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Eduardo Pimenta RESEGÇÕES SUB-PERIOSSEAS Dissertação Inaugural APRESENTADA í ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL 66, Rua da Fabrica, 66 1889 i " ^ / 3 E*|.e>;

RESEGÇÕES SUB-PERIOSSEAS · Havers figuram círculos vermelhos, umas vezes replectos de detritos ósseos, outras, porém, tendo a coloração reduzida a uma aureola avermelhada,

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Eduardo Pimenta

RESEGÇÕES SUB-PERIOSSEAS

Dissertação Inaugural

APRESENTADA í

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL

66, Rua da Fabrica, 66

1889

i "^ /3 E*|.e>;

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ESCOLA MEDEO-CIRURGICA DO PORTO CONSELHEIRO-OIRECTOR

VISCONDE DE OLIVEIRA

SECRETARIO

RICARDO D'ALMEIDA JORGE

CORPO D O C E N T E Professores proprietários

t.a Cadeira—Analomia descriptiva . e geral J0a0 Pereira Dias Lebre.

2." Cadeira—Physiologie Vicenle Urbino de Freitas. j . a Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia me­dica Dr. José Carlos Lopes.

4.a Cadeira-Pathologia externa e therapeutica externa Antonio Joaquim de Moraes Caldas.

5-a Cadeira—Medicina operatória. Pedro Augusto Dias. o.a Cadeira —Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re-cem-nascidos Dr. Agostinho Antonio do Souto.

1^ Cadeira—Pathologia interna e therapeutica interna António d'Oliveira Monteiro.

K.a Cadeira —Clinica medica . . . Antonio d'Azevedo Maia. <;.a Cadeira-Clinica cirúrgica . . Eduardo Pereira Pimenta.

:o." Cadeira—Anatomia pathologi-c a Augusto Henrique d'AImeida Brandão.

1 i." Cadeira— Medicina legal, hy­giene privada e publica e to­xicologia . Manoel Rodrigues da Silva Pinto.

I2.a Cadeira—Pathologia geral, se-meiologia e historia medica . Illidio Ayres Pereira do Valle.

I harmacia Isidoro da Fonseca Moura.

Professores jubilados Secção medica I J° a° Xavier d'Oliveira Barros.

/ José d Andrade Gramacho. Secção cirúrgica Visconde de Oliveira.

Professores substitutos Secção medica j Antonio Placido da Costa.

\ Maximiano A. d'Oliveira Lemos Junior. Secção cirúrgica j Ricardo d'AImeida Jorge.

\ Cândido Augusto Correia de Pinho. Demonstrador de Anatomia

Secção cirúrgica Roberto Belarmino do Rosário Frias.

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A Escola nao responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas' nas proposições.

(Regulamento da Escola de 23 d'abril de 1840, art. 155)

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Á MEMORIA

DE

MINHA MÃE

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A MEU FAE A MINHA AVÓ

E

AO SINCERO AMIGO E DEDICADO PARENTE

José Eduardo Ferreira Pinheiro

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Ao Ex."10 Snr. Dr.

MAGALHÃES LEMOS PRECLARISS.IMO ALIENISTA

HONESTÍSSIMO CARACTER E RADIOSÍSSIMO TALENTO

AO DISTINCTO NATURALISTA AMADOR

EX."1» SNR.

oJoùé (Seixetra da G>itva Q/õraga, Q/um-ot-

Vice-consul do Império do Brazil

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Aos Íntimos DIJ. trindade? Coelho Cândido da Cruz Hujusto de Castro ífteirelles Leão Shomaz Leão Hdriano Pimenta Runes Bomfirrç Joaquirç flftacedo Francisco Pessanha Diç. Hntonio Rocha Vaz Pereira Julio <»ri|o Costa Malfeito Zeferino Bor |es

A

José Sampaio (Bruno) Luiz Botelho Alfredo Alves Manoel de Moura

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AOS MEUS AMIGOS

CONDISCÍPULOS E C O N T E M P O R Â N E O S

2)r. (Alberto SSjzvarro T>r. Gaudêncio Pacheco Gonçalves Figueiredo oAdolfho d'<Artaiett Carlos Faria Carlos Lima Castro Ferreira Antonio d'Azevedo Antonio Peamos Fernando dAlmeida Joaquim Urbano Almeida Ferra^ Bernardino (Moreira Ortigão de (Miranda Antonio Barreira Julio Peamos Jorge Pereira José tMarta de UVloura

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AO MEU DIGNO PRESIDENTE

EX.*>° SNR.

Dr. Agostinho António do Souto DISTINCTO LENTE DE PARTOS

E AOS

Ex.™ Snrs. Drs.

Q%#4ató ^a/afaá

0 discipufô ag-raaectdo.

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E. P.

Lagrima celesle! Pérola do mar !

Joio DE DEUS

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DUAS PALAVRAS

Referindo-se um brilhante estylista e distincto professor ao antigo theatro ana­tómico, encantoado ao fundo d'um lobrego corredor da velha escola, dependência da mole ingente de despropositada e phantas-tica construcção, o Hospital Real de S. An­tonio, escrevia elle, na sua linguagem sa­diamente forte, onde ressumbram uns frouxos de ironia, as seguintes e lisongei-ras palavras sobre a cirurgia portuense:

«N'esse alfobre de dissecadores peritos,

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tarn ferventemente cultivado pelos dous respeitáveis mestres \ brotaram os pro­gressos da cirurgia portuense. N'aquelle angustiado theatro anatómico, enriquecido somente pela unidade e valentia do traba­lho, rompeu uma escola cirúrgica de que pode ufanar-se a nossa casa.

As grandes e delicadas operações, nun­ca vistas até então entre nós, aquellas mes­mas a que tam somente se abalançavam lá fora, os mestres mais abalisados da sciencia começaram de ser praticadas.»

E desde então para cá, todos os annos, os alumnos que frequentam a clinica, tem occasião de ver e até de praticar as mais variadas operações de polycirurgia.

Mas os horisontes dos processos ope­ratórios cada vez se allongam mais; o que hontem era impossível, e até o que nem se permittia a louco phantasiar, é hoje uma realidade praticável sem receios timo-

1 Vicente José de Carvalho e Bernardo Joaquim Pinto.

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ratos, com um desassombro verdadeira­mente tranquilisador.

A gynecologia era um ramo quasi des­conhecido ou por inteiro ignorado no nos­so meio; a intervenção cirúrgica nas affec-ções que reclamam a abertura da cavidade peritoneal, impraticável, porque ás mãos do cirurgião faltava a firmeza, que a coragem assegura; ha uns poucos de annos que o temor se dissipou, fazendo-se no Porto duas ovariotomias ; e hoje pôde dizer-se, com a certeza da convicção, que graças a um esforço louvável' e a uma tenacidade de ferro, as operações abdominaes assentam o seu arraial, entre nós, perdendo o seu pres­tigio pavoroso e entrando no numero das operações ordinárias e correntes.

Perto virá o tempo em que o êxito mais brilhante coroará esta implantação, e em que nas estatísticas do hospital será lançada mais esta verba dos progressos ci­rúrgicos da nossa escola.

1 Refiro-me ás operações praticadas pelo exe.1110 snr. dr. Azevedo Maia.

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E o Porto terá respondido eloquente­mente á seca pergunta feita pelo professor Alves Branco, no importante discurso, proferido na sessão solemne da Sociedade de Sciencias Medicas de Lisboa*.

E noemtanto um outro grupo de ope­rações, tão notáveis quanto úteis pelos be­néficos resultados, tem sido votado a um desolador esquecimento, não nos constan­do que em Coimbra ou Lisboa se houves­se colhido resultados das resecções sub-pe-riosseas; emquanto que lá fora, depois de ser lançada ao mundo scientifico pela voz de Duhamel/como um pregão annunciando uma nova conquista, a importância do pe-riosseo para a reproducção do osso, appa-receram grupos de devotados a esta causa, chegando a realisar-se a reproducção inteira e completa d'um osso d'um membro sem quebra para este da sua integridade fun­cional.

A leitura dos resultados assombrosos,

1 E em Portugal ?

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colhidos por Oilier,-ti conhecimento da di­minuição da gravidade das feridas pelos cuidados da antisepcia, despertou no nosso cérebro a ideia de escrever, sobre este ponto embora modestamente e sem vislumbres de pretensão estulta a grande sciencia, sorrindo-nos, somente a esperança de que algumas attenções se afirmariam sobre um ponto de profícuos resultados, angariando assim, mais uma consagração aos progres­sos da cirurgia.

Oxalá que tal desideratum se realise, pois que nós confessamos, que nos falleceu a coragem, pela nossa impotência, na rota d'esté trabalho a que nos abalançamos ; se-ja-nos comtudo para a realisação d'esta prova final, estrella guiadora a benevolên­cia do jury.

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Na reunião do terço tnedio, com ti terço inferior do radio, perten-eente ao segmente superior que está do lado direito, cncontra-5ï um nó­dulo ósseo, reproduzido é custa do periosseo,

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CAPITULO I

Histologia do tecido ósseo

O tecido ósseo, constitutivo do esque­leto dos vertebrados, é d'um estudo com­plicado, pela variabilidade dos elementos, phenemonologia do desenvolvimento e di­versificação das origens; formando-se uns ossos á custa d'um tecido conjunctivo fibroso e outros da cartilagem que substi­tuem ou envolvem de camadas peripheri-cas, augmentando-lhe o volume, sem alte­ração da forma.

No campo do microscópio, que lhe

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devassa a estructura e lhe explora todos os elementos, desvendando os mysterios da sua intimidade, á luz d'uma fraca obje­ctiva, um corte transversal d'um osso comprido, feito ao centro d'uma diaphise, apparece sob o aspecto d'um annel cujas camadas externas são formadas por um sys-tema contínuo de laminas, realisando assim o systema de «laminas periphericas»; e cujo bordo central onde se accosta a medulla, substitue a disposição das camadas conti­nuas por uma imbricação das laminas, mudando só o nome do systema; de peri-pherico, que era, passou a chamar-se «peri medullar»; medeiando, entre estas duas zonas terminaes, estão os canaes de Havers, análogos ao circulo ôco do canal da me­dulla, mas de mais exiguo diâmetro, cir-cumdados por um systema de laminas, cuja disposição lembra a das camadas con­cêntricas, envolvente do osso em toda a peripheria.

Por vezes dois systemas approximam-se, tocando-se, outras porém, estão 'separa­dos por systemas especiaes de laminas,

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que são os «systemas de laminas interme­diarias.»

Uma individualidade morphologica, re­cortada como um polygono estrellado, ha­bita em todos os systemas laminares, mos-queando-os de negro.

Dos vertices d'esses polygonos, chama­dos corpúsculos ósseos, sahem, anastomo-sando-se delgadíssimos canaliculus, que são os canaliculus primitivos.

Eis n'um esboço rápido, traçada a con­figuração do tecido ósseo; d'um modo ge­ral, clareada a disposição complicada dos seus elementos, sobre cada um dos quaes vae incidir a nossa attenção.

Canaes de Havers.—Dado um corte no sentido longitudinal da diaphyse e im-bebendo-o n'uma solução ammoniacal de carmim, as duas faces da preparação ficam tingidas por completo de vermelho; mas passando-as por uma pedra d'amolar suc­cède que o carmim subsiste nos pontos, onde se abrem os canaes de Havers, desap-parecendo no resto da superficie.

Em cortes d'esta ordem os canaes de

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Havers apparecem sob a forma de tubos anastomosados, seguindo todos um traje­cto na direcção do eixo do osso e man­tendo relações de communicação, por meio de canaes obliquos, realisando assim nas malhas interceptadas, o traço geométrico d'um losango.

N'um corte transversal os canaes de Havers figuram círculos vermelhos, umas vezes replectos de detritos ósseos, outras, porém, tendo a coloração reduzida a uma aureola avermelhada, orlando a sua cir-cumferencia.

Ranvier julga as aureolas do tecido es­ponjoso, como se ellas fossem canaes de Havers, consideravelmente alargados, de modo que entre elles não houvesse senão uma fraca camada de tecido ósseo, sempre disposto, sob a forma de laminas concên­tricas.

Corpúsculos ósseos e canaliculus primitivos. — Pela observação, combinada de cortes longitudinaes e transversaes verifica-se que os corpúsculos, e em especial, os que vivem nos systemas periphericos, peri medulla-

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res e de Havers apresentam a forma d'um ovóide achatado na direcção do plano for­mado, pelas laminas onde se encontram.

Os canaliculus primitivos ' anastomo­se uns com os outros, indo desaguar nos canaes de Havers, com os quaes estabele­cem communicações directas; facto assente e comprovado por todos os histologistas.

Além d'estes elementos Ranvier^desco-briu, entre os corpúsculos comprehendidos na trama dos systemas de Havers, uns redu­zidos a uma simples fenda, cujas dimen­sões não excediam as do canaliculo pri­mitivo e que elle descreveu do seguinte modo: «Taes fendas representam corpús­culos, não só pelo lugar que occupam umas relativamente ás outras, mas também por­que os canaliculus primitivos, oriundos de corpúsculos visinhos, chegam a ellas por uma linha perpendicular ao seu eixo e comportam-se d'um modo análogo ao dos canaliculus com os corpúsculos; denomino

1 Archives de physiologie —1875-pag. t6.

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esses corpúsculos delgados «confluentes lacunares» dos ossos; considero-os como corpúsculos ósseos, caminho da atrophia ou já atrophiados.

«Os corpúsculos que estão nos limites periphericos d'um systema de Havers apre­sentam duas ordens de canaliculus. Os in­ternos, são rectilineos ou ligeiramente si­nuosos, dividindo-se e anastomosando-se por inosculação com os dos corpúsculos visinhos; os externos seguem em linha recta até ao limite dos canaes de Havers; mas chegados ahi, em vez de se anastomo-sarem com os canaliculus emanados d'um systema de Havers, recurvam-se sobre si próprios, vindo anastomosar-se com os ca­naliculus seus congéneres e aos quaes eu chamo «canaliculus récurrentes.»

Nas camadas superficiaes dos ossos en­controu Sharpey-*fibras amarelladas e que elle denominou fibras perfurantes, pene­trando no osso numa direcção perpendi­cular ou obliqua á sua superficie; os cor­púsculos estão collocados nos ângulos existentes entre essas fibras, e os canalicu-

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los contornam-n'as e anastomosam se em volta d'ellas, sem as atravessarem nunca.

Estudados assim os elementos que re­sistem á maceração, investiguemos agora a natureza do contheudo dos corpúsculos ósseos, e vejamos o que nos apparece pela descalcificação do osso, pela acção dos ácidos.

N'ura corte tenuissimo, praticado n'um fragmento d'osso descalcificado pela acção do acido picrico, examinado na agua, re-velam-se as seguintes particularidades mor-phologicas: o traçado anguloso, perimetro do corpúsculo ósseo, patenteia no centro da sua área um núcleo ovalar, relacionado com a parede do corpúsculo, por meio d'um prolongamento granuloso, seguindo um trajecto ondulado.

Este prolongamento corresponde, se­gundo Ranvier, ao corte óptico d'uma la­mina protoplasmica d'uma notável delica­deza.

Como d'essa lamina protoplasmica não sahem filamentos que penetrem nos cana­liculus primitivos, pensam os histologistas

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que a cellula óssea propriamente dita ê uma cellula achatada, modelando-se na pa­rede do corpúsculo ósseo, tauxeiada por um núcleo globuloso.

A substancia óssea é fundamentalmente formada pela reunião das laminas ósseas e constituída por um agrupamento dosseina e de saes calcareos.

O processo mais exacto para uma averiguação perfeita da distribuição dos variados systemas de laminas, é o do tra­tamento do corte transversal da diaphyse,

t-pelo bálsamo de Canada, que torna os ca­naliculus quasi invisíveis, sem prejuízo do exame morphologico dos systemas lami­nares. , E tanto em cortes transversaes, como

nos longitudinaes, no campo d'uma obje­ctiva, cujo angulo meça uma larga abertu­ra; quer no systema peripherico, quer nos systemas concêntricos aos canaes de Havers, ha sempre duas ordens de laminas alter-nando-se para se succederem por camadas, ora homogéneas obscuras, quando a obje­ctiva as floquea, ou brilhantes quando se

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affasta do foco; ora estriadas, obscuras quanto mais longe da objectiva ou bri­lhantes quanto mais d'ella se approximam.

As primeiras receberam o nome de ho­mogéneas, as segundas de estriadas.

Periosseo—E' o periosseo, na definição de Ranvierj- uma membrana fibrosa, que representa em volta do osso uma bainha análoga ás apenevroses envolventes dos músculos.

Embora distinctado osso, esta membra­na não goza d'uma absoluta liberdade, pois que lhe está adhérente por uma serie de tractos que não permittem a sua separação, sem um certo esforço.

Para o estudar na sua estructura em­prega Ranvier um processo, sobre o qual eu não insisto, pois que os factos a que elle chegou são dos mais precisos e rigorosa­mente exactos.

Assim num corte transversal, o perios­seo divide-se em duas camadas, accentua-damente différentes, uma interna, mais es­treita, mais carregada em côr, e granulosa; outra externa, clara, rosea, percorrida por

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uma re Je de fibras elásticas que lhe tecem uma trama de malhas de varia grandeza, occupadas por feixes connectivos, cortados transversalmente.

Na camaJa interna, a rede elástica é mais apertada, as suas fibras mais finas e os feixes connectivos mais delgados; na superficie d'esses feixes existem cellulas connectivas, que cortadas, semelham um crescente mourisco; e gotteiras semi-circu-lares onde na metade ou três quartos da sua cavidade estão comprehendidos os capillares.

Nos pontos, em que o periosseo está separado do osso, veem-se as fibras arcifor-mes, ligando intimamente o periosseo ao osso.

Na parte interna do periosseo, ha uma camada de cellulas, análoga, ás cellulas medullares, conhecida pelo nome de camada osteogenica, e de tal modo ligada á parte fibrosa que se lhe não podem assignalar limites precizos, o que se evidenceia quando experimentalmente se tenta separar o pe­riosseo do osso ficando mais osteoblas-

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tos do lado d'aquellas do que do lado d'esté.

Em resumo, o periosseo é essencial­mente formado por feixes conjunctivos, fibras elásticas, seguindo uma directriz ver­tical, vascularisado na parte interna por ca­pillars e intimamente soldado ao osso por fibras conjunctivas que lhe asseguram a còrinexão.

Medulla. —A medulla, verdadeiro Pro-teu, afivelando variados aspectos, umas ve­zes semelha um massa adiposa amarellada,^ ou uma polpa avermelhada e outras vezes é mucosa, gelatiniforme e até fibrosa.

E assim como a forma, também é múl­tipla a sede, podendo encontrar-se em todos os pontos do osso desde o canal central, aureolas do tecido esponjoso, até aos canaes de Havers.

Deixando o processo technico, usado habitualmente para o estudo da medulla,-eu passarei a descrever, d'um modo rápido, cada um dos seus elementos.

Cellulas adiposas. — Cellulas perfeitas; membrana d'envolucro muito distincta,

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separada da massa gordurosa por uma substancia protoplasmica, que em um dos seus pontos apresenta um núcleo lenticu­lar.

Cellulas lymphaticas—medullocelos—Apre­sentam a variabilidade de diâmetro, apa­nágio das cellulas da lympha; á tempe­ratura de 30.0 ou 40.0, movimentos ami-boides; algumas tem granulações acizenta­das; tratadas pelo acido acético, ou pelo alcool umas revelam um núcleo arredon-

, dado outras, dois, três, quatro ou mais, Cellulas de núcleo gemmador'.—Maiores

do que as precedentes; núcleos reconhecí­veis quando examinados no soro sanguí­neo; immoveis; corpo granuloso; as gra­nulações algumas vezes dispostas em ca­madas concêntricas; um núcleo com rele­vos ou uma serie de núcleos independentes ou ligados entre si por filamentos, forma­dos por uma substancia análoga á da sua massa.

1 Bizzozero. Sul midolo d'elle ossa. Napoli, 1869, pag- 11.

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Ceïlulas de núcleos múltiplos ou myelopla-xes\—Mais ou menos espessas, com nú­cleos em vários planos; massa protoplas-mica granulosa; immoveis, mesmo quando depostas em platina aquecida.

Osteoblastos.—Descobertos por Gegen-baur. Massas de protoplasma prismáticas, granulosas; núcleo ovalar, situado na visi-nhança d'um dos bordos.

Fica exposto, n'este capitulo, para a fa­ctura do qual tivemos de soccorrer-nos do poderoso concurso de duas obras magis-traes, a technica histológica de Ranvier e a embriologia de Kõlliker, d'um modo geral o que era indispensável apurar-se da histo­logia do tecido ósseo, para a comprehensão d'esse maravilhoso phenomeno da repro-ducção dos ossos resecados.

1 Robin. Comptes rendus de la Société de biologie.

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CAPITULO II

Reseeções s u b - p e r i o s s e a s

EXPERIÊNCIAS FUNDAMENTAES

No ultimo quartel do século dezoito, século predestinado para as grandes desco­bertas da sciencia, gerador de novas e gran­diosas ideias, dois hábeis cirurgiões, Park e Moreau, abrindo largos horisontes ao espirito humano, levados pelo pensamento altruísta de evitar as amputações dos mem­bros, cujos ossos se necrosavam ao influxo destruidor da carie, substituindo-as pela extracção das partes ósseas doentes, mas vivas, marcavam na historia da cirurgia uma nova phase conservadora, inauguran­do o methodo das reseeções ósseas.

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Mas o conjuncto de dificuldades, que surgiram, erguendo óbices á corrente pro­gressiva, os receios timoratos d'uma pru­dência condemnavel, fizeram com que o novo methodo não alcançasse o logar d'honra que de justiça lhe era devido na hierarchia dos processos operatórios.

Duhamel, analysando a estructura do periosseo e reconhecendo o seu poder os-teogenico concebeu e emittiu a brilhante e profícua ideia de regenerar o osso á custa do periosseo; tal concepção, porém, não encontrou adeptos, ficando porlargos annos infrutífera, mas a attenção dos cirurgiões desviada para outros ideaes, veio concen­trar-se outra vez n'este ponto, graças aos trabalhos de Heine e Flourens, do que re­sultaram algumas tímidas tentativas; até que um cyclo exuberante de satisfactorias experiências, demonstrativas não só do modo de reconstituição do osso, mas tam­bém das condicções fomentadoras de tal reconstituição, assegurou á pratica das resecções uma perdurável vitalidade.

Ficava ainda um ultimo receio; tanto

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mais justificado quanto elle provinha das complicações que appareciam na ferida, complicações iam graves como a suppura-ção do foco da resecção e os processos in-flammatorios regressivos que n'ella se da. vam; mas em breve tal temor se dissipou porque o aperfeiçoamento dos pensos anti-septicos, em especial o de Lister, mudando as condições, poz a ferida a coberto dos ataques das suppurações infecciosas.

A pedra angular onde se firma o valor da resecção sub periossea, é a propriedade osteogeradora do periosseo.

Já em 1846, Flourens ennunciava com um enthusiasmo que o levou ao erro a se­guinte lei:

«O periosseo destruido, reproduz-se de novo; e uma vez reproduzido reproduz o osso.

A primeira parte de tal enunciado inu-tilisava a segunda; porque o periosseo só serviria a apressar a reconstituição do osso, mas não seria indispensável a tal reconsti­tuição. Embora posta de parte esta errónea afirmativa, o que é certo, é que a maioria

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dos cirurgiões não admittiram o methodo sub periosseo, por não acreditarem nas propriedades ostogenicas da bainha dos ossos.

As experiências comprovativas de Hei­ne e de Flourens, encontravam um dique nas experiências realisadas por Charmeil e Mediei.

A brilhante e genial theoria do Duha­mel, dificilmente se sustentava sob o pezo dos golpes dos imperterritos e inabaláveis anatómicos, Scarpa, Bichat e Leveillé; e era tão somente invocada para a explicação de alguns phenomenos obscuros da necrose.

Mas quando a idêa de Duhamel parecia sossobrar, esmagada pelo sceptismo de uns e pelo afïerrado apego de outros a velhas theorias, Oilier, numa serie brilhante de experiências, cuja technica consistia em iso­lar o periosseo dos tecidos periphericos, destacal-o do osso e transportal-o a regiões longinquas do mesmo individuo ou d'um individuo extranho, conseguiu a ossificação do periosseo em todo os meios, onde lhe foi possivel enxertai-o.

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A leitura do capitulo interessantissimo de Oilier, na sua curiosa obra, Tratado das resecções, despertou em mim a ideia de ve­rificar uma das suas experiências, sendo tal tentamen coroado, com um resultado excedente á minha expectativa.

Tendo previamente chloroformisado um coelho novo, fiz cahir uma incisão no bordo radial do ante-braço; segui aftas-tando as camadas musculares até ao osso, d'onde destaquei uma porção de periosseo que distendi sobre os músculos da região antero-interna; depois do que, uni os bor­dos da pelle por meio d'uma costura de pontos separados, deixando o coelho em plena liberdade. Passados quinze dias sen-tia-se sobre o osso um corpo extranho com um bordo superior cortante, que ao cabo de vinte dias sofFreu um endureci­mento completo.

Pelo exame a que procedi na necropse do membro operado, reconheci haver- se formado um novo osso de 0,007 de com­primento por 0,0035 de altura.

Mas como o tempo me escasseasse,

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embora tivesse tentado mais outras expe­

riências, não pude continuar na minha ■ obra de verificação, restando­me comtudo a certe'za de ter podido conhecer as pro­

priedades osteogenicas do periosseo, quando este não era destacado na sua contiguidade senão por um lado, ficando o retalho pelo outro nas suas intimas relações com o osso que embainhava.

Mas o que é certo é que o periosseo por inteiro destacado e transportado sob a pelle para regiões affastadas do osso, que envolvia, por ex. a pelle da fronte, no mesmo individuo, ou noutro da mesma espécie, reproduz um osso verdadeiro, rare­

feito no seu interior, condensado na peri­

pheria e com o seu canal medullar próprio, vivendo uma vida independente num paiz extranho, embora o tenham submettido, como o fez Oilier, a uma temperatura de 2.° acima de zero.

Em face de taes factos assalta­n'os o dever de perguntarmos, qual é o modo porque o periosseo reproduz o tecido ósseo?

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Transforma­se elle, n'este ultimo tecido ou então como o pensavam Haller e Troja segrega elle, senão um sueco ósseo, pelo menos uma substancia gelatinosa capaz de se transformar em osso?

Vamos em viagem de exploração aos dominios da histologia e d'ahi nos virá um tributo precioso, para aclareação dos factos que a experiência nos fornece.

Diz Oilier: «quando se destaca um re­

talho de periosseo, encontra se na sua face profunda uma camada de cellulas novas análogas ás da medulla. Ora são taes ele­

mentos que proliferando activamente dão lugar á condensação do retalho periossico, phase primeira da ossificação depois da trans­

plantação. E se não ha suco isolavel, com mais forte rasão sueco ósseo, não tem valor a hypothèse de Troja. Examinando o retalho periostico, vislumbra­se, na sua face profunda uma camada espessa, distin­

cta da camada fibrosa, — tecido novo for­

mado de cellulas embryonarias e não pro­

dueto amorpho de secreção.» São estas cellulas das camadas pro­

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fundas, as susceptíveis de regenerar e repro­duzir o osso, e comquanto a camada fi­brosa augmente de volume e se vascularise ella não toma parte na ossificação.

Se ao fazer a ablação do periosseo se não se tiver o cuidado de o levar, separan-do-o do osso com o escalpello muito adhé­rente á superficie d'esté, de tal modo que as duas camadas se destaquem intimamente juntas, pôde a camada fibrosa, vascularisar-se, viver uma vida independente, mas o que é certo é que da ossificação esperada não apparecerão nem sequer vestígios.

E se pelo contrario, se fizer uma raspa­gem da camada interna não interessando a camada fibrosa, semeando-a sob a pelle, consegue-se, uma ossificação em pequenos grãos, visíveis ao microscópio.

Por estes factos, e collocando-n'os sob o ponto de vista das resecções nós devemos concluir que: «ao descollar o periosseo é necessário poupar a camada osteogenica e mantel-a o mais intimamente possível li­gada á camada fibrosa.

E provada de vez, a actividade do perios-

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seo e firmemente assente que a sua autono­mia se estriba na camada osteogenica, sai­bamos agora, se os outros elementos do osso serão capazes de o reproduzir e qual o grau, em que elles prestam o seu con­curso para esta nova formação.

Se ao periosseo cabem as maiores hon­ras, se elle é um factor, tal que de per si só é capaz de reproduzir o osso, o que é certo é que a medulla tem também uma boa parte n'essa regeneração; comquanto ella não seja capaz d'umareproducçao completa, fazendo sequer lembrar a forma ou as di­mensões do osso, que o processo patholo-gico obrigou a resecar.

Mas ainda em 1884 Vincent' escrevia na revista de cirurgia: «se o poder osteo-genico do periosseo é uma questão deci­dida, não succède o mesmo com o poder osteogenico da medulla. Entre os sectários d'esta opinião, surgiu no primeiro plano, sendo o mais notável pela persistência e

1 Vincent, (Rucherches) sur le pouvoir osteo gene de la moelle des os).

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paciência que presidiram as suas expe­riências, o professor Maas de Wurzbourg, sustentando que, embora Oilier obtivesse a ossificação da medulla, isolando esta por meio d'um tubo metallico introduzido pa-rallelamente ao eixo do osso, no canal medullar, tal ossificação foi produzida não á custa da medulla, mas dos osteoblastos do periosseo, que atravez da extremidade do tubo e das partes molles rebatidas sobre o seu orifício haviam penetrado no interior do tubo e do canal medullar.

Tal opinião foi rebatida pelas expe­riências de Bidder de Mannheim, que ob­teve ossificações, em treze experiências, á custa da medulla das areolas dos tecidos esponjosos; restringindo essa propriedade aos animaes novos, e negando-a nos adul­tos, afirmando ser fraco o poder ossifica-dor ao nivel das epiphyses e do tecido es­ponjoso das diaphyses.

As cinco series de experiências de Vin­cent com o seu espantoso resultado vieram crear uma flagrante opposição com as as­serções dos professores allemães.

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Das cinco series de experiências pratica­das por M. Vincent em cães, coelhos e frangos, com mudança de condições e de terreno, a mais brilhante e aquella cujo re­sultado decisivo, tomou de assalto o ba­luarte de exclusivismo, em que se entrin­cheiravam Bidder e Maas, foi a quinta.

Depois de haver provado dum modo incontestável na quarta serie, que a medulla regenerava o osso, sem o concurso do pe-riosseo, na quinta serie Vincent obteve a ossificação e a chondrificação da medulla, extrahida a um radio d'um frango e enxer­tada na crista d'outro; encontrando ao cabo de quinze dias um osso heterotopico de dureza capaz de se não deixar atravessar por um alfinete d'aço, e em outro frango operado no mesmo dia um núcleo mais volumoso que o primeiro, mas de mais fraca consistência, deixando-se, atravessar por um alfinete d'aço e que o microscópio revelou ser constituído por tecido fibroso cartilagineo.

Além d'estes factos de per si só compro­vativos, ha a constatar o poder osteogera-dor da medulla, os trabalhos de Goujon,

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Baikow e Bruns, que obtiveram ossifica­t e s com enxertos medullares no tecido cellular subcutâneo, nos músculos etc.

Se é certo que o tecido ósseo, a me­dulla e o periosseo, e por tanto todos os elementos do osso produzem tecido ósseo, conclue-se que o poder osteogenico não é uma propriedade exclusiva duma das par­tes constitutivas do osso.

Talsolidariedadefunccionalmantem-seá custa d'um único factor, o osteoblasto; e este habita em todosos pontos do osso,apparece na camada osteogenica do periosseo, nas medullas deindividuosnovos,noscanaesde Havers enas areolas da substancia esponjosa.

Em resumo, nos concluiremos com Ranvier que o poder osteogenico é uma propriedade inhérente a todos as partes do osso, gerada por um único factor, o osteo­blasto, cujo numero varia nas différentes regiões do. tecido ósseo e cuja actividade é proporcional á edade do individuo e ao grau de irritação accidental, pathologica ou experimental, soffrida pela totalidade ou parte do osso.

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CAPITULO III

Regeneração dos ossos pelo periosseo

Se os ossos mantém uma incontestada analogia, sob o ponto de vista da egualdade dos elementos d'um comparados aos ele­mentos d'outro, encarados sob o ponto de vista morphologico, ha entre elles differen-ças sensivelmente profundas.

D'ahi essa divisão anatómica, em ossos compridos, largos e curtos, geralmente ado. ptada.

Essas qualidades que os distanceiam uns dos outros correspondem a uma gra­duação variável com as propriedades da re-

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generação, graduação essa d'uma alta im­portância cirúrgica.

Oilier assenta na seguinte lei: Um osso regenera-se tanto melhor, se

porventura, no momento em que é rese-cado, está envolvido por periosseo bem es­pesso, isto é, com a camada osteogenica bem conservada; ou por outras palavras, o poder ossificador do periosseo está na ra­zão directa da espessura da camada osteo­genica.

A maior ou menor facilidade de rege­neração está dependente de um certo nu­mero de circumstancias do mais alto vali­mento.

Os ossos compridos são os que se re­generam com mais rapidez, os ossos pa-pyraceos, laminares, como os palatinos, os cornetos, os unguis reproduzem-se d'um modo insensível e obscuro.

A regeneração das camadas ósseas é uma continuação do seu crescimento physiolo-gico, activado momentaneamente pela ir­ritação do periosseo; mas se essa irritação incide em tecidos depauperados, exgota-

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dos, ou de ha muito tempo em quietação absoluta, o clinico não terá uma cega con­fiança no resultado da resecção porque a regeneração do tecido expoliado ao mem­bro pelos dentes finos da serra que o corta, sob o ponto de vista da proliferação cellular é lento, dúbio, e acompanha-se por vezes de graves complicações.

Na creança os materiaes do novo ór­gão, estão já accumulados para o crescimen­to ulterior do osso; no adulto é precizo que se criem ou se reformem esses materiaes.

A regeneração é mais fácil nas resec-ções parciaes do que nas totaes; em todo o caso Oilier conseguiu a reproducção de ossos compridos, regenerando-se num tamanho sufficiente para servirem ás func-ções dos membros operados. No tratado das resecções d'Ollier vem citado um facto da regeneração d'uni humero d'um cão em que a diaphyse resecada foi extrahida jun­tamente com as epyphyses corresponden­tes, sendo o osso reproduzido um pouco mais curto, mas consideravelmente mais espesso.

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Os novos ossos apresentam dois to­pos salientes unidos por uma porção cen­tral, que durante algum tempo se conserva fibrosa. As saliências correspondem a parte juxta-epiphysaria, isto é, ao ponto em que o periosseo é mais espesso; o trabalho de crescimento é ahi mais activo do que na parte central, onde é por vezes não só me­nos abundante, mas também tardio, po­dendo até deixar de se dar.

Comprehende-se que as epiphyses se re­constituem menos completamente do que as diaphyses, visto que são cobertas por cartilagem; e o periosseo não pôde contri­buir directamente para essa regeneração por quanto a zona da sua acção se restringe aos pontos que cobre, nutre e para cujo crescimento normalmente contribue.

Dois factores mutuam os seus eífeitos na regularisação da forma dos novos ossos; a immobilidade do membro, e o grau de tolerância dos apparelhos de immobilisação; pois que tratando-se por ex., do humero, o membro tende a approximar-se do tronco pelas contracções musculares se não forim-

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mobilisado, claro é, que as reossificações serão muitíssimo irregulares.

Dos ossos largos uns são cercados de músculos, como a omoplata, outros são cobertos na superficie externa por um pe­riosseo fibro seroso, taes são alguns dos os­sos da caixa craneana; ou dum periosseo fibroso, ex. a aboboda palatina, e na su­perficie interna pela arachnoidea,duramater, membranas mucosas, etc.

O conjuncto de observações que se fize­ram, permittiram seguir as evoluções da regeneração d'estes ossos, chegando-se a determinar-lhes uma lei de crescimento em tudo idêntica á enunciada para os ossos compridos; «estes différentes ossos regene-ram-se na razão directa da espessura do periosseo e abundância da camada osteo-genica.

Como o periosseo cobre, nos ossos curtos, uma superficie relativamente peque­na, quasi se não deve contar com uma re-producção exacta, mas as leis a que está su­bordinado esse trabalho são as já enunciadas a propósito dos outros ossos.

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Um phenomeno curioso é o da exube­rância, de que faltam os authores que con* sultei. Assim o cuboide, depois de ser re-secado incompletamente, regenerou-se, n'um cão, augmentando consideravelmente de volume; phenomeno só explicável pela irritação produzida pelo attrito, contra o solo durante a marcha do animal.

E' agora lugar adequado de perguntar­mos quaes as condições geraes e locaes em-que se effectua a regeneração óssea?

Terminado que foi o crescimento do osso o periosseo lá volta á sua condição de membrana fibrosa ordinária; mas se as suas propriedades osteogenicas se inutili-savam n'este ponto da evolução orgânica, a resecção sub periossea deveria ter somente cabimento durante a infância; mas esta hy­pothèse não é em absoluto verdadeira; mercê de certas irritações o periosseo reha-bilita-se da sua indolência e eil-o de novo, cheio de vida e de potencia geradora, traba­lhando activamente na propaganda da ossi-ficação.

Firmando-se no testemunho de preciozo

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valor, palpável na sua veracidade, d'uma serie d'experiencias realisadas pelos gigan­tesco remodelador Oilier; que importância não terá a certeza de que do lado são, não irritado, a neoformação é quasi insignifi­cante, ao passo que do lado irritado ha uma regeneração manifesta, na interpreta­ção dos factos clinicos, fazendo compre-hender a vantagem das resecções nas feri­das por armas de fogo e nos traumatismos accidentaes.

Claro está que essa irritação é melindro­sa; nunca devendo exceder determinados e rasoaveis limites; lenta, moderada, aproxi-mando-se quanto ser possa, da que se dá expontaneamente durante os progressos das ostéites e das ostéomyélites.

Todas as precauções são poucas para a obtensão dum resultado satisfatório.

Evitar-se-ha a laceração do periosseo, despegando-o com immenso cuidado para conservar o mais intacta possivel, a camada osteogenica; e envidar se-hão todos os re­cursos da arte e da sciencia para obstar á destruição, gangrena, suppuração das cel-

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lulas da camada osteogenica. Além d'estas precauções meramente locaes, é necessário que o estado geral seja bom; porque se houver miséria physiologica também o poder dos osteoblastos estácompromettido e as esperanças fomentadas, dissipam-se desanimadoramente, como os fumos dum sonho.

O que ha de mais animador e demais justificativo na pratica das resecções sub-periosseas é a estabilidade dos ossos repro­duzidos á custa da conservação do perios-seo, afiançada pelo resultados maravilho­sos, alcançados quer em vivisecções, quer no homem, por Vincent, Maas, Bidder e incomparáveis por Oilier.

A analyse demorada dos factos, a pro­funda attenção ao acompanhar a vasta se-rieção de phenomenos complexos e a sua comparação, em condições que se affas-tam pela sua variabilidade, como dous ra­mos d'uma parabola, a repetição cuidadosa e as verificações successivas, chegaram a traçar à regeneração óssea o graphico do seu crescimento agrupando as maravilhosas

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mutações, d'essa evolução progressiva sob o determinismo d'umalei que se enuncia como um theorema fundamental d'uma sciencia exacta:

«No membro superior para os ossos do braço e do ante-braço é a extremidade concorrente a formar o cotovello a que cresce menos.

«No membro inferior para os ossos da coxa e da perna é a extremidade concor­rente a formar joelho e a que cresce mais.

E d'estas leis, como corollario imme­diato a seguinte conclusão: Os dois se­gmentos dum membro estão numa rela­ção inversa entre si; os ossos do membro superior estão também n'uma relação inver­sa com os ossos análogos do membro infe­rior.

Temos de abandonar este capitulo pe­destal angular sobre que repoisa toda a theo-ria das resecções por que nos obumbra o espirito, uma mais árdua tarefa, indispensá­vel para levar ao fim este commettimento a que a lei obriga.

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CAPITULO IV

Indicações das reseeções sub-periasseas

Como um povo ávido de grandezas, in­temerato e aguerrido, ao divisar nas brumas do horisonte, a terra promettida, sentiu passar pela alma,—nuvem num ceu diapha-no e translúcido, o bafio gélido da duvi­da; assim o pratico ao abandonar o labo­ratório, onde convicções se arreigaram, e onde o espirito se enebriou com o esplen­dor de resultados miríficos, deixando o cam­po das vivisecções e assumindo sobre os hombros a responsabilidade dum com-mettimento, em que a vida do seu seme-

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lhante periga, trepida, embora a convie-ção lhe insu file no animo, a coragem neces­sária para restituir á integridade funccional o órgão, que o processo pathologico defi­nha, minando-lhe a vitalidade. O laborató­rio sorri, como uma esperança, o leito do doente, acorda a voz da consciência, paten-teiando a crudeza glacial da realidade. È quer o individuo, em cujo habito externo, a doença vincou as rugas do soffrimento, se encontre no catre do hospital, mercê do fatalismo da miséria e quer por condições historico-sociaes tenha em volta de si o con­forto da opulência, o que é certo, é que elle necessita da intervenção prompta e rápida dos recursos da sciencia para a restituição do bem estar phisiologico e moral.

Mas para que a satisfação seja comple­ta, e permitta-se-n'os este divaguear, neces­sita o cirurgião de ter a consciência de que lhe foi indispensável, para o salvamento do órgão ou para o restabelecimento do doen­te que se abandona ás suas mãos, a inter­venção sangrenta.

Para fundamentar o seu juizo e para

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nortear os meios, que a arte põe ao seu dis­por, criou a sciencia, dia adia, um conjun-cto de formulas, deduzidas da observação e da experiência e que se chamam as indica­ções.

Perfeitamente assente em cirurgia que as operações são o resultado da indicação, saibamos quaes as circumstancias em que se deverá praticar uma resecção sub-pe-riossea.

Em primeiro lugar nós deveremos com-penetrar-n'os de que as estatísticas ainda não deram o seu juizo sobre a impor­tante questão da gravidade das resecções, comparada com a das amputações.

Dois pontos ha a considerar n'este pa-rallelo; a mortalidade immediata e a per­manência da cura, quer dizer, é imprescin­dível, não só, saber-se se uma resecção é menos grave que uma amputação, mas se ella é um methodo seguro de cura. Desde o momento em que o traumatismo, resul­tante da amputação ou da resecção se cicra-trisou, de nada nos serve a observação; se se tracta d'uma resecção, praticada por que

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um processo pathologico a isso nos obri­gou, os accidentes tardios podem reappare-cer. Para pela estatística fundamentarmos uma opinião, seria precizoque em series de amputações e de resecçoes pudéssemos es­tabelecer uma comparação legitima; ora tal parello é quasi um impossível.

Argumentam muitos authores, dizendo que os factos erróneos ou sem valor desap-parecem na massa, e pequenas inexactidões comparadas com a collectividade dos factos não podem mudar-lhe os resultados; mas o que é d'uma facilidade extrema nas scien-cias mathematicas, é para a nossa sciencia d'uma enormíssima incerteza; porquanto, dado de barato, que esses factos sejam ver­dadeiros em si, é necessário um estudo pro­fundo para os interpretar no seu legitimo valor, e cahe-se fatalmente em conclusões falsas, sommando-os como unidades da mesma espécie.

Tal cirurgião conservador reseca em certas circumstancias e amputa em cir-cumstancias análogas; ao passo que outro de systema opposto reseca muitas vezes

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em vez de amputar. Succède, portanto, o que todos os dias se dá com as questões de therapeutica; não tem a sua solução no methodo numérico; porque são, na phrase de Oilier, questões muito complexas.

Demais é necesario andar-se com um certo cuidado, e nunca fazer fincapé n'uma estatística, mirabolante de [explenJidos re­sultados; porque não me magoa a con­sciência dizer, que ao com pulsar as estatísti­cas eu vi apresentar os casos de cura e sumir com uma ingenuidade hypocrita os casos de mortalidade.

Quem demorar a sua attenção nas va­riadas descripções de resecções sub-perios-seas encontrará, na maioria, um luxo de adjectivação que não tem mais valor, do que o ouropel da banalidade; lê-se até ao enfado, uma cohorte balofa de bom, soffri-vel, util, excellente. Perdoe se á vaidade hu­mana esta tarefa, pouco digna de mentir á sinceridade por orgulho estulto, que de ha muito devia ter cedido o passo á honestida­de scientifica.

No meio de tal labyrintho e sem dados

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positivos, asseguremos a nossa, pela opinião de Oilier, cuja vida tem sido, ha alguns an-nos, uma porfiada lucta pela generalisação do methodo sub-periosseo, dizendo com elle; que as antigas estatísticas nada tem que valha, pois que os methodos anti-sé­pticos mudaram muito a gravidade das resecções sub-periosseas; e que as condi­ções actuaes, favorecendo a sua prática as­segurarão no futuro, resultados que até aqui não cabiam nos limites da possibilidade.

Segue-se agora n'esta ordem de consi­derações o estabelecer-se a vantagem ou desvantagem, na pratica civil, rural e militar, das resecções sub-periosseas.

Na pratica civil, se o cirurgião se en­contra portas a dentro d'um hospital, pa­recia e era justo até certo ponto, que elle usasse da maior circumspecção e se escu­dasse na mais sensata prudência. Mas as condições hygienicas dos hospitaes tem mudado muito n'estes últimos tempos; mercê d'ellas, a cifra de mortalidade produ­zida pelas doenças infecciosas diminue consideravelmente; e até no nosso hospi-

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tal, que pela sua posição, rigidez das gra­níticas fachadas, humidade permanente das paredes, era um edifício comdemnado; a podridão nosocomial desappareceu às( clinica cirúrgica; em clinica medica tem-se feito operações em que o escalpello adextrado rasgou peritoneus, dando-se a ci-catrisação por primeira intensão; e em par­tos; mercê dos cuidados do distincto dire­ctor e d'uma rigorosa limpeza d'esta enfer­maria, ha oito annos que a febre puerperal epidemica desappareceu sem rastos de mor­tífera passagem ; não erguemos n'este mo­mento o thuribulo da lisonja, concedam-n'os a sinceridade da apreciação de factos que se impõem por si e que honram quem os determina e ao que modestamente os registra.

Em face do valor incontestado da antise­psis, julgamo-n'os habilitados a sustentar que as resecções podem ser feitas quando com os cuidados devidos, no meio hospi­talar.

As resecções que Oilier designa sob o nome de ruraes e que são determinadas

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por traumatismos a que a população rústica está sujeita tem, por certo, menor gravidade do que quando os accidentes são produzi­dos, pelas machinas das fabricas, que redu­zem por vezes, os membros a massas in­formes, onde nada se pôde aproveitar.

Na cirurgia militar, á primeira vista pareceria que a resecção seria um impossi-vel. Que conjuncto de causas não affastam a ideia da cirurgia conservadora!

Os destroços produzidos pelas armas de fogo, a accumulação nos hospitaes de sangue, a má orginisação do transporte dos feridos, a insuficiência de pessoal, que estendal assustador para abalar o animo dos mais arrojados conservadores; mas púnha­mos friamente no outro prato da balan­ça o valor do penso antiseptico, a .occlu-são antiseptica inamobivel, e como a roda da sciencia se não entrava, apparecerá um ou­tro processo antiseptico, de mais simples applicação como diz Oilier, e então muda­das as condições poier-se-ha fazer no meio da brutal confusão do campo da batalha,

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por entre o fumo da pólvora e o sibillo das balas uma cirurgia conservadora, pro­testo vivo da sciencia, respondendo brilhan­temente ao fero noticinio da arte da guerra.

O chamado feliz resultado immediato d'uma resecção deve captar as nossas at-tenções, mas ha ainda mais alguma cousa a attender-se e vem a ser: as consequências futuras e decisivas; a utilidade da conserva­ção do membro; o maior ou menor grau de probalidades de recahidas e a certeza de que a resecção não vem pôr o doente em peiores condições do que se francamente se optasse pela amputação.

Ha casos em que se necessita d'uma cura rápida e o demorado tratamento das resecções não deve convir.

A edade é um factor imprescindivel ao estabelecerem-se as indicações da resecção sub-periossea. Demonstrada a facilidade de reproducção do osso pelo periosseo, nas creanças, e provado que o seu poder oste-gerador está em todo o vigor n'esta eda­de,. a questão é que não devemos proce-

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der precipitadamente, porque certos pro­cessos pathologicos cedem a meios mais benignos e até certas lesões traumáticas sa­ram com extraordinária rapidez, sem a in­tervenção cirúrgica. No congresso interna­cional de Londres dizia Oilier ' que não se devia operar na primeira infância, e d'um modo geral, emquanto o esqueleto tende notavelmente a crescer. É portanto na edade intermediaria, sobretudo na juven­tude e na adolescência que ha melhor nu­mero de condições favoráveis ás resecções.

Os trabalhos de Verneuil, comprovam que as diatheses syphilitica, tuberculosa, e bem assim o alcoolismo e o abatimento physiologico contra-indicam as resecções sub-periosseas.

1 Transanctions of the Medical International Con­gress, 1881.

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V

Regras operatórias geraes

Anesthesiado o doente, os cuidados pre­liminares são os mesmos de qualquer am­putação, começa-se por lavar e desinfectar a região que tem a operar-se, e jschemia-se o membro com a facha de Nicaise.

A. operação comprehende 3 tempos. i.° — Incisão das partes molles. 2.0—Descollamento do periosseo dos

tendões, dos ligamentos, etc. 3.0 — Ablação do osso. 1° tempo. — Incisão das partes molles.

Se o osso é superficial, seja qual fôr a forma

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da incisão, cortam-se os tecidos até ao os­so; ao contrario quando o osso é profundo divide-se primeiro a pelle, depois o tecido cellular sub-cutaneo, a apenevrose d'envo-lucro; desviam-se os órgãos para a direita ou para a esquerda, dissecando-os interstí­cios com os dedos ou com a sonda.

2° tempo.—Descollamento do perios-seo, dos tendões, etc.

Se se trata da resecção parcial d'uma diaphyse desvia-se o lábio da incisão com um tenaculo e com uma cureta proce-de-se ao descollamento methodico do pe-riosseo em toda a extensão da incisão e tam longe quanto possível; se a incisão é feita para a extirpação ou enucleação d'um osso. comprido ou de um ou mais ossos curtos, acaba-se a operação com a cureta, cifrando se o 3.0 tempo n'uma verdadeira desarticulação. Se se quer re-secar um osso largo, do qual só uma face é accessivel, não se descolla o periosseo se­não d'esta face.

Qualquer que seja a resecção é neces­sário, regra geral, evitar contundir o pe-

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riosseo, lesar a camada osteogenica; para isto o gume da cureta volta-se bem para o osso para conservar a camada superficial por baixo do periosseo.

j.° tempo. — Ablação do osso. Regra geral : a ablação do osso deve fazer-se exa­ctamente no limite do descollamento pe-riossico, sem a qual precaução se determina a necrose das partes, postas inutilmente a descoberto. Os melhores meios de dierese são as serras, especialmente as de cadeia: a de W. Adams e a de Shrady. A diaphyse é ao principio dividida na parte superior por um corte de serra; depois em quanto um ajudante fixa o fragmento inferior com uma tenaz de Oilier ou de Farabeuf corta-se a parte desmudada do osso por outro corte de serra. Para os ossos largos empregam-se o cinzel e as tenazes. Quando a resecção é articular, para levar as extre­midades ósseas, seccionam-se depois de as haver luxado, ou contrariamente seccio­nam-se luxando-as em seguida.

Depois da ablação do osso, pratica-se a hémostase definitiva pelos meios usuaes;

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costuram-se os lábios da ferida e mantem-se a immobilidade do membro, numa got-teira, ou n'um apparelho gessado ou silica-tado.

Parece estar por completo tratada a ques­tão das resecções sub-periosseas, comquan-to restasse, sob um ponto de vista particu­lar e restricto muito para dizer-se; mas re-ferir-me-hei, tam somente, pois que taes assumptos são extensos de mais para o campo d'uma dissertação, aos meios de activar as propriedades ostogenicas do pe-riosseo em seguida á prática da operação.

Ora, como nós dissemos, no começo d'esté trabalho, que uma irritação lenta, moderada, e suficientemente prolongada era capaz de despertar no periosseo d'um adulto, as suas propriedades osteo gerado­ras; e augmentar-lhes a força nos indiví­duos, na phase de pleno crescimento, era racional excitar a proliferação dos ele­mentos ossificaveis, por meio de estimu­lantes directos. Mas as experiências forne-cendo-n'os os meios, apontam-n'os os pe­rigos d'esta audaciosa empreza. Não se ir-

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ritará o periosseo, quando não haja meio de o pôr ao abrigo dos agentes sépticos; e, além d'isto é necessário uma prudência excessiva na irritação d'esse periosseo; por que, se um certo grau de irritação conduz á formação dos osteoblastos, dando lugar a uma osteite productiva, com um grau de irritação mais pronunciado, realisa-se uma osteite rarefaciente.

A applicação dos excitantes pôde ter lugar; immediatamente depois da opera­ção, ou quando se começa a dar a ossifka-ção.

Por meio da desinfecção nós podemos para o primeiro caso, deixar na bainha pe-riossea corpos extranhos com a forma da porção óssea levada, de cautchouc endu­recido ou de metal; ou drenos applicados de cima para baixo no interior do perios­seo, porque taes apparelhos produzem uma suppuração e o periosseo endurece em volta d'elles.

No segundo caso, podemos arranhar, perfurar a camada dos osteoblastos; tal irri­tação é d'uma incontestável vantagem

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quando a nova ossificação se dá por pon­tos isolados, ilhas ósseas no mar dos os-teoblastos.

Em ambos os casos é necessária a im-mobilisação do membro n'um apparelho de contensão.

Independentemente dos irritantes me­cânicos é precizo recorrer aos meios pró­prios para favorecerainpregnação dos saes calcareos. Uma boa alimentação rica em princípios reconstituintes fornecerá á eco­nomia princípios chimicos,que lhe são ne­cessários para a producção do tecido ósseo.

_ M itos cirurgiões iembraram-,;e de ad­ministrar saes terrosos como.phosphato de cal em altas e continuadas doses, que no fim produzem a formação de cálculos vesi-caes. Oilier emprega os saes de cal no pe­ríodo da formação do osso, mas prefere -lhe, com mais confiança, o uso de alimen­tos ricos em phosphato de cal, porque fornecem esta substancia, sob uma for­ma mais assimilável. Juntaremos a isto a gymnastica e a massagem dos membros li-

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vres, para diminuir os inconvenientes da immobilisação na gotteira.

Duas palavras ainda sobre uma impor­tante questão; qual o penso que deverá ser adoptado na prática das resecções sub-pe-riosseas?

Ultimamente tem-se ligado aos pen­sos uma importância, que haviam perdido quando os nomes de Dupuytren, Lisfranc, Astley e Cooper entalhavam com letras de bronze as paginas da historia da cirurgia, imprimindo um movimento progressivo á intervenção operatória. Felizmente Lister, reconhecendo que a falta de curativos bem feitos, e com todos os cuidados de limpe­za, era uma das causas determinantes das septicimias infecciosas que empestavam epi-demicamente as salas dos hospitaes, provou que a tarefa do cirurgião se não restringe a ablação de um tumor, á amputação ou re-secção d'um membro; porque ha para a sal­vação do doente um outro factor impor­tante, as boas condições da ferida para o trabalho da cicatrisação. Lister banniu dos hospitaes toda essa triste bagagem de fios,

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cataplasmas, infusões aromáticas, inaugu­rando a prática da mais extrema, escrupu­losa e minuciosa limpeza.

Se é uma verdade que o acido phenico é excellente para evitar a putrefacção dos albuminóides e sobre tudo do sangue, se com elle se pôde lavar a ferida em todas as anfractuosidades, se a sua applicação fôr acompanhada duma laqueação rigorosa em que nem o mais pequeno vaso deixe estra-vasar sangue; eu não julgo necessário levar-se a rigor, o penso de Lister com um numero determinado de folhas de gaze anti-septica, com a interposição do makintosh entre tal é tal camada do penso, com uma tafettas de dimensões exactas, etc.; acredito que em tanto zelo deve haver um termo me­dio, e para que o resultado seja satisfacto­ry , bastam uma dranagem, limpeza cui­dadosa, desinfecção do sangue e immobi-lisação do membro operado, meio salubre e bem arejado.

Ao lado do penso de Lister, figura com a mesma reputação o penso algodoado de Guerin. Ora comquanto a maior parte dos

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authores imaginem que o algodão empre­gado filtra o ar, não o deixando chegar á fe­rida senão purificado de microorganismos, outros ha que contestam tal eíficacia, ci­tando o dr. Rouge factos em que se encon­travam no pus estagnante sob o algodão, vibriões, bactérias e mucidineas. Mas ao lado d'esté inconveniente apparece uma grande compensação; a raridade dos pen­sos; e os pensos frequentes fatigam os ope­rados, os movimentos impressos á região doente, laceram as tenues adherencias e de­terminam leves hemorragias, produzindo uma reacção que prejudica o trabalho de cicatrisação.

Um terceiro methodo de tratamento é o curativo a descoberto. Von Kern dei­xava os cotos dos amputados a descoberto, ou somente cobertos com uma compressa humedecida. Von Walker lavava-os, somen­te com agua, depois de fervida. Este me­thodo inaugurado pelos dois cirurgiões de Vienna tem hoje grande numero de ade­ptos e entre elle Rose de Zurich e Pasteur.

As conclusões a que chegaram os par-

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tidarios d'esté methodo são as seguintes : «Banindo os pensos e reduzindo ao míni­mo a suppuração nas salas dos doentes e diminuindo assim, os focos de infecção, o methodo de aereação melhora as condições sanitárias dos hospitaes». «O racionalismo dos processos, a facilidade de applicação, a vi­gilância, a rapide^ possivel da cura, eis o que promette a este methodo um brilhante fu­turo».

Nós votamos pelo penso algodoado de Guerin ou pelo penso a descoberto, pois que o essencial é não se tocar ou tocar o menor numero de vezes possivel nas feri­das; idéa esta bem antiga que já Celso formulara n'esta phase: optimum enim me-dicamentum quies est.

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Proposições

Anatomia.—Na sua evolução o tecido ósseo ou subs­titue a cartilagem, ou evoluciona á custa d'um tecido fibroso conjunctivo.

Physiologia.—Os phenomenos vitaes são os mesmos na escala animal, só as condições biológicas é que mudam.

Materia medica.—No tratamento das febres intermit­tentes, prefiro a administração do chlorydrato ao sulpha-tó" de quinino.

Pathologia geral.—O exame das ourinas é indispen­sável no diagnostico d'um grande numero de doenças.

Anatomia pathologica.—0 processo definitivo da cura dos aneurysmas é exactamente egual aos processos da cura d'uma solução de continuidade.

Pathologia externa. — As condições ordinárias da cura d'um abcesso justificam a applicação do processo de Estlander á cura dos empyemas.

Pathologia interna.—A bronco-pneumonia persisten­te das crianças, deve ser considerada, na maioria dos casos, como de natureza tuberculosa.

Operações.—Nas resecções sub-periosseas, é necessá­rio conservar a camada de osteoblastos, subjacente á ca­mada fibrosa do periosseo.

Partos.—O rompimento prematuro do saco das aguas, pôde ser causa de distocia.

Medicina legal.—A cifra da criminalidade diminue pela applicaçáo ao trabalho.

V I S T A . PODE IMPRIMIR-SE.

O director,

Agostinho do Souto. 'Uisconde de Oliveira.