrativo Semestral – Mar/2010 a Set/2011.
55
49. Relatório Narrativo Semestral – Set/2010 a Mar/2011.
50. Relatório Narrativo Semestral da CAFOD referente à CBJP (março a agosto de 2010)
51. Relatório Narrativo Semestral da CAFOD referente à CBJP (março/2011 a agosto de 2011)
52. Relatório Narrativo Semestral da CAFOD referente à CBJP (março/2012 a agosto/2012)
53. Relatório Narrativo Semestral da CAFOD referente à CBJP (setembro/2010 a fevereiro de
2011)
54. Relatório Narrativo Semestral da CAFOD referente à CBJP (setembro/2011 a
fevereiro/2012)
55. Síntese do Relatório do Encontro dos Parceiros de COFAD – Dívida e Direitos Sociais –
Brasília, 03 e 04 de junho de 2008.
56. Vídeo da 5a Semana Social Brasileira: Estado para que e para quem?
56
Anexo 2
Lista de entrevistados
1. André Santos (Tiú).
2. Ari Alberto
3. Ari Antônio dos Reis
4. Bianca Borges
5. Carlos Moura
6. Daniel Seidel
7. Edson Gonçalves Pelagalo Oliveira Silva
8. Eduarda Silva; Francisco Silva
9. Elson Matias
10. Francisco Vladimir Lima da Silva
11. Francisco Vladimir Lima da Silva
12. Gerardo Cerdas Vega
13. Gilberto Sousa,
14. Ivo Poletto
15. João Roberto Cavalcante
16. João Rodrigo Costa de Souza
17. Luciane Udovic
18. Paulo Illes
19. Pedro Gontijo
20. Ranildo Romes de Souza (Mancha);
21. Roseana Ferreira Martins
22. Rosilene Wansetto
23. Sidney Sabino
24. Tania Bernuy Illes
25. Tanisvalda Leite de Souza (Valda);
26. Wilbert Riva Pena (Bolívia
57
Anexo 3
Termo de Referência (TDR)
I – Introdução/Breve Contextualização
Nos últimos quinze anos o Brasil vem registrando queda na desigualdade de rendimentos medida pelo
Coeficiente de Gini. Contudo, a análise com base nesse único indicador revela-se bastante limitada para compreensão
das desigualdades socioeconômicas do Brasil do Século XXI. Em que pese as análises eufóricas de alguns
pesquisadores e de integrantes do governo com base no coeficiente de Gini, a estrutura da renda e da riqueza não
apresenta mudanças substanciais em relação às últimas décadas do século passado.
As políticas públicas (econômicas e sociais) adotadas de intervenção na desigualdade brasileira apontam para um
movimento de diminuição das diferenças entre as classes baixas e médias, mantendo o padrão de grandes diferenças
entre ricos e pobres do Brasil. As dimensões fundamentais da renda do trabalho, o acesso às políticas de proteção social,
as desigualdades na distribuição funcional da renda, as configurações do mercado de trabalho, e das desigualdades
tributárias evidenciam um cenário de alterações pouco expressivas das desigualdades socioeconômicas no Brasil,
principalmente quando referenciadas na classe trabalhadora e na perpetuação do ciclo de pobreza.
As políticas sociais não foram universalizadas no período pós-1988, em que pese as indicações do texto
Constitucional para edificação do sistema de proteção social. Além do acesso à educação, o sistema de seguridade
social, integrado pelas políticas de previdência, assistência social e saúde, deveria ter um papel chave na garantia dos
direitos sociais fundamentais de homens e mulheres no Brasil. Permanecem fora da previdência social mais de 1/3 da
população economicamente ativa, sendo as desigualdades de gênero e raça no acesso a este direito gritantes, pois
enquanto 56% dos homens brancos conseguem contribui para a previdência social, apenas 38,4% das mulheres negras
terão este direito assegurado.
O direito à saúde também não foi universalizado. Apesar do princípio constitucional da universalização do
acesso à saúde, o gasto nacional com esta política revela que o gasto público corresponde apenas por 44% do montante
de recursos aplicados em saúde. A outra política que compõem o tripé da seguridade social, a assistência social,
permanece residual ao extremamente pobres (renda per capta inferior ¼). Neste caso, os direitos são focalizados e a
população submetida a teste de meios e condicionalidade para acesso ao direito. Além de um precário sistema
socioassistencial.
O mercado de trabalho no Brasil, apesar da elevada geração de postos de trabalho formais de baixa remuneração, não se
alterou substancialmente em relação à desestruturação vivenciada nas duas últimas décadas do século XX. A marca
indelével é a não generalização da condição de assalariamento para o conjunto da População Economicamente Ativa,
agravando com isso as desigualdades socioeconômicas intraclasses.
Outro tema fundamental para o entendimento da desigualdade socioeconômica é o financiamento do Estado. Os ricos
no Brasil continuam participando desigualmente da estrutura tributária, uma vez que sua participação não ocorre
proporcionalmente a sua capacidade contributiva e porque grande parte de suas rendas em estão isentas de tributação.
Ressalta-se também que a participação dos lucros aumentou consideravelmente sua proporção na renda nacional nos
primeiros oitos anos deste século, contudo a tributação no Brasil não acompanhou este movimento.
O financiamento do Estado brasileiro é feito por meio de recolhimento de tributos que incidem sobre a renda dos
assalariados e dos servidores públicos, além da elevada carga tributária regressiva que atinge a população mais pobre,
sobretudo a feminina. Ao mesmo tempo em que a maior parcela do orçamento é destinada ao capital portador de juros,
por meio do pagamento de juros e amortização da dívida pública em detrimento da universalização dos direitos de
proteção social.
Este breve contexto exposto anteriormente revela que os temas da perpetuação da pobreza e da exclusão
socioeconômica de grande parte da população brasileira, que são objetos da atuação do Programa Justiça
Econômica (Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil, as Pastorais Sociais da CNBB), permanecem na ordem do
dia do Brasil neste Século XXI.
A fase atual do Programa Justiça Econômica financiado pela CAFOD teve início em 1 de março de 2010, com duração
prevista de três anos. A CAFOD propõe a realização de uma avaliação do período percorrido (quase 6 anos) no sentido
de averiguar os progressos e avanços em relação aos objetivos e resultados esperados do Programa, além da
identificação dos seus impactos intencionais ou não.
Com isso, espera-se a avaliação dos aprendizados e da lições apreendidas pelas entidades parceiras do Programa Justiça
Econômica: Grito dos Excluídos, Rede Jubileu Sul Brasil, as Pastorais Sociais da CNBB; e, a identificação de
recomendações para a elaboração da proposta do próximo triênio.
Nesse sentido, este texto tem por objetivo a apresentação de uma proposta técnica de metodologia de avaliação
do Programa Justiça Econômica a ser realizada no próximos 4 meses, sob supervisão da Gerente de Programa da
CAFOD.
58
II – Metodologia da Avaliação
A metodologia de avaliação que será realizada de forma participativa buscará dá conta dos quatros eixos de
ação do Programa Justiça Econômica: a) formação e capacitação de agentes multiplicadores sobre direitos sociais; b) a
política de advocacy realizada junto ao parlamento brasileiro e os movimentos sociais; c) a influência e o envolvimento
da igreja na defesa e ampliação dos direitos sociais; e d) o fortalecimento institucional do Programa por meio do
acúmulo técnico e da capacitação dos parceiros. Para tanto, a avaliação proposta vai adotar critérios visando averiguar:
v) A relevância e adequação do desenho institucional do programa.
vi) A eficácia do Programa Justiça Econômica no sentido de alcançar os efeitos esperados ou desejados pela sua
atuação, compreendendo os fatores que dificultaram ou não a realização do objetivos, o sistema de monitoramento e o
valor agregado na atuação dos parceiros.
vii) A eficiência do Programa no que se refere ao uso racional dos recursos disponíveis para alcançar os objetivos
propostos.
viii) Os impactos intencionais ou não alcançados pelos eixos ação do Programa.
Importante ressaltar que toda dinâmica da metodologia que será aplicada vai levar em conta as questões de igualdade de
gênero e os mecanismos que foram adotados pelas entidades parceiras na promoção da transparência e partilha de
informações com o público-alvo do Programa.
As questões balizadoras e orientadoras da avaliação serão: Os objetivos do trabalho de incidência estavam claros
para todos os parceiros, eram realísticos, alcançáveis? As estratégias de incidência foram bem definidas, eram claras e
apropriadas para o contexto e objetivo do programa? Quais as mudanças no contexto externo e interno e como estas
afetaram o desempenho do programa na parte de incidência? O que os parceiros aprenderam com a experiência de
incidência? Quais foram os resultados alcançados pelo programa neste período? E quais elementos nos permitem
atribuir estes resultados a ação do programa?
A parte preliminar da avaliação do Programa Justiça Econômica será dedicada a leitura, estudo e sistematização por
nossa parte dos seguintes documentos: proposta do programa e projetos aprovados pela CAFOD; relatório e projeto
financeiro e narrativo do primeiro e segundo ano do programa e relatório de 6 meses do terceiro ano; relatórios de
visitas de monitoramento da CAFOD; atas da reuniões de planeamento e avaliações parciais do programa e do
movimento com outros parceiros; material produzido; bancos de dados e agentes treinados; e, outros documentos
identificados e solicitados durante o processo.
Nessa fase preliminar também será dedicada a preparação de questões para entrevistas e na estruturação das etapas
seguintes da avaliação que serão realizadas de forma grupal com os envolvidos no Programa Justiça Econômica. Além
da escolha de materiais (documentos e textos) preliminar que subsidiarão as visitas in loco.
A segunda etapa consistirá na realização de entrevistas e de um grupo Focal em São Paulo com homens e mulheres
que fora capacitados como agentes multiplicadores dos direitos sociais pelas entidades do Programa Justiça Econômica.
Serão entrevistados pelos menos 8 agentes multiplicadores das diferentes regiões do Brasil, por meio de
entrevistas semiestruturadas. Serão privilegiados jovens beneficiários do programa. Essas entrevistas partem das
hipóteses que foram levantadas a partir da etapa preliminar da avaliação descrita anteriormente e serão orientadas pelas
questões balizadoras proposta para esta avaliação. Durante os questionamentos poderão surgir novas hipóteses para
orientação da avaliação do Programa e de subsídios para oficina. A entrevista semiestruturada partirá de um roteiro com
perguntas-chaves e que serão complementadas por outras questões durante as circunstâncias momentâneas da
entrevista, o que poderá propiciar o surgimento de informações mais livres e com isso, as respostas não estarão
condicionadas a um padrão de alternativas.
O grupo focal, a ser realizado em São Paulo, será composto por 6 a 10 participantes a serem escolhidos entre os/as
qualificados/as pelo Programa Justiça Econômica. A duração estimada do trabalho com o grupo é de duas horas.
Destaca-se que uma das vantagens dessa metodologia participativa é que ela vai propiciar uma maior interação entre o
responsável pela avaliação e os beneficiários direto do Programa. Essa técnica permite uma maior interação entre os
participantes que a entrevistas fechadas. Uma vez que as pessoas, a partir de diversas opiniões emitidas poderão forma
suas próprias concepções e durante o processar mudar ou fundamentar melhor seus entendimentos iniciais. A
condução do grupo focal ser dará a partir de um roteiro de tópicos com base nos objetivos desta avaliação, que serão
planejados com antecedência. Esses tópicos não serão expressos ao grupo em forma de questões, mas de dicas e outros
estímulos que serão adotados para introduzir o assunto (aqui poderá ser feito o uso de pequenos vídeos).
O consultor durante a realização do grupo focal vai criar uma ambiente adequado para uma participação
equitativa de mulheres e homens e para que as diferentes percepções sobre as ações realizadas pelo Programa Justiça
Econômica venham à tona, sem pretensão que os participantes votem ou cheguem a um consenso ou plano conclusivo.
Esse ambiente será de troca de experiências e colhimento de percepções acerca da eficácia das ações realizadas pelo
Programa. A sistematização cuidadosa das discussões vai fornecer pistas e insigths sobre os eixos de ações do Programa
Justiça Econômica. Os dados colhidos serão preciosos para subsidiar o processo de avalição e serão analisados por meio
de um sumário etnográfico, ou seja, por meio das citações textuais dos participantes, e pela codificação dos conteúdos
da categorias que vão aparecer ou que estiveram ausentes nas discussões.
A terceira etapa da avaliação consiste na realização de visitas in loco as entidades do Programa Justiça
59
Econômica, a saber: Grito dos Excluídos Brasil e Rede Jubileu Sul Brasil, em Coqueiro Baixo (RS); Pastorais Sociais
da CNBB, em São Paulo; e, a Comissão Brasileira da Justiça e Paz, em Brasília. Nessas visitas serão realizadas
entrevistas semiestruturadas com os dirigentes das organizações, a partir das questões balizadoras da avaliação,
visando sobretudo averiguar a relevância e adequação institucional do programa, a eficiência e a eficácia e os impactos
da ações realizadas. Além disso, nos encontros in loco serão realizadas atividades em grupos entre o consultor e os
participantes/dirigentes das entidades, de forma que coletivamente se construa um reconhecimento e definição de que
ponto de vista estão sendo construída a avaliação do Programa. Nesta etapa também serão visitadas família
beneficiárias do projeto.
A quarta etapa da avaliação será dedicada a produção do relatório preliminar com a sistematização dos resultados
obtidos a partir das entrevistas realizadas, do grupo focal, das visitas realizadas à comunidade e as entidades do
Programa.
Na etapa final da avaliação será realizada oficina de reflexão participativa com a presença da CAFOD e das entidades
integrantes do Programa Justiça Econômica, visando apresentar e discutir com os resultados, como momento importante
de aprendizagem mútua. Essa oficina terá a presença da equipe de coordenação, educadores e outras pessoas relevantes
no processo. Deverá ser realizada em Brasília.
III. Produtos Esperados
A) 8 entrevistas com agentes multiplicadores realizadas;
B) Grupo Focal realizado com 10 participantes homens e mulheres que foram capacitados como agentes
multiplicadores dos direitos sociais pelas entidades do Programa Justiça Econômica;
C) Três visitas in loco realizadas com entrevistas semiestruturadas dos dirigentes/participantes das entidades.
D) Três comunidades atendidas visitadas.
E) Uma oficina de reflexão realizada.
F) Relatório Final composto por : índice; lista de abreviações e siglas; resumo executivos incluindo os objetivos
da avaliação, os pontos principais analisados e as conclusões e recomendações principais de forma priorizada do mais
importante a menos importante; texto principal com no máximo 30p., incluindo contexto, objetivos, metodologia,
análise (segundo critério de relevância, eficácia, eficiência, sustentabilidade e lições aprendidas) e as conclusões e
recomendações; e anexos documentos relevantes, incluindo o TdR, Currículo do avaliador; lista de pessoas e entidades
contatadas e documentos consultados.
IV. Cronograma
Data / Período Atividade
29/01/2013 a 28/02/2013 Leitura, estudo e sistematização dos
documentos
01/03/2013 a 16/04/2013 Entrevistas com agentes multiplicadores
Março/2013 Visita as Pastorais em SP
Visita à Comunidade
Março/2013 Entrevistas com Dirigentes das Pastorais
em SP
Março/2013 Entrevistas com Grito dos Excluídos Brasil
e Rede Jubileu Sul Brasil, em Brasília-DF
Março/2013 Visita à Comissão Brasileira da Justiça e
Paz, em Brasília
Entrevistas com Dirigentes
Visita à Comunidades
Abril/2013 Sistematização do Material colhido e
produção de relatório Parcial
17/04/2013 a 17/05/2013 Produção do Relatório Final
06/05/2013 Relatório preliminar (versão rascunho do
relatório final)
18/05/2013 Entrega do Relatório Final
Maio/2013 Oficina reflexiva em Brasília
V – Orçamento
Item Custo
Passagens Aereas Brasília-São
Paulo – Brasília
R$ 800,00
Hospedagem São Paulo R$ 500,00
60
Deslocamento e alimentação R$ 400,00
Passagens Aereas Brasília Porto
Alegre – Brasília
R$ 900,00
Passagens Terrestres Porto
Alegre- Coqueiro Baixo – Porto
Alegre
R$ 100,00
Deslocamento e alimentação no
RS
R$ 300,00
Material de Expediente e para
reuniões de grupos
R$ 500,00
Honorários R$ 18.500,00
Impostos R$ 3.000,00
Total R$ 25.000,00
Nota: Este orçamento exclui os custos da oficina de reflexão em Brasília (deslocamento dos participantes, hospedagem
e alimentação).
Brasília-DF, 26 de Janeiro de 2013.
Evilasio da Silva Salvador
Professor da Universidade de Brasília
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Política Social
61
Anexo 4
Resumo do Currículo do Avaliador
Evilasio da Silva Salvador - É economista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina
(1995), mestre em Política Social pela Universidade de Brasília - UnB (2003) e doutor em Política
Social pela UnB (2008). Professor na Universidade de Brasília (UnB) na graduação em Serviço
Social e no Programa de Pós-graduação em Política Social (Mestrado/Doutorado). Autor do livro
Fundo Público e Seguridade Social no Brasil. Desenvolve pesquisa na área de Política Social e
finanças públicas, principalmente nos seguintes temas: fundo público, orçamento público,
tributação, seguridade social, previdência social, financiamento das políticas públicas e
análise/avaliação de políticas sociais.
Currículo completo pode ser acessado em http://lattes.cnpq.br/9255679876512606