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RELATÓRIO FINAL DE BOLSA FERRAMENTA PARA DETECÇÃO DE EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO Marcio José Ferreira Christopher Alexander Cunningham Castro Marcelo Henrique Seluchi Cachoeira Paulista 2013

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RELATÓRIO FINAL DE BOLSA FERRAMENTA PARA DETECÇÃO DE EVENTOS EXTREMOS DE

PRECIPITAÇÃO

Marcio José Ferreira

Christopher Alexander Cunningham Castro

Marcelo Henrique Seluchi

Cachoeira Paulista 2013

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INTRODUÇÃO

Eventos severos de precipitação são bastante comuns em diversas regiões do

Brasil, sempre causando transtornos, e frequentemente acarretando em perdas

materiais e humanas. Por estas razões é de vital importância, para

organizações como a Defesa Civil, ter em mãos informações que possam

sinalizar com antecedência a ocorrência de chuvas extremas, podendo assim

ser utilizadas na emissão de alertas.

Para ter essas informações confiáveis deve-se ter disponível dados que

possuam a maior veracidade possível, dentre as técnicas de previsão de

tempo, encontra-se a previsão por conjuntos. A técnica de previsão por

conjuntos se sobressai sobre a previsão comum por oferecer um numero maior

de previsões para um determinado dia e horário, adicionando pequenas

perturbações às condições iniciais uma previsão de conjunto irá fornecer um

maior conjunto probabilístico de cenários para uma data, através da

observação desses cenários, e as suas similaridades, pode-se obter uma visão

mais apurada de eventos de destaque na previsão do tempo por se basear em

um espaço de probabilidades ao invés de um único valor de uma previsão

determinística. Dada a incerteza e alta instabilidade da atmosfera previsões

baseadas em probabilidades são mais adequadas.

O objetivo deste projeto é desenvolver uma ferramenta de previsão de eventos

extremos de precipitação através das previsões probabilísticas emitidas pelo

Sistema de Previsão por Conjuntos (SPCON) do Centro de Previsão de Tempo

e Estudos Climáticos (CPTEC). Esta ferramenta é proposta para o Centro

Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) com a

colaboração do Grupo de Previsão por Conjuntos.

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2. DADOS E MÉTODOS

A ferramenta para identificação de eventos extremos de precipitação na

previsão é fundamentada no espaço probabilístico, portanto, faz uso do

SPCON do CPTEC/INPE.

O SPCON do CPTEC/INPE é baseado no Modelo Geral de Circulação

Atmosférica (MCGA) do CPTEC/INPE. Esse modelo resolve, através do

método espectral numérico, as equações primitivas na forma de divergência e

vorticidade, temperatura virtual, logaritmos de umidade específica e pressão de

superfície e inclusão de processos de sub-grade através de parametrizações.

Detalhes do modelo podem ser obtidos em Kinter et al. (1997).

O SPCON gera 15 membros por rodada, sendo sete perturbações randômicas

positivas, sete negativas e uma rodada de controle, o estado previsto da

atmosfera é gravado a cada 6 horas, até o limite de 360 horas de previsão. O

procedimento empregado para gerar as condições iniciais de perturbação

atmosférica é baseado no método desenvolvido por Zhang e Krishnamurti

(1999), originalmente proposto para previsão de furacões usando o MCGA da

Universidade do Estado da Flórida (FSU, em inglês). Este método, chamado

perturbações baseadas em funções ortogonais empíricas (EOF, em inglês), foi

desenvolvido baseado no fato que durante o começo da integração do modelo,

aproximadamente 36h, as perturbações crescem linearmente.

O processo explicado abaixo sumariza uma rodada operacional atual do

SPCON do CPTEC/INPE:

Sete pequenas perturbações randômicas são adicionadas para os

campos de temperatura e componente horizontal do vento da análise de

controle;

1. A análise perturbada resultante e a análise de controle são usadas para

integrar o modelo por 36 horas;

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2. Sete séries temporais do diferente campo de previsão são construídas

pela subtração da previsão de controle da previsão perturbada a

incrementos de 3 horas cada;

3. Uma análise EOF é realizada para cada uma das sete séries temporais

em um domínio tropical definido sul-norte como 45°S e 30°N, e oeste-

leste como 0° a 360° W;

4. A análise EOF determina os autovetores cujos coeficientes temporais

aumentam rapidamente com o tempo, estes autovetores são

considerados as perturbações EOF;

5. Estas perturbações são re-escaladas de maneira que seus desvios

padrões sejam da mesma ordem das perturbações iniciais;

6. Adicionando e subtraindo estas perturbações re-escaladas na análise

não perturbada se produz os 14 estados iniciais perturbados;

7. As 14 condições iniciais perturbadas mais a não perturbada são

integradas no tempo com um horizonte de previsão de 15 dias (360

horas) resultando em um sistema de previsão por conjuntos composto

de 15 membros;

As condições iniciais usadas na etapa 1 são análises espectrais diárias das 00

e 12 em tempo universal coordenado (UTC, em inglês) obtidas do National

Center For Environmental Prediction (NCEP). Estas condições iniciais são

usadas para integrar as rodadas de controle e para criar os membros

perturbados. Todos os membros são integrados no tempo na resolução

horizontal T126 e em 28 níveis verticais. Mendonça e Bonatti (2009)

propuseram modificações no método detalhado acima. Três principais

mudanças foram propostas: i) aplicar o método EOF para perturbar

adicionalmente as latitudes médias, ii) aplicar perturbações adicionais para os

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campos de pressão de superfície e umidade especifica, e iii) computar

perturbações regionais sobre a America do Sul.

O aspecto fundamental desta proposta de ferramenta para antecipação de

eventos extremos de chuva é o uso do espaço probabilístico ao invés do

espaço físico da variável.

A ferramenta determina empiricamente duas funções de distribuição: a

distribuição de probabilidades cumulativas (DPC) prevista e a DPC

climatológica do SPCON.

As DPC são ajustadas segundo um modelo de distribuição de probabilidades

de uma curva gama.

A DPC prevista é calculada para uma previsão iniciada em uma determinada

data (condição inicial; CI) e para um determinado horizonte de previsão (e.g.,

120 horas). Ou, equivalentemente para uma determinada data-alvo e com uma

determinada antecipação.

A DPC climatológica utilizada neste trabalho é baseada em previsões

retrospectivas. Previsões retrospectivas são uma maneira confiável de obter

estatísticas do SPCON que podem ser utilizadas em produtos de previsão em

tempo real (Hamill et al., 2004; Hamil et al., 2006). O conjunto de previsões

retrospectivas consiste das previsões iniciadas as 00 e 12 UTC dos anos de

2009, 2010 e 2012. O SPCON utilizado é aquele descrito e avaliado em

(Cunningham et al., 2013 - submetido).

Para se obter as curvas para uma determinada data alvo, utilizam-se previsões

retrospectivas de diferentes lags para essa data. Irão ser obtidos dois conjuntos

de dados para um determinado lag e data. O primeiro conjunto irá ser

composto dos valores de precipitação de uma área determinada dos 15

membros do modelo de circulação global de uma data e lag necessários para

alcançar a data alvo, essa data não deve estar no limite dos anos da

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climatologia. O segundo conjunto irá conter os valores de precipitação dos 15

membros das previsões da mesma data e lag para os anos 2009, 2010 e 2011,

para a mesma área utilizada anteriormente na previsão. Essas previsões são

as contidas na climatologia.

Uma vez que o foco deste estudo são eventos extremos de precipitação, estão

sendo considerados apenas valores superiores a 10 mm/dia de precipitação,

da mesma forma tendo em vista o objetivo de se evitar desastres e emissão de

alerta para áreas povoadas, utilizamos a máscara continente-oceano do

modelo, para filtrar somente os eventos que ocorrem sobre o continente. Esse

conjunto de dados, limitado inferiormente, irá então ser organizado em duas

curvas de função de distribuição, a climatológica e a prevista que poderão ser

comparadas para observação de eventos extremos.

A função de distribuição utilizada para gerar as curvas é a Função de

distribuição de probabilidades cumulativas Gama.

Introduzida por Euler por volta de 1730, a distribuição gama serve de base para

a definição das distribuições contínuas, por ser unilateral, frequentemente é

utilizada como modelo para quantidades físicas compostas por valores

positivos, como valores totais de precipitação.

Em Stephenson (2005) é possível encontrar uma abordagem prática da

distribuição gama de densidade (Probability density function), sendo

apresentada sob a seguinte estrutura matemática:

Composta por dois parâmetros, α, parâmetro de forma que caracteriza a forma

da distribuição, e β, parâmetro de escala e indica a escala / largura da

distribuição, onde α, β > 0. Obtendo-se a média através de:

(1)

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E a variância

É possível então obter a CDF da curva gama a fim de representar os percentis

da distribuição de densidade.

Com base nos valores de probabilidade obtidos na curva CDF e então

calculado o Extreme Forcast Index (EFI) criado por Lalaurete (2003), para um

determinado evento.

A versão de EFI usada nesse trabalho é a mesma utilizada na geração de

produtos do European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF)

e pode ser representada pela seguinte forma:

Onde F(p) denota a proporção dos membros da climatologia do SPCON que

estão abaixo de um determinado quantil qi. p corresponde a proporção de

membros da previsão que estão abaixo do mesmo quantil qi especifico.

Para o calculo da equação a distribuição total (0 a 100) foi dividida em 33

intervalos de três pontos percentuais.

Essa formula irá gerar um valor final que em casos positivos indica que um

evento extremo foi detectado, em casos negativos a climatologia tem uma

acumulado maior do que a previsão e não é registrado um evento extremo.

(2)

(3)

(4)

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2.1 DETALHES DO SISTEMA AUTOMÁTICO

O processo da construção do índice se inicia com um script em bash que

recebe como argumentos a data de inicio da previsão, a defasagem da

previsão e os quatro pontos das coordenadas da região para o qual se deseja

calcular o índice.

Com esses valores o script inicialmente irá gerar duas listas uma com os

caminhos dos 15 arquivos da data e lag alvos e a outra com os caminhos dos

45 arquivos da climatologia, esses arquivos possuem exatamente os mesmos

dias e lags da data alvo, porem seus anos serão fixados em três conjuntos para

os anos de 2009, 2010 e 2011.

Após a criação das listas o script irá chamar os scripts GRADS para obter os

valores de precipitação na área desejada para a data alvo e para a

climatologia.

O primeiro script GRADS recebe os valores que foram inseridos no script bash

no inicio do processo e inicia sua função lendo o arquivo de lista de arquivo

com os caminhos dos 45 arquivos da climatologia que também foi gerado com

o script anterior, com os arquivos abertos ele define a área com os valores de

latitude e longitude e através de funções do GRADS obtêm o número de pontos

na área desejada. Com o numero de pontos definidos o script então utiliza uma

mascara para obter todos os valores de chuva que são maiores ou iguais a 10

mm que ocorreram sobre o continente, valores menores que isso, ou que se

encontram sobre o oceano, irão gerar uma entrada Undef em um arquivo

intermediário e na lista final esses valores serão descartados deixando

somente os valores relevantes ao estudo, gerando o arquivo final com os

valores de precipitação que estão na área desejada, referentes às datas e lags

definidos nos anos da climatologia.

O segundo script GRADS irá realizar o mesmo processo descrito acima, com a

diferença que ele utiliza o arquivo que possui os 15 arquivos para a data alvo

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ele também gera um arquivo com os valores de precipitação para a área de

estudo.

Esses dois arquivos serão utilizados no script R que irá criar o gráfico com as

duas curvas gamas referentes à climatologia e previsão, o script R recebe

como dados de entrada o conjunto de valores de pontos de grade da

climatologia e da previsão e atribui esses valores para dois vetores diferentes,

a partir desses vetores o R calcula os valores alfa e beta, componentes da

curva gama e utilizando a função pgamma gera uma curva. Ao se colocar as

curvas lado a lado pode se perceber alguns detalhes importantes na definição

do índice, como a distancia entre as curvas de previsão e climatológica ao

longo dos quantiles, e se a curva de previsão está com valores superiores a

climatológica, o que pode indicar um evento extremo. A partir das mesmas

listas que geraram as curvas também é executado um segundo programa

escrito em R que gera os valores do índice para os 33 intervalos de quantis e o

valor final do índice acumulado para o lag que é o valor final associado ao

evento nesse determinado lag.

O fluxograma abaixo descreve como toda a operação é executada, as

informações contidas na primeira caixa são os valores que serão inseridos

como argumento do primeiro script, as caixas com bordas arredondadas

representam os scripts envolvidos no processo, as outras caixas retangulares

representam os arquivos que são gerados nas diferentes etapas e as setas

representam o fluxo de dados:

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Figura 1 – Organograma da ferramenta com scripts, dados de entrada e

nomes de arquivos de saída.

geralista.sh

graficocdf.operacional.gs

gamma.r

Data, Lag, Latitude Inicial, Latitude Final, Longitude inicial, Longitude Final

listacdf.txt listacdf.oper.txt

listacdf.clim.out listacdf.prev.out

clim.prev.bmp

graficocdf.gs

indice.r

indice.txt

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2.2 MÉTODO DE AVALIAÇÃO

Para avaliar o desempenho da ferramenta, foram selecionados eventos

extremos ocorridos durante o ano de 2012, na Região Sul do Brasil. O ano de

2012 foi escolhido porque é o primeiro ano subsequente aos três anos que

compõem a climatologia do SPCON (2009, 2010 e 2011). A Região Sul foi

definida de acordo com Marengo et al. (2003). Naquele trabalho os autores

tiveram como objetivo validar a variabilidade climática do MCGA do

CPTEC/INPE em diversas regiões de conhecido regime climático no planeta.

Eles delimitaram uma região retangular com características de precipitação

homogênea na Região Sul. Esta região é limitada ao sul e a norte

(respectivamente) pelos paralelos 34,70S e 22,80S; e a oeste e leste

(respectivamente) pelos meridianos 60W e 49,40W.

Figura 2 – Imagem da área definida em Marengo et al. (2003) e utilizada para

avaliação no presente estudo.

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Dentre os eventos disponíveis para esse ano e área foi dado importância a três

eventos de destaque: i) um ciclone extratropical considerado o mais intenso

das últimas duas décadas, ocorrido no Rio Grande do Sul e Uruguai entre os

dias 22 e 23 de outubro de 2012; ii) um temporal ocorrido no sul do Brasil em

26 de abril de 2012 e iii) tempestades severas ocorridas no Rio Grande do Sul

em 31 de dezembro de 2012.

Tendo estes eventos como eventos-alvo foi feita a rodada do modelo de

previsão por conjuntos para os lags de 360, 240, 120, 96, 72, 48 e 24 horas

para o dia do evento extremo, as rodadas foram feitas utilizando-se da previsão

de 00Z. A ferramenta foi testada para cada uma dessas datas e lags, obtendo-

se assim sete gráficos para cada dia de evento.

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3. RESULTADOS

A partir dos conjuntos de figuras para cada um dos dias escolhidos para o

estudo, pode se ver o comportamento da ferramenta em três estudos de caso

distintos. Cada gráfico gerado pela ferramenta é composto de duas curvas,

uma preta representando a previsão e uma vermelha representando a

climatologia, quando a curva de previsão se encontra a direita da curva

climatológica é possível concluir que ali está representado uma indicação de

evento extremo, já que os valores de um único conjunto de previsões para um

dia estão superiores aos acumulados dos três anos da climatologia. Também

se deve notar que os pontos mais altos na curva devem ter maiores pesos, pois

indicam valores mais elevados de chuva acumulada. Nos casos em que a

curva preta está à esquerda ou sobre a climatologia podem ser considerados

que um evento não foi detectado. Para um melhor estudo dos dados, foi criado

mapas usando o software R em que os valores extremos de todos os membros

da climatologia e a previsão são plotados sobre a área de estudo, permitindo

assim ter uma melhor visão de onde os eventos realmente foram previstos.

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3.1 Primeiro Estudo de Caso (26 de abril de 2012)

No primeiro estudo de caso, ocorrido no dia 26 de abril de 2012, o evento foi

relacionado a várias cidades do Paraná e Santa Catarina que registraram

chuvas relativas entre 65 a 87 por cento da média acumulada de 24 horas para

a região de acordo com boletim técnico gerado pelo grupo de Previsão de

tempo do CPTEC. Nesse caso a ferramenta teve os seguintes resultados:

Pode-se ver a curva prevista a direita da climatologia nos lags de 360, 120, 72

e 48 horas; no lag de 96 horas, a curva prevista esteve todo o tempo a direita

da climatologia, com exceção somente no ultimo quantil; no lag de 240 horas

as curvas foram semelhantes e no lag de 24 horas a curva de previsão estava

à esquerda da climatologia.

Neste caso pode-se considerar que a ferramenta foi eficiente, no lag de 240

horas em que as curvas são semelhantes pode-se ver a curva de previsão

ligeiramente à frente em alguns pontos do meio e topo da curva, nos casos em

que a ferramenta detectou o evento a curva de previsão se destaca claramente

à climatológica e mesmo no lag de 96 horas em que o ultimo quantil não é

superior ao climatológico todo o resto da curva destaca um evento extremo,

sendo que somente no lag de 24 horas a ferramenta foi ineficiente. Outro fato

valido de nota é que pode se considerar uma recorrência da verificação do

evento durante um período considerável da previsão (lags de 120 a 48 horas).

Abaixo se encontra os gráficos dos lags de 120, 96 e 24 horas para

exemplificar os resultados da ferramenta.

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Figura 3 – Curva para o dia 26 de abril de 2012 as 00Z com lag de 120 horas,

e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, nesse caso exemplificando uma detecção de evento extremo.

EFI= 0,24066578

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Figura 4 – Curva para o dia 26 de abril de 2012 as 00Z com lag de 96 horas, e

mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e previsão

nesse caso pode se ver que a curva da previsão é superior em todos os pontos

exceto no ultimo, no entanto, pode-se observar a detecção do evento.

EFI= 0,14692147

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Figura 5 – Curva para o dia 26 de abril de 2012 as 00Z com lag de 24 horas, e

mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, um caso em que a ferramenta não conseguiu detectar o evento.

EFI= -0,08548008

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3.2 Segundo Estudo de Caso (31 de dezembro de 2012)

No segundo caso do dia 31 de dezembro de 2012, o evento visto se refere à

tempestade que atingiu o Rio Grande do Sul, sendo o máximo observado de 84

mm/dia em Santa Maria. Neste caso, a ferramenta desenvolvida indicou uma

curva de previsão à direita da curva climatológica nos lags de 360 e 240 horas,

no lag de 120 horas as curvas foram praticamente coincidentes, nos outros

lags a ferramenta não conseguiu detectar o evento.

Uma possível justificativa para esse comportamento é o fato da área do evento

ser bem inferior ao total da área de estudo, dessa forma eventos na

climatologia que ocorreram em outras áreas são detectados como mais

influentes, como pode-se observar nos mapas gerados.

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Figura 6 – Curva para o dia 31 de dezembro de 2012 as 00Z com lag de 360

horas, e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, Apesar do ultimo ponto não estar à esquerda da climatologia a curva

é consistente durante os outros lags.

EFI= 0,1022813

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Figura 7 – Curva para o dia 31 de dezembro de 2012 as 00Z com lag de 240

horas, e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, Valores consistentes com os de um evento extremo durante toda a

curva.

EFI= 0,14096564

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Figura 8 – Curva para o dia 31 de dezembro de 2012 as 00Z com lag de 120

horas, e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, Neste caso as curvas são praticamente equivalentes e não mostram

um evento extremo, a partir desse lag os valores de previsão estão

consistentemente à esquerda e não exibem nenhum resultado que seja

relevante para o estudo.

EFI= 0,000666235

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3.3 Terceiro Estudo de Caso (22 de outubro de 2012)

No ultimo exemplo que ocorreu no dia 22 de outubro de 2012, tem-se um

evento de ciclone extratropical que foi considerado o mais intenso das últimas

décadas sobre a região do Uruguai e Rio Grande do Sul. Neste caso a

ferramenta teve o seu melhor desempenho, a ferramenta detecta a partir do lag

de 120 horas uma curva de previsão à direita da climatológica, e mantém esse

resultado de forma consistente, especialmente nos lags de 48 e 24 horas com

valores extremos de previsão bem distanciados dos climatológicos. Nos lags de

360 e 240 horas a ferramenta não detectou o evento embora nesses dois

casos as curvas observadas estão bem próximas as curvas climatológicas.

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Figura 9 – Curva para o dia 22 de outubro de 2012 as 00Z com lag de 120

horas, e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, primeira detecção do evento com valores de previsão

constantemente superiores à climatologia.

EFI= 0,203432574

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Figura 10 – Curva para o dia 22 de outubro de 2012 as 00Z com lag de 48

horas, e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão, Caso de grande destaque onde o valor máximo do conjunto

climatológico encontra-se um pouco acima de 50 e o valor da previsão atinge

um valor superior a 200, essa foi a maior diferença entre curvas observada.

EFI= 0,282175965

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Figura 11 – Curva para o dia 22 de outubro de 2012 as 00Z com lag de 24

horas, e mapas com representação dos valores extremos para a climatologia e

previsão Outra detecção do evento onde a diferença entre a climatologia e a

previsão pode ser claramente observada.

EFI= 0,314825564

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CONCLUSÃO

De forma geral pode-se fazer algumas observações relevantes à ferramenta.

Nos casos que vimos, quanto maior a área do evento em relação à área de

estudo melhores resultados podem ser obtidos, isso provavelmente é

facilmente relacionado à resolução do modelo, no caso da área definida para o

estudo (22,80S-34,70S; 49,40W-60W) ela possui um total de 195 pontos na

resolução do modelo, o melhor resultado é obtido quando se observa um

evento que cobre um maior subconjunto dessa área.

Em casos onde existem áreas menores para ser observadas, como no caso 2,

observa-se também que os melhores resultados se obtêm nos lags mais

afastados (360 e 240), coincidentemente nos casos em que a área é maior os

lags mais próximos obtém melhores resultados (120, 96, 72, 48 e 24).

No caso 1 a ferramenta apresentou um comportamento bom, mantendo uma

consistência na exibição de um evento em quatro lags consecutivos e um total

de cinco acertos dentre os sete lags. Nesse caso o único resultado pouco

satisfatório encontra-se no caso de 24 horas onde a ferramenta não detecta o

evento. Esse erro, no entanto pode ser atribuído à área de estudo ser maior do

que a área do evento, o que impede que a detecção ocorra devido a presença

de outros sistemas de grande intensidade em outras áreas da climatologia.

No caso 2, a ferramenta não apresentou um comportamento satisfatório, pois

somente detectou o evento em dois dos sete lags, ao observar os mapas de

valores extremos pode se ver que o tamanho da área do evento em

comparação com a área de estudo novamente influencia na detecção. Nos lags

de 360 e 240, pode se ver no mapa que se comparando os valores sobre a

área de Santa Maria, os valores da previsão são superiores aos da

climatologia, ao se aumentar a área, no entanto, outros sistemas na

climatologia são mais relevantes durante a comparação.

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No caso 3, a ferramenta apresenta um ótimo comportamento, com acertos em

cinco lags consecutivos dentre os sete lags do estudo, ao observar os mapas

de valores, pode se ver claramente nos mapas de previsão o evento cobrir

grande parte da área de estudo, o que proporcionou uma grande facilidade em

se detectar o evento.

Outra nota de importância a ser feita é verificar que em todos os casos o valor

final do EFI corrobora os resultados observados nas figuras, onde valores

positivos aparecem nos casos de eventos extremos e valores negativos

aparecem quando a ferramenta não detecta.

Algumas notas que podem ser colocadas para melhoria, seria um possível

aumento da amostragem climatológica com a adição de um dia posterior ou

anterior à data alvo, na lista de arquivos climatológicos, ou mesmo adição de

novos anos para se ter uma melhor amostra de controle para as comparações.

Outra observação que se destaca como a mais relevante seria a necessidade

de se utilizar modelos de maior resolução, para que domínios menores possam

ser melhores representados, ou então definir a área de utilização somente para

pequenas áreas ao redor das cidades para as quais o CEMADEN emite os

alertas, uma vez que ficou claro durante os experimentos de validação que

quanto menor a diferença entre a área observada e a área do evento melhores

resultados são observados na detecção.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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