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R E S P O N S A B I L I D A D E S O C I A L 48 por Carolina Cantarino Empresas da Rede Pescar ensinam profissão a jovens de baixa renda Tudo começou em 1976 numa peque- na sala de aula. Inspirado pelo provér- bio de Lao Tsé — "Se deres um peixe a um homem faminto, vais alimentá-lo por um dia. Se o ensinares a pescar, vais alimentá-lo por toda a vida" — o empre- sário gaúcho Geraldo Linck, proprietá- rio de uma empresa revendedora de máquinas e equipamentos rodoviários, quis ensinar um ofício a jovens pobres da periferia de Porto Alegre. Foi criado, então, o Projeto Pescar que tem como objetivo fazer com que empresas pro- movam a inclusão social de jovens de baixa renda através do aprendizado de uma profissão. Passados 30 anos, o projeto desen- volveu um modelo pioneiro de franquia social: a empresa integrada ao Projeto Pescar abre espaço, em suas próprias dependências, para a formação pessoal e profissional dos adolescentes selecio- nados. A intenção também é encami- nhá-los, depois, ao mercado de traba- lho. A empresa franqueada recebe supor- te e orientação técnica da Fundação Projeto Pescar, organização não-gover- namental criada em 1995 para divulgar a tecnologia social desenvolvida pelo projeto. "Nossa escola sempre esteve envol- vida em ações sociais, mas pontuais. Queríamos uma atividade mais siste- mática e contínua" afirma Dário Schneider, professor responsável pelo Projeto Pescar no Colégio Anchieta, pri- meira escola particular de ensino fun- damental e médio a adotar uma fran- quia do projeto. As empresas que ofere- cem produtos e serviços ao colégio tor- naram-se, também, suas parceiras no projeto. CIDADANIA O Colégio Anchieta oferece um cur- so técnico de auxiliar de informática para jovens que estejam em situação de vulnerabilidade social na periferia da Região Metropolitana de Porto Alegre. Um dos critérios de seleção para o cur- so é que o jovem — com idade entre 16 e 18 anos — esteja cursando a oitava série ou o ensino médio em alguma escola pública. Uma das características do Projeto Pescar é a formação não só profissio- nal, mas também pessoal dos adoles- centes. "Na Unidade Anchieta, os alu- nos do projeto têm aulas sobre meio ambiente, saúde, educação artística e teatro. Pode-se dizer que 60% do currí- culo é voltado para questões de cidada- nia", lembra Schneider. Os adolescen- tes também recebem um auxílio para transporte e alimentação. A primeira turma formada pelo colé- gio concluiu o curso — com duração de oito meses — em julho de 2005. Dos 17 jovens formados, 13 conseguiram seu primeiro emprego. "Acredito que para ser eficaz, a noção de responsabilidade social de uma empresa deve surgir de dentro para fora. É possível a uma ins- tituição realizar ações sociais que sejam válidas para a sociedade como um todo" afirma Dário Schneider ao destacar os resultados positivos do Projeto Pescar. Mais de 9.711 estudantes já passa- ram pelo Projeto e cerca de 70% deles conseguiram emprego logo após a for- matura. O projeto conta, atualmente, com 87 empresas franqueadas nos esta- dos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rondônia, Ceará e Distrito Federal. PEDAGOGIA Uma das empresas franqueadas é a Vicunha, considerada a maior indús- tria têxtil da América Latina, que ado- ta o Projeto Pescar em quatro de suas 15 unidades operacionais: em Americana e na capital, em São Paulo; em Maracanaú, no Ceará, e outra em Natal, no Rio Grande do Norte. A unidade da empresa em Americana desenvolve par- ceria com a Fundação Projeto Pescar PROJETO DESENVOLVEU TECNOLOGIA SOCIAL PIONEIRA PARA ESTIMULAR EMPRESAS A FORMAR E INTEGRAR ADOLESCENTES NO MERCADO DE TRABALHO

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por Carolina Cantarino

Empresas da Rede Pescar ensinamprofissão a jovens de baixa renda

Tudo começou em 1976 numa peque-na sala de aula. Inspirado pelo provér-bio de Lao Tsé — "Se deres um peixe aum homem faminto, vais alimentá-lopor um dia. Se o ensinares a pescar, vaisalimentá-lo por toda a vida" — o empre-sário gaúcho Geraldo Linck, proprietá-rio de uma empresa revendedora demáquinas e equipamentos rodoviários,quis ensinar um ofício a jovens pobresda periferia de Porto Alegre. Foi criado,então, o Projeto Pescar que tem comoobjetivo fazer com que empresas pro-movam a inclusão social de jovens debaixa renda através do aprendizado deuma profissão.

Passados 30 anos, o projeto desen-volveu um modelo pioneiro de franquiasocial: a empresa integrada ao ProjetoPescar abre espaço, em suas própriasdependências, para a formação pessoale profissional dos adolescentes selecio-nados. A intenção também é encami-nhá-los, depois, ao mercado de traba-lho. A empresa franqueada recebe supor-te e orientação técnica da FundaçãoProjeto Pescar, organização não-gover-namental criada em 1995 para divulgara tecnologia social desenvolvida peloprojeto.

"Nossa escola sempre esteve envol-vida em ações sociais, mas pontuais.Queríamos uma atividade mais siste-

mática e contínua" afirma DárioSchneider, professor responsável peloProjeto Pescar no Colégio Anchieta, pri-meira escola particular de ensino fun-damental e médio a adotar uma fran-quia do projeto. As empresas que ofere-cem produtos e serviços ao colégio tor-naram-se, também, suas parceiras noprojeto.

CIDADANIAO Colégio Anchieta oferece um cur-

so técnico de auxiliar de informáticapara jovens que estejam em situação devulnerabilidade social na periferia daRegião Metropolitana de Porto Alegre.Um dos critérios de seleção para o cur-so é que o jovem — com idade entre 16 e18 anos — esteja cursando a oitava sérieou o ensino médio em alguma escolapública.

Uma das características do ProjetoPescar é a formação não só profissio-nal, mas também pessoal dos adoles-centes. "Na Unidade Anchieta, os alu-nos do projeto têm aulas sobre meioambiente, saúde, educação artística eteatro. Pode-se dizer que 60% do currí-culo é voltado para questões de cidada-nia", lembra Schneider. Os adolescen-tes também recebem um auxílio paratransporte e alimentação.

A primeira turma formada pelo colé-

gio concluiu o curso — com duração deoito meses — em julho de 2005. Dos 17jovens formados, 13 conseguiram seuprimeiro emprego. "Acredito que paraser eficaz, a noção de responsabilidadesocial de uma empresa deve surgir dedentro para fora. É possível a uma ins-tituição realizar ações sociais que sejamválidas para a sociedade como um todo"afirma Dário Schneider ao destacar osresultados positivos do Projeto Pescar.

Mais de 9.711 estudantes já passa-ram pelo Projeto e cerca de 70% delesconseguiram emprego logo após a for-matura. O projeto conta, atualmente,com 87 empresas franqueadas nos esta-dos do Rio Grande do Sul, SantaCatarina, Paraná, São Paulo, Rio deJaneiro, Minas Gerais, Rio Grande doNorte, Rondônia, Ceará e DistritoFederal.

PEDAGOGIAUma das empresas franqueadas é a

Vicunha, considerada a maior indús-tria têxtil da América Latina, que ado-ta o Projeto Pescar em quatro de suas 15unidades operacionais: em Americanae na capital, em São Paulo; emMaracanaú, no Ceará, e outra em Natal,no Rio Grande do Norte. A unidade daempresa em Americana desenvolve par-ceria com a Fundação Projeto Pescar

PROJETO DESENVOLVEU TECNOLOGIA SOCIAL PIONEIRA PARA ESTIMULAR EMPRESAS A FORMAR E INTEGRAR ADOLESCENTES NO MERCADO DE TRABALHO

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A Vicunha seleciona, a cada turma,14 adolescentes carentes, através daaplicação de um questionário socioeco-nômico e oferece a eles um curso profis-sionalizante na área de serviços admi-nistrativos. A empresa é responsável,diariamente, pelo traslado desses jovens,que ainda contam com o acompanha-mento de uma psicóloga e uma assis-tente social. O curso dura, ao todo, 10meses — 800 horas — e é realizado duran-te o período da manhã.

Dos 13 jovens que se formaram na

primeira turma (houve uma desistên-cia), nove conseguiram ingressar nomercado de trabalho. "Em relação àempregabilidade, além da própriaVicunha, temos contatos com agênciasde emprego e com empresas da regiãoque, através do nosso trabalho, conhe-cem o Projeto Pescar e o apóiam", afir-ma Melissa Cristina da Silva.

A Rede Pescar conta, não só com asempresas franqueadas, mas tambémcom o apoio de voluntários, estenden-do, assim, suas parcerias. "Contamos,em nosso projeto na Vicunha, com apresença de dois professores univer-sitários do Centro UniversitárioSalesiano de São Paulo — conhecidocomo Unisal — que, voluntariamente,ministram aulas com noções básicassobre administração de empresas paraos alunos", lembra Melissa.

desde de agosto de 2004, contando jácom uma segunda turma de alunos emformação.

"No início da implantação de umanova franquia, o orientador — respon-sável pelo Projeto Pescar dentro de umadeterminada empresa — realiza um cur-so de formação na sede da Fundação,em Porto Alegre, com duração de umasemana", descreve Melissa Cristina daSilva, orientadora do Projeto da unida-de da Vicunha em Americana. Respon-sável por essa unidade desde o seu iní-cio, a pedagoga lembra que depois dis-so, a Fundação fornece supervisão peda-gógica contínua e realiza, anualmente,seminários nacionais para promoverencontros entre os orientadores dasempresas para que troquem informa-ções sobre suas experiências particu-lares com o projeto.

É POSSÍVEL A UMAINSTITUIÇÃO REALIZAR

AÇÕES SOCIAIS QUE SEJAMVÁLIDAS PARA A SOCIEDADE

COMO UM TODO

Alunos do Projeto Pescar, quepreparam-se paraentrar no mercado

de trabalho

Divulgação

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