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1º Ano de Vigência do Novo CPC (Virtualidades / Fragilidades) “A Renovação da Produção de Prova nas Instâncias de Recurso” Local: Funchal Data: 9 de janeiro de 2015 Paula Margarido – em parceria com a RSA LP

Renovacao P Prova Inst Recurso

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Código Processo Civil

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  • 1 Ano de Vigncia do Novo CPC

    (Virtualidades / Fragilidades)

    A Renovao da Produo de Prova nas Instncias de Recurso

    Local: Funchal

    Data: 9 de janeiro de 2015

    Paula Margarido em parceria com a RSA LP

  • A Renovao da Produo de Prova nas Instncias de Recurso

    ndice

    1. Consagrao na Lei Processual Civil duplo grau de jurisdio no mbito do

    julgamento da matria de facto

    2. Impugnao da matria de facto e o nus que recai sobre o recorrente - artigo

    640. do CPC

    3. A imposio estabelecida no artigo 662. do CPC

    4. Da verificao feita pelo Supremo Tribunal de Justia de que o Tribunal da

    Relao agiu dentro dos limites traados pela lei para modificar a matria de

    facto

  • 1. Consagrao na Lei Processual Civil duplo grau de jurisdio no mbito do

    julgamento da matria de facto

    Uma das funes mais nobres do Tribunal da Relao consiste no atual dever de alterar a deciso

    proferida pela primeira instncia, sobre a matria de facto, quando impugnada, em sede de

    recurso, e mesmo oficiosamente, conforme o estatudo no atual artigo 662. do CPC.

    Tarefa rdua, cujo grau de complexidade consiste em captar, com sentido crtico, os factos

    controvertidos a partir da narrao que trazida, mormente, pela prova testemunhal produzida em

    audincia de julgamento.

    No dizer do Prof. Dr. Lebre de Freitas no exigvel que a convico do julgador sobre a validade

    dos factos alegados pelas partes equivalha a uma certeza absoluta, bastando-lhe assentar num

    juzo de suficiente probabilidade ou verosimilhana.

  • Os vrios meios de prova, sujeitos s regras da contraditoriedade e da oralidade, analisados

    criticamente, atribuem ao juiz a legitimidade para declarar quais os factos que julga provados e no

    provados, devendo este indicar as ilaes tiradas dos factos instrumentais e especificar os demais

    fundamentos que foram decisivos para a sua convico, conforme o estatudo nos nmeros 3 e 4

    do artigo 607. do CPC.

    E so os fundamentos, indicados na sentena, que determinaram a convico do julgamento dos

    factos provados e no provados, que iro possibilitar a reapreciao da respetiva deciso, da

    matria de facto, pelo Tribunal da Relao.

  • Ora, e este duplo grau de jurisdio, no mbito do julgamento da matria de facto, foi consagrado na lei

    processual civil, de forma inequvoca, a partir da reforma de 1995/96.

    Esta reforma, que introduziu o registo da audincia de discusso e julgamento, com a gravao integral da

    prova produzida, proporcionou s partes o recurso quele duplo grau de jurisdio, conferindo-lhes uma maior

    e mais eficaz possibilidade de reagir contra eventuais erros do julgador.

    Foi inteno do legislador (referida no relatrio do Decreto Lei 39/95 de e no prembulo do Decreto Lei

    329- A /95 de 12 de dezembro) criar um duplo grau de jurisdio em sede de matria de facto.

  • E tal como refere o acrdo do STJ de 14 de fevereiro de 2012, Proc. 6823/09.3TBBRG.G1.S1,

    esse desiderato somente alcanado se a Relao, perante o exame e anlise crtica das provas

    produzidas a respeito dos pontos de facto impugnados, puder formar a sua prpria convico, no

    gozo pleno do princpio da livre apreciao da prova, sem estar limitada pela convico que serviu

    de base deciso recorrida, em funo do princpio da imediao da prova, princpio este que tido

    por absoluto transformaria este duplo grau de jurisdio, em matria de facto, numa garantia

    praticamente intil.

    Mas o legislador de modo a evitar impugnaes genricas ou generalizadoras da matria de facto

    imps ao recorrente determinados nus.

  • 2. Impugnao da matria de facto e o nus que recai sobre o recorrente - artigo 640. do

    CPC

    E aqui estamos perante uma ligao umbilical entre dois dispositivos legais o artigo 662. e o

    artigo 640 do CPC.

    Efetivamente, se pretendemos que, ao nvel da deciso proferida sobre a matria de facto, o

    Tribunal da Relao a altere, ordene a renovao da produo de prova, bem como a produo de

    novos meios de prova, anule a deciso proferida na 1. instncia ou determine que este Tribunal a

    fundamente, tendo em conta os depoimentos gravados ou registados, ento, e para tanto, o

    recorrente ter que dar cumprimento ao artigo 640. do CPC.

  • O artigo 640. do CPC (que corresponde parcialmente ao ex-artigo 234 A e 685. - C) claro ao assinalar ao

    recorrente, sob pena de rejeio imediata do recurso, o nus de obrigatoriamente especificar:

    a) Os concretos pontos de facto que considere incorretamente julgados;

    b) Os concretos meios probatrios, constantes do processo ou de registo de gravao nele realizado, que impunham

    deciso sobre os pontos da matria de facto impugnados diversa da recorrida;

    e neste caso, quando o meio probatrio invocado como fundamento do erro na apreciao das provas tiver sido

    gravado, o recorrente dever , sob pena de rejeio imediata, indicar com exatido as passagens da

    gravao em que se funda o seu recurso, sem prejuzo de poder proceder transcrio dos excertos

    que considere relevantes;

    e independentemente dos poderes de investigao oficiosa do Tribunal, incumbe ao recorrido designar os

    meios de prova que infirmem as concluses do recorrente, e se os depoimentos tiverem sido gravados,

    indicar com exatido as passagens da gravao em que se funda e proceder, querendo, transcrio

    dos excertos que considere importantes.

    c) a deciso que, no seu entender , deve ser proferida sobre as questes de facto impugnadas.

  • Destarte, o recorrente deve indicar os concretos pontos de facto considerados incorretamente

    julgados, com referncia aos depoimentos que alegadamente impem deciso diversa da

    proferida pelo Tribunal a quo, indicando com exatido, no caso de prova gravada, as passagens

    da gravao em que se funda o seu recurso e especificando a deciso que, em seu entender,

    deve ser proferida sobre a questo de facto impugnada.

    Tal como refere a Juza Desembargadora Ana Lusa Geraldes, no cumprem as exigncias legais

    da especificao, a mera indicao, sem mais, de um determinado meio de prova, bem como o

    extrato de uma simples declarao da testemunha, sem correspondncia com o sentido global do

    depoimento produzido.

  • O recorrente ter que ser meticuloso e parcimonioso, na forma como procede impugnao da matria de

    facto, no efetuando uma mera aluso a depoimentos parcelares e sincopados, sem indicao concreta das

    insuficincias ou deficincias da prova produzida, em confronto com o resultado alcanado pela 1. instncia.

    E tal como refere o acrdo do STJ de 04 de julho de 2013 (Proc. 1727/07.1TBSTS-L.P1.S1) a delimitao

    concreta dos pontos de facto considerados incorretamente julgados e demais nus impostos pelo (antigo)

    artigo 685.-B, do CPC (atual artigo 640. do CPC) h de ser efetuada no corpo da alegao, bastando nas

    concluses fazer uma referncia muito sinttica s razes por que se pretende a sua alterao, sem

    necessidade de transcrever (ou copiar) o que a respeito se escreveu no corpo da alegao.

  • Por sua vez o tribunal de recurso dever debruar-se sobre os diferentes pontos da matria de

    facto questionados pelo recorrente, fazendo recair sobre eles a sua anlise crtica e incisiva sobre

    os meios probatrios indicados, revisitando as provas em que o recorrente se abonou, atestando

    ou infirmando as razes probatrias em que se fundou a 1. instncia, no sendo um mero

    controlador formal da motivao efetuada em 1. instncia.

  • 3. A imposio estabelecida no artigo 662. do CPC

    Vejamos, ento, o artigo 662. do CPC (que corresponde parcialmente ao ex-artigo 712.) cuja

    redao, sobre a modificabilidade da deciso de facto pelo tribunal de 2. instncia, foi muito

    controvertida entre os membros da Comisso, porquanto alguns consideravam que o artigo 712. j

    continha as solues possveis, ao invs, de outros que pretendiam ir mais alm.

    No sem antes olvidar que j havia sido preconizada pelo STJ a orientao segundo a qual o

    tribunal da Relao dever formar e fazer refletir na deciso, sobre a alterao da matria de facto, a

    sua prpria convico, na plena aplicao e uso do princpio da livre apreciao das provas, nos

    mesmos termos em que o deve fazer a 1. instncia, orientao esta que desautorizou alguma parte

    da doutrina plasmada em certas decises do Tribunal da Relao.

  • Alis um dos vrios Acrdos do STJ sobre esta matria, da modificabilidade da deciso de

    facto, de 28 de fevereiro de 2012, o n. 824/07.8 TBLMG.P1.S1, refere que se a Relao no

    procedeu como devia anlise dos meios probatrios indicados pelas partes, no concretizou

    qualquer referncia aos contedos dos depoimentos testemunhais, relacionando-os com os pontos

    de facto que o recorrente questionou, e no tocou em quaisquer das dvidas srias, suscitadas

    pelas alegaes da apelao, antes se quedando por um juzo meramente conclusivo ou

    inconcludente, sem nada dizer sobre a concreta atividade de reponderao de prova, no pode

    esse juzo ser considerado como fundamentao bastante ou suficiente, envolvendo, tal

    procedimento, a clara violao das disposies legais que visam garantir o efetivo duplo grau de

    jurisdio em matria de facto, sendo portanto nulo o acrdo recorrido.

  • Alis, o n. 2 impe o dever Relao de, mesmo oficiosamente:

    a) ordenar a renovao da produo de prova, quando houver dvidas srias sobre a credibilidade do depoente

    ou sobre o sentido do seu depoimento;

    b) ordenar a produo de novos meios de prova, em caso de dvida fundada sobre a prova realizada;

    c) anular a deciso proferida em 1. instncia quando, no constando do processo todos os elementos que,

    nos termos do nmero anterior, permitam a alterao da deciso proferida sobre a matria de facto, repute

    deficiente, obscura ou contraditria a deciso sobre pontos determinados da matria de facto ou quando

    considere indispensvel a ampliao desta;

    d) determinar que o tribunal de 1. instncia fundamente a deciso proferida sobre algum facto essencial para

    o julgamento da causa, tendo em conta os depoimentos gravados ou registados, porquanto considera que a

    mesma no est devidamente fundamentada= inovador e introduzida pela Assembleia da Repblica.

    Na verdade, o n. 1, do artigo 662. do CPC passa a estabelecer a IMPOSIO de que a Relao deve alterar a

    deciso sobre a matria de facto se os factos tidos como assentes, a prova produzida ou um documento

    superveniente impuserem deciso diversa (ao invs do anterior pode) .

  • A redao do artigo 662., encerra uma grande proximidade com o explanado no ex-artigo 712.,

    exceo do seu carcter impositivo (o tal deve alterar por contraposio com o pode alterar

    - que se reveste de indiscutvel relevncia.

    O tribunal da Relao, ao dar cumprimento ao atual artigo 662.,(ex-artigo 712.) no procurar

    obter uma nova convico a todo o custo.

    Antes verificar se a convico que est expressa pelo Tribunal a quo tem suporte razovel, em

    face dos elementos que constam dos autos e aferir se houve erro de julgamento na apreciao

    da prova e na respetiva deciso sobre a matria de facto

  • Apesar do elevado nmero de recursos, que pretendem uma alterao sobre a deciso da matria

    de facto proferida na 1. instncia, poucos lograram alcanar o resultado pretendido.

    Porqu?

    1 - Decises (poucas) da Relao aliceradas em entendimentos formalistas, do ex-artigo

    712., que chegando ao STJ so consideradas nulas, por falta de fundamento.

    2 As frequentes tentativas de os recorrentes confrontarem os tribunais da Relao com a

    impugnao total da matria de facto, como se fosse a repetio do julgamento, evidenciando

    aquela deficincias ou insuficincias na enunciao dos pontos de facto que se pretendem

    impugnar e omitindo as respostas que em alternativa se pretendem obter, no dando assim

    cumprimento ao artigo 640. do CPC.

  • 4. Da verificao feita pelo Supremo Tribunal de Justia de que o Tribunal da

    Relao agiu dentro dos limites traados pela lei para modificar a matria

    de facto

    .

    Cumpre, apenas, nesta sede temtica, recordar que entendimento pacfico que embora o

    STJ no possa sindicar a correo da reapreciao de prova efetuada pela Relao, pode

    (como j verificmos em algumas citaes de acrdos) averiguar se o tribunal recorrido, ao

    manter ou alterar a deciso da matria transitada da 1. instncia, violou, ou no, a lei

    processual que estabelece os pressupostos e os fundamentos em que se deve mover a

    reapreciao da prova, isto , se utilizou corretamente os poderes, que em matria de facto, a

    lei lhe concedeu ou se violou qualquer regra de direito probatrio material.

    Ora, quer num, quer no outro caso, j se est no domnio de matria de direito, nos termos do

    qual o STJ tem poderes para intervir.

  • Em jeito de concluso

    I - O Tribunal da Relao assegura o duplo grau de jurisdio, no mbito do julgamento

    da matria de facto, nos termos consignados no artigo 662. do CPC.

    II Para que possa existir o tal duplo grau de jurisdio os recorrentes e recorridos

    tero que, escrupulosamente, dar cumprimento ao nus de especificao discriminado

    no artigo 640. do CPC.

    III O artigo 662. do CPC impe o dever de a Relao alterar a deciso sobre a

    matria de facto, se se verificarem os pressupostos do citado preceito, no procurando

    uma nova convico, mas antes verificando se desta emana a tal razoabilidade, que

    advm dos elementos que constam nos autos, aferindo, ainda, se houve erro na

    apreciao da prova e na respetiva deciso sobre a matria de facto.

    IV Ao STJ cumprir averiguar se o tribunal da Relao, ao manter ou alterar a

    deciso sobre a matria de facto da 1. instncia , violou, ou no, o artigo 662. do CPC.

  • MUITO OBRIGADA!

    Paula MargaridoFunchal, 9 de janeiro de 2015

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