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UFF- UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PUCG- POLO UNIVERSITÁRIO CAMPOS DOS GOYTACAZES CURSO: HISTÓRIA PROFESSORA: DÉBORA ANDRADE DISCIPLINA: TEORIAS DA HISTÓRIA II ALUNA: ELISABETE MARTINIANO DOS SANTOS RESENHA CARLO GINZBURG E A MICRO HISTÓRIA FONTES: GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: O cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução Maria Betânia Amoroso. São Paulo, Companhia das letras, 2006. _____________. “O inquisidor como antropólogo” In: Micro história e outros ensaios. Tradução Antônio Narino. Lisboa: Difel, Rio de Janeiro, 1989- p.p. 203-214 ______________“Sinais raízes de um paradigma indiciário” In: Mitos, Emblemas e Sinais. Morfologia e História Tradução Frederico Carotti. São Paulo, Companhia das Letras, 1989. p.p 143-180 Carlo Ginzburg nasceu em Turim na Itália, em 15 de Abril de 1939. Vindo de uma família Judaica, seu pai Leone Ginzburg era professor de Literatura, sua mãe Natália Ginzburg, era Romancista. Carlo Ginzburg estudou na Escola Normal Superior de Pisa, e continuou os estudos em Warburg, em Londres, Inglaterra. Ele é um renomado Historiador e Antropólogo. Formou-se em História e passou a lecionar na Universidade de Bolonha, na Itália, depois se muda para a América e passa a lecionar nas universidades de Harvard, Yale, Princeton e da Califórnia. Carlo Ginzburg é um dos mais importantes historiadores da Itália, seus livros já foram traduzidos pra 15 idiomas, ele se

Resenha Ginzburg

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Page 1: Resenha Ginzburg

UFF- UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEPUCG- POLO UNIVERSITÁRIO CAMPOS DOS GOYTACAZESCURSO: HISTÓRIAPROFESSORA: DÉBORA ANDRADEDISCIPLINA: TEORIAS DA HISTÓRIA IIALUNA: ELISABETE MARTINIANO DOS SANTOSRESENHA

CARLO GINZBURG E A MICRO HISTÓRIA

FONTES:

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: O cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido

pela Inquisição. Tradução Maria Betânia Amoroso. São Paulo, Companhia das letras, 2006.

_____________. “O inquisidor como antropólogo” In: Micro história e outros ensaios.

Tradução Antônio Narino. Lisboa: Difel, Rio de Janeiro, 1989- p.p. 203-214

______________“Sinais raízes de um paradigma indiciário” In: Mitos, Emblemas e

Sinais. Morfologia e História Tradução Frederico Carotti. São Paulo, Companhia das

Letras, 1989. p.p 143-180

Carlo Ginzburg nasceu em Turim na Itália, em 15 de Abril de 1939. Vindo de uma família

Judaica, seu pai Leone Ginzburg era professor de Literatura, sua mãe Natália Ginzburg, era

Romancista. Carlo Ginzburg estudou na Escola Normal Superior de Pisa, e continuou os

estudos em Warburg, em Londres, Inglaterra. Ele é um renomado Historiador e Antropólogo.

Formou-se em História e passou a lecionar na Universidade de Bolonha, na Itália, depois se

muda para a América e passa a lecionar nas universidades de Harvard, Yale, Princeton e da

Califórnia.

Carlo Ginzburg é um dos mais importantes historiadores da Itália, seus livros já foram

traduzidos pra 15 idiomas, ele se tornou um dos principais nomes da Micro História, escola

historiográfica que reduz a escala de observação de seus objetos na pesquisa histórica e dá

ênfase a fatos importantes que são ignorados. A Micro História baseia-se em objetos bem

específicos, mas leva em consideração as estruturas que a História Geral estabelece, utiliza

como recurso documental uma série de fontes que não eram consideradas pela história

tradicional. Quando nos referimos à Micro Historia não estamos querendo nos referir à

redução de espaço físico e sim redução na escala de observação. Um dos primeiros trabalhos

sobre Micro História, foi escrito por Ginzburg, publicado em 1979, “O nome o como”,

escrito no livro Micro-História e outros ensaios, ele teve a ajuda de Carlo Poni.

Carlo Ginzburg desde o ano de 2006 ocupa a cadeira de História Cultural na academia onde

estudou, na Escola Normal Superior de Pisa.

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Suas obras mais importantes foram: Os Andarilhos do bem (1988); História Noturna (1991);

Mitos, Emblemas e Sinais (1989); O queijo e os Vermes (1987).

Nas obras de Ginzburg podemos perceber que ele usa os sinais, os fatos despercebidos pelos

outros, fatos que não foram observados. Sob o olhar de um micro historiador, ele busca

explicações nas práticas populares. A contribuição de Carlo Ginzburg no campo da Micro

História é muita grande, ele é um dos nomes mais importantes dentro dessa corrente

Historiográfica, muitos conceitos formulados dentro desse campo foram criados por ele. Para

enriquecer a suas análises, ele busca uma aproximação com a Antropologia, usa como

exemplo e também como comparação. A Antropologia traz um enriquecimento teórico para a

História. As obras de Carlo Ginzburg, até hoje são usadas como referência para estudiosos

interessados em estudar a Micro História.

No texto “O inquisidor como antropólogo”, o texto propõe uma aproximação entre o trabalho

do Antropólogo, do inquisidor e o trabalho do Historiador, a única diferença são os meios

utilizados por eles. Segundo Ginzburg, os historiadores não podiam produzir suas fontes

como os Antropólogos.

As fontes usadas por Antropólogos e Inquisidores não servem para o Historiador, mas isso

não significa que o Historiador não deve aprender com eles a forma de interpretação dos

elementos, principalmente da Antropologia, que fornece ferramentas para se pensar várias

culturas e sociedades.

Ginzburg usa os processos inquisitoriais como uma rica fonte para reconstruir as práticas de

um povo, porém o problema estava nos estereótipos que haviam sido criados para tratar esses

tribunais inquisitoriais. O autor compara documentos inquisitoriais a uma “mina de ouro

ainda intocada”.

Sua obra, Mitos, Emblemas e Sinais, têm como característica a decifração do mundo e de

nós mesmos a partir de indícios , onde ele se aprofunda em outras áreas como a psicanálise e

a História das artes. No capítulo intitulado Sinais: raízes de um paradigma indiciário, o autor

se interessa pelos métodos de 3 personagens: Sherlock Holmes, Freud e o crítico de arte

Italiano G. Morelli. Carlo Ginzburg fala sobre a importância de um modelo de deduções, e

como foi aperfeiçoado uma espécie de conhecimento indiciário, guiado pelas interpretações

de pistas e sinais. O paradigma indiciário é descrito a partir do chamado “método

morelliano” de atribuição de autoria nas artes plásticas. Esse método tinha como objetivo

diferenciar as obras verdadeiras das falsas ou atribuir ao verdadeiro artista, e consistia na

observação de pequenos detalhes, que muitas vezes passavam despercebidos, ou como o

Ginzburg diz: detalhes negligenciados.

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Foi feita uma comparação do método Morelliano ao método de Freud, numa ocasião anterior

à descoberta da psicanálise, pode até arriscar certa influência do método Italiano sob ele, em

sua obra Moisés de Michelangelo ele aproxima a psicanálise desse método ao mostrar como

ela deve penetrar em sentimentos mais internos, pois seria através dos grandes

acontecimentos que o médico poderia captar os dados que foram inconscientemente deixados

de lado, mas que são importantes para formar o quadro do paciente. Nessa obra Freud faz

algumas afirmações que para Ginzburg deixa claro que ele sofreu influências do método

Indiciário. Segundo Ginzburg há uma influência incontestável do método Morelliano sobre a

psicologia. A outra comparação usada pelo autor que também apresenta semelhanças com a

de Morelli- Freud, é a do detetive (nesse caso foi usado o exemplo de Sherlock Holmes) que

trabalha com fatos, porém para resolvê-los ele precisa estar atento às pistas, indícios e

detalhes imperceptíveis que foram deixados sem que o criminoso soubesse, do mesmo jeito

que nos outros exemplos, de forma inconsciente.

Para explicar o conceito do paradigma indiciário o autor usa uma fábula onde os

personagens do conto descrevem o cavalo de um viajante sem nunca tê-lo visto, somente

através da análise do terreno por onde o animal teria passado. Essa fábula serve para nos

conscientizar, como são características importantes para o micro historiador, a sensibilidade e

a intuição. O Micro Historiador deve reconstruir determinado quadro, buscando pequenos

dados, e para isso usará de toda sua intuição a fim de descobrir o todo, através de pequenas

partes.

Carlo Ginzburg se opõe ao paradigma indiciário utilizado nas ciências naturais e exatas,

consideradas como as únicas capazes de produzir com rigorosidade científica, ela se

diferenciava das ciências Humanas. A ciência do homem tem o seu valor no singular, onde

os fatos são únicos, irreprodutíveis e diferentes. Ele compara a Historiografia com a

medicina, mostra que o médico e o Historiador não podem utilizar quantificação para tratar

de suas áreas.

Em 1962, Ginzburg ao visitar o arquivo da Cúria Episcopal, para pesquisar uma seita

Italiana de curandeiros e bruxos, se interessa por um determinado caso, era a história de um

moleiro que se chamava Domenico Scandella, conhecido como Menocchio. Em 1970,

resolve se aprofundar na pesquisa e entender o que Menocchio quis dizer quando afirmou

que o mundo tinha sua origem na putrefação, surge o Queijo e os vermes. O caso chamou a

atenção de Ginzburg, por se tratar de uma sentença extremamente longa, Menocchio

respondia por duas acusações, e o intervalo entre elas era de 15 anos, ele queria entender o

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motivo que levou o Santo Ofício a dar tanta importância as denuncias de um simples moleiro,

e o que estaria por trás das declarações de Menocchio.

Através da farta documentação encontrada pelo autor, ele faz uma reconstrução de todo o

contexto social do século XVI, O século que Menocchio vivia, e faz uma reconstrução

analítica sobre o moleiro. Essa documentação farta permitiu a ele descobrir elementos tanto

de ordem social quanto da vida particular do personagem (filhos, família etc.). Através da

vida do moleiro, Ginzburg começa a detalhar diversas questões mais amplas e importantes

na sociedade pré-industrial.

Menocchio fazia uma releitura do seu mundo e dos livros que lia, uma releitura carregada de

cultura oral, cultura oral que era usada em seu cotidiano, uma cultura “popular”,

“subalterna”, ele tinha contato com a “cultura dominante”, mas isso não mudava sua

essência, só aumentava seu conhecimento.

No início o autor faz uma investigação que girava em torno de um indivíduo, depois ele

muda o foco de sua investigação, ele passa a fazer uma investigação em torno de uma

“Hipótese mais Geral”, sobre a cultura popular.

A história de Menocchio trouxe a possibilidade de mostrar a cultura popular, “as classes

subalternas e as dominantes”. O autor usa o pensamento da época para fazer uma

investigação sobre o conceito de cultura, a Europa passa por um período pré-industrial e era

marcada pela propagação da imprensa e da Reforma Protestante, o autor conclui que esses

acontecimentos influenciaram nas ideias de Menocchio. A invenção da imprensa deu ao

moleiro a possibilidade de confrontar os livros com a tradição oral, fazendo com que ele

formulasse e passasse para os inquisidores todas as suas contestações e verdades, só que de

forma fantasiosa e do jeito que lhe era conveniente. As ideias da Reforma, misturadas com as

certezas que já trazia em seu intimo, ajudaram ele se posicionar, em primeiro lugar com seus

conterrâneos, depois, “contra os juízes armados de doutrina e poder”, ou seja, a Igreja.

Ginzburg tenta mostrar que existia um estreito contato entre a “cultura das classes

dominantes” e a “cultura das classes subalternas”.

No prefácio à edição Italiana Ginzburg fala que no passado os historiadores pesquisavam

mais sobre as “culturas dominantes”, e deixavam de lado a “cultura popular”, pois a falta de

fontes, testemunhos em relação aos comportamentos e atitudes das “classes subalternas”

dificultavam as pesquisas da “cultura popular”, o caso de Menocchio era uma exceção. O

autor apresenta o conceito de Circularidade cultural , como um meio de se ler a cultura. O

autor percebe que há uma escassez de fontes que tratam da Cultura subalterna, e as poucas

fontes que existem são escritas por indivíduos das classes dominantes. A circularidade

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Cultural , nos ajuda a entender a representação cultural do moleiro, o autor fez uma análise

do cotidiano, do comportamento e da formação intelectual do moleiro.

Ginzburg faz críticas ao trabalho realizado por Michael Foucault, e elogios ao trabalho de

Mikhail Bakhtin, onde ele fala da relação entre Rabelais e a cultura popular de seu tempo.

Rabelais tinha o dom de se penetrar no mundo popular, descrevê-lo e recriá-lo e depois

escrevê-lo. “É bem mais frutífera a hipótese formulada por Bakhtin de uma influência

recíproca, entre a cultura das classes subalternas e a cultura dominante” (2006, 18).

Segundo o autor Menocchio era contra o poder opressor da igreja, ele queria um mundo mais

justo, mas humano, onde as pessoas sejam livres, diferente do que ele vivia em sua

comunidade. Para Menocchio a afirmação divina, que a igreja católica faz da origem do

mundo não é verdadeira, e essa negação não é vista com bons olhos pela igreja e pelo

Tribunal da Inquisição.

Menocchio vivia no momento do Movimento Reformista, a imprensa ajudou muito a

espalhar novas ideias que estavam se espalhando, com a propagação de livros, inclusive os

que eram proibidos pela igreja, a imprensa popularizou a palavra escrita, a partir desse

momento às pessoas começam a questionar e contestar as atitudes da igreja, as verdades da fé

cristã. Existiam alguns movimentos contra a opressão da igreja católica, como o Luteranismo

e o Anabatismo. Carlo Ginzburg buscou no seu livro O queijo e os vermes estudar as classes

subalternas através de uma única pessoa: O moleiro, e esse indivíduo era o único capaz de

transmitir o que toda sua comunidade queria expressar, mas não expressava por causa da

opressão da igreja, e ele também representava uma cultura popular. Através de livros

estudados por menocchio ele começa a questionar se tudo o que a igreja católica ensinava era

verdade, quem era Deus.

O caso de Menocchio que era perseguido pela Inquisição nos foi importante para ilustrarmos

os conceitos e diferenças básicas dentro da micro-historia, mas devemos estar atentos, pois

alguns eventos Históricos forneceram ao personagem algumas ferramentas que o auxiliaram

na construção de seu pensamento obscuro, tais como: A invenção da imprensa, que

possibilitou que ele comparasse o conhecimento tradicional oral ao escrito; e a reforma, que

o permitiu ter um diálogo direto com membros da Igreja onde contava suas ideias.

Chegamos à conclusão que o micro historiador deve possuir a atenção, a sensibilidade e a

intuição na hora da escolha de seu objeto, pois não deve perder de vista o plano maior ao

qual pretende alcançar. O Micro Historiador consegue enxergar no Micro aquilo que na

História tradicional passaria desapercebido.

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Referências Bibliográficas

BARROS, José D’Assunção. Sobre a feitura da Micro História. OPSIS, vol. 7, nº 9, jul-dez, 2007.

LIMA. Henrique Espada. Narrar, pensar o detalhe: à margem de um projeto de CarloGinzburg. Disponível em: < www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF15/CG_Lima.pdf>Acesso em: em 14 de agosto de 2012.