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Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano
Artigo Original
EFEITO DE DIFERENTES MODELOS DE PERIODIZAÇÃO DE TREINAMENTO
RESISTIDO SOBRE A QUALIDADE MUSCULAR DE IDOSOS SARCOPÊNICOS
Vitor Cabrera Batista1, Luís Alberto Gobbo1,2
1Laboratório de Avaliação do Sistema Musculoesquelético, Departamento de
Educação Física, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Presidente Prudente, SP
2Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade, Instituto de Biociências,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Rio Claro, SP
Autor Correspondente:
Luís Alberto Gobbo
Departamento de Educação Física, Universidade Estadual Paulista, Rua Roberto
Simonsen 305, 19060-900, Presidente Prudente, São Paulo, Fone: 55 18 3229-5720
E-mail: [email protected]
2
Resumo
O objetivo do estudo foi comparar os efeitos de dois modelos de periodização de
treinamento resistido sobre a qualidade muscular de idosos sarcopênicos. Para tanto,
22 idosos sarcopênicos foram separados aleatoriamente em dois grupos, treinamento
periodizado e treinamento não periodizado. Para classificar em sarcopênicos foi
considerada a baixa quantidade de massa muscular apendicular (MMA), mensurada
por absortometria radiológica de dupla energia (DXA). A força muscular foi analisada
a partir da contração voluntária máxima isométrica (CVMI) mensurada em
dinamômetro eletrônico para os grupos musculares extensão de tronco e preensão
manual. A massa musculoesquelética de membros superiores e inferiores, e de tronco
foi mensurada por Impedância Bioelétrica (BIA) e qualidade muscular (QM) pela razão
entre força e massa muscular. Posteriormente, os participantes foram submetidos a
um período de 16 semanas de treinamento resistido, composto por 4 mesociclos com
duração de 4 semanas. O teste de Shapiro Wilk foi utilizado para a análise da
distribuição dos dados. As variâncias foram expressas em valores de média e desvio
padrão. ANOVA para medidas repetidas foi realizada para comparação dos valores
entre os grupos e os momentos (5) de avaliação. O programa estatístico SPSS 22.0
para todos os cálculos estatísticos, sendo adotado o nível de significância de 5%. Os
participantes apresentaram maiores aumentos na qualidade muscular de membros
superiores a partir da 8ª semana de treinamento, enquanto para tronco e membros
inferiores, a partir de 12ª semana (p<0,05), bem como para a qualidade muscular total.
Sem diferenças estatisticamente significativa entre os grupos.
Palavras-chave: Treinamento resistido, sarcopenia e qualidade muscular.
3
Abstract
The objective of the study was to compare the effects of two models of periodization
of resistance training on the muscular quality of sarcopenic elderly. For this, 22
sarcopenic elderly were randomly divided into two groups, periodized training and non-
periodized training. A low amount of appendicular muscle mass (MMA), measured by
dual energy radiological abortometry (DXA), was considered to be classified as
sarcopenic. The muscular strength was analyzed from the maximum voluntary
isometric contraction (CVMI) measured in electronic dynamometer for the muscle
groups trunk extension and manual grip. Musculoskeletal mass of upper and lower
limbs and trunk was measured by Bioelectrical Impedance (BIA) and muscle
quality(QM) by the ratio between strength and muscle mass. Subsequently,
participants underwent a 16-week period of resistance training, consisting of 4
mesocycles lasting 4 weeks. The Shapiro Wilk test was used to analyze the data
distribution. The variances were expressed as values of mean and standard deviation.
ANOVA for repeated measures was performed to compare the values between the
groups and the moments (5) of evaluation. The statistical program SPSS 22.0 for all
the statistical calculations, being adopted the level of significance of 5%. Participants
presented higher increases in upper limb muscle quality from 8ª weeks of training,
whereas for trunk and lower limbs, from 12ª weeks (p <0.05), as well as for total muscle
quality. No statistically significant differences between groups.
Key words: Resistance training, sarcopenia and muscle quality.
4
Introdução
A população mundial vem sofrendo processo de envelhecimento, e esta tem
sido uma característica tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento. No
Brasil, o crescimento populacional de idosos é notório desde a década de 70. O
contingente de idosos no Brasil em 1960, era por volta de 3 milhões, ao longo de 15
anos cresceu para 7 milhões, chegando a 20 milhões de idosos em 2008. Segundo
projeções acredita-se que em 2020 o Brasil atingirá mais de 30 milhões de pessoas
idosas (CARVALHO, GARCIA, 2003; VERAS, 2009).
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2013), a expectativa de vida do brasileiro aumentou de 72,7 anos em 2007
para 75,4 em 2015. O Brasil, dentro de alguns anos, irá dobrar a proporção de idosos
de sua população (KELLER et al., 2002).
O processo de envelhecimento é contínuo, durante o qual ocorre declínio
progressivo de todos os processos fisiológicos. Além disso, a individualidade biológica
faz com que este processo possa variar de indivíduo para indivíduo, sendo menos
gradativo para uns e mais rápido para outros (CAETANO, 2006). Dentre as diversas
mudanças decorrentes do envelhecimento que afetam os sistemas, estão os prejuízos
ao sistema musculoesquelético, caracterizados pela diminuição do comprimento,
elasticidade e números de fibras musculares. Outra grande alteração é a redução
progressiva da massa muscular esquelética e elasticidade dos tendões e ligamentos
(DE VITTA, 2000) que pode levar a redução da força e funcionalidade.
Desta forma, denomina-se sarcopenia alterações musculoesqueléticas
decorrentes do avanço na idade (ROSENBERG,1989). Juntamente ao processo
natural de envelhecimento, a inatividade física, a imobilidade, fatores hormonais e
nutricionais podem contribuir para a perda de massa muscular (DOHERTY, 2003).
Aliado à sarcopenia encontra-se um quadro de risco a saúde, uma vez que
pode ocorrer um aumento do risco de quedas e fraturas, comprometendo a
capacidade de realização de atividades da vida diária, perda de independência e
maior risco de morte.
5
Assim como este declínio na força está intimamente relacionado com
mudanças no sistema neuromuscular, especialmente com a redução da massa
muscular (ANDERSEN, 2003), a força está diretamente relacionada às atividades da
vida diária, garantindo ou não a independência dos que idosos. A relação existente
entre a força muscular e a área do músculo e/ou volume muscular é definida como
qualidade muscular (DELMONICO et al., 2009; DOHERTY et al., 2003; HAIRI et al.,
2010), que basicamente reflete a eficiência muscular do idoso.
Segundo Fukumoto et. al., (2005) existe uma associação entre perda de força
e índice de qualidade muscular em idosos. Entretanto o treinamento resistido tem
mostrado resultados positivos na tentativa de amenizar o processo de
envelhecimento, uma vez que mesmo com a idade avançada o sistema
musculoesquelético mantém sua capacidade de adaptação (NARICI et al., 2005).
Além destes resultados benéficos, o treinamento de força também está associado com
o desenvolvimento de força e hipertrofia muscular (PETERSON et al., 2011).
Um bom programa de treinamento resistido contempla um planejamento prévio
sistematizado e estruturado das variáveis de treino, a fim de permitir que os estímulos
(metabólicos, mecânicos, etc.) possam perdurar por maior tempo, especialmente
nesta população. Este planejamento é denominado periodização, entretanto, poucos
programas de treinamento resistido apresentam com clareza aspectos sobre
periodização para pessoas idosas, e quando este é o objetivo do estudo, desfechos
como percepção subjetiva de esforço foram analisados, por exemplo (CONLON et al.,
2015).
O modelo de treinamento não periodizado mantém o mesmo volume e
intensidade ao longo de todo o ciclo de treinamento, enquanto, o modelo periodizado
linear, ou tradicional, normalmente se inicia com alto volume e baixa intensidade de
treinamento e progride de maneira gradual para o aumento da intensidade e redução
do volume ao longo do mesociclo. Comparações de diferentes modelos de
periodização, ou mesmo de um modelo periodizado com um modelo não periodizado,
sobretudo em pessoas sarcopênicas, em estado de maior fragilização, não foram
ainda verificados na literatura.
6
Neste sentido, o objetivo do presente estudo é comparar a qualidade muscular
de idosos sarcopênicos submetidos a dois protocolos de periodização de treinamento
resistido.
Metodologia
Delineamento do estudo e recrutamento dos sujeitos
A amostra foi composta por homens (9) e mulheres (11), voluntários, com idade
igual ou superior a 60 anos. Os idosos que participaram do programa de treinamento
resistido foram randomizados a partir de uma amostra maior, participantes de uma
coorte em andamento de investigação dos efeitos do nível de atividade física sobre a
sarcopenia, obesidade sarcopênica e síndrome da dismobilidade em pessoas idosas
(N = 307).
O diagnóstico de sarcopenia foi verificado por meio da avaliação do índice de
massa muscular apendicular (IMMA), mensurada por absortometria radiológica de
dupla energia (DXA) (Lunar DPX-MD model (software 4.7)), e contração voluntária
máxima isométrica (CVMI), mensurada por dinamometria. O IMMA foi obtido a partir
da quantificação do tecido magro e mole de membros superiores e inferiores, em kg,
divididos pela estatura, em metros ao quadrado (kg.m-2). A CVMI foi obtida em
dinamômetro digital, em preensão manual (flexão de punho) (Camry, model: EH101,
China), em kg.f. As avaliações descritas foram realizadas no estudo supracitado.
Cinquenta idosos com menores valores da somatória de escore-z para IMMA e
CVMI foram convidados a participar do estudo. Destes, 25 aceitaram e se
enquadraram nos critérios de inclusão (não ter doenças crônicas incapacitantes, como
câncer em estágios avançados, doenças renais em tratamento de hemodiálise,
acamados, institucionalizados ou hospitalizados, e ter mobilidade própria, sem auxílio
de pessoas, mesmo que tenham auxílio de aparelhos como muletas, andadores, etc.,
sem amputações).
Os indivíduos, então, foram aleatoriamente divididos conforme o grupo de
treinamento: grupo de treinamento periodizado (GTP) e grupo de treinamento não
periodizado (GTNP). Antes do início do treinamento (M1), todos foram submetidos às
avaliações de composição corporal, força, funcionalidade e questionários sócio
7
demográficos, de atividade física e de doenças auto-referidas. Na sequência, os
grupos de treinamentos (GTP e GTNP) foram submetidos ao programa de treinamento
resistido, durante 16 semanas, sendo que a cada 4 semanas os idosos eram
submetidos a reavaliações de força e composição corporal (M2, M3 e M4), com
variação dos fundamentos do treino resistido para o grupo GTP após cada momento
de reavaliação, enquanto o grupo GTNP, somente alterava a carga de treino. Ao
termino do treinamento, os idosos foram reavaliados para as mesmas variáveis do
M1.
Os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para
a participação no estudo. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), de acordo com as normas da Resolução E196/96 do
Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos.
Programa de Treinamento Resistido
Os participantes foram submetidos, inicialmente, a sessões de familiarização
aos aparelhos e aos exercícios, e posteriormente a um protocolo de treinamento
resistido com duração de 16 semanas, com 3 momentos de avaliações entre cada
quatro semanas de treino. Nas 4 primeiras semanas, o protocolo de treinamento
envolveu uma única programação de treinamento resistido, executada em duas
sessões semanais, em dias alternados. Todos os participantes realizaram neste
momento duas a três séries de 12 a 15 repetições, com incremento de carga ao longo
das sessões. A partir da quinta semana, os participantes do GTNP mantiveram o
mesmo protocolo, somente com incremente da carga, enquanto os participantes do
GTP realizaram um protocolo específico, da seguinte forma: 6ª. a 9ª. semana, 3 séries
x 10-12 repetições; 11ª. a 14ª. semanas, 3x8-10; 16ª a 19ª semana, 3x5-8. As únicas
exceções foram os exercícios para os grupamentos musculares da panturrilha (15 a
20-RM).
O programa de treinamento foi estruturado a partir de uma montagem alternada
por segmento, sendo composto por 8 exercícios executados na seguinte ordem:
supino vertical, leg press, puxada à frente, mesa extensora, rosca scott, mesa flexora,
tríceps pulley e panturrilha. As cargas utilizadas foram compatíveis ao intervalo de
8
repetições estipulado para cada exercício. Os voluntários foram acompanhados por
profissionais ou graduandos do curso de Educação Física, treinados e orientados para
o reajuste das cargas de treinamento, de acordo com os procedimentos propostos
pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte (2009). Os intervalos de recuperação
estabelecidos entre as séries, em cada exercício, foram de 60 a 90 segundos, e entre
os exercícios de 2 a 3 minutos. Os participantes foram orientados a não realizar
nenhum outro tipo de atividade física regular e sistematizada durante o período de
duração do estudo, de modo que o impacto do treinamento resistido possa ser
avaliado de forma isolada.
Força muscular
A força muscular isométrica dos participantes foi estimada por dinamômetro
eletrônico (Power Din Standard, CEFISE, Noca Odessa, SP, Brasil) para os grupos
musculares flexão de punho (força de preensão manual – FPM) e extensão de tronco
(força de tronco – FTR). Cada teste foi realizado três vezes, com duração de oito
segundos, e intervalos dez segundos entre as repetições, com acessórios específicos
para cada segmento, fornecidos pelo fabricante do equipamento, ligados à célula de
carga e ao computador. Foram registrados valores de força máxima e média (em kgf).
Para o teste de FPM, o sujeito permaneceu sentado, com o membro dominante sobre
a mesa, e ângulo de flexão de cotovelo entre 120º e 150º. Para FTR, ficou na posição
de pé, com joelhos completamente estendidos e flexão de quadril de 120º.
Massa Muscular
A massa musculoesquelética foi obtida a partir da avaliação da impedância
bioelétrica, por meio de equipamento octopolar InBody 720 (Biospace, Seoul, Coreia).
Foram mensurados, entre outras variáveis não utilizadas no presente estudo, a massa
musculoesquelética (MME) de membros superiores, inferiores e de tronco. O InBody
720 usa 8 pontos de contato, sendo 2 em contato com a palma e polegar de cada mão
e 2 em contato com a parte anterior e calcanhar de cada pé, permitindo avaliar 4
compartimentos da massa corporal (água corporal total, proteínas, minerais e massa
gorda). Cinco impedâncias segmentares (braço direito, braço esquerdo, tronco, perna
direita e perna esquerda) são medidas a 1, 5, 50, 250, 500 e 1.000 KHz. Os dados
9
foram eletronicamente importados para o Excel, utilizando o software Lookin’Body 3.0
(Biospace, Seoul, Coreia).
Qualidade Muscular
A qualidade muscular foi calculada a partir da razão entre força muscular total
e massa muscular de membros superiores e inferiores, e de tronco, e MME total, de
membros superiores e inferiores, e de tronco, respectivamente.
Tratamento estatístico
Inicialmente, o teste de Shapiro Wilk foi utilizado para a análise da distribuição
dos dados. Posteriormente, as principais características dos sujeitos, segundo sexo e
grupos de treinamento, foram apresentadas, em valores médios e desvio-padrão.
Para a comparação entre os valores de força em cada momento de avaliação (M1 x
M2 x M3 x M4 x M5) e entre os grupos (GTP x GTNP) análise de variância para
medidas repetidas (ANOVA) foi realizada, após teste de esfericidade (Mauchly’s). As
variações dos resultados entre os momentos final e inicial foi analisada, a partir de
cálculo relativo. O programa estatístico SPSS 22.0 foi utilizado para todos os cálculos
estatísticos, sendo adotado o nível de significância de 5%.
Resultados
Do total de 25 idosos inscritos no programa, três idosas abandonaram o estudo
antes de completar a quarta semana e duas idosas não tiveram os valores analisados,
tendo em vista a baixa frequência nas sessões. Desta forma, a amostra final foi
composta por 20 sujeitos (11 mulheres e nove homens). As características descritivas
da amostra, segundo sexo e grupo de treinamento, estão apresentadas na Tabela 1.
Não foram encontradas diferenças entre os grupos periodizados e não periodizados,
sendo que a maior diferença (t) foi para a variável IMM (p=0,270), confirmando a
semelhança dos grupos na aleatorização. Entretanto, quando separado os grupos
segundo sexo, foram verificadas diferenças para as variáveis altura, MME e as
variáveis de massa e força muscular. De modo interessante, as diferenças sempre
10
foram para o grupo periodizado, com menores valores para as mulheres, e maiores
valores para os homens, quando comparados com pessoas do sexo oposto.
Tabela 1. Características descritivas (Média±DP) da amostra, segundo sexo e grupo
de treinamento, no momento pré-treino.
Variáveis
Periodizado Não Periodizado
Feminino (n = 6)
Masculino (n = 5)
Feminino (n = 5)
Masculino (n = 4)
Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP p-valor
Idade (anos) 67,8±10,35 80,46±9,46 71,22±8,31 75,3±4,08 0,143 Altura (cm) 151,07±4,31a 164,96±4,47 156±8,08 164,75±7,23 0,006
Peso (kg) 64,83±13,92 77,76±11,53 66,8±6,04 72,6±12,62 0,292 IMC (kg.m-2) 28,45±6,23 28,51±3,52 27,53±2,73 26,63±3,38 0,925 PG (%) 41,05±6,84 35,93±5,33 43,42±3,77 35,57±4,45 0,098 IMM (kg.m-2) 8,89±1,13 10,08±1,12 8,40±0,73 9,46±0,78 0,077 MME (kg) 20,05±3,14 26,81±3,95b 19,96±1,31 25,09±3,59 0,005 MMgBr (kg) 3,97±1,02 5,58±0,87b 4,01±0,47 5,08±0,83 0,016 MMgTr (kg) 17,55±3,13 22,6±2,72b 17,95±1,27 21,25±2,59 0,014 MMgPr (kg) 10,22±1,61 15,06±2,84b 10,83±1,44 13,82±2,61 0,006 FPMmax (kg.f) 14,63±2,95 26,81±7,11b 17,57±1,09 22,59±5,75 0,003 FPMmed (kg.f) 12,28±2,4a 20,7±4,24 14,92±1,36 18,48±4,88 0,004
FTRmax (kg.f) 36,35±8,37a 73,97±19,47 48,05±4,62 67,53±23,47 0,003
FTRmed (kg.f) 29,6±6,24a 58,89±16,14 38,34±2,88 54,22±16,76 0,003
Notas: IMM = índice de massa muscular; MME = massa musculoesquelética; MMgBr = massa magra de membros superiores; MMgTr = massa magra de tronco; MMgPr = massa magra de membros inferiores; FPMmax = força de preensão manual máxima; FPMmed = força de preensão manual média;
FTRmax = força de tração máxima; FTRmed = força de tração média. a = diferente de grupos
masculinos; b = diferente de grupos femininos.
Informações da qualidade muscular entre os mesociclos estão apresentadas
na Tabela 2. Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos
(p>0,05), mas para o fator tempo para todas as variáveis.
11
Tabela 2. Valores médios (e desvio padrão) de qualidade muscular de idosos sarcopênicos segundo grupo e momento de
treinamento (Periodizado, n = 11; Não-periodizado, n = 9).
Momento 1 Momento 2 Momento 3 Momento 4 Momento 5 Momento Treinamento Interação Variáveis Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP p-valor p-valor p-valor
QMBr - Periodiz. 3,55±1,16 3,38±1,12 3,98±1,17 4,28±1,35 4,75±1,37
0,000 0,842 0,788
- Não-per. 3,69±0,49 3,33±0,73 3,75±0,68 4,18±0,88 4,55±0,78 QMTr - Periodiz. 2,12±0,66 2,23±0,77 2,43±0,48 3,09±0,71 3±0,66 0,000 0,109 0,947 - Não-per. 2,31±0,42 2,56±0,34 2,66±0,55 3,29±0,53 3,27±0,71 QMPr - Periodiz. 3,36±0,76 3,46±0,88 3,86±0,63 4,87±0,95 4,7±0,96 0,000 0,310 0,972 - Não-per. 3,7±0,4 4,1±0,5 4,3±0,81 5,3±0,79 5,21±1,09 QMTt - Periodiz. 2,50±0,62 2,57±0,69 2,85±0,56 3,46±0,77 3,46±0,71 0,000 0,279 0,989 - Não-per. 2,75±0,33 2,9±0,3 3,06±0,55 3,69±0,54 3,73±0,67
Notas: QM = qualidade muscular; Br = membros superiores; Tr = Tronco; Pr = membros inferiores; Tt = total.
12
Quando analisado a cada quatro semanas, os maiores aumentos na qualidade
muscular de membros superiores foram observados a partir de 8 semanas de
treinamento, enquanto para tronco e membros inferiores, a partir de 12 semanas
(p<0,05), bem como para a qualidade muscular total (Figura 1).
Figura 1. Variação da qualidade muscular dos idosos segundo grupo de treinamento (linha azul e vermelha) e momento de avaliação (N=20). Notas: * diferenças estatisticamente significantes com os momentos indicados.
A variação percentual entre os momentos iniciais e finais, para os dois grupos
de treinamento, para a qualidade muscular de membros superiores, tronco e membros
inferiores, está apresentada na Tabela 3. Conforme apresentado na análise de
variância para medidas repetidas, os resultados corroboram a falta de significância
estatística entre os grupos (p>0,05), para todos os segmentos analisados.
13
Tabela 3. Variação percentual das variáveis morfológicas, de força, e qualidade muscular entre os momentos inicial e final do
treinamento, segundo periodizações.
Variáveis Não-periodizado (n = 9) Periodizado (n = 11)
Mínimo Máximo Média DP Mínimo Máximo Média DP p
DQMBr 8,72 54,06 23,49 15,05 1,60 74,49 36,64 22,83 0,156 DQMTr -1,61 76,50 42,49 23,67 0,13 117,55 49,56 40,02 0,647 DQMPr -0,65 83,38 41,26 25,41 1,75 115,20 45,95 42,50 0,775 DQMTt 1,19 60,82 35,54 18,86 7,41 89,82 42,98 32,57 0,610
Notas: D = variação relativa (%); QM = qualidade muscular; Br = membros superiores; Tr = Tronco; Pr = membros inferiores; Tt = total.
14
Discussão
O presente estudo analisou o aumento da eficiência muscular, definida aqui
como qualidade muscular, de idosos e idosas sarcopênicos ao longo de treinamento
de 16 semanas, com intervalos a cada quatro semanas para avaliação da variável
dependente. O treinamento resistido desencadeou maior qualidade muscular de
membros superiores e inferiores, e de tronco, ao longo do período de intervenção,
independentemente do modelo de periodização utilizado.
As avaliações intermediárias proporcionam diferentemente da grande maioria
dos estudos com apenas dois momentos de avaliação (pré e pós-treino) a
possibilidade de identificar o ponto de deflexão para maiores ganhos de força. No
nosso estudo, qualidade muscular de membros superiores apresentou maiores
aumentos a partir da 8ª semana de treinamento, enquanto para tronco e membros
inferiores (maiores grupos musculares) a partir da 12ª semana.
De acordo com nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo que analisou as
respostas adaptativas aos modelos de treinamento periodizado e não periodizado em
idosos sarcopênicos, sobretudo com avaliações intermediárias. Com o levantamento
bibliográfico foi constatado a escassez de estudos que comparam modelos de
periodização, principalmente em idosos. Apenas um estudo realizou avaliações
parciais, ao longo dos diferentes mesociclos, mas houve limitação ao analisar
somente a percepção subjetiva de esforço (CONLON et al., 2015).
Com base nas teorias da adaptação, as quais sustentam o pressuposto da
periodização em programas de treinamento resistido, nossa hipótese era de que o
maior volume e uma baixa intensidade de treinamento ao progredir para o aumento
da intensidade e redução do volume ao longo do ciclo de treinamento poderia
proporcionar resultados superiores ao modelo não periodizado, com volume e
intensidade estável. Entretanto, nossa hipótese foi rejeitada, uma vez que ambos os
modelos de periodização promoveram respostas adaptativas semelhantes à
qualidade muscular, quando analisadas estatisticamente.
Mesmo em uma análise clínica, quando os resultados estatísticos não são
considerados, e somente as diferenças práticas e clínica, todas as variações na
qualidade muscular entre os momentos iniciais e finais foram muito similares entre os
grupos de periodização, indicando que possivelmente, ou maior tempo de intervenção
15
deveria ser considerado, ou maior tamanho amostral. Neste sentido, os valores do
poder amostral encontrado para o presente estudo, no caso onde não foi verificado
diferenças estatísticas entre os grupos de treinamento, variaram entre 5% e 35%.
Alguns estudos têm verificado ganho de força muscular por meio de diferentes
modelos de periodização, dentre os quais, periodização linear ou tradicional e
modelos de treinamento não periodizados. A maioria dos estudos apresentaram
amostras com adultos jovens apenas do sexo masculino, com frequência semanal de
3 a 4 vezes e período de treinamento entre 9 e 12 semanas.
Dentro da área de treinamento resistido com pessoas idosas, um dos primeiros
estudos a destacar os seus benefícios foi conduzido por Fiatarone et al. (1990). Nessa
investigação foram encontrados incrementos médios de 174% na força máxima, 9%
na massa muscular. Mesmo com importantes variações interindividuais, de maneira
geral, a força aumentou em média 20 vezes mais em relação à massa muscular,
sugerindo as melhoras da eficiência muscular nesta magnitude. Umas das possíveis
justificativas para não ter sido encontrado diferenças significativas entre os dois
grupos de treinamento foi o fato do volume de treino ter sido quase todo equalizado.
Uma vez tendo maior volume total em determinado treino, maior será a sua
sobrecarga, o que repercutirá nos ganhos de força muscular e massa muscular
(THOMPSON, 1994; FLECK, KRAEMER, 2014), na mesma proporção. Neste sentido,
com volumes semelhantes, provavelmente qualidade muscular foi verificada por conta
desta variável.
Os ganhos na qualidade muscular ao longo das 16 semanas nos dois grupos
de treinamento (GTP e GTNP) certamente justificou os incrementos na força
muscular, ou seja, a capacidade de geração de força aumentou para um determinado
volume muscular. Neste sentido, algumas variáveis como a adaptação neural,
aumento da potência muscular, reinervação das fibras musculares e alteração na
arquitetura muscular podem exercer papel importante nesse processo de aumento da
força muscular (FRAGALA et al., 2015).
Uma vez que o envelhecimento promove redução de 5 a 10% da massa
muscular por década após a sexta década de vida, especialmente em indivíduos
sedentários, acompanhado de redução de 6% da força muscular por década/ano de
vida (MITCHELL et al., 2012; GOODPASTER et al., 2006), é de extrema importância
para a população de pessoas idosas a disponibilização de programas de intervenção
16
de atividade física, sobretudo com treinamento resistido, a fim de proporcionar no
mínimo a manutenção da massa magra (neste estudo representado pela MME) e força
muscular. Assim, o aumento da qualidade muscular, a partir de maiores aumentos da
força muscular em relação à massa muscular, auxilia pessoas sarcopênicas na
funcionalidade e mobilidade (KRIST et al., 2013; VALE et al., 2006), na independência
funcional e na longevidade (SRIKANTHAN, KARLAMANGLA 2014), por meio de maior
eficiência muscular, conforme já apresentado anteriormente.
Como principais limitações deste estudo, e já citadas nesta discussão, o tamanho da
amostra pode ter interferido para que não houvesse diferenças entre os grupos
analisados. Entretanto, neste caso, nosso programa de treinamento,
independentemente do grupo analisado, promoveu efeitos positivos para a variável
dependente. Também, a falta de um método de avaliação direto da qualidade
muscular, como por exemplo, a ultrassonografia, onde é possível verificar a espessura
muscular e a arquitetura muscular, pode ter prejudicado a validade dos métodos de
avaliação utilizados. Por outro lado, nosso estudo, além de incluir idosos sarcopênicos
em programa com diferentes propostas de periodização, avaliou a força e massa
muscular em três momentos distintos intermediários, durante a intervenção, além dos
tradicionais momentos iniciais e finais de treino.
Conclusão
De modo geral, os principais resultados encontrados após o período de 16
semanas de treinamento foram: diferenças estatisticamente significante ao longo da
intervenção para todos os grupos e segmentos musculares, com maior eficiência
muscular para tronco e membros inferiores; ao analisar a força muscular a cada
mesociclo, foi perceptível maior ganho de força muscular em membros superiores a
partir da 8ª semana de treinamento, enquanto o ganho de força muscular em membros
inferiores e tronco foi a partir da 12ª semana.
17
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