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Jardim II escorregando pelos canos em busca do mundo das Palavras “A criança é um ser em contínuo movimento. Este estado de eterna transformação física, perceptiva, psíquica, emocional e cognitiva promove na criança um espírito curioso, atento, experimental. Seu olhar aventureiro espreita o mundo a ser conquistado. Viveem estado de encantamento diante dos objetos, das pessoas e das situações que a rodeiam”. (DERDYK, 2003, p. 10) Um começo especial, que inicia um ciclo ou um começo especial que fecha um ciclo? A resposta com toda certeza jamais saberemos, mas se serve de inspiração, como já dizia Manoel de Barros: “o menino aprendeu a usar as palavras” e o mesmo “o menino carregava água na peneira”. De nada adianta carregar água na peneira, de nada adianta também querer que as crianças não cresçam... A educação infantil está terminando para esses pequenos que agora e cada vez mais aprendem a usar as palavras e irão trilhar lindamente o fabuloso caminho da descoberta das letras, assim como aos poucos a construção das palavras. É na educação infantil que iniciamos nossa trajetória na escola. Na educação infantil vivemos momentos marcantes que ficam em nossa memória para sempre e vez ou outra nos lembramos com carinho de vivências e aprendizados que muitas vezes contribuíram para os adultos e as escolhas de hoje. Relatório de grupo 1º semestre/2019 Turma: Jardim II Professora: Jéssica Oliveira Professora auxiliar: Carla Pitarello Coordenadora: Lucy Ramos Torres

Relatório de grupo 1º semestre/2019€¦ · Assistimos o filme “Wall-e” (2008), que retrata uma história de forma lúdica de como será o planeta Terra há alguns anos se continuarmos

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Jardim II escorregando pelos canos em busca do mundo das Palavras “A criança é um ser em contínuo movimento. Este estado de eterna transformação física, perceptiva, psíquica, emocional e cognitiva promove na criança um espírito curioso, atento, experimental. Seu olhar aventureiro espreita o mundo a ser conquistado. Viveem estado de encantamento diante dos objetos, das pessoas e das situações que a rodeiam”. (DERDYK, 2003, p. 10)

Um começo especial, que inicia um ciclo ou um começo especial que fecha um ciclo?

A resposta com toda certeza jamais saberemos, mas se serve de inspiração, como já

dizia Manoel de Barros: “o menino aprendeu a usar as palavras” e o mesmo “o menino

carregava água na peneira”. De nada adianta carregar água na peneira, de nada

adianta também querer que as crianças não cresçam... A educação infantil está

terminando para esses pequenos que agora e cada vez mais aprendem a usar as

palavras e irão trilhar lindamente o fabuloso caminho da descoberta das letras, assim

como aos poucos a construção das palavras.

É na educação infantil que iniciamos nossa trajetória na escola. Na educação infantil

vivemos momentos marcantes que ficam em nossa memória para sempre e vez ou

outra nos lembramos com carinho de vivências e aprendizados que muitas vezes

contribuíram para os adultos e as escolhas de hoje.

Relatório de grupo – 1º semestre/2019

Turma: Jardim II Professora: Jéssica Oliveira Professora auxiliar: Carla Pitarello Coordenadora: Lucy Ramos Torres

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Quando olho para essa turma, para essas crianças, cada uma com seu jeitinho,

olhares, individualidades, formatos e recortes, que formam a turma do jardim II,

percebo o quanto a presença de cada um de nós é importante e que esse grupo não

seria o mesmo se não fosse assim, desse jeito, exatamente assim!

Cada uma das crianças é vistas de forma singular e única. E por cada criança por ser

única, ela terá naturalmente um jeito sem igual de deixar transbordar seus

sentimentos, se expressar, ver o mundo e aprender a usar as palavras.

No período de adaptação do começo deste novo ciclo um grande grupo, formado por

duas turmas que já se conheciam e eram amigas chega com muita ansiedade,

expectativa, dúvidas, curiosidades e uma porção de sentimentos.

Ao passar do tempo e do período de adaptação à rotina das crianças cada uma com

suas características e individualidades começaram a dar forma a um grupo, que foi se

tornando amigo, companheiro e acolhedor com o outro, as crianças foram aprendendo

com as diferenças e características umas das outras e a conviver em grupo de forma

harmoniosa e companheira. Foi então, que o grupo descobriu que precisava do outro,

que uma coisa não pode acontecer sem a ajuda, cooperação e união e assim as

interações e contato com outro foi ficando cada vez mais respeitosa.

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Recebidas com um carinhoso abraço de forma bem acolhedora para que se sentissem

bem nesse novo começo, as primeiras semanas foi um convite para brincar, assim

bem à vontade, e sem perceber, aos poucos as relações entre todos estavam sendo

estabelecidas e consolidadas. A cultura do brincar na educação infantil é reconhecida

principalmente pela sua importância para o desenvolvimento saudável do imaginário

infantil, pois é na educação infantil que as crianças irão desenvolver o jogo simbólico a

partir de propostas de atividades lúdicas. Segundo o RCNEI (1998) é através do ato

de brincar que a criança se desenvolve globalmente, ou seja, é o principal modo de

expressão da infância, brincando a criança pequena aprende a viver e a se

desenvolver de forma lúdica e prazerosa.

A partir dos interesses em comum do grupo, levando em consideração os

conhecimentos prévios das crianças e os conteúdos necessários para a faixa etária,

surgiram as primeiras conversas e interesses em comum do grupo em roda depois de

ouvir a leitura do poema de Carlos Drummond de Andrade “Tinha uma pedra no meu

caminho” que foi trazido para toda a escola no primeiro dia de aula juntamente com

uma dinâmica e frase “O que eu faço (não) com o que me resta?”. A roda é um

momento coordenado pela professora com plena participação dos alunos, onde é

organizada a rotina do dia, que segundo Barbosa, sua importância na Educação

Infantil provém da possibilidade de construir uma visão própria como concretização

paradigmática de uma concepção de educação e cuidado.” (Barbosa, 2006, p. 35). É

feita a chamada para verificar quem veio na escola, pintura do calendário, por

exemplo. Momento importante também para o seguimento do projeto, todo dia uma

leitura é realizada, um brinquedo ou jogo é apresentado, envolvendo a turma, com a

contribuição ativa das crianças neste momento, elas podem trazer livros, opinar e

expor pensamentos e ideias que contribuem com o desenvolvimento do projeto, para

Derdyk (2003), “Os educadores são os porta-vozes de uma visão de mundo,

transmissores de comportamentos, interferindo direta e ativamente na construção de

seres individuais e sociais”. (DERDYK, 2003, p. 15)

Um dos acontecimentos na roda é a pintura do calendário coletivo, conversamos sobre

a rotina do dia e os acontecimentos planejados. A pintura do calendário é feita pela

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criança que trouxe o lanche coletivo para a turma toda, que também é responsável por

escolher um livro especial em casa para ser lido na roda. A escolha do livro é livre

assim como a escolha de ler o livro para a turma toda ou escolher que as professoras

leiam a história. A introdução do calendário na rotina das crianças de educação infantil

permite que os alunos se situem no tempo e espaço dos dias, vida e cotidiano. Seu

principal objetivo é acompanhar e registrar o tempo e aprender o funcionamento do

calendário convencional acompanhando ao passar dos dias. O trabalho com o

calendário também nós permite conhecer e relacionar a sequência numérica, ordem

de acontecimentos, contagem dos dias e organização espacial no momento da pintura

individual. Este ano a turma do jardim II recebeu o calendário nos dois primeiros

meses do ano por semanas, de forma linear. Ao passar dos dias, o calendário foi

somando semanas, uma embaixo da outra, até ser organizado de forma convencional.

Esse processo foi importante para que as crianças compreendessem a estruturação

do calendário.

As crianças trouxeram uma “chuva” de palavras, perguntas e dúvidas, e cada uma

delas contou o que achou pelo seu caminho nas férias. E apareceu de tudo um pouco:

teve quem encontrou carro, cocô, praia, cachorro, pirulito e mais um montão de coisas,

até que alguém falou sobre o canudinho: “tinha um canudinho no meu caminho e esse

canudinho é ruim para as tartarugas”. E pronto! Todos começaram a contar o que

aconteceria sobre se tivesse tal coisa no caminho e o que faria com aquilo, por

exemplo, “é ruim ter lixo no seu caminho por que ele entope os canos da cidade e vira

uma enchente só”. Então não perdemos tempo e fomos investigar os canos da escola

também, já que ali em nossa própria escola os canos viviam entupidos.

Assistimos o filme “Wall-e” (2008), que retrata uma história de forma lúdica de como

será o planeta Terra há alguns anos se continuarmos a consumir sem fazer nada com

o que nos resta. Surgiram muitas ideias, assim como muitas dúvidas no grupo, que se

manteve intrigado em buscar respostas.

Para começarmos a responder a pergunta “O que eu (não) faço com o que me resta”,

e realmente fazer algo com o que resta, em parceria com a chácara do Mário fomos

tomar lanche em um espaço diferente e depois aproveitamos para alimentar os

animais da chácara com os restos de alimentos e cascas de frutas, contribuindo para a

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nossa reflexão sobre o lixo, impacto no meio ambiente e destino correto que damos ao

que nos resta, que estava só começando.

E nós fizemos de tudo, investigamos, brincamos com os canos, construímos caminhos

e começou então o interesse pelos impactos do lixo na água, e como ela chega em

nossa casa. Pelos canos? Quem cuida da água? Pode tomar água que passa pelos

canos?

Acreditando na parceria e diversificando as oportunidades de absorver conhecimento,

iniciamos nossas parcerias com alguns pais que se propuseram a contribuir

transmitindo seu conhecimento. Começamos por uma visita que veio nos contar sobre

a água, seu tratamento, como ela chega à casa de todas as pessoas e todas as outras

dúvidas. Funcionário da Sanasa Campinas e com toda a sua experiência, Vinicius, um

papai do grupo, pode contribuir com os questionamentos e curiosidade que a turma

tinha levantado sobre o ciclo da água, tratamento e impactos do lixo quando este

chega à água. Ele pôde esclarecer dúvidas, percorrer o caminho da água na escola e

mostrar de forma lúdica para as crianças com o auxílio de uma maquete como

acontece esse ciclo.

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Curiosos com a palavra resíduo e sobre os impactos que o lixo causa em nossas

vidas, cotidiano, meio ambiente e principalmente na água, conversamos sobre o

destino final do lixo, o que poderíamos fazer com ele e como ele pode nos prejudicar

muito se for principalmente descartado em qualquer lugar, aconteceram naquela

semana.

A turma realizou pesquisas e expos trabalhos sobre o que aprenderam e decidiram

construir uma “coleção de lixo”, que para o grupo não seria visto como lixo, mas que

com certeza seria descartado após o uso. O objetivo desta atividade foi a observação

das embalagens, conversa sobre a funcionalidade e quanto lixo produzimos ao

consumir e viver, sem perceber (ou não). A turma foi organizada em quatro grupos

amarelo (metal), verde (vidro), vermelho (plástico) e azul (papel). Também realizamos

pesquisas sobre cada um dos grupos para aprendermos ainda mais sobre cada um

destes resíduos.

Com a nossa coleção de embalagens um supermercado foi construído. A ideia surgiu

após uma aula de educação física quando a turma brincou com um mini carrinho de

supermercado. O supermercado ficou tão legal que teve sacolas, carrinhos de

compras, teclado de computador que virou caixa registradora e até dinheirinho com

associação e números, uma oportunidade também para trabalharmos legendas,

numerais, associações, equivalência e trocas. Assim como para Velasco (1996), o

brincar tem um papel significativo no desenvolvimento infantil, representa o desejo e

colabora com o surgimento das nossas expressões psicomotoras de maneira

harmoniosa e prazerosa.

Transmitir segurança e oferecer condições para que a criança interaja com o meio em

que inserida contribui também para que as professoras sejam aceitas e se tornem

referência de conforto e segurança para os pequenos.

Envolvidos com a brincadeira do supermercado a turma realizou o tão esperado

estudo do meio no supermercado Dalbem em Barão Geraldo. O objetivo do estudo do

meio foi relacionar os conteúdos abordados em sala com a prática da observação. As

crianças puderam observar na prática o consumo e a produção de lixo consciente com

a observação dos alimentos vendidos no empório (que reduzem a quantidade de

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embalagem utilizada). Também trabalhamos com o reconhecimento de letras, leitura e

comparação dos rótulos de produtos e numerais. Com um pequeno supermercado

montado em sala e a escrita de uma lista de compras, a turma foi ao supermercado

também para comprar ingredientes e fazer uma receita saudável que uma mãe do

grupo que é nutricionista, sugeriu para a turma. Durante o passeio observamos as

placas de identificação, as gôndolas, agrupamento e classificação dos produtos e

números descritos nos preços e na organização dos caixas. As crianças fizeram a

leitura da lista de compras escrita por elas em sala e compraram os ingredientes

necessários. Depois passaram pelo caixa, realizaram o pagamento e utilizaram

sacolas retornáveis para o transporte dos alimentos, evitando o consumo de

embalagens plásticas. Depois, finalizamos nosso passeio com um delicioso lanche

coletivo, afinal fazer compras é uma tarefa que dá muita fome.

Os ingredientes do bolo em mãos, foi só esperar a nossa visita chegar para a mão na

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massa colocar. E mexe que te mexe, com medidas e quantidades e muito amor e

carinho um delicioso bolo de maçã com casca a nossa turma fez. Com casca sim!

Porque é fibra, tem vitaminas e assim diminuímos ainda mais os resíduos produzidos.

Enquanto o bolo assava brincamos com massinha, a princípio livre e depois a

proposta foi modelar cocôs. Cada criança modelou o seu e vários tipos de cocôs

apareceram ali, moles, com pontinha, de bolinhas e bem grosso, atividade que

identificou a alimentação e hidratação das crianças, quem faz cocô de bolinha e muito

duro precisa tomar mais água e comer mais frutinhas. Aprendemos muito com a

contribuição da Carol também, mamãe da turma e nutricionista.

Mergulhamos fundo e escorregamos direto no mar para descobrir e aprender o porquê

o canudinho faz mal para a tartaruga, assim como o saquinho plástico é confundido

pelos peixes, como comida. Em um encontro cheio de mãozinhas curiosas e olhinhos

atentos, recebemos a visita muito especial da Carol, mamãe da turma que nós

mostrou que é possível transformar algo que iria para o lixo em brinquedo. Junto com

ela utilizamos garrafas pet para construir brinquedos, uma tartaruga e um peixe.

Para trabalhar e estimular as formas de expressão na criação dos brinquedos, por

exemplo, habilidade motora fina e expressões criativas, foram realizadas ao longo do

semestre, atividades livres ou direcionadas ao projeto sempre explorando diferentes

materiais e técnicas como: pintura com diferentes tintas, massinhas, canetinhas,

texturas, pinceis grossos e finos, papeis com diferentes tamanhos, pinturas em

diferentes posições sempre com novas possibilidades e ofertas tornando esses

momentos significativos, onde todas as crianças tivessem a oportunidade de vivenciar,

sentir e explorar do seu jeito, com a sua individualidade, para Derdyk (2003) existem

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várias formas de atividades onde o desenho pode se manifestar, com a possibilidade

de vários caminhos o desenho não possui uma única definição, não é somente o

manejo do lápis sobre uma superfície, mas carregado de significados é um meio de

conhecimento, expressão e comunicação.

As crianças trabalharam também em atividades e produções coletivas, o trabalho em

grupo ao longo do semestre foi muito importante para o fortalecimento de laços

afetivos entre as crianças, o aprendizado de conviver com as diferenças e de respeitar

a opinião do outro. Na faixa etária em que as crianças do jardim II encontram-se, elas

já superaram o egocentrismo, popularmente conhecido como dificuldade de dividir,

mas começam a experimentar as comparações com o outro, assim como a vontade de

fazer do seu jeito, então o trabalho coletivo é um exercício para aprender a respeitar o

corpo do amigo e aprender sobre os limites, enquanto produzem também trabalham

outros valores. Segundo Silva (2002), não se pode atentar somente para o produto

final, ou seja, o desenho e obra já prontos é importante para a criança, todo o

processo de criação, todas as ações e acontecimentos capazes de acontecer durante

o desenho. Durante a atividade gráfica em grupo as crianças imaginam e criam

situações de jogos simbólicos e interagem também com os materiais. Aproveitando as

produções coletivas, a exploração de texturas também foi explorada pelas crianças,

que desenharam no chão, construíram canos e modelaram com biscuit.

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Os canos foram nos levando para diversos caminhos, ouvimos músicas, fizemos

construções e descobrimos um personagem que entende tudo sobre os canos, ele é

mal humorado de vez em quando, mas também é muito engraçado, o Mau que mora

no castelo Rá-tim-bum. Muito curiosos resolvemos pesquisar mais sobre ele e de tanto

brincar de Mau pelos canos do castelo não é que os canos da escola começaram a

ser entupidos por uns pelinhos roxos exatamente da cor do Mau! Mais um trabalho

para a nossa turma, que não perdeu tempo e foi investigar os canos da escola.

Sabendo da nossa investigação recebemos uma carta em forma de enigma, cheia de

símbolos, que só conseguimos ler após recolher todas as pistas encontradas pela

escola. Para Piaget (1977), é no estágio pré-operatório que as crianças desenvolvem

sua maior capacidade de expressão simbólica, o que deve ser explorado pelo

professor através das brincadeiras. Cada símbolo representava uma letra e de letra

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em letra, símbolo em símbolo deciframos a mensagem e com ela descobrimos o

responsável pelo entupimento dos canos da escola. E não é que encontramos o

próprio Mau dentro de um cano? Levamos ele para a nossa sala e ele se tornou parte

do nosso grupo. A brincadeira com os canos e a água que passa por ali ficou muito

presente no cotidiano da turma, as crianças assim como Manoel de Barros

entenderam que “Desde o começo dos tempos águas e chão se amam.” E a assim,

brincando ludicamente o interesse da turma levou para a festa junina o rock do Mau

“tô chegando, tô chegando, tô chegando, cheguei!” Um cano pra gente chegar

escorregando e a peneira igual a do menino que carregava água e fazia peraltices.

Segundo o RCNEI (1998) as possibilidades de brincar devem respeitar a integridade

da criança e serem diversificadas com materiais, espaços e possibilidades, a fim de

desenvolver movimentos e experiências corporais durante a atividade de brincar.

O desenvolvimento do projeto e todo o trabalho realizado com a turma do jardim II,

também se apoiaram em recursos pedagógicos como: jogos, músicas, cartazes,

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brinquedos, livros e gibis, para desenvolver os conteúdos programáticos previstos

segundo o RCNI (1998), respeitando a faixa etária das crianças e o ritmo individual de

cada um, como a oralidade, coordenação motora fina e grossa, jogo simbólico, noções

espaciais e temporais, seriação e socialização. Assim internalizar e assimilar novas

descobertas e vivências é muito fácil e natural para a criança que aprende enquanto

brinca.

Ao longo do semestre a turma do Jardim II aprendeu a ouvir, um exercício um tanto

quanto difícil no inicio, mas que depois se torna melhor ainda do que falar. Ouvir

acalma e trás paz para o coração. O ouvir as professoras, ouvir os amigos e os sons,

foi muito importante para que juntas as crianças criassem uma identidade: turma do

Jardim II, mantendo o grupo unido, amigo e companheiro. Ao longo do semestre

exercitamos o nosso ouvir principalmente com músicas durante uma atividade e

histórias contadas na roda, no inicio mexendo também o corpo, mas depois fomos

aprendendo a ouvir em silêncio, com muita atenção. Ouvimos poemas, músicas e

histórias, mas depois de nos encantarmos com as águas, seus movimentos e

balanços, aprendemos também a ouvi-las. E descobrimos o quando gostávamos dos

seus sons.

Durante as aulas de música construímos o pau de chuva, que faz o som da chuva e

com ele cantamos e ouvimos os sons da água que Manoel de Barros descreve em

alguns de seus poemas.

Nossos interesses foram nós levando para o encontro destas águas e através de

experiências começamos a brincar com as águas e descobrir os caminhos que ela

percorria, dentro e fora da terra, ora água, ora chuva, ora vapor, ora gelo, para

começar tudo outra vez. Realizamos experiências que nos permitiram vivenciar os

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balanços da água, evaporação e filtro de água, natural que acontece quando a chuva

cai na terra e o construído, assim como o que trata a nossa água.

Vimos de perto cada um dos estados da água e compreendemos o porquê a água

ama a terra, o porquê a vida se faz com a água e construímos de forma que

pudéssemos experimentar o ciclo da água. Aprendemos diariamente com as

diferenças, temos curiosidades e com as descobertas encontramos ainda mais

perguntas. Nós tornamos um grupo e fortalecemos os vínculos de amizade entre nós.

Assim o semestre passou muito rápido e com o tempo que passou tão rápido para nós

descobrimos que, como disse Manoel de Barros “Escrever seria o mesmo que

carregar água na peneira” e de nada adianta se para nós não fizer sentido.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. MEC – SEF. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil: conhecimento de mundo. Volume 3, 1998. DERDYK. Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 2003. BARBOSA. Maria Carmem S. Por amor e por força – rotinas na Educação

Infantil. Porto alegre: Artmed, 2006

BARROS. Manoel de. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

PIAGET, J. Psicologia da inteligência. Rio de janeiro: Zahar, 1977.

SILVA. Silvia Maria Cintra da. A constituição social do desenho da criança. São Paulo: Mercado de Letras, 2002. VELASCO, Casilda Gonçalves. Brincar, o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.