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Título: A Antártica como parte do Entorno Estratégico Brasileiro: revisitando os interesses pelo Sexto Continente. Autor: Leonardo Faria de Mattos Titulação: Capitão de Mar e Guerra (RM1), bacharel em Ciências Navais pela Escola Naval, Mestre em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval, Mestre em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense, e, atualmente, leciona Geopolítica na Escola de Guerra Naval, Av. Pasteur 480, Urca, Rio de Janeiro, RJ. E-mail: [email protected]. RESUMO A Antártica é um continente com dimensões superiores ao Canadá, com as condições climáticas mais inóspitas do planeta. Possui inúmeras riquezas minerais, não exploradas pelas restrições impostas pelo Protocolo de Madri de 1991 e é regido pelo Tratado da Antártica de 1959, pelo qual, atualmente, somente 29 países possuem direito a voto, direito adquirido por terem programas antárticos permanentes. Sete deles (Argentina, Austrália, Chile, França, Nova Zelândia, Noruega e Reino Unido) possuem reivindicações territoriais anteriores ao tratado, não reconhecidas pelos demais membros. O Brasil, que nunca reivindicou formalmente território naquele continente, somente aderiu ao Tratado em maio de 1975 e se tornou membro consultivo com direito a voto, a partir de setembro de 1983, após sua primeira expedição científica. Em setembro de 2013, a nova revisão da Política Nacional de Defesa passou a incluir a Antártica como parte do Entorno Estratégico Brasileiro. Este artigo pretende analisar a presença e o interesse atual de três dos países territorialistas pela Antártica - Argentina, Chile e Reino Unido -, em contraponto a posição brasileira em relação ao continente. Esses países foram os escolhidos, entre os sete territorialistas, por suas áreas reivindicadas coincidirem com a região daquele continente onde o Brasil possui diretos interesses, inclusive onde se encontra a única estação brasileira, atualmente, em reconstrução. Também será discutido o que a entrada da Antártica para o conceito de Entorno Estratégico Brasileiro efetivamente significa para o Brasil. Palavras-Chave: Antártica; Entorno Estratégico; Países Territorialistas. ABSTRACT Antarctica is a continent with great dimensions, surpassing countries like Canada, and unwelcoming climate conditions. It also possesses great mineral riches not yet explored due to the restrictions imposed in the Antarctic Treaty of 1959, in which only 29 countries have the right to vote due to their permanent efforts in the continent. Seven countries made territorial claims prior to the Treaty, which are not recognized by the other members. Brazil only acceded to the Treaty in May 1975 and became an Advisory member with voting rights in September 1983, after the countries first scientific expedition to the continent. In September 2013, the new revision of the country’s National Defense Policy included Antarctica as part of the Brazilian Strategic Area of Interest. This article intends to analyze the presence, the interest and the different views for Antarctica between three countries with territorial claims Argentina, Chile and United Kingdom - and Brazil. These countries were chosen, between the seven territorial, for his claimed areas coincide with the region of that continent where Brazil has direct interests, even where it is the only Brazilian station currently under reconstruction. Will also be discussed what the entry of Antarctica to the concept of Strategic Area of Interest effectively means to Brazil. Keywords: Antarctica; Strategic Area of Interest; Territorial Claimant Countries.

RESUMO - enabed2016.abedef.org · the seven territorial, for his claimed areas coincide with the region of that continent where Brazil has direct interests, ... na Estação russa

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Título: A Antártica como parte do Entorno Estratégico Brasileiro: revisitando os

interesses pelo Sexto Continente.

Autor: Leonardo Faria de Mattos

Titulação: Capitão de Mar e Guerra (RM1), bacharel em Ciências Navais pela Escola Naval,

Mestre em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval, Mestre em Estudos Estratégicos

pela Universidade Federal Fluminense, e, atualmente, leciona Geopolítica na Escola de

Guerra Naval, Av. Pasteur 480, Urca, Rio de Janeiro, RJ. E-mail: [email protected].

RESUMO

A Antártica é um continente com dimensões superiores ao Canadá, com as condições

climáticas mais inóspitas do planeta. Possui inúmeras riquezas minerais, não exploradas pelas

restrições impostas pelo Protocolo de Madri de 1991 e é regido pelo Tratado da Antártica de

1959, pelo qual, atualmente, somente 29 países possuem direito a voto, direito adquirido por

terem programas antárticos permanentes. Sete deles (Argentina, Austrália, Chile, França,

Nova Zelândia, Noruega e Reino Unido) possuem reivindicações territoriais anteriores ao

tratado, não reconhecidas pelos demais membros. O Brasil, que nunca reivindicou

formalmente território naquele continente, somente aderiu ao Tratado em maio de 1975 e se

tornou membro consultivo com direito a voto, a partir de setembro de 1983, após sua primeira

expedição científica. Em setembro de 2013, a nova revisão da Política Nacional de Defesa

passou a incluir a Antártica como parte do Entorno Estratégico Brasileiro. Este artigo

pretende analisar a presença e o interesse atual de três dos países territorialistas pela Antártica

- Argentina, Chile e Reino Unido -, em contraponto a posição brasileira em relação ao

continente. Esses países foram os escolhidos, entre os sete territorialistas, por suas áreas

reivindicadas coincidirem com a região daquele continente onde o Brasil possui diretos

interesses, inclusive onde se encontra a única estação brasileira, atualmente, em reconstrução.

Também será discutido o que a entrada da Antártica para o conceito de Entorno Estratégico

Brasileiro efetivamente significa para o Brasil.

Palavras-Chave: Antártica; Entorno Estratégico; Países Territorialistas.

ABSTRACT

Antarctica is a continent with great dimensions, surpassing countries like Canada, and

unwelcoming climate conditions. It also possesses great mineral riches not yet explored due to

the restrictions imposed in the Antarctic Treaty of 1959, in which only 29 countries have the

right to vote due to their permanent efforts in the continent. Seven countries made territorial

claims prior to the Treaty, which are not recognized by the other members. Brazil only

acceded to the Treaty in May 1975 and became an Advisory member with voting rights in

September 1983, after the countries first scientific expedition to the continent. In September

2013, the new revision of the country’s National Defense Policy included Antarctica as part

of the Brazilian Strategic Area of Interest. This article intends to analyze the presence, the

interest and the different views for Antarctica between three countries with territorial claims –

Argentina, Chile and United Kingdom - and Brazil. These countries were chosen, between

the seven territorial, for his claimed areas coincide with the region of that continent where

Brazil has direct interests, even where it is the only Brazilian station currently under

reconstruction. Will also be discussed what the entry of Antarctica to the concept of Strategic

Area of Interest effectively means to Brazil.

Keywords: Antarctica; Strategic Area of Interest; Territorial Claimant Countries.

2

INTRODUÇÃO

Em 1° de dezembro de 1959, na cidade de Washington D.C., doze países1 celebravam

o Tratado da Antártica. Desses, sete já haviam formalmente reivindicado território naquele

continente, tendo sido o Reino Unido, o primeiro, em 1908. De acordo com o Tratado, em seu

artigo 4°:

1. Nothing contained in the present Treaty shall be interpreted as: (a) a

renunciation by any Contracting Party of previously asserted rights of

or claims to territorial sovereignty in Antarctica; […] 2. No new claim,

or enlargement of an existing claim, to territorial sovereignty in

Antarctica shall be asserted while the present Treaty is in force.2

Tal artigo preservava os interesses dos sete reivindicantes e impossibilitava que novas

reivindicações fossem apresentadas no futuro por países que viessem a aderir ao Tratado.

Na Antártica a temperatura média no verão é de -30°C, enquanto que no inverno é de -

60°C. A menor temperatura já registrada foi de -89,2°C, na Estação russa de Vostok, em

1983. Cerca de 99,6% do continente é permanentemente coberto por gelo (espessura média de

1.800 m). O continente, em média, é tão seco como o Deserto do Saara. É o continente mais

alto, com uma altitude média de 2.160 m, sendo o Maciço Vinson, com 4.892 m, em seu

ponto culminante. A área total é de 13.829.430 km2, maior que o Canadá, e equivalente a 1,6

vezes a área total do Brasil. Em termos de riquezas minerais, estima-se que a Antártica seja

abundante em petróleo, gás, cobre, urânio, entre outros minerais de grande valor comercial.

Isso sem falar que a Antártica possui 70 % da água doce do planeta.3

O Brasil não estava representado na conferência de 1959 e somente veio a aderir ao

Tratado em 1975. Sua primeira expedição oficial ocorreu em 1982, e em 1983 passou ao nível

de membro consultivo com direito a voto. Mas nos anos que precederam a assinatura do

Tratado, alguns acadêmicos e militares brasileiros, já haviam se manifestado favoráveis que o

país reivindicasse território naquele continente, por considera-lo estratégico para o país. Mas

o pleito foi ignorado pelo governo do então presidente Juscelino Kubitschek, mais

preocupado com o desenvolvimento econômico do Brasil e com a efetiva ocupação do

território nacional (Mattos, 2015).

1 África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos da América, França, Japão, Noruega, Nova

Zelândia, Reino Unido e União Soviética (atualmente, Rússia). 2 Tratado da Antártica disponível em:

http://www.ats.aq/documents/keydocs/vol_1/vol1_2_AT_Antarctic_Treaty_e.pdf. Acesso em 10 fev. 2016. 3 Dados da Antártica disponíveis em: http://www.coolantarctica.com/Antarctica%20fact%20file/antarctica-fact-

file-index.php Acesso em 5 fev. 2016.

3

No dia 25 de setembro de 2013, por meio do Decreto Legislativo n° 373, o Congresso

aprovava a nova versão da Política Nacional de Defesa (2012), e nela, o governo brasileiro

passava a incluir a Antártica como parte de seu “entorno estratégico” (Brasil, 2012, subitem

4.1, grifo nosso):

A América do Sul é o ambiente regional no qual o Brasil se

insere. Buscando aprofundar seus laços de cooperação, o País

visualiza um entorno estratégico que extrapola a região sul-

americana e inclui o Atlântico Sul e os países lindeiros da África,

assim como a Antártica.

O presente trabalho tem como objetivo analisar o significado da mudança ocorrida no

conceito de “entorno estratégico brasileiro”, em contraponto à postura atual de três países

territorialistas – Argentina, Chile e Reino Unido.

Não há na Política Nacional de Defesa, nos dicionários da língua portuguesa e nem

mesmo no Glossário das Forças Armadas, também editado pelo Ministério da Defesa, uma

definição para o termo “entorno estratégico”. Dessa forma, será considerada a seguinte

definição proposta pelo professor José Luiz Fiori (2013, p. 32): “região onde o Brasil quer

irradiar, preferencialmente, sua influência e sua liderança diplomática, econômica e militar”,

talvez, substituindo “diplomática” por “política”, e acrescentando a influência “cultural”.

Os três países foram os escolhidos por terem suas reivindicações territoriais na

Antártica dentro do que pode ser chamado de arco de interesse direto do Brasil naquele

continente, pois incluem as Ilhas Shetlands do Sul, onde fica a Estação brasileira

“Comandante Ferraz”, e por, parcialmente, defrontarem o Atlântico Sul, também parte do

Entorno Estratégico brasileiro.

Após essas considerações iniciais, o artigo é dividido em três partes. Na primeira, é

feita uma síntese histórica sobre a presença dos três países territorialistas escolhidos para este

trabalho, desde seus primeiros exploradores até os dias atuais.

Em seguida, são apresentadas algumas considerações sobre o interesse brasileiro na

Antártica, desde os primeiros acadêmicos e militares favoráveis à nossa presença naquele

continente até a assinatura do contrato para a construção da nova estação científica brasileira.

Nessa parte, também é brevemente analisada o que a inserção da Antártica no “entorno

estratégico brasileiro” significa, principalmente em termos de reflexão estratégica, em

contraponto a posição dos três países territorialistas analisados.

4

O autor conclui com algumas considerações sobre a questão proposta, e deixa algumas

perguntas para servirem de inspiração a outras pesquisas.

TRÊS TERRITORIALISTAS

Como já comentado, sete países já haviam reivindicado território na Antártica, antes

da celebração do Tratado, em 1959. Desses, este autor escolheu Argentina, Chile e Reino

Unido para analisar, por suas áreas reivindicadas defrontarem o Atlântico Sul, que também é

parte do Entorno Estratégico brasileiro, e pela única estação científica do Brasil naquele

continente estar localizada no interior das áreas reivindicadas por esses três países, que são

parcialmente superpostas.

O primeiro país a ser analisado é o Reino Unido. Desde o final do século XVIII, os

ingleses já buscavam comprovar a existência do Sexto Continente. O navegador inglês James

Cook foi o que, comprovadamente, mais próximo chegou da Antártica, em sua segunda

viagem de circunavegação, de 1772 a 1775, tendo atingido a latitude de 71º 10’S em 17 de

fevereiro de 1774 (a área de jurisdição do Tratado da Antártica é ao sul da latitude 60ºS). Em

14 de janeiro de 1775, Cook descobriu as ilhas Geórgia do Sul (54ºS), inicialmente achando

que era o continente gelado, mas depois de alguns dias de exploração constatou ser mais uma

ilha. Mas o primeiro explorador a chegar efetivamente ao continente antártico foi o russo

Fabian Gotlieb von Bellinghausen, em 1820. Entretanto, exploradores de outros países, como

Estados Unidos da América (EUA), Reino Unido e França, já estavam bem próximos desse

feito, como foi o caso dos ingleses William Smith e Edward Bransfield (Day, 2013).

Durante quase todo o século XIX, era o óleo de baleia o bem mais cobiçado nas águas

antárticas. Foram poucas as expedições com caráter científico naquele período. A primeira

grande expedição científica somente veio a ocorrer em 1837, comandada pelo francês Dumont

d´Urville. Em 1838, chegou a primeira expedição oficial dos EUA, comandada pelo então

Tenente Charles Wilkes. Em 1839, a expedição inglesa comandada pelo Almirante James

Clark Ross, com a missão de descobrir o Polo Sul magnético (Ross já havia descoberto o Polo

Norte magnético em 1831) (Mattos, 2015).

A partir do final do século XIX, tem início uma sequência de diversas expedições

científicas ao continente, inclusive permanecendo durante o inverno antártico. Foi o caso da

expedição do “Belgica” comandada pelo Tenente da Marinha belga, Adrien de Gerlache, e

tendo o norueguês Roald Amundsen como um de seus oficiais, que permaneceu de 1897 a

1899 presa naquele continente, embora não tenha sido uma expedição com essa intenção. A

5

primeira expedição que intencionalmente passou um inverno no continente foi a British

Antarctic Expedition de 1898-1900, comandada pelo norueguês Carsten Borchgrevink, que

permaneceu com seu grupo de 10 pessoas, no Cape Adare, no inverno de 1899, a serviço do

governo britânico (Mattos, 2015).

Logo nos primeiros anos do século XX, a corrida por atingir o Polo Sul geográfico

passa a ser o desafio a ser batido. O feito foi alcançado em 14 de dezembro de 1911, pela

expedição chefiada por Roald Amundsen. Os ingleses estavam na disputa, mas o Comandante

Robert Scott, da Marinha britânica, somente alcançou o polo em 17 de janeiro de 1912. Sua

expedição não conseguiu sobreviver, em razão das difíceis condições meteorológicas. Todos

pereceram no regresso. O Instituto de Pesquisas Polares da Universidade de Cambridge (Scott

Polar Research Institute), fundado em 1920, e um dos mais renomados do mundo em

pesquisas relacionadas aos polos, foi denominado em sua homenagem.4

Durante essa busca pelo Polo, o Reino Unido, em 1908, na época, ainda a maior

potência econômica e militar do mundo, reivindica uma área que não apenas continha parte do

Sexto Continente, mas chegava a incluir as Ilhas Malvinas (Falklands), estas, já ocupadas por

eles desde 1833. Em 1962, após a entrada em vigor do Tratado da Antártica, o governo

britânico decide por separar essa região em dois territórios distintos. Desde então, o British

Antarctic Territory (BAT) corresponde a reivindicação britânica no continente antártico, de

20°W a 80°W e do paralelo 60°S até o Polo Sul geográfico, separado das Falkland Islands

Dependencies (Day, 2013).

Ainda durante a Segunda Guerra, cabe destacar a realização pelos britânicos da

Operação Tabarin, em 1944/46 , oficialmente para combater a presença de navios alemães

nas águas antárticas e subantárticas. Mas na verdade, para assegurar os interesses do país

sobre as Ilhas Malvinas/Falklands e pelo Território Antártico britânico. As ilhas são motivo

de disputa com a Argentina desde 1833, e esta, em 1940, havia também reivindicado território

na antártica, como será melhor visto adiante. Durante a Guerra, os argentinos, embora

formalmente neutros, demonstravam uma certa aproximação com o regime nazista. Sobre a

real preocupação britânica quando enviou a expedição, segundo Haddelsey (2014, p. 21):

In the minds of the individuals concerned, however, the real nature of

the threat to British interests in the region was very different […] The

aggressor, they feared, was not Germany or Japan, but neutral

Argentina.

4 A história do Scott Polar Research Institute está disponível em http://www.spri.cam.ac.uk/about/history/.

6

Foi na época da Operação Tabarin que o Reino Unido estabeleceu suas primeiras

estações permanentes naquele continente 5(Day, 2013).

O BAT é administrado pelo Departamento das Regiões Polares ligado à Secretaria de

Assuntos Exteriores, em Londres. Atualmente, o Reino Unido possui 3 estações científicas na

Antártica: Halley (1956), Rothera (1975) e Signy (1947).6

Dos 14 territórios além-mar britânicos, em diversas partes do planeta, o BAT é o

maior deles (6 vezes maior do que todo o território correspondente ao Reino Unido). No

documento The Overseas Territories: security, success and sustainability, de junho de 2012,

observa-se o comprometimento do governo britânico com seus territórios. Na Introdução,

assim falou o Primeiro-ministro David Cameron: “This Government is ambitious for our

Territories as we are ambitious for the United Kingdom”. Para o objetivo deste trabalho,

também parece relevante citar parte da British Antarctic Territory Strategy 2014-2019, cujo

segundo objetivo estratégico é claro ao reforçar a soberania do país sobre seu território na

Antártica:

To promote the United Kingdon´s sovereignty of the Territory,

including by increasing awarness of British current and historic

interests in the region.

Embora não tenha sido encontrado nenhuma menção específica à Antártica, na revisão

da Estratégia de Segurança Nacional britânica, lançada em novembro de 2015, está previsto

como sendo uma atribuição dos fuzileiros navais do país:

Royal Marines of 3 Commando Brigade who are trained and equipped

to provide specialist amphibious and Arctic warfare capabilities (NSS,

2015, p.31).7

No mesmo documento, está previsto que o National Security Objective 1 “is to protect

our people – at home, in our Overseas Territories and abroad, and to protect our territory,

economic security, infrastructure and way of life.” (NSS, 2015, p.11). Os dois documentos

mostram a preocupação britânica em defender seus interesses na Antártica, um de seus

5 Dados sobre as estações científicas britânicas na Antártica disponível em: https://www.bas.ac.uk/wp-

content/uploads/2015/03/British-Antarctic-Stations-Refuges-v6.1-2016.pdf . Acesso em 8 fev. 2016. 6 A partir de 1996, a estação de Signy é operada apenas nos verões austrais. O Reino Unido ainda opera duas

estações em regiões subantárticas, a King Edward Point e a Bird Island, ambas nas Ilhas Georgia do Sul. 7 O preparo dos fuzileiros navais britânicos para operações no Ártico certamente os capacita para operações

também na Antártica, caso seja necessário. Cabe mencionar que o Reino Unido não possui territórios no Oceano

Ártico e não é membro permanente do Conselho do Ártico, o que ressalta nossa atenção para essa capacitação

atribuída a seus fuzileiros navais. A National Security Strategy and Strategic Defence and Security Review 2015

está disponível em:

https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/478933/52309_Cm_9161_NSS_S

D_Review_web_only.pdf. Acesso em 7 fev. 2016.

7

territórios além-mar, e ter seus fuzileiros navais prontos para serem empregados em ambiente

polar. Essas preocupações britânicas em relação ao seu território antártico têm relativa

justificativa, pelas pretensões territoriais de outros dois países antárticos.

Como seria esperado, a Segunda Guerra Mundial reduziu bastante as expedições para

a Antártica, mas em 1940, Argentina e Chile, que são os países geograficamente mais

próximos daquele continente (aprox. 1.000km), formalizaram seus interesses territoriais,

sendo os últimos dois países a reivindicar território. As áreas pretendidas possuíam

coincidências entre si e, em parte, com o território reivindicado pelo Reino Unido, todas

considerando a Península Antártica como pertencendo a seus respectivos países, como pode

ser visto no mapa, abaixo:

Fonte: Australian Antarctic Data Centre. Disponível em: http://www.antarctica.gov.au/about-antarctica/people-

in-antarctica/who-owns-antarctica.

Foi o início de um período de sérios problemas entre estes três países com relação a

essas áreas, somente resolvida, em parte, pelo acordo bilateral entre Argentina e Chile, onde

reconheceram as áreas reivindicadas de um e de outro, mas sem um acordo sobre a área

comum, e em definitivo pela celebração do Tratado da Antártica, em 1959, que congelou

qualquer das pretensões territoriais naquele continente (Day, 2013).

8

A Argentina está presente ininterruptamente na região do Tratado da Antártica desde

1904, com a estação meteorológica na Ilha Laurie, Arquipélago das Órcadas do Sul. Sua

reivindicação territorial vai de 74°W a 25°W do paralelo 60°S até o Polo Sul (totalmente

dentro do setor reivindicado pelo Reino Unido, e parcialmente coincidente com o setor

chileno). O Departamento da Antártica Argentina faz parte da Provincia de Tierra del Fuego,

Antártida e Islas del Atlántico Sur, cujo governador fica em Ushuaia. Os primeiros mapas

oficiais argentinos mostrando o território reivindicado foram editados pelo Instituto

Geográfico Militar em 1940, e no Atlas Oficial de la Republica Argentina de 1947. A

justificativa argentina para reivindicação territorial tem razões históricas; de ocupação;

considerações geográficas e geológicas; entre outras. Há registros da presença de caçadores de

foca argentinos nas proximidades da Península Antártica, na época da chegada de

Bellingshausen, em 1820 (Facchin, 2013).

Em setembro de 19748, o governo argentino instituiu o dia 22 de fevereiro, data da

inauguração da Estação meteorológica (atual Base Órcadas), na Ilha Laurie, como Dia de la

Antártida Argentina. Nesse dia, de acordo com a Lei n°20.827/74, “se izará al tope la

bandera nacional en los edificios públicos de la Nación y se realizarán actos alusivos a

nuestros irrenunciables derechos de soberanía sobre la Antártida Argentina en todos los

establecimientos educacionales”.9 Nessa época, o governo e, principalmente, a mídia

argentina, estavam preocupados com o aumento do interesse pela Antártica por parte do

Brasil, em especial com as ideias territorialistas da Professora Therezinha de Castro

corroboradas pelo Deputado Federal Eurípides Cardozo de Menezes, que serão mencionadas

na próxima seção. As preocupações argentinas com relação às pretensões territorialistas

brasileiras na Antártica foram bastante reduzidas a partir da adesão do Brasil ao Tratado, em

1975. A solução da questão envolvendo a construção da Hidrelétrica de Itaipu em 1979 e o

apoio brasileiro aos argentinos por ocasião do conflito de 1982 contra o Reino Unido, na

disputa pelas ilhas Malvinas/Falklands acabou por mudar o posicionamento argentino em

relação ao Brasil no tema da presença deste na Antártica, inclusive com a presença de oficiais

argentinos a bordo do navio “Barão de Teffé”, da Marinha do Brasil, por ocasião da primeira

expedição científica brasileira à Antártica, em dezembro de 1982 (Mattos, 2015).

8 Era presidente da Argentina a Sra. Isabelita Perón, viúva de Juan Perón, que faleceu em junho de 1974, e por

ocasião do seu primeiro mandato como presidente em 1946, foi responsável por diversas medidas para aumentar

o sentimento de pertencimento em relação à Antártica pelo povo argentino (Dodds, 1997). 9 Mais informações sobre o Dia de la Antartida Argentina disponíveis em:

http://www.marambio.aq/diaantartida.html. Acesso em: 8 fev. 2016.

9

Essa relação do nacionalismo argentino com a questão territorialista, foi assim descrita

pelo professor argentino Vicente Palermo:

Pero el nacionalismo no es el mismo em todas partes. El nuestro

tiene la particularidade de ser profundamente territorialista [...].

para una élite que debía governar un país de inmigrantes y

plagado de sentimentos localistas muy acendrados, fue natural

que desde un comienzo lo común, lo que primordialmente nos

identificara, fuera el suelo, no el linguaje, la historia o los pactos

de obligación recíproca (Palermo, 2007, p.20).

Segundo Child (1988), os argentinos tomaram uma série de medidas para consolidar

suas pretensões de soberania na Antártica, incluindo a operação de estações de rádio, correio,

e o estabelecimento de famílias inteiras em suas bases no continente, inclusive com o

nascimento e registro de argentinos nascidos na Antártica. Segundo Colacrai (2004), no fim

da década de 1970, foram instaladas na Base argentina de Esperanza, 10 famílias com 16

crianças, tendo lá nascido outras crianças. O Chile teve uma experiência similar na Villa Las

Estrellas, parte do no complexo da Base Eduardo Frei. Villa Las Estrellas foi criada em 1984,

por ocasião do governo militar do General Augusto Pinochet, e ainda conta com cerca de 200

pessoas morando lá, com escola pública, correio, e até uma agência bancária. 10

A Argentina mantém 6 bases permanentes e 7 temporárias na Antártica. A Dirección

Nacional del Antártico (DNA) e o Instituto Antártico Argentino (IAA) são os órgãos do

governo argentino responsáveis pelo programa antártico do país, incluindo a realização das

expedições e a operação das suas bases no continente. Ambos são ligados ao Ministério das

Relações Exteriores argentino.

O terceiro país territorialista analisado é o Chile. O interesse do país pela Antártica

remonta aos primeiros caçadores de baleias e ao apoio chileno a várias expedições antárticas,

principalmente, a partir do porto de Valparaíso, ainda no século XIX. Em 1906, o país

participou pela primeira vez de uma conferência sobre as regiões polares, em Bruxelas. Nesse

mesmo ano, o governo chileno iniciou negociações com o governo argentino para já delimitar

seus setores de soberania na Antártica, e foi criada uma Comissão Antártica que entre outras

atividades emitiu a primeira permissão para que um empresário chileno pescasse nas águas

próximas aquele continente. Um fato de grande importância histórica para o Chile foi a

missão de resgate do explorador britânico Sir Ernest Shackleton e da tripulação do Endurance,

10 Outros dados sobre a Villa Las Estrellas estão disponíveis em:

http://www.nytimes.com/2016/01/07/world/americas/chile-antarctica-villa-las-estrellas.html?_r=0. Acesso em

10 fev. 2016.

10

em agosto de 1916 (pleno inverno austral), na Ilha Elefante, com temperaturas próximas a -

30°C (Gorostegui; Waghorn, 2012).

Mas a reivindicação territorial somente viria em novembro de 1940. A primeira

expedição oficial do país ocorreu no verão de 1946/1947. Nessa expedição, o Chile instalou

sua primeira base no continente, a Base Antártica Nacional Soberania (posteriormente

chamada de Base Capitán Arturo Prat), em fevereiro de 1947. Em 1948, é inaugurada uma

segunda base, a General Bernardo O´Higgins, com a presença do Presidente Gabriel

González Videla, primeiro Chefe de Estado de qualquer país a visitar a Antártica, indicando o

peso relativo que o poder político chileno dava ao continente. Cabe mencionar que o território

reivindicado pelos chilenos (entre os meridianos 53°W e 90°W, do paralelo 60°S e o Polo

Sul) é considerado, oficialmente, parte da Region de Magallanes y de la Antártica Chilena,

com a capital na cidade de Puerto Williams, e consta em todos os mapas oficiais do país

(Gorostegui; Waghorn, 2012).

Segundo Pinochet (1984), até o último momento das negociações sobre o Tratado, em

Washington D.C., o chefe da delegação chilena, Dr. Marcial Mora, reafirmava a soberania do

país sobre o Território Antártico Chileno, e logo após a ratificação do Tratado pelos

respectivos congressos da Argentina e do Chile, em junho de 1961, ambos países emitiram

uma Declaração Conjunta, reiterando a vontade de solucionar as divergências por meios

pacíficos.

Em 1963, o Chile cria o seu Instituto Antártico, ligado diretamente ao Ministério das

Relações Exteriores e responsável por coordenar, planejar e executar as atividades científicas

no Território Antártico Chileno. Em 2003, o governo transferiu a sede do Instituto de

Santiago para Punta Arenas, a fim de fortalecer politicamente a XII Region de Magallanes y

de la Antártica Chilena.

Em 2000, foi aprovada a versão atual da Política Antártica do Chile, cujo primeiro

objetivo é: “1. Proteger y fortalecer los derechos antárticos de Chile, con claros fundamentos

geográficos, históricos y jurídicos, es la primera y más permanente tarea de la Política

Antártica Nacional.”11

O Chile possui, atualmente, 4 bases permanentes e 4 bases de verão na Antártica,

sendo a Base Presidente Eduardo Frei, cujo Aerodromo Teniente Rodolfo Marsh, inaugurado

em 1980, o principal apoio às missões das aeronaves da Força Aérea Brasileira para aquele

continente, a mais importante delas. Punta Arenas também é o principal ponto logístico de

11 Disponível em: http://www.inach.cl/inach/wp-content/uploads/2009/10/Politica_Antartica.pdf. Acesso em 8

fev. 2016.

11

apoio ao Programa Antártico Brasileiro, pois além de receber os navios brasileiros, também

recebe as aeronaves da FAB, antes das mesmas se dirigirem para a Antártica.

Reforçando o peso que o governo chileno atribui à presença do país na Antártica, em

janeiro de 2014, o próprio Presidente Sebastián Piñera, inaugurou a Estação Científica

Glaciar Union, uma estação operada apenas no verão, e que juntamente com a Base chinesa

de Kunlun é a base mais próxima do Polo Sul geográfico, onde já fica a Base Amundsen-

Scott, dos EUA. Em seu discurso, afirmou o Presidente chileno:

somos el país con mayor cercanía geográfica con la Antártica, y aún

más, porque el Continente Sudamericano y el Continente Antártico

tienen plataformas que convergen, lo cual establece la soberanía y

los derechos chilenos sobre este continente (Chile, 2014).

Como visto nesta parte do artigo, os três países mantêm seus interesses territorialistas

na Antártica, não abrindo mão das reivindicações feitas há mais de 70 anos. Todas as bases

que esses países possuem naquele continente estão localizadas dentro de suas respectivas

áreas reivindicadas. Embora os três programas antárticos sejam administrados pelos

respectivos Ministérios das Relações Exteriores, as Forças Armadas desses países possuem

estreita relação com os programas, incluindo a direta administração das bases, como é no caso

de argentinos e chilenos. No caso dos britânicos, a presença durante os verões, do HMS

Protector, da Royal Navy, com a missão de “provide a UK sovereign presence in the British

Antarctic Territory, South Georgia and the South Sandwich Islands and their surrounding

maritime áreas”, parece não precisar de maiores explicações sobre o que pensa o governo

britânico sobre a quem pertence aquele território, e o que estão dispostos a fazer caso a

soberania dele venha a comprometer os interesses do país.12

Na próxima seção será visto como o governo brasileiro trata da questão antártica,

iniciando com uma breve síntese histórica sobre o interesse do país naquele continente até

chegar na inclusão dele como parte do entorno estratégico do Brasil.

A ANTÁRTICA COMO PARTE DO ENTORNO ESTRATÉGICO BRASILEIRO

Antes de iniciar propriamente a discussão sobre a inclusão da Antártica no “entorno

estratégico brasileiro”, seu significado e surgimento nos documentos de defesa do Brasil,

cabem algumas considerações sobre o histórico do interesse do Brasil pela Antártica.

12 Dados sobre a missão do HMS Protector disponíveis em: http://www.royalnavy.mod.uk/our-organisation/the-

fighting-arms/surface-fleet/survey/antarctic-patrol-ship/hms-protector. Acesso em 8 fev. 2016.

12

Em todo século XIX e primeira metade do século XX, o continente antártico só era

motivo de poucos artigos de jornais com as notícias dos feitos de outros países, bem como o

apoio logístico a determinadas expedições científicas aquele continente, que usavam o porto

do Rio de Janeiro como parada logística.13 Em maio de 1958, o Brasil não foi convidado pelos

norte-americanos para participar das tratativas que levariam a celebração do Tratado da

Antártica, e encaminhou nota diplomática de protesto ao governo daquele país, em 30 de

julho de 1958. Na verdade, o país não tinha realizado nenhuma expedição à Antártica, até

aquele momento, como foi o caso dos doze países participantes da reunião. O primeiro

brasileiro a pisar em solo antártico foi o doutor Durval Rosa Borges, que por sua iniciativa,

conseguiu ser convidado pelos norte-americanos, e esteve na Estação Científica de McMurdo,

em fevereiro/março de 1958, a fim de coletar subsídios para seus artigos jornalísticos.

Durante o Ano Geofísico Internacional de 1957-195814, a Marinha brasileira chegou a realizar

pesquisas científicas, mas todas fora da região considerada “antártica” pelo Tratado (ao sul do

paralelo de 60°S).

No meio militar brasileiro, o primeiro registro que se tem notícia é de um estudo

realizado pelo Tenente-Coronel Wladimir Fernandes Bouças, do Estado-Maior do Exército,

onde é defendida a posição de que o Brasil deveria reivindicar território na Antártica pelo

critério da defrontação, encaminhado em março de 1955, ao Conselho de Segurança Nacional.

Tal estudo foi devolvido com o seguinte despacho: “o trabalho tinha sido examinado com

atenção e interesse, mas que não parecia oportuna qualquer iniciativa a respeito do assunto.”

(Mattos, 2015, p.112). Os primeiros artigos relevantes sobre o tema foram publicados na

segunda metade da década de 1950. Em 1956, a professora Therezinha de Castro e o professor

Delgado de Carvalho, ambos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, na época

subordinado diretamente a Presidência da República, escrevem para a Revista do Clube

Militar, um artigo chamado “A Questão da Antártica”. Nele, os autores defendem que o Brasil

deveria reivindicar território na Antártica e usar a chamada Teoria da Defrontação, que,

supostamente, daria direito ao Brasil a parte do território antártico, considerando os

meridianos que passam por Martim Vaz e pelo Arroio Chuí. Em 1957, Therezinha volta a

13 Aqui, cabe o registro da expedição do belga Adrien de Gerlache, que em 1897 esteve no Rio de Janeiro com

seu navio “Bélgica”, e foi recebido com festa pela intelectualidade brasileira, no Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro. Naquela ocasião, Gerlache chegou a convidar o Dr. Cruls, então chefe do Observatório Nacional a

acompanhar a expedição a bordo do “Bélgica”, o que não foi aceito. Também naquela parada no Rio, Gerlache

foi recebido pelo então Presidente da República Prudente de Morais, em audiência, o que comprova que as

viagens de outros países à Antártica não era assunto desconhecido pela elite brasileira. Revista do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo LX, Parte II, 1897, p.205-234. 14 O AGI foi uma iniciativa que congregou pesquisadores de mais de 60 países em diversas áreas do

conhecimento, inclusive com o estabelecimento de estações científicas no Ártico e na Antártica.

13

escrever sobre o tema, dessa vez sem Delgado de Carvalho, também na Revista do Clube

Militar, agora com o artigo “Antártica, o assunto do momento” (Menezes, 1982).

Após uma década de 1960 com poucos avanços em relação ao interesse brasileiro pelo

Sexto Continente15, a década de 1970, começa com um pronunciamento, em 28 de novembro

de 1970, no Congresso Nacional, do deputado Eurípides Cardoso de Menezes defendendo os

direitos brasileiros em possuir território na Antártica. Eurípides, influenciado por Therezinha

de Castro, prossegue na sua campanha e apresenta um detalhado trabalho na Escola Superior

de Guerra, com o título “Antártica: Interesses Nacionais”, durante seu Curso de Altos

Estudos, naquela escola, em 1972, reafirmando a importância estratégica do continente para o

Brasil (Castro, 1976).

Em 7 de setembro de 1972 foi criado o Instituto Brasileiros de Estudos Antárticos

(IBEA), com sede no Rio de Janeiro, e cujo objetivo principal era a realização da primeira

expedição científica brasileira à Antártica, o que acabou por não ocorrer, em razão do forte

boicote do governo brasileiro, que não desejava uma expedição não oficial ao continente.

Com as pressões por parte da sociedade e com a crise do petróleo de 197316, o

Ministério das Relações Exteriores (MRE) encaminha uma Exposição de Motivos ao

presidente Ernesto Geisel, em 28 de maio de 1974, para que o país aderisse ao Tratado.

Preocupado com as relações com a Argentina, instáveis pelo tema da construção da

Hidrelétrica de Itaipu, Geisel somente decide aderir ao Tratado em 16 de maio de 1975.

Após anos de indecisões políticas por parte dos governos Geisel e Figueiredo17, em

dezembro de 1982, teve início a primeira expedição científica brasileira à Antártica, com os

navios “Barão de Teffé”, da Marinha do Brasil e “Professor Besnard”, da Universidade de

São Paulo. Neste mesmo ano foi aprovado o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR),

que é coordenado, até hoje, pela Marinha do Brasil por meio da Secretaria da Comissão

Interministerial para Recursos do Mar (SECIRM), em coordenação com os Ministérios de

Ciência, Tecnologia e Inovação, das Relações Exteriores e o do Meio Ambiente, entre outros,

que também participam da Comissão.

15 Cabe mencionar a chegada ao Polo Sul pelo meteorologista Professor Rubens Junqueira Villela, da USP, em

novembro de 1961, convidado pelo Programa Antártico dos EUA; e pela participação de três oficiais da Marinha

do Brasil em expedições antárticas chilenas, e convite deste país, em 1963, 1964 e 1966 (Mattos, 2015) 16 O Brasil era grande importador de petróleo e os preços quadruplicaram no final de 1973. No âmbito do “clube

antártico” já havia uma grande expectativa que o Tratado fosse revisto em 1991, autorizando a prospecção

mineral no continente (Mattos, 2015). 17 O acordo para a construção da Usina de Itaipu pelo Brasil e Paraguai somente foi firmado com a Argentina em

1979. Os argentinos, desde a década de 1960, eram contrários à construção da hidrelétrica, e este foi um tema

sensível nas relações entre os dois maiores países do subcontinente durante toda a década de 1970 (Mattos,

2015).

14

Em setembro de 1983, o Brasil passou a fazer parte do seleto grupo dos países com

direito a voto nas reuniões do Tratado, como membro consultivo aderente. No ano seguinte, a

Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), na ilha Rei George, nas Shetlands do Sul, foi

inaugurada. Em fevereiro de 2012, a EACF sofre um grave incêndio que vitimou dois

militares e destruiu a estação brasileira. A presença do país naquele continente prosseguiu por

meio de módulos antárticos emergenciais e pelos navios da Marinha do Brasil. Em agosto de

2015, o governo brasileiro assinou contrato com uma empresa chinesa para a construção da

nova estação18, com previsão de término no verão de 2017-2018.

Nos documentos oficiais relacionados com o tema Defesa, sobre a Antártica, apenas

uma breve menção no item 5, Diretrizes, alínea s, da Política de Defesa Nacional de 1996:

“promover o conhecimento científico da região antártica e a participação ativa no processo de

decisão de seu destino” (Brasil, 1996). O documento foi lançado antes mesmo da criação do

próprio Ministério da Defesa, em 1999.

O termo “Entorno Estratégico” surge pela primeira vez em documentos oficiais na

Política de Defesa Nacional de 2005, em seu subitem 3.1:

O subcontinente da América do Sul é o ambiente regional no qual o

Brasil se insere. Buscando aprofundar seus laços de cooperação, o

País visualiza um entorno estratégico que extrapola a massa do

subcontinente e incluiu a projeção pela fronteira do Atlântico Sul e

os países lindeiros da África (Brasil, 2005).

Em relação à Antártica, especificamente, a PDN de 2005 não trouxe novidades,

quando comparada com a de 1996. Nela consta com uma de suas diretrizes estratégicas:

“participar ativamente nos processos de decisão do destino da região Antártica” (PDN, 2005,

item 7), similar ao já constante na PDN anterior.

Já a Política Nacional de Defesa (PND) de 2012, aprovada pelo Congresso em

setembro de 2013, traz a inclusão da Antártica como fazendo parte do entorno estratégico

brasileiro:

A América do Sul é o ambiente regional no qual o Brasil se insere.

Buscando aprofundar seus laços de cooperação, o País visualiza um

entorno estratégico que extrapola a região sul-americana e inclui o

Atlântico Sul e os países lindeiros da África, assim como a Antártica

(PND, 2012, subitem 4.1).

18 Nenhuma empresa brasileira mostrou-se habilitada para construir, embora o projeto da nova estação tenha sido

de uma empresa nacional (PROANTAR, 2016).

15

Não é especificado no documento, qual parte do continente antártico faz parte do

Entorno Estratégico. Considerando as grandes dimensões daquele continente, seria desejável

essa definição em uma próxima revisão, a fim de possibilitar uma estratégia de atuação

coerente com os objetivos do país para aquele continente.

Cabe mencionar que entre os onze Objetivos Nacionais de Defesa contidos na PND

2012, é possível correlacionar a Antártica em dois deles:

II: “defender os interesses nacionais e as pessoas, os bens e os recursos brasileiros no

exterior”; e

VI: “intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em

processos decisórios internacionais (PND, 2012, item 6).

A estação científica brasileira, permanentemente ocupada, além da presença de

pesquisadores em refúgios e outros pontos no continente antártico podem ser enquadrados no

Objetivo II, acima mencionado. O que leva a necessidade que as Forças Armadas brasileiras

estejam preparadas para lá atuar em defesa dos interesses nacionais, caso seja necessário.

Considerando que o Tratado proíbe a presença de efetivos militares e a realização de

exercícios militares no continente, esse preparo deverá ser conduzido em regiões de

características físicas semelhantes, mas não na Antártica propriamente dito. Mas o que parece

ser mais relevante é estar claramente definido nos documentos oficiais qual das Forças deve

estar equipada e qualificada para operações em regiões polares, no caso, no continente

antártico, a fim de proteger os interesses nacionais, caso seja necessário.

Com relação ao Objetivo VI, para que o Brasil tenha mais peso no processo decisório

com relação aos assuntos antárticos, faz-se necessário um maior investimento em termos de

pesquisas científicas e uma maior presença efetiva naquele continente. Segundo Brady (2013,

p.2), o Brasil não se encontra entre os dez maiores orçamentos destinados aos programas

antárticos, e com relação à produção científica: “at present the Treaty remains effectively a

select club dominated by the claimant nations and the Cold War warriors (USA and Russia)”.

Além da reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, o Brasil poderia já

planejar uma segunda estação, em outra posição, preferencialmente com sua própria pista para

apoio das aeronaves da Força Aérea Brasileira. A Índia e a China, dois países que também se

tornaram membros consultivos somente na década de 1980, já possuem programas antárticos

de maior porte, tendo duas e quatro bases, respectivamente, naquele continente.

O Brasil deve deixar claro para a comunidade internacional que a inclusão da

Antártica como parte de seu “entorno estratégico”, não foi por acaso, e que o país considera

16

aquele continente como uma região onde quer “irradiar sua influência e sua liderança

diplomática, econômica e militar”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao incluir a Antártica como parte do Entorno Estratégico brasileiro, em seu

documento de mais alto nível no campo da Defesa, o Brasil necessita refletir o que

efetivamente deseja de sua presença naquele continente, e pôr em prática uma Estratégia para

atuação conjunta dos diversos órgãos envolvidos.

Dos sete países que reivindicaram território na Antártica, antes da celebração do

Tratado em 1959, nenhum deles, até o momento, abriu mão, oficialmente, dessa

reivindicação. Se a pesquisa científica em prol de toda humanidade é mesmo o grande

objetivo da presença dos países naquele continente, num primeiro momento, não parece fazer

muito sentido essas reivindicações territoriais ainda estarem em vigor.

A Antártica encontra-se sob o regime do Tratado Antártico, “um conjunto de normas e

princípios criado por atores politicamente racionais, que optaram pela cooperação e pela paz

antes de ter de optar pela escolha, menos racional, de chegar a um conflito em época de

Guerra Fria” (Villa, 2004, p. 151). Mas se for correta a afirmação de Baylis & Wirtz de que

"In an international system without effective government, states will agree to laws when it

suits them, but will disregard them when their interests are threatened" (2013, p.8), a posição

dos territorialistas passa a ser mais coerente.

Neste artigo vimos a posição de três territorialistas, que mesmo após passados mais de

cinquenta anos da celebração do Tratado, não abrem mão de suas reivindicações. Argentina e

Chile, inclusive, deixam claros em seus documentos oficiais que as áreas que reivindicaram

na Antártica fazem parte efetiva de seus territórios. No caso do Reino Unido, a opção foi por

considerar como sendo um dos Territórios Além-Mar, mas que também possuem o direito de

proteção por parte do governo central, muito próximo a qualquer parte do próprio território

britânico.

O Brasil não parece precisar explorar recursos minerais na Antártica, pelo menos num

horizonte de tempo previsível. Para o País, a importância da Antártica estaria mais ligada a

outros fatores, como o ambiental.

A influência meteorológica do continente antártico no clima brasileiro, parece ser

consenso por parte do meio científico. Uma alteração significativa no meio ambiente daquele

continente em razão de uma possível mudança nas regras atuais que proíbem a exploração

17

mineral, pode trazer grandes impactos negativos para o clima do Brasil, sexto país

geograficamente mais próximo da Antártica, e dependente economicamente de seu

agronegócio.

A população mundial, atualmente com 7,3 bilhões, continua em crescimento, com

previsão de atingir 11,2 bilhões de pessoas em 210019, com as camadas sociais mais pobres da

grande maioria dos países aspirando pelo mesmo nível de conforto dos mais desenvolvidos (a

população da África será a de maior crescimento percentual entre os continentes). A busca por

esse melhor nível, demandará uma maior quantidade de energia, de minerais estratégicos, de

água e de alimentos. Como já ocorreu na partilha do continente africano no final do século

XIX, a disputa por recursos naturais poderá redundar na ocupação física do território

antártico. O atual interesse pelo Ártico20 (novas rotas marítimas e exploração de gás e

petróleo), nos dá indícios do que pode vir a ocorrer na Antártica até o final deste século

(Klare, 2012).

Em 204821, quando o tema da exploração mineral puder ser contestado por maioria

simples dos membros com direito a voto, ou talvez até mesmo antes, países como China e a

Índia, juntamente com os EUA, os três mais ricos do planeta22- com as maiores populações,

considerável poder militar e ainda dependentes de recursos minerais estratégicos – poderão

vir a impor o início da exploração dos recursos estratégicos, trazendo de novo a questão da

soberania naquele continente. Países que reivindicaram território, e que ainda mantém essa

posição, como é o caso dos três analisados neste artigo, devem tentar exercer plenamente essa

soberania, o que pode redundar em conflito, como já ocorreu em 1982, com a disputa pelas

Ilhas Malvinas/Falklands, entre Argentina e Reino Unido, dois países, que por sinal, possuem

reivindicações praticamente coincidentes no continente antártico.

Com a inclusão da Antártica, na PND 2012, como fazendo parte do entorno

estratégico brasileiro, o governo, incluindo os militares, deve planejar os próximos passos do

19 Dados atualizados sobre a população mundial podem ser obtidos em

http://esa.un.org/unpd/wpp/Publications/Files/Key_Findings_WPP_2015.pdf. Acesso em 8 fev. 2016. 20 A governança política do Ártico é diferente da Antártica, pois não existe um Tratado que regulamente as

atividades dos países no Oceano Ártico. Essas atividades são regidas pela Convenção da Jamaica de 1982 e pelos

acordos firmados no âmbito do Conselho do Ártico, formado somente por oito países (Canada, Dinamarca,

Estados Unidos, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia e Suécia), mas já tendo China e Índia, entre outros, como

membros observadores. Informações sobre o Conselho do Ártico disponíveis em: http://www.arctic-

council.org/index.php/en/. Acesso em 4 fev. 2016. 21 Em 1991, foi assinado pelos países membros do Tratado o chamado Protocolo do Meio Ambiente ou

Protocolo de Madri que fixou em 50 anos, após a entrada em vigor do protocolo, para que o tema da exploração

mineral no continente antártico voltasse a ser discutida. Até lá, a retirada de minerais do continente somente é

possível para a realização de pesquisas científicas e não para fins comerciais (Mattos, 2015). 22 Projeções da economia mundial em 2050, disponíveis em: http://www.pwc.com/gx/en/issues/the-

economy/assets/world-in-2050-february-2015.pdf. Acesso em 6 de fev. 2016.

18

programa antártico, tendo uma visão mais estratégica, considerando o status que o país almeja

no cenário internacional, e o posicionamento de outros atores interessados naquele continente.

O país deve debater com mais profundidade o tema Antártica, não apenas do ponto de vista da

pesquisa científica, mas também do ponto de vista da defesa e da segurança. E é dentro desse

contexto do debate, que este autor considera fundamental a participação de toda a sociedade,

principalmente, por meio dos institutos e centros de estudos estratégicos.

A luz de contribuir com outros pesquisadores, sugere-se o aprofundamento das

pesquisas sobre o significado do conceito de “entorno estratégico”, investigando o emprego

desse conceito por outros países; e prosseguir na pesquisa sobre a presença dos demais países

territorialistas e dos principais atores do sistema internacional já presentes na Antártica, como

é o caso dos EUA, Rússia, China e Índia. O futuro daquele continente está em grande parte

nas mãos desses quatro países, detentores, juntamente com Reino Unido e França, dos meios

de poder efetivos para exercerem suas vontades no sistema internacional.

19

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