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Revelação 300

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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba (Uniube). Especial Mário Palmério.

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26 de outubro a 1º de novembro de 20042

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba([email protected])Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Diagramação: Gisele Barcelos ••• Projeto gráfico:

André Azevedo da Fonseca • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • • Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Karla Borges([email protected]) • • • Estagiário: Fábio Luís da Costa ([email protected])• • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Analista de Sistemas: Tatiane Oliveira AlvesReitor: Marcelo Palmério • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • Impressão: Gráfica Jornal da Manhã • • • Fale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - JornalRevelação Sala L18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • Tel: (34)3319-8953 • http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected]

Selma Nery2º ano de Jornalismo

Coordenado pelo jornalista e professordo curso de Comunicação Social da Uni-versidade de Uberaba (Uniube), André Aze-vedo da Fonseca, e pela professora e estu-dante do último ano de História, CristianeFerreira de Moura, o projeto MemorialMário Palmério se propõe a organizar e di-vulgar o legado cultural e a memória do es-critor, político e educador falecido em 1996.

Além depreservar a me-mória do inte-lectual MárioPalmério, oprojeto se des-tina também nacelebração emalto nível doaniversário de dez anos de seu falecimento,que se dará no dia 24 de setembro de 2006.O plano será desenvolvido gradualmente eestá estruturado em quatro programas com-plementares.

Em primeiro lugar, os pesquisadores já es-tão catalogando documentos (fotos, diários,manuscritos inéditos, cartas, jornais, slides, fi-tas de áudio e vídeo, dissertações e teses so-bre sua obra, sua biblioteca pessoal e outrosarquivos dispersos em instituições e em acer-vos familiares) para montar um Centro de Do-cumentação. O objetivo é proteger esses do-cumentos e catalogar o acervo para facilitar otrabalho de pesquisadores. A previsão é queum primeiro lote do acervo esteja disponívelpara o público em setembro de 2005.

O segundo momento será a criação deum portal na Internet para centralizar infor-mações on-line sobre o escritor. O acervo doCentro de Documentação será gradualmen-te digitalizado, transcrito e disponibilizado

Pesquisadoresorganizam memória deMário PalmérioProjeto prevê publicação da biografia oficiale instalação de um centro de documentação,de um portal na Internet e de um memorial até 2006

EspecialSite traz informaçõessobre projetoCentral de Imprensa distribuirá notíciassobre desenvolvimento dos programas

Na Internet

Da redação

Já está na Internet a Central de Impren-sa do projeto Memorial Má-rio Palmério. Este site tem oobjetivo de distribuir infor-mações sobre o desenvolvi-mento dos programas. A Cen-tral de Imprensa não é o em-brião do Portal MárioPalmério, como previsto noprojeto. Ele servirá sobretudo para apoiare subsidiar jornais e revistas em eventuaisreportagens sobre o escritor.

Além das novidades sempre atualizadas,o site traz a biografia básica de MárioPalmério (publicada originalmente no site

da Academia Brasileira deLetras), os trechos principaisdo projeto, fotos para divul-gação e informações oficiaissobre a Uniube.

A Central de Imprensafoi desenvolvida pela equi-pe do projeto e contou com

o webdesign do publicitário Lungas FerreiraNeto, da Central de Produção Eletrônica daUniversidade de Uberaba (Uniube).

Objetivo é distribuirinformações sobreo desenvolvimentodos programas

neste site. A primeira versão estará disponí-vel já em março de 2005, e a versão comple-ta – com maior volume de documentosdigitalizados – em setembro de 2006.

BiografiaEm seguida, em decorrência natural das

pesquisas para o Centro de Documentaçãoe para o Portal, o jornalista André Azevedoda Fonseca – pós-graduando em História doBrasil na PUC-MG – já prepara a biografiaoficial do escritor. "A importância histórica

da vida públi-ca de MárioPalmério ain-da não é cor-r e s p on d i d apor uma obrade referência àaltura de suabiografia pes-

soal", defende o jornalista.Por fim, está planejado para 2006 a inau-

guração do Memorial Mário Palmério, umespaço museográfico que centralizará ainfra-estrutura dos programas e instituirá emUberaba um centro cultural para promoverseminários e projetos literários de nível na-cional.

Para isso, os coordenadores pretendemmobilizar estudantes nas áreas de História,Letras e Comunicação Social através de ofi-cinas, envolvimento de disciplinas e ativi-dades complementares. O projeto já foiaprovado pelo reitor Marcelo Palmério e re-cebeu total apoio da Uniube, da SociedadeEducacional Uberabense e da famíliaPalmério.

Nessa edição especial do Revelação nº300, o leitor poderá conhecer um poucomais sobre as múltiplas personalidades deMário Palmério e compreender a importân-cia histórica desse grande projeto.

Pesquisadores já estão catalogandofotos, diários, manuscritos inéditos,cartas, slides, fitas de áudio, de vídeo edissertações sobre a obra do escritor

www.uniube.br/mariopalmerio

captura de tela

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326 de outubro a 1º de novembro de 2004 3

Therani Garcia2º ano de Jornalismo

No dia 1º de março de 1916, em MonteCarmelo (MG), nasceu Mário Palmério,filho do italiano Francisco Palmério e deD. Maria da Glória Palmério. O pai eraengenheiro civil, advogado e em seusúltimos anos de vida foi Juiz de Direito.Como engenheiro, Francisco construiu,entre outros, o palacete de Antônio PedroNaves, na Rua Manoel Borges – patrimôniohistórico de Uberaba, demolido em 2002.

Mário Palmério estudou no ColégioDiocesano, em Uberaba, e no ColégioRegina Pacis, em Araguari. Aos 19 anosmatriculou-se na Escola Militar deRealengo, no Rio de Janeiro, mas desligou-se no ano seguinte por motivos de saúde.Em 1936 foi trabalhar no Banco Hipotecárioe Agrícola de MG, na sucursal de São Paulo.

Palmério começou a vida de educadorquando, na capital paulista, fez o magistériosecundário e foi professor de Matemática emvárias escolas. O interesse por essa disciplinafez com que, em 1939, entrasse na seção deMatemática da Faculdade de Filosofia daUniversidade. Neste mesmo ano casou-secom Cecília Arantes, com quem teria doisfilhos: Marcelo e Marília Palmério.

Ao voltar para Uberaba, fundou o Liceudo Triângulo Mineiro, na Rua ManoelBorges. O colégio fez fama na cidade. Nomunicípio, havia naquela época o colégioDiocesano – só para homens – e o colégioNossa Senhora das Dores – só paramulheres. Para o entusiasmo dos jovensuberabenses dos anos 40, o Liceu foi umcolégio de turmas mistas em uma cidadeultra-conservadora. Em 1945, construiu naAv. Guilherme Ferreira um conjunto deedifícios para sede do Colégio do TriânguloMineiro e da Escola Técnica de Comércio,já com vistas à criação da primeira escolasuperior que viria a instalar na região.

Em 1947, o Governo autorizou o funcio-namento da Facul-dade de Odonto-logia – o primeiropasso efetivo para atransformação deUberaba em cidadeuniversitária. Em1951 Palmério fun-dou ainda a Faculdade de Direito. Mas avontade de criar faculdades não parava. Em1954, foi um dos grandes responsáveis pelaimplantação da Faculdade de Medicina doTriangulo Mineiro (FMTM). Em 1956fundaria ainda a Escola de Engenharia.

O criador de faculdades tinha outrapaixão: a política. Depois de fundar o PartidoTrabalhista Brasileiro (PTB) de Uberaba esemear dezenas de diretórios do partidoGetulista na região, o jovem de 34 anoselegeu-se Deputado Federal. Na Câmara foivice-presidente da Comissão de Educação eCultura durante todo o seu primeiro mandato(1950-1954). Reeleito em 1954, passou aintegrar a Comissão de Orçamento e a Mesada Câmara. Em 1955 matriculou-se na

Escola Superior deGuerra, onde con-cluiu o Curso Su-perior.

LiteraturaNo período de

sua reeleição, aCâmara discutia intensamente o problemadas fraudes nas eleições e debatiamodificações na lei eleitoral. Políticoprecocemente experiente, para contribuirnas discussões, Palmério escreveu uma sériede relatórios expondo as artimanhas para se

fraudar eleições, sobretudo em cidades deinterior. Era o embrião de seu primeiro livro:Vila dos Confins. De relatório, essesregistros tornaram-se crônicas e depoisconstituíram-se em romance. Foi Rachel deQueiroz quem levou os originais para aeditora José Olympio. Vila dos Confins fezenorme sucesso já no ano de publicação, em1956. E isso, no mesmo ano em que Gui-marães Rosa lançara sua obra-prima:Grande Sertões: Veredas.

Em 1958 o de-putado reelegeu-sepela terceira vez –e agora com suamais expressivavotação. Em se-tembro de 1962 foinomeado pelo pre-sidente João Goulart para o cargo deEmbaixador do Brasil no Paraguai. Assumiuem outubro daquele ano e só deixou o postono golpe de 1964. Sua passagem peloParaguai foi marcada, além da reforma doedifício da embaixada, pela conclusão das

Um espírito inquietoMário Palmério transitou por diversas áreas e foi, acima de tudo, um “sonhador prático”

Biografia

obras do Colégio Experimental, pela PonteInternacional de Foz do Iguaçu e pelasnegociações sobre a futura instalação dausina hidrelétrica binacional de Itaipu.Mário Palmério integrou-se intensamente navida cultural paraguaia e, pianista “deouvido”, foi compositor de várias guarâniasde sucesso. Entre elas, a inesquecível“Saudade”.

Ao regressar ao país em 1964, foi paraa fazenda São José do Cangalha, no MatoGrosso, e escreveu Chapadão do Bugre,romance inspirado em uma chacina políticaocorrida no começo do século 20, na cidademineira de Passos. A exuberante descriçãolingüística e o relato dos costumes regionaisforam muito bem recebidos pela crítica. Em1968, Palmério acabou eleito para a vagade Guimarães Rosa na Academia Brasileirade Letras (ABL).

AmazôniaDe fevereiro de 1969 a fevereiro de

1970, Mário Palmério viajou pelo rioAmazonas, conhecendo a vida e oscostumes dos ribeirinhos. Ao voltar, foicandidato à prefeitura de Uberaba, masperdeu as eleições. No ano seguinte viajoupela Europa e África proferindo palestrassobre seus livros e sobre a Amazônia. Logodepois, voltou ao Triângulo e criou asFaculdades Integradas de Uberaba (Fiube)em 1972. Já no ano seguinte, criou os cursosde Educação Física, Psicologia, Pedagogia,Estudos Sociais e Comunicação Social. Em1976, seria inaugurado o complexo deedifícios que formaria o Campus II da Fiube.

Mário voltou à Amazônia em 1978 epermaneceu lá por 9 anos. Ele construiuum barco chamado Frey Gaspar deCarvajal, onde reuniu uma biblioteca demilhares de livros sobre aquela região.Nesse tempo fez anotações, tirou centenasde fotos, recebeu políticos e cientistas, maspor problemas de saúde, em 1987 deixoude vez a Amazônia, voltou a Uberaba e

assumiu nova-mente a Fiube.

Em 1988, con-seguiu a autori-zação do Minis-tério da Edu-cação para trans-formar a Fiube

em Universidade de Uberaba. A partir daí,foi o reitor da Uniube. Participou inten-samente da vida pública da cidade,concedendo entrevistas na TV e recebendodirigentes políticos. Mário Palmério morreuem 24 de setembro de 1996.

Para o entusiasmo dos jovensuberabense dos anos 40, o Liceufoi um colégio de turmas mistasem uma cidade ultra-conservadora

Palmério voltou à Amazônia em1978 e permaneceu lá por 9 anos.Construiu um barco onde reuniuuma biblioteca de milhares de livros

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André Azevedo da FonsecaEspecial para o Revelação

Importante, para um político, andarsempre com a memória em dia: guardar onome do eleitor, o da patroa, se possível atéo dos meninos. O pessoal apreciava —sempre era uma prova de atenção, deamizade.

Publicado em 1956 pela editora JoséOlympio, o romance Vila dos Confins, doescritor, político e educador Mário Palmério(1 9 1 6 -1 9 9 6 ) ,trouxe uma re-levante contri-buição para aliteratura regio-nalista brasileira.A autenticidadeno uso do vo-cabulário serta-nejo, o cuidado na descrição geográfica docerrado e o verdadeiro conhecimento daalma e do cotidiano do homem interioranose entrelaçaram em um testemunho legítimoda cultura quase selvagem de povoaçõesesquecidas nos áridos confins do Brasil. “Osol caía de ponta à ponta, brutal.Entorpecia e queimava tudo. A areia era

polvilho de espelho socado no pilão. O ar,a gente podia vê-lo mover-se – lesmaamarela, quente e pegajosa, a arrastar-sepor sobre as ruas e telhados.”

Paralelo à exuberância expressionista nadescrição do sertão, o autor relatou minúciasdas movimentações políticas nas corrutelasrecém-emancipadas na região do TriânguloMineiro, na década de 50. E ele tinha muitoa dizer. Palmério foi deputado federal peloPTB, eleito e reeleito por três mandatosconsecutivos (1950-1962), quando então foinomeado pelo presidente João Goulart para

o cargo de em-baixador do Bra-sil no Paraguai –onde permane-ceria até o golpede 1964. Quandopublicou Vila dosConfins, já haviacumprido seis

anos de mandato. Essa vivência serviu dematéria-prima para muitas anotaçõesoriginais: o próprio escritor admitiu que aobra “nasceu relatório, cresceu crônica eacabou romance”.

A personagem principal de Vila dosConfins é o deputado federal Paulo Santos,um político experiente, mas já cansadodaquela vida de disputas partidárias: em umtrecho, chega a abandonar a reunião dediretório para se esbaldar em uma delirantepescaria. Mas à pedido dos companheirosda União Cívica, passa a percorrer omunicípio para articular a candidatura docorreligionário João Soares à prefeitura dacidade. Sua estratégia era convencer pessoasinfluentes do vilarejo a apoiarem a coligaçãode seu candidato, colocando seus própriosnomes na disputa pelos cargos devereadores. E é aí que a política sertanejacomeça a esboçar os primeiros indícios dabrutalidade de seu pragmatismo.

Ninguém tinha experiência legislativa,mas isso era o que menos importava: empolítica, seja lá qual o seu valor, só érespeitado quem ganha – ensinava odeputado. O fazendeiro Neca Lourenço,matuto e bestial, convidado por PauloSantos a ser candidato a uma vaga nacâmara, até que tenta negar: “Me bote numcurral, num tronco de castração ou no cabo

de um machado que eu não faço feio. (…)Mas não me mande cuidar de política, queum gato morto pendurado pelo rabo numarame de cerca faz mais figura do que eu.”Contudo, convencido a muito custo,entusiasma-se a seu jeito e parte para acampanha de rua dizendo que, quandoganhasse a eleição, entraria na vila montadonas costas do candidato adversário,riscando-lhe as virilhas à espora.

Entretanto, como um Maquiavel dosertão, PauloSantos ponderaque só muitoantigamente umadversário mor-ria adversário.Naqueles “no-vos tempos”(estamos nosanos 50), com aquela balbúrdia de partidospolíticos, ninguém vencia eleição semcoligação:

Veja como tudo tem mudado: naseleições passadas, nós nos aliamos aos

democratas para vencer os liberais; nasúltimas, nos unimos aos liberais para derrotaros democratas; agora, o boato é que osdemocratas estão se aproximando dosliberais para acabarem com a gente… nessaconfusão toda, sobram apenas os mais duros,que ninguém é bobo de fazer casa com paubichado…

E no cenário de um interior brasileiroainda predominantemente rural, as

primeiras elei-ções em umapequena co-munidade evi-d e n t e m e n t etêm suas pe-culiaridades.Para começar,praticamente

toda a população – incluindo candidatos avereador – é totalmente analfabeta.Aprender a ler? Coisa inútil. Cabo deenxada, foice, machado e laço de couro cruengrossa as mãos – caneta e lápis sãoferramentas muito delicadas. A vida é

“Para velhaco,velhaco e meio!”Em um balanço geral das eleições, Vila dos Confins, de Mário Palmério,reconstrói cultura política do rústico e esquecido “interiorzão” do Brasil

Resenha

Autor relatou minúcias dasmovimentações políticas nascorrutelas recém-emancipadas naregião do Triângulo, na década de 50

Aprender a ler? Coisa inútil. Cabo deenxada, foice, machado e laço de courocru engrossa as mãos – caneta e lápissão ferramentas muito delicadas

reprodução

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marcar bezerro, curar bicheira, rachar paude cerca, esticar arame farpado, capinar,colher… E quem perdeu tempo na escolacom leitura e escrita, acaba logoesquecendo-se do pouco que aprendeu. Daío trabalhoso serviço dos partidários paraensinar cada um dos habitantes o passo-a-passo do alistamento eleitoral. O trecho emque Pé-de-Meia — um esforçado secretáriode campanha — tenta ajudar o caboclo JoãoFrancisco de Oliveira a desenhar suaassinatura para preencher um requerimentoé antológico:

“— Me dá licença, seu João.” E pega nomãozão cascudo, pesado tal um caminhãode tora. Vai choferando a bicha, para cima epara baixo, caminhando com ela sobre opapel. O rasto fica: primeiro, a foice espigadado jota, depois a laçada bamba do ó; emseguida, mais duas voltas grandes,repassadas e atreladas uma à outra. Masainda falta o remate: o urubuzinho do til quePé-de-Meia fez João Francisco desenhar,bem saliente, por cima do primeiro trechoda tremida assinatura. “— Já varamos umbom eito. Vamos descansar um pouco: faltaainda o Francisco, falta o de Oliveira…”

Mas é na descrição das manobras de Dr.Osmírio e Chico Belo – respectivamente,virtual candidato a deputado estadual ecandidato à prefeitura de Vila dos Confins,ambos liberais e adversários do grupo dePaulo Santos – é que Mário Palmério passaa jogar pesado na descrição da política debaixo nível. Enquanto o grupo da UniãoCívica percorre a região num corpo-a-corpocom lideranças locais, os adversários vãoprocurar apoio com a cúpula do governo nacapital.

O vaidoso e chantagista deputadoCordovil de Azambuja leva os corre-ligionários a uma audiência com oSecretário dos Negócios do Interior,pedindo a mão-forte do governo naseleições de Vila dos Confins. Seu interesseera popularizar-se na região para faturareleitores nas próximas eleições à CâmaraFederal. Na primeiríssima ponderação dosecretário, Azambuja sente-se contrariado,estoura teatralmente, ameaça faltar em umpronunciamento na Assembléia onde foraincumbido de defender uma medida dogoverno e, segundosdepois, bufandopelos corredores,joga sujo: “– Vamostodos para aAssembléia. Mudeide idéia. Vou é mo-dificar o meu dis-curso, solto umasindiretas. Sou capaz até de dar uma forcinhaà oposição...”.

Para velhaco, velhaco e meio – defendiaOsmírio. Em conversas particulares,combina uma coisa com o secretário e outra

com o deputado, garantindo apoio deambos. Tapearia os dois – ficariamqueimados com ele, brigariam, mas depoistudo passava. Política era aquilo mesmo...valha quem valha, só é respeitado quem tempoder — não é essa a lição?

Prestígio e vai-dade: o sentido doingresso na vidapública. Palmériomostra como Chi-co Belo vê cominocente e sinceranaturalidade a cul-tura de auto-favo-recimento no exercício do poder. Para apersonagem, entrar na política é umamaneira perfeitamente legítima para se darbem na vida – e ponto! Em vez de sentir-seofendido, o candidato faz questão dedemonstrar admiração a um tal de Paiva,ex-prefeito de Nova Esmeralda – umacidade vizinha – que soube tão bemaproveitar-se do cargo público para oenriquecimento de sua própria família:

“Falavam dele,mas a verdade é queprefeito nenhum tinhamais prestígio com opessoal do Governoque o Paiva. Colocouos filhos todos, atégerência da CaixaEconômica arrumou

para o genro… Hoje, era o boiadeiro maisforte da zona, com os bancos do Governoescorando os negócios dele…”

Com o apoio do secretário do interior,

que libera verba, troca delegado e nomeanovo intendente, os liberais deitam e rolam.Gouveinha – o novo chefe de intendência –era um patético “laranja” cujo ato foraapenas a assinatura tremida no termo deposse e o discursinho na solenidade de

transmissão docargo. “Caísse oGouveinha naboa vida, tomasseos seus costu-meiros pileques –um gambá, ovelhote! – pes-casse, dormisse o

dia todo, mas nada de se envolver com osnegócios do município!”, ordenam osliberais.

E o lamaçal fica cada vez mais turvo.Dr. Osmírio – que controlava até o juiz –cria novas seções eleitorais para dificultara fiscalização nos distritos. Candidatos avereador já registrados pelos unionistas sãocomprados pelos liberais à última hora. Onovo delegado ordena que os policiaisrevistem compulsoriamente todos ospartidários dosadversários empúblico, cons-trangendo-os aponto de quaseprovocar umtiroteio.

Vendo a si-tuação de seupartido degringolar, Paulo Santos põe emprática um plano mirabolante: simula umatentado – coisa comum naqueles temposde coronéis e jagunços. Com ajuda do tio,embrenha-se na mata, obstrui a estrada

derrubando uma árvore, estaciona o carro eatira várias vezes de carabina contra o painele a lataria. Entra no automóvel alvejado,corre para a cidade vizinha, aciona a polícia,presta depoimento relatando detalhes da“tocaia” e faz com que o caso alcanceproporções nacionais, envolvendo oGoverno Federal, repercutindo na imprensae, evidentemente, constrangendo os liberais– automaticamente acusados de armar oatentado.

Mas no dia da eleição, apesar dapresença de forças militares, chamadas para“pacificar” o tumultuado pleito na Vila dosConfins, pipocam tramóias das maiscriativas. Os unionistas decidem contrataros serviços de um lendário rábula da região:o Pereirinha – sujeitinho miúdo, míope demeter pena… mas que em uma eleição seagigantava, virava um demônio em formade gente, impugnando trapaças, armandooutras, protestando, recorrendo, conferindozonas eleitorais… um sucesso!

Mas nem a ginga do rábula Pereirinhaconsegue driblar duas das mais clássicastrapaças da tradição eleitoral do interior.Uma delas é a compra de votos. Os caboseleitorais cortavam cédulas em duas,distribuíam uma das metades e prometiamentregar a outra caso o candidato ganhasse.Depois era só emendar o dinheiro. A outratramóia eram os chamados “fósforos”.Tratava-se de cabos eleitorais treinados empassar por cinco, seis, até por mais eleitoresdiferentes. Um caso que se tornara-seclássico na região era o do Doquinha.

O tipo pintara e bordara. Votou, aprimeira vez, barbudo, representando o velhoDidico, morto havia mais de ano; fez a barba,deixando o bigode, e foi para outra seçãovotar em nome de um tal de Carmelita,sumido desde meses; tirou o bigode e, coma cara mais linpa e lavada desse mundo,preencheu a falta de outro eleitor; e dizemainda que votou mais uma vez, de cabelooxigenado e cortado à escovinha,substituindo um rapazinho alemoado queviera trabalhar, por uns tempos, namontagem da usina elétrica de Santa Rita.

Por todas essas “lições”, essa obra que“nasceu relatório, cresceu crônica e acabouromance”, oferece uma oportunidade muito

interessantepara lapidar aimaginaçãocrítica naobservaçãodesse tempode “ânimosescaldantes”que caracte-

rizam as eleições municipais.

(*) André Azevedo da Fonseca é jor-nalista, professor na Uniube e coordenadordo projeto Memorial Mário Palmério

A outra tramóia eram os chamados“fósforos”. Tratava-se de cabos eleitoraistreinados em passar por cinco, seis,até por mais eleitores diferentes

Em conversas particulares,combina uma coisa com osecretário e outra com o deputado,garantindo apoio de ambos

Os cabos eleitorais cortavamcédulas em duas, distribuíam umadas metades e prometiam entregara outra caso o candidato ganhasse

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Erileine Rodrigues20 ano de Jornalismo

Vinte e dois de novembro de 1968, naAcademia de Letras, o escritor MárioPalmério abre o seu discurso de posse naCadeira nº 2: “João Guimarães Rosa não foiapenas um querido amigo, foi-me o mestremaior, dia a dia mais e mais admirado erespeitado”.

Palmério discorre sobre a vida deGuimarães Rosa – ou simplesmente Joãzito,como era chamado em Cordisburgo, terranatal do escritor que renovou o romancebrasileiro e conquistou o mundo.

Rosa nasceu no dia 27 de junho de 1908,primeiro dos seis filhos de D. FranciscaGuimarães Rosa e de Florduardo PintoRosa, mais conhecido por “seu Fulô”,comerciante, juiz-de-paz, caçador de onçase contador de estórias. O garotinho comolhar sonhador aprendeu a ler sozinho aosquatro anos. As palavras e os mapasgeográficos eram seus brinquedos favoritos.

Luís Guimarães percebeu a inteligênciaprecoce de seu afilhado e o levou a BeloHorizonte para dar melhores condições deestudo a um menino que logo mostraria oseu empenho intelectual. Rosa terminou ocurso primário an-tes dos nove anos,aos 17 prestou ves-tibular e matri-culou-se na Facul-dade de Medicinade Belo Horizonte.

Ao formar-se,exerceu a profissão em Itaguara, ci-dadezinha mineira do município de Itaúna.Lá foi muito mais que médico: foi amigo,conselheiro e colheu informações de toda apopulação que mais tarde veio a povoar seustextos. Em 1932, foi voluntário na ForçaPública durante a Revolução Constitu-cionalista. Logo após se efetivou e foi paraBarbacena como Oficial Médico.

O quartel exigia pouco do escritor – sómesmo a revista médica rotineira e umdiscurso ou outro, dos quais era o orador.Por isso, Guimarães se dedicava ainda maisao estudo de idiomas e na sua coleta deinformações para seus textos, que eram noinício dotados de rigor gramatical.

“Aos vinte e um anos o jovem se destacacomo artista e primeiro começa pordesaprender o aprendido em anos de aturada

Um diálogo entredois mestresEm discurso de posse na Academia Brasileira de Letras,Palmério celebra o grande escritor e amigo, Guimarães Rosa

Palmério foi eleito para a Cadeira nº 2 da ABL em 4 de abril de 1968, sucedendo Guimarães Rosa

Fernanda Castilho2º ano de Jornalismo

A Academia Brasileira de Letras(ABL) foi criada a partir de uma idéiade um grupo de jovens escritores. Em1896, na redação da Revista Brasileira,José Veríssimo e seus parceiros come-çaram as sessões preparatórias. Em 15de dezembro, Machado de Assis já eraaclamado o Presidente e, no ano seguinte,foram definidos a Diretoria e os estatutos.

Em 20 de julho daquele ano, na antigasala do Pedagogium, na rua do Passeio,instalou-se oficialmente a Academia, comos discursos do Presidente Machado deAssis, do Secretário-Geral Joaquim

Nabuco, e o relato das atividades pre-paratórias a cargo do Primeiro-Secre-tário Rodrigo Octavio. Na sessão inau-gural, tomaram posse os 40 fundadores.Cada um deles, ao escolher um patronopara sua cadeira, perpetuou a memóriade um grande nome das letras bra-sileiras.

A Academia não tinha uma casaprópria, mas em 1923 o governo francêsdoou uma réplica do Petit Trianon deVersalhes. O edifício tem um pavimentono térreo de Salão Nobre e outras belassalas. O destaque é a Sala dos PoetasRomânticos e a Sala Machado de Assis.No andar superior, estão a Sala deSessões, a Biblioteca e o salão de chá.

A memória dainteligência brasileiraABL foi fundada por grupo de jovens escritores

porfia, para, depois, reiniciar e reconstruirtudo, e de modo totalmente irreconhecível,como se fora lavor de outra alma e de outrasmãos”, prossegue Palmério.

Em cada fase da vida de Rosa, por ondepassou, ele sempre anotou tudo, não só dememória, mas – e principalmente – nas suasfamosas cadernetas. Sempre foi muitodiscreto e fazia os textos para si. Não tinhaintenção de publicá-los e nem mesmo falarsobre eles. Tamanha foi a surpresa dosamigos quando o conto O Mistério deHighmore Hall, foi publicado na revista OCruzeiro. A partir daí não parou mais.

Entrou na Academia Brasileira de Letrasem 1967 e, em seu discurso, a todo instante

fez referências asua terra natal eaos conhecidosque sempre fi-zeram parte desua obra. Trêsdias depois daposse, o escritor

morre, deixando saudades e admiradores desuas inesquecíveis obras.

A Mário Palmério, ficou a lembrança daúltima conversa que teve com Rosa, quandoo autor de Grandes Sertões: Veredascombinara com ele uma viagem ao sertãourucuiano. “Fui eu, então, pois algo dentrode mim teimava em garantir ainda jeito decumprir o combinado. Sim, Rosa estava aomeu lado viajava comigo...foi uma belaviagem, viagem de pausa, de maravilha ede saudade”, rememorou o escritor.

“Meu caro Guimarães Rosa: Deus nospermitiu, a ambos, realizássemos o velhodesejo – você pôde matar a vontade, pude eupagar a promessa. E muito, muito obrigado,por me haver acompanhado até aqui”. Assim,Palmério termina seu discurso sobre o grandemestre, Joãzito de Cordisburgo.

Três dias depois da possena ABL, Guimarães Rosa morre,deixando saudades e admiradoresde suas inesquecíveis obras

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Julyene Martins da Silva2º ano de Jornalismo

A tradição regionalista no romancebrasileiro se formou no decorrer de umalonga trajetória, que teve início com aspreocupações nacionalistas dos autoresromânticos do século 19. Já os escritores dageração de 1930 passaram a interpretar arealidade regional como “estímulo esubstância” da arte literária e, assim, essaliteratura atingiu plena maturação,particularmente no Nordeste, sobretudograças à excepcional fecundidade equalidade de José Linsdo Rego, Jorge Amadoe Graciliano Ramos.

A zona canavieirado Nordeste foi, até ofinal do século XVII, opólo econômico maisimportante do Brasil.Em torno da lavoura de cana criaram-se asprimeiras formas estáveis de colonização –patriarcal, baseada no trabalho escravo, e quedeixou marcas profundas na região. Issopropiciou a formação de rica tradição cultural.

Segundo José Maurício Gomes deAlmeida, em A tradição regionalista noromance brasileiro (Topbooks, 1999) para

ser regional uma obra de arte não temsomente que estar localizada numa região,mas deve retirar sua “substância real” desselocal. “Romances tidos tradicionalmentecomo regionalistas não o são, ou neles oregionalismo se manifesta apenas super-ficialmente.” Para o autor, há casos deromances nordestinos e sociais, mas nãopropriamente regionalistas.

O autor afirma que o romance de Rachelde Queiroz, O Quinze, pode ser consideradoregionalista: “tanto o ambiente natural – aseca, a paisagem agreste – quanto a reali-dade social e humana fixada no romance –

a luta do homem pelasobrevivência pro-funda, o êxodo e osdramas inerentes aele – apresentamuma vivência pro-funda da região.” Oregionalismo encon-

tra-se também presente no estilo, com aassimilação das variações lingüísticas aoprocesso narrativo.

Gomes de Almeida apresenta uma únicaexigência para que uma obra possa serconsiderada regionalista: a existência deuma relação íntima entre a realidadeficcional e a realidade física, humana ecultural da região focalizada. Para o autor,as regiões de exploração econômica – comonas áreas de monocultura ou nas zonaspastoris – estavam predestinadas a despertaro sentimento regionalista, que tem tambémcomo característica a denúncia social.

Mário Palmério representa o regiona-lismo mineiro em suas obras Vila dos Confinse Chapadão do Bugre. Esses romancesreúnem dados minuciosos de Minas Gerais,como a descrição física do sertão, dos peixes,dos animais e da vida sertaneja – massobretudo da linguagem e das expressões re-gionais que caracterizam suas obras.

Há uma crítica freqüente por parte deestudiosos que vêem no regionalismo um“localismo redutor”, um rebaixamento devalores estéticos e humanos. Mas as obrasque adquiriram sentido universal – como asobras de Palmério – provaram que as obrasregionalistas possuem limites, mas nada asimpedem de alcançar o universalismo naliteratura brasileira.

O regionalismouniversalTradição literária que experimentou o apogeu noNordeste teve no escritor mineiro uma renovação

Literatura

Relação íntima entre realidadeficcional e realidade física,humana e cultural da regiãofaz o romance regionalista

reprodução

Palmério era um conhecedor autêntico davida sertaneja do Triângulo Mineiro

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Guilherme Marinho2º ano de Jornalismo

É estranho como não conhecemos osnossos vizinhos. O Paraguai, por exemplo,guarda um tesouro que muitas vezes éignorado pela maioria do povo brasileiro:as guarânias, manifestações da cultura deum povo que tem duas línguas oficiais – oespanhol e o guarani. O estilo musicalrecebeu esse nome justamente devido àlíngua oficial do país: o guarani.Curiosamente, a maioria da músicas sãocantadas em espanhol.

Mais esquecido talvez seja o fato de queum de nossos imortais da AcademiaBrasileira de Letras foi um composior deguarânias. Mário Palmério compôs, entre

outras, “No digas no”, “Noche de Asunción”e a mais famosa de todas: “Saudade”. Asmúsicas foram compostas enquantoPalmério foi embaixador naquele país.Nomeado no governo de João Goulart edeposto no Golpe Militar, o imortal passoudois anos de sua vida conhecendo a “nochede Asunsión” e compondo sobre ela.

As guarânias de “Don Mário” – como ochama o jornalista Mauro Santayana –foram interpretadas por artistas como OscarEscobar, Neca Gonzalez e Oscar Aguajo. Édito que este estilo de música lembra muitoo sertanejo do nosso Brasil. O romantismoe a “dor de corno” reinam absoluto.Entretanto, levam um toque melancólicotípico da boemia paraguaia, de uma toadabonita, leve e simples.

Não diga não!Guarânias cantam as noites escuras do Paraguai

Música

Kátia Matias2 ano de Jornalismo

A professora de História na Uniube,Maria Aura Marques Aidar, está desen-volvendo um projeto de pesquisa para in-gressar no mestrado na Universidade deUberlândia (UFU), onde vai estudar osdois livros de Mário Palmério: Vila dosConfins e Chapadãodo Bugre. Para ela, es-ses romances revelammuito da história po-lítica do período emque foram escritos(1956 e 1966).

Maria Aura explicaque, nos campos de investigação da Histó-ria, há os estudos de “História Cultural”, quepor sua vez comporta uma vertente que pes-quisa “História e Literatura”. Nessa linhahistoriográfica, tenta-se compreender asfronteiras entre a ficção e o real, o imaginá-rio e a representação da realidade. MariaAura se propõe a verificar nesses romances

até onde vai a informação histórica e o queé eminentemente ficção literária.

Ela escolheu o tema História e Litera-tura por interessar-se pela história culturale por gostar muito de ler – sobretudo lite-ratura brasileira do século XIX e início doséculo XX. “Através dos livros você podeconhecer a cultura de um povo, a sociedadeda época e até os preconceitos muitas ve-

zes velados de determi-nado povo, espaço etempo” explica MariaAura.

Assim a professorarecomenda que as pes-soas leiam os romancespara compreender me-

lhor a história da região. Para ela, é possí-vel conhecer muito do contexto deUberaba, de Minas Gerais e do país nesseslivros. As delícias de uma pescaria, de umacaçada, e até mesmo as estratégias dapolítica são reveladas minuciosamente poreste grande observador que foi MárioPalmério.

Obra de Palmério é temade projeto de pesquisaEstudo investigará ligações entreHistória e Literatura na obra do escritor

Professora recomenda quepessoas leiam os romancespara compreender melhora história da região

História

Embaixador no Paraguai, Palmério compôs polcas e guarânias de sucesso

26 de outubro a 1º de novembro de 20048

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Graziela Christina de Oliveira2 º ano de Jornalismo

Chapadão do Bugre, interior de Minas,início do século XX, época de coronéis ejagunços, de mandar quem pode e deobedecer quem tem juízo, de lavar a almacom sangue. É nesse clima que se passa ahistória de José de Arimatéia, sujeito bom,de pouca prosa, muito reservado, dentistaambulante, enrabichado por Maria doCarmo.

Os dois se conheceram quando ela foiaté o consultório dele. Aos poucos, foicrescendo o sentimento. Mas povo da roça,tudo sistemático, com muito custo, só pegarna mão; no mais, tem que esperar o casório.

Uma época em que também se deviamuito favor, outra questão de honra. Sempais, sozinho no mundo, José tinha umaprofunda admiração, quase uma obrigaçãomesmo para com seu Valico, que o acolheue pediu para que lhe ensinassem o ofício dedentista. Seu Valico considerava José comoum filho, então, nada como mostrar gratidãoconvidando-o para padrinho, abençoar ocasamento.

E em tempo de chuva, estrada de terra,atoleiro na certa! Mas José de Arimatéiaresolveu, assim mesmo, ir à casa de seuValico, enfrentando chuva forte, vento frio,escuridão do mato, apenas iluminado pelosvagalumes. É mais não teve jeito não, sô!O caminho virou pura lama e nem mesmo abesta inseparável de José, a Camurça,conseguiu vencer o temporal. Animal bomaquele: companheiro, fiel; que deu trabalhono começo, mas hoje dava muita alegria aodentista.

Pois é, mais nem mesmo a Camurça deuconta do recado e o jeito foi voltar pra trás.E de súbito, bateu aquela saudade danadade do Carmo e uma vontade doida de vê-la.E ele foi, já que tinha que voltar mesmo,podia dar uma passadinha, chamar na janela,só um pouquinho...

E foi a partir daí que desandou tudo e atragédia aconteceu. Não é que Josédescobriu que a do Carmo, moça prendada,dedicada, uma santa, não era nada daquilo?José pegou a donzela de futrico comInacinho, filho dos padrinhos dela. A raivasubiu a cabeça de José que, sem pensar,matou o sem vergonha a machadadas e,depois, saiu a procura de Maria do Carmo,

Alma se lavaé com sangueResenha

Chapadão do Bugre, o segundo romance de Palmério, foi inspirado em uma chacina ocorrida em Passos (MG)

para fazer o mesmo com ela! Mas semsucesso, pois ela havia seembrenhado pelo matagala fora, e como elaconhecia muito bemaquele lugar, José largoumão de achá-la e caiu nomundo, com sua besta,pelas entranhas daquelesertão...

Então começou, de fato, o desenrolar dahistória, uma sucessão degente querendo se vingar,mandando peão atrás deJosé, seguir os passos doscompanheiros dele, praver se descobriam ondeele tinha se escondido.

E era assim mesmo,naquele tempo, quando ocorria um fato

como esse: a família do morto tinha que sevingar, correndo o mundo inteiro, se fossepreciso, até achar o assassino e dar o troco,na mesma moeda: fazer justiça.

Mas isso virava uma encrenca sem fim.A cada acontecimento, um queria honrar onome da família, algo muito tradicional,importante mesmo praquela gente. E todomundo ficava sabendo, cidadezinhapequena, o boca-a-boca corre ligeiro. E numinstante, os comentários já estavam nasrodas de conversa.

Então, o pai do Inacinho, seu TonhoInácio, resolveu se vingar de uma maneiraque José não esperava: matando seu Valico.Isso foi uma facada no coração deArimatéia, que jurou não descansarenquanto não pegasse seu Tonho Inácio.

Pois bem, a perseguição a Josécontinuou, mas ele conseguiu mandarTonho para debaixo da terra. E a onda dematança se arrastou por mais algum tempona cidadezinha do Chapadão.

E assim se faz essa aventura: num lugarmarcado pela violência e pela brutalidadede homens que se julgam donos de tudo,jogando uns contra os outros, provocandoa raiva e a destruição. Essa obra é baseadanum episódio verídico, ocorrido na cidadede Passos, interior de Minas, e queconseguiu passar de maneira emocionantea trama vivida no local, com personagensmarcantes, de espírito, com uma descriçãoimpecável e uma linguagem rica e fiel àsraízes daquele tempo.

arquivo Memorial Mário Palmério

Então começou, de fato,o desenrolar da história,uma sucessão de gentequerendo se vingar

Romance foi lançado pela José Olympio em 1966

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Manuscrito esboça glossário que Palmério escreveu para seus próprios livros

Andresa Afonso2° ano de Jornalismo

Por que trabalhar com a documentação davida pessoal e profissional de MárioPalmério? Em seus 80 anos de vida, Palmérioexerceu várias atividades e em cada uma de-las foi reunindo uma série de registros. Elefoi professor, criador de faculdades, deputa-do federal, escritor,embaixador, com-positor, além de fun-dador da Uniube.

O Centro deDocumentação jáestá reunindo re-gistros em váriostipos de formatos: correspondências, fotogra-fias, slides, agendas e os diários de duas via-gens que ele fez para a Amazônia. O acervoé chamado de “arquivo privado”, pois reúnedocumentação de uma pessoa pública, queteve importância nacional. Assim, esses do-cumentos têm valor não só para família, mastambém para toda a sociedade.

A coordenadora do Centro de Documen-tação, Cristiane Ferreira de Moura, conta queesse acervo até então estava disperso, em cai-xas de papelão. “Muitas das fotos e recortesde jornal estavam colados em folhas de pa-

Centro de Documentaçãopreservará acervoObjetivo é organizar documentos para incentivar e facilitar trabalhos de pesquisadores

Memória

pel, o que danifica esses documentos.” Eladiz que outra das grandes dificuldades encon-tradas são os clipes juntando fotografias: alémde amassá-las, com o tempo essas peças demetal enferrujam e contaminam as fotos.

Marcas de caneta esferográfica tambémdanificam, porque essa tinta é ácida e corróio papel com o tempo. Fitas durex, informa acoordenadora, também são grandes vilãs.

“Muitas vezes aspessoas até têmboa intenção aoquerer colar fo-tos rasgadas comdurex, mas pre-cisamos pensar alongo prazo. Em

poucos anos o durex seca, descola e deixamanchas irreversíveis no documento, poden-do até mesmo comprometer a leitura. O queparecia uma solução à curto prazo, vira umproblema lá na frente”, explica.

Em um Centro de Documentação profis-sional, até mesmo as caixas para armazenardevem ser especiais – de PH neutro – paraque as fotografias sejam apropriadamenteacondicionadas. “O arquivo deve se estruturarpara preservar esses documentos não por dezou vinte anos, mas para cem ou duzentosanos. Estamos trabalhando para os pesquisa-

Neuza das Graças

Segundo Cristiane Ferreira, coordenadora do projeto, o Centro de Documentação já contacom mais de mil fotografias tiradas por Mário Palmério no período em que viveu na Amazônia.Material ainda precisa passar por um processo de higienização e planificação

dores de hoje, e também para a posteridade,para o benefício de estudiosos que ainda nemnasceram”.

Para que a documentação dure o maiortempo possível, o primeiro passo, que já co-meçou a ser feito, é a higienização dos docu-mentos: uma limpeza técnica completa, defolha a folha, retirando a poeira. Para isso, aequipe do projeto Memorial Mário Palmériojá conta com o apoio de dois alunos bolsis-

tas: o estudante de História, José Augusto daSilva Queiroz, e a aluna de Comunicação So-cial, Aline Veloso Mendes. “Nesses poucosdias de trabalho, os dois se mostraram muitocompetentes e dedicados. Será um grandeaprendizado para todos”, diz a coordenadora.

A pesquisa histórica, feita por CristianeFerreira e o jornalista e professor André Aze-vedo da Fonseca – pós-graduando em Histó-ria do Brasil na PUC-MG – buscará informa-

“Estamos trabalhando para ospesquisadores de hoje, e tambémpara a posteridade, para o benefício deestudiosos que ainda nem nasceram”

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ções precisas para cada documento. “Nas fo-tografias, por exemplo, vamos identificar eregistrar quem são as pessoas e qual o mo-mento histórico em que determinada foto foitirada – enfim, vamos inventariar cada umdos documentos”, explica o jornalista.

Em um segundo momento, o Centro deDocumentação vai transcrever e digitalizar oacervo para deixar grande parte dos textos efotos disponíveis na Internet para consulta pú-blica. O professor André Azevedo tambémvai coordenar esse processo.

DocumentosCristiane Ferreira diz que no contato com

a documentaçãode Mário Pal-mério encontroudiários muito mi-nuciosos. O es-critor pareciasempre andarcom uma agen-da, com várias anotações, demonstrando seruma pessoa muito observadora.

Uma grande curiosidade ainda poucoexplicada foram suas permanências na Ama-zônia. Na sua segunda viagem à região (1978-1987) ele deixou registrados diversos diárioscom impressões pessoais da vegetação e dacultura local. Em cadernos como os de 1978 eos de 1981, Palmério anotou a rotina, as pes-soas que o visitavam no barco e até mesmo asimpressões de cada visitante. Já foram encon-

tradas 1.038 fotos tiradas por Mário Palmério,somente neste período amazônico. “Infeliz-mente essas fotos estão, em sua grande maio-ria, emborcadas – que é quando, devido à fal-ta de controle de temperatura e umidade noacondicionamento, a fotografia se curva. Pre-cisamos mandar higienizá-las e planificá-las– ou seja, torná-las ‘retinhas’ novamente. Es-sas fotos são inéditas. O Brasil inteiro tem cu-riosidade em relação à esse período da vida dePalmério”, diz a coordenadora.

Existe também entre essa documentaçãoum glossário para suas obras, totalmente iné-dito. Palmério dizia que “a língua do povo nãoestá nos dicionários”. Assim, como em seus

livros ele usavaum linguajarbem regional, oescritor prepa-rou um glossá-rio para o voca-bulário serta-nejo de seus ro-

mances. A coordenadora informa que esse “di-cionário palmeriano” será transcrito em bre-ve, pois atualmente está manuscrito ou datilo-grafado em folha de seda, um suporte muitofrágil. “Isso é outra das muitas atividades ur-gentes que temos pela frente”.

Por enquanto, o Centro de Documenta-ção está sendo estruturado na sala de obrasraras da Biblioteca Central da Uniube. A pre-visão é que seja inaugurado em setembro de2005.

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Neuza das Graças

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Além de escrever a biografia, o jornalista e professor da Uniube, André Azevedo da Fonseca, vaicoordenar o processo de transcrição e digitalização do acervo histórico de Mário Palmério

Palmério dizia que “a língua do povonão está nos dicionários”. Assim,o escritor preparou um glossário para ovocabulário sertanejo de seus romances

O garoto Mário Palmério, em fotos do final da década de 10 e começo da década de 20

Diários inéditos do período da Amazônia serão transcritos e estudados

Fotografias sem referências serão identificadas e contextualizadas historicamente

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Cristiane Ferreira de MouraEspecial para o Revelação

A guarda e a conservação de do-cumentos escritos é uma prática queremonta à antigüidade. Presume-se queforam os gregos os primeiros a ter essaconsciência histórica. No século VI a.C. osatenienses já guardavam seus documentosde valor no templo de Metroon (a mãe dosdeuses), que ficava junto à corte de justiça,na praça pública em Atenas. Naquela época,o suporte tradicionalmente utilizado era opapiro. Feito de fibras vegetais (como olinho), o papiro assegurou uma vida longaàs informações, atravessando a antigüidadee chegando até à Idade Média – quandoentão foram duplicados pelos mongescopistas.

Para muitos historiadores positivistas, osdocumentos oficiais ainda hoje sãoconsiderados fontes únicas e exclusivas natentativa de se entender o passado. Noentanto, no século XX, uma nova correntehistoriografica chamada Escola dosAnnales chamou a atenção para acomplexidade humana e criticou a limitaçãode se utilizar apenas documentos escritoscomo fontes. As mudanças ocorridas noséculo passado, no âmbito político,econômico e social, haviam provocadonovos questionamentos que os documentosescritos por si só não conseguiam maisresponder. As-sim, novas for-mas de registropassaram a serconsideradasdocu mentoshistóricos, co-mo por exem-plo: fotogra-fias, cartas,diários e, mais recentemente, graças aoavanço tecnológico, slides, discos, fitas,filmes, CD-Rom e DVD.

Do papiro ao mundo digital o homemcontinua registrando informação. Noentanto, se nos séculos anteriores bastava aalfabetização para fazer a leitura dedocumentos escritos, com as maioria dasmídias atuais precisamos também dasmáquinas de leitura. Para ouvir um CD,precisamos necessariamente do aparelho de

reprodução desses discos. Para ver umfilme, precisamos do vídeo-cassete paradecodificá-lo e de um monitor de TV paraexibi-lo.

As vantagens tecnológicas sãoanunciadas a todo momento; a produção denovos equipamentos, mais eficientes, ágeise compactos fascinam e encantam.Evidentemente, a digitalização e transcriçãode documentos históricos e suadisponibilização na Internet ou em CD-Romestá sendo um grande aliado nademocratização da informação.

No entanto, essas inovações têmpreocupado e tirado o sono dos guardiãesda memória: os arquivistas. Sua missão é,dentre tantas outras, assegurar maiordurabilidade ao documento histórico. Paraisso, conhecer a estrutura fisíco-química domaterial é de extrema importância para seplanejar uma política de conservação.

Cada suporte é fabricado através dematérias-primas diferentes, e por issoexigem procedimentos específicos para suaconservação. O papel, feito de celulose –um material orgânico – exige um tratamentopróprio. Não combina com umidade, é alvode insetos, degrada-se na presença defungos, poeira, etc. Películas de filme,produzidas em acetato, pedem outro tipo deacondicionamento. Material altamentecombustível, o acetato exige um cuidadomuito especial no controle da temperatura

ambiente. En-fim, de acordocom a compo-sição químicade cada mate-rial, planeja-sea estratégia deconservação.

Mas nocaso dos CDs

isso ainda não foi possível. Segundo ohistoriador Clóvis Molinari Jr., além de serum material extremamente frágil, suaestrutura fisico-quimica é desconhecida.Como acontece com a misteriosa fórmulada Coca-cola, as multinacionais produtorasdesses discos compactos não liberam acomposição química de seus produtos, deforma que torna-se impossível planejarcorretamente seu armanezamento a longoprazo. Como não conhecemos suas

propriedades, não sabemos como protegê-los e nem mesmo por quanto tempodurarão.

Preservação de máquinasOs arquivistas também nos chamam a

atenção para aimportância dese preservar asmáquinas quefazem a leiturados documen-tos audiovi-suais.

Quando de-terminado apa-relho deixa de ser produzido e é auto-maticamente substituído por outro “maismoderno”, perde-se a oportunidade de lerum grande número de informações. Quantase quantas pessoas não possuem em casainúmeros discos de vinil, mas estão privadasde ouvi-los porque não se fabricam maisvitrolas? O mesmo vem acontecendo comas fitas cassetes e os VHS. Muitos têmoptado em fazer a migração desses dadospara a mídia digital, descartando assim o

Indústria culturalcontra a memóriaComo na fórmula secreta da Coca-cola, fabricantes de CDs não informam as propriedadesquímicas de seus produtos e inviabilizam estudos de conservação de documentos digitais

Se nos séculos anteriores bastava aalfabetização para se fazer a leiturade documentos escritos, com asmaioria das mídias atuais precisamostambém das máquinas de leitura

original, deixando suas máquinas de ladopor terem se tornado obsoletas. É precisoque se tenha consciência de que essesequipamentos além de necessários para sefazer a leitura possuem uma importânciamuseológica e histórica.

Não po-demos deixarque a “memó-ria” seja redu-zida a umalógica indus-tria l e ultra-consumista demercado. Pre-cisamos dis-

cutir abertamente essas questões ecomeçar (quem sabe?) a exigir dosfabricantes que garantam uma maiordurabilidade ou uma automáticaconversibilidade de seus produtos,comprometendo-se também com apreservação da memória . Afinal,favorecer o registro e a leitura de nossacultura também deve ser incluído nosprogramas de responsabilidade social dasempresas.

Cada suporte é fabricado atravésde matérias-primas diferentes,e por isso exigem procedimentosespecíficos para sua corretaacomodação e conservação

Preservação

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Restauração digital

Sequência mostra, em cinco fases, a evolução no processo de restauração digital de uma fotografia.Essa imagem foi escolhida como a marca do projeto para simbolizar a proposta de revitalização da obra de Mário Palmério.

Dependendo do estágio de degradação da fotogra-fia, é possível restaurá-la através de diversos tipos detécnicas. A restauração física na foto original é o ideal,pois conserva o documento preservando também o su-porte histórico. No entanto, essa técnica é muito cara emelindrosa, e são raros os profissionais habilitados aexecutar esse trabalho no país.

Uma outra maneira muito eficaz é restauração digi-tal, feita através de programas de computação gráfica. Afoto é digitalizada e reconstruída, pixel à pixel (medidade arquivos de imagem digital), através de simulaçãodas texturas encontradas na própria superfície da foto. Atécnica funciona como um enxerto, onde partes da su-perfície são aproveitadas para a recomposição das fa-lhas. A imagem é então impressa em papel fotográficoatravés de uma impressora especial.

A restauração digital é um método trabalhoso e so-fisticado, mas muito eficiente e capaz de mostrar resul-tados surpreendentes. Na técnica digital, partes da própria imagem

são aproveitadas para a recomposição das falhas

fotos: arquivo Memorial Mário Palmério

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Fotografias“novas em folha”

AntesDepois

Antes Depois

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Inédito

Registros da AmazôniaEm suas duas expedições, Mário Palmério tirou milharesde fotografias da região amazônica. Confira alguns exemplos

Mário Palmério entre Apoena Meireles (o jovem de chapéu) e Francisco Meireles,sertanistas responsáveis pela pacificação de tribos indígenas na Amazônia,em foto tirada durante a primeira viagem do escritor à Amazônia (fev. de 1969 a fev. de 1970).

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No decorrer do projeto, as fotografias serãoidentificadas e contextualizadas pelos pesquisadores

fotos: arquivo Memorial Mário Palmério

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André Azevedo da FonsecaCristiane ferreira de MouraEspecial para o Revelação

O Projeto Memorial Mário Palmério sepropõe a organizar e divulgar o legado cul-tural e a memória do escritor, empreendedor,político, educador e fundador da Universi-dade de Uberaba. O plano está estruturadoem quatro programas complementares queserão desenvolvidos da seguinte maneira:

a) Centro de Documentação MárioPalmério: Organização e catalogação do acer-vo de Mário Palmério; instituição de um cen-tro de referência documental (manuscritos,agendas, diários, slides, fotografias, fitas,vídeos, dissertações, teses, etc) para subsidi-ar trabalhos de estudantes e pesquisadores detodo o país.

b) Portal Mário Palmério: Iniciativa iné-dita que digitalizará e organizará em umabase de dados online o acervo histórico doescritor, constituindo um site oficial de in-formação multimídia sobre sua vida e obra.

c) Biografia Oficial de Mário Palmério:Pesquisa, redação e publicação da biografiade Mário Palmério em 2006 – ano do aniver-sário de 10 anos de seu falecimento.

d) Memorial Mário Palmério: Consolida-ção do projeto, instituição de um espaçomuseográfico permanente e de um centro cul-tural para a exibição de mostras de arte, de-senvolvimento de seminários e projetos lite-rários de expressão nacional.

1 Introdução e JustificativaMário de Ascenção Palmério (1916-

1996), educador, empreendedor, político e ro-mancista, construiu na vida pública brasileirauma trajetória singular, marcada por feitos am-biciosos em to-dos os camposem que atuou. Foiele quem deu osprimeiros passospara a transfor-mação do Triân-gulo Mineiro emum pólo universi-tário. Mário Palmério foi deputado federal portrês mandatos, com atuação marcante na Co-missão de Educação e Cultura. No governoJoão Goulart, exerceu o cargo de embaixadordo Brasil no Paraguai, promovendo intensodiálogo cultural entre as duas nações hoje par-ceiras no Mercosul. Já na maturidade intelec-tual, publicou "Vila dos Confins" e "Chapadão

do Bugre", romances essenciais da literaturabrasileira contemporânea, o que lhe valerama cadeira nº 2 na Academia Brasileira de Le-tras, sucedendo Guimarães Rosa. MárioPalmério percorreu o rio Amazonas e seusafluentes, levantando dados sobre a realidadefísica, social e cultural daquela região. Viveunum barco batizado de "Fray Gaspar deCarvajal" e recebeu cientistas e naturalistas detodo o planeta. Em 1987 voltou definitivamen-te ao Triângulo Mineiro, dirigiu as Faculda-des Integradas de Uberaba (Fiube) e em 1988fundou a Universidade de Uberaba (Uniube).Mário Palmério faleceu no dia 24 de setem-bro de 1996, na cidade de Uberaba.

Salvaguardar a memória do educador,empreendedor, político e intelectual MárioPalmério, através de um projeto à altura desua expressão nacional, é uma aventura com-parável apenas à sua própria trajetória. Masé preciso fazê-lo, urgentemente, com o mes-mo espírito audacioso que sempre o caracte-rizou. Primeiro porque, se protelarmos essaempreitada, corremos o risco de desperdiçara documentacão que hoje está dispersa. Damesma forma, temos urgência em gravar de-poimentos de velhos companheiros; casocontrário, a reconstrução de sua memória setornará incompleta, teremos menos subsídi-os para organizar sua biografia e o país dei-xará de compreender com profundidade a his-tória desse imortal.

Em segundo lugar, não podemos deixarescapar a oportunidade de celebrar em altonível o aniversário dos 10 anos de seu faleci-mento, que se dará no dia 24 de setembro de2006. Essa data marcará um momento histó-rico e, potencializada pela boa execução des-se projeto, pode se tornar um símbolo pararedespertar no país o interesse por sua obra.

A Universi-dade de Ube-raba oferece na-turalmente asmelhores condi-ções para cons-tituir-se no cen-tro irradiadordesse trabalho.

A cidade concentra um grande número decontemporâneos que conviveram com Má-rio Palmério. A região do Triângulo Mineirofoi o cenário mítico escolhido pelo escritorpara desenvolver seus romances, e a própriacultura regional já revela muito do arcabouçointelectual que permeou sua obra. A Uniubeconta com uma infra-estrutura física e com

um corpo discente nas áreas de História, Le-tras e Comunicação Social que podem sermobilizados, através de oficinas, envol-vimento de disciplinas e atividades comple-mentares para apoiar a execução do projeto.

Enfim, simultânea à urgente demanda porum trabalho sólido, amplo e permanente quefaça juz à vida pública de Mário Palmério,temos todas as condições físicas e humanaspara a execução desse projeto.

2 Objetivos Gerais2.1 Instituir um centro de referência do-

cumental para conservar o acervo históricode Mário Palmério e apoiar pesquisadores epessoas interessa-das em sua vida eprodução intelec-tual;

2.2 Constituirum site oficial deinformação onlinee multimídia so-bre Mário Pal-mério, organizando na Internet um banco dedados com textos, documentos, fotos e ar-quivos multimídia sobre o escritor;

2.3 Estabelecer no país um livro de refe-rência sobre Mário Palmério;

2.4 Criar um espaço museográfico sobresua a vida e obra, abrangendo também docu-mentação sobre a cultura da região.

3 Procedimentos geraisCom o objetivo de preservar e divulgar o

legado cultural do escritor, o Projeto"Memorial Mário Palmério" propõe quatroprogramas que se darão de forma gradual esimultânea. São eles:

3.1 Instituição do Centro de Documenta-ção Mário Palmério

3.2 Desenvolvimento na Internet do Por-tal Mário Palmério

3.3 Pesquisa, redação e publicação da Bi-ografia Oficial de Mário Palmério

3.4 Instalação do Memorial MárioPalmério

Nos capítulosseguintes, vamosdetalhar o diagnós-tico, os objetivos eos procedimentospara executar cadaum dos quatro pro-gramas.

4 Centro de Documentação MárioPalmério

Organização e catalogação do acervo deMário Palmério; instituição de um centro dereferência documental (manuscritos, agen-das, diários, slides, fotografias, fitas, vídeos,

Conheça o projetoMemorial Mário PalmérioLeia os trechos que tratam do diagnóstico, dos objetivos e dos procedimentos de cada programa

Mário Palmério percorreuo rio Amazonas e seus afluentes,levantando dados sobre a realidadefísica, social e cultural daquela região

Reunir e centralizar os arquivos deMário Palmério é o primeiro passopara a sistematização de seu legadoe preservação de sua memória

Mário Palmério criou na década de 40 o Liceu do Triângulo Mineiro

arquivo Memorial Mário Palmério

Especial

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dissertações, teses, etc) para subsidiar traba-lhos de estudantes e pesquisadores de todo opaís.

4.1 Diagnóstico e justificativaAtualmente encontramos arquivos pesso-

ais de Mário Palmério – manuscritos inédi-tos, agendas, diários, slides, fotografias e ou-tros documentos – desorganizados e dispersosem caixas de papelão armazenadas de formainadequada nas dependências da universida-de. As folhas avulsas estão amassadas, algu-mas fotos já apresentam proliferação de fun-go, muitos pa-péis já apresen-tam sinais de de-gradação. A fal-ta de adequadaclimatização –exposição ao ca-lor, à umidade eà poeira – po-dem provocar danos irreversíveis a esses do-cumentos.

Felizmente, esse material ainda pode serrecuperado, catalogado e conservado em umcentro de documentação. Da mesma forma,muitos dos companheiros, parceiros, colegase velhos funcionários mantém nas lembran-ças pessoais fragmentos preciosos da memó-ria histórica do escritor. Assim, utilizando osprocedimentos do Jornalismo e da HistóriaOral, ainda é possível gravar depoimentospara a constituição de um arquivo sonoro.Além disso, os antigos colegas, os amigos esobretudo a família ainda mantêm arquivosque podem ser reproduzidos e organizadosneste centro de documentação. Reunir e cen-tralizar os arquivos referentes a MárioPalmério é o primeiro passo para a sistema-tização de seu legado e preservação de suamemória.

4.2 Objetivo geral4.2.1 Instituir um centro de referência do-

cumental para apoiar pesquisadores e pesso-as interessadas na vida e na produção inte-lectual do escritor.

4.2.2 Objetivos específicos4.2.2.1 Reunir, reproduzir, organizar e ca-

talogar a documentação sobre MárioPalmério;

4.2.2.2 Consolidar um espaço adequadoe permanente para preservar esses documen-tos;

4.2.2.3 Instituir um centro de referênciadocumental para pesquisas sobre a história ecultura de Uberaba e região em geral.

4.3 Metodologia e procedimentosO programa se propõe a investigar, iden-

tificar e reproduzir (ou intercambiar) de ar-quivos institucionais, públicos e pessoais deUberaba, da região e do país, toda a docu-mentação referente a Mário Palmério (ma-nuscritos, agendas, diários, slides, fotografi-as, fitas, vídeos, jornais, dissertações e teses,etc). Será necessário pesquisar, identificar einventariar referências dessa documentação,assim como digitalizar e transcrever esses do-

cumentos para armazená-los digitalmente,seguindo metodologia do Centro de Pesqui-sa e Documentação em História Contempo-rânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas,e da Associação Brasileira de Conservado-res. O programa prevê um trabalho constan-te de pesquisa, gravação e catalogação de de-poimentos orais, de acordo com método doMuseu da Pessoa. Todo o acervo estará dis-ponível para consulta pública, seguindo omodelo da Academia Brasileira de Letras. Emparceria com a Biblioteca Central da Uniube,o programa contribuirá na organização da bi-

blioteca parti-cular de MárioPalmério. Noprocesso de ca-talogação, seráutilizado o pa-drão da Biblio-teca Central,que obedece

aos modelos internacionais biblioteco-nômicos.

4.4 Integração com departamentosinstitucionais

O Plano de Desenvolvimento Interno(PDI) da Biblioteca Central da Universidadede Uberaba já prevê a organização da cole-ção do escritor até 2007. Acreditamos que,com iniciativa coordenada que estamos pro-pondo, é possível apresentar já para 2006 acatalogação de um acervo de referência na-cional. A Biblioteca dispõe de uma salaclimatizada no segundo pavimento, onde são

guardados livros raros. A coordenação da Bi-blioteca admitiu a possibilidade de a referi-da documentação ser organizada neste espa-ço – que se constituiria, de fato, na sede ofi-cial do Centro de Documentação MárioPalmério.

Para a instalação do Memorial MárioPalmério em 2006, faz-se necessário um es-tudo complementar para a escolha de um ou-tro espaço físico, pois, nas atuais circunstân-cias, a Biblioteca Central não tem estruturapara abrigá-lo.

4.5 Articulaçãocom ensino e pes-quisa

A coordenaçãodo Centro de Docu-mentação planejaenvolver estudan-tes bolsistas, esti-mular o desenvol-vimento de atividades complementares e in-centivar trabalhos acadêmicos nas discipli-nas regulares de estudantes de História e Co-municação Social para participar da seleção,limpeza e ordenação temática e cronológicados documentos em seus diversos formatos,assim como gravação, transcrição edigitalização dos arquivos.

5 Portal Mário Palmério

Iniciativa inédita que digitalizará e orga-nizará em uma base de dados online o acer-vo histórico do escritor, constituindo um site

oficial de informação multimídia sobre suavida e obra.

5.1 Diagnóstico e justificativaNão há na Internet um site de qualidade

que centralize um conteúdo significativo so-bre a memória e a obra de Mário Palmério.Ferramentas de busca online apontam porvolta de 700 referências ao nome do escri-tor, espalhadas por centenas de sites. Algu-mas iniciativas dispersas e desarticuladas ofe-recem sínteses biográficas e bibliográficas,como os sites da Uniube e da Academia Bra-

sileira de Letras .Existem tambémdiversas institui-ções que homena-geiam o escritor,como a Associa-ção Brasileira deMantenedoras deEnsino Superior

(ABMS), que instituiu o prêmio Top Educa-cional Mário Palmério. Entretanto, os resul-tados das buscas online são parciais, ofere-cem dados incompletos e são sempreinsatisfatórios para uma pesquisa maisabrangente.

Diversos projetos em âmbito nacionaltêm desenvolvido conteúdo de qualidade so-bre os principais escritores brasileiros con-temporâneos. Sites oficiais de Jorge Amado(www.jorgeamado.com.br), Érico Veríssimo(www.unicruz.edu.br/verissimo) e GracilianoRamos (www.graciliano.com.br) são bonsexemplos dessas iniciativas. Percebemos

Não há hoje na Internet um sitede qualidade que centralize umconteúdo significativo sobre amemória e a obra de Mário Palmério

Será necessário pesquisar, identificare inventariar esses documentos, assimcomo digitalizá-los, transcrevê-los earmazená-los digitalmente

Jantar reuniu Getúlio Vargas, presidente do Brasil; Juscelino Kubitschek, o então governador de MG; e o deputado Mário Palmério, entre outros

arquivo Memorial Mário Palmério

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também que esses projetos contribuem for-temente para a popularização da obra dessesautores. Além disso, a instituição de um bomponto de referência na Internet potencializaa credibilidade do escritor, pois uma base dedados bem consolidada favorece os procedi-mentos de pesquisa e dissemina com maisfluência as discussões sobre suas obras.

Por outro lado não se sabe da existênciano Brasil de um portal literário, dedicado aum único autor, que desenvolva uma articu-lação tão profunda e permanente entre o con-teúdo online e as pesquisas de um centro dedocumentação, como propomos neste proje-to. O que vemos, em regra, são sites literári-os limitados, incapazes de fornecer subsídi-os sólidos para pesquisas acadêmicas maisaprofundada.

Há iniciativas exemplares dessa articula-ção em outras áreas do conhecimento. A Fun-dação Oswaldo Cruz, por exemplo,disponibiliza online trechos de áudio e atranscrição de fitas de um acervo preciosode depoimentos orais do projeto Memória daTuberculose. O Museu da Pessoa desenvol-ve na Internet, paralelamente à sua sede físi-ca, um verdadeiro museu virtual de históriasde vida, com importantes registros em áudio,texto e fotografias. O ambiente virtual doCentro de Pesquisa e Documentação em His-tória Contemporânea do Brasil (CPDOC),mantido e desenvolvido pela Fundação Ge-túlio Vargas, é seguramente uma das maisimportantes fontes de documentação de His-tória brasileira do século XX no país.

Neste sentido, a estrutura planejada parao Portal Mário Palmério será pioneira em suaárea, e seguramente servirá de modelo paraoutras iniciativas similares.

5.2 Objetivos gerais5.2.1 Constituir um portal oficial de in-

formação online e multimídia sobre MárioPalmério, organizando na Internet um bancode dados inéditocom textos, docu-mentos, fotos e ar-quivos multimídiasobre o escritor.

5.2.2 Objeti-vos específicos

5.2.2.1 Cata-logar e centralizara informação sobre o escritor já disponívelna Internet;

5.2.2.2 Disseminar, multiplicar e demo-cratizar o acervo do Centro de Documenta-ção Mário Palmério através da digitalizaçãogradual dos documentos;

5.2.2.3 Incentivar o interesse pela obrado escritor, garantindo informação de quali-dade para estudantes, pesquisadores e inte-ressados em geral.

5.3 Metodologia e procedimentosComo ponto de partida o projeto se pro-

põe a coordenar uma equipe para transcrever,digitalizar, armazenar e indexar a documenta-ção em um banco de dados informatizado, emconvergência com o Centro de Documenta-

ção. Será feito também um trabalho de busca,catalogação e centralização de informações ereferências a Mário Palmério já existentes deforma dispersa na Internet. O desenvolvimentodo projeto prevê a estruturação da arquiteturadigital, da programação gráfica e da disposi-ção das informações no Portal, que será ca-dastrado e divulgado em sites especializadose em ferramentas de busca. Este site oficial

será atualizadoperiodicamentecom informes,novos documen-tos e depoimen-tos, seguindo ametodologia pro-posta pelo Museuda Pessoa e peloCentro de Pesqui-

sa e Documentação em História Contemporâ-nea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getú-lio Vargas.

5.4 Integração com departamentosinstitucionais

O Departamento de Informática daUniube já possui infra-estrutura suficientepara abrigar a primeira versão do Portalmultimídia em seus servidores.

O espaço físico da Biblioteca Central,descrito no capítulo anterior, pode abrigar oequipamento básico para iniciar o desenvol-vimento desse programa.

5.5 Articulação com ensino e pesquisaA coordenação das habilitações Jornalis-

mo e Publicidade & Propaganda do curso de

Comunicação Social da Uniube apoiam oProjeto Memorial Mário Palmério e estão dis-postos a incluí-lo nas atividades do curso. Asupervisão da Central de Produção do Cursode Comunicação Social já manifestou o in-teresse em constituir-se no núcleo da articu-lação ensino e pesquisa para as atividades dedesenvolvimento do Portal. A Central tem di-namismo para mobilizar estudantes, já contacom uma es-trutura conso-lidada e, atra-vés da gerên-cia de bolsas-atividade, daprodução aca-dêmica de dis-ciplinas regu-lares e das ati-vidades complemetares, pode contribuir naorganização de alunos, colaboradores e esta-giários na execução dos trabalhos.

6 Biografia oficial

Pesquisa, redação e publicação da biogra-fia de Mário Palmério em 2006 – ano do ani-versário de 10 anos de seu falecimento.

6.1 Diagnóstico e justificativaA importância da vida pública de Mário

Palmério ainda não é correspondida por umaobra de referência à altura de sua biografiapessoal. Os relatos de pessoas que o conhe-ceram esboçam um homem com uma histó-

ria de muita riqueza narrativa e cultural. Seusromances revelam um autor criativo; sua vo-cação política internacionalista sugere aamplidão de sua visão de mundo; sua habili-dade empreendedora no setor de educaçãomostra a inquietude de seu espírito; seu im-pulso aventureiro demonstrado na viagempelo rio Amazonas ainda sequer foi compre-endido pela opinião pública. Em síntese, suavida inteira fornece fértil matéria-prima paraa elaboração de uma biografia que pode ofe-recer relevante contribuição para a culturabrasileira.

Em decorrência natural da catalogação eorganização do acervo; das pesquisas, entre-vistas e depoimentos; dando prosseguimen-to e aprofundando o histórico organizado noPortal; e em paralelo ao desenvolvimento deum trabalho de conclusão do curso de Espe-cialização em História do Brasil na PUC-MG,a Biografia Oficial de Mário Palmério seráredigida simultaneamente ao desenvolvimen-to do projeto e se constituirá em uma obra dereferência histórica sobre o escritor e o seuuniverso cultural.

Obras biográficas são fontes preciosas deinformações e contribuem para elucidar opensamento de homens conectados ao seutempo. Quando tratamos de pessoas com in-tensa vida pública, essas obras costumamtranscender o indivíduo para compreendertoda a mentalidade do contexto cultural noqual esses homens vivenciaram suas experi-ências. A Biografia de Mário Palmério podetornar-se um livro de referência sobre as co-nexões entre Literatura, História, Educaçãoe Política no imaginário da região e do país.

6.2 Objetivo geral6.2.1 Estabelecer no país uma obra de re-

ferência sobre Mário Palmério;

6.2.2 Objetivos específicos6.2.2.1 Redespertar o interesse nacional

por sua vidae obra;

6.2.2.2Despertar ointeresse denovos leito-res;

6.2.2.3Estimular osurgimento

de novas pesquisas sobre sua obra, sobretu-do nas áreas de Literatura; História; Educa-ção e Comunicação Social;

6.2.2.4 Pautar e subsidiar reportagens namídia nacional;

6.2.2.5 Celebrar o aniversário de 10 anosde sua morte;

6.2.2.6 Divulgar e perenizar sua memória.

6.3 Metodologia e procedimentosEm convergência com o Centro de Docu-

mentação, serão feitas pesquisas documentaisem fontes institucionais, públicas e particula-res; além de entrevistas pessoais com a famí-lia, amigos, colegas e contemporâneos em to-das as áreas em que atuou. Esses procedimen-tos serão fundamentados em pesquisa biblio-

Getúlio na Praça Rui Barbosa, em Uberaba. Foto do arquivo de Mário Palmério será restaurada

Biografia será redigida simultaneamenteao desenvolvimento do projeto e seconstituirá em uma obra de referênciasobre o escritor e o seu universo cultural

O desenvolvimento do Portal prevêa estruturação da arquitetura digital,da programação gráfica e dadisposição das informações online

arquivo Memorial Mário Palmério

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gráfica teórica e documental nas áreas de Li-teratura, História do Brasil, Educação e Polí-tica, e estarão incluídos no desenvolvimentodas disciplinas do curso de pós-graduação emHistória do Brasil da PUC-MG. Durante oprocesso de pesquisa e redação, serão publi-cados artigos, ensaios, entrevistas e esboçosde capítulos na imprensa, em revistasespecializadas e em revistas acadêmicas.

Depois da redação final e da revisão, aobra será sub-metida a um pa-recer de conse-lheiros que po-derão sugerirabordagens ouapontar lacunas.Com o texto fi-nal concluído, otexto passará por um processo dediagramação, registro de direitos autorais enegociação com editora para publicação elançamento no Memorial Mário Palmério.Em decorrência da publicação, estão tambémprevistos a redação de artigos, concessão deentrevistas e eventos de promoção do livro.

6.4 Integração com departamentosinstitucionais

Os procedimentos cotidianos de pesqui-sa e redação presumem uma articulação comdiversos departamentos institucionais da Uni-versidade de Uberaba. Os setores que maiscontribuirão são:

6.4.1 Biblioteca Central (espaço físico eserviço de catalogação bibliográfica);

6.4.2 Curso de Comunicação Social(infra-estrutura e equipamentos);

6.4.3 Assessoria de imprensa (acesso aarquivos, contatos com personalidades,clipagem);

6.4.4 Setor de transportes (deslocamen-tos na cidade e na região).

6.5 Articulação com ensino e pesquisaAs atividades de pesquisa e redação da

biografia naturalmente trarão subsídios teó-ricos para a realização de palestras sobre aobra de Mário Palmério, assim como para aparticipação em seminários e congressos deHistória, Comunicação Social e História naUniversidade de Uberaba e em outras insti-tuições de ensino na região e em todo o país.

7 Memorial Mário Palmério

Consolidação do projeto, instituição deum espaço museográfico permanente e de umcentro cultural para a exibição de mostras dearte, desenvolvimento de seminários e pro-jetos literários de expressão nacional.

7.1 Diagnóstico e justificativaPessoas cujas vidas e obras influenciaram,

inspiraram ou mesmo revolucionaram o pensa-mento de sua época merecem que sua memóriaseja reverenciada, para que seu legado perma-neça fertilizando a cultura dos descendentes deseus contemporâneos. E uma das maneiras maistradicionais e eficazes para celebrar essa me-mória é a instituição de um memorial.

Memoriais são espaços físicos de cará-ter afetivo, museográfico e arquivístico, epodem prestar homenagens a pessoas indi-viduais, a grupos humanos ou mesmo a con-juntos de países unidos por culturas em co-mum. O Memorial Cardeal Dom LucasMoreira Neves, em São João del Rei, porexemplo, tornou-se um espaço religioso, fi-losófico e cultural que homenageia e pere-niza a atuação pública deste religioso. O Me-

morial do Imi-grante, em SãoPaulo, celebraa memória detodos esses ho-mens e mulhe-res que, comseu trabalho,transformaram

São Paulo e o Brasil. O Memorial da Amé-rica Latina , idealizado por Darcy Ribeiro eprojetado por Oscar Niemeyer, direciona es-forços para promover maior integração docontinente.

Como se vê, além de prestar homenagem,os memoriais se colocam como instituiçõesresponsáveis pela difusão e discussão do le-gado de seus homenageados. Tornam-se cen-tros de referência documental e contribueminstitucionalmente para o desenvolvimentodas pesquisas historiográficas e da cultura emgeral.

Assim, o Memorial Mário Palmério secoloca como a culminância deste programade revitalização da memória do escritor, con-solidando o projeto até aqui apresentado, cen-tralizando a coordenação geral dos progra-mas e estabelecendo um espaço permanentepara salvaguardar sua história.

7.2 Objetivos7.2.1 Centralizar a coordenação geral dos

programas emarcar nacio-nalmente aculminânc iado projeto, es-tabe lecendouma institui-ção de referên-cia sobre avida e obra de Mário Palmério, assim comosobre a cultura da região.

7.2.2. Objetivos específicos7.2.2.1 Instalar um espaço afetivo,

museográfico e arquivístico permamente paracelebrar a memória de Mário Palmério;

7.2.2.2 Estabelecer e fortalecer vínculosentre instituições que pesquisam ou home-nageiam sua obra;

7.2.2.3 Contribuir no desenvolvimentocultural de Uberaba, da região, de Minas Ge-rais e do país, através da promoção de:

a) seminários, conferências e palestrascom escritores e intelectuais de renome na-cional;

b) mostras de pintores, artistas plásticos,fotógrafos, etc;

c) edição e reedição de obras de autoresuberabenses ou radicados na cidade;

d) concursos literários de expressão na-cional.

7.3 Meto-dologia e pro-cedimentos

O Memo-rial Mário Pal-mério é a cul-minância detodo o projeto,e sua inaugura-

ção está planejada para 2006. A estrutura pre-vê um espaço que reproduza simbolicamen-te seu ambiente de trabalho (móveis, quadros,e objetos pessoais), englobará o Centro deDocumentação & Informação, a infra-estru-tura do Portal, sediará o lançamento nacio-nal da biografia. A intenção é que esse espa-ço venha consolidar-se como um permanen-te espaço afetivo, museográfico earquivístico, promovendo não somente a obrade Mário Palmério, mas os artistas e autoresde Uberaba e região.

Por isso, a constituição do Memorial Má-rio Palmério será a consequência natural dedois anos de pesquisa e trabalho. Portanto,sua estruturação está englobada já nos trêsprogramas anteriores. No entanto, sua insta-lação em 2006 necessitará de um estudo com-plementar, pois vai depender apenas do esta-belecimento do espaço físico disponível paracentralizar as operações.

7.4 Integração com departamentosinstitucionais

Como o Memorial perpassará todos osprogramas anteriores, estará ligado a todosos departamentos descritos nos ítens antece-dentes. São eles: Assessoria de Imprensa, Bi-blioteca Central, Curso de Comunicação So-cial, Núcleo de Informática e Setor de Trans-porte.

A Fundação Cecília Palmério conta comum espaço físico que pode ser consideradonos futuros estudos sobre a instalação doMemorial.

7.5 Articulação com ensino e pesquisaA instalação do espaço museográfico do

Memorial Mário Palmério pode contar coma participação de um grupo transdisciplinarde estudantes e professores dos cursos de Ar-quitetura, Design de Interiores, História eComunicação Social.

O desenvolvimento das atividades doMemorial deve contar com uma coordena-ção permanente, que contará com o apoiorotativo e sistemático de estudantes de His-tória, Letras e Comunicação Social, atravésde estágios, atividades complementares, bol-sas-atividade e trabalhos desenvolvidos emdisciplinas regulares.

Memorial será um espaço museográfico,arquivístico e afetivo, promovendo nãosomente a obra de Palmério, mas dosartistas e autores de Uberaba e região

Obras biográficas são fontespreciosas de informações econtribuem para elucidar o pensamentode homens conectados ao seu tempo

(...)Mário Pamério dirigiu a Universidade de Uberaba até 1996

arquivo Memorial Mário Palmério

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Carteira deDeputado Federal, 1959

Santinho da campanha de1950, com Getúlio Vargas

Carteirinha de entrada para oCine-Alhambra, 1929

Carteirinha deestagiário na EscolaSuperior de Guerra,

1955

Carteira de livre ingresso naAssembléia do Estado de SP, 1975

Carteirinha da SociedadeGeográfica Brasileira, 1972

Ficha da Diretoria doServiço de Trânsito, 1967

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