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UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Jurídicas e Políticas (CCJP) Disciplina: Introdução à Política – Professor Fernando Quintana Aluno: Benjamin Soares de Azevedo Neto – 2014.1.361.037 Resumo Pensadores Clássicos Maio/2014

Resumo Pensadores Clássicos - Benjamin Azevedo

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Page 1: Resumo Pensadores Clássicos - Benjamin Azevedo

UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Jurídicas e Políticas (CCJP)

Disciplina: Introdução à Política – Professor Fernando Quintana

Aluno: Benjamin Soares de Azevedo Neto – 2014.1.361.037

Resumo Pensadores Clássicos

Maio/2014

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Introdução:

A Política acompanha o homem desde os tempos idos, como ideário e forma de organização social, variando este pensamento ao longo do tempo, conforme o contexto histórico de culturas, guerras, jogos de poder e outros acontecimentos.

Nesta disciplina de Introdução à Política vimos as idéias, reflexões e orientações de pensadores clássicos, que contribuíram ao longo da história para a evolução do pensamento político e cujos conceitos, em maior ou menor escala, chegam até nossos tempos.

Os pensadores estavam naturalmente condicionados, cada um, por seu contexto específico histórico, social e político, contexto este que direcionava e até certo ponto limitava suas conclusões, sem que ao mesmo tempo, ao contrário, trouxessem os pensadores muitas vezes pensamentos reformadores com quebras de paradigmas em relação aos seus próprios contextos. Por exemplo, Aristóteles, cuja Politéia inspirou idéias de democracia desde então até os dias de hoje, aceitava e vivia ele mesmo em uma democracia que incluia a escravidão, e que tinha critérios de cidadania como polités (homem, rico, livre, maior de 21 anos e nativo) que hoje soariam antidemocráticos, ao excluir as mulheres e outros grupos.

Os autores vistos neste período e aqui resumidos foram:

• Aristóteles • Santo Agostinho (Aurélio Agostinho, Agostinho de Hipona)

• Nicolau Maquiavel (Niccolo Machiavelli)

• Thomas Hobbes

• John Locke

• Jean-Jacques Rousseau

• Immanuel Kant

Este resumo, preparado como roteiro de estudo e substituto de prova (segunda chamada por motivo médico), baseia-se no material de apoio distribuído à turma pelo Professor Fernando Quintana e nas notas de aula do professor e da monitoria, de forma que dispensamos a reprodução das referências externas que já constam do material original.

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Aristóteles (384 a.c. – 322 a.c.) – Ética e Política. A Politéia

Aristóteles, único pela perenidade milenar de sua vasta obra, destaca-se em especial por suas reflexões sobre a Ciência Política e sua íntima ligação com a Ética e a Moral, que inspiraram o conceito de representação democrática e são até hoje uma permanente referência e contribuem no debate contemporâneo entre, de um lado, políticos liberais e filósofos morais deontológicos (voltados aos deveres, defendem uma moral e ética baseada em princípios universais e que o correto tem precedência sobre o bem) e, de outro lado, comunitaristas e teleologistas (voltados aos fins, aos objetivos, que defendem uma moral e ética particular, ligada ao êthos de cada sociedade, e que entendem que o bem tem prioridade sobre o correto).

A reflexão de Aristóteles ocorre em momento difícil em Atenas, com o fim do seculo d´ouro (460-431 a.c.), com a Guerra do Peloponeso (431-405 a.c.) em que Esparta, vitoriosa, acaba com a democracia ateniense de Péricles (governo de muitos em favor de muitos, baseada nas reformas de Clístenes e que buscava a felicidade de muitos), e Atenas conhece formas ruins de governo (oligarquia com o Conselho Oligarquico dos 30 e oclocracia com a Assembléia democrática dos 5.000 que veio a matar Sócrates), lutas internas e instabilidade política, a batalha de Queroneia (338 a.c.) com o fim da pólis e a vitória da Cosmópolis (império) com Alexandre Magno.

Para Aristóteles, conforme o método teleológico (com vista aos fins, aos objetivos), a Política está intimamente associada à Ética, ambas tendo como objetivo o bem estar, a felicidade. A Política em um contexto coletivo, buscando a Eudaimonia (felicidade da Pólis); a Ética em um contexto individual. Trazia Aristóteles uma mudança filósofica: em adição à visão descritiva (Athenas como ela é), adotava também a visão prescritiva (Atenas como deveria ser).

Em Ética a Nicômaco Aristóteles procura resposta para o que é a felicidade e discute isto em diversos capítulos: o que é o Bem para o homem; a virtude Moral; as condições para a responsabilidade pela ação; as Virtudes; a Justiça; Continência e Incontinência; Amizade; Prazer e Felicidade.

As doze virtudes práticas aristotélicas se relacionam com o sentimento mas também com o comportamento, com o triunfo de uma forma de agir moderada, entre dois extremos. São elas a coragem (entre a temeridade e a covardia); a calma (entre a irrascibilidade e a apatia); a temperança (entre a intemperança e a insensibilidade); a liberalidade (entre a prodigialidade e a avareza); a honra (entre a ambição e a humildade); a magnificência (entre a vulgaridade e a mesquinharia); a indignação (entre a inveja e a raiva); a magnanimidade (entre a soberba e a modéstia); a veracidade (entre a jactância e a falsidade); a jocosidade (entre a bufonaria e a rusticidade; a amizade (entre a adulação); e a justiça, modo de agir pautado pelo justo, pelo meio-termo, pelo equilíbrio.

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Destas, as quatro virtudes cardinais seriam a Prudência, a Justiça, a Coragem e a Amizade. A Prudência, segundo Aristóteles, seria a mistura de bons sentimentos com o uso da razão, conquistada através do equilíbrio e da fuga dos extremos.

Em A Política, onde tenta responder que forma de organização política pode assegurar a felicidade geral, Aristóteles listou os tipos de governo (e suas formas degeneradas): monarquia (tirania), aristocracia (oligarquia) e república (oclocracia).

A república ateniense ou politéia (em seu sentido objetivo de forma de governo) visava preservar o bem comum e proporcionar a vida feliz em comunidade, e surge de duas formas degeneradas de governo, a oligarquia e a oclocracia. (Politéia também aparece em sentido subjetivo, refereindo-se ao comportamento virtuoso do polités _ cidadão _ em sociedade).

A Boulé (Conselho) era encarregada de preparar as leis. A Eclésia (Assembléia) fazia as leis e nomeava embaixadores e magistrados). As causas apresentadas pela população eram julgadas pela Heliée (tribunal). Os três coletivos acima estavam nas mãos de muitos, visando deliberarem melhor. Já a função executiva ficava concentrada nas mãos de poucos de forma a ter-se rapidez de decisão.

Os dez Estrategos escolhidos por voto popular (um de cada uma das dez tribos) eram ministros em tempos de paz, e generais em tempos de guerra.

As atividades humanas estavam divididas em três classificações: Labor, Poéisis e Praxis.

Labor referia-se ao trabalho braçal feito pelos escravos, com a produção de bens de consumo para a sobrevivência (alimentação, vestuário, etc.).

Praxis o polités, junto com outros cidadãos reunidos na agora, refereria-se ao saber prático, movido por bons sentimentos, e tendo como resultado um bem intangível: a amizade (philia), que merece ser vivida independetemente do resultado..

Poéisis a tékhne partir de um saber prático (ars) produz normas e decisões judiciais, tendo como resultado a estabilidade e a felicidade da comunidade. Também é poésis a atividade do arquiteto que constrói a cidade, e outras similares.

O conceito de fúsis (natureza) hierárquica e não igualitária, é utilizado na expressão nómos katá fúsis (a lei deve em conformidade com a natureza) de forma diferente por Platão (a república perfeita deve reproduzir em nível individual e social a ordem natural) e Aristóteles (cada um deve cumprir seu papel).

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Santo Agostinho (354 – 430) – A Civitas Dei

Aurelius Agostinho, mais conhecido como Santo Agostinho, convertido ao cristianismo e tendo chegado a Bispo de Hipona, cargo que ocupou até a sua morte, é o maior dos criadores de sínteses cristãs.

Como antecedente, o imperador Constantino se havia convertido ao cristianismo (312), e o imperador Teodósio I proclamado o cristianismo como religião oficial do Império Romano (380).

Lutas e conflitos após a morte de Teodósio (395) levam à divisão Império Romano, em Império do Ocidente e do Oriente, entre seus filhos Arcádio e Honório.

Com o fim do Império Romano do Ocidente em 476, a Igreja Católica procura tornar-se força capaz de unificar a civilização ocidental. Isto não se faz, porém, através de uma união igreja-estado monista (seja papo-cesarismo, onde o papa tem todo o poder, ou cesaro-papismo, onde o imperador tem todo o poder).

A organização, ao contrário, é a Diversa Ordinis, dualista, com o mundo dividido em duas ordens, conforme a Doutrina das Duas Espadas, criada pelo papa Velácio I, que divide o mundo em dois poderes: Autóritas (poder divino) e Potéstas (poder temporal).

O papa tem duas espadas, representando o poder divino e o poder temporal, mas vai delegar o poder temporal ao imperador. Não há junção igreja-estado (secularização). A Santa Sé é a cidade celeste na Terra.

Sua obra Civitas Dei (413-426) pode ser considerada um texto reativo contra os invasores bárbaros mas também propositivo ao revigorar o povo cristão através da criação de uma sociedade ideal e da defesa da Igreja Católica como instituição. Duas palavras se destacam: amor e virtude.

A reflexão moral de Santo Agostinho se dá em torno de termos polares: alma x corpo, comune x privus, ordem x desordem, santidade x pecado.

As quatro virtudes cardeias são definidas sempre em relação do divino: a temperança (amor de Deus que se conserva inteiro e incorrupto); a coragem (amor que suporta tudo em nome de Deus); a justiça (amor so serviço de Deus, ordenando as demais coisas submetidas ao homem); e a prudência (amor que distingue as coisas favoráveis a Deus e aquelas são obstáculos a isto).

O amor a Deus é amor ágape, espiritual, desinteressado. Em contraste a este há o amor éros, interessado e que encerra-se quando sua motivação acaba.

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Outra dicotomia agostiniana é a distinção entre frui (gozar, quando uma coisa nos deleita por si mesmo, sem precisar relacioná-la a outra coisa) e uti (usar, quando buscamos algo visando outra coisa). Algo uti pode, porém, ser válido e honesto se é feito em busca do amor divino.

Platão dizia que o mundo superior é o mundo das idéias, e que o mundo terreno não pode ser perfeito. Santo Agostinho diz que o mundo superior é o mundo de Deus, e que o mundo terreno pode ser perfeito, pois criado por Deus.

O maniqueísmo, a que Santo Agostinho pertenceu na juventude, afirmava que existiam dois caminhos: o bem e o mal. Agostinho por sua vez diz que existe apenas o bem e o afastamento do bem.

Civitas Dei (cidade celeste) e Civitas Pecatis (cidade terrestre) são duas abstrações entre as quais a cidade dos homens (Civitas Hominis) oscila pendularmente, em direção à Civitas Dei quando vivemos contemplativamente amando a Deus, ou, contrariamente, direção à Civitas Pecatis, quando somos orgulhosos, egoístas e nos rendemos aos prazeres mundanos. O livre arbítrio é que nos faz seguirmos um caminho ou outro.

Agostinho elogia a República de Cícero, mistura de três formas boas de governo (monarquia, aristocracia e república/politéia), regulada por suas instituições.

Dois consules, para que um vigie o outro. Senado restrito, com poucos membros, os sábios, de poderes aquisitivos elevados. Tribunos das plebes, muitos, representando o povo. Ricos e pobre participam do governo, e se controlam mutuamente, a evitar corrupção. Faz porém a crítica de que não tinha o amor a Deus como referência.

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Maquiavel (1469-1527) – A Ética do Príncipe e do Cives

Maquiavel no contexto renascentista, traz a baila em suas principais obras duas situações distintas, com lente de história cíclica, olhando o passado para evitar cometer os mesmos erros.

Em O Príncipe, escrito para Lorenzzo de Medici, aborda uma primeira situação, extraordinária, que refere-se ao salvamento do Estado e a reunificação da Itália e mesmo sendo republicano, apresenta pensamento pragmático, com argumento ex parte principis, ou seja, visão descendente do poder, centrado no Príncipe, e juizo amoral, com os fins se sobrepondo aos meios, pois toda avaliação é feita conforme o sucesso ou fracasso do resultado. O Príncipe deve ser mais temido do que amado. A virtú (qualidades do Príncipe) a a fortuna (sorte ou acaso) são completamente associadas.

O Príncipe tem como objetivo a Gran Cose, conservar a manter o Estado Italiano, usando todas as armas necessárias. Os meios empregados passam a ser avaliados em razão do resultado, em juízo amoral (ética consequencialista, pragmátismo). Admite simulação (mentir) e dissimulação (omitir, em nome da segurança do Estado). O Príncipe deve usar a força e a astúcia para proteger o Estado (leão e raposa). A astúcia é mais importante, dado que a força pode ser mal ou malo empregada. É mal empregada quando não consegue salvar o Estado (Ex: Liverotto de Fermo) e bem empregada quando consegue (Ex: Agátocles de Siracusa e Cesar Borgia).

As quatro virtudes cardinais para Maquiavel são a honra, a coragem, a justiça e a prudência, esta entendida como o pragmatismo (prever o pior e evitá-lo).

Em O Dircurso, com argumento ex parte populi, ou seja, visão ascendente do poder, do povo (cives) para o Príncipe, aborda um segundo momento, ordinário, em que o Estado italiano já não está ameaçado, e deve-se pensar em boas instituições.

As quatro virtudes cardinais são o patriotismo, a honra, o amor e a simplicidade.

Bons exércitos (boni armi) são mais importante do que boas instituições (boni ordini), pois não pode haver boas leis onde não haja boas armas (que por sua vez dependem de boas instituições para que amem a Pátria em lugar de serem mercenários). Conceitua liberdade como autointeresse (lutar pela Pátria, ir à guerra, perseguir seus objetivos) ou como autogoverno (escolha de representantes pelo voto, em lugar da democracia direta).

Maquiavel defende a religião dentro do Estado, pois valoriza que o homem tenha amor a Deus e que a religião afastará os cidadão da corrupção e os fará respeitar o governo temporal.

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Hobbes (1588-1679) – Moral da Obediência e Ética Hedonista

Hobbes, já no início da modernidade, discute a questão do balanço entre a obediência às leis e às autoridade e a busca da felicidade individual. Tendo vivido na época da primeira Guerra Civil britânica (1642-1646), contexto de instabilidade, onde tudo podia ser aniquilado, e assim favorável á reflexão do tipo construção criativa. Iluminismo, com ascencão da física, matemática e geometria. Método dedutivo.

As preocupações centrais são a tranquilitas (originada no desejo de viver) tendo como caminho a lex naturalis apresentada como leis imutáveis e que devem ser obedecidas e a felicitas (originada no desejo de uma vida prazeirosa), tendo por base o jus naturalis (direito, liberdade de fazer, que traz a Ética Hedonista). A liberdade hobbesiana é como a água: se contida em um vaso ou rio está presa; quebre-se o vaso e ela se liberta.

Pelo método dedutivo, parte-se por exemplo das premissas de que os homens querem a paz, e os homens devem cumprir os pactos, deduz-se que se querem a paz devem cumprir pactos.

Os métodos indutivos corresponde a estudos focais para leis universais, criando axiomas morais: (1) .paixão mais razão = busca pela paz (leis naturais = obediência ao soberano) e (2) paixão + razão = busca pelo prazer (direitos naturais = liberdade individual).

Os motivos que levam o homem a sair de seu estado de natureza (mau, egoísta, ganancioso, desconfiado) são (1) o medo da morte e (2) desejo de conquistar uma vida confortável. Aceita assim a existência de um soberano necessário para garantir a segurança do lugar, acabando com a desconfiança. Faz assim um pacto (Pacto Social), dando parte de sua liberdade em troca desta segurança. As leis naturais tornam-se leis civis. Passa a haver punição para quem não respeitar as leis.

O Leviatã. Todo o poder do Estado (moral, político, jurídico e religioso) está na mão do soberano. Precursor do positivismo jurídico: não existem normas, nem noção de justo e injusto, exceto emanadas pelo soberano; a Lei Civil está acima da Lei Natural.

Hobbes separa a Moral, que é conselho, sugestão, do Direito, norma que somos obrigados a seguir.

O homem passa a ter liberdade jurídica, mas deixa de ter liberdade política, que fica adstrita ao soberano.

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Locke (1632-1704) – Ética Puritana e Rule of Law

O contexto é o da Revolução Inglesa, com conflito entre puritanistas (calvinismo na Inglaterra) e anglicanistas, com subsequente diminuição de poderes da monarquia e destituição de Carlos I. Destacam-se além de John Locke, mais dois dirigentes puritanistas, John Pyim e John Milton.

Locke atribuia a todo homem ao nascer direitos naturais que o Estado deve proteger: vida/segurança, liberdade e propriedade, defendendo o individualismo com base nestes direitos, que se interrelacionam (jusnaturalismo).

O homem seria seu próprio juiz conforme a Teoria da Predeterminação Calvinista, e já estaria previamente destinado a ir para o Céu ou não. Tudo está voltado ao trabalho e o êxito terrestre é a salvação. O homem é uma folha em branco e não se pode prever se ele é bom ou ruim. A razão suplanta a paixão.

Segundo Locke as Leis Naturais estão acima das Leis Civis, estando o Estado subordinado âs Leis Naturais, que são irrevogáveis.

Locke questiona se as Leis Naturais podem ser explicadas cientificamente, ou se apenas atreravés de um poder divino.

A Razão Assistida (Teísta) afirma que as leis naturais só podem ser explicadas pelo poder divino, sendo Deus o criador das leis naturais, e que estas são um conhecimento imediato, intuitivo, uma percepção direta.

Já a Razão Desassistida (Deísta), afirma que as leis naturais são explicadas cientificamente pela razão. Até Deus seria um força natural e seria explicado pela razão. A razão explica Deus, e não Deus explica a razão. É conhecimento demonstrativo, percepção mediata que está no campo da moral.

O Pacto Social organiza-se em torno da separação dos poderes; e do voto majoritário, através da construção do Parlamento. Locke defende a monarquia parlamentar. Preve-se o Direito de Resistência, pelo qual o povo pode rebelar-se e tirar o rei do poder, caso não esteja cumprindo com suas obrigações.

O surgimento da moeda dá lugar à acumulação de riquezas, geradas pelo trabalho, que vai legitimar a desigualdade social entre os homens.

Conforme o pensamento contratualista de Locke a origem do poder está no povo, sendo o governo resultado de uma relação de confiança, sendo o monarca uma simples instância executiva, estando poder contudo no Parlamento.

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Rousseau (1712-1778) – Ética da Compaixão e Política

Em contraste com o Iluminismo da época, Rousseau define uma Ética baseada nos bons sentimentos e na compaixão, em lugar dos interesses e da razão. O homem segundo ele nasce livre, mas por toda parte encontra-se aprisionado. O homem é bom por natureza, a Sociedade corrompe-o, mas só ela é capaz de salvá-lo.

Sua obra O Contrato Social, publicada alguns anos antes da Revolução Francesa, inspirando-se na soberania do povo, e defendendo a vontade geral do povo em detrimento da vontade do soberano ficou conhecida como a Bíblia da Revolução Francesa.

O legítimo Contrato Social é forma de associação que defende e protege a pessoa e os bens de cada um com a força comum, e pela qual cada um, unindo-se com todos, só obedece, contudo, a si mesmo, permancendo tão livre quanto antes (liberdade com autonomia moral / política).

É famosa a máxima: Obedeço, logo sou livre. Submeter-se à lei é ato de liberdade.

Os direitos deixam de ser absolutos para serem regulados pela Lei. Perde-se a liberdade natural ou perfeita (estado de natureza), em troca da liberdade verdadeira (estado social) o que corresponde à metamorfose do homem de indivíduo isolado à condição de cidadão, na chamada regeneração. O homem natural para o homem político, assinalando para Russeau o nascimento da humanidade. O homem é capaz de elaborar normas morais, enquanto o cidadão é capaz de elaborar normas jurídicas.

A partir do democratismo rousseauniano, não mais de admite que os direitos individuais possam ser pensados fora do horizonte dos deveres do cidadão e que coloca como exigência o comportamento benevolente do cidadão que passa pela participação política.

Russeau com seu democratismo colocou também em novos alicerces o conceito de liberdade como autodeterminação moral e política.

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Kant (1724-1804) – Moral Universal e o Staatsrecht

Kant traz o idealismo transcendental, pelo qual todos trazemos para a experiência concreta do mundo formas e conceitos a priori (que nao vêm da experiência) e pela filosofia moral. Defende a liberdade e a dignidade.

Seus escritos Fundamentação da metafísica dos costumes são próximos tanto da Revolução Americana (1776) como da Revolução Francesa (1789).

Em Crítica da Razão Pura defende a liberdade de fazer uso público da razão pessoal em todas as matérias, enfatizando a importância da opinião pública e da publicidade de opiniões.

O humanismo de Kant parte de princípios universais cuja validade independe das condições históricas, e que prescidem de qualquer autoridade que não a própria razão, a que denomina Imperativos Categóricos, criados por um ser numenal, dotado de razão, que vive no mundo das idéias (mundo superior) e que devem ser seguidos para se viver bem:

• Imperativo da Dignidade: Trate as pessoas como um fim e não como um meio. Respeite a dignidade do ser humano.

• Imperativo da Liberdade: Cada um tem a sua liberdade individual. Respeite a liberdade do próximo.

• Imperativo da Sociabilidade: Aja respeitando o outro e a si mesmo, de modo que não haja necessidade de lei para impor uma boa conduta.

O ser humano faz parte de dois mundos distintos: o mundo numenal, suprasensível (nóos: intelecto, razão, vontade; menós:vida) que o toma como ser pensante, livre e autônomo para elaborar leis morais (Sein: infinito, ilimitado); e do mundo fenomenal, concreto (fainóo: ser, aparência, existência; menós:vida) que o toma como ser natural, objeto de experiência, condicionado por fatores sociais, culturais e psicológicos (Darsein: ser no mundo, encarnado, finito e limitado).

Hegel questiona o a priorismo da moral kantiana na medida em que não aparece conciliado com o a posteriori da moralidade objetiva ou eticidade, informando como a moral se tranpõe para a prática. De que adianta existirem estes imperativos, se o ser humando não os seguir ?

Para Hegel o alcance prático surgiria do amor do cidadão ao Estado, ou do amor de um filho para com seus pais, ou seja de nossas ações em benefícios de outros.

Lévinas critica a moral para Kant por estar muito presa em si mesma, ou seja Kant aprisionaria o sujeito em si mesmo. A solução para ele seria romper com a imanência e abrir-se ao próximo, inscrevendo a transcedência na imanência.