4
Em seu livro Segundo tratado sobre o governo civil, John Locke trata da questão do poder em sociedade, principalmente do poder político, buscando estabelecer a origem desse poder em contraposição à tese de Robert Filmer que justificava a legitimidade de posse desse poder pelos monarcas absolutistas. Para Locke, é completamente absurda e infundada a teoria de Filmer, segundo a qual os monarcas absolutistas seriam os detentores legítimos de poder sobre os demais cidadãos por estes serem descendentes diretos da linhagem de Adão e Eva. Locke diverge sobre origem desse poder por descendência, tendo em vista que o vínculo de ancestralidade de toda a humanidade estaria ligado a Adão e Eva, de tal forma que seria impossível estabelecer uma linhagem sanguínea direta, conforme afirmava Filmer. Assim como Hobbes, o autor estabelece que a legitimidade desse poder tem uma origem contratualista, segundo a qual os indivíduos abdicam de sua plena liberdade e repassam parte de seus direitos ao Estado que fica responsável pela manutenção da sociedade. Porém, diferente de Hobbes que vê a segurança como principal finalidade do contrato social, Locke diz que a verdadeira origem desse pacto é a propriedade e que a segurança como finalidade do contrato se refere à proteção à propriedade individual. Segundo Locke, na ausência de um governo o homem se encontra em um estado de natureza, onde cada indivíduo é completamente livre e existe uma igualdade entre eles na medida em que são detentores dos mesmos direitos. Entretanto esse estado de natureza não é um estado de guerra como ideou Hobbes. Locke entendia que era possível haver harmonia entre os indivíduos no estado de natureza se fosse mútuo o respeito entre eles de suas liberdades, pois embora fossem livres, os homens deveriam coexistir sem prejudicar ou destruir uns aos outros. Haveria segundo Locke uma lei da natureza conforme a qual os homens estariam obrigados, por dever, a se preservar e da mesma forma deveriam preservar o resto da humanidade. Dessa forma, qualquer um que atentasse contra a vida, a liberdade ou as posses de outrem, estaria violando a lei da natureza e esse infrator estaria submetido à represália pelos indivíduos lesados com intenção de se fazer justiça. A reparação do dano sofrido, de forma proporcional, é o único motivo que abre exceção para a lei da natureza e submete um homem (violador) ao poder de outro (violado). Locke compreende que, de acordo com a lei da

Resenha J. Locke

Embed Size (px)

DESCRIPTION

John Locke resumo de sua obra

Citation preview

Em seu livro Segundo tratado sobre o governo civil, John Locke trata da questo do poder em sociedade, principalmente do poder poltico, buscando estabelecer a origem desse poder em contraposio tese de Robert Filmer que justificava a legitimidade de posse desse poder pelos monarcas absolutistas. Para Locke, completamente absurda e infundada a teoria de Filmer, segundo a qual os monarcas absolutistas seriam os detentores legtimos de poder sobre os demais cidados por estes serem descendentes diretos da linhagem de Ado e Eva. Locke diverge sobre origem desse poder por descendncia, tendo em vista que o vnculo de ancestralidade de toda a humanidade estaria ligado a Ado e Eva, de tal forma que seria impossvel estabelecer uma linhagem sangunea direta, conforme afirmava Filmer. Assim como Hobbes, o autor estabelece que a legitimidade desse poder tem uma origem contratualista, segundo a qual os indivduos abdicam de sua plena liberdade e repassam parte de seus direitos ao Estado que fica responsvel pela manuteno da sociedade. Porm, diferente de Hobbes que v a segurana como principal finalidade do contrato social, Locke diz que a verdadeira origem desse pacto a propriedade e que a segurana como finalidade do contrato se refere proteo propriedade individual. Segundo Locke, na ausncia de um governo o homem se encontra em um estado de natureza, onde cada indivduo completamente livre e existe uma igualdade entre eles na medida em que so detentores dos mesmos direitos. Entretanto esse estado de natureza no um estado de guerra como ideou Hobbes. Locke entendia que era possvel haver harmonia entre os indivduos no estado de natureza se fosse mtuo o respeito entre eles de suas liberdades, pois embora fossem livres, os homens deveriam coexistir sem prejudicar ou destruir uns aos outros. Haveria segundo Locke uma lei da natureza conforme a qual os homens estariam obrigados, por dever, a se preservar e da mesma forma deveriam preservar o resto da humanidade. Dessa forma, qualquer um que atentasse contra a vida, a liberdade ou as posses de outrem, estaria violando a lei da natureza e esse infrator estaria submetido represlia pelos indivduos lesados com inteno de se fazer justia. A reparao do dano sofrido, de forma proporcional, o nico motivo que abre exceo para a lei da natureza e submete um homem (violador) ao poder de outro (violado). Locke compreende que, de acordo com a lei da natureza, um indivduo no pode impor seu poder sobre o outro sem a concesso deste e que o poder de um sobre o outro no pode ser absoluto. O autor, dessa forma, estabelece a escravido como uma violao da lei da natureza de preservao da humanidade, pois nela um indivduo tem poder total sobre outro, inclusive o poder de tirar-lhe a vida. Com isso, Locke difere o estado de natureza de um estado de guerra e justifica por que o poder dos monarcas sob seus sditos no pode ser um poder absoluto, j que o estabelecimento de um governo civil feito visando beneficiar a lei da natureza e no opor-se a ela. A propriedade, para o autor, seria o elemento chave o qual a lei da natureza procurar regular. O autor entende como propriedade tanto bens fsicos como a vida e os pertences, como bens abstratos como a liberdade e os direitos que cada homem possui igualmente. Para Locke, se a lei da natureza estabelece que cada homem deve preservar-se, ento tudo aquilo que ele utilize, sem prejudicar a outrem, em benefcio desse dever passa a ser sua propriedade e no deve portanto ser violado por outros indivduos. Sendo assim, embora no estado de natureza todos tenham o mesmo direito sobre tudo aquilo que se encontra disponvel no mundo para seu sustento, se qualquer indivduo melhora determinado bem atravs do seu trabalho cultivar a terra, colher os frutos -, este passa a ser sua propriedade por direito e desde que este bem esteja sendo utilizado, sem que haja desperdcio, no est esse indivduo violando a lei da natureza, mas simplesmente melhorando suas condies de sobrevivncia. Sobre o poder poltico, Locke esboa uma anlise das vrias esferas sociais do homem buscando estabelecer qual a origem dos diversos tipos de poder. Contrrio a filosofia aristotlica, que v o estado como uma famlia ampliada onde o poder depositado nas mos do monarca assim como em uma famlia o nas mos do patriarca, Locke estabelece que em uma famlia o poder no configurado ao patriarca por sua superioridade em relao ao resto do cl mas sim pelo seu dever para com os demais membros. Para o autor, inicialmente um homem se une a uma mulher para a procriao e passa a ter poder sobre ela, mas apenas para a proteo de ambos e da futura prole, o poder do marido limitado a esse fim e a mulher continua livre. Da mesma forma, aps o nascimento dos filhos, estes so subordinados aos pais, mas somente por no possuir capacidade nem instruo para poderem sobreviver sozinhos, mas assim que estes se tornarem autnomos no estaro mais submetidos ao poder dos pais. Portanto para Locke, em nenhuma dessas situaes concedido a uma parte poder absoluto sobre a outra; mesmo uma relao entre senhor e servo uma relao de poder limitado de um sobre outro, onde h uma concesso entre as partes para a submisso, pois se o fosse de poder absoluto seria considerada escravido e violaria a lei da natureza. O poder absoluto de todas as formas, contrrio ao estado de natureza do homem. Aps ter eliminado a hiptese de legitimidade do poder pelos monarcas por descendncia legtima com Ado, mostrando que so homens comuns como seus sditos, e esclarecer o porqu tal poder no pode ser absoluto sem com isso violar o estado de natureza, Locke conclui que a origem do poder poltico de um governo sobre os demais membros da sociedade o contrato social estabelecido entre eles. Esse contrato, segundo Locke feito com o intuito de dar mais proteo propriedade individual. No estado de natureza embora seja possvel haver harmonia entre os homens e respeito propriedade de cada um, h pouca segurana contra a violao dessa propriedade. O governo civil estabelecido atravs do contrato, onde os indivduos abdicam do direito de punir a quem lesar sua propriedade e o concedem ao Estado, que passa assim a ter o monoplio dos meios coercivos para a manuteno da integridade da propriedade de cada cidado. No livro, apesar do autor apresentar algumas idias que evidenciam um provvel estudo cientfico pr-darwinista, por suas referncias as formas de relao entre os homens, ainda assim h um forte fundamento na religio, notvel pelas diversas menes a passagens bblicas. Locke diz que os homens so submissos somente a Deus e que Este os criou livres e possuidores da mesma racionalidade para poderem viver em harmonia na natureza, de modo que qualquer tentativa de submisso entre os homens provocaria instabilidade nesse estadode natureza e seria prejudicial a todos. A prpria lei da natureza, evidenciada por Locke,carrega em si um cunho cristo, ao dizer que cada homem est obrigado a se preservar e na ausncia de risco a si prprio deve preservar a coletividade, a lei refere-se ao dever dos homens de se manterem ntegros e no apenas prezarem por si como indivduos, mas tambm para seu dever para com os prximos e a sociedade em geral, uma caracterstica comum entre as comunidades religiosas, principalmente as protestantes. Apesar disso, Locke busca separar a religio da rbita do governo ao mostrar que os homens so todos iguais entre si, na medida em que Deus os fez assim, e que os homens que detm o poder poltico devem utiliz-lo para beneficiar a sociedade e no seu livre-arbtrio