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BUSCANDO EQUILÍBRIO
EDITORIAL
Equilíbrio é o que buscamos a vida toda mesmo que a prática nos faça
pender para um ou outro lado. Queremos tempo para se dedicar à
profissão e tempo para se dedicar à família; para se empenhar nas
tarefas e para o lazer; para fazer muitas atividades e para ficar sem fazer
nada... enfim, desejamos e não conseguimos e assim vamos entre um
pender para um lado ou para o outro buscando o ponto de equilíbrio.
Esta edição traz algumas matérias sobre essas buscas: tecnologia que
nos vigia e conecta e atenção para não criar uma 'segunda vida'. Povos
com uma cultura a preservar procurando o uso correto das tecnologias.
Mulheres ainda divididas entre o papel de mãe, profissional e dona de
casa na relação com o marido e os filhos. Mas esta edição também traz
propostas simples para viver em equilíbrio: ousar viver genuinamente a
rotina na editoria Ideias e, essa tal felicidade na editoria Viver Bem. Não
deixe de ler.
Boa leitura!
Maria da Luz Fernandes
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@arquivitoria arquidiocesevitoria mitraaves www.aves.org.br
Editora
arquivitoria
Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela – Bispo Nomeado de Bauru: Dom Rubens Sevilha – Editora:
Maria da Luz Fernandes / 3098-ES – Repórter: Andressa Mian / 0987-ES – Conselho Editorial: Alessandro Gomes,
Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Lara Roberts – Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri
Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi- Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin –
Publicidade e Propaganda: [email protected] – (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória:
[email protected] – Projeto Gráfico e Editoração: Blend Criativo - Designer: Gustavo Belo - Impressão:
Gráfica e Editora GSA – (27)3232-1266.
REPORTAGEM
TODAS AS CONVERSAS
SERÃO VIGIADAS
22
24
27
ESPIRITUALIDADE
DIÁLOGOS
CATEQUESE
1305
10
21
16
18
FAZER BEM
ARQUIVO E MEMÓRIA
SUGESTÕES
IDEIAS
VIVER BEM 38
ATUALIDADE
29 ASPAS
30 CAMINHOS DA BÍBLIA
23 PENSAR
41 LIÇÕES DE FRANCISCO
44 PERGUNTE A QUEM SABE
46 ACONTECE
33 ENTREVISTA
37 MUNDO LITÚRGICO
Essa tal felicidade
A tecnologia nas aldeias
O desafio da mulher, com Michella Zortéa
Prefácios do tempo comum
Função profética dos sindicatos
Com Pe Ivo ferreira e Pe Teodósio Cesar
Fique por dentro do que anda acontecendo por aí
43 ECONOMIA POLÍTICA Importante e fundamental
vitória | 05
REPORTAGEM
Quando se fala em índio, vem naturalmente à
mente de brancos e negros urbanos, pessoas
nuas ou seminuas, vivendo na mata, moran-
do em ocas, felizes, inocentes e contentes, sem in-
fluências de fora das aldeias, sem problemas, como
se estivessem congeladas no tempo e no espaço,
tendo como atividade a caça e a pesca, adorando o
sol e a lua e falando uma língua incompreensível.
A Revista Vitória visitou algumas aldeias no
Espírito Santo na região de Aracruz e viu sim um
pequeno índio nu, moradias de pau a pique no meio
da mata, harmonia com a natureza, preocupação
pela falta de peixe, gente feliz. Mas, viu também
casas de alvenaria, intimidade profunda com o
Deus Criador com lugar próprio para rezar (a casa da
reza), caciques lutando por direitos e preservação
da cultura e, pessoas conectadas e informadas.
Então, os índios mudaram? Sim, e o cacique, Antô-
nio Carvalho, da Aldeia Boa Esperança foi logo
explicando: “as casas são de alvenaria porque não
dispomos mais dos materiais que eram usados nas
moradias e a alvenaria é melhor, porque não entra
água e não precisa trocar a cada 5 anos. Mas, nem o
próprio português, espanhol, inglês e outros não
estão no mesmo jeito daquela época”. Nossa ida foi
para entender se e como as aldeias são impactadas
pela tecnologia.
A tecnologia nas aldeias
Visitamos três aldeias Guaranis (Três Palmeiras,
Boa Esperança e Piraquê-Açu). Na Três Palmeiras
visitamos o lugar do artesanato e conversamos com
a índia Eliane Bilhalvo de Lima. Ela explicou que
vivem de artesanato, agricultura e pesca e disse que
estão preocupados porque o peixe diminuiu muito
na região e a agricultura não é suficiente, pois a terra
não produz tudo que precisam e que a região mudou
muito e para pior, porque antes tinha mais casas na
aldeia e mais peixe que garantia a subsistência.
Rodrigo da Silva, (vice cacique da da aldeia Piraquê-
Açu) informou que grande parte das terras da aldeia
serviram de lixão para empresas e a Prefeitura, e,
Antônio, cacique de Boa Esperança, explicou que as
terras recuperadas da Aracruz Celulose estão
A TECNOLOGIA NAROTINA DAS ALDEIASGUARANIS EM ARACRUZ
REPORTAGEM
06 | vitória
improdutivas. Por conta disso
eles precisam recorrer às compras
no comércio da região para se
manterem e de maquinário para
preparar a terra e voltar a produ-
zir.
Entramos no objetivo da visita:
como a tecnologia entra nessa
relação com o mundo fora das
aldeias? Como percebemos na
chegada, nossos entrevistados
confirmaram a existência de uma
convivência com o mundo urba-
no, relações com as empresas
Fíbria e Samarco responsáveis
pelos prejuízos na agricultura e na
pesca, contato com brancos e
negros urbanos para vender o
artesanato que fabricam e, diá-
logo com o governo em busca de
projetos de ajuda às aldeias para
que mantenham sua cultura, co-
mo disse Rodrigo “hoje fui na reu-
nião do Ministério da Cultura, eles
queriam ver se a gente tem inte-
resse em fazer alguma coisa no
site. Claro que a gente tem inte-
resse porque a gente preserva
muito bem nossa cultura”.
Para que tudo isso seja possível,
os índios possuem transporte (vi-
mos carros e motos), celulares,
computadores e televisão”. Mas,
por lá os instrumentos de comu-
nicação são utilizados do jeito
deles. Tanto na aldeia Boa Espe-
rança quanto na Piraquê-Açu
existem regras para uso da tecno-
logia: “mesmo tendo a globaliza-
ção na nossa aldeia, nós sabemos
escolher o que pode ajudar. A
locomoção por exemplo, eu dirijo
carro, mas eu sou Guarani, o meu
espírito nunca vai ser mudado só
porque tenho um carro. Tem que
ter tecnologia, mas tem que ter o
controle sobre isso. Aqui a gente
sabe até que horas pode usar, o
que pode ver assistir, se for
violência tem que conversar.
Graças a Deus aqui na aldeia você
pode ir lá na outra aldeia e sabe
que vai voltar, na cidade você não
sabe se vai voltar ou não. A dife-
rença é que a gente sempre está
falando sobre isso, desde quando
começa a aprender a falar a Lín-
gua Portuguesa, a gente já come-
ça a falar sobre isso. Nós sabemos
como passar oralmente porque a
gente sempre tem os conselhos
na casa de reza (Opy). Eu sempre
estou com os grandes líderes das
nossas aldeias passando quais
são os perigos, dizendo onde tem
‘‘Hoje em dia deixar a
tecnologia é difícil, já
está na aldeia, o índio já
está conectado a tudo,
principalmente o jovem.’’
(Rodrigo da Silva, vice caciqueda aldeia Piraquê-Açu)
REPORTAGEM
vitória | 07
que pisar. Esses são os ensinamentos para respei-
tar” contou Antônio. Já Rodrigo da Aldeia Piraquê-
Açu acrescentou “Eu não assisto tv por opção.
Deixei há 4 anos, depois eu vi que não era adequado
para mim nem para meus filhos. Eu vi que não é
coisa boa. Cada vez que a gente liga a tv é muita
morte, político roubando, criança morrendo, é
muita notícia ruim. Então, prefiro desligar a tv”. Mas
Rodrigo também acrescentou “Hoje em dia deixar a
tecnologia é difícil, já está na aldeia, o índio já está
conectado a tudo, principalmente o jovem. A gente
só tem que tomar cuidado, os caciques têm sempre
que ficar atentos de ver como a tecnologia vai ser
abordada dentro da aldeia, a gente precisa cuidar
para o jovem se conectar bem”. Sobre a influência
da TV, Eliane da aldeia Três Palmeiras disse: “eu
assisto a novela Carinha de anjo, mas não muda
nada, eu não tenho vontade de imitar”.
A relação com a sociedade branca e preservação
da cultura
Embora seja raro, alguns índios guaranis traba-
lham fora da aldeia e os jovens estudam fora da
aldeia a partir da oitava série. Perguntamos se esse
contato não introduz nas aldeias outros costumes
como uso de drogas e bebida, mas a resposta é de
que para essas situações, que são raras, seguem as
mesmas regras: dialogar e aconselhar. “A gente
sempre comunica aos jovens que não pode, sempre
dá esse conselho e por isso que os mais velhos
sempre dão palestra na escola sobre droga, doenças
sexualmente transmissíveis”, disse Rodrigo. “A
gente sempre fala que o objetivo principal da nossa
aldeia é a família, que não se deve usar isso porque
isso não faz parte da nossa cultura e não faz parte de
outras culturas também, a gente mostra que isso
não traz felicidade só traz infelicidade para a
pessoa”, afirmou Antônio.
Rodrigo da Silva - vice cacique da Aldeia Piraquê-Açu
08 | vitória
REPORTAGEM
desbotado ou uma goteira tinha
molhado ou podia ter queimado.
Então, se eu não tivesse gravado
na mente e no coração tudo que
ela falava do nosso criador, que o
equilíbrio da natureza traz mais
força para nós, porque a natureza
que faz a gente estar bem, eu já
tinha perdido tudo”.
Se houver problemas também
tem punição que pode chegar até
à expulsão, quem explicou foi
Rodrigo: “se fizer alguma coisa
grave pode ser expulso, já acon-
teceu vários (se bater na mulher,
se usar bebida alcoólica é expul-
so da aldeia). Mas isso é difícil
acontecer, porque o cacique está
sem-pre de plantão para “manter
a ordem e a harmonia da aldeia e
não deixar nada atrapalhar”,
explicou Rodrigo.
Perguntamos a Antônio se as
crianças e jovens escutam os en-
sinamentos e se existem regras.
Ele respondeu: “Escutam. Muitas
vezes os alunos que estudam lá
foram dizem assim: o ensinamen-
to da nossa aldeia sempre vai ser
melhor”, e acrescentou: “as reco-
mendações são gravadas no co-
ração e na mente. A gente sempre
coloca que não pode pegar ou
roubar coisas de outro, a briga é
completamente proibida. Mas
isso é tudo oralmente, não está
escrito no papel, é preciso gravar
no coração. Minha avó passou
para nós oralmente e a gente
gravou no coração e na mente. Se
eu tivesse anotado alguns valores
que minha avó falou, se eu ano-
tasse no papel eu creio que já
teria esquecido, o papel já tinha
Curiosidade: Todo o índio tem um nome “Nós temos um nome sagrado, o meu não é Antônio Carvalho, isso é para tirar identida-de, o meu nome sagrado é Relâmpago no pôr do sol. Minha avó dizia que não podia colocar um nome sagrado no papel que foi feito pela mão do homem. O nome é revela-do ao líder espiritual antes da criança nascer, n ã o s ã o o s p a i s q u e escolhem. O nome sagra-do vem para ser o alicerce da vida daquela pessoa. Por isso, não é qualquer um que pode colocar o nome na criança”.
vitória | 09
REPORTAGEM
Maria da Luz Fernandes
A Casa da Reza
Essa harmonia entre eles que compartilham a
vida, os recursos agrícolas e a pesca tem como base
de equilíbrio o encontro para rezar no final do dia.
Nas três aldeias existe a Casa da Reza, uma tradição
Guarani. “Todas as noites às 18h todo o mundo tem
que estar, não é só no sábado ou domingo, se chegar
atrasado não pode entrar e nem sequer bater na
porta, é um lugar sagrado, tem que respeitar. Esse
ensinamento de ir rezar às 18h foi Deus que ensinou
para a gente, não foi o padre, não foi o pastor. Dizem
que a gente adora o sol, a natureza... não, nós ado-
ramos porque Deus criou. Todo o ser tem que res-
peitar o que foi criado por Deus, explicou Antônio e
Rodrigo acrescentou “A gente reza toda a noite, a
gente reza para todo o mundo e principalmente
pelos mais velhos e as crianças. Ao anoitecer todo o
mundo vai para a casa da reza, a gente canta, conta
história, o curandeiro reza e não tem horário para
sair porque isso envolve a parte espiritual da
humanidade”.
Jornalista
10 | vitória
FAZER BEM
Um modelo de luxo da Lamborghini
Huracán doada ao Papa Francisco no valor
de mais de 1 milhão de reais, foi leiloado
por um valor três vezes maior e vai financiar
um projeto de reconstrução de casas,
lugares de culto e estruturas públicas na
planície de Nínive no Iraque. A doação vai
ajudar cristãos expulsos pela guerra a
“reencontrarem suas raízes e sua dignida-
de”, informou a Santa Sé. Além disso, parte
da quantia também permitirá ajudar uma
associação italiana que apoia vítimas de
redes de prostituição e duas organizações
italianas ativas na África.
Uma solução para as temidas picadas diá-
rias para a medição de glicose no sangue.
Cientistas da Universidade de Bath, no
Reino Unido, desenvolveram um emplastro
adesivo, parecido com um curativo, para
medir os níveis de glicose pela pele. O
objetivo é eliminar a necessidades de teste
com picadas de agulha. As próximas etapas
do trabalho incluem um aprimoramento
adicional do projeto para que o emplastro
cubra as medições durante 24 horas.
Papa leiloa Lamborghinipara ajudar o povo iraquiano
Um alívio paraos diabéticos
vitória | 11
O estudante de engenharia biomédica Derew Miles,
desenvolveu um dispositivo para ajudar uma
menina de 5 anos que não possui a mão esquerda, a
tocar violino. O professor de Neiriah Rhodes solici-
tou à Universidade LeTourneau, a impressão em 3D
do instrumento que Neiriah usava para facilitar o
manuseio. Derew desenvolveu um instrumento
novo, pintou de rosa, por ser a cor preferida de
Neiriah e doou à menina.
Para pessoas que querem ajudar outras
pessoas e não sabem por onde começar,
surgiu uma ótimo iniciativa nos Estados
Unidos, o ônibus do Bem. As pessoas
embarcam sem saber o itinerário e o tipo
de trabalho e só ficam sabendo quando
estão prontos para partir. Junto com a
revelação da missão, os organizadores
oferecem aos voluntários uma descrição
da missão e um rápido treinamento para
que estejam aptos a realizar as tarefas que
encontrarão pela frente. Empresas tam-
bém podem contar com o ônibus do bem
para organizar trabalhos voluntários com
seus funcionários.
Dispositivo permite menina quesó tem a mão direita tocar violino
Voluntariado surpresa paraquem tem vontade de ajudar
FAZER BEM
vitória | 13
Recentemente os escânda-
los envolvendo o Face-
book e a empresa de con-
sultoria britânica Cambridge
Analytica assustaram milhões de
usuários de redes sociais ao redor
do mundo por medo destes terem
seus dados utilizados para fins
políticos e comerciais.
Por meio de um aplicativo, a
Cambridge Analytica teve acesso
às informações de mais de 87
milhões de perfis do Facebook. A
grande maioria se encontra nos
Estados Unidos da América, cerca
de 70,6 milhões e logo em seguida
aparecem países como Filipinas,
Reino Unidos e até mesmo o
Brasil.
Com isso, muitas pessoas co-
meçaram a se questionar sobre
as informações que fornecemos
na internet e até onde vai a nossa
privacidade. Acontece que no
marketing digital, um dos princí-
pios é o seguinte: “Se você não
paga por um produto, você é o
produto”. Ou seja, você não paga
pela maioria dos serviços do
Google (Gmail, Buscador, Maps
etc...) mas a empresa armazena-
mos seus dados e utiliza como
segmentação de mercado e como
forma de direcionar os anúncios
que aparecem na internet.
Hoje em dia praticamente tudo
o que fazemos na internet é mo-
nitorado. O Google “lê” todos os
seus e-mails, guarda todas as
suas pesquisas e conhece o
caminho que você faz de casa
para o trabalho. Quando você
comenta sobre um determinado
item no Instagram, Facebook ou
Whatsapp, logo em seguida diver-
sos anúncios sobre aquele produ-
to aparecem na tela do seu com-
putador/smartphone.
Além disso, é praticamente im-
possível não ter um perfil numa
rede social. Temos redes sociais
ATUALIDADE
TODAS AS CONVERSAS SERÃO VIGIADAS
14 | vitória
para quase tudo: profissão
(LinkedIn), imagens (Flickr e
Instagram), relacionamento
(Tinder), amizade e interações
(Facebook) e assim por diante.
O escândalo recente envolven-
do o Facebook e a empresa de
consultoria Cambridge Analytica
deixou todo usuário de redes
sociais assustado com a possibili-
dade de ter os seus dados invadi-
dos ou, pior ainda, que esses
foram explorados para a criação e
entrega de alguma campanha
publicitária. O que muita gente
não sabe é que isso já acontece
com diferentes serviços utiliza-
dos na internet, até mesmo para
aqueles que não possuem um
perfil nas redes sociais.
Sabe aquele famoso ‘Termos e
Condições de Uso’, que somos
obrigados a aceitar toda as vezes
que nos inscrevemos ou utiliza-
mos algum serviço digital? O que
muita gente não sabe é que, para
além dele estabelecer as regras e
condições de usos do serviço,
muitos desses contratos possibi-
litam que as empresas utilizem os
seus dados de forma indiscrimi-
nada.
O documentário Terms and
Conditions May Apply (2013) já
fazia esse alerta. A obra analisa as
políticas de privacidade do
Google e do Facebook desde o iní-
cio do século passado, comparan-
do como foi se aprimorando a
maneira como essas empresas
coletam nossas informações e
utilizam em benefício próprio ou
de terceiros.
Imagine que você chegue numa
cidade e alugue um carro. No
contrato de prestação de servi-
ços, que você assina sem ler
completamente, está estipulado
que você vai fornecer informa-
ções sobre tudo o que tiver feito
naquele período: as pessoas que
entraram no carro, os lugares que
você visitou, onde abasteceu o
veículo, o que você comeu
durante esse tempo, as conversas
realizadas dentro do carro e assim
por diante.
Assustador, não? É exatamente
isso que acontece com todos os
serviços digitais. O Gmail lê todas
as suas mensagens, o Facebook
monitora todas as suas ativida-
des, o Google registra todas as
suas pesquisas, sites visitados e
até mesmo os lugares que você
visita por meio do GPS do seu
smartphone.
Mas como chegamos a esse
cenário?
Em 1999 era lançado o Cluetrain
Manifesto (Trêm das Evidências –
em português), que continha 95
teses para todas as empresas que
operavam dentro de um mercado
recém conectado. A proposta do
manifesto era a de superar o
pensamento ultrapassado do
século 20 sobre os negócios e as
ideias ali presentes que procura-
vam examinar o impacto das Tec-
ATUALIDADE
vitória | 15
ATUALIDADE
nologias de Informação e de
Comunicação (TIC) nos ambien-
tes corporativos e na comunica-
ção organizacional.
Sim, mas qual a conexão desses
dois eventos? Explico melhor. Um
dos pontos principais expostos
no Cluetrain Manifesto diz res-
peito aos mercados enquanto
conversas. Quando você vai a
uma feira o que mais se ouve são
pessoas gritando, conversando
ou pechinchando algum produto
e para os autores dessa obra, os
mercados sempre foram locais
onde as pessoas se reuniam e
conversavam entre si.
Os aplicativos recentes de-
monstram bastante essa lógica.
Os motoristas do UBER são avali-
ados de acordo com as corridas
que os usuários tiveram, você não
fala com outra pessoa, mas man-
da uma mensagem para o aplica-
tivo demonstrando sua satisfa-
ção ou insatisfação com o serviço.
Quando você vai alugar um
apartamento pelo AIRBNB você
busca os comentários das pes-
soas que utilizaram o serviço an-
tes de você, assim, teoricamente,
fica mais fácil de se tomar uma
decisão sobre onde ficar.
Uma poderosa conversação
global começou. Através da Inter-
net, pessoas estão descobrindo e
inventando novas ma-neiras de
compartilhar rapidamente co-
nhecimento relevante. Como um
resultado direto, mercados estão
ficando mais espertos — e mais
espertos que a maioria das em-
presas. The Cluetrain Manifesto
Dessa forma, lembre-se que
quando falamos da internet,
devemos partir de um princípio
que se trata de um ambiente
digital no qual deixamos várias
pegadas, vários registros das
nossas passagens. O que são
essas pegadas? As postagens que
publicamos (curtimos, comenta-
mos ou compartilhamos), as
buscas que fazemos, as compras,
os sites visitados, os e-mails
enviados e assim por diante.
Não se trata aqui de falar de
uma teoria da conspiração que
procura controlar e vigiar tudo
aquilo que fazemos. A ideia é que
a gente reflita sobre o poder
dessas empresas e quais são os
objetivos que elas buscam ao uti-
lizar as nossas informações. No
Felipe TessaroloPublicitário e professor no Centro
Universitário Faesa
caso da Cambridge Analytica já há
quase um consenso de que ela
influenciou nas eleições america-
nas que deram a vitória ao Donald
Trump e a saída da Ingla-terra da
zona do euro. Qual será o próximo
passo a partir daqui?
SUGESTÕES
onhecer a história de vida Cda artista Ercília Stanciany
que assina a exposição
“Maré da Vida” no Centro Cultural
Sesc Glória, no Centro de Vitória, já
vale a visita à mostra. A artista mi-
neira, que atualmente mora no mu-
nicípio da Serra, usou cabeceiras de
camas e pedaços de móveis encon-
trados no lixo para trabalhar a
técnica da xilogravura, talhando
com pregos e materiais perfurantes
os desenhos que contam os mo-
mentos e as pessoas que marcaram
sua trajetória.
MARÉ DA VIDA
16 | vitória
Andressa MianJornalista
Na técnica da xilogravura, as
peças funcionam como uma
matriz que podem ser usadas pa-
ra carimbar diversas superfícies,
e na exposição Maré da Vida, as
gravuras foram estampadas com
tinta preta em pedaços translúci-
dos de pano vermelho, dando um
aspecto de leveza e beleza para a
história contada.
Quem visitar a mostra vai en-
contrar também dois tapetes
feitos manualmente pela artista
nas quais ela, usando materiais
recicláveis, colocou tudo o que
tem grande importância em sua
vida. As duas peças estão no
contexto de seu novo projeto de
vida, uma pós-graduação em
Arteterapia. A artista chegou em
Vitória de trem há 14 anos com o
marido e com o filho em busca de
melhores chances na vida e en-
controu na coleta de lixo a sobre-
vivência da família. Também foi
no lixo que Ercília encontrou os li-
vros usados para estudar sozinha
e ingressar no Curso de Artes
Plásticas da Universidade Fede-
ral do Espírito Santo.
De uma família humilde, Ercília
foi proibida pelo pai de estudar
ainda criança, pois precisava aju-
dar em casa. No entanto, as difi-
culdades que surgiram em seu
caminho não a impediram de
alcançar o sonho de ser uma ar-
tista.
A exposição está aberta ao pú-
blico até o dia 15 de julho de ter-
ças às sextas-feiras. Das 11 às 20
horas (exceto fer iados) . A
entrada é franca e a classificação
é livre.
SUGESTÕES
vitória | 17
IDEIAS
Se a vida ligeira, apressada, cheia de coisas a
consumir e desprazeres a desfrutar vai sendo
vivida como se apartada de seus significados,
claro é que sonharemos com um tempo e lugar
especiais que nos colocarão em sintonia com aquilo
que intensificaria a vibração do nosso corpo e alma.
Claro que a dimensão espiritual da existência será
projetada num lugar e num momento especial para
além do que nos tangencia e atravessa. Claro que a
satisfação em se viver será arremessada para a
viagem dos sonhos, para cenários e países que
parecem destituídos dos insuportáveis que vivemos
e nos machucam.
18 | vitória
Padre, psicólogo e Mestre em
Psicologia Institucional
Dauri Batisti
A despeito da desvalorização da
rotina, do que é mais simples e
aberto, a vida comum, banal, não
poderia ser desperdiçada, por ser,
assim, a mais excelente via para
acessar estes outros horizontes
capazes de dar novos e consisten-
tes sentidos à vida. Ou seja, nos
permitir, tentar, ousar viver genu-
inamente a aparentemente “po-
bre” rotina pode ser um belo en-
frentamento aos modos contem-
porâneos de existir, modos que
nos enchem de expectativas por
grandes momentos, que colocam
a todos em busca de “sonhos”,
que a muitos movimenta para
que busquem ideais, lá longe, em
exaustivas lutas por “realização”
e que resultam quase sempre em
colheitas fartas de frustrações.
IDEIAS
Então sonhamos, sonhamos com
turnês maravilhosas, com santuá-
rios que nos alcancem milagres,
com experiências que a nossa
“vida pequena” não tem força para
nos fazer conhecer. Mas - bem já
sabemos - se há um mundo melhor
e bonito a ser alcançado ele não
está lá. Ele está aqui, permeando
as realidades, disponível e gratui-
to. É a que poderíamos chamar de
dimensão sagrada da vida.
A dimensão sagrada da vida não
está fora, nem distante, nem des-
colada dela. A dimensão sa-grada
da vida está nela como es-trutura,
esqueleto, sangue. Como pele,
epiderme e musculatura. E, pa-
rece, é pela cotidianidade da vida
que essa dimensão poderá ser
mais facilmente acessada.
vitória | 19
vitória | 21
ESPIRITUALIDADE
Pe. Jorge Campo Ramos Reitor do Seminário Nossa Senhora
da Penha e Vigário Geral
O tema “espiritualidade” sempre desperta o inte-
resse dos homens e mulheres de todas as épocas e
culturas. A atenção e a busca pela espiritualidade
não se restringem a determinada classe social. A
alma e o coração humano são dotados de uma força
transcendente que os leva a peregrinar na busca so-
bre o sentido último da existência. Vários são os ca-
minhos espirituais que levam homens e mulheres a
buscarem as respostas e os sentidos para suas vidas.
Grandes místicos percorreram caminhos espiritu-
ais que os levaram a encontrar – embora não apenas
ou tão somente – respostas para suas inquietações;
mas, pela via espiritual, encontraram um caminho
de paz interior. Puderam encontrar um caminho de
integração consigo mesmos, com o outro, com a
comunidade, com o mundo, com o cosmos, com o
despertar para o equilíbrio para com a natureza,
para com a ecologia. E, fundamentalmente como
ápice da experiência espiritual, os místicos puderam
fazer a experiência do encontro transfigurante com o
Totalmente Outro, com a Divindade, com Deus.
A jornada pela espiritualidade desperta interesse
porque a ciência não tem respostas para todas as
perguntas e inquietações humanas. Em sua consti-
tuição, o ser humano é um ser aberto à transcendên-
cia. O ser humano não se satisfaz levando uma vida
medíocre. Ao contrário, o homem tem sede de algo
mais. Tem sede de um sentido para tudo que faz,
experimenta, projeta e sonha. O ser humano tem se-
de de vida, de liberdade, de dignidade, de justiça e
de paz. Tem desejo de realização e de expansão de
suas capacidades mais intrínsecas.
Todo ser humano possui em si uma força que o
lança para frente, para o alto, para o transcendente.
Uma força que o projeta e o faz sonhar e colocar-se a
caminho. É essa força que o leva a superar grandes
desafios, que o arranca dos espaços de comodida-
de. Uma força tal que não lhe permite a permanên-
cia nos espaços mais sombrios e obscuros, quer
esses espaços estejam dentro ou fora de si mesmo.
A vida espiritual leva o ser humano à superação de
adversidades e de barreiras muitas vezes considera-
das instransponíveis. A espiritualidade é a força mo-
triz que faz do derrotado um vencedor; que transfor-
ma a fragilidade e o medo em força e coragem.
O homem e a mulher espirituais são arautos da es-
perança e do amor. São capazes de enxergar, para
além da aparente derrota da morte, a vitória da
Vida. O homem e a mulher espirituais têm a capaci-
dade de ver e de julgar para além das aparências;
sem, contudo, negar ou desconsiderar a objetivida-
de e a facticidade da vida.
A espiritualidade suscita no coração humano uma
excepcional capacidade de perceber o extraordiná-
rio no ordinário da vida. O homem e a mulher espi-
rituais são capazes de se maravilhar e de se encan-
tar com aquilo que é corriqueiro, trivial e simples.
Não é possível um desenvolvimento humano pleno,
integral, sem considerar a dimensão espiritual no
contexto da realidade humana. Ou seja, sem con-
siderar que a espiritualidade é uma realidade cons-
tituinte dos seres humanos.
VIDA ESPIRITUAL
ARQUIVO E MEMÓRIA
elebração do aniversário de falecimento do Cpadre José de Anchieta com a presença dos
Bispos da Província Eclesiástica do Espírito
Santo, padres, autoridades civis e militares. Os
índios, aqueles que o missionário Jesuíta cuidou,
defendeu e amou, estiveram representados por
alunos das escolas do município de Anchieta. Nesse
ano, o Dia Nacional de Anchieta foi instituído por
decreto federal.
Coordenação do Cedoc
Giovanna Valfré
09 DE JUNHO DE 1965
22 | vitória
24 | vitória
DIÁLOGOS
tribui-se a Cícero, orador e Apolítico da Grécia Antiga, a
conhecida frase “A His-
tória é a mestra da vida”. Gosto
dessa afirmação. De fato, para
vivermos bem o presente e abrir-
monos para o futuro, é necessário
termos em nossa mente e cora-
ção o rico passado vivido pela
humanidade com seus acertos e
falhas. Tratando-se da história da
Igreja no Estado do Espírito Santo,
duas Famílias Religiosas se des-
tacam de uma maneira proemi-
nente: a Família Franciscana que
esteve presente desde os primei-
ros esforços de colonização
dessas terras. Todos temos bem
presente a história dos missioná-
rios franciscanos que residiram
em Vila Velha e, logo em seguida,
na Ilha de Santo Antônio, hoje
Vitória, onde funciona atualmen-
te a Cúria Arquidiocesana de
Vitoria do Espírito Santo. Entre
esses missionários destacou-se,
sobremaneira, o frei Pedro Palá-
cios, que trouxe consigo a Estam-
pa de Nossa Senhora das Alegrias,
venerada pelo povo capixaba co-
mo Nossa Senhora da Penha. É a
devoção popular mais antiga do
Brasil, enquanto expressão de
grande massa popular. Todos sa-
bem como essa piedade popular
veio alcançando o coração de
nosso povo.
Contudo, nesse mês de junho,
especialmente, no dia 9 de junho,
nós nos voltamos para uma outra
Família Religiosa Missionária, a
Companhia de Jesus. Chegou
junto com os colonizadores.
Chamamos os membros desta
Família Missionária de “Jesuítas”.
Estes e os franciscanos foram os
primeiros e grandes apóstolos
evangelizadores do Brasil, espe-
cialmente do Estado do Espírito
Santo. Sabemos e louvamos o
árduo trabalho da Companhia de
A ELES NOSSA ADMIRAÇÃO E GRATIDÃO
Jesus, do Sul ao Norte do Estado,
tendo como destaque o apóstolo
dos ameríndios, São José de An-
chieta. A alegria do reconheci-
mento de sua santidade chegou-
nos em abril de 2014, quando
Papa Francisco decretou sua ca-
nonização. José de Anchieta foi o
evangelizador que se preocupou
em inculturar-se para poder
e vangel izar os povos destas
terras. Com-pôs um dicionário na
língua dos povos autóctones,
escreveu peças teatrais catequé-
ticas etc... Visitou o Estado de
norte a sul, deixando sinais do
anúncio do Evangelho: o r io
Cricaré passou a chamar de São
Mateus, em cuja margem surgiu a
dinâmica cidade que hoje conhe-
cemos e ali nasceu a sede da Dio-
cese de São Mateus. Em Vitória
construiu o Colégio São Tiago e le-
cionou nesta Escola. Em Guarapa-
ri celebrou na Igreja de Nossa
Senhora da Imaculada Concei-
ção. Em Reritiba, hoje Anchieta,
residiu por uns tempos e ali fale-
ceu. Hoje em Anchieta temos o
Santuário Nacional são José de
Anchieta. Do norte ao sul e no
centro do Estado percebemos os
sinais evangelizadores destes
beneméritos missionários da
‘‘hoje o Estado do
Espirito Santo não
só é conhecido
pelas sua beleza
natural e perspec-
tivas econômicas e
culturais, mas
como o Estado
onde o grande
Santo Missionário
Apóstolo do Brasil
viveu e morreu’’
vitória | 25
Arcebispo Metropolitano de Vitória
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.
Companhia de Jesus: em São Pedro de Alcântara do
Itabapoana uma imagem barroca de São Pedro
Apóstolo, vinda de Portugal, deu nome à cidade; em
Presidente Kennedy, a Igreja Santuário Nossa
Senhora das Neves; em Itapemirim, a Igreja Nossa
Senhora do Amparo; na região de Vargem Alta
descendo para Castelo, o córrego do ouro, por onde
passaram os Jesuítas evangelizando os autóctones.
Hoje o Estado do Espirito Santo não só é conheci-
do pelas sua beleza natural e perspectivas econômi-
cas e culturais, mas como o Estado onde o grande
Santo Missionário Apóstolo do Brasil viveu e morreu
e cujo local se transformou no Santuário Nacional
de São José de Anchieta no Município de Anchieta
Estado do Espírito Santo.
Sim, a história da Igreja no Estado do Espírito
Santo não pode jamais ignorar estas duas grandes
famílias missionárias, além das outras mais recen-
tes, todas merecedoras de nossa homenagem. Neste
mês porém o destaque é para a Companhia de
Jesus na figura de São José de Anchieta. Aos jesu-
ítas nossa admiração e gratidão!
Tenho certeza de que tudo tem sido realizado
“Ad Maiorem Gloriam Dei’’.
DIÁLOGOS
vitória | 27
CATEQUESE
finalidade específica da Acate-quese, no entanto,
não deixa de continuar a
ser a de desenvolver, com a ajuda
de Deus, uma fé ainda inicial. A de
promover em plenitude e de ali-
mentar quotidianamente a vida
cristã dos fiéis de todas as idades.
Trata-se, com efeito, de fazer cres-
cer, no plano do conhecimento e
da vida, o gérmen de fé semeado
pelo Espírito Santo, com o pri-
meiro anúncio do Evangelho, e
transmitido eficazmente pelo
Baptismo.
A catequese, portanto, há de
tender a desenvolver a inteligên-
cia do mistério de Cristo à luz da
Palavra, a fim de que o homem
todo seja por ele impregnado.
Deste modo, transformado pela
ação da graça em nova criatura, o
cristão põe-se a seguir Cristo e, na
Igreja, aprende cada vez melhor a
pensar como Ele, a julgar como
Ele, a agir em conformidade com
os seus mandamentos e a espe-
rar como Ele nos exorta a esperar.
FINALIDADE ESPECÍFICA DA CATEQUESE
O que é catequese e como falar dela para pessoasque foram batizadas e iniciadas nos Sacramentos?
‘‘Trata-se, com efei-
to, de fazer crescer,
no plano do conheci-
mento e da vida, o
gérmen de fé semea-
do pelo Espírito
Santo, com o prime-
iro anúncio do
Evangelho, e trans-
mitido eficazmente
pelo Baptismo.’’
Mais precisamente, a finalida-
de da catequese, no conjunto da
evangelização, é a de construir a
fase de ensino e de ajuda à matu-
ração do cristão que, depois de
ter aceitado pela fé a Pessoa de
Jesus Cristo como único Senhor e
após ter-lhe dado uma adesão
global, por uma sincera conver-
são do coração, se esforça por
melhor conhecer o mesmo Jesus
Cristo, ao qual se entregou: co-
nhecer o seu ‘‘mistério’’, o Reino
de Deus que Ele anunciou, as exi-
gências e promessas contidas na
sua mensagem evangélica e os
caminhos que Ele traçou para to-
dos aqueles que O querem seguir.
Se é verdade, portanto, que ser
cristão significa dizer ‘‘sim’’ a
Jesus Cristo, convém recordar
que tal ‘‘sim’’ se situa a dois ní-
veis: consiste, antes de mais, em
abandonar-se à Palavra de Deus e
apoiar-se nela; mas comporta
também, num segundo momen-
to, o esforçar-se por conhecer ca-
da vez melhor o sentido profundo
dessa Palavra (CT 20).
A partir deste mês, esta página dedicada à catequese trará textos que ajudem a compreender e vivera fé com
os grandes nomes da história da Igreja Católica. Achamos por bem, a título introdutório, publicar um
pequeno texto da Exortação Apostólica Catechesi Tradentae do Papa João Paulo II, publicada em 1979.
vitória | 29
ASPAS
PUC Minas
Mozahir Salomão Bruck
Não se pode tirar do contexto, em que foi al-
gumas vezes dita, a afirmação de Zuenir
Ventura sobre o fato de que o excesso de
informação torna-se um tipo de censura. E ele o diz
em relação especialmente aos jovens que afirmam
que, de algum modo, vivem sob censura. Tem razão
o Zuenir. O que vivemos hoje está absolutamente
distante e diverso do que o Brasil viveu há cinquenta
anos. Atrofiada pelo poder de exceção, autoritário e
ditatorial, a informação não circulava. Era um pro-
blema de natureza ética, político-ideológica mas,
acima de tudo, de direitos humanos. A informação
era censurada, as pessoas enganadas e os que con-
seguiam enxergar que o País estava mergulhado
nas sombras e emudecimento eram banidos ou ex-
terminados.
Mudanças profundas têm sido experimentadas
pelas sociedades em termos de seus processos de
midiatização e de interação. Passamos, em poucas
décadas, do excessivo controle para a desregula-
mentação e total descontrole. No caso em tela, do
Brasil, o fenômeno não é menos complexo. Talvez,
de algum modo, até mais difícil de compreender. Se
passamos de uma pré-modernidade (com impren-
sa, mas com uma população majoritariamente de
analfabetos) para uma modernidade tardia (a
rápida chegada da mídia eletrônica massiva – rádio
e, em seguida, a tv), a pós-modernidade nos tomou
de assalto, encontrando-nos em precária situação
de educação formal e de ausência de efetivos pro-
gramas e políticas públicas de fomento da cultura,
da arte e da cidadania.
As comunidades mais carentes buscam suas pró-
prias soluções e caminhos. Isso também é cultura. E
é o que lhes dá ainda raízes. Mas sofrem, de modo
talvez ainda mais perverso, os efeitos da super
oferta de informação. Boatos, fake News, a metra-
lhadora giratória ideológica do neoconservado-
rismo, os conteúdos de apologia ao crime e a into-
lerância... a internet canaliza e faz vazar de seu leito
um tsunami de discursos de ódio e banalização da
vida que desestruturam os bons projetos e iniciati-
vas de construção de uma cultura de paz. Embora o
discurso cidadão e da solidariedade. Nessa perspec-
tiva, há muita censura. A internet nos salva da desin-
formação.Mas como nos salvar da internet?
“EXCESSO DE INFORMAÇÃO TAMBÉM É CENSURA” Zuenir Ventura
CAMINHOS DA BÍBLIA
medo é uma experiência própria da fra-Ogilidade da condição humana e nasce na
sensação de ser colocado em alguma
dificuldade, quando o homem se sente incapaz ou
impotente diante de algumas realidades que a ele
se apresentam. Na Sagrada Escritura, é de conheci-
mento geral que o mundo não acolhe e nem recebe
bem os profetas, já que a maioria deles foi persegui-
da e rejeitada. Sabendo disso, Jesus ao se dirigir aos
seus discípulos com as palavras: Não tenhais medo,
tem o intuito de fortalecê-los no momento em que
são enviados para a missão de anunciar o Reino dos
Céus. O desejo do Mestre é o de que os discípulos
não se deixem perturbar pelas dificuldades e sejam
tomados e paralisados pelo medo, mas se sintam
acompanhados e guiados por sua presença.
A primeira vez em que o Senhor se dirige aos seus,
convidando-lhes a não ter medo, está relacionada
com a força da Palavra por eles anunciada. O Senhor
lhes dá a garantia de que é o próprio Deus que os
sustentará na proclamação da Palavra e que a fará
conhecida por todos. A segunda ocorrência está
ligada ao medo da morte, isto é, do limite humano e
de sua fragilidade. Nesse caso, Jesus, mais uma vez,
coloca a vida dos seus discípulos nas mãos de Deus,
convidando-os a confiar na providência divina que
nunca falha para aquele que a Deus se dirige. Por
isso, o testemunho dos discípulos deve ser sem
nenhum medo que paralisa e rouba o vigor, mas,
corajoso e fiel, mesmo diante da violência que rouba
a vida e procura ceifar a esperança. Por fim, o último
convite de Jesus à confiança, que supera todo o
medo, está relacionado com a certeza, que os
discípulos devem ter a certeza de o olhar do Senhor
está sempre pousado sobre os seus. Nada ocorre na
vida daqueles que a Ele seguem e se entregam sem
que o seu olhar amoroso permita, isto é, a vida dos
discípulos está nas mãos do Senhor, muito mais
bem cuidada do que os lírios e os pássaros dos
campos.
NÃO TENHAIS MEDO! CONFIAI E O VOSSOCORAÇÃO REVIVERÁ
30 | vitória
vitória | 31
Com tais palavras, o Senhor
convida os seus discípulos a uma
liberdade de coração e a uma con-
fiança que nascem na experiência
de serem amados, acolhidos e,
por Ele enviados. Pois, ao enviá-
los em missão deseja que levem a
certeza de que o testemunho, a
defesa da vida, o serviço aos que
mais precisam fazem parte da Fé
que professaram aos pés do Mes-
tre. Desse modo, a superação do
medo e da incerteza ocorre quan-
do colocam no Senhor a sua confi-
ança e se recordam de serem sem-
pre por Ele acompanhados. Sen-
do assim, todos os que hoje ou-
vem as Palavras de Jesus e aco-
lhem o testemunho dos primeiros
discípulos, devem reconhecer,
e m s e u s co ra çõ e s , o m e s m o
chamado do Senhor e, a exemplo
dos discípulos devem desejar
abraçar, com coragem a mesma
missão.
Sendo assim, a superação do
medo e vivência da confiança são
um desafio constante na vida da-
queles que desejam tri lhar o
caminho do discipulado missio-
nário. De fato, no Salmo 68, o sal-
mista convida a todos a deposita-
rem no Senhor à sua confiança,
quando afirma: "humildes, vede
isto e alegrai-vos: o vosso coração
reviverá". O salmo em questão se
relaciona diretamente àquele que
reconhece, que percebe em sua
vida os cuidados de Deus. Algo
muito sentido pelos profetas, cha-
mados a denunciarem, com cora-
gem, as injustiças cometidas con-
tra o povo, sem medo da persegui-
ção por parte dos poderosos de
seu tempo. De fato, diante das in-
júrias e mentiras que viam cair
sobre si mesmos, os profetas se
voltavam para o Senhor e coloca-
vam Nele a sua total confiança. A
sua experiência de fé estava base-
ada na certeza de que o Senhor
que os chamou e os enviou estaria
sempre ao seu lado.
Assim deve ser o coração de
todo aquele que deseja seguir o
Senhor no caminho do discipula-
do missionário, já que, a exemplo
dos profetas e dos discípulos tam-
bém enfrentarão situações difí-
ceis e passarão por provações em
seu caminho. O que garantiu a
coragem e a superação do medo
no coração dos que decidiram
abraçar o Evangelho e anunciá-lo
com vigor e coragem, foi a certeza
e confiança que tinham de que as
promessas divinas são sempre
mantidas. O Senhor sustenta o
vigor do que chama para o cami-
nho do discipulado, sustentando
e dando vigor à sua vida, de modo
que possam manter vivo o anún-
cio do Evangelho e a denúncia das
injustiças, cometidas contra os
pequenos e pobres. A coragem de
ser testemunha de Cristo e defen-
sor da vida, nasce no coração dos
que ao Senhor seguem, pois Ele
jamais os deixará sozinhos no ca-
minho. A garantia de que a alegria
não seja roubada pelo medo e de
que a confiança não sucumba di-
ante das dificuldades encontra-
das é a união íntima com o Senhor,
que continua a dizer hoje, o que
disse aos seus discípulos: "não te-
nhais medo".
CAMINHOS DA BÍBLIA
‘‘A coragem de
ser testemunha
de Cristo e defen-
sor da vida nasce
no coração dos
que ao Senhor
seguem’’
Professor de Sagrada Escritura no
IFTAV e doutor em Sagrada Escritura
Pe. Andherson Franklin
vitória | 33
ENTREVISTA
Os diversos papéis desempenhados pelas mulheres
na sociedade atual fazem recair sobre elas uma
carga pesada, e é cada vez mais comum ouvi-las
reclamar dessas diversas atribuições. Ouvimos uma
mulher que representa esse universo e, ao mesmo
tempo, reflete sobre isso. A Mestre em Ciências
Sociais Aplicadas, Doutora em Ciências Jurídicas,
professora universitária, mãe de uma adolescente e
de três crianças, dona de casa e esposa, Michella
Zortéa Carneiro, falou um pouco sobre as multitare-
fas da mulher de hoje.
É difícil ser mulher atualmente?
Michella - Nossa... eu diria que sempre foi difícil.
Nos primórdios da humanidade a mulher concorria
com o homem na disputa pela sobrevivência
através da caça, coleta e fuga dos predadores. Mas,
a partir do momento que humanidade se assenta e
passa a desenvolver a agricultura, passando a
cultivar para prover seu alimento, o poder passa a
ser algo inerente aos homens e de alguma forma as
mulheres passam a desempenhar um papel de
submissão, de inferioridade com relação aos
homens. De lá para cá isso foi sendo repetindo em
todas as culturas na história da humanidade.
Hoje em dia com o feminismo, movimento que foi e
é muito importante, a situação não exatamente
melhorou. Digamos que melhorou em alguns
aspectos apenas, porque hoje temos a liberdade de
trabalhar, a liberdade para escolher com quem
vamos nos casar, ou se vamos nos casar, mas me
parece que os papéis sociais não estão muito bem
definidos nessas sociedades modernas e por isso
fica difícil para a mulher se encontrar. Quando se
tem os papéis bem definidos como, por exemplo,
nos países do Oriente Médio, nos quais a mulher é
do lar e pronto (não estou aqui defendendo esse
modelo, apenas tomando como exemplo). Então,
neste tipo de sociedade, de alguma maneira se tem
ali um objeto de felicidade preenchendo aqueles
papéis e está tudo certo. Aqui eu diria que estamos
O DESAFIODA MULHER
34 | vitória
perdidos. Não só as mulheres estão perdidas, os
homens também. Porque vivemos ainda um
momento de transição, de flexibilização dessas
funções e, ao mesmo tempo, a sociedade impõe
que os homens fiquem o tempo todo provando sua
masculinidade, e as mulheres sua feminilidade.
Encontrar-se é um desafio para as mulheres hoje?
Michella -Penso que é tentar encontrar um
equilíbrio entre a sua individualidade como mulher,
como esposa, como mãe e como profissional. É um
“quadripé” e isso é bem complexo. O equilíbrio não
é fácil.
Você diria que as mulheres estão cansadas?
Michella - Estão sim. Estão cansadas porque
embora os papéis sociais não estejam bem defini-
dos, existe uma predeterminação cultural sobre
isso. São valores culturais que vêm da nossa
formação como pessoa, das nossas mães, que
passaram para nossa geração e que se traduzem na
crença de que a mulher tem que dar conta de tudo,
que tem que estar sempre bem para cuidar dos
filhos, das questões administrativas da casa, do
marido e do trabalho, sendo o alicerce da família. A
questão é que não dá para ser perfeita. A gente
como mulher tinha que lançar um slogan que fosse
contra essa perfeição. Temos que ser todas contra
essa perfeição.
É uma cobrança das próprias mulheres então?
Michella - A mulher se cobra a perfeição, mas não
é uma cobrança simplesmente pessoal. Há uma
imposição cultural e social muito forte e que nós
nem sempre nos damos conta. Eu sempre falo que
para uma mulher se casar hoje, principalmente no
Brasil, e se tornar uma dona de casa é preciso muita
coragem. No Brasil quando a mulher não está no
mercado de trabalho, se diz que a ela é “só” uma
dona de casa, como se esse “só” fosse pouca coisa.
Ser dona de casa é cuidar de toda a administração
da casa, da alimentação da família, da educação,
orientação e cuidado dos filhos, é dar atenção ao
marido que representa a pessoa com quem ela
escolheu para dividir a vida, e também dar atenção
aos parentes, que com o tempo vão ficando idosos.
Isso não é só, isso é muita coisa. Na sociedade bra-
sileira isso é muito desvalorizado. Quando toma-
mos o exemplo de sociedades europeias desenvol-
vidas, a mulher pode se dar o direito de ser dona de
casa com orgulho, pois lá ser dona de casa e
desempenhar todas essas funções é algo louvável.
Os papéis que a sociedade impõe para homens e
mulheres mudaram ou continuam os mesmos se
comparados há décadas atrás?
Michella - Os papéis mudaram, só que as pessoas
não se deram conta disso de uma maneira muito
clara. Por aí se fala muito em novos papéis dos
homens e eles têm essa noção. Mas eles foram
criados de maneira diferente. Então, para os
homens, ter que se encaixar nas atividades domés-
ticas, é sofrido. A mulher hoje precisa de um
parceiro que divida as funções com ela e não de um
ajudante. Para eles, se encaixar nas atividades
domésticas, é como se estivessem perdendo a
masculinidade. E as mulheres se sentem como se
estivessem pedindo uma ajuda, e na verdade elas
apenas precisam que o companheiro cumpra sua
parte. Espero que nós possamos caminhar para
ENTREVISTA
vitória | 35
encontrar esse equilíbrio. Eu costumo ouvir de
amigas que elas pedem ajuda ao marido, mas eu
digo que isso não é pedir ajuda e sim que ele faça a
sua parte, “não é um favor”. Isso tem que ser traba-
lhado na cabeça das mulheres, tem que estar
embutido no consciente e inconsciente delas e
deles, que o fato de compartilhar as tarefas da casa e
o cuidado dos filhos não é um favor que os maridos
lhes fazem.
Então, pelo que vem acontecendo atualmente com
relação às mulheres, existe uma dificuldade nisto?
Michella - Me parece que há uma dificuldade de
comunicação, porque como a criação é diferente, a
gente já parte para um casamento pressupondo que
quem tem que cuidar de tudo é a mulher. Se ela vai
para o mercado de trabalho, mais justo ainda que as
tarefas sejam divididas. É necessário também que as
mulheres façam uma autoavaliação e conversem
com seus companheiros para que esta questão seja
discutida, mostrando que se os dois trabalham, a
divisão de tarefas se faz necessária. Mas não como
algo imposto, mas com troca de ideias para que o
diálogo não seja bloqueado.
Esse quadro pode mudar começando com a educa-
ção dos filhos?
Michella - Isso é muito importante, pois temos a
tendência de reproduzir nossas mães. Dessa forma a
gente impõe para as meninas as tarefas domésticas,
de ajudar nos cuidados da casa, e os meninos ficam
sendo esquecidos nessas funções. É importante que
não fiquemos apenas no discurso, mas que coloque-
mos isso em prática dentro de nossas casas, atribu-
indo também aos meninos parte destas tarefas.
Qual a mudança necessária hoje na sociedade e na
família para que a carga da mulher diminua?
Michella - Eu respondo esta pergunta com um
questionamento. Será que nós devemos continuar
tentando ser “supermulheres”? Porque é isso que
estamos fazendo conosco, tentando ser “super
mulheres”. Isso é mesmo necessário? Ao fazermos
isso nós perpetuamos a ideologia que temos que
dar conta de tudo.
É cada vez mais comum ver homens jovens passe-
ando com bebês nos parquinhos, ou fazendo
alguma atividade com os filhos, sem a companhia
das mães. É um sinal de transformação?
Michella - Com certeza. Me parece inclusive que
os homens estão muito dispostos a fazer isso. Vejo
meus primos mais novos, recém-casados, e eles já
têm um olhar diferente com relação à paternidade e
as tarefas domésticas. Se eles vêm assumindo esses
papéis com a clareza de que é uma função que
também é deles e que isso não fere a masculinidade
deles, é um grande avanço. A partir do momento em
que a sociedade aceita de uma maneira bem clara
estas posições, fica mais fácil para as mulheres que
elas também assumam e aceitem a necessidade de
dividir as tarefas.
ENTREVISTA
Andressa MianJornalista
MUNDO LITÚRGICO
Fr. José Moacyr CadenassiOFMCap
Os textos próprios da liturgia eucarística,
contidos no Missal Romano, dão o sentido
do dia celebrado, particularmente dos
domingos, solenidade e festas, além de sinalizar os
tempos litúrgicos.
Um dos elementos, dentre os referidos textos, são
os prefácios do Tempo Comum, que ajudam a
aprofundar aspectos importantes sobre o sentido
do mistério celebrado. Eles são utilizados exclusiva-
mente aos domingos.
O substantivo prefácio vem do latim prae-fatio (de
fari [dizer]); e também do grego, pró-logo (o que se
diz antes). Então, prefácio, na forma litúrgica, é o
que se proclama como introdução e ao mesmo
tempo resumo da oração eucarística, com o sentido
da ação de graças, em tom de proclamação, sendo
um elogio a Deus pela sua obra no mundo, com a
culminância da ressurreição do seu Filho.
São nove prefácios com os seus respectivos
títulos: I – O mistério pascal e o povo de Deus; II – O
mistério da salvação; III - A salvação dos homens,
pelo homem; IV – A história da salvação; V – A
criação ; VI – Cristo, penhor da Páscoa eterna; VII – A
salvação pela obediência de Cristo ; VIII – A Igreja
reunida pela unidade da Santíssima Trindade; IX – O
dia do Senhor.
Em linhas gerais, esses prefácios elucidam o
mistério pascal de Cristo e sua união com a história
da salvação e do povo de Deus, recordando os efei-
tos da Encarnação do Verbo e sua ação salvífica,
manifestada e atualizada, hoje, de forma culminan-
te, na celebração eucarística.
Uma proposta para as equipes de liturgia e
celebração é organizar um momento de estudo,
reflexão, aprofundamento e vivência a partir dos
referidos prefácios, desde a própria equipe até uma
possível formação em âmbito das comunidades,
resgatando o sentido do Tempo Comum e sua
espiritualidade.
O caminho da formação e aprofundamento
litúrgicos também se dá por meio da relação com os
textos da eucologia. Quanto mais os que celebram
aprofundarem o sentido ritual, com os seus ele-
mentos próprios, mais qualidade surgirá nas
celebrações, e com repercussão para a assembleia,
na inteireza da vivência ritual. Os efeitos também
repercutirão na vida pastoral da Igreja.
Que este Tempo Comum, retomado após a
solenidade de Pentecostes, seja uma etapa de
aprofundamento e frutificação do Mistério Pascal,
como contínua recordação da “...Ressurreição do
Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso...” (cf.
Prefácio dos Domingos do Tempo Comum, IX – “O
Dia do Senhor).
PREFÁCIOS DOTEMPO COMUM
vitória | 37
VIVER BEM
busca pela felicidade é uma constante na Avida das pessoas desde que elas se enten-
dem por gente. Na verdade talvez antes
mesmo disto, já que muitos bebês, ainda no útero
manifestam desconforto e outras sensações.
Mas se buscamos isto, será que somos capazes de
definir o que é essa tal de felicidade?
São tantos conceitos que envolvem esta resposta
que o que pode parecer simples para você começa a
complicar quando perguntamos para outras
pessoas, afinal a felicidade é algo bastante parti-
cular. Se observarmos bem, perceberemos em algu-
mas pessoas que parecem ter tudo uma constante
insatisfação e por outro lado também encontramos
pessoas de realidades bem humildes que parecem
realizadas.
Será a felicidade uma questão de expectativa e re-
alização? Se eu esperar pouco da vida terei mais
chances de ser feliz?
Ou só serei feliz quando alcançar o topo?
(sabe-se lá o que isto quer dizer)
Há pessoas que posssuem o hábito de con-
dicionar a felicidade a fatores como di-
nheiro, sucesso, amor e todos os tipos de
realizações. Pessoas que parecem sempre
correr atrás da felicidade sem nunca alcan-
çar.
Já pensou se a felicidade viesse de dentro?
Se estivesse em nossos pequenos atos do
dia a dia? Será que posso ser feliz aprecian-
do um dia bonito, o café fresquinho, uma
caminhada sem pressa, uma conversa sem
compromisso?
Existe esta felicidade sim e não pense que
pessoas assim são sem expectativas ou
ambições. Elas apenas encontraram a
felicidade no que vivenciam e não estão
sempre atrás de conceitos que muitas vezes
ESSA TAL FELICIDADE
38 | vitória
Vander SilvaProfessor e jornalista
não são delas. Afinal desde que
aprendemos a andar somos
direcionados a um conceito de
felicidade coletivo que nos diz
que para sermos felizes precisa-
mos de conquistas financeiras,
profissionais, de relações, de
posses e outras sem fim.
A exigência desta felicidade é
tão grande e aumenta tanto no
decorrer de nossa vida que
estamos sempre em busca dela,
algumas vezes chegamos a
pensar que estamos perto, mas
nunca de fato nos damos por
satisfeitos, apesar de algumas
vezes nos darmos o direito de
s e n t i r m o s u m a f e l i c i d a d e
momentânea, uma dose homeo-
pática deste sentimento para que
a nossa busca continue.
Não me atrevo a dizer onde
você de ve encontrar a sua
felicidade, afinal ela é sua. Mas,
reflita se esta felicidade que
busca é um conceito seu ou se foi
condicionada por padrões de
outras pessoas. E olhe em volta e
tente perceber o que você
realmente precisa para ser feliz.
Será que a felicidade já está
pertinho de você, mas como está
sempre procurando lá na frente
não consegue visualizá-la?
Talvez em vez de estar naquele
baú de madeira de lei todo orna-
mentado ela esteja enrolada em
um paninho simples.
“Não existe um caminho para a
felicidade. A felicidade é o cami-
nho”, Thich Nhat Hanh
vitória | 39
vitória | 41
LIÇÕES DE FRANCISCOLIÇÕES DE FRANCISCO
Edebrande CavalieriDoutor em Ciências da Religião
Na revista Vitória de maio de 2018, fizemos
um apanhado do pensamento do Papa
Francisco na relação entre “trabalho e
justiça social”. Agora queremos dar continuidade
com uma questão específica, mas também corre-
lacionada com o conteúdo do mês anterior. E vamos
buscar este tema no discurso do Pontífice com os
delegados da Confederação Italiana dos Sindicatos
dos Trabalhadores, ocorrido no ano passado. Seu
discurso versou sobre o tema “pela pessoa, pelo
trabalho”. De suas palavras, queremos refletir aqui a
questão da prática sindical.
São muito comuns, entre nós, as manifestações
de críticas às posturas de sindicalistas. E são cor-
retas as críticas, pois muitos sindicatos perderam
sua “vocação profética da sociedade” assemelhan-
do-se com a própria política, com os partidos polí-
ticos. Muitas vezes, os partidos tomam as organiza-
ções sindicais como braços para penetração na so-
ciedade. O sindicato torna-se instrumento dos
interesses corporativos e partidários.
Muitas vezes, os sindicatos perdem sua aderência
social na medida em que se afastam do lugar onde
sua luta deveria ser fundamental: as periferias
existenciais, os imigrantes, os pobres. A corrupção,
con-forme Francisco, penetrou também no coração
de muitos sindicalistas. Para o papa, é preciso
“habitar as periferias” a fim de se tornar uma estra-
tégia de ação.
E conclui seu discurso com palavras de grande
profundidade: “Não existe uma boa sociedade sem
um bom sindicato. E não há um bom sindicato que
não renasça todos os dias nas periferias, que não
transforme as pedras descartadas da economia em
pedras angulares. Sindicato é uma bela palavra que
provém do grego syn-dike, isto é, “justiça juntos”.
Não há justiça se não se está com os excluídos”.
O desafio da justiça social é essencial para a luta
por um mundo melhor e se insere no contexto do
Ensino Social da Igreja e nos coloca diretamente no
horizonte do Reino de Deus. Não é pauta dos
comunistas como muitos tentam desqualificar o
conteúdo da luta, mas da fé cristã. Isso precisa ficar
claro para todos os cristãos batizados. “Buscai
primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as
coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33).
Antes de orar a Deus pedindo milagres e curas torna-
se necessária a luta pelo Reino e sua justiça. Milagres
e curas virão depois.
Para os cristãos brasileiros que se dedicam à vida
sindical o desafio é ainda maior, pois o Brasil é um
dos países mais desiguais do mundo, ou seja, mais
injusto. Nossos sindicatos pouco a nada conseguem
ou querem fazer. O que domina seus trabalhos se
refere mais à ordem partidária e não a luta por jus-
tiça, que é a função profética dos sindicatos.
FUNÇÃO PROFÉTICA DOS SINDICATOS
vitória | 43
Professor de Economia
Arlindo Villaschi
ECONOMIA POLÍTICA
É por todos reconhecida a importância da
política econômica em buscar o controle da
inflação, das contas públicas e a liberação
da taxa de câmbio. Enquanto regra geral, o chama-
do tripé macroeconômico faz todo o sentido em
tempos de economia estável. Como essa estabili-
dade, tão preconizada pelos que endeusavam as
virtudes da livre movimentação de bens e serviços
em escala mundial, tornou-se uma permanente
volatilidade desde a crise financeira de 2007/08,
que essa regra geral precisa ser relativizada.
Ela precisa ser contextualizada para que outras
dimensões da crise sejam contempladas. Em mo-
mentos de baixo dinamismo da demanda em escala
mundial e de recessão interna como a vivida no
Brasil, é preciso que a política econômica seja anti-
cíclica e priorize medidas capazes de diminuir os
impactos da crise sobre o emprego e a renda.
Deixar o emprego ao sabor das forças de mercado
em momentos de crise pode trazer resultados eco-
nômicos nefastos. Buscar equilibrar as contas
públicas através de cortes em despesas sociais,
compromete a recuperação. Isso porque, a crise de
demanda só se aguça com essas medidas. Desem-
prego e cortes em despesas sociais acabam apro-
fundando a crise e penalizando mais aqueles que
menos têm.
Um bom exemplo disso é o que vem acontecendo na
maioria dos países da União Europeia. Os ajustes à
lá FMI e Banco Mundial que no passado foram tes-
tados em seus impactos econômicos e sociais nega-
tivos e em sua baixa efetividade na América Latina,
lá repetem resultados igualmente negativos e sem
efetividade. Mesmo diante dessas evidências, os
condutores da política econômica no Brasil fazem
vistas grossas para elas.
O Nobel em Economia Paul Krugman tem sido
uma voz – longe de ser a única – que busca alertar
para o quão fundamental são políticas anticíclicas
que privilegiem o emprego e a demanda. Essa pode
ser estimulada tanto no campo do consumo quanto
no do investimento. Entre ampliar o consumo e o
investimento é sempre mais efetivo a médio prazo,
priorizar investimentos. Melhor que eles sejam
voltados para atividades que gerem empregos já
que esses acabam por aumentar a renda. Aumento
de renda leva a incrementos da demanda que re-
sulta em novos investimentos, instalando-se assim
o chamado ciclo virtuoso do crescimento.
A simplicidade dessa virtuosidade esbarra na
economia política, já que alguns agentes econômi-
cos têm muito mais voz e poder de pressão do que os
demais. No mundo inteiro – e no Brasil de maneira
afrontosa - sabe-se que esse é o caso do mercado
financeiro. Por isso, quando ele está satisfeito, é
porque existem riscos de perdas para o setor
produtivo e para a maioria da população. Eis a sutil
diferença entre importante e fundamental.
IMPORTANTE EFUNDAMENTAL
PERGUNTE A QUEM SABE
UM CATÓLICO QUE VAI PARA OUTRA IGREJA E ÉBATIZADO DE NOVO, FICA COM DOIS BATISMO?
Desde o dia de Pentecostes a Igreja Católica vem administrando o Sacramento do
Batismo a quem crê em Cristo e quer a vida eterna. A Igreja acredita que o Batismo é
um sacramento que não se repete, pois é uma ação de Cristo na Igreja. Por este
sacramento a pessoa renasce para uma vida nova, fazendo de nós filhos e filhas
adotivos do Pai, membros de Cristo, templos do Espírito Santo, incorporando na
Igreja nos configurando com Cristo.
Quando uma pessoa abandona a fé católica e se une a uma outra igreja, é comum
muitas igrejas solicitarem ou exigirem um “novo batismo” como garantia e pertença
àquela instituição. Portanto, na compreensão da Igreja Católica não existem dois ou
É VERDADE QUE O BATISMO PODESER ANULADO?
Uma vez batizado a pessoa recebe uma marca para sempre que não é apagada por
nenhum pecado.
O que se espera de um cristão batizado é que se coloque a serviço das obras de
Deus, participando ativamente da Igreja, exercendo seu sacerdócio batismal pelo
testemunho de uma vida santa na caridade.
Pe Ivo Ferreira Amorim
Pe Ivo Ferreira Amorim
vitória | 45
POR QUE EM DETERMINADOS CASAMENTO SEDISTRIBUI EUCARISTIA PARA OS NOIVOS?
A Igreja ensina a união matrimonial do homem e da mulher, fundamentada na lei do
Criador, se ordena à comunhão e ao bem dos cônjuges e à geração e educação dos
filhos. Trata-se de uma união indissolúvel como Cristo afirmou: “Não separe o que Deus
uniu” (Mc 10,9). Portanto, uma união que supõe uma comunhão de vida a dois, uma
aliança de amor fiel e fecundo no ato humano, consciente e livre.
Para viverem plenamente esta união indissolúvel, a Igreja concede aos noivos que se
uniram em Matrimônio fora da missa, a Sagrada Comunhão expressando a unidade
desse sacramento à mesa da Eucaristia, sustento na vivência da nova missão.
POR QUE PARA RECEBER O SACRAMENTO DOMATRIMÔNIO É NECESSÁRIO CASAR NO CIVIL?
Por prezar muito o bem estar das pessoas, a Igreja Católica agia e age com enorme
cautela para que ninguém seja lesado em seus direitos (Verificar cânone 1071, § 1 e 3).
No Brasil, tanto os direitos de ambos os cônjuges como dos filhos menores dentro de
uma união estável é fortemente tutelado pelo Estado, contudo o Direito Canônico é
universal, não podemos ignorar um artigo de um cânone por não nos parecer necessá-
rio.
Tudo que a Igreja Católica deseja, com tal exigência, é salvaguardar o bem daqueles
que procuram realizar sua celebração matrimonial conforme as normas para um
casamento religioso católico. Está ela também atenta e respeitosa aos que, de alguma
forma estão envolvidos em uma união anterior que acarretou compromissos e respon-
Pe Teodósio Cesar De Aquino
Pe Ivo Ferreira Amorim
ACONTECE
ENCONTRO DAS PASTORAIS SOCIAISPROCISSÃO LUMINOSA
Com o tema “A importância do leigo na superação da violência”, o Encontro das Pastorais Sociais será realizado no dia 09 de junho e é uma oportunidade para celebrar a presença dos cristãos leigos e leigas na Igreja. O encontro, que acontece no Centro de Convenções de Vitória de 8 às 18 horas, é direcionado para os agentes das pastorais sociais e para os agentes dos projetos e ações sociais que atuam ou que já participaram desses projetos na Arquidiocese de Vitória.
Dando continuidade às comemorações do
Jubileu de 60 anos da Arquidiocese de Vitória,
acontece no dia 10 de junho a procissão
luminosa. A saída será às 17 horas da Catedral
Metropolitana de Vitória e seguirá para a
Basílica de Santo Antônio, em Santo Antônio.
A imagem do Padroeiro será levada durante o
trajeto.
MISSA FESTIVAJunho é o mês que a Igreja dedica ao Sagrado Coração de Jesus, e na Arquidiocese de Vitória, os membros do Apostolado da Oração reúnem-se para celebrar uma missa solene no dia 09 (sábado), às 15h, na Catedral Metropolitana de Vitória. Todos são convidados a levarem suas bandeiras e estandartes para este momento de fé e devoção.
CONGRESSO DE CATEQUESE“Como trabalhar com as famílias no
processo de Iniciação à Vida Cristã!” é o tema do Congresso de Catequese que acontece no dia 16 de junho, de 8h às 17 horas, no Auditório do Santuário de Vila Velha. Como assessor, o encontro contará com o Pe. Antonio Francisco Lelo, editor-assistente na área de Liturgia e Catequese na Paulinas Editora. As inscrições podem ser feitas através do e-mail [email protected] até o dia 11 de Junho. O investimento por participante é de R$ 65,00.