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Revista 2

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Revista Primeiro Plano nº2

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A CAIXA comemora uma chuva de bons resultados: R$ 6 bilhões investidos em tratamento

de água e esgoto nos últimos três anos, que levaram saúde e qualidade de vida para

7 milhões de famílias em 4.200 municípios de todo o Brasil e também contribuíram

para a preservação do meio ambiente. A tudo isso, brindemos. Com água, claro.

Água é muito importante. Tanto que,na CAIXA, é sempre muito bem tratada.

www.caixa.gov.br

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SUMÁRIO

1208 | POR EXEMPLOLixo reciclado em troca de tarifa zero | Bonolança campanha para vítimas da Aids na África| Energia de resíduos animais | Por uma vidamais devagar | Segurança nuclear | ONU divul-ga histórias que o mundo deveria conhecer

22 | OPINIÃOMarcio Pochmann analisa o aumento do em-prego industrial no país

24 | MUNDO DO TRABALHOO poder das greves | Trabalho infantil cai 11% |Menos empregos para negros e mulheres | LaísAbramo, da OIT, discute igualdade de raça egênero nas empresas

28 | MESA DE TRABALHOAs particularidades do ambiente profissionalde uma juíza, um mecânico, um agente de turis-mo e um sapateiro

34 | RESPONSABILIDADESOCIAL

Princípios do consumidor consciente | Compor-tamento das empresas-cidadãs dos EUA noBrasil | Ricardo Young, do Ethos, apresenta astrês dimensões da RSE

42 | ENSAIO FOTOGRÁFICOProfissões perigosas

48 | INCLUIRTecnologias Sociais para o Semi-Árido | Hidro-ponia multiplica renda de comunidade

58 | AMBIENTEBrasil lidera reciclagem de latas de alumínio |Maiores poluidoras do ar nos EUA e os premia-dos pela proteção ao clima | Etiqueta que infor-ma emissão de gases equipa carros franceses

60 | AGENDA GLOBALObjetivos do Milênio patinam em Educação eSaúde | Paraná enfoca redução da mortalidadepaterna | Banco de dados aperfeiçoa gestãopública na Paraíba

62 | SOLUÇÕESSistema de captação de água de chuva | Madeiraecológica | Software que auxilia no planejamentourbano | Papel higiênico com 60 metros

64 | MONITORProjetos brasileiros de créditos de carbono sãomaioria na ONU | Aterro gera maior contratomundial | Lucros para a pecuária

ZONA DE IMPACTOEnquanto se discute a contrapartida social das empresas

instaladas na Zona Franca de Manaus em relação às

isenções recebidas, Amazônia experimenta novas

alternativas de desenvolvimento com a Zona Verde

PERSPECTIVA AFRICANAEm vez de adotar modelos de paises ricos, nações em

desenvolvimento devem determinar prioridades

considerando o contexto cultural de sua sociedade

ISO 26000Norma da responsabilidade social começa a ganhar

contornos definitivos depois de encontro de

representantes de 64 países realizado em Lisboa

CONSTRUÇÕES VERDESCarência de recursos energéticos e naturais estimula o

surgimento de casas, prédios a até escritórios planejados

de acordo com princípios de sustentabilidade

GUINADAS ESTRATÉGICASCorporações adotam novas práticas em seus processos

de produção e marketing para continuarem competitivas

e atenderem às expectativas dos stakeholders

30

32

38

52

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4

EXPEDIENTEDiretor:Diretor:Diretor:Diretor:Diretor: Odilon Luís FaccioEdição:Edição:Edição:Edição:Edição: Dauro Veras Emerson GasperinRedação:Redação:Redação:Redação:Redação: Sara CaprarioEdição de Arte:Edição de Arte:Edição de Arte:Edição de Arte:Edição de Arte: Maria José H. Coelho Sandra WerleArte:Arte:Arte:Arte:Arte: Frank Maia Zé DassilvaFotografia:Fotografia:Fotografia:Fotografia:Fotografia: Diógenes Botelho Fábio Veiga Marcio Furtado Renato Reis Sérgio VignesColaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:

Diógenes Botelho, Laís Abramo,Márcio Pochmann, Michelle Lopes,Pieter Sijbrandij, Rosi Rico, RonaldoBaltar, Ricardo Young

Impressão:Impressão:Impressão:Impressão:Impressão: Gráfica PallottiTiragem:Tiragem:Tiragem:Tiragem:Tiragem: 10 mil exemplares

Rua Visconde de Ouro Preto, 308Térreo - Centro – Florianópolis (SC)88020-040Tel: + 55 (48) 3025-3949www.primeiroplano.org.brE-mail: [email protected]

Parceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisBanco do Estadode Santa Catarina (BESC)DepartamentoIntersindical de Estatísticas e EstudosSocioeconômicos (Dieese)Eletrosul Centrais Elétricas S.A.Fundação Vale do Rio Doce (FVRD)Instituto Observatório SocialInstituto Ethos de Empresas eResponsabilidade SocialRede de Tecnologia Social (RTS)

Os artigos e reportagens assinados não representam,necessariamente, o pontode vista das organizações parceiras e da revista PrimeiroPlano. A divulgação do material publicado é permitida(e incentivada), desde que citada a fonte.

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APRESENTAÇÃO5

m dos principais dilemas que desafiama humanidade é como conciliar desen-volvimento econômico com a preser-vação da natureza e a justiça social.Ninguém mais tolera tanta degradação

e exclusão de milhões de pessoas. Por isso, fomosconhecer e avaliar o desenvolvimento da Amazônia,em especial da Zona Franca de Manaus. São infor-mações substantivas que permitirão aos leitores, aosgestores públicos, as empresas e aos movimentos so-ciais obter subsídios para corrigir os erros e consoli-dar os pontos positivos. Na reportagem olhamos a “flo-resta” e as “árvores”, ou seja, o modelo de zona fran-ca e seus impactos na região - e, principalmente, asrelações econômicas e sociais das pessoas que estãoincluídas ou excluídas.

Chama a atenção que, das 450 empresas instala-das na Zona Franca, apenas 15 publicam os balançossociais. Um sinal de que há muito a ser feito.

Ao mesmo tempo, aprofundamos a abordagem so-bre o papel das empresas no desenvolvimento susten-tável, por meio de múltiplas estratégias de responsa-bilidade social. Estratégias estas que devem, além dosaspectos culturais, considerar a realidade econômicae social de cada país. Outra questão importante é adefinição da ISO 26000, que poderá se transformarem uma agenda global indutora de novas e melhorespráticas socialmente responsáveis, tanto para as em-presas como para as demais organizações.

Embora o modelo de produção e de consumo pre-dominante seja insustentável, há inúmeras iniciativasque buscam outro padrão. É o caso das construçõesverdes, que vêm se tornando alternativas cada vezmais viáveis. Outro exemplo são as tecnologias soci-ais: processos, produtos e metodologias com forte ca-racterísticas socioambientais, aplicáveis nas diferen-tes realidades desse imenso Brasil.

Por fim, mas não menos importante, aprofunda-mos questões relativas ao trabalho decente, à impor-tância do emprego e às múltiplas dimensões da ges-tão socialmente responsável. No mesmo sentido, apartir de um estudo do Dieese verifica-se a importân-cia de melhorar a qualidade das relações das empre-sas com o público interno, especialmente com os sin-dicatos.

Temos convicção que os leitores têm em mãos in-formações de qualidade para melhor opinar e agir porum mundo mais justo e sustentável.

U

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6

por exemplo O planeta em movimento

é o novo número dodisque-denúncianacional de comba-te ao abuso à ex-ploração sexualcontra crianças eadolescentes.

Quem reciclanão paga imposto

No início do ano a Prefeitura deItajaí, em Santa Catarina, implantou umprograma de reciclagem de lixo – Tari-fa Zero – que foi recebido com entusi-asmo pela população. Dos 41 mil con-tribuintes da cidade, 90% aderiram àiniciativa. No aterro sanitário está sen-do despejado apenas o lixo orgânico,enquanto todos os materiais sólidos(papel, vidro, metal e plástico) são le-vados para uma usina de triagem e re-ciclagem que encaminha o que podeser aproveitado para usinas de bene-ficiamento. As associações de catado-res do município também recebem osmateriais recolhidos, transformando emprodutos ou repassando o lixo paraempresas que poderão reaproveitar asmatérias-primas, como o alumínio.

O morador que assinar o termo deadesão assume o compromisso de par-ticipar da coleta seletiva e recebe aisenção da tarifa do lixo.

Desde a implantação do programa,em 2005, foi possível a redução de 500toneladas por mês de lixo depositadono aterro sanitário, sendo 150 tonela-das coletadas pela empresa e 350 to-neladas pelos catadores de rua. A co-leta seletiva também gerou 50 empre-

Itajaí implanta coletaseletiva em trocada tarifa zero

NÚMEROS NO BRASIL

R$ 7 bilhõesfoi o quanto movimentou toda a cadeiade reciclagem de lixo no ano passado

140 miltoneladas é o volume diário de lixourbano produzido

500 milé o número de catadores de materialreciclável

21,1%do lixo urbano coletado por dia era lançadonos lixões em 2000, segundo dado maisrecente do IBGE. Em 1990, 90% dosdetritos eram levados para esses aterros

gos diretos na empresa recicladora deresíduos domiciliares.

O cidadão ou a empresa que optarpela reciclagem deve preencher o ter-mo de adesão nos locais divulgadospela Prefeitura. O material reciclável érecolhido duas vezes por semana. Nocaso das empresas, o lixo industrialdeve ter destino específico.

Para garantir o funcionamento doprojeto, a fiscalização é feita de sur-presa e por amostragem, por meio deestagiários que checam o lixo orgâni-co. Caso haja lixo reciclável mistura-do, o morador é notificado - se for rein-cidente, terá a isenção suspensa. Parafacilitar o trabalho da comunidade nãohá necessidade de separar os diferen-tes resíduos sólidos. O secretário deobras da cidade, Manoel Jesus da Con-ceição, destaca que a coleta seletiva tam-bém vai ampliar a vida útil do aterro sa-nitário e, conseqüentemente, diminuir oinvestimento financeiro da prefeituracom o serviço. Em Itajaí são coletadasem média 140 toneladas de lixo por dia.

CRIANÇASASSISTIDASA Associação

Brasileira de Proble-mas de Aprendiza-gem (Abrapa) estádesenvolvendo umprojeto para ajudaras crianças que so-freram violência do-méstica a recriar la-ços com a socieda-de de forma menosdolorosa e prevenirdanos irreversíveis,além de resgatar suainfância. Duzentosmeninos e meninasno Rio de Janeirosão beneficiadospela iniciativa. O pro-grama chamou aatenção da ONU, queo incorporou. Agorao trabalho alcançatambém as criançasdeficientes visuais eauditivas. Com isso,o projeto da Abrapatornou-se pioneirona América Latina eé o primeiro dentroda ONU a ter crian-ças deficientescomo público-alvo.

www.abrapabr.org.br.

100

Lixo reciclado gera empregos

DIV

ULG

AÇÃO

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7

s londrinos quec o m p r a r a mum exemplardo Indepen-

dent em 16 de maio tiveram umasurpresa. Naquele dia, o jornalfoi editado pelo popstar irlandêsBono, do grupo U2. A capa, todaimpressa em vermelho, estampavaa manchete “Sem notícias hoje”. Norodapé, a informação: “Só que 6.500africanos morreram hoje como resul-tado de uma doença que pode serprevenida e tratada”. Metade da ren-da obtida com a renda da publicaçãodestinava-se ao projeto Red, iniciati-va do artista para combater a aids naÁfrica. A maioria das reportagens fo-cou o continente e trouxeentrevistas com perso-nalidades como o pri-meiro-ministro britânicoTony Blair, o presidentevenezuelano Hugo Chá-vez e a secretária de Es-

A Itaipu Binacional e a FundaçãoParque Tecnológico Itaipu (PTI) assi-naram convênio com a Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária (Em-brapa) para implantação de um projetode geração de energia proveniente daavicultura e da suinocultura na regiãoda Bacia do Paraná, no Oestedo Estado. Produtores ru-rais de 29 municípiosda região possuemum rebanho de 1,2milhão de suínose 15 milhões deaves, cujos de-jetos são lança-dos em córre-gos e riachosque deságuamdiretamente no

Resíduos de animais viram energiaágua, geladeira, fogão e outros utensí-lios domésticos. O biogás também po-derá substituir o gás liquefeito de pe-tróleo na cozinha. A produção exce-dente poderá ser adquirida pela Com-panhia Paranaense de Energia Elétrica(Copel).

Com o tratamento dos resíduos degalinhas e porcos, a Itaipu espera di-minuir os níveis de poluição da águado seu reservatório. O projeto enqua-dra-se no Plano Nacional de Agroener-gia, desenvolvido em conjunto pelosministérios da Agricultura, Minas eEnergia, Ciência e Tecnologia e do De-senvolvimento, Indústria e ComércioExterior. O plano, para ser aplicado de2006 a 2011, prevê a geração de ener-gia a partir de resíduos florestais, bio-gás, biodiesel e etanol.

reservatório de Itaipu. A suinoculturasozinha tem potencial de gerar 36 me-gawatts, o equivalente à produção deuma pequena central hidrelétrica.

Com o uso de biodigestores paratratamento, os dejetos de aves e suí-nos vão se transformar em biogás – uma

mistura de gás metano com gáscarbônico e outros gases

em menor quantidade –e em biofertilizante

para as lavouras. Aenergia geradaserá utilizada paraatender as pro-priedades ru-rais, no funcio-namento de mo-

tores elétricos,aquecedores de

Basta acreditar

www.joinred.com

tado norte-america-na, CondoleezzaRice. No editorial“Um desafio para osr. Lula”, o cantor ci-tou o Brasil como integrante dogrupo de países em desenvol-vimento que estão fadados a

“herdar a Terra”. “Até 2050, esse gru-po (que conta ainda com Rússia, Ín-dia e China) vai ter 40% da popula-ção mundial e deve ser a economiadominante do mundo", afirmou.“"Dos quatro, o Brasil é freqüente-mente visto como o mais pro-missor". A edição especial dojornal foi o pontapé inicial deuma campanha que envolve

também empre-sas como Moto-rola, Gap, American Ex-press, All Star e Armani.Elas lançaram produtosem vermelho especial-mente para a causa.

O

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8

A cultura da veloci-dade, turbinada por

celulares e e-mails,mantém o mundo àbeira de um ataquede nervos. Comocontraponto, vemganhando corpo asi lenciosa revolu-

ção “Devagar”, movi-mento mundial que

propõe a desaceleraçãodo r i tmo e uma relação

mais inteligente com o tempo.Fundada em 1986 na Itá-

lia por Carlo Petrini, a asso-ciação Slow Food é a pontade lança do movimento aopromover a educação do gos-to, a biodiversidade e a eco-gastronomia. Seus 80 milsócios em 104 países se re-únem em 800 Convivia, luga-

O programa Mobilização Brasil éuma série inédita da televisão brasilei-ra que mostra iniciativas, tecnologiase soluções sociais para promover edu-cação, renda, trabalho e melhores con-dições de vida nas comunidades. Aidéia é divulgar o conceito de tecnolo-gia social: soluções simples e efetivasque, desenvolvidas em conjunto coma comunidade, podem ser reaplicadasem escala e transformar a vida das pes-soas. Realizado em parceria entre a TVEe a Fundação Banco do Brasil, o pro-

Devagar e sempre

Mobilização Brasil

www.slowfood.com

www.fbb.org.br

res para celebração da dife-rença de sabores, onde ali-mentos saudáveis são de-gustados com ética e prazer.

O jornalista canadenseCarl Honoré, em seu livro De-vagar (Record, 2005), resga-ta o conflito humano com otempo desde a Revolução In-dustrial e aborda algumas ver-tentes da iniciativa Slow Food:a criação da Universidade deCiências Gastronômicas –única do gênero no mundo –,a prática do sexo tântrico, ouso da medicina alternativa enovas tendências do urbanis-mo. Para o autor, o movimen-to pode ser resumido numapalavra: equilíbrio.

grama é transmitido aos sábados, às8h da manhã, em emissoras educati-vas afiliadas à Associação Brasileirade Emissoras Educativas e Culturais(Abepec). Também participam da trans-missão a STV, emissora do Sesc/Senacde São Paulo, e a TV Brasil, canal bra-sileiro transmitido para toda a AméricaLatina. A série está disponível no siteda Fundação Banco do Brasil.

na TV

A Fundação Vale do RioDoce, o Canal Futura e a Or-ganização Internacional doTrabalho lançaram no dia 6 dejunho a série de programasde TV Que trabalho é esse?,sobre trabalho escravo noBrasil. Teatro de bonecos sealterna com depoimentos eentrevistas de especialistaspara apresentar aos especta-dores as informações bási-cas sobre o tema. Os progra-mas serão exibidos no Futu-ra e no Teletrem, programa-ção que vai ao ar nos trens depassageiros da CompanhiaVale do Rio Doce.

Que trabalhoé esse?

por exemplo

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9

Depois do episódio do Césio 137,em Goiânia em 1987, e outros peque-nos acidentes, volta à tona a preocu-pação com os dados do relatório doGrupo de Trabalho de Fiscalização eSegurança Nuclear da Comissão deMeio Ambiente da Câmara dos De-putados. Entre as preocupações dosdeputados estão o não obedecimen-to de convenções internacionais so-bre o tema e a omissão no atendimen-to às vítimas de contaminação da Nu-clemon (Usina de Santo Amaro – SP,que encerrou as atividades em 1992).

O relatório aprovado inclui umaproposta de Projeto de Lei que criaum órgão independente de fiscaliza-ção do programa nuclear brasileiro,além da já existente Comissão Nacio-nal de Energia Nuclear (Cnen). O mes-mo projeto prevê uma revisão dos pla-nos de emergência das usinas de An-

Novas regras paraa segurança nuclear

PRINCIPAIS PROPOSTAS

• Criação de um órgão regulador autônomo e independente naárea de salvaguardas, radioproteção e segurança nuclear• Criação de um arcabouço legal para a atividade nuclear, com acriação de um Sistema Federal de Fiscalização• Permitir ao público acesso facilitado aos dados e informações

na área da radioproteção e segurança nuclear• Criação de uma legislação que obrigue ocadastramento de todas as fontes radioativasusadas, manipuladas ou operadas por pessoasfísicas ou jurídicas• Regulamentação da Convenção 115 daOrganização Internacional do Trabalho (OIT) quedisponha sobre a proteção dos trabalhadoresexpostos às radiações.

Dez históriasO Departamento de Informação

Pública das Nações Unidas divul-gou a lista das dez histórias sobreas quais o mundo deveria conhe-cer melhor em 2006. Assim espe-ra chamar a atenção da mídia paraque temas importantes não caiamno esquecimento:

1. Libéria - A agenda de desafi-os ao desenvolvimento depoisde anos de guerra civil.

2. Migração - A instituição doasilo diante da crescente ondade migrantes econômicos.

3. Congo - Questões humani-tárias na transição da guerrapara a paz.

4. Nepal - Crianças são vítimasfreqüentes da violência que afe-ta o país.

5. Somália - Insegurança e de-safios humanitários em meio àpior seca da década.

6. Refugiados - Milhões de pes-soas exiladas permanecem nolimbo há anos.

7. Pós-terremoto - O desafio derestaurar meios de vida as de-sabrigados no sul da Ásia.

8. Crianças presas - Um nú-mero alarmante delas está nascadeias sem motivo.

9. Água da amizade - Soluçõescolaborativas nas bacias hidro-gráficas de fronteiras.

10. Costa do Marfim - O riscode retrocesso violento na con-solidação democrática.

www.un.org/events/tenstories

gra I e II, o estabelecimento de normasde segurança para o manuseio de ma-terial radioativo e apenas mais rigoro-sas para crimes na área.

O Grupo de Trabalho foi consti-tuído pelos deputados Edson Duar-te, da Bahia, relator do projeto, PauloBaltazar e Fernando Gabeira, do Riode Janeiro, Luciano Zica, de São Pau-lo, e José Sarney Filho, do Maranhão.Durante os trabalhos, os deputadosestiveram nas cidades de São Paulo,Campinas (SP), Rio de Janeiro (RJ),Angra dos Reis (RJ), Goiânia, Brasí-lia, Salvador e Ciatité (BA), onde con-versaram com governos locais, pes-quisadores e ambientalistas para le-vantamento de dados. Eles tambémvisitaram minas de urânio, instala-ções das Indústrias Nucleares Brasi-leiras, usinas atômicas e unidades demedicina nuclear.

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101010

Empresas precisam estarpor dentro das preocupa-

ções e expectativas das so-ciedades onde atuam. Conhe-

cer e avaliar os anseios da cli-entela ajuda a evitar crises e a de-

senvolver novas oportunidades de negócios. Agestão de riscos e oportunidades não é fácil, mas é estraté-

gica para se competir em um mercado cada vez mais exigente. Aspec-tos sociais e ambientais cresceram em importância, com consumido-res cada vez mais informados sobre o que estão comprando.Faz tempo que temas como trabalho infantil, condições de trabalho nasfábricas de manufatura, poluição e luta contra o tabagismo entraram namira da sociedade e, conseqüentemente, das empresas. A pauta ex-pandiu-se para questões que envolvem o aquecimento global, a diver-sidade étnica, a obesidade e a biodiversidade.Estudos científicos, crises empresariais e campanhas de sindicatos eongs identificam novos anseios, novas posições. A mídia amplifica ocoro para chegar ao grande público. Atentas ou pressionadas, pouco apouco as empresas modificam suas operações. Procedimentos atéentão inéditos são padronizados e se tornam certificáveis. Podem serlegislados ou até se converter em barreiras técnicas para exportação.

HOJE,AMANHÃ EDEPOIS

O uso de etiquetas inteligentes vai afetar a privacidade ao fornecer todo tipode informação pessoal às empresas? Clínicas de fertilidade oferecerão servi-ços de escolha de sexo, cor dos olhos e pele do embrião, mexendo com religiãoe ciência? Laboratórios farmacêuticos serão confrontados por lançar medica-mentos que proporcionam a sensação de felicidade, auxiliam a memória e au-mentam a concentração? Tudo não passa de paranóia? A palavra é sua.

E NO FUTURO?

ENVIE SUA OPINIÃO PENVIE SUA OPINIÃO PENVIE SUA OPINIÃO PENVIE SUA OPINIÃO PENVIE SUA OPINIÃO [email protected]@[email protected]@[email protected] OU ACESSE OU ACESSE OU ACESSE OU ACESSE OU ACESSEWWWWWWWWWWWWWWW.PRIMEIROPLANO.ORG.BR.PRIMEIROPLANO.ORG.BR.PRIMEIROPLANO.ORG.BR.PRIMEIROPLANO.ORG.BR.PRIMEIROPLANO.ORG.BR

por exemplo

Campanhasindical de

1999 contra ouso de

trabalhoforçado por

empresas dosetor

vestuário

Revista Timede abril desse

ano descobre oaquecimento

global

“Sangue porpetróleo”marcou o

tom dosprotestos na

virada doséculo

Diversificaçãoda matriz

energéticaestimula

debatepermanente

PrimeiroPlano quer saber quaistemas de responsabilidade socioambiental você acha que vão di-tar a agenda das empresas nospróximos anos. Condições que

afetarão o seu dia-a-dia, provo-carão debates e campanhas,

ocuparão espaço nos meiosde comunicação e impac-

tarão nas empresas.

Page 11: Revista 2

1111

Page 12: Revista 2

12ZONAdeIM

12

Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. Postos de trabalho: 100 mil. Faturamento: US$ 18,9 bilhões. Principais produtos:

A Zona Franca de Manaus foi instalada em 1967 pelogoverno militar, que tinha como principais objetivos ocupara região Amazônica e promover a interiorização dodesenvolvimento industrial no país por meio de umapolítica de incentivo fical capaz de atrair empresas.Também pretendia dotar a região de infra-estrutura eincluir o Brasil no mercado capitalista global com a atraçãode investimentos estrangeiros.D

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das exportações: Argentina e Venezuela.

Diógenes Botelho

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1313

ribeirinho ArnoldoMatos de Paiva, umcaboclo amazônida de27 anos, reveza-sediariamente entreconstruir sua casaflutuante na reservade desenvolvimento

sustentável do Lago do Piranha, em Ma-nacapuru, e alimentar seus 200 pirarucuscriados em tanques-rede no quintal de suacasa, um paraná (braço de rio) formado pe-las águas do rio Solimões. Vivendo com sa-lário de R$ 350 para atuar como fiscal dareserva, ele participa de um programa-pilo-to do governo estadual, em parceria com aUniversidade Estadual do Amazonas(UEA), que pretende desenvolver a pisci-cultura na região. Arnoldo não tem noçãode quanto representa US$ 18,9 bilhões, o fa-turamento de 2005 das mais de 450 indústriasinstaladas na Zona Franca de Manaus (ZFM).“Ixe, é muito dinheiro. Bem que um pouqui-nho disso podia vir pra cá”, diz.

Contribuir de forma mais efetiva para amelhoria de vida da sociedade da região éhoje um dos principais desafios do modeloda ZFM. De 1967, quando foi instalado,para cá, o pólo industrial centrou seus es-forços em crescimento econômico, implan-tação de infra-estrutura, logística para es-coar a produção e atração de empresas. Osinvestimentos em biotecnologia, pesquisae interiorização do desenvolvimento, deforma sustentável, fazem parte de visão re-cente na região, que começou a ganhar for-ça na década de 1990.

Esse movimento é necessário, pois asindústrias não trouxeram apenas o desen-volvimento. Provocaram um inchaço da ca-pital, hoje com mais de 2 milhões de habi-tantes que convivem com invasão desor-denada do solo, favelas, saúde e educaçãodeficientes e, no caso do Amazonas, umproblema grave para uma cidade cercadapela maior reserva de água doce do mun-do: a falta de saneamento básico. Segundoa Pesquisa Nacional por Amostra de Domi-cílios (PNAD) de 2004, somente 4% das re-sidências do Amazonas são atendidas porrede coletora de esgoto. A maioria (55,12%)utiliza fossas sépticas, o que significa quemais de 40% das residências não possuem

AMAZÔNIA VIVE O DESAFIO DEAMAZÔNIA VIVE O DESAFIO DEAMAZÔNIA VIVE O DESAFIO DEAMAZÔNIA VIVE O DESAFIO DEAMAZÔNIA VIVE O DESAFIO DEUNIR CRESCIMENTO ECONÔMICOUNIR CRESCIMENTO ECONÔMICOUNIR CRESCIMENTO ECONÔMICOUNIR CRESCIMENTO ECONÔMICOUNIR CRESCIMENTO ECONÔMICOE PRODUÇÃO INDUSTRIAL COME PRODUÇÃO INDUSTRIAL COME PRODUÇÃO INDUSTRIAL COME PRODUÇÃO INDUSTRIAL COME PRODUÇÃO INDUSTRIAL COMDESENVOLDESENVOLDESENVOLDESENVOLDESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELVIMENTO SUSTENTÁVELVIMENTO SUSTENTÁVELVIMENTO SUSTENTÁVELVIMENTO SUSTENTÁVELE RESPONSABILIDADE SOCIALE RESPONSABILIDADE SOCIALE RESPONSABILIDADE SOCIALE RESPONSABILIDADE SOCIALE RESPONSABILIDADE SOCIAL

O

PACTO

televisores, telefones celulares, aparelhos de som, motocicletas,

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. Tributos: R$

5,9

bilhões em 2005. Exportações: US$ 2,1 bilhões. Principais destinos

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14

DIV

ULG

AÇÃO

ZONAdeIMPACTOZONAdeIMPACTO

qualquer tratamento de esgoto. Pres-tes a completar 40 anos, o modelo daZFM está sendo repensado por em-presários, governo, políticos e socie-dade. Longe de produzir um consen-so, a discussão representa o início deum novo pensar sobre o desenvolvi-mento da Amazônia.

Um dos exemplos nessa área é oprojeto Zona Franca Verde, lançadopelo governo do Estado em 2003 e quecentra seu foco na interiorização do de-senvolvimento. A essência do modelofoi discutida na Conferência Rio 92,patrocinada pela Organização das Na-ções Unidas. “O que fizemos foi apro-veitar lições de governos, como doAmapá e do Acre, e algumas iniciati-vas-piloto de ongs e organismos in-ternacionais e transformar isso numapolítica pública”, resume o secretáriodo Meio Ambiente e Desenvolvimen-to Sustentável do Amazonas, VirgílioViana. No passado, essa interiorizaçãojá havia sido tentada por projetos vol-tados para a agricultura e agropecuá-ria, mas o impacto ambiental era de-vastador e o retorno econômico e so-cial, ínfimo.

Nesses três anos, o projeto ZonaFranca Verde já mostra alguns resulta-dos práticos. O manejo florestal e o tra-balho de conscientização com a popu-lação ribeirinha, por exemplo, provo-caram a diminuição nas derrubadas dafloresta. Segundo dados do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), entre agosto de 2004 e agostode 2005 houve redução de 38% na taxade desmatamento. Desde 2003, essaqueda já chega a 52%. Além disso, oAmazonas aumentou em 150% o nú-mero de unidades de conservação, quehoje somam 15 milhões de hectares –três vezes o tamanho da Espanha. “Econseguimos isso sem prejudicar aeconomia do Estado, que vem crescen-do de 12% a 14% ao ano, mais que aChina”, completa o secretário.

Esse resultado poderia ganhar umgrande impulso se a agenda que o go-verno estadual já mantém com as em-presas instaladas no Pólo Industrial de

Manaus fosse mais dinâmica. “As em-presas de celulares, televisores e ou-tras poderiam se beneficiar muito cominvestimentos na implementação deunidades de conservação, por exem-plo. Nós ainda não conseguimos sen-sibilizá-las”, diz Viana.

SELO VERDEAlguns já começaram a ver nesse

tipo de iniciativa não só o marketing,mas também o lucro. É o caso do em-presário Eugênio Staub, da Gradiente,que no final de maio anunciou um in-vestimento de R$ 30 milhões na insta-lação de uma indústria, em Manaus,que vai manufaturar madeiras certifi-cadas, exploradas de acordo com nor-mas nacionais e internacionais. A de-manda por esse tipo de produto, comstatus de material retirado da floresta

de forma sustentável, é cada vez mai-or, principalmente na Europa. Staub vaientrar na cadeia produtiva que come-çou a se formar no projeto Zona Fran-ca Verde. Poderá comprar o produtobruto de cooperativas e produtores jácadastrados pelo governo estadual.

Além do desenvolvimento susten-tável, o Zona Franca Verde tem um cu-nho educacional. O principal objetivoé conscientizar a população da flores-ta de que o meio ambiente precisa serpreservado, porque é sua principal fon-te de riqueza, renda e subsistência. Go-vernos passados chegaram até a darmotosserra para os ribeirinhos, numapolítica de que “mato é ruim e tem deser derrubado” para dar lugar à lavou-ra e à pecuária. “A floresta vale maisem pé que no chão. Vamos aproveitara andiroba, o cipó, a madeira, os nos-sos recursos naturais”, acredita Viana.“Não temos uma visão puramente am-biental de só multar e prender quemdegrada o meio ambiente”, diz.

O secretário lista como medidasnesse sentido o incentivo à exploraçãosustentável e a isenção de ICMS a to-dos os produtos florestais não-madei-reiros. “Antes, a política fiscal excluíade qualquer benefício tudo o que eraretirado da floresta. Quem fabricava te-lefones celulares e televisores pagavamenos impostos do que quem produ-zia peixe e óleos”, compara. Aos críti-cos, que alertam para o risco de inter-nacionalização da Amazônia e para o“saque” da riqueza biológica local, Vi-ana tem uma resposta pronta: “Oproblema não é o gringo perceber asoportunidades que temos aqui. O pro-blema é nós, brasileiros, não perceber-

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Arnoldo: peixes em tanques no quintal

A floresta vale mais em péque no chão.Vamosaproveitar nossos recursos”Virgílio Viana, secretário do Meio Ambiente do AM

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O índioWauato Sateré-Ma-wé, de 27 anos, éconsiderado umgrande caçadorem sua tribo. Sua

maior conquista está fincada nas ter-ras da comunidade indígena Sahu-Apé, a 40 minutos de barco maismeia hora de carro de Manaus. Éuma pequena estalagem, ainda ina-cabada, com a qual espera garantira auto-suficiência de seu povo, de-pendente da produção de farinha,caça, pesca e de artesanato. “Oshotéis trazem os turistas por um bomdinheiro e, no final, não lucramos na-da. No máximo, vendemos um ou ou-tro colar”, reclama Wauato, hoje agen-te de desenvolvimento sustentável.

A pousada dos Sahu-Apé é par-te de um projeto com recursos dausina de exploração de gás Coari,da Petrobras. A implantação do ga-soduto até Manaus exige umacompensação em ações ambien-tais, sociais e de desenvolvimentosustentável. O mini-hotel está orça-do em R$ 45 mil – sendo R$ 18 milrepassados aos próprios índios,que, orientados por técnicos do ZonaFranca Verde, construirão as ins-talações. “Ao envolver a comunida-de, economizamos, por baixo, 60%”,destaca o responsável pelo proje-to, o arquiteto amazonense SérgioSantos.

Entre os R$ 6 milhões dispo-níveis para 2006, estão previstasa construção de 15 escolas e 11centros sociais e obras de infra-estrutura em quatro aldeias indí-genas. Wauato – “onça grande”,em tupi-guarani – saúda a che-gada desse dinheiro. “Vamos noslibertar da exploração”, diz o índio,que ganhou de sua mãe a alcu-nha de maior caça-dor da região.“Não mateinenhum bi-cho. É por-que caceiesses re-c u r s o sp e r c o r -rendo se-c re ta r i as ,conversan-do e mostran-do nossa reali-dade”, revela.

mos essa oportunidade. Nossa socie-dade e empresariado é que se mostramincompetentes”.

Apesar da crença do secretário emáreas promissoras como manejo flores-tal, manejo pesqueiro, criação de pei-xe, turismo e bioindústria, vários técni-cos e engenheiros do programa tememque uma possível mudança de gover-no interrompa todo esse processo.“Não trabalho com essa hipótese. Te-mos uma política de Estado, um proje-to de longo prazo. Se fosse para fazero arroz-com-feijão, derrubar mata paraplantar café e criar gado, seria muitomais fácil. Apostamos numa mudançada sociedade”, afirma.

É justamente no receio da falta decontinuidade do projeto que reside adesconfiança dos empresários. Mau-rício Loureiro, presidente do Centrodas Indústrias do Estado do Amazo-nas (CIAM), está acostumado comprogramas governamentais que nãochegam ao seu objetivo ou são sim-plesmente interrompidos. “O grandeproblema é que não há uniformidadenesses projetos. Cada governo acabacom o anterior e faz o seu programa,coloca a sua sigla partidária”, critica.

A despeito disso, ele concorda que,conceitualmente, oprojeto Zona FrancaVerde é bom. “Mascomo ter confiançase não existe no paíssequer um projeto dedesenvolvimento,um plano decente deeducação que nãoesteja atrelado a inte-resses partidários?”,questiona o também

diretor da Technos, uma das 15 empre-sas do Pólo Industrial de Manaus quepassaram a divulgar seu balanço soci-al. Loureiro acredita que a união da soci-edade com os empresários e o governopoderia ser uma alavanca para odesenvolvimento sustentável. “O Bra-sil é um dos países que abriga o maiornúmero de ongs. O que falta é essaintegração. Não adianta o governo eas empresas darem dinheiro para osprojetos dessas organizações sem fa-zer um acompanhamento,” diz.

INCENTIVOS FISCAISA japonesa Honda, que mantém no

no Pólo Industrial do Manaus sua úni-ca fábrica de motocicletas no Brasil,começa a acelerar na área de desenvol-vimento sustentável dentro de seu pla-no de responsabilidade social empre-sarial. Já com o certificado de ISO14001, no ano passado a unidade in-vestiu R$ 400 mil em projetos que be-neficiam a sociedade local e o meio am-biente, entre eles a recuperação de iga-rapés. Neste ano, pretende divulgar seuprimeiro balanço social. A empresa temhoje 23 programas em andamento, quevariam desde projetos de fruticultura,gerando emprego para a comunidade

do interior, atéações de cidadanianas escolas, educa-ção ambiental compopulações ribeiri-nhas e apoio a pro-jetos de pesquisa.

Com 14 mil em-pregados, a Hondapagou, no ano pas-sado, R$ 500 mi-lhões em impostos –

EMPRESAS CERTIFICADASISO 9000 155ISO 9001 44ISO 9002 110ISO 1400 8OHSAS 2

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Cada governo acabacom o programaanterior e faz o seu.”Maurício Loureiro, presidente do CIAM

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ZONAdeIMPACTOZONAdeIMPACTO

to das empresas em Manaus contribuide forma significativa para a preserva-ção da floresta amazônica. De acordocom o Ministério do Meio Ambiente,98% da floresta do Estado está preser-vada.

Embora invista na atração de em-

presas-satélite para produção de pe-ças no Brasil e para aprimorar a área decontrole de qualidade, a Honda não temem seus planos a instalação de um cen-tro de pesquisa no Amazonas que pu-desse projetar uma motocicleta. “Nãoé viável para nós. Temos um centro de

mesmo tendo isenção total de IPI, re-dução do ICMS e de tributos de im-portação e exportação. O total do in-centivo fiscal não é revelado pela em-presa, mas seus diretores admitem queé muito superior aos impostos.

“Não viemos aqui só para ganhardinheiro. Viemos produzir e somente anossa instalação (em 1975) já provo-cou todo um aparato que acabou fa-vorecendo a população local com a ge-ração de emprego e com a atração denovos investimentos de infra-estrutu-ra”, diz o diretor administrativo da MotoHonda da Amazônia, Hiroshi Miyazo-no. Para ele o modelo da ZFM podeser considerado vitorioso. O executi-vo salienta que, se fosse para cumprirsó o que exige a legislação, a empresaestaria fazendo muito menos em prolda sociedade.

Miyazono avalia que o adensamen-

Entidades apóiam modelopesar de algumas res-trições com relação àdegradação do meioambiente motivada

pela ocupação urbana desordena-da na área de influência da ZonaFranca, o coordenador executivo daFundação Vitória Amazônica, Car-los Durigan, avalia que o modelode desenvolvimento contribui paraa preservação ambiental da regiãopor abrigar indústrias de pequenopotencial poluente. Para ele, piorseria se o Estado tivesse mantidomodelos do passado, como a ex-pansão agrícola com a implanta-ção de culturas estranhas ao am-biente amazônico. “Manaus nãoseria o que é hoje se não fosse aZona Franca”, afirma o ecólogo. Eleparticipa da coordenação na áreado Médio Amazonas das ações daRede GTA (Grupo de Trabalho Ama-zônico), que congrega centenas deentidades populares e técnicas daAmazônia. Na visão dele, de trêsanos para cá, várias ações da Pre-feitura de Manaus e do Governo doEstado ajudaram a mitigar algunsimpactos na região com a criação

de áreas protegidas, controle deocupações irregulares e recupera-ção de igarapés. “Temos algunsproblemas em implantar áreasprotegidas, já que muitas são par-ticulares, o que causa entraves bu-rocráticos. Mas tanto governo comoentidades estão empenhados”,garante.

O que preocupa mais a Funda-ção Vitória Amazônica são os gran-des projetos de infra-estrutura emandamento com o objetivo de in-crementar as atividades da ZonaFranca, como a construção de es-tradas, caso da BR-319, e o gaso-duto Coari-Manaus. “As áreas maisimpactadas são os eixos das es-tradas, cujas margens começama ser ocupadas por assentamen-tos irregulares ou exploradas comuma agricultura predatória, comoa soja. Por isso, estamos sempreatentos”, destaca Durigan.

Ele mostra-se otimista com oprojeto Zona Franca Verde. “Foi umavanço muito grande por conta dese estar discutindo várias temáti-cas em relação ao desenvolvimen-to sustentável na região, desde o

estabelecimento de áreas protegi-das até o incentivo de pequenosnegócios de exploração sustentá-vel da floresta”, diz. Problemas exis-tem, como um certo recuo do go-verno estadual em implantar reser-vas próximas a áreas de expansãoagrícola. “Em Humaitá, os produ-tores pressionam o governo paradiminuir a área da reserva e o pro-cesso está parado”, exemplifica.Outro temor da fundação é a proli-feração sem um controle corretodas atividades extrativistas. “É pre-ciso equilibrar para que não tenha-mos problemas com o clima e como ecossistema”, alerta. Apesar dis-so, Durigan aposta no avanço do de-senvolvimento sustentável da Ama-zônia. Isso será possível, segundoele, com a adoção de soluções paraas dificuldade com o transporte ecom a organização da cadeia pro-dutiva, para que a população que vivedo extrativismo possa beneficiar suaprodução e vender direto às empre-sas interessadas, sem a figura doatravessador. “O produtor precisa serdono de seu destino, patrão delemesmo”, conclui.

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Linha de produção da Honda: pesquisa na Japão, montagem em Manaus

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Leandro Silvade Souza, de20 anos, morana comunida-de do Sagrado

Coração de Jesus, zona rural domunicípio de Manacapuru, o ter-ceiro maior do Amazonas. Com-pletou o ensino médio e sonhaem cursar Administração. Ele éagente comunitário de desenvol-vimento sustentável do programaZona Franca Verde. Ganha umabolsa mensal de R$ 260, maisda metade dos R$ 400 que sus-tentam seus seis irmãos, pai emãe. Os outros R$ 140 vêm davenda dos produtos que a famí-lia cultiva na pequena roça, prin-cipalmente mandioca e cupuaçu.

Há sete meses no programa,Leandro já tem resultados paramostrar: uma escola de ensinofundamental novinha, feita commadeira certificada. Foi ele, coma ajuda de técnicos do programaZona Franca Verde e do projetodo gasoduto Coari-Manaus, quemobilizou a comunidade para oempreendimento. “Os própriosmoradores a construíram e atéreceberam um salário para isso”conta. Como foi feito por nossasmãos, ficamos orgulhosos e va-mos cuidar bem”. Vários inte-grantes do mutirão acabaramaprendendo uma nova profissãoe hoje prestam serviços de car-pintaria em obras de hotéis daregião.

Para o jovem, a rotina agora ébem mais excitante. “Conhecimuita gente, me tornei mais cria-tivo e sou reconhecido como umaliderança na comunidade”, con-ta. Mesmo assim, cogita deixar aregião. “Penso emsair para estudar.Tá certo queaqui nin-guém pas-sa fome.Tem o pei-xe, a roça,as fru-tas...”, ana-lisa Lean-dro. “Masnão tem mui-to futuro, não.”

O JOVEM

pesquisa no Japão que faz isso para asfábricas do mundo inteiro. Também nãoexistem aqui engenheiros qualificadospara isso”, justifica Miyazono. O quea empresa faz é levar funcionários parao Japão para cursos na área de admi-nistração da produção. Brasileiro pes-quisando, nenhum. “Se tivéssemos umcentro de pesquisa aqui, uma motoci-cleta mais simples, que hoje custa R$ 5mil, seria vendida por R$ 50 mil”, ale-ga.

Sobre os projetos de desenvolvi-mento sustentável na Amazônia, o di-retor da Honda alerta que o governodeve elaborar um plano totalmente in-tegrado, envolvendo capacitação, li-nhas de financiamento, logística e ou-tros fatores que não o levem ao fracas-so. “De nada adianta apresentar umproduto regional como o cupuaçu emTóquio, encontrar empresas interessa-das e depois não conseguir produzirem escala e nem com qualidade paraatender à demanda”, afirma. “Precisater garantia de abastecimento”.

No caso do cupuaçu, uma empresainteressada pediu uma quantidade dofruto por mês e os produtores disse-ram que não tinham condição de for-necer. “Então, o que vocês vieram fa-zer aqui? Foi só para mostrar que issoexiste?”, indagaram os japoneses. Des-se jeito, conclui o diretor da Honda,“não dá para levar a sério”.

As empresas instaladas na ZonaFranca de Manaus não têm qualquerobrigação de realizar ou participar deprojetos centrados na responsabilida-de social. Mas, para se beneficiaremde incentivos fiscais que prevêem isen-ção total do IPI, redução de até 88%do imposto de importação, redução de

75% dos impostos sobre adicionaisnão restituíveis, restituição de 55% a100% do ICMS recolhido, além de isen-ção total de IPTU, elas devem obede-cer a uma série de requisitos previstosem lei, entre eles o licenciamento am-biental, com o pagamento de diversastaxas, e o compromisso de investimen-to em pesquisa, tecnologia e capaci-dade de produção, que somaram R$ 5,1bilhões no passado.

Esses números não se refletem di-retamente na folha salarial. Segundo aSuperintendência da Zona Franca deManaus (Suframa), mais da metade dos100 mil operários de fábricas ganhou,em 2005, de 1,5 a quatro salários míni-mos por mês. Pouco mais de 16 mil le-varam entre quatro e 15 salários míni-mos e apenas 2.831 receberam mais de15 salários mínimos. Ainda assim, a re-alidade do pólo é bem melhor que osdados gerais do Estado. Segundo aPNAD-2004, mais de 50% dos amazo-nenses ganham entre meio e dois salá-rios mínimos e apenas apenas 2% têmrenda acima de 10 mínimos. Outros 20%não têm qualquer rendimento.

Além de protestar contra o nívelsalarial dos trabalhadores da ZFM, in-ferior ao praticado em Estados que nãose beneficiam da isenção fiscal, comoSão Paulo, a Confederação Nacionaldos Metalúrgicos (CNM) denuncia odescaso dos empresários com a ques-tão social de seus empregados. “Naquestão salarial, até que é possívelnegociar. Geralmente conseguimos areposição da inflação mais um peque-no ganho real, ainda insuficiente”, diza sindicalista Emilia Valente. No entan-to, temas como condições de trabalho,assistência de saúde, construção de

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As empresas do pólo dãoR$ 160 milhões por ano paramanter a Universidade.”Flávia Grosso, superintendente da Suframa

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18Em 2001, umaparte das em-presas da ZonaFranca de Ma-naus despertoupara as ações deresponsabilida-de social. Sensi-bilizados pela si-

tuação de milhares de famílias que vivem nos bol-sões de miséria em torno da capital, um grupo de 14funcionários de indústrias do pólo promoveu a cam-panha Natal da Esperança. Com a ajuda de seteempresas, foram arrecadados 1.400 quilos de ali-mentos, 800 peças de roupa e 300 brinquedos, quebeneficiaram oito instituições filantrópicas. Em 2005,só em alimentos foram 440 toneladas.

Foi o embrião de um trabalho que hoje é coorde-nado pelo Centro das Indústrias do Estado do Amazo-nas (CIAM), em parceria com diversas entidades dasociedade civil, governo e igrejas. O centro, cujasações são planejadas pela Comissão deResponsabilidade Social Empresarial, também pro-move cursos de capacitação – um deles é de elabo-ração do balanço social – e palestras junto às empre-sas. Seminários também debatem a importância daresponsabilidade social empresarial e frisam a ne-cessidade da formação de líderes, nessa área, den-

Conscientização começa a dar resultados

tro das indústrias. Na outro ponta, um grupo de maisde 4 mil voluntários acompanha os projetos apoiadospelas empresas para saber como estão sendo apli-cados os recursos. Participam de programas volta-dos, principalmente, para a educação, cidadania econscientização ambiental. “É um modo de integraros empresários e funcionários das empresas com acomunidade”, conta uma das gestoras do projeto,Núbia Lentz. “Eles levam palestras e cursos às comu-nidades carentes, participam de gincanas e intera-gem com a comunidade”.

Em 2005, o CIAM – que representa o Instituto Ethosno Amazonas – e seus parceiros investiram R$ 7 mi-lhões em treinamento, R$ 12 milhões em educação,R$ 1 milhão em ações sociais, R$ 5 milhões em saú-de e R$ 20 milhões em programas ambientais (estesúltimos, em grande parte, por obrigação legal). O re-sultado poderia ser bem mais amplo com a amplia-ção de empresas parceiras. Hoje, das 450 instaladasna Zona Franca de Manaus, pouco mais de 20 partici-pam do projeto. “Muitas ainda não têm essa visão deresponsabilidade social”, lamenta Núbia. “Acham ba-cana, mas não investem”. Ele salienta, no entanto,que várias empresas preferem atuar de forma isola-da. Algumas têm fundações que cuidam dessa área,mas outras, simplesmente, ignoram esse tipo de tra-balho. “Não vou dizer que antes de nós ninguém fazianada. Fazia, porém menos e não divulgava.”

ZONAdeIMPACTOZONAdeIMPACTO

um hospital para funcionários e famili-ares dos operários e implantação deum programa de moradia vêm sendodeixados para segundo plano. “Osempresários não têm qualquer respei-to pelos trabalhadores. Simplesmentedizem que esses pontos eles não dis-cutem”, reclama ela.

Emilia conta que há casos de em-presas que estão aumentando a pro-dução consideravelmente sem ampliaro número de funcionários. “Na práti-ca, os operários são obrigados a mon-tar um produto num tempo menor. Issoacarreta vários problemas de saúde,como a Lesão por Esforço Repetitivo(LER)”, afirma. O problema, segundoo CNM, tem atingido diversos empre-gados que, após pequeno tempo deauxílio da empresa, são “encostadosno INSS” e posteriormente demitidos.

No entanto, Emília reconhece que al-gumas empresas, “poucas, especial-mente as grandes”, respeitam os direi-tos dos trabalhadores. “Só que a gran-de maioria abusa. Algumas posam desocialmente responsáveis com o dinhei-ro dos outros. Colocam os funcionáriospara arrecadar donativos e, depois, nahora da doação, o que aparece é o lo-gotipo da empresa”, queixa-se.

CAPACITAÇÃO“A grande contribuição social das

empresas do Pólo Industrial de Ma-naus (PIM) é gerar de 100 mil empre-gos diretos, arcar com tributos de R$10 bilhões e gerar lucros capazes derealimentar os investimentos”, desta-ca a superintendente da Suframa, Flá-via Grosso. As 450 empresas do PIMtambém contribuem com R$ 160 milhões

por ano com a manutenção da Univer-sidade Estadual do Amazonas”. Paraela, ampliar a participação das empre-sas em projetos com foco na melhoriada vida da sociedade é algo desejável,desde que isso não signifique um en-trave para os seus investimentos naregião ou que venha a prejudicar asações já desenvolvidas em atendimen-to às exigências legais. “Outras inicia-tivas nesse sentido são louváveis, masdependem do nível de conscientizaçãoe da política de responsabilidade soci-al de cada empresa.”

Da década de 90 para cá, a ZonaFranca de Manaus começou a centraresforços para alavancar o desenvolvi-mento regional. O pólo vem apoiandoprojetos de instituições ligadas aos go-vernos estaduais e municipais para ofortalecimento do sistema local de ciên-

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O TÉCNICO Antônio LuizMenezes deAndrade, de42 anos,

guiou a reportagem de Primei-

roPlano pelo interior do Amazonas.No trajeto até a reserva do Lago doPiranha, em Manacapuru (onde nas-ceu), o engenheiro florestal contouque, aos nove anos, descobriu quetinha osteoporose “na cabeça do fê-mur” e precisou deixar a localidadede Paratari, na zona rural do municí-pio. Na época, já sabia ler graças aoseu pai, único soldado da borrachaque “conhecia das letras” na região.A surrada cartilha do be-á-bá e o tra-tamento da doença na cidade mu-daram para sempre a vida do cabo-clo.

Já no segundo grau, cursoumagistério e contabilidade. De-pois, entrou em um seminário, on-de se graduou em biologia, fi-losofia e teologia. Sem vocaçãopara a batina, partiu para estudarEngenharia Florestal na Universi-dade Federal do Amazonas. Em1998, enquanto se especializavaem Antropologia da Amazônia, as-sumiu a diretoria de meio ambien-te de sua cidade natal. Dois anosmais tarde, virou secretário muni-cipal da pasta, função desempe-nhada em paralelo com o mestra-do em Gestão Ambiental. Em 2003,passou a coordenar o setor de Or-ganização Comunitária da se-cretaria de Meio Ambiente e De-senvolvimento Sustentável do Es-tado. De lá, chegou ao projeto dogasoduto Coari-Manaus.

Para Luizinho (como todos ochamam), nada na Amazônia podeficar para amanhã. No meio da ex-pedição com a reportagem, ele pe-diu para parar o carro. “Daquipara frente tu seguessozinho com eles(outros técni-cos do pro-grama). Te-nho de en-tregar umalancha quechegou paraum projetonosso. Nãodá para deixar opovo esperando”.

cia, tecnologia e inovação, por meiode convênios com órgãos de ensino epesquisa, viabilizando mestrados edoutorados. O objetivo, segundo Flá-via, é garantir a capacitação de recur-sos humanos nas áreas de engenhariade produção, engenharia mecânica,biotecnologia e medicina tropical.

Também foram implantados recen-temente o Centro de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação do Pólo Industrial deManaus (CT-PIM) e o Centro de Bio-tecnologia da Amazônia (CBA), quepretende desenvolver tecnologias eprodutos a partir de matéria-prima dabiodiversidade da região. “A Suframatem apoiado diversas iniciativas vol-tadas à interiorização do desenvolvi-mento, como projetos de infra-estru-tura básica – construção de estradas,portos, aeroportos, feiras cobertas – eestímulo à agroindústria”, acrescenta.“Atualmente, o foco é investir nos ar-ranjos produtivos locais, como o demadeira e móveis, fruticultura, piscicul-tura, apicultura, cultivo de mandioca eaproveitamento dos produtos flores-tais não-madeireiros”.

LICENÇAS AMBIENTAISNa área ambiental, a superinten-

dente explica que a ocupação do usodo solo, tanto do Distrito Industrial co-mo do Distrito Agropecuário, prevê amanutenção de áreas verdes. “A im-plantação de projetos de baixo impac-to ambiental, a oferta de alternativasde trabalho para a população local e aexigência de licenças ambientais paraa aprovação de projetos pelo Conse-lho de Administração da Suframa sãofatores que contribuíram de forma sig-nificativa para a preservação de 98%

da camada florestal no Estado”, diz.A presidente da Comissão da Zona

Franca da Assembléia Legislativa doAmazonas, deputada Lúcia Edwards(PP), tinha tudo para adotar uma linhamais amena com relação ao retorno queas empresas instaladas no pólo trazempara o Amazonas. Além de seu partidoser da base dos governos federal e es-tadual, ela vai disputar a reeleição e,nessa época, o meio empresarial sem-pre é procurado para financiar campa-nhas. Mas Lúcia surpreende. É umadas críticas mais ferozes da posturadas empresas e sai logo atirando. “Éum cartel. Elas se blindam e é difícilmudar esse paradigma. O dono do ca-pital se sente intocável”, diz a deputa-da. Ela defende uma modernização dalegislação da Zona Franca de Manauspara obrigar que, em troca dos incenti-vos fiscais, o empresariado invista emprojetos de desenvolvimento susten-tável e social para a região.

Lúcia concorda que a Zona Francatem uma importância enorme para aeconomia de seu Estado e é, hoje, oúnico modelo de desenvolvimento quedeu certo. Contudo, reclama do distan-ciamento dos empresários que não en-xergaram muitos reflexos do projeto,como o enorme êxodo rural, com o con-seqüente inchaço da capital. Cita até adificuldade de conseguir a presença derepresentantes das empresas em audi-ências públicas na Assembléia. “Euqueria que pelo menos eles entrassemna discussão”, pede, ressalvando queuma pequena parcela dos empresáriosjá pensa diferente e tem consciênciade sua responsabilidade perante a so-ciedade. Recentemente foi aprovadauma lei que criou um Certificado de

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É um cartel. Odono do capital sesente intocável.”Lúcia Edwards, deputada estadual.

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ZONAdeIMPACTOZONAdeIMPACTO

Responsabilidade Social para asempresas. Poucas levaram a sé-rio: em 2005, apenas 15 das maisde 450 indústrias instaladas naZona Franca de Manaus divul-garam seu balanço social.

“As empresas alegam que pa-gam os impostos, que cumprem alegislação e ainda fazem mais. Noentanto, elas só estão aqui porcausa dos incentivos”, rebate Lú-cia. Para ela, o modelo já está con-solidado com esses vícios e háuma resistência muito grande emmudar essa mentalidade. “É pre-ciso entender que a responsabili-dade social é agir além do que estáestabelecido pela lei. E isso não étransferir o papel do Estado paraas empresas, como muitos empre-sários alegam”, analisa a deputa-da. Ela culpa os políticos pela di-ficuldade em se mudar essa men-talidade. “O poder político aindaestá muito vinculado ao capital,que tem uma influência enormesobre as suas decisões.”

Diferentemente dos empresá-rios do Pólo Industrial de Ma-naus, o ribeirinho Arnoldo Ma-tos de Paiva não tem previsão defaturamento para 2006. Aguardaa liberação dos órgãos ambien-tais para vender a produção deseus dez tanques de pirarucu. En-quanto a ordem para a “despes-ca” não vêm, sua família e outras38 observam, nessa época de chu-va, as águas do Lago do Piranhasubindo. Pescam para a subsis-tência e esperam a seca para cul-tivar uma roça de mandioca. Vãose virando com o salário mínimoque recebem como fiscais da re-serva. Perguntado sobre quantovai ganhar com os 200 pirarucusque cultiva (10 terão de ser de-volvidos para o rio), Arnoldo olhapara o céu, coça o queixo e diz:“Depende do valor do quilo quea comunidade conseguir negoci-ar com os compradores”.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃOO Governo do Estado do Amazo-

nas criou, em 2003, o Programa de Cri-ação e Implementação de Unidadesde Conservação (UC). No Sudeste-Sule Nordeste do Estado, Médio e Alto So-limões, Rio Negro e região de Manaus,foram implantadas 19 novas UCs, re-presentando 7,9 milhões de hectares.Hoje são 31 unidades, totalizando 15,3milhões de hectares. Lá são promovi-dos o ordenamento pesqueiro, o turis-mo ecológico sustentável e diversasatividades produtivas com base em téc-nicas de manejo. As unidades abran-gem 19 municípios e cerca de 80 co-munidades.

PRODUÇÃO DE BORRACHAEm 11 municípios amazonenses

foi retomado o cultivo da seringueira,árvore nativa da região amazônica, queproduz borracha natural. Seringueirosreceberam kits compostos por tigela,baldes e facas. O governo paga umsalário os seringueiros, que atuamcomo fiscais ambientais. Em 2002, 380famílias mantinham-se da extração daborracha – número triplicado no anopassado. Juntos, produziram, apenasem 2005, 487 toneladas de borracha,sendo 80% vendidos para a Casa doSeringueiro, em Sena Madureira (AC),e o restante para a Cooperativa de San-tarém (PA). Cada quilo da matéria-pri-ma da seringueira foi comercializadoa R$ 1,50. Os seringueiros tambémconquistaram o incentivo da subven-ção no valor de R$ 0,70 por quilo deborracha, pago pelo Governo do Esta-do. O total pago chegou a R$ 310 mil.

PRODUÇÃO DE CASTANHAO produto característico da região

amazônica retomou os processos deexportação, que vinham sendo rejeita-das pela barreira sanitária internacio-nal. A safra de castanha nos sete mu-nicípios mais produtivos do Amazonasenvolve mais de 2 mil famílias, geran-do uma renda média de R$ 1,9 mil.Em 2005 a produção total do Amazo-nas alcançou o volume de 1.110 tone-ladas de castanha manejada e 5.103toneladas não-manejadas, benefician-do mais de 5 mil famílias e gerandocerca de 5.669 empregos. O Progra-ma de Boas Práticas de Manejo daCastanha do Governo do Estado foiselecionado pela ONU como um dos20 melhores “Projetos Com Experiên-cia em Inovação Social” da AméricaLatina. Em volume de negócios, o Ama-zonas negociou 58 toneladas de cas-tanha manejada com empresas deSão Paulo e Minas Gerais, resultandoem R$ 325 mil para os pequenos pro-dutores do interior.

PRODUÇÃO DE ÓLEOSOs óleos produzidos de sementes

e pequenas plantas estão começan-do a render produtividade. Comunida-des organizaram-se para produzir sa-bonetes, xampus, óleos aromáticos,produtos de beleza, velas e até produ-tos estéticos e farmacêuticos. Em 2002existia uma única usina localizada emCarauari – Comunidade do Roque –implantada pelos comunitários emparceria com a Universidade Federaldo Amazonas. Em três anos do ZonaFranca Verde, foram construídos mais

É um programa do governo do Amazonas que come-çou em 2003, coordenado pelas Secretarias de Estado doMeio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Pro-dução Agropecuária, Pesca e Desenvolvimento Rural In-tegrado. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida dohomem do campo com o uso sustentável das florestas, rios,lagos, igarapés, várzeas e campos naturais, promovendoações de manejo e conservação do meio ambiente. Entre2003 e 2004 o Estado investiu, diretamente, R$ 18,1 mi-lhões no projeto. Aliado a recursos advindos de parceri-as, o investimento total ultrapassou R$ 40 milhões.

ZONA FRANCA VERDEZONA FRANCA VERDE

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Projetos eresultados

quatro micro-usinas com produção emescala, que beneficiam mais de 680famílias. A renda estimada é de R$ 1,6mil por pessoa durante a safra do pro-duto, que começa em dezembro e seestende até abril. A extração de óleos éfeita principalmente da andiroba, uri-curi, virola, buriti, babaçu, murumuru ecopaíba.

GASODUTO COARI-MANAUSOs investimentos para implanta-

ção e operacionalização do empreen-dimento, orçados em R$ 1 bilhão, in-cluem um amplo programa social eambiental desenvolvido pelo Governodo Estado junto às comunidades daárea de influência do empreendimen-to, com vistas à minimização de im-pactos decorrentes. Serão 3,4 mil em-pregos diretos gerados ao longo dos22 meses previstos para a obra.

MANEJO DO PIRARUCUA atividade já é realizada em 241

lagos e envolve cerca de 480 famílias,distribuídas em 78 comunidades. Aprodução deve chegar, em 2006, a1.100 toneladas, dentro do plano demanejo para a espécie. Uma parceriacom o Grupo Pão de Açúcar vai permi-tir a garantia da venda de boa parte daprodução. Assim o pirarucu do Progra-ma Zona Franca Verde chegará às pra-teleiras de cerca de 170 supermerca-dos de todo o Brasil. A primeira entre-ga do pirarucu envolveu 50 toneladasde peixe fresco, cujo preço pago aoprodutor é 50% superior ao praticadopelo mercado local.

MELIPONICULTURAHoje, 290 famílias estão envolvidas

nas atividades de manejo do mel noAmazonas e 112 estão sendo benefi-ciadas diretamente com essa produ-ção em Boa Vista do Ramos. A safrade 2005 foi de duas toneladas. Para2006, a previsão é de seis toneladasde mel nos Pólos de Boa Vista do Ra-mos e Manacapuru.

PROCHUVAO objetivo da iniciativa é bem sim-

ples: utilizar a água armazenada du-rante a estação chuvosa na região paraser aproveitada durante a seca dos riosno Estado do Amazonas. O programajá é desenvolvido na Reserva de De-senvolvimento Sustentável do Piranha,em Manacapuru, por meio das açõesdo Programa de Desenvolvimento Sus-tentável do Gasoduto Coari-Manaus.Beneficia 106 famílias que vivem nolocal, praticamente todas em áreas devárzea, sendo que nenhuma possuíaacesso a água potável. O Ministério daIntegração Nacional e a Fundação Na-cional de Saúde (Funasa) pretendeminvestir mais de R$ 10 milhões na pro-grama. O governo do Estado entrarácom uma contrapartida de aproxima-damente R$ 500 mil. Com os recur-sos, serão instaladas mais 6,4 mil cis-ternas nos municípios de Fonte Boa,Tonantins, Amaturá, Santo Antônio doIçá, Jutaí, São Paulo de Olivença, Ta-batinga, Benjamim Constant e Atalaiado Norte. Nessa área do Alto Rio Soli-mões, cerca de 35 mil pessoas em320 comunidades serão beneficiadas.

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Pirarucu de manejo será vendidoem 170 supermercados do país

Prochuva vai beneficiar35 mil pessoas

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Professor do Instituto deEconomia e pesquisador

do Centro de EstudosSindicais e de Economia

do Trabalho (CESIT)da Universidade

Estadual de Campinas(UNICAMP)

São Paulo, [email protected]

A volta do empregoindustrial no Brasil

MÁRCIO POCHMANN

Opinião

A partir da década de1990, quando prevale-ceu a ruptura com umalonga tendência de ele-

vação significativa do emprego na in-dústria de transformação brasileiradesde 1930, alguns analistas decreta-ram o fim do trabalho na manufatura.De fato, somente nos anos 1990, a in-dústria de transformação reduziu em1,4 milhão de postos de trabalho (mé-dia anual de 137,4 mil empregos), nãoobstante a geração de 7,7 milhões denovas ocupações nos outros setoresde atividade econômica.

Desde 1999, contudo, o compor-tamento do emprego na indústria detransformação voltou a crescer, che-gando a alcançar, em 2004, a geraçãode 3,4 milhões novos postos de traba-lho (média anual de 689 mil novos em-pregos). Essa profunda alteração nodesempenho do emprego industrialencontra-se diretamente associada aoabandono do regime cambial (taxa decâmbio fixo) e ao forte crescimento docomércio internacional.

Com a desvalorização cambialhouve dois movimentos distintos nocomportamento da economia nacio-nal, especialmente em relação ao em-prego industrial. O primeiro relaciona-se à combinação entre a contração navelocidade de substituição de postosde trabalho internos pela importaçãode produtos e serviços estrangeiros eo estímulo aos novos empregos de-terminados pelo aumento das expor-tações, mesmo prevalecendo o baixocrescimento econômico no período.

O segundo resulta do efeito deri-

vado das medidas institucionais vol-tadas ao cumprimento da legislaçãotrabalhista, capaz de regularizar o cur-so da terceirização selvagem do em-prego na economia nacional. Assim, aposição de várias instituições compro-metidas com o cumprimento do marcolegal do mercado de trabalho (açõesdo Ministério Público do Trabalho,decisões da Justiça do Trabalho, fis-calização do Ministério do Trabalho eEmprego e a atuação dos sindicatos)contribuiu para a reversão parcial dojá avançado processo de desregula-mentação do segmento organizado domercado de trabalho (terceirização dotrabalho pelo emprego sem carteiraassinada, cooperativas fraudulentas,estágios irregulares, consultores, em-presas de prestação de serviço comum só funcionário, entre outras).

A expansão da ocupação industri-al tem sido significativa no período re-cente, uma vez que 24,5% do saldo detodas as ocupações formais entre 1999e 2005 foram no setor da manufatura.Ou seja, dos 5,3 milhões de novos em-pregos com carteira assinada abertosentre 1999 e 2005, quase 1,3 milhãoforam originários da indústria de trans-formação.

Cabe ainda destacar que depoisde 20 anos de redução relativa do em-prego industrial no total da ocupaçãono Brasil, nota-se a sua recuperaçãodesde 1999. Assim, o contínuo aumen-to do setor terciário ocorre fundamen-talmente diante da contenção do se-tor primário, tornando compatível tam-bém a expansão relativa do setor in-dustrial.

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Qualidade na vidaMUNDO DO TRABALHO

AGENDAHEMISFÉRICA

O déficit de traba-lho formal na Améri-ca Latina pode atin-gir 158 milhões depessoas em 2015 senão forem tomadasmedidas para gerarmais e melhoresempregos. O alerta éda Organização Inter-nacional do Trabalho(OIT) no documentoTrabalho Decentenas Américas – umaagenda hemisférica2006-2015. A OITpropõe quatro desa-fios: crescimentocom promoção deempregos para to-dos; cumprimentodos direitos traba-lhistas; adoção denovos mecanismosde proteção social; ecombate à exclusãosocial.

milhões de latino-americanos ga-nham a vida na in-formalidade. Ou-tros 23 milhões es-tão desemprega-dos.Fonte: OIT

O Departamento Intersindical de Es-tatísticas e Estudos Socioeconômicos(Dieese) apresentou os resultados doestudo “As greves em 2005”, que reú-ne números das paralisações ocorri-das no país. No ano passado aconte-ceram 299 greves no Brasil, pratica-mente o mesmo número de 2004 (302).Foram quase 20 mil ho-ras de interrupção nasatividades produtivas,contra 23 mil registra-das no exercício ante-rior. A maior parte dasparalisações – 152(54%) – ocorreu na es-fera pública, sendoprotagonizadas porservidores estaduais(22%), municipais(12%), federais (11%) e empregadosde empresas estatais (8%). Na iniciati-va privada, das 135 greves verifica-das, 74 atingiram as indústrias e 59,os serviços. O reajuste salarial foi aprincipal reivindicação, tanto dos tra-balhadores do setor público (60%)quanto do privado (36%). As negoci-ações dos servidores públicos rende-ram menos resultados concretos queas praticadas entre os trabalhadoresceletistas e as empresas privadas ouestatais. No funcionalismo público, aslistas de reivindicações dos grevistasforam parcial ou totalmente contem-pladas pelos governos em 58% das 36ocorrências informadas. Esse patamarse eleva a 75% na esfera privada e a

A forçadas greves

Reajuste salarial foi aprincipal reivindicaçãodas paralisações em 2005103

83% nas empresas estatais – nesteúltimo caso, a porcentagem refere-seexclusivamente a atendimentos parci-ais. O diretor técnico do Dieese, Cle-mente Ganz Lúcio, comenta os dadose o que eles refletem em relação à rea-lidade da organização sindical no país.

Os direitos deorganização sindical e anegociação coletiva sãopontos que aindaprecisam avançar dentrodas empresas. Isso quedizer que o movimentoda responsabilidadesocial ainda precisafazer muita coisa dentroda própria empresa?Clemente Ganz Lúcio -Muitas são as mudanças

necessárias para que anegociação coletiva avance nosistema de relações de trabalhono Brasil. Uma das mudançasfundamentais é o direito deorganização no local de trabalho,direito este negado pelalegislação sindical e, empouquíssimos casos, pactuadadiretamente entre sindicatos eempresas. A implantação dessemecanismo poderá criar um novocanal para solução de conflitos nochão da empresa. As empresas,em especial as multinacionais,poderiam avançar muito nessaquestão.

Segundo o estudo, pouco mais de2 milhões de trabalhadores

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Entre 2000 e 2004, o número decrianças trabalhadoras no mundocaiu 11%, passando de 246 a 218milhões. Nos trabalhos perigosos aqueda foi ainda maior: 26%. Os da-dos foram anunciados em maio pelaOrganização Internacional do Tra-balho (OIT) no lançamento do Rela-tório Global “O fim do trabalho in-fantil: um objetivo ao nosso alcan-ce”. O relatório assegura que, sefor mantido o atual ritmo de redu-ção, é possível eliminar as pioresformas de trabalho infantil em dezanos. “A luta contra o trabalho in-fantil continua sendo um desafio deenormes proporções, mas estamosno caminho correto e não podemosnos esconder por trás da dificulda-de do fenômeno”, disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.

O informe atribui a diminuição auma maior consciência e vontadepolítica, bem como a medidas con-cretas no âmbito da diminuição dapobreza e da educação massiva,que geraram um “movimento mundi-al contra o trabalho infantil”. Os pa-íses receberam apoio técnico e po-lítico da OIT por meio do ProgramaInternacional de Combate ao Traba-lho Infantil (IPEC). Mais de 30 Esta-dos membros da OIT já fixaram ob-jetivos até 2016 para abolir as pio-res formas de trabalho infantil. Orelatório conclama os países queainda o não fizeram a adotar pra-zos e metas de erradicação até2008. América Latina e Caribe sãoa região que tem alcançado maio-res progressos: há apenas 5% decrianças agora envolvidas no mer-cado de trabalho. A África Subsaa-riana foi a que menos avançou.

Brasil e México são apontadoscomo exemplos de avanço. Soma-via disse que, no caso brasileiro, ocrescimento do emprego formal e oaumento real do salário mínimo con-tribuíram bastante para a reduçãodo problema. O trabalho de crian-ças brasileiras no grupo de idadeentre cinco e nove anos caiu 60%entre 1992 e 2004, e 36% na faixaetária, mais numerosa, de dez a 17anos. Mas ainda há muito a fazer.Existem mais de 2 milhões de crian-ças trabalhando no país.

REDUÇÃO DOTRABALHO INFANTIL

participaram de greves. Qual aleitura do Dieese sobre essenúmero?Clemente - Esse contingenterepresenta menos de 0,5 % dapopulação ocupada. Dado o nívelde arrocho salarial ocorrido nadécada de 90 e a baixa qualidadedos postos de trabalho, aquantidade das paralisações podeser considerada baixa.

Nas empresas privadas, asprincipais reivindicações dasgreves foram pelo reajuste salarialou por Planos de Cargos eSalários, enquanto na esferapública as demandas foram maispropositivas. O que isso significa?Clemente – Na verdade, emambas as esferas predominamreivindicações propositivas. Naesfera privada destacam-sereivindicações como reajustesalarial e PLR (Participação nosLucros e Resultados dasEmpresas). Estas e outrasdemandas buscam repartir osganhos que as empresas estãoobtendo. Também no setor públicoas greves são propositivas na suamaioria, tendo comoreivindicações mais freqüentes asrelativas a reajustes de salários ePCS (Plano de Cargos e Salários).A quantidade de greves defensivasé também expressiva, mas suapresença é inferior a 50% no totaldas paralisações na esferapública (funcionalismo eempresas estatais) e na indústria

privada. Apenas no setor deserviços da esfera privada,predominam greves defensivas.

O estudo aponta que a negociaçãodireta entre empregados eempregadores foi utilizada comoum recurso importante paraequacionar conflitos. Diante disto,como uma empresa socialmenteresponsável pode contribuir paraelevar o padrão de relações entresindicatos e empresas?Clemente - O fortalecimento danegociação coletiva, a criação demecanismos ágeis para soluçãode conflitos, o fortalecimento dapresença sindical no chão daempresa são elementosfundamentais para que asrelações de trabalho ganhem umnovo patamar de civilidade.

Um dos resultados do estudoindica que 3/4 dos trabalhadoresconquistaram ao menos parte desuas exigências. Isto reforça avisão de que as greves ainda sãoos principais mecanismos deprogresso das condições de vidados trabalhadores?Clemente - A greve é uminstrumento legítimo e modernode pressão da classetrabalhadora sobre oempresariado no sistemacapitalista. Ainda não se conhecemeio mais eficaz para acontraposição dos trabalhadores àintransigência patronal.

Em 2005 ocorreram 299 greves no Brasil, 54% no setor público

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COMO A EMPRESA PODEINCENTIVAR A DIVERSIDADE

Realize um acompanhamento das informações a sobrede seus empregados, identificando as discrepâncias emudanças nas situações comparativas de mulheres, ne-gros ou outros grupos relevantes para a empresa.

Comprometa-se a contratar e promover pessoas comexperiências e perspectivas diferentes. Recrute seu pes-soal de formas e fontes diversificadas.

Adote a diversidade como um parâmetro orientador daspolíticas de desenvolvimento, manutenção, encarreira-mento e remuneração das pessoas da empresa.

Inclua em seus programas de integração a atenção paraa diversidade, favorecendo a transposição de barreirashierárquicas e a permeabilidade de grupos já constituí-dos internamente.

Promova ações de treinamento e comunicação regula-res para todos os funcionários.

Torne o desempenho da diversidade parte da avaliaçãoperiódica de todos os gestores e empregados.

Dimensione sua necessidade de apoio externo e con-trate especialistas e instituições tecnicamente capacita-das para subsidiar a implementação de políticas de di-versidade.

Busque multiplicar a cultura da diversidade entre as de-mais empresas de seu setor de atividade, por meio deentidades associativas ou sindicatos patronais.

Implemente iniciativas para disseminar sua política dediversidade entre seus parceiros, consumidores, clien-tes, fornecedores e nas comunidades em que atua.

Estabeleça parcerias e intercâmbios com entidades einstituições da comunidade voltadas para a promoçãoda diversidade.

Reforce as relações comunitárias da empresa.

Assegure que os princípios de diversidade orientem ascampanhas de publicidade e marketing de seus produ-tos. Faça também marketing institucional de suas inicia-tivas pela valorização da diversidade.

MUNDO DO TRABALHO

Tímido avançoO Instituto Ethos divulgou em maio o Perfil Social, Ra-

cial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suasAções Afirmativas, feito em parceria com o Ibope. Os re-sultados de 2005 confirmam a dificuldade de ascensão pro-fissional para todo indivíduo que não for homem, branco,com formação universitária, entre 45 e 56 anos e com pelomenos dez anos de empresa – um retrato muito distantedas características do brasileiro médio.

A igualdade de oportunidades permanece um ideal lon-gínquo, que vai exigir um esforço das empresas e da socie-dade para se tornar realidade. Em sua terceira edição, operfil registrou avanços tímidos, porém significativos. Hou-ve uma inclusão maior de pessoas com deficiência, cujaparticipação praticamente quadruplicou, passando de 3,5%para 13,5%. O percentual de cargos executivos ocupadospor mulheres aumentou de 9% (2003) para 10,6%, indicadorque passou de 18% para 31% nos quadros de gerência.

A situação dos negros é ainda mais desequilibrada.Responsáveis por 48% da população brasileira (46% dapopulação economicamente ativa), eles ocupam apenas26,4% do total de funcionários, 13,5% do quadro de super-visores, 9% da gerência e 3,4% do quadro executivo. Ocenário agrava-se ao medir a participação da mulher negra,que representa somente 8,2% das gerentes e 4,4% das dire-toras. Nem poderia ser diferente: só 4% das empresas man-têm programas para a qualificação de mulheres e negros.

Poderia ser pior,caso o engajamento dosetor empresarial brasi-leiro nas práticas de res-ponsabilidade socialnão estivesse aumen-tando. Mais da metadedas empresas pesquisa-das disse desenvolveralguma política ou açãoafirmativa para favore-cer grupos sociais tra-dicionalmente discrimi-nados no mercado detrabalho. O maior desta-que foi dado aos pro-gramas para contrata-ção de pessoas com de-ficiência, promovidospor 41% das 119 empre-sas que responderamao questionário. Fonte: EthosNegros: só 3,4% dos executivos

Cresce número de mulheres gerentes

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O mercado de trabalho brasileiro está marcado por significativas e persisten-tes desigualdades de gênero e raça. Esse é um aspecto que deve ser levado emconta nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticaspúblicas em geral, e, em particular, das políticas de emprego, inclusão social eredução da pobreza. É necessário lembrar que, no Brasil, as desigualdades e adiscriminação de gênero e raça não são problemas de “minorias”, mas atingem agrande maioria da população brasileira. Segundo os dados da PNAD 2004, asmulheres e os negros, somados, correspondiam a aproximadamente 70% da Po-pulação Economicamente Ativa brasileira.

O objetivo principal da Organização Internacional do Trabalho é promover tra-balho decente, entendido como um trabalho produtivo e adequadamente remunera-do, exercido em condições de liberdade, eqüidade, segurança e dignidade humana.

A noção de eqüidade é, portanto, um elemento central da Agenda do Traba-lho Decente e refere-se às diversas formas de desigualdade e exclusão queafetam os grupos humanos na sociedade, baseadas tanto no sexo como naorigem e condições sócio-econômicas, raça, etnia, nacionalidade, opções políti-cas e religiosas, entre outras.

Isso significa que, em primeiro lugar, o conceito de trabalho decente compre-ende também um trabalho livre de qualquer discriminação. Em segundo lugar,que a promoção da igualdade é um elemento que deve estar sempre presente, deforma transversal, nas quatro áreas estratégicas que definem a Agenda de Tra-balho Decente: a promoção dos direitos do trabalho, a criação de mais e melho-res empregos, a ampliação da proteção social, o fortalecimento da organização erepresentação dos atores no mundo do trabalho e o diálogo social.

O combate à discriminação e a promoção da igualdade são consideradaspolíticas indispensáveis para que sejam alcançados os objetivos centrais daAgenda Hemisférica de Trabalho Decente, documento apresentado pelo Dire-tor-Geral da OIT, Juan Somavia, na XVI Reunião Regional Americana, realizadaem Brasília, em maio de 2006, e que contou com o respaldo das delegaçõestripartites (representantes de governos, organizações empresariais e sindicais)de 35 países.

Entre os objetivos destacados na Agenda Hemisférica, estão:· aprofundar o conhecimento sobre a magnitude e dimensão do problema da

discriminação no mercado de trabalho;· aplicação efetiva do princípio da não-discriminação;· aumento das taxas de participação e ocupação das mulheres;· incorporação da perspectiva da igualdade de gênero e étnico-racial nas

políticas e instituições do mercado de trabalho, garantindo o acesso de mulhe-res e negros às políticas de emprego em igualdade de condições;

· promover a incorporação de cláusulas contra a discriminação e de promo-ção da igualdade de oportunidades na negociação coletiva;

· redução das diferenças de remuneração entre homens e mulheres;· promoção do equilíbrio de gênero nas organizações sociais e nas instâncias

de diálogo social.Como resultado das discussões realizadas em Brasília, os delegados triparti-

tes presentes à Reunião Regional Americana da OIT anunciaram o início de umadécada de promoção do trabalho decente. Em 2007, quando lançar seu RelatórioGlobal anual, que tratará do tema da discriminação no trabalho, a OIT poderáapresentar os avanços realizados e os desafios que persistem no caminho daredução das desigualdades.

LAÍS ABRAMO

Socióloga, é diretorado Escritório da OIT

no Brasil.

Igualdade na agendado trabalho decente

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Ferramentas nossas de cada diaMESA DE TRABALHO

Thenório Cardoso (45)mecânico, 25 anos de profissãoO que mais usa: chave de fenda.O que menos usa: martelo.Retiraria: chave yale.Mesa contém: chave de boca, chave estrela, chaveinglesa, torquímetro, aparelho de solda, alicate etc...

Viviane Colucci (45),juíza do trabalho há um ano, 15 anos de profissãoO que mais usa: caneta e computador.O que menos usa: papel.Retiraria: nada.Mesa contém: processos, retratos, canetas, pedras devários tipos.

Arlindo Michelute (54),sapateiro, 40 anos de profissão

O que mais usa: martelo.O que menos usa: tesoura.Retiraria: pé-de-cabra.Mesa contém: sola, martelo,cola, pregos, tacão de sapatos,faca, vidros com componentes.

Beatriz Vilmar Cardoso (38)agente de viagem, 10 anos de profissãoO que mais usa: caneta e telefone.O que menos usa: papéis.Retiraria: telefone.Mesa contém: processos de venda, foto das crianças,telefone, calculadora, flores, arquivo de reservas.

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Perspectiva Africana Pieter Sijbrandij

odos que estudam a Res-ponsabilidade Social Em-presarial (RSE) e a sua his-tória passam pela “Pirâmi-

de da RSE”, publicada em 1991 peloacadêmico norte-americano Archie B.Carroll. Décadas depois, um especi-alista nascido no Zimbábue, WayneVisser, desafia este modelo quandose trata da realidade africana. Suaanálise, presente no livro CorporateCitizenship in Developing Countries(Cidadania corporativa nos paísesem desenvolvimento), surpreende elança questões inquietantes paraempresários e acadêmicos.

O artigo chamado “RevisitingCarroll’s CSR Pyramid – an Africanperspective” abre com uma descri-ção do contexto africano. Uma sériede dados mostra a situação compli-cada do continente que conta comquase a metade dos 81 países maispobres do mundo. Documentos atu-ais atribuem um papel importante àsempresas no desenvolvimento local,especialmente por meio de investi-mentos, geração de empregos,transferência de habilidades, desen-volvimento da infra-estrutura e com-partilhamento de conhecimentos.

Visser apresenta a Pirâmide deRSE e seu desenvolvimento históri-co, referência acadêmica quando setrata de esquematizar os diferentescomponentes da RSE: econômico,legal, ético e filantrópico. O modelo éapresentado como pirâmide parailustrar que a base – o econômico –tem maior peso que o legal e assimsucessivamente. Estudos empíricosconfirmam a existência destes com-ponentes e suas inter-relações, mastambém identificam que o peso atri-buído a cada componente dependedo contexto cultural. O exemplo maisilustrativo disso é um levantamentomostrando que entre empresas nor-te-americanas cujos proprietáriossão negros a parte ética era consi-derada de peso maior que a parte

legal. Outra fonte aponta que na Ale-manha e Suécia o legal prevalece so-bre o econômico. Com essa “deforma-ção” da pirâmide na mente, Visser co-meça a explorar a validade do modeloteórico para a realidade africana.

Em referência ao componenteeconômico, o autor volta a lembrar aalta importância da contribuição eco-nômica das empresas para governose comunidades. Ele enfatiza que apercepção africana aproxima-semais da visão européia que da nor-te-americana, ou seja, na África es-pera-se que as empresas busquemuma finalidade mais ampla que so-mente gerar lucro aos acionistas.

O tamanho das necessidades e

carências sociais, a dependência deajuda externa e o estágio inicial daRSE no continente levam Visser a ar-gumentar que o segundo componen-te mais importante na pirâmide darealidade africana é a filantropia. Otema HIV/aids é mencionado comoalerta para que essa prática vá alémdas doações, considerando o impac-to econômico que a doença está ten-do nas sociedades do continente.

Isso deixa as responsabilidadeslegais em um patamar inferior. A ra-zão, segundo Visser, não é que asempresas não cumpram a lei, masporque em muitos paises africanosa estrutura legal está pouca desen-volvida – o que, junto com a limitada

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LIVRO DESTACA AIMPORTÂNCIA DOCONTEXTO CULTURALPARA DETERMINARPRIORIDADES EMCIDADANIACORPORATIVA

www.waynevisser.com

capacidade de fazer cumpri-la, resultano fraco estimulo para o desenvolvi-mento da RSE.

Embora Visser assinale avançossignificativos no comprometimentode empresas com aspectos éticos,ele observa que as exceções confir-mam a regra. Combinando essaconstatação com os indicadores daTransparência Internacional sobre ocontinente, chega à conclusão queexiste um enorme vazio entre umapostura altamente ética de uma mi-noria de empresas – tipicamente asgrandes multinacionais – e a reali-dade de corrupção em muitos pai-ses onde elas mantêm unidades.

MODELO CONTESTADONa realidade africana, fica eviden-

te que o contexto cultural influi nãoapenas na força atribuída a cada fa-tor segundo os critérios de Carroll,como também na ordem em são dis-

postos. Visser não justifica essa con-clusão, somente mostra que há umarealidade diferente. Com isso, tocaem um dos pontos mais delicadosna discussão acerca da Pirâmide daRSE: como modelo conceitual, faltauma explicação consistente do por-quê da hierarquia dos quatro com-ponentes.

Na avaliação do autor, o modeloconsagrado também deixa muito adesejar como representação descri-tiva. Ele critica sua procura por uni-versalidade e o fato de ser estático,não considerando possíveis confli-tos entre os diferentes componentes.Perguntas sobre como conciliar ageração de empregos com proteçãoambiental, governança transparentee governos opressivos não podemser respondidas pelo ótica de Carro-ll. A dificuldade do modelo para en-tender as inter-relações fica aparen-te quando se questiona, por exem-plo, se o tratamento pelas empresasde funcionários com aids faz parte daresponsabilidade econômica (afetao quadro de funcionários), respon-sabilidade ética (portadores de aidstêm direitos humanos) ou filantrópi-co (não é uma doença relacionadaao trabalho).

Com base nessas constatações,Visser lança diversas questões alta-mente relevantes para o debate daRSE em nível global e, sobretudo,para os paises em desenvolvimen-to. O mais evidente é a importânciado contexto cultural para determinar

prioridades e programas apropria-dos. Se esse contexto cultural real-mente for relevante, isso implicará areconsideração da necessidade depadrões, métodos e modelos univer-sais. Valeria a pena ver até que pon-to a agenda de RSE está sendo do-minado pelos dogmas dos paisesdesenvolvidos.

Visser encerra o artigo observan-do que, para seu continente, a res-ponsabilidade ética – incorporandoa boa governança – deveria ser prio-ridade, porque é a chave para outrasdimensões. Boa governança é con-dição primordial para a existência –e manutenção – de empresas res-ponsáveis. As incertezas levantadasno artigo podem ser facilmente trans-feridas para a realidade brasileira.Sem cair na armadilha do relativis-mo cultural, o autor abre espaço paraa identificação de novos temas depesquisa e debate aplicáveis ao con-texto nacional.

Mas talvez a lição mais importan-te é que o movimento brasileiro deRSE faria bem em prestar mais aten-ção ao que acontece fora das regi-ões tradicionais (Europa e EstadosUnidos). Ásia, África e o próprio con-tinente latino-americano devem es-tar repletos de experiências e apren-dizagens pouco exploradas. 31

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GUINADASESTRATÉGICAS

nos de pesquisa, inúme-ras conferências e milha-res de campanhas pare-

cem ter surtido efeito para que as em-presas incorporassem critérios socio-ambientais em suas operações. Passouo tempo em que pequenos empreen-

dedores inspirados e engajadosprocuravam solitariamente fa-zer a sua parte para chegar aum mundo mais sustentávele justo. Pouco a pouco, gran-des corporações apresentamguinadas estratégicas e con-firmam que responsabilidadesocioambiental é business,

big business. Embora isso geralmenteseja louvado, os críticos seguem emestado de alerta, desconfiados com asinceridade e preocupados com as ver-sões brandas dos líderes dos merca-dos.

O vice-presidente da General Elec-tric (GE), Benjamin W. Heineman Jr., re-sumiu um dos argumentos mais pode-rosos para validar o programa Ecoma-gination, lançado há um ano: “Greenis green”. Ou, por extenso, tecnologi-as limpas (verdes) para reduzir o efeitoestufa e ao mesmo tempo ganhar dóla-res (verdes). Sistemas de iluminaçãoeficiente, tecnologia de purificação daágua, automóveis híbridos, células decombustível e energia solar estão nofoco dos recursos da empresa dentrodo programa. Investimentos de maisde 1,5 bilhãos de dólares e negóciosprevistos até 20 bilhões de dólares anu-ais em 2010 mostram que o negócio é

Corporaçõesmodificam seusprocedimentos

para não perdermercado

PAU

L KE

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Grafite em murode Buenos Aires

A

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sério. Críticos aplaudem, ressalvandoque a GE poderia fazer mais lobby jun-to ao governo federal norte-americanoe tem grandes interesses comerciais emenergia nuclear.

Já a Nike surpreendeu ao identifi-car seus fornecedores no balanço so-cial de 2005 – procurando, dessa for-ma consolidar sua estratégia de aber-tura, transparência e interação com aspartes interessadas a fim de rebater ascríticas persistentes de que explora in-diretamente trabalhadores nos paísesem desenvolvimento. De fato, o apri-moramento dos sistemas de fiscaliza-ção das condições de trabalho nas fá-bricas dos fornecedores é um tema quevem ganhando relevo a cada dia. Mes-mo assim, céticos lembram que a Nikeestá repassando o custo das melhori-as aos seus fornecedores e que nadadisso trata de uma questão essencial:a baixa remuneração dos trabalhado-res, principalmente se comparada aosgastos em propaganda e aos valorespagos aos atletas para promover amarca.

BASE DA PIRÂMIDEForçada pela concorrência na Ín-

dia, a Unilever local lançou uma ver-são de uma marca conhecida de xampuadaptada para a população de baixarenda (embalagem menor, rede de dis-tribuição segmentada, composição di-ferente). O tremendo sucesso dessaabordagem motivou uma reexploraçãodo mercado brasileiro e entrou na lite-ratura como exemplo eloqüente sob oconceito da “base da pirâmide”. Em2004, o guru de negócios C.K. Praha-lad popularizou essa corrente, que con-sidera os pobres como empreendedo-res criativos e consumidores consci-entes. Segundo ele, tal enfoque signi-fica que não se fornece apenas produ-tos, mas também dignidade, fortaleci-mento das ações e escolha. Fala-se do“novo capitalismo inclusivo”, que nes-te sentido se encaixa perfeitamente napolítica de responsabilidade socioam-biental do gigante químico.

Não faltam senões. Críticos men-cionam que o vínculo de novos merca-dos e inclusão social poderia ser váli-do quando se fala de micro-crédito ouda tecnologia de informação, mas le-vantam suspeitas sobre a relação en-tre fortalecimento das ações e xampu,principalmente com este último acom-panhado de massivas campanhas pu-blicitárias.

Depois de muitos anos de críticasferozes, a Wal-Mart incorporou na suapolítica comercial os resultados de umlevantamento de opinião entre suaspartes interessadas e embarcou na“onda” de responsabilidade socioam-biental. No final de 2005, a maior redevarejista do mundo anunciou, entreoutras medidas, a intenção de reduzira emissão dos gases que causam o efei-to estufa em 20% em sete anos, a me-lhoria dos planos de saúde dos funci-onários norte-americanos, a introdu-ção de linhas de roupas ecológicas euma cobrança mais direta para que seusfornecedores estrangeiros sigam pa-drões socioambientais. Os comentári-os variam de elogios pelo impacto queuma empresa deste porte pode ter até

completa descrença na seriedade deseus propósitos. Estão na mira as con-dições de trabalho dos funcionáriostemporários e dos fornecedores.

Corporações como a Nestlé, querecém tornou público seu entendimen-to da responsabilidade social; a Shelle a British Petroleum, com a procurapor fontes de energia alternativa; ou obanco ABN-Amro, que usa seu perfilsocioambiental avançado como dife-rencial mercadológico, engrossam a lis-ta de exemplos. Cada vez mais os líde-res em diferentes setores levam a sérioas expectativas sociais e ambientaisexistentes nos mercados onde operam.Porém seus movimentos são natural-mente lentos e muitas vezes não che-gam aos níveis de responsabilidade de-sejados pelos ativistas e acadêmicos.Padrões e formas de auditoria são co-piados e adaptados, invariavelmentepara versões mais brandas e em geraldeixando de fora ansiedades mais es-truturais como a própria divisão dovalor agregado entre as partes interes-sadas e a preocupante desigualdadesocial. Entretanto, a incorporação deaspectos socioambientais pelos mas-todontes globais também representaum avanço mais que significativo emescala e, com isso, em impacto futuro.

O tamanho de impacto versus qua-lidade da responsabilidade social acir-ra as discussões no mundo de sindi-catos e ongs. As alternativas são vári-as: mudar o foco para outras empresasque ainda nem iniciaram o processo,estabelecer um engajamento ativo e crí-tico com as empresas líderes, desen-volver alternativas para temas novosou manter-se reservado e distante parapoder confrontar sem compromisso. Éprovável que o mix dessas alternati-vas estimule as empresas a progredirna longa trilha por um mundo susten-tável e justo. Depende delas provar queesses avanços são autênticos, sobre-tudo quando passam por momentos fi-nanceiros de maior aperto.

(PSij)

LASZ

LO

GE: tecnologiaslimpas rendem dólares

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34

responsabilidade social

67,2

O novo jeito de fazer negócios

Instituto Akatuelaborou um con-junto de dicas de

consumo consci-ente com grande im-

pacto no cotidiano. Sãoprincípios em que a satisfação das ne-cessidades humanas caminha junto àpreservação dos recursos naturais doplaneta. Na visão da entidade, a cons-trução de uma nova sociedade de con-sumo passa por uma mudança de men-talidade, que troque o paradigma daabundância pela consciência da escas-sez. O presidente do instituto, Helio Mat-tar, conversou com Primeiro Plano.

O consumo consciente não costumaocupar muito espaço na agenda deresponsabilidade social. O que levouo Instituto Akatu a tomar essainiciativa?Helio Mattar -Queremos que osconsumidores façam do seu ato deconsumo um ato de cidadania, umato político de escolha do mundoonde querem viver. Assim, para asempresas efetivamente engajadasno processo de ResponsabilidadeSocial Empresarial (RSE), quantomais consciente for o consumidor,mais elas se diferenciarão peranteele, mais elas serãorecompensadas por ele. O Akatu,portanto, não se propõe a trabalhar oconsumo consciente a partir dasagendas de RSE das empresas.Nós trabalhamos o tema a partir daconscientização dos indivíduos.Quando um consumidor é

Satisfação epreservação devemandar juntas

consciente, acaba naturalmentelevando este conceito a todos queconvivem com ele, inclusive ao seuambiente de trabalho. Assim, oconsumo consciente acaba sendoabsorvido pelas empresas.

Por que o primeiro ponto éjustamente “planeje suas compras"?Mattar - Ao planejar, o consumidortraz à consciência seu ato deconsumo. Fazer escolhas é umelemento essencial para oconsumidor consciente. Ao planejar,o consumidor está fazendoescolhas. Tentamos montar umpequeno roteiro que ajudasse osconsumidores a perceber quepequenas atitudes do cotidiano sãocapazes de trazer sustentabilidade àhumanidade. Mas não existe umaseqüência obrigatória. Pode-secomeçar por qualquer um dosprincípios, levando em conta o quefor mais fácil de operacionalizar emseu dia-a-dia.

Todos os pontos exigem do cidadãoum envolvimento que vai além da

OCURSO A

DISTÂNCIA

O curso de Res-ponsabilidade SocialEmpresarial, Modelode ImplementaçãoPrática, é o primeirode seu gênero namodalidade de cur-sos a distância nonível latino-america-no. Desenvolvidopela UniversidadeTecnológica Metro-politana (Chile), temcomo objetivos de-senvolver competên-cias específicas eaplicar instrumentosque permitam pe-quenas, médias egrandes empresasimplementar políti-cas e programas deResponsabi l idadeSocial Empresarialnos âmbitos públicoe privado em umcontexto internacio-nal. As inscriçõesestão abertas e oscursos começam emagosto de 2006.

www.utemvirtual.cl/dprs

A opção decomprar bem

bilhões de reais é ocusto estimadopelo Instituto Ethospara elevar indica-dores dos negrosao nível dos bran-cos em educação,habitação e sanea-mento.

DIV

ULG

AÇÃO

Hélio Mattar: escolha é ato político

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reação a estímulos, cobrando deleuma postura pró-ativa. Como oInstituto Akatu espera sensibilizar asociedade a adotar tal postura?

Mattar - Provocar movimentos demobilização social e de mudançasde atitude é um enorme desafio e oAkatu certamente não pretende fazertudo sozinho. Nossa estratégia é agiratravés dos meios de comunicação eda educação, tanto nas escolas,quanto em suas outras formas. Para

PLANEJE SUAS COMPRAS - Não seja impulsivo nas compras. Aimpulsividade é inimiga do consumo consciente. Planeje antecipadamente e,com isso, compre menos e melhor.

AVALIE OS IMPACTOS DE SEU CONSUMO - Leve em consideração omeio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo.

CONSUMA APENAS O NECESSÁRIO - Reflita sobre suas reaisnecessidades e procure viver com menos.

REUTILIZE PRODUTOS E EMBALAGENS - Não compre outra vez o quevocê pode consertar, transformar e reutilizar.

SEPARE SEU LIXO - Recicle e contribua para a economia de recursosnaturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos.

TOME CRÉDITO CONSCIENTEMENTE - Pense bem se o que você vaicomprar a crédito não pode esperar e esteja certo de que poderá pagar asprestações.

CONHEÇA E VALORIZE AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE

SOCIAL DAS EMPRESAS - Em suas escolhas de consumo, não olheapenas preço e qualidade. Valorize as empresas em função de suaresponsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente.

NÃO COMPRE PRODUTOS PIRATAS OU CONTRABANDEADOS -Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua paragerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.

CONTRIBUA PARA A MELHORIA DE PRODUTOS E SERVIÇOS - Adoteuma postura ativa e envie às empresas sugestões e críticas construtivassobre seus produtos/serviços.

DIVULGUE O CONSUMO CONSCIENTE - Seja um militante da causa:sensibilize outros consumidores e dissemine informações, valores epráticas do consumo consciente. Monte grupos para mobilizar seusfamiliares, amigos e pessoas mais próximas.

COBRE DOS POLÍTICOS - Exija de partidos, candidatos e governantespropostas e ações que viabilizem e aprofundem a prática do consumoconsciente.

REFLITA SOBRE SEUS VALORES - Avalie constantemente os princípiosque guiam suas escolhas e seus hábitos de consumo.

PRINCÍPIOS DO CONSUMIDOR CONSCIENTE

isso, desenvolvemos maneiras deapresentar e transmitir mensagensque despertem nas pessoas aconsciência quanto à importância desuas ações diárias comoconsumidores. Mas uma peçafundamental para o sucesso dessaestratégia é que cada consumidorconsciente seja um agentemultiplicador, ou seja, que transmitaas mensagens que recebeu paramuitas outras pessoas, criando umagrande corrente positiva.

Empresas de mídiae relatórios sociais

Respon-sabil ida-de jorna-lística, umtema pou-co debati-do pelosgrupos demídia, co-meça aa p a r e c e rnos docu-mentos pú-

blicos das empresas. É o caso dojornal britânico The Guardian, quedivulgou seu terceiro relatório soci-al, ético e ambiental. Boa parte dodocumento é dedicada à integrida-de jornalística e à transparência. Aempresa reconhece, em tom fran-co, que está “no negócio de colocarcoisas na cabeça das pessoas e,portanto, pode ser uma força para obem ou para o mal”, e que mesmoa escolha das palavras pode influ-enciar as opiniões dos leitores.

A ITV, maior grupo de televisãocomercial do Reino Unido, publicouem 2005 um relatório de Respon-sabilidade Social em que tenta res-ponder questões como a relaçãoentre novelas e desenvolvimentosustentável, o investimento na eco-nomia criativa e o nível de represen-tação de minorias na tela e entre osempregados.

No Brasil, a Rede Brasil Sul deComunicações (RBS) divulga umbalanço social e tem um Guia deÉtica e Responsabilidade Social –“um conjunto de orientações parafacilitar aos colaboradores da em-presa o conhecimento dos valoreséticos e editoriais, assim como suaaplicação prática em situações detrabalho”.

O Estado de São Paulo lançourecentemente seu primeiro relató-rio de Responsabilidade Corpora-tiva, que enfatiza as conquistas nosúltimos anos e informa sobre aspropostas para o futuro. O relatórioinforma que o grupo está adotandogradualmente as diretrizes da Glo-bal Reporting Initiative (GRI), pa-drão adotado por empresas rumoà sustentabilidade.

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Aparece pelo sétimo ano conse-cutivo na lista. Suas práticas têmmais foco na comunidade, comações de inclusão digital.

Aumentou as preocupações como desenvolvimento e com o pro-duto final vendido ao consumidor.Ganhou o reconhecimento da Se-cretaria de Estado Americano porapresentar as melhores práticasmundiais na área de cidadania cor-porativa entre todas as subsidiári-as americanas pelo mundo.

A empresa de redes de internet esoluções foi selecionada pelo con-junto de ações que envolvem acomunidade, em especial ativida-des educativas, preocupação como produto final e relações gover-namentais.

Bom relacionamento com funcio-nários. Seu foco maior está nasações para a comunidade.

Apresentou a pontuação mais ex-pressiva no quesito relações comos funcionários. A preocupação dafabricante de componentes de in-formática é colaborar com o pro-gresso da tecnologia ligada à com-putação. Por isso, investe muitono desenvolvimento dos colabo-radores.

Ênfase nas ações que envolvemcomunidade.

Mantém projetos de inclusão digital. Divulga que o público interno contacom incentivos profissionais, política de benefícios e de retenção detalentos, cursos de especialização, certificações e políticas de cuidadoscom a saúde, segurança e condições de trabalho. Campanhas de reciclagemde baterias e de lixo em geral, praticadas em várias unidades da HP noPaís, e o recente trabalho de desenvolvimento de material reciclável paraembalar impressoras revelam os cuidados da companhia com o meioambiente.

As ações da empresa abrangem iniciativas educacionais, sociais, cultu-rais e de meio ambiente. A concepção arquitetônica do Campus Industriale Tecnológico de Jaguariúna (SP), por exemplo, está totalmente baseadaem soluções de preservação ambiental, para minimizar drasticamentequalquer tipo de impacto causado. Entre outras ações, a empresa patro-cina o Projeto Guri, uma das iniciativas do governo paulista que visa àinserção social por meio da música, atendendo cerca de 400 jovenscarentes.

Segue a mesma política: ajuda as comunidades a prosperar e estimulaseus funcionários a conhecerem as necessidades dos locais onde aempresa atua. Para ajudar a ampliar a educação em todo o mundo,fundou as Academias de Redes Cisco em 128 países, dedicadas aensinar alunos a projetar, construir e manter redes de computadores.

Mantém parceria com a Fundação Pensamento Digital (FPD) para doarequipamentos de informática para projetos sociais de inclusão digital emcomunidades de baixa renda. Instituída em 2000, a FPD já transformou avida de mais de 13 mil jovens no Rio Grande do Sul ao beneficiar 54organizações comunitárias com a formação de educadores, doação decomputadores e/ou conexão à internet.

O raciocínio é parecido. Para a empresa a inovação é um fator-chavepara impulsionar o crescimento do país. Mantém projetos de inclusãodigital, como os clubhouses que ensinam atividades ligadas ao mundovirtual, e ações educacionais, entre outros programas.

Mantém uma forte política de apoio à comunidade, tendo ações como aEscola de Enfermagem Robert Wood Johnson, com o objetivo de suprira carência de profissionais para trabalhar na área da saúde; o programaCasa Aberta com a Comunidade – que promove a troca de experiênciasentre a Johnson & Johnson Brasil e representantes de entidades sociais;e o programa Menor Carente - Jovem Trabalhador, na qual jovens de 16a 18 anos realizam estágios remunerados em áreas administrativas dacompanhia. Há ainda uma parceria batizada de Habilitação Profissionalvoltada a deficientes físicos e mentais, que recebem treinamentoprofissionalizante e realizam atividades dentro da empresa. Muitas outrasatividades são realizadas em parceria com a prefeitura de São José dosCampos (SP), onde está sediada a multinacional.

Dell

Johnson &Johnson

Intel

Cidadãs nos EUA. E no Brasil?

HewlettPackard

Motorola

Cisco

EMPRESA

Entre as 100 corporações que fazem parte do ranking de empresas cidadãs da revista norte-americana Business Ethics, lançada em abril deste ano, muitas possuem subsidiárias no Brasil.Das 20 melhores colocadas, seis grandes empresas – cinco de tecnologia e uma do ramo de belezae higiene – atuam no país. PrimeiroPlano checou se aqui elas também aplicam a filosofia social-mente responsável.

# NOS EUA NO BRASIL

responsabilidade social

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O Instituto Ethos de Empresas e Res-ponsabilidade Social realiza, entre osdias 19 e 22 de junho, a sua ConferênciaInternacional 2006, cujo tema é "O papelda empresa socialmente responsável emuma sociedade sustentável".

Fazem parte da pauta de debates di-versos aspectos da gestão socialmenteresponsável e dos seus impactos para asustentabilidade da sociedade. As so-luções estão sendo construídas grada-tivamente a partir da consciência cres-cente de que há uma necessidade de serepensar em profundidade modelos eprocessos. É um período dedicado a umareflexão mais profunda sobre a finalida-de social das atividades corporativas ea real dimensão do poder transformadorda responsabilidade social empresarial.

Houve um tempo em que se acredi-tava que a finalidade da empresa era suaprópria sobrevivência, como se não per-tencesse a esta mesma sociedade querecebe os impactos (negativos e positi-vos) dos processos, produtos e servi-ços gerados por esta empresa. Com ascrescentes demandas dos cidadãos,mais organizados e informados, as em-presas vêm buscando uma outra manei-ra de fazer negócios, reconhecendo quehá múltiplas partes interessadas alémdos acionistas. Assim, é preciso relaci-onar-se com estas partes, de forma éticae transparente, para gerar a confiançaimprescindível a um padrão de relacio-namento duradouro e construtivo.

Esta maneira ética e transparenteexige gestores dotados de competênci-as e habilidades ainda não ensinadasnas escolas de administração. Três de-las, a meu ver, são fundamentais.

A primeira é a visão sistêmica. Numasociedade globalizada e tecnológicacomo a nossa, precisamos lidar com inú-meros fatores, muitos deles incontrolá-veis e imprevisíveis. A sobrevivência da

A gestãoresponsável

RICARDO YOUNG

Presidente do InstitutoEthos e do UniEthos.

empresa depende, então, de uma perma-nente condição de ajuste e flexibilidade àscircunstâncias e não só de respostas ade-quadas. Aliás, esta adequação está na ra-zão direta desta mesma flexibilidade. Paraemular esta condição, as empresas preci-sam estimular a sua capacidade de apren-dizado aliada a uma permanente prontidãopara inovar.

A segunda é a formação ética. Funda-mentos referenciados em valores possibi-litam a construção de laços de confiança,essenciais em cenários imprevisíveis. Aconstrução da confiança entre os interlo-cutores e agentes exige uma gestão políti-ca dos relacionamentos, entendendo-sepor isto o exercício do diálogo, da tolerân-cia, da empatia (entender e colocar-se nolugar do outro) e do equilíbrio na realiza-ção dos interesses das partes.

A terceira habilidade é a gestão destesmesmos valores. Não basta possuí-los,eles precisam ser traduzidos em proces-sos, modelos e metodologias que consubs-tanciem esta mesma abordagem sistêmicae inclusiva de gestão. Para isso, a gestãosocialmente responsável precisa contarcom as novas ferramentas de gestão quehabilitam o gestor ao monitoramento des-tes diversos níveis de compromisso. O re-sultado será uma empresa solidamenteancorada em princípios e práticas que, aoproduzirem sólida reputação e inteligên-cia empresarial, conduzirão a oportunida-des de negócio e a uma competitividadepoucas vezes experimentada.

Uma outra cultura de negócios vai nas-cer a partir do desenvolvimento destashabilidades, criando condições de assimi-lação da responsabilidade social empresa-rial como visão sistêmica e uma nova ma-neira de gerenciar processos, produtos eserviços. Por quanto tempo nossas esco-las de Administração e o RH das empresascontinuarão a ignorar esta evidência?

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Clóvis Scherer*

ISO26000UM PASSO A MAIS

ENCONTRO EMLISBOA AVANÇA EMTEMAS IMPORTANTESPARA REGULAMENTAR ANORMA SOBRERESPONSABILIDADE SOCIAL

Lisboa sediou, em maio, a terceiraReunião Plenária do Grupo de Traba-lho que está elaborando a ISO 26000, anorma que dará orientações sobre res-ponsabilidade social. O encontro avan-çou em pontos essenciais da futuranorma, mesmo que em caráter provisó-rio, abrindo caminho para prossegui-rem os debates até a próxima reunião.Consolidou-se o principal resultado daPlenária anterior, realizada em setem-bro do ano passado em Bangkok: a es-trutura adotada para emoldurar a futu-ra norma, bem como o trabalho inicialdos três subgrupos que, desde então,começaram a redigir o conteúdo deseus capítulos.

Outro sinal importante de progres-so foi o aumento do número de partici-pantes. Da assembléia de Salvador, em

março de 2005, ao recente encontro nacapital portuguesa, os países envolvi-dos pularam de 43 para 64, enquantoos especialistas saltaram de 225 para315 – com destaque para a ampliaçãode indicados por organizações inter-nacionalmente relevantes na área daresponsabilidade social. Entram nestacondição organismos multilaterais,como a ONU, Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT) e Organizaçãopara Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE), até ongs e entida-des representativas de trabalhadores(Confederação Internacional das Orga-nizações Sindicais Livres - Ciosl) e deempregadores (Organização Internaci-onal de Empreendedores - IOE).A questão da participação, contudo,permanece candente. O desequilíbrio

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numé-rico éeviden-te, comuma imensamaioria forma-da por representan-tes das empresas e de institui-ções enquadradas como “serviços,pesquisa e outros”, muitos deles con-sultores e acadêmicos. De outro lado,as delegações de trabalhadores, con-sumidores e ongs continuam as me-nos representadas. Tal descompassosó não afetou a qualidade do trabalhopor causa da adoção do consenso nasdecisões – princípio que tem valoriza-do os segmentos sub-representados elevado a uma postura geral de abertu-ra em relação às diferentes visões.

Mas, a partir de um determinadoponto, serão os organismos de norma-lização que decidirão, por voto, o pros-seguimento do processo. Isso gerauma apreensão sobre a forma comoesse voto será composto, uma vez quea participação das partes interessadasnos países, por meio de “comitês es-pelho”, é menos garantida. Também

continua na agenda do grupo de tra-balho a busca de maior equilíbrio nu-mérico e maior presença de países emdesenvolvimento. Afora o natural pro-blema da falta de recursos, desconfia-se que falte empenho por parte de or-ganismos nacionais de normalizaçãoem promover e viabilizar a presença derepresentantes de certas categorias destakeholders.

A participação de especialistas bra-sileiros envolveu as seguintes organi-zações e segmentos sociais: Furnas(representando o setor empresarial emsubstituição à Natura), Dieese (traba-lhadores), Idec (consumidores), Insti-tuto Akatu (ongs), Ministério da Ciên-cia e Tecnologia (governo) e a ABNT(serviços, suporte, pesquisa e outros).O Instituto Ethos participa na condi-ção de organização D-Liaison.

DEFINIÇÃO PROVISÓRIAO encontro de Lisboa teve como

metas debater os mais de 2.100 comen-tários feitos pelos especialistas à pri-meira minuta de trabalho e encaminhara produção da segunda minuta. Dos60 tópicos centrais identificados, 11 fo-ram prioritários por refletirem sobre so-bre mais de um capítulo da norma. Paranortear as próximas discussões, a reu-nião adotou uma definição provisóriade responsabilidade social, que incluiuos conceitos de desenvolvimento sus-tentável e de interesses sociais, o cum-primento da lei como requisito básicopara as ações da organizações e a inte-gração da responsabilidade social nasatividades do dia-a-dia das organiza-ções. Nesse sentido, o texto deverá tra-tar claramente do tema da filantropia,mas já está definido que essa práticanão faz parte da definição de respon-sabilidade social.

A ISO 26000 articulará três tipos deprincípios na seção a eles dedicada. Oprimeiro serão os princípios gerais,como o de respeitar convenções e de-clarações internacionais. O segundorefere-se ao conteúdo da norma, comodireitos humanos, meio ambiente e as-sim por diante. E o terceiro, princípiosde operacionalização, englobando atransparência e a relação com partesinteressadas, entre outros. Essa reso-lução acabou com uma polêmica so-bre o entendimento do que era um prin-cípio de responsabilidade social, emque alguns enfatizavam princípios deconduta enquanto outros atribuíammaior peso a princípios ditos substan-tivos. Outro ponto é a definição do ter-mo stakeholder (parte interessada) eseu engajamento.

A decisão da ISO foi elaborar umanorma de diretrizes em responsabilida-de social dirigida para todos os tiposde organização. Essa determinação temgerado um debate constante sobre otratamento que será dado às empresas,na norma. Há um temor de que a for-mulação das diretrizes, por se dirigir a

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O Brasil foi o primeiro país adesenvolver uma norma de-dicada à responsabilidadesocial. O pioneirismo garan-tiu ao país um papel impor-tante na elaboração de umacertificação internacionalsobre o tema – não à toa, oencontro que abriu as dis-cussões sobre os parâme-tros da ISO 26000 ocorreuem Salvador, em 2005. Lan-çada pela Associação Bra-sileira de Normas Técnicas(ABNT) no ano anterior, anorma 16001 leva em contaa participação da empresano desenvolvimento da co-munidade, a diversidade eo combate à discriminaçãono local de trabalho, o com-promisso com o aprimora-mento dos funcionários e aconformidade com as leisda concorrência (sem práti-cas desleais), entre outros.

organizações em geral, perca o signifi-cado concreto para a conduta das em-presas. Evidentemente a ISO 26000 terácomo campo prioritário de aplicação oambiente corporativo. A questão vol-tou a ser debatida em Lisboa, reafir-mando o princípio de aplicabilidadeampla, mas com a possibilidade de se-rem inseridas diretrizes específicaspara empresas sempre que haja o riscode diluição do seu significado. O gru-po também considerou que aspectoseconômicos da responsabilidade so-cial (um dos tri-pés da susten-tabilidade), de-verão ser abor-dados no do-cumento, aolado dos aspectos sociais e ambien-tais. A viabilidade financeira, contudo,não estará no centro das atenções.

A norma irá abordar os seguintestemas: meio ambiente, direitos huma-nos, relações de trabalho, governançaorganizacional, práticas empresariaisjustas, envolvimento comunitário/de-

senvolvimento social e questões dosconsumidores. Os direitos fundamen-tais no trabalho deverão integrar o itemdireitos humanos, reservando para otema relações de trabalho assuntoscomo treinamento, condições de tra-balho e emprego. Mais complicada foia construção do consenso em tornoda abordagem do tema práticas empre-sariais justas (fair business practices)pois fazia retornar a discussão anteri-or entre focar ou não nas organizaçõesempresariais. Novamente, a conclusão

foi de que talseção não serestringirá aosetor empresa-rial, tambémabordando as

práticas dos outros tipos de organiza-ção. E o item das questões dos consu-midores também dirá respeito a ques-tões afetas às relações entre usuáriose prestadores de serviços (públicos eprivados). Aspectos econômicos, saú-de e segurança e cadeia produtiva se-rão tratados transversalmente. O temada cadeia produtiva deverá figurar aolongo de todo o texto, de forma amplae não apenas na seção que trata demecanismos de implementação, comoalguns sugeriam.

Por fim, ficou estabelecido um ca-lendário para a próxima fase de discus-sões, que se estenderá até a quartaReunião Plenária, a ser realizada entrejaneiro e fevereiro do ano que vem emSidney, na Austrália. O que se podedizer, até agora, é que houve avançoscompondo interesses divergentes, quenão deixaram de se expressar. Restasaber se tal capacidade coletiva terásucesso até o final dos trabalhos.

* Clóvis Scherer é representante do Dieese noGrupo de Trabalho Responsabilidade Socialda ISO, na cadeira reservada a trabalhadores.

Participação numerosa não evitoudesequilíbrio entre delegações de empresase representantes de trabalhadores, comoScherer (abaixo, à dir.)

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ULG

AÇÃO

Campo prioritáriode aplicação será oambiente corporativo

País épioneiro

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ENSAIO

PROFISSÕESPERIGOSAS

RENATO REISbombeiro I Não é exagero afirmar que ser bombeiro é uma questão de vocação. Afinal, essa é uma função que está acostumada comincêncios, resgates e toda a espécie de acidentes – por um salário que, na maioria dos casos, obriga os profissionais a exerceremocupações paralelas. Diante disso, cabe o clichê: a compensação por salvar vidas vale mais do que qualquer remuneração.

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segurança | Cuidar da segurança de um show musical. Um trabalho tranqüilo, agradável, divertido e em lugar privilegiado... Não sefor uma apresentação de um artista que atrai fãs ensandecidos, dispostos a qualquer loucura para chegarem mais perto do ídolo.Entre socos e empurrões, nem dá para pensar em assistir ao show!

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ENSAIO

REN

ATO

REI

S

professor I Um estudo da Unesco chamado Pesquisa de Vitimização, que consultou 2400 professores de seis capitais brasileiras(São Paulo, Rio, Salvador, Porto Alegre, Belém e Brasília), apontou que 86% deles admitem haver violência em seu local de trabalho.Mais da metade dos professores afirma haver casos de furtos nas escolas onde trabalham. Um em cada dez conhece casos degangues e de traficantes atuando nas instituições. E 30% já viram algum tipo de arma nas mãos de seus alunos.

Paraense de 22 anos, trocou o cursouniversitário de computação pelafotografia em 2004. Emplacou trêsimagens no 12º Salão daUniversidade da Amazônia (Unama)de Pequenos Formatos. Anda semprecom a câmera na mochila, prontopara registrar fatos que oimpressionem. “Gosto de fotografartudo o que dê uma boa foto”, conta.

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45SERGIO VIGNES

agricultor I A aplicação indiscriminada de agrotóxicos afeta a saúde humana e a natureza. Estima-se que esses venenos sejamos responsáveis por mais de 20 mil mortes não intencionais por ano, a maioria nos países não-desenvolvidos, onde 25milhões de trabalhadores agrícolas são intoxicados de forma aguda.

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ENSAIO

SÉR

GIO

VIG

NES

construção civil I Segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho, em 2004 ocorreram mais de 31 mil acidentes naconstrução civil no Brasil, dos quais 1.174 provocaram incapacidade permanente e 314, a morte. Especialistas estimam que onúmero real de acidentes de trabalho é cinco vezes maior que os dados oficiais.

Florianopolitano de 52anos, há 26 trocou aengenharia mecânicapela fotografiaprofissional. Dedica-seprincipalmente aojornalismo dedenúncia. Também fazfotos de gastronomia earquitetura.

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carvoeiro I Os trabalhadores em carvoarias têm uma atividade bastante precária em termos de saúde e segurança. Em geralnão possuem nenhum equipamento de proteção exigido por lei, como luvas e botas. Ficam expostos à fuligem e às altastemperaturas dos fornos. Desconhecem o direito à sindicalização e estão sujeitos a trabalho escravo.

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INCLUIR Novas Tecnologias Sociais

“Mesmo que a palavra Semi-Ári-do signifique árido pela metade, a re-gião pode ser sustentável por intei-ro.” Esse é um dos lemas da campa-nha difundida pela Articulação noSemi-Árido Brasileiro (ASA). A certe-za de que a alternativa não é o êxodofoi confirmada na oficina regional daRede de Tecnologia Social (RTS), rea-lizada em maio em Recife. Quarenta eseis instituições reuniram-se para com-partilhar produtos, técnicas e metodo-logias – reaplicáveis – desenvolvidasem interação com a comunidade e querepresentam soluções de transforma-ção social no semi-árido.

A região se estende por uma áreaque abrange a maior parte de todos osestados do Nordeste (86,48%) o Nor-te de Minas Gerais (11%) e o EspíritoSanto (2,51%), ocupando uma área de974.752 km2. Seus desafios tambémtêm grandes proporções. As condi-ções naturais são desfavoráveis – secana maior parte do ano – e há uma ca-rência de políticas públicas eficientes.

Em 1999, organizações sociais daregião apresentaram alternativas, re-gistradas na Declaração do Semi-Ári-do – Propostas para a Convivênciacom o Semi-Árido e Combate à De-sertificação. O documento afirma, porexemplo, que “quando a seca castigaa região, as câmeras começam a mos-trar as eternas imagens de chão racha-do, água turva e crianças passandofome. São imagens verdadeiras, en-quanto sinais de alerta para uma situ-

milhões de reais éo total de recursosprevistos para in-vestimentos emprojetos contrata-dos pelo edital so-bre Tecnologia deIncubação de Incu-badoras de Empre-endimentos Solidá-rios. A chamadapública foi propos-ta no contexto dasações priorizadaspela RTS para obiênio 2005/2006.Ao todo, foramcontemplados 21projetos, abrangen-do todas as regiõesdo país. A iniciati-va reúne recursosdo Ministério doDesenvolvimentoSocial e Combateà Fome (MDS),Caixa EconômicaFederal e Finan-ciadora de Estudose Projetos (Finep).

TECNOLOGIASAPLICADAS

A Rede de Tecno-logia Social (RTS)apóia iniciativas ca-pazes de gerar traba-lho e renda. Paraisso, desde o anopassado estão pre-vistos investimentosde R$ 14 milhões noSemi-Árido e Sertãodo São Francisco,Amazônia Legal eperiferia dos gran-des centros urbanose dos municípios deregiões metropolita-nas. Exemplos dastecnologias aplica-das:• Produção Agroeco-

lógica Integrada eSustentável, conhe-cida como "Pais";

• Instalação de 65unidades (minifá-bricas e centrais)para beneficiamen-to e comercializa-ção de castanha-de-caju na regiãoNordeste;

• Ações de empreen-dimentos solidáriosna comunidade Ci-dade de Deus (RJ);

• Meliponicultura (cri-ação de abelhassem ferrão) noAmazonas;

• Apoio ao desenvol-vimento do Progra-ma P1+2, "UmaTerra e Duas Á-guas", em dez es-tados do Semi-Ári-do.

Terra fértil emoportunidades

Encontro discute soluçõesde transformação social nosemi-árido nordestino

3,1

Michelle Lopes

ação de emergência. Mas são, também,imagens redutoras, caricaturas de umpovo que é dono de uma cultura ri-quíssima, capaz de inspirar movimen-tos sociais do porte de Canudos eobras de arte de dimensão universal –como o clássico Grande Sertão: Ve-redas, de Guimarães Rosa”.

UM MILHÃO DE CISTERNASDe lá para cá, diversas iniciativas

vêm sendo desenvolvidas no semi-árido. Entre elas, destaca-se o progra-ma Um Milhão de Cisternas (P1MC),com ações em 974 municípios. A ini-ciativa é uma realização da ASA com oapoio do Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome, daFederação Brasileira de Bancos (Fe-braban) e da Oxfam. Até o momento,já foram construídas mais de 133 milcisternas domiciliares. “Mais de meiomilhão de pessoas passaram a ter águalimpa e de qualidade para o consumohumano, na porta de casa”, explica arepresentante da ASA no Comitê Co-ordenador da RTS, Marilene Nasci-mento Melo.

A previsão é de que o P1MC sejaimplementado em cinco anos, conta-dos a partir de julho de 2003, com cus-tos totais de US$ 424,3 milhões. Ascisternas de placas de cimento para acaptação de água da chuva repre-sentam uma solução de acesso a re-cursos hídricos, o que provoca gran-des impactos nas condições de vidada população na região. Elas são des-

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tinadas às comunidades rurais de bai-xa renda que sofrem com os efeitos dassecas prolongadas.

O Núcleo de Educadores Popula-res do Sertão de Pernambuco – Centrode Formação e Estudo é a instituiçãocoordenadora do P1MC na microrre-gião do sertão de Pernambuco. Na ofi-cina da RTS, essa experiência foi com-partilhada. Para o diretor do Núcleo,Manuel Ireno de Sousa, o programatem grande importância, sobretudoporque faz com que as pessoas se per-

As cisternas de placas são reservatórios com capa-cidade para 16 mil litros de água construídos junto aosdomicílios da população de baixa renda da área rural doSemi-Árido. A solução permite que uma família de cincopessoas tenha água para beber, cozinhar e escovar osdentes durante o período de seca, que chega a durar atéoito meses no ano.

Após a construção da cisterna, são instaladas ca-lhas nos telhados e, a partir de canos de PVC, a água dachuva é direcionada ao reservatório, onde fica armazena-da. A estrutura da cisterna é construída com a utilizaçãode placas de cimento, que são feitas no local da obra.

Com baixo custo de instalação, as cisternas sãoconstruídas com mão-de-obra local e com materiaisadquiridos na própria região. As famílias beneficiárias

cebam como cidadãs. “As famílias sen-tem-se donas das cisternas e, com isso,surge um processo de organizaçãosocial, inclusive com a implantação deassociações comunitárias”, diz.

Sousa destaca três aspectos prio-ritários entre os desafios do programa:a necessidade da continuidade do pro-cesso, após a construção das cister-nas, a importância de se trabalhar maisintensamente a auto-estima das famí-lias e a urgência de romper com con-ceitos ligados ao histórico coronelis-mo do Nordeste. “A questão da auto-

estima, por exemplo, está ligada ao fatode a pessoa, ao menos, saber escrever opróprio nome. Muitas ainda não sabeme imagino que isso dificulte o entendi-mento sobre o Programa, sua gestãodemocrática e participativa”, observa.

Marilene concorda com a necessi-dade de superar esses desafios e ex-plica que todas as ações da ASA pro-curam valorizar cada indivíduo e suasreflexões. “Buscamos, ainda, fortaleceras próprias organizações, quanto à ca-pacidade de elaboração, proposição eexecução de políticas públicas”, diz.

Água garantida durante a secap a r t i c i -pam decapacita-ção emGerencia-mento deRecursosHíd r i cos( G R H ) .Nas capa-citações,são re-passadas as técnicas de utilização e manutenção dacisterna e metodologias visando o uso racional da água,além de noções básicas de cidadania.

Mapa do Semi-Árido do Nordeste

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Tradicional “vilão” para as locali-dades que convivem com o fantasmada seca, o sol é um grande aliado doInstituto Eco-Engenho para mudar apaisagem do Semi-Árido nordestino.A ong fundada há cinco anos em Ma-ceió desenvolve o projeto H2Sol, parainstalação de sistemas de abasteci-mento de água com energia fotovoltai-ca (gerada a partir do sol) em comuni-dades rurais. “Essa é a grande energiaque temos no Semi-Árido e precisa-mos entender como pode nos favore-cer”, diz o presidente do instituto, JoséRoberto Fonseca.

O projeto atua em duas vertentes.No Sertão do São Francisco, comuni-dades já estão plantando feijão fora deépoca, entre outros produtos. Inde-pendentemente da chuva, elas têm umpainel fotovoltaico que gera energiasuficiente para bombear, por dia, 40 millitros de água.

A outra é no Alto Sertão, em SãoJosé da Tapera (AL), em uma comuni-dade chamada Baixas, que foi referên-cia no primeiro mandato do ex-presi-dente Fernando Henrique Cardoso co-mo um dos menores Índices de Desen-volvimento Humano (IDH) do Brasil.Lá foi implantado, também à base de

Estão abertas as inscrições paraa terceira seleção pública de proje-tos do Programa Petrobras FomeZero. As propostas devem ser envia-das até 14 de julho. O programa pos-sui foco no desenvolvimento com ci-dadania e prioriza ações educativase de geração de trabalho e renda.

Neste ano, serão destinados R$20 milhões à seleção, com o limitede patrocínio de R$ 660 mil por pro-jeto. As iniciativas devem possuir,como linhas de atuação, a garantiados direitos da criança e do adoles-cente, a geração de emprego e ren-da e a educação e qualificação pro-fissional.

Já começaram em todo o país asreuniões preparatórias para a Sema-na Nacional de Ciência e Tecnologia,que será realizada entre os dias 16 e23 de outubro. No ano passado, par-ticiparam 844 entidades, que reali-zaram 6.701 atividades em 332 mu-nicípios. Em 2006, a expectativa doMinistério da Ciência e Tecnologia éde que aumente o envolvimento deuniversidades, escolas e instituiçõescientíficas e tecnológicas.

A idéia é mobilizar a população,em especial crianças e jovens, emtorno de temas e atividades de ciên-cia e tecnologia, valorizando a criati-vidade, a atitude científica e a inova-ção. A semana pretende, ainda, con-tribuir para que a população possaconhecer os resultados, a relevânciae o impacto das pesquisas científi-cas e tecnológicas e suas apli-cações.

energia fotovoltaica, um sistema de hi-droponia (no qual se alimenta a plantacom água e sais minerais diretamentena raiz, sem necessidade do solo) va-lendo-se de garrafas pet recicladas.

A área hidropônica ocupa 100 m2,necessitando de apenas 200 litros deágua por dia para reposição. “Toda ainfra-estrutura exige investimentos decerca de R$ 8 mil”, afirma Fonseca. Eleconta que, a fim de buscar um produtocom maior valor agregado, os envol-vidos decidiram-se pelo cultivo de pi-menta. “Um quilo de pimenta rende 10unidades de vinagrete, a R$ 3,50 cada.Por mês, temos R$ 4.200. Tirando oscustos de produção, se obtém cercade R$ 1.260 mensais para uma família.”

A renda média, em Baixas, é de me-nos de meio salário mínimo por mês.“Toda vez que se pensa nessa popula-ção, se pensa na água para beber, nãocomo um bem, dotado de valor econô-mico capaz de produzir”, explica o pre-sidente. A produção mensal, a partirdo quarto mês de instalação do siste-ma, é em torno de 120 quilos. Na pri-meira etapa, toda a produção foi ven-dida para restaurantes em Maceió.“Agora, grupos hoteleiros já estão in-teressados”, comemora.

Geração de rendamovida pelo sol

PetrobrasFome Zero

www.petrobras.com.br

Ciência eTecnologia

semanact2006.mct.gov.br

INCLUIR

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QUANDO VOCÊ FAZ UMA COMPRA, NÃO ESTÁ ESCOLHENDO APENAS UM PRODUTO, MAS O MUNDO ONDE VAI VIVER AMANHÃ.

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CONSTRUÇÕESVERDES

Sara Caprário

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magine que qual-quer construção,seja casa, galpão ouprédio, precise apre-sentar um relatóriodo impacto ambien-

tal que vai produzir e a lista dos mate-riais utilizados na obra para conseguirautorização do órgão responsável. Pa-rece muita burocracia, mas é realidadeem alguns estados norte-americanos eobrigação para todos os prédios pú-blicos construídos naquele país. NoBrasil, estas exigências só existem nocampo dos grandes empreendimentosou mesmo obras públicas que irão afe-tar diretamente a vida de vários cida-dãos, mas já há um forte movimentoem diversos setores para garantir maiseficiência nos processos industriais,

ICARÊNCIA DE RECURSOSENERGÉTICOS FAZ A CONSTRUÇÃOCIVIL PRIORIZAR A CONSERVAÇÃODE ENERGIA E OS CONCEITOS DEECOLOGIA E DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL NOS PROCESSOS

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54produtos e edificações. Bons exemplosestão servindo para difundir o concei-to no país, como a Casa Eficiente daEletrosul (modelo para garantir efici-ência energética), em Florianópolis; aEcoHouse construída na Urca, no Riode Janeiro, como resultado de um es-tudo com envolvimento de várias em-presas; e o condomínio Genêsis, emSão Paulo, erigido com base em váriasregras de respeito ao meio ambiente.

No mundo, as primeiras ações so-bre a necessidade de construções commenor impacto sobre o meio ambienteocorreram nos anos 1970. Devido àprimeira crise do pretróleo, em 1973, ospaíses desenvolvidos se depararamcom a carência de recursos energéti-cos em todos os segmentos da econo-mia. Foi então que começaram a surgirinvestigações para diminuir o consu-mo na fabricação de materiais, na ma-nutenção de prédios e mesmo na ges-tão dos resíduos. Nos Estados Unidos,o movimento organizou-se e foi criadoo Conselho Nacional de ConstruçõesVerdes (United States Green Building

Council - USGBC), órgão regulamen-tador das normas de construção nopaís e certificador das obras que aten-dam as normas no mundo inteiro. NaChina, as noções de desenvolvimentosustentável também ganharam aresmais oficiais na última década. Umagrande conferência sobre os greenbuildings discutiu as bases de umapolítica nacional para criar mecanismosem prol da sustentabilidade nas edifi-cações. O Ministério das Construçõeschinês trabalha com a estimativa dereduzir o consumo de energia pela me-tade até 2012 e em 65% até 2020.

De acordo com o professor Van-derley John, da Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo (USP), oBrasil possui setores que estão maisavançados no respeito ao meio ambi-ente que muitos países desenvolvidos.É o caso das indústrias de cimento,plástico e aço, nas quais os processosrevelam tecnologia de ponta que evitao desperdício de energia e são melho-res na gestão dos recursos naturaisque as equivalentes norte-americanas

e européias. “O cimento brasileiro, porexemplo, já reduziu em 30% o impactoambiental na sua fabricação”, diz John.Ele cita diversos materiais e compo-nentes que seguem quesitos de sus-tentabilidade, como lâmpadas e eletro-eletrônicos com maior eficiência.

Atualmente o Brasil tem pratica-mente todos os materiais necessáriospara a construção sustentável, desdetijolos (reciclados), blocos de adobe(terra areno-argilosa prensada e cura-da), tubulações sem PVC, telhas reci-cladas, pisos reciclados ou de madeiraalternativa ou reaproveitada, janelas,portas e batentes de madeira alternati-va. Na área de destinação de resíduos,a legislação brasileira é bem moderna,mas de pouco uso na prática. A utiliza-ção da água também vem sendo o focodas grandes indústrias fornecedorasde componentes da construção civil.Novos equipamentos de descarga devasos sanitários estão servindo demodelo internacional, afinal diminuemo consumo de 11 litros por acionamen-to para 6,8 litros.

Casa EficienteDepois de seis meses de construção, a Casa Eficiente está sendo monitorada para estudos

da economia no consumo de energia. Desde o projeto arquitetônico, baseado em estudo apro-fundado dos condicionantes climáticos locais, como orientação solar, radiação, sombreamentode elementos externos e ventos, as soluções da obra estão voltadas para o melhor aproveitamen-to desses elementos, como ventos predominantes no verão, barreiras para ventos de inverno,orientação e inclinação dos telhados para melhor uso da radiação solar.

Tijolos e telhas cerâmicos daprodução local contribuem parareduzir gastos energéticos comtransporte.

A madeira é de reflorestamento - pe-ças laminadas de pinus (estruturaprincipal da cobertura), peças de pi-nus autoclavado (restante da cober-tura e portas internas) ou eucaliptoautoclavado (deck, passarela, pro-teção das janelas e caramanchão).

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No entanto, apesar de possuir boassoluções, o país precisa desenvolvermuito a área de projetos. “Os profis-sionais muitas vezes usam os chama-dos produtos ecológicos, embora agrande maioria ainda não domine ouexplore dentro da totalidade do proje-to”, diz John. “Nos falta massa críticano âmbito da construção sustentável,mas estamos dando passos importan-tes. Quando o assunto estiver mais di-fundido, vamos criar o mercado”, com-pleta. Os principais entraves brasilei-ros estão nos setores onde a informa-lidade é presente. A indústria madei-reira que ainda é extratora é um dosmaus exemplos. “Na área específica deenergia estamos mais ou menos 15anos atrasados em relação às possibi-lidades de aproveitamento das fontesalternativas e de soluções como entra-da da luz natural”, alerta o professor.

Segundo dados do consultor Már-cio Augusto Araújo, do Instituto parao Desenvolvimento da Habitação Eco-lógica (Idhea), o preço de uma casaecológica é proporcional ao seu graude sustentabilidade. Ou seja, a tendên-cia é que essa residência saia mais caraque uma convencional se o proprietá-rio pretende tratar todos os efluentes(águas servidas e esgotos cloacais),captar água de chuva e aproveitá-lapara fins secundários, utilizar fontesde energias renováveis (eólica, solar ebiomassa) para resolver seu problemade eletricidade, ser responsável pelos

Uso da vegetação para criaçãode microclima local, com as es-pécies adequadas para dimi-nuir a velocidade do vento e es-pelho d’água para controle deatemperatura e umidade do ar.

Foi utilizado o isolamento térmi-co da cobertura e das paredes, oque torna as temperaturas inter-nas mais agradáveis.

A água pluvial é coletada e re-aproveitada com o uso de ca-lhas em toda extensão do te-lhado.

O que é preciso para umaconstrução sustentável

Gestão da obra: estudo de impacto ambiental; análise de ciclo de vidada obra e materiais; planejamento sustentável e aplicação de critériosde sustentabilidade; gestão dos resíduos na obra; estudos de consu-mo de materiais e energia para manutenção e reforma; logística dosmateriais;

Aproveitamento passivo dos recursos naturais: iluminação natural,conforto térmico e acústico, formação e interferências no microclima;

Eficiência energética: racionalização no uso de energia fornecida e,quando possível, aproveitamento de fontes de energia renováveis,como eólica e solar; uso de dispositivos para conservação de energia.

Gestão e economia da água: uso de sistemas e tecnologias que per-mitam redução no consumo da água; uso de tecnologias que permi-tam o reúso e recirculação da água (fins não potáveis); aproveitamen-to de parte da água de chuva para fins não-potáveis e até potáveis(dependendo da região e do tratamento aplicado);

Gestão dos resíduos gerados pelos usuários: criação de área(s) paracoleta seletiva do lixo, destinação e reciclagem;

Qualidade do ar e do ambiente interior: criação de um ambiente sau-dável, respirante, não-selado/plastificado, isento de poluentes (taiscomo partículas em suspensão, COVs - compostos orgânicos volá-teis), com uso de materiais biocompatíveis, naturais e/ou que não libe-rem substâncias voláteis;

Conforto termo-acústico: tecnologias eco-inteligentes para regular atemperatura e som compatíveis com o ser humano; umidade relativado ar adequada.

Fonte: Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica)

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Separação dos efluentes de vasosanitário que não seriam reapro-veitados, somente tratados e des-pejados na rede. O restante dosefluentes é tratado em tanque se-parado e reaproveitado para sis-tema de aquecimento dos quartos.

Aquecimento solar de água parachuveiro, torneira e cozinha. A incli-nação do telhado foi feita para omáximo rendimento das placas.Aquecimento dos quartos por meiode circulação de água quente pelorodapé em tubulação de cobre.

próprios resíduos gerados no local,adotar sistemas de controle de vazão eluz e utilizar móveis ecológicos, entreoutras medidas. “No entanto, com otempo esses custos serão amortizadose os benefícios de um imóvel com essaqualidade serão incalculáveis, inclusi-ve pelo fato de que, com esse perfil,sua valorização certamente ultrapas-sará a de qualquer similar com o mes-mo tamanho e em área equivalente nomercado”, afirma Araújo.

Um dos elementos importantes paraa construção sustentável são os telha-dos verdes (green roofs). Eles devem terespécies próprias que garantam umida-de para reduzir as temperaturas em pré-dios ou casas.

Para organizar esse movimento noBrasil está em andamento a criação deuma ong que vai promover e difundiros conceitos relacionados à constru-ção sustentável. Além de professorese pesquisadores como Vanderley Johne Roberto Lampert, da UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), a en-tidade vai envolver representantes das

indústrias e de outras instituições e em-presas que tenham relação com o tema.Entre estes participantes está o enge-nheiro Olavo Kucker Arantes, diretorda construtora Bautec, de Santa Cata-rina, que tem nas mãos o projeto de umprédio comercial certificado pelo US-GBC, o primeiro do país e talvez daAmérica do Sul (há um prédio no Chileaguardando certificação). Com previ-são de ficar pronto em 2008, o prédioserá construído em Florianópolis. Noplanejamento da obra foram feitos to-dos os cálculos de impacto ambiental,incluindo as possibilidades de diminui-ção no consumo de energia e de água.A construção prevê entrada de luz na-tural, telhado verde que contribui parao equilíbrio da temperatura, uso de ma-teriais ecologicamente corretos e im-plantação de uma gestão eficiente noconsumo de água e energia.

Desenvolvido em parceria com ou-tras empresas, o projeto tem o apoiodo Laboratório de Eficiência Energéti-ca em Edificações da UFSC – o mesmoque desenvolveu com a Eletrosul e a

Eletrobrás, por meio do Programa Na-cional de Conservação de Energia Elé-trica (Procel), um projeto de constru-ção de uma casa-modelo com sistemase soluções para a máxima eficiênciaenergética e conforto térmico integra-dos ao projeto arquitetônico. Nele fo-ram implementadas tecnologias comogeração de energia fotovoltaica inter-ligada à rede, estratégias passivas decondicionamento de ar e aquecimentosolar de água. Essa residência está ser-vindo de ambiente para a demonstra-ção e desenvolvimento de atividadesde ensino e pesquisa na área.

Outro exemplo de edificação cons-truída para servir de modelo é a Eco-House Urca, no Rio de Janeiro. Resul-tado da reunião de várias empresas, oprojeto visa mostrar para o público emgeral, órgãos governamentais e para osetor de construção civil a viabilidadeda utilização de conceitos de eco-efi-ciência, arquitetura bioclimática e uti-lização de energia solar como soluçõesde desenvolvimento sustentável.

Várias construções brasileiras já

55% da madeira cortada para usos não combustiveis é utilizada para construção.

40% dos materiais e energia do mundo são usados por edificações.

30% das edificações novas ou reformadas sofrem da "síndrome da edificação doente"(sick building syndrome), expondo seus ocupantes a respirar ar viciado ou cheiode químicos e mofo.

Fonte: Relatório do Worldwatch Institute (A Building Revolution: How Ecology and Health Concerns are Transforming Construction).

NÚMEROS

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Uso de esquadrias de vidro du-plo assegurando o isolamentotérmico das vedações, e persi-anas externas de madeira parasombreamento diurno e venti-lação noturna.

Tratamento de efluentes comzona de raízes desenvolvida es-pecialmente para o projeto, utili-zando espécie nativa de junco(Zizanopsis bonariensis brás) ecasca de ostra no lugar de brita.

Geração de energia fotovoltaicaatravés de placas de silício amor-fo sobrepostas sobre o telhadoda sala. A inclinação do telhadofoi feita para o melhor rendimen-to das placas nesta latitude.

podem ser consideradas eficientes noâmbito da sustentabilidade. É o casode dois grandes loteamentos das cons-trutoras Y.Takaoka e JAG, o Gênesis I eII, localizados em uma área remanes-cente de Mata Atlântica, em Santanado Parnaíba (SP). A boa aceitação doprimeiro residencial, lançado em 2002,levou os construtores a planejar o se-gundo para ficar pronto este ano. Aobra foi pensada para causar o menorimpacto ambiental. A rede elétrica e ocabeamento telefônico são subterrâ-neos, para evitar a poluição visual. Aaplicação do conceito de integração erespeito à natureza tornou o condomí-nio de 15% a 20% mais caro que umempreendimento convencional, porcausa dos cuidados em sua constru-ção e número de trabalhadores envol-vidos, mas o metro quadrado já estávalorizando.

Para colocar o projeto dos residen-ciais Gênesis em prática, foram neces-sárias parcerias como a firmada com aFundação Brasileira para o Desenvol-vimento Sustentável (FBDS) e a Esco-la Politécnica da USP. A assessoriatécnica ajudou a construtora a imple-mentar corredores arbóreo-frutíferospara conservação da fauna da região.Outro aliado foi o programa Florestasdo Futuro, da Fundação SOS MataAtlântica.

Em um ambiente de trabalho é possível aplicar osconceitos de sustentabilidade nos pequenos detalhes.

ESCRITÓRIOSTAMBÉM

• Usar papéis que podem ser reciclados• Fazer trabalhos imprimindo os dois lados da folha• Optar por enviar documentos eletronicamente para revisão e análise• Usar serviço de fax digital• Escolher papéis que respeitam o meio ambiente na fabricação e utilizam matéria-prima de reflorestamento

NA HORA DE IR PARA O TRABALHO…

• Ajuste dentro da empresa possibilidades de compartilhar carros ou meios de transporte, tipo vans ou ônibus• Opte por tarefas que permitam a comunicaçãovirtual ou que ao menos tenham horários flexíveis

PAP

EL

CA

MIN

HO

COMO FAZER SEU ESCRITÓRIO MAIS “ECOLÓGICO”:

• Doe seus velhos computadores para escolas em áreas carentes• Utilize cartuchos de tintas que podem ser recarregáveis• Desligue o botão do monitor quando não estiver usando• Doe seus velhos telefones• Nas compras, opte por lanches mais saudáveis, do tipo orgânico• Adote filtro de água reutilizável em vez de garrafas de água• Recicle o lixo, dividindo em papel, plástico, vidro e orgânico.

DIC

AS

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Cuidando da vidaAMBIENTE

É campeão!

De cada 100 latasde alumínio utilizadasno Brasil em 2005, 96foram recicladas. Ovolume coloca o paísem primeiro lugar no

ranking mundial dessa atividade, po-sição que vem ocupando desde 2001.Segundo a Associação Brasileira doAlumínio (ABAL) e a Associação Bra-sileira dos Fabricantes de Latas deAlta Reciclabilidade (Abralatas), opaís atingiu a marca de 127,6 mil tone-ladas de latas de alumínio recicladasno ano passado. São aproximadamen-te 9,4 bilhões de unidades no ano ou

2,6 milhões de latas recicladas di-ariamente.

O Brasil está à frente de na-ções que têm legislação rígida

sobre reciclagem de materiais,como é o caso da Dinamar-ca, Finlândia, Noruega eSuíça, que em 2004 apre-sentaram índice médio de88%. Para os diretores

TURISMOSUSTENTÁVEL

PARA MEIOS DEHOSPEDAGEM

O Programa deCertificação em Tu-rismo Sustentável(PCTS) lançou a sé-rie “Gestão do Turis-mo Sustentável –Meios de Hospeda-gem”, um conjuntode publicações paraapoiar o setor na im-plementação de sis-temas de gestão dasustentabilidade. Oslivretos incluem anorma técnica NIH-54: 2004 - Meios dehospedagem - requi-sitos para a sustenta-bilidade, que esta-belece parâmetrostanto para fins de cer-tificação quanto paraauto-avaliações dosempreendimentos. Acoleção tem o apoioda Agência de Pro-moção de Exporta-ções e Investimentos(APEX-Brasil) e doBanco Interamerica-no de Desenvolvi-mento (BID) e é dis-tribuída pelo Sebrae.Também está dispo-nível para downloadno site do PCTS.

BRASIL LIDERARANKING MUNDIALDA RECICLAGEM DELATAS DE ALUMÍNIOCOM MAIS DE127 MIL TONELADASPROCESSADAS

www.pcts.org.br

77em cada 100 brasi-leiros não estariamdispostos a convi-ver com mais po-luição, mesmo queisso trouxessemais empregos,revelou pesquisadivulgada pelo Ins-tituto Vox Populi noDia Mundial da Bi-odiversidade, 22 demaio.Fonte: WWF-Brasil

das associações, esta marca tem sidosustentada por um conjunto de fato-res, como a adesão da classe média, aformação de cooperativas com boagestão, o alto valor do material comosucata, a busca da sociedade por mo-delos de preservação e a educação am-biental.

Levantamento mostra que, entre2000 e 2005, a participação de condo-mínios e clubes na coleta de latas usa-das passou de 10% para 24%.

A lata de alumínio é a única emba-lagem que pode ser inteiramente reci-clada para a fabricação de latas idên-ticas, de forma econômica e auto-sus-tentada. Hoje, a partir do momento quesai da fábrica, uma lata de alumínioleva apenas 30 dias, em média, para setornar matéria-prima de uma nova lata.

BENEFÍCIOS – A reciclagem pro-porciona uma economia equivalente a95% da energia elétrica utilizada naprodução do metal a partir da bauxita(minério de onde se extrai o alumínio).No ano passado, a reciclagem no Bra-sil foi responsável pela economia decerca de 1800 GWh/ano. Isso repre-senta 0,5% da energia elétrica geradano país em 2005 e o suficiente paraabastecer por um ano inteiro uma ci-dade de mais de um milhão de habi-tantes, como Campinas (SP). A gera-ção de emprego e renda beneficia maisde 160 mil pessoas. Somente a etapade coleta (a compra das latas usadas)injeta anualmente cerca de R$ 490 mi-lhões na economianacional.

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Listas enfocam qualidade do arEPA 2006 (em ordem alfabética)Toxic100

uas listas enfocan-do a preservação(ou falta) do meio

ambiente saíram recente-mente nos Estados Unidos.A primeira é o índice Toxic100, elaborado pela Univer-sidade de Massachusetts,que aponta as empresasmais poluidoras do ar naque-le país. “Consideramos nãoapenas o volume de poluen-tes emitidos, como tambémas substâncias mais tóxicase a população afetada”, diz odiretor James Boyce, do Poli-tical Economy Research Ins-titute, responsável pela apu-ração dos resultados. A outraé a versão 2006 do Prêmiode Proteção ao Clima, con-cedido pela Agência de Pro-teção Ambiental dos EstadosUnidos (EPA , em inglês), quedestaca não apenas corpo-rações, mas também órgãosdo governo e militares. Con-fira os citados em cadaranking:

Fonte: www.epa.gov/cppd/awards/2006winners.htmlFonte: http://www.umass.edu/peri/

1 DU PONT

- Química

2 UNITED STATES STEEL

- Metalurgia

3 CONOCOPHILIPS

- Extração e refino de petróleo

4 GENERAL ELECTRIC

- Química, metalurgia, eletrônica

5 EASTMAN KODAK

- Suprimentos fotográficos

6 EXXON MOBIL

- Extração e refino de petróleo

7 FORD MOTOR

- Montadora de veículos

8 TYSON FOODS

- Criação, abate e processamentode animais

9 ALCOA

- Química

10 ARCHER DANIELS MIDLAND

- Destilaria e fabricação de bebidas

ARIZONA PUBLIC SERVICE COMPANY

- Reduziu a emissão de gases a níveismenores que em 1990.

BAXTER INTERNATIONAL INC.

- Diminuiu em 35% a emissão de gasesentre 1996 e 2004.

DENSO CORPORATION

- Reduziu em 70% o efeito poluidor derefrigeradores

IBM CORPORATION

- Diversos projetos de conservação deenergia. Ganhou o prêmio duas vezes.

JOHNSON & JOHNSON

- Em 2005 foi a empresa que maiscomprou energia limpa nos Estados Unidos.

NATIONAL RENEWABLE ENERGY

LABORATORY

- Líder mundial em tecnologia deenergias renováveis.

FORÇA AÉREA DOS ESTADOS UNIDOS

- Maior cliente de energia limpa dos EUA.

YOKOTA TOHOKU, INC.

- Tecnologia para reciclar embalagens eimpactos ambientais.

Desde o final de maio, os carrosnovos vendidos na França devem in-formar o quanto de gás carbônico lan-çam na atmosfera. Para isso, cadaveículo trará uma etiqueta similar àsque já existem nos eletrodomésticos(inclusive no Brasil), com uma esca-la de sete cores e letras indicando ovolume emitido por quilômetro. Atu-almente, a média nos carros france-

Carros franceses com etiqueta de emissão de CO2

ses é de 152 gramas por quilômetro,enquanto o padrão europeu é de 160– o que coloca ambos na categoria D(amarelo). A meta das montadoras ébaixar para 140 g/km a partir de 2008,mas há quem desconfie dessa auto-regulamentação. Para os ambienta-listas, reduções significativas serãoobtidas somente mediante medidascompulsórias.

QUER SABER A QUANTIDADE DE CO2 EMITIDA PELO SEU CARRO?Vá em http://www.ademe.fr/auto-diag/transports/rubrique/CarLabe-lling/SaisieFormulaire/FormulaireVersion2.asp, selecione a mon-tadora do veículo e clique “Valider”. Aparecerá uma lista com to-dos os modelos daquela montadora. Escolha o modelo e clique no-vamente. Surgirá uma tabela com os dados do veículo. Para serclassificado como A (verde), o número tem de ser no máximo 100.

D

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Por um mundo melhorAGENDA global

Educação e saúderevelam númerospreocupantes

67,2Apenas 34 dos 143 países que

têm indicadores de desnutrição in-fantil devem atingir a meta de redu-zir à metade a proporção de crian-ças com até cinco anos que estãoabaixo do peso adequado. Os da-dos são do Banco Mundial, que di-vulgou o terceiro Relatório sobreMonitoramento Global dos Objetivosde Desenvolvimento do Milênio. Oestudo destaca que os países emdesenvolvimento têm conseguidoreduzir a mortalidade infantil e am-pliar rapidamente a cobertura esco-lar no primeiro ciclo do ensino fun-damental (1ª a 4ª série).

Na educação há contrastes en-tre os números. Entre 2000 e 2004,os países que já cumpriram o Obje-tivo do Milênio de universalizar a edu-cação primária saltaram de 37 para50, entre 2000 e 2004. Mas, apesardesse avanço, o relatório prevê queapenas um terço das nações em de-senvolvimento deve cumprir a metae quase um quinto delas têm indi-cadores inadequados para medir odesempenho no setor.

Na saúde, o quadro é desanima-dor. No ritmo atual, quase 80% dosemergentes não conseguirão redu-zir em dois terços a taxa de mortali-dade infantil. Estima-se que 117(79%) dos 148 países em desenvol-vimento avaliados estejam fora docaminho correto para atingir o quar-to Objetivo do Milênio. Das naçõescom desempenho ruim, sete não

Longede atingiras metas

bilhões de reais é oque o Brasil teria deinvestir para elevaros indicadores so-ciais dos negros apatamares seme-lhantes aos dosbrancos nas áreasde educação, habi-tação e saneamen-to. É o que apontao estudo “O custodo racismo”, quefaz parte do relató-rio O Compromis-so das Empresascom a Promoçãoda Igualdade Raci-al, lançado no finalde maio pelo Insti-tuto Ethos.

O Barcelona, umdos clubes de futebolmais ricos do mun-do, é a primeira enti-dade esportiva aapoiar formalmenteos Objetivos de De-senvolvimento do Mi-lênio. O time catalão,onde atua Ronaldi-nho Gaúcho, vai des-tinar 0,7% da rendaque obtiver na tem-porada 2006-2007 –cerca de 2 milhõesde euros, ou R$ 5,9milhões – a projetosde educação básicaem países em de-senvolvimento, comprioridade para Bra-sil, Marrocos e a re-gião da África Subsa-ariana.

GOLAÇO DOBARÇA

registraram nenhum avanço desde1990 e em outras 15 a proporção decrianças que morrem antes de com-pletar cinco anos aumentou.

A incidência do HIV e as mortesdecorrentes da Aids continua cres-cendo, apesar dos primeiros sinaisde inversão desse processo nospaíses com taxas de infecção eleva-das, como Haiti, Uganda e Zimbá-bue. Em 2005, nenhuma região apre-sentou queda no número de novoscasos. O ponto positivo é que o tra-tamento da doença não é falho comoa prevenção. O total de portadoresdo vírus que têm acesso a medica-mentos anti-retrovirais mais que do-brou nos últimos dois anos. Passoude 400 mil, em 2003, para 1 milhão,no fim de 2005. Atualmente, essacobertura é superior a 80% na Argen-tina, Brasil, Chile e Cuba.

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Reduzir a mortali-dade materna é umdos principais de-safios do Paranápara alcançar asOito Metas do Milê-

nio. Os dados do Estado são do Ob-servatório Regional Base de Indica-dores de Sustentabilidade (Orbis),programa apoiado pela Federaçãodas Indústrias do Estado (Fiep), quebusca informações para orientar acampanha de incentivo às metas ba-tizada de Nós Podemos, Paraná.Depois de apresentar cinco anosconsecutivos de queda no índice demortalidade materna, o Paraná in-terrompeu esta tendência e regis-trou uma taxa de 69,7 mortes a cadacem mil nascidos em 2004, contra40,7 em 2003. De acordo com o re-latório do Orbis, a oscilação do indi-cador demonstra que ele ainda nãoestá controlado e que será precisoum grande esforço para alcançartaxas inferiores a 25 mortes a cadacem mil nascidos vivos, como prevêa meta da ONU. Em relação ao con-trole de contaminação com o HIV,altas taxas de crescimento foram ob-servadas entre os anos de 2002 e2003. Entre 2002 e 2004, novos ca-sos foram registrados em 74% dosmunicípios paranaenses, sendoque, em 25 deles, mais de 50 pes-soas foram infectadas.

O projeto de im-plantação do bancode dados de JoãoPessoa está inspi-rando outras cida-des a seguir omesmo caminho.

Em Campina Grande, também na Pa-raíba, já há estudos para a adoçãode uma ferramenta semelhante paraaperfeiçoar a gestão. Segundo o ge-rente do escritório do PNUD no Esta-do, Fabio Guerra, há outros municí-pios interessados em desenvolveruma ferramenta como a da capital,entre eles Natal.

Mortalidadematerna caino Paraná

Sem acesso à energiaA falta de acesso aosserviços básicos deenergia tem um efei-to devastador no al-cance dos Objetivosde Desenvolvimentodo Milênio. Atualmen-

te, 1,6 bilhão de pessoas não têmenergia elétrica em seus lares, se-gundo a Comissão do Desenvolvi-mento Sustentável, organizada peloPrograma das Nações Unidas parao Desenvolvimento (PNUD), pela Co-munidade Econômica dos Países daÁfrica Ocidental e pelos governos daÁustria, França, Holanda e Noruega.“O acesso universal aos serviçosmodernos de energia é essencialpara diminuir a pobreza pela metadeaté 2015, e é necessário enfatizarque fazê-lo é financeiramente e am-bientalmente praticável”, destacou oadministrador-adjunto do PNUD, AdMelkert.

Dentro do território brasileiro, asregiões Norte e Nordeste são as

mais defasadas (veja quadro). Em2000, cerca de 1,9 milhão de pesso-as viviam sem iluminação elétrica naregião Norte. Até o inicio de 2006, emdois anos de vigência, o programaLuz para Todos, que tem apoio doPNUD, conseguiu reduzir esse défi-cit em apenas 320 mil, o que corres-ponde a 23,5% do total de habitantesque não contavam com o benefício.As obras em andamento devem aten-der outros 130 mil, mas se mantive-rem esse ritmo, os estados da re-gião não conseguirão cumprir o ob-jetivo de levar eletricidade a toda po-pulação até 2008. Segundo o coor-denador de Universalização de Ener-gia Elétrica da Eletronorte, HenriqueLuduvice, o que impede que o pro-grama avance mais rápido no Nortesão as próprias características geo-gráficas e climáticas da região, masas concessionárias estão apertandoo passo e o número de ligações devecrescer significativamente ainda esteano.

Banco de dados facilita políticas públicasO banco de dados de João Pessoadeve reunir, em um único software,indicadores atualizados periodica-mente, em áreas como saúde, edu-cação, habitação, saneamento, se-gurança e pavimentação e que pos-sam ser discriminados por bairrosou regiões menores. A ferramenta éinspirada no Atlas de Desenvolvi-mento Humano no Brasil e Atlas doDesenvolvimento Humano no Reci-fe, ambos elaborados pelo PNUD eoutros parceiros. Junto com o bancode dados será criado o Centro de In-formações para o DesenvolvimentoHumano, unidade que gerenciará o

sistema e oferecerá treinamentopara os servidores públicos que outilizarão.A ferramenta facilita principalmente aelaboração de políticas públicas delongo prazo. Ainda não há previsão deentrada em funcionamento do Centrode Informações para o Desenvolvi-mento Humano, mas a Prefeitura deJoão Pessoa espera que até o fim des-te ano já seja possível operá-lo parci-almente. Depois que a ferramenta es-tiver instalada e os servidores, capaci-tados, o Centro oferecerá treinamentoà população interessada em consul-tar o banco de dados pela internet.

REGIÃO

NNESES

CO

POPULAÇÃOPELO LUZ P/TODOS

EM MIL

3211.304536222197

% DO TOTALSEM ENERGIA

EM 2000

16,7%20,3%52,8%43,3%39,3%

POPULAÇÃOATENDIDA PELAOBRAS-EM MIL

1303701765533

POPULAÇÃOSEM ENERGIA

EM 2000 - EM MIL

1.9216.4201.015513501

Fonte: PNUD Brasil

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SOLUÇÕES Bons produtos do bem

Indicar os locaismais adequados paraa construção de in-dústrias ou para a cri-ação de aterros sani-tários. Esta é uma dasatribuições do software que auxilia no pla-nejamento territorial e na gestão am-biental do espaço urbano, identificando áreasmenos vulneráveis, desenvolvido pela Fortgeo,empresa instalada na incubadora de base tecno-lógica da Universidade Estadual Paulista(Unesp), em Rio Claro. “Uma equipe de consul-tores vai a campo coletar informações como ostipos de solos e de rochas da cidade, a profundi-dade dos aqüíferos subterrâneos e a localizaçãode empresas e indústrias potencialmente polui-doras”, explica o geólogo Fábio Meaulo, autordo projeto. As informações apuradas são cruza-das com imagens de satélite, formando uma baseque gera uma série de documentos cartográfi-cos digitais do município, como mapas da polui-ção. Toda a tecnologia do programa é nacional esegue os moldes do software livre.

O sistema de captação de água da chuva desenvol-vido pela Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), emLages (SC) tem a coleta feita na parte superior do telhado. A águapluvial é coletada do telhado através de calhas, condutores ver-ticais e horizontais, e é armazenada em 10 caixas de água comcapacidade de 1000 litros cada. É então canalizada para a utiliza-ção nos vasos sanitários e nos mictórios. Entre professores, es-tudantes e funcionários, são cerca de 5 mil pessoas transitandopelo campus da universidade. Neste ano, o sistema possibilitouuma economia de 47% no consumo de água da rede pública. Oprojeto foi inscrito na Mostra Água para a Vida, Água para To-dos - Boas Práticas em Saneamento do Ministério do Meio Ambi-

ente e foi premia-do pela WWFBrasil.

Em vez derrubar árvores,transformar resíduos de di-versas origens em um ma-terial que substitui comvantagens a madeira na in-dústria moveleira e na cons-trução civil. Foi assim quenasceu a empresa Ecoblo-ck, em Minas Gerais, queproduz a madeira eco-lógica ou plástica comrestos de serragem, algo-dão, arroz, fibra de vidro, ba-

gaço de cana, papel, pneus e plásticos dos mais variados tipos. Atecnologia da produção da madeira ecológica é uma inovação pa-tenteada, que possibilita o reaproveitamento e processamento dediversos resíduos através da moagem, mistura, adensamento e in-trusão, um processo termodinâmico reativo, pelo qual obtêm-se aplastificação de resinas termoplásticas. O produto final são perfisde diversos tamanhos, de alta resistência, com todas as caracterís-ticas da madeira. Na construção civil, serve para marcos de portas,esquadrias, formas, decks de piscinas, pisos, entre outros). Namovelaria, são indicados em especial para móveis expostos ao arlivre.

Uma das marcas depapel higiênico encon-tradas nas prateleirasdos supermercadosbrasileiros, a Personal,oferece uma novidadeque une economia deembalagem e do rolo depapel cartão, evitando des-perdícios de plástico e papel. Tra-ta-se do rolo de papel higiênico com60 metros, em vez de 30 como grandeparte do mercado apresenta atualmente. Hápouco mais de cinco anos, o movimento foicontrário, com a diminuição dos rolos de 40metros, em uma polêmica tendência adota-da por diversos setores, com o intuito denão aumentar os preços, mas diminuir aquantidade do produto. A economia no bol-so do consumidor é de cerca de 40% aooptar por comprar quatro rolos de 60 me-tros em vez da embalagem de oito com 30metros cada. Na fabricação de papéis sanitá-rios, cartões e papéis de embalagem a utiliza-ção de fibras recicladas já atinge 54% do vo-lume produzido.

www.uniplac.net

www.ecobloc.com.br

www.santher.com.br

www.fortegeo.com.br

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bilhões de dólaresforam movimenta-dos pelo mercadode créditos de car-bono no ano pas-sado.

TÍTULOS AQUEM REDUZ

GASES

monitor Por dentro dos números

11,6

Pelas regras doProtocolo de Kyoto,acordo internacionalproposto pela ONU efirmado em 1997 por59 países, projetosque reduzem o volu-me dos gases doefeito estufa (GEE)emitidos na atmosfe-ra – por meio da ge-ração de energia re-novável ou reduzindoas emissões de GEEde atividades indus-triais e agrícolas –podem receber títu-los conhecidoscomo créditos decarbono. Para cadaredução ou não-emissão de uma to-nelada de dióxido decarbono, o desenvol-vedor do projeto temdireito a um crédito.Esses créditos po-dem ser adquiridospor governos paraajudar no cumpri-mento das exigên-cias de redução deemissões (em mé-dia, os países desen-volvidos precisamreduzir 5% do mon-tante emitido em1990), por empresasque precisam cum-prir com as obriga-ções a elas impostase também por opera-dores de mercadosque participem denegociação de emis-sões.

O Brasil tornou-se, em abril, lídermundial em projetos de créditos decarbono. São 37 programas registra-dos na ONU (responsável pela certifi-cação) num universo de 150. O Brasilestá à frente da Índia (28), México (15),Chile (10), Honduras (9) e China (7).Essa dianteira pode ser ocupada em bre-ve pela Índia, país que tem atualmenteum número maior de projetos submeti-dos à ONU. São 61 no total, contra 45do Brasil, que podem ou não ser apro-vados pelo órgão internacional.

Os projetos brasileiros se encai-xam no chamado Mecanismo de De-senvolvimento Limpo (MDL), únicono qual podem participar os países doAnexo 2 (aqueles que não têm metasde redução a cumprir). Por este siste-ma, os países desenvolvidos podemcomprar reduções de emissões de pa-íses em desenvolvimento ou investirem projetos de diminuição nesses pa-íses. As vendas de créditos de carbo-no, nesse caso, funcionam no siste-ma de “mercado de balcão”, no qualas negociações são feitas caso a caso.A média de preços é de US$ 5.

Além do MDL, os países do Ane-

xo 1 – aqueles que precisam atingirmetas de redução de emissão - tam-bém podem participar do mercado depermissões. Para cumprir as metas, osgovernos determinam uma cota de re-dução para cada empresa daquelepaís. Se a empresa consegue reduzirmais do que foi determinado, ela podevender esse excedente em bolsas devalores ou mercadorias. Como se tra-ta de uma redução já comprovada, opreço é mais alto.

Em janeiro, os créditos eram ven-didos a US$ 28,7. No final de abril opreço caiu para cerca de US$ 13. Esseajuste ocorreu porque países comoEspanha e República Checa mostra-ram que estavam melhores do que seimaginava no caminho para se atingirsuas metas de redução. Ou seja, nãoiriam precisar de créditos. Alguns po-deriam, inclusive, vendê-los. Segun-do dados do Bird, os países que maiscompraram créditos de carbono noprimeiro trimestre deste ano foram Ja-pão (36%), Reino Unido (15%), Itália(11%) e Holanda (8%), num total de453, 5 milhões de toneladas de dióxi-do de carbono.

37 programas certificadospela ONU no mecanismo dedesenvolvimento limpo

Brasil lideraprojetos de créditosde carbono

Rosi Rico

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Três Perguntas

Uma das grandes vedetes no Brasil são os projetos queexploram resíduos de aterros sanitários. Foi nessa área que,em abril, foi fechado o maior contrato mundial de venda decréditos de carbono já gerados. A Biogás Energia Ambiental,empresa do grupo Arcadis Logos, que tem a concessão daPrefeitura de São Paulo para exploração de resíduos do ater-ro sanitário Bandeirantes, fechou com o banco alemão KFWa venda de 1 milhão de toneladas de crédito de carbono, queforam gerados entre 2004 e 2005. Esses créditos serão re-passados aos clientes do banco, que estão situados empaíses desenvolvidos e precisam cumprir metas de reduçãode emissão de poluentes.

Desde 2004, a Biogás transforma em energia elétrica osgases produzidos nesse aterro, que recebe metade do lixocaptado na cidade de São Paulo - o equivalente a 8 mil tone-ladas por dia. Até 2012, o projeto Bandeirantes deve geraroutros 7 milhões de toneladas de crédito de carbono. A Bio-gás e a prefeitura têm, cada uma, o direito de venda de 50%desses créditos. Em breve a Biogás pretende iniciar o proje-to São João, no aterro localizado em São Mateus, região su-deste da capital, em outra parceria com a prefeitura e comprevisão de produção semelhante.

A agropecuária tambémquer ganhar com a venda decréditos de carbono. Os reba-nhos brasileiros de bovinose suínos são de 204 milhõesde cabeça e 33 milhões decabeça respectivamente, se-gundo dados de 2004 doIBGE, e os dejetos dessesanimais geram grande volu-me de metano, gás que temum poder de aquecimento 21vezes maior do que o dióxidode carbono. Reduzir, portan-to, a emissão do metanopode ser lucrativo.

Muitas vezes, os dejetosdos bovinos e suínos sãodescartados in natura nomeio ambiente. Ao usar umbiodigestor é possível quei-mar o gás metano e o trans-formar em energia que pode-rá alimentar equipamentosdependentes de energia elé-trica para funcionar.

Uma das maiores empresas negociadoras decréditos de carbono do mundo, a inglesa Ecose-curitie presta consultorias para vários projetos de-senvolvidos no Brasil, entre os quais o primeiroaprovado pela ONU no mundo, o Projeto NovaGe-rar, do aterro sanitário de Nova Iguaçu (RJ).

Quais os melhores setores econômicos parase trabalhar a venda de créditos de carbono?MARCELO DUQUE - São vários os setores.Todos aqueles que podem substituir energiafóssil (carvão mineral) por fonte de energiarenovável (carvão vegetal) ou que podemaproveitar de eficiência energética emprocessos industriais. Temos também osaterros sanitários e a agroindústria, que pode,por exemplo, fazer o manejo de dejetosanimais para aproveitamento do gás metanona geração de energia. Já há projetos emtodos os setores. Mas ainda assim estamosnuma fase em que buscamos mais clientesdo que somos procurados por eles.

Além dos recursos financeiros obtidos com avenda de créditos de carbono, quais osbenefícios para as empresas que optarem poradotar estratégias de controle e eficiênciaenergética?MARCELO - De cara, a empresa ganha um bommarketing, porque todos os projetos sãotornados públicos. Então, o mundo inteiro vaisaber que aquela empresa está de acordo como Protocolo de Kyoto e, portanto, tem umapreocupação ambiental. Há também os ganhosreferentes ao desenvolvimento sustentável, poisnenhum projeto é aprovado sem isso.

Quem fiscaliza os projetos?MARCELO - Ao escolher um projeto parainvestir, a empresa saberá tudo a respeitodele, do início ao fim. Isso porque, noprocesso de validação que precisa ser feito,companhias cadastradas pela ONU verificamse está tudo dentro do estabelecido e enviamum relatório para o governo do país onde oprojeto será desenvolvido. Após a aprovaçãodo governo, o projeto é enviado à ONU paraavaliação e registro.

Marcelo Duque,Engenheiro econsultor deprojetos da

Ecosecurities

Maior contratomundial nasceude projeto em aterro

Pecuária podeser beneficiada

O aproveitamento ade-quado dos dejetos de suínosrendeu à Sadia o primeirocontrato de venda de créditosde carbono realizada por umaempresa brasileira do setorde alimentos. A venda, ocorri-da em maio, foi feita para oEuropean Carbon Fund(ECF), um fundo controladopelo banco francês Caissedes Dépôts e o belga-alemãoFortis Bank. O negócio estáestimado em R$ 80 milhõesa R$ 90 milhões e prevê ofornecimento de créditos re-ferentes ao seqüestro de 2,7milhões de toneladas de car-bono durante dez anos, con-tados a partir de 2005. Háprojetos semelhantes sendoanalisados ou implantadospor outras empresas em vá-rios estados, como Rio Gran-de do Sul, Minas Gerais, Goi-ás, Bahia e São Paulo.

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,

.

A Fundação Vale do Rio Doce tem como missão

contribuir para o desenvolvimento integrado econômico

ambiental e social de territórios, fortalecendo o capital

soc ia l das comunidades e respei tando a ident idade

cul tura l loca l . Este é o compromisso da Fundação

Vale do Rio Doce, que atua nas mais diversas regiões

do Bras i l em comunidades que v ivem no entorno

d o s n e g ó c i o s d a C o m p a n h i a V a l e d o R i o D o c e

Esta é a nossa missão.