20

REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Um Ponto de Vista Cultural

Citation preview

Page 1: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014
Page 2: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

2|NOSSA TRIBO

no território

Foto: Márcia Quaresma

Menos lixo nas praias

Foto: Divulgação

Aí está um bom exemplo de campanha de res-ponsabilidade ambiental. Até o dia 2 de feverei-ro, a Auto Viação Salineira promove o Projeto Lixo em Movimento na Praia do Forte, a mais frequentada de Cabo Frio. A Operação conta com cinco promotores que distribuem sacolas plásticas oxi-biodegradáveis, ao mesmo tempo em que orientam as pessoas sobre os benefícios da preservação das nossas praias e do nosso ecossistema. O projeto tem a parceria do Iphan.

Os jovenspianistasestão de voltaO idealizador da “Série Jovens Pianistas”, Hasenclever Oliveira, anuncia o retorno do projeto musical criado há 12 anos. São as seguintes datas de apresentações: 1 de fevereiro, 5 de abril, 7 de junho, 2 de agosto e 6 de setembro. Sempre às 20h no Teatro Mu-nicipal de Cabo Frio com entrada franca. Detalhes da programa-ção pelo email serie jovens [email protected]

Homenagem ao poetaO poeta Waldemir Terra Cardoso (1912-1936) não está esquecido. Todo o dia 26 de janeiro, admiradores do jovem cabo-friense prestam-lhe uma homenagem no cemitério da Ordem Terceira de Cabo Frio. Este ano lá estavam Célio Mendes Guimarães, Lindenberg, José Correia e Rose Fernandes. Em sua curta existência, Waldemir Terra Cardoso publicou dois livros, “Borboletas” e “Zé-tarrafeiro”.

Page 3: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|3

Ideias aceleradasCabo Frio e a Região dos Lagos possuem um patrimônio que ainda não se deram conta: as aves que têm aqui seu habitat. Só em Cabo Frio, o ambi-entalista Antonio Angelo já levantou mais de 150 espécies. Precisamos proteger esse meio ambiente que garanta a diversidade dessas aves.A professora mestre em Arquitetura e Urbanismo, Adriana Vaz Braga, chama a atenção para a padroni-zação urbana que toma conta das cidades da Região, que acabam perdendo sua identidade cultural.O filho do fotógrafo Wolney Teixeira, Warley So-broza, volta a Barra de São João para rever o túmulo onde está sepultado o poeta Casimiro de Abreu. O que mudou na paisagem?Gustavo Vieira, cabofriense de 19 anos de idade, quer deixar sua marca no universo. Veja nesta edição alguns de seus trabalhos artísticos.

7NOSSOS CLÁSSICOS: O LIVRO “CABO FRIO HISTÓRICO-POLÍTICO”, DE HILTON MASSA, É UM MARCO NAS LETRAS CABOFRIENSES

9PADRONIZANDO SUA PAISAGEM, AS CIDADES DA REGIÃO ESTÃO PERDENDO SUA IDENTIDADE. ENSAIO DE ADRIANA VAZ BRAGA

4ENTREVISTA: O AMBIENTALISTA ANTONIO ANGELO MOSTRA UM OUTRO LADO DE CABO FRIO, MAIS DE 150 ESPÉCIES DE AVES

WARLEY SOBROZA REVISITA O TÚMULO DE CASIMIRO DE ABREU. HÁ 66 ANOS, SEU PAI, WOLNEY TEIXEIRA, ALI O FOTOGRAFOU COM 9 ANOS DE IDADE

12

15A PROFESSORA ROSSANA MARIA PAPINI ESCREVE O SEGUNDO CONTO DA SÉRIE “A CIDADE E OS ERMOS”

CNPJ 17.924.249/0001-96

Circulação restrita aos membros da tribo.

NOSSA TRIBONOSSA TRIBOIdeia, Projeto Gráfico e Editoria: José CorreiaEndereço: [email protected] www.facebook.com/RevistaNossaTriboFechamento: Nômade Artes Gráficas, Cabo FrioImpressão: Grafline, Rio de Janeiro

ASSINATURADE NOSSA TRIBO: QUEROGARANTIR O MEU NÚMERO

6 (SEIS) números + entrega por R$ 30,00 (trinta reais).Como faço para pagar?Faça o depósito na seguinte conta:Banco do Brasil, Agência: 0150-3Conta corrente: 32182-6Mas não se esqueça:Envie um e-mail para [email protected] avisando o dia e a hora que pagou. Mande seu nome com endereço completo e CEP.

assu

ntos

Page 4: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

4|NOSSA TRIBO

entrevista: Antonio AngeloMais de 150 espécies de aves sobrevoam Cabo Frio

O ambientalista Antonio Angelo Trindade Marques [foto] faz um inven-tário das aves de Cabo Frio desde 1996, quando percebeu que algumas espécies estavam em extinção, como o pássaro formigueiro-do-litoral. Ele possui mais de 8 mil imagens em seu acervo foto-gráfico, com alguns inventários, não só de aves, mas também de árvores de Cabo Frio.

Em suas incursões, Antonio Ange-lo acaba de registrar em Cabo Frio a presença da ave perna-verde-comum, natural da Europa, sem ocorrência no Brasil.

Nesta entrevista, Antonio Angelo aborda este verdadeiro patrimônio de Cabo Frio, praticamente desconhecido da população e das autoridades. Ele acredita no potencial educacional e turístico das aves em Cabo Frio. Como diz Antonio Angelo, ninguém protege o que não conhece. (José Correia)

Há quanto tempo você foto-grafa pássaros?Antonio Angelo - Fotogra-far a natureza sempre foi o cenário preferido. Em 1996 encontrei e fotografei o pássa-ro formigueiro-do-litoral, ave endêmica, em estado crítico de extinção. Aí, percebí a necessidade de inventariar as aves que ainda habitam nosso município.

Quais são os melhores locais para fotografá-los? Há muitos adeptos dessa atividade?

Antonio Angelo - Tra-tando-se das silvestres, o in-terior e borda da floresta. Já as aquáticas se prendem nas margens, da laguna e principalmente nas quadras

de salinas ativas ou não. Hoje, a Região já conta com muitos adeptos, tanto como pesquisadores ou grupos que praticam o birdwatching, que é a atividade de observação de aves. Este segmento não se prende a fotografá-los. São pessoas que vão a campo sim-plesmente para observar o comportamento dos pássaros na natureza.

Você diz que há mais de 150 espécies de aves em nossa Região ou Cabo Frio. As pessoas em Cabo Frio têm conhecimento disso? O que as aves representam de valor ambiental, educacional e até turístico para Cabo Frio?

Antonio Angelo - Exis-tem mais de 150 espécies

Cabo Frio tem a sorte de ser o habitat do formi-gueiro-do-litoral. Em todo o mun-do. Este pássaro só é encontrado em nossa Região.Antonio Angelo

Fotos: Antonio Angelo

Page 5: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|5

continua na página 8

A ocupação urbana desordenada atinge diretamente o for-migueiro-do-litoral. Antonio Angelo

“sobre o céu do município. O meu acervo conta com 155 espécies e tenho certeza que a população não tem conheci-mento deste rico patrimônio. A quantidade de aves em nosso município remete à preservação do ambiente. O habitat protegido garante abrigo e alimentação, é o que vai mantê-los aqui. Levar este conhecimento para as escolas é ferramenta importante para a educação ambiental. A inclusão da atividade bir-dwatching em Cabo Frio seria mais uma opção turística para o município. Há muito tempo praticada no mundo, cresceu 60% nos últimos anos no Brasil. São grupos organizados que viajam com este foco.

Cita algumas aves que são características de Cabo Frio e outras que são de migração e têm Cabo Frio como habitat?

Antonio Angelo - Cabo Frio tem a sorte de ser o

habitat do formigueiro-do-litoral. Em todo o mundo. Este pássaro só é encontrado em nossa Região, o que atrái ornitólogos e observadores de todo o Brasil. Quanto aos imigrantes, posso citar o ma-çarico-branco que se desloca do Alaska até a terra do fogo e o maçarico-galego que é conhecido como o visitante do Ártico. Ambos podem ser encontrados aqui nos meses de dezembro, se despedindo em março.

Fotos: Antonio Angelo

Page 6: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

6|NOSSA TRIBO

comunicação

Toda cidade do interior aspira por possuir uma estação de Rádio. É que uma radiodifusora que difunde mensagens ou música através do rádio, realmente dá “status” a qualquer municí-pio e, o que é importante, certo poder político à região alencada pela estação. Por isso mesmo, a instalação de uma emissora, sobre depender da existência de “ondas” capaz de aceitar a instalação de uma estação, sem interferir ou sobrepor-se a outras estações já existentes. Quase sempre, ou melhor, sempre, obtem-se o “canal” que “é uma gama de frequências ocupada por uma emissão modulada que permite comunicação livre de interferências” (Dicionário Escolar da Língua Portuguesa - Fename) através de concessão ou permissão do Governo Federal, através de ato exclusivo da Presidência da República, por prazo determinado, com possibilidade de renovação.

As “ondas” se dividem em AM (médias) e FM (curtas). As AM se encarregam de noticiário e reportagens, entrevistas, etc, enquanto as FM se destinam mais a programas de música clássica, erudita ou mesmo popular.

Cabo Frio ganhou a sua estação, pode-se di-zer, acidentalmente. Nos idos de 1960, o Partido Social Democrático - PSD - estava no poder. Eu era secretário do Diretório Municipal de Cabo Frio e, em decorrência disso, estava num certo dia na sede do Partido, no Rio de Janeiro, quando escutava à distância, uma conversa do General Hélio de Macedo Soares, explicando ao Presidente Juscelino e ao Cte. Amaral Peixoto a distribuição de “canais” para os municípios fluminenses, que ainda não possuiam sua estação de rádio.

Ora, eu que pouco antes já manifestara a intenção de instalar uma Rádio em Cabo Frio, a ponto de já ter tido contato com a “Telefunque”, aproveitei o momento e atravessei, ousadamente, e perguntei: “E Cabo Frio?”

“Cabo Frio nada pediu”, respondeu o Presi-dente Juscelino.

“Está pedindo agora, Senhor Presidente.”O Comandante Amaral Peixoto não se fez de

rogado e veio logo em meu socorro.“É, de fato, Cabo Frio merece ter a sua esta-

ção.”Para mim não foi surpresa receber, dias após,

dois telegramas do Ministério de Viação e Obras Públicas, assinados pelo próprio Ministro Ama-ral Peixoto, a informação de que fora deferida a minha pretensão, autorizando-me a constituir a sociedade que deveria explorar o “canal”.

Àquela altura (1960) imagina a dificuldade para se levantar um milhão, fixado como capital da Rádio Cabo Frio Ltda. Levantei com certo “sacrifício”, mas esgotada a verba, o Dr. Wlander Martis Noronha, competente engenheiro civil,

A Rádio Cabo Frioe sua história

Hilton Massa

A rádio mais antiga de Cabo Frio, a Rádio Cabo Frio AM 1530, está sob uma nova direção que quer reconquistar a audiência e o prestígio que a rádio teve por décadas e acabou perdendo des-de que as rádios FM começaram a conquistar espaço na cidade.

Inaugurada no dia 1 de outu-bro de 1961, a Rádio Cabo Frio ficou sob controle da família Massa por 50 anos, quando então foi comprada por um grupo de rádio de Nova Friburgo no dia 1 de outubro de 2011. O novo grupo reformou a sede da rádio, no Edifício Paranhos, no centro de Cabo Frio, instalou novos equipamentos e partiu para for-mar a equipe.

Cícero Márcio, gerente geral da rádio, que conhece tudo do veículo que coordena, informa que a partir do dia 3 de fevereiro a Rádio começa a levar ao ar sua nova programação.

“A ideia é resgatar a credibi-lidade da Rádio, priorizando a prestação de serviços para e pelo ouvinte, dando voz a esse ouvin-te. Vamos focar o jornalismo im-

A Rádio Cabo Frio quer voltar aos bons temposA ideia é resgatar a tradição de rádio popular e virar FM.

parcial e de fácil entendimento. Queremos abraçar Cabo Frio e os sete municípios da Região dos Lagos”, afirma Cícero Márcio.

A questão, no entanto, é sa-ber se ainda existe espaço para as rádios AM. Segundo Cícero Márcio, o caminho da rádio é se transformar em FM.

“Há um decreto presiden-cial que autoriza as rádios AM passarem a FM. O tempo em que deixaremos de ser AM será rápido. Em cima dessa questão existe também o modelo técni-co de qualidade que poderá ser adotado em todas as rádios do Brasil, europeu ou americano. Isso implica em custos e qualida-de também. Mas estamos atentos a isso e acompanharemos essas transformações”, afirma Cícero Márcio.

De qualquer forma, a boa no-tícia é que a Rádio Cabo Frio AM 1530 está de volta, com um novo gás e tocada por gente da terra que conhece o que faz. Além de tudo é um mercado de trabalho que se abre à comunicação da cidade.

No estúdio da Rádio Cabo

Frio AM, a par-tir da esquerda: o comunicador Barreto Júnior, o gerente geral Cícero Márcio

e o operador Ivan Pereira.

(Foto: José Correia)

Page 7: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|7

NossosCLÁSSICOS

[Conclusão] - Hilton Massa (1916-2011) tinha a vocação do pesqui-sador. Mesmo na atividade de procurador geral da Justiça, ele dedicava parte de seu tempo a realizar seu ambicioso projeto de evitar que caísse no esquecimento as histórias que conhecia e as que levantava de Cabo Frio, como justifica na abertura de seu livro “Cabo Frio histórico-polí-tico”: “cosi os acontecimentos e episódios mais marcantes como uma colcha de retalhos coloridos, na tentativa de perpetuá-los quanto mais puder, na memória dos cabofrienses. Só a escrita permanece.”

Mas ao reunir as mais sortidas informações - como a genealogia do nome Cardoso, quem e que versos recitou para a Princesa Isabel e seu marido Conde d’Eu em visita a Cabo Frio em 1868, o nome completo de quase 50 alunos aprovados no ano de 1923 no Colégio Sagrado Coração de Jesus, os jogadores que formavam o time do Lusitano em 1924, a relação dos nomes envolvidos na construção do Hospital Santa Isabel, nomes da Loja Maçônica, figuras que formaram a União dos Operários Estivadores e o Sindicato dos Trabalhadores Livres em 1926, nomes e notas escolares dos primeiros secundaristas de Cabo Frio -, Hilton Massa não perdeu de vista o que fundamentava seu livro e seu pensamento: as elites políticas cabofrienses eram dependentes das relações políticas com o governo estadual e federal, e a sociedade, representada por suas instituições, era que abrandava o radicalismo que muitas vezes aparece de forma violenta na história de Cabo Frio (como em 1907 e em 1930). Neste sentido, a colcha de retalhos social humaniza sua exposição da história política cabofriense.

Embora Hilton Massa fosse “minhoca da terra” da antiga, ele não lamenta a passagem do tempo, não vê o passado de forma saudosista, nem trata as famílias locais tradicionais como se formassem uma memorável e sobrevivente aristocracia. Talvez pudessemos definí-lo politicamente como um conservador por ser partidário da ordem, mas no quadro mais geral era um liberal, por compreender a inevitabilidade das mudanças. Mudança com ordem e dentro da legalidade, creio que representava para ele a boa política.

Hilton Massa entende que do final do século XIX para início do século XX, as lideranças cabofrienses refletiam a consciência de grupo. “Autoritárias sempre, sem serem arbitrárias, se faziam obedecidas. As chefias eram abertas e ostensivas, porque eram do conhecimento geral” (pág.69). Nesse tempo, ele observa, o povo jamais participara dos movimentos políticos.

“Cabo Frio histórico-político” aponta uma correspondência entre a economia e a vida política local, e defende que o poder moderador das organizações, como a Igreja e a Maçonaria, e de lideranças, como Mário Quintanilha, pacificaram a sociedade cabofriense.

O livro termina em 1930, um ano de ruptura política e pessoal para o autor, ainda jovem. Getúlio Vargas toma o poder e o pai de Hilton Massa, José da Silva Massa, partidário de Washington Luís, se vê obrigado a sair de Cabo Frio. Definitivamente.

José Correia

“Cabo Frio histórico-po-lítico”, livro de Hilton

Massa, lançado em 1980.

já radicado na cidade, “rádio-amador” portanto do “ramo” aderiu à idéia e entrou para a socie-dade com igual capital. Com sua competência profissional levantou a Torre da Rádio numa chamada Praça “L” do loteamento “Algodoal” de Dr. Paulo Syueh e outro, por sinal um “brejo” que para alcançar a “torre” o faziam através de taboas enfileiradas até a base de sua sustentação e que, ao cabo de algum tempo, se viu aterrada.

Improvisamos a sede numa construção simples - nosso estúdio - em terreno de minha propriedade, onde hoje está construído o Edifício Flamboyant pela firma ENAC.

Faltou mais dinheiro. Veio então o Dr. José Perelló Ribeiro Filho e aumentamos o capital para 3 milhões. E no dia 1° de outubro de 1961 ouviu-se pela primeira vez em Cabo Frio, em me-morável festa no Tamoyo, o som da Rádio Cabo Frio. Artistas do “cast” do Rio de Janeiro, Altemar Dutra, Elen de Lima, e outros, cujos nomes me escapam deram o toque de prestígio à noite. An-tes, pela manhã, o Vigário Frei Adjuto Wagner, benzeu as instalações. O Prefeito, meu colega, Dr. Edilson Duarte, vereadores, Juiz Dr. Youssif Salim Saker, Promotor Dr. Ricardo de Almeida, políticos, amigos, estiveram presentes quando ao som da Banda Musical Santa Helena hasteamos a Bandeira Nacional.

(...) Ernani Rocha Ferreira, Paulo Orlando, José Bonifácio Novellino (atual Prefeito), Nelcy Santana, Sérgio Santa Rosa, e outros cujos nomes me escapam no afogadilho de redigir estas notas, a pedido, - e que me desculpem - sob a orientação de Alcenor Madeira e Fred Carlos (hoje de volta a Cabo Frio), formaram a primeira equipe da Rádio Cabo Frio.

Felizmente a Rádio mantém-se até hoje ser-vindo à comunidade de Cabo Frio, dela tendo se retirado da sociedade os Drs. Noronha e José Ri-beiro, porquanto se dirigiram a outras atividades mas dos quais muito deve a Rádio, hoje mantida pela minha mulher Maria da Penha e os meus filhos Paulo Massa, Ricardo Massa e Camilo de Gellis Massa, numa sociedade por quotas limitada.

À princípio instalada na rua Jorge Lóssio, de-pois na Casemiro de Abreu, atualmente ganhou a Praça Porto Rocha n° 56, grupo 102/103, do Edifício Francisco Paranhos, excelente construção realizada por sinal pelo engenheiro Dr. Wlander Noronha.

Pioneira do sistema de rádiofusão em Cabo Frio, com mais de 30 anos de existência, a Rá-dio tem sido prestigiada pelo comércio local e adjacente, e, se Deus quiser, há de continuar servindo aos cabofrienses para satisfação de seus fundadores.

Cabo Frio, 25/5/93.

Texto inédito de Hilton Massa (1916-2011) cedido à “Nossa Tribo” por seu filho Ricardo Massa.

“Cabo Frio está pedindo agora, Senhor Presidente”, frase de Hilton Massa para o presidente Juscelino Kubitschek que lhe deu a concessão da rádio em 1960.

Page 8: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

8|NOSSA TRIBO

Você acaba de registrar uma ave que era desconhecida em Cabo Frio e em nosso país. O que isso significa?

Antonio Angelo - Foi a ave perna-verde-comum, o tringa nebularia. Nativo da Euro-pa, principalmente Portugal não tinha registro no mapa das aves da América do Sul, consequentemente no Brasil. Hoje esta nova ocorrência se encontra em elaboração de publicação pelos ornitólogos Alexandre Less e Luiz Carlos Agne para entrar na lista do CBRO (Comite Brasileiro de Registro Ornitólogos). Vale o registro para Cabo Frio feito no manguezal das Peroanas na Boca da Barra.

Quais são as aves que estão em extinção em Cabo Frio?

Antonio Angelo – Em Cabo Frio, o formigueiro-do-litoral encontra-se em estado crítico de extinção. O sabiá-da-praia é outro pássaro que antes, abundante, hoje está reduzido ao nível baixíssimo deste indivíduo na natureza.

Que prejuízos a urbaniza-ção e a construção civil têm causado à sobrevivência das aves em Cabo Frio?

Um patrimônio de pássarosEntrevista com o ambientalista cabofriense Antonio Angelo

Antonio Angelo - A ocu-pação urbana desordenada com empreendimentos imo-biliários atinge diretamente estas duas aves. O desrespeito às unidades de conservação, como o caso do loteamento do Club Med, é definitivo para extinguí-las.

Por onde poderíamos co-meçar para proteger e valo-rizar essas espécies de Cabo Frio?

Antonio Angelo - Sem dú-vida, levar ao conhecimento da população este patrimônio para juízo de valor. Ninguém protege o que não conhece. As escolas da rede pública municipal podem ser o ponto inicial. Rever a ocupação imo-biliária em áreas de proteção. Uma política de arborização

no município, pois Cabo Frio é uma cidade desprovida de árvores no centro urbano. O mais respeitado ornitólogo do Brasil, Johan Dalgas Frisch, nos fala: “plante pássaros”.

O avanço de manobras dentro das compensações ambientais também tem que ser revista. Hoje, por exem-plo, o corte de uma árvore já produtiva é muito mais fácil compensando pelo plantio de mudas e fica “tudo legal”. Quando estas mudas chega-rem a ser produtivas, a cadeia já foi detonada.

continuação da página 5

Como diz um orni-tólogo brasileiro: ‘plante pássaros’. Antonio Angelo

Fotos: Antonio Angelo

Page 9: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|9

A padronização da paisagem como um lugar qualquer

ensaio: para refletir

Há uma realidade de desmanche das paisagens - e pequenas cidades de nossa Região dos Lagos são historica-mente exemplos, como Arraial do Cabo -, impulsionado pelo fomento de um capitalismo voltado e direcionado para o desenvolvimento da atividade turís-tica, o que equivale a mexer no âmago

como solução para o fomento da eco-nomia do turismo.

Este texto tem a finalidade de incre-mentar a reflexão sobre o tema, abrir oportunidades de discussão e análise sobre a importância da preservação da cultura, do meio ambiente e de todos os demais itens já apresentados que formam a ambiência e proporcionam a leitura e o entendimento da cidade na sua essência, trabalhando pelo de-senvolvimento do turismo, porém com responsabilidade sobre os impactos que a atividade pode causar nas cidades onde é implantado como principal recurso de distribuição e geração de trabalho e renda.

Muitos projetos de urbanização reproduzem os mesmos esquemas em quase todas as partes, nivelando os as-pectos morfológicos em detrimentos de possíveis afirmações positivas de identi-dades espaciais. Estes projetos trabalham

“Michelangelo acreditava que uma escultura já está na pedra. Tudo o que devemos fazer é retirar o supérfluo com o cinzel até a

escultura vir à luz. A alma do lugar está oculta, mas é perfeita, é o que um lugar qualquer tem de melhor.” (Yazigi, Eduardo)

Adriana Vaz Braga

da sociedade que compôs e compõe o cotidiano da cidade. Muitos lugares do mundo estão ficando com a mesma aparência. Muitos lugares estão sendo descaracterizados pela globalização ou pelos grandes projetos de intervenções urbanas que se fundamentam numa idéia de padronização dos lugares,

continua nas páginas 10 e 11

Page 10: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

10|NOSSA TRIBO

A leitura da cidade:

A apresentação da cidade de Arraial do Cabo, com uma pequena amostra das suas riquezas históricas, culturais e naturais, bem como, com a compreensão do seu processo de ocupação urbana nos conduz à reflexão e à busca de um ponto de equilíbrio entre o progresso, a modernização, a priorização do conforto nos espaços públicos, os novos investimentos para o turismo e a preservação da identidade espacial como diferencial atrativo de uma localidade.

O sentimento dessa gente simples que compõe a co-munidade receptora do pequeno Arraial é de expectativa e de esperança diante das intervenções urbanas recentes, na crença de que a cidade está progredindo e atrairá turistas e visitantes para gerar emprego e renda. Porém, há uma visível inquietação com as mudanças na paisagem e no cenário que ao longo dos anos compôs a história, as vivências e o cotidia-no do seu povo simples, que sempre viveu da pesca, do sal e do turismo atraído por suas belezas naturais, principalmente após 1974, depois da inauguração da Ponte Rio Niterói, o que contribuiu consideravelmente para o aumento do fluxo de visitantes na cidade.

Na objetividade da leitura de LYNCH, em seu livro a “Imagem da cidade”, pude encontrar as mesmas inquietações, guardadas as devidas proporções dos tamanhos das cidades abordadas no livro, e meu objeto de estudo que é a cidade de Arraial do Cabo, em vários momentos e citações. Como a que ele diz que: “Cada cidadão tem vastas associações com alguma parte de sua cidade, e a imagem de cada um está impregnada de lembranças e significados.”

As lembranças e os significados, forjados ao longo do tempo nos cenários que compõe a cidade, podem ser revitali-zados, incorporados e preservados no âmbito das intervenções urbanas a fim que este diferencial possa ser um fator a mais de atrativo e interesse para os visitantes, beneficiando os moradores e preservando a auto estima dessa comunidade receptora sem que ela perca a sua história, as suas lembranças e o seu passado, tendo em vista o impacto social que pode ser causado pelas intervenções urbanas.

“Os elementos móveis de uma cidade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto as partes físicas estacionárias. Não somos meros observadores deste espetáculo, mas parte dele; compartilhamos o mesmo palco com os outros participantes.” (LYNCH, 2010, segunda edição)

Na leitura de Marco Aurélio SAQUET em seu livro abor-dagens e concepções do território, ele cita Milton Santos e sua visão em relação a importância da paisagem, na leitura da cidade:

“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é

com os mesmos materiais, e muitas vezes, usam as mesmas tecnologias. Este fato se faz acompanhar de certos estilos de gestão municipal que parecem se “envergonhar” de sua histó-ria, a acabam copiando modelos e tipos de equipamentos nos espaços públicos que descaracterizam totalmente a identidade do lugar, tornando-os na verdade, menos interessantes pela ótica do turismo, já que o turista se desloca para usufruir de experiências novas, para interagir culturalmente e conhecer novos lugares e paisagens.

a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.” (SA-QUET apud Milton Santos, 1988).

A percepção da paisagem na sua plenitude, compõe o cenário de uma localidade, ela é fruto dos usos e costumes do cotidiano ou da beleza cênica de sua formação geográfica e morfológica.

Ainda nessa linha de pensamento e compreensão, outros conceitos vão se descortinando para o entendimento da complexidade que envolve a identidade espacial, ambiental e paisagística dos espaços e cidades. TURRY, 2002, cita a paisagem como a vestimenta histórica do território, porém com as mudanças diacrônicas nele inscritas, como dados incorporados no tecido territorial. Nessa reflexão de Turry há elementos claros do método dialético, compreendendo o território como produto histórico de mudanças e permanências em um ambiente no qual se desenvolve uma sociedade. Sendo esses elementos os responsáveis pela criação do ambiente que justamente compõe o diferencial dos lugares, tão importante sob o ponto de vista de interesse turístico, bem como, sob o aspecto social que abrange a relação de pertencimento da comunidade a sua localidade.

Já não existe mais o planejamento turístico das cidades desvinculado dos conceitos de sustentabilidade, ou seja, sem levar em consideração as dinâmicas sociais, ambientais, culturais e econômicas. Cada cidade tem a sua leitura, o seu significado e a sua história na composição da sua cultura, dos hábitos do seu povo e do seu ambiente. Ainda, segundo SAQUET (apud Raffestin, 2005 pág 40): “O território é fruto do processo histórico de transformação do espaço, principal-mente econômico e politicamente; é composto, decomposto e recomposto historicamente.”

A leitura de Tuan em seu livro espaço e lugar, a perspec-tiva da experiência, vemos a abordagem de que o lugar é a segurança e o espaço a liberdade e ele questiona o que é lar, se seria a velha casa, o velho bairro, a velha cidade ou a pátria? Ainda na leitura de Tuan, ele aponta que estudos etológicos recentes mostram que animais não humanos também tem um sentido de território e lugar, onde os espaços são demarcados e defendidos contra os invasores, ao analisar a leitura pode-mos compreender sob o olhar da sociologia de que as pessoas atribuem significado e organizam o espaço e o lugar pela sua cultura, sendo que a cultura é desenvolvida unicamente pelos seres humanos.

No sentido contrário a proteção e valorização das diferen-ças culturais é que se apresentam os projetos de padronização de orlas e demais áreas nas cidades, que produzem impactos diretos nos contextos sociais, culturais, ambientais e econômi-cos. Turvando a leitura e a compreensão da cidade, a partir de uma realidade padronizada esteticamente que apaga a história forjada no cotidiano vivido pela sociedade local, reduz a sen-

Muitos lugares do mundo estão ficando com a mesma aparência, numa idéia de padronização. Preservar a cultura, o meio ambiente e todos os demais ítens, e trabalhar o turismo com responsabilidade, entendendo que uma cidade tem sua essência, é o grande desafio.

Page 11: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|11

sação de pertencimento da comunidade autóctone, tragando suas lembranças, suas paisagens, suas sensações, seus odores e seus valores culturais em detrimento da modernização dos projetos para o atendimento das demandas crescentes vividas pelo momento pleno de desenvolvimento da atividade turística que o país atravessa. A busca por um posicionamento mais equânime nestas intervenções deve ser objeto de discussão e reflexão na elaboração dos planos, podendo-se adotar uma postura realmente participativa e menos normativa na gestão das cidades e na elaboração dos planos diretores e nos planos de desenvolvimento do turismo.

A industrialização da cidadecomo ponto de partida:

Referenciando LEFEBVRE em sua publicação, o direito a cidade, toma-se por base que essas mudanças urbanas signi-ficativas tem início com o processo de industrialização. Este processo é há um século e meio o motor das transformações na sociedade. Pode-se dizer que este processo é o verdadeiro indutor incontestável das grandes transformações, dos cresci-mentos, das planificações e do desenvolvimento da realidade urbana. De forma impressionantemente atual, pode-se ler na citação de Lefebvre: “A própria cidade é uma obra, e esta ca-racterística contrasta com a orientação irreversível na direção do dinheiro, na direção do comércio, na direção das trocas, na direção dos produtos.”

Até então, a cidade era paisagem, os homens ou as máqui-nas são incluídos como figurantes ou acessórios. Tal afirmativa se encontra no texto “Paisagens II” de Maurice Ronai, onde são mencionados importantes conceitos e reflexões sobre a importância da paisagem. No âmbito do turismo pode-se com-preender facilmente o conceito de paisagem como espetáculo, de acordo com a citação do texto:

“A paisagem é um espetáculo onde a funcionalidade de-saparece em benefício do espetáculo estético. Para ver uma paisagem é necessário estar distante, quer dizer separado, exte-rior, espectador de uma decoração, de uma cena. Espetáculo de uma harmonia, de uma natureza, de um tempo interrompido, de uma história suspensa.” (RONAI, Maurice)

A paisagem turística torna lugares privilegiados, de pai-sagens restritas, como objeto de exploração por multidões, equipadas por aparatos turísticos e hoteleiros, formam circui-tos. Acompanhando a direção do dinheiro e do comércio da atividade turística, as paisagens sofrem intervenções urbanas, para facilitar os seus acessos e o conforto dos visitantes, o que muitas vezes causam a sua deterioração, com o excessos na sua capacidade de carga, danos ambientais, com o aumento da produção de resíduos, retiradas de plantas, mortandade de animais, etc.

Segundo HOLZER, Werther, em seu texto sobre paisagens, lugares e não lugares, existe hoje uma tendência na geografia contemporânea para que associemos o lugar à paisagem, não há como negar a permeabilidade destes dois conceitos, mesmo que eles tenham características distintas, a paisagem é o re-flexo do cotidiano de um lugar, seja ele ocupado socialmente ou apenas vivenciado pelos movimentos da natureza, ela está em constante transformação.

A reflexão sobre a gestão ambiental urbana e os conceitos de sustentabilidade, tão em pauta no século XXI, abordam de

forma bem mais ampla do que na década de 1970, quando surgiu o conceito de sustentabilidade, o entendimento da gestão ambiental urbana com dimensões sociais, culturais, econômicas e políticas. Na leitura de RIBEIRO, Helena e VAR-GAS, Eliana, em seu texto sobre qualidade ambiental urbana, apresentam-se quatro formatos distintos de instrumentos tradicionais de gestão ambiental: os normativos que incluem as legislações de uso e ocupação do solo, a regulamentação dos padrões de emissão poluentes, nas mais variadas versões; o instrumento de fiscalização e controle das atividades para que se mantenham dentro das normas vigentes; os preventivos caracterizados pela delimitação de espaços territoriais protegi-dos (parques e praças), pelas avaliações de impacto ambiental, análises de risco e licenciamento ambiental; e os Corretivos, que se constituem nas intervenções diretas de implantação e manutenção de infra estrutura de saneamento, plantio de árvores, formação de praças, canteiros, jardins, obras de ma-nutenção entre outras ações.

Sob o ponto de vista cultural, a questão que surge é a des-peito do que significa para uma sociedade viver sem identidade espacial? Como as pessoas das cidades turísticas se sentem vivendo em um lugar sem referencial? Que sentimento nutre essa sociedade que em um primeiro momento se alegra com a possibilidade de modernização e desenvolvimento que o urbanismo traduz, e pouco depois se desloca pela cidade com o saudosismo de um passado simples e digno, porém real e construído por seus antecessores, que foi apagado e padroni-zado como um lugar qualquer.

Adriana Vaz Braga é mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFF-RJ.

Bibliografia resumida:

HOLZER, Werther. Sobre paisagens, lugares e não lugares, pág 109 a 128.LEFEBVRE, Henri. O direito a cidade. (Industrialização e ur-banização) pág 11 a 33.LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Martins Fontes, SP 2010.RONAI, Maurice. Paisagens II. Hérodote, 71 a 91 , 1997.SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e concepções de terri-tório. 2ª edição. Ed: Expressão popular, Sp 2010.TUAN, Yi Fu. Espaço e lugar: A perspectiva da experiência, Ed: Difel, SP, 1983.VARGAS, Heliana Comin, RIBEIRO, Helena. Novos instrumen-tos de gestão ambiental urbana. Ed: Edusp, SP 2001.YAZIGI, Eduardo. Civilização urbana: planejamento e turismo. 2ª edição, São Paulo: Ed: Contexto, 2003.YAZIGI, Eduardo. A alma do lugar: Turismo, Planejamento e Cotidiano. 2ª edição, São Paulo: Ed: Contexto, 2001.

A percepção da paisagem em sua plenitude, compõe o cenário de uma localidade, ela é fruto dos usos e costumes do cotidiano ou da beleza cênica de sua formação geográfica e morfológica. Como as pessoas das cidades turísticas se sentem vivendo em um lugar sem referencial?

Page 12: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

12|NOSSA TRIBO

viagem sentimentalWarley Sobroza revisita o poeta Casimiro de Abreu

A Igreja de São João Batista onde no ce-mitério está sepultado o corpo do poeta Casimiro de Abreu.

1948 Warley Sobroza tinha 9 anos de idade quando foi fotografa-do por seu pai, o fotógrafo Wolney Teixeira, no túmulo do poeta Casimiro de Abreu, no cemitério de Barra de São João.

2014 Warley Sobroza, agora com 75 anos de idade, revisita o túmulo do poeta que ele admira e constata que muita coisa mudou em relação àquele ano de 1948.

Conversando com Warley Sobroza, Barra de São João virou nosso tema. Não há quem não se encante pela terra onde Casimiro de Abreu (1839-1860) passou parte de sua vida e que foi fonte de inspiração para sua poesia.

Mas a ligação de Warley Sobroza com o lugar é sentimental, pois lá vi-veu inesquecíveis momentos quando era criança, a ponto de guardar com muito carinho uma foto que seu pai, o fotógrafo Wolney Teixeira, tirou dele ao lado do túmulo do poeta Casimiro de Abreu.

“Um dia, papai disse que ia me levar ao cemitério para conhecer aonde Casimiro de Abreu havia sido sepultado. Ao chegarmos, ele leu uma poesia do poeta como homenagem e depois tirou minha foto ao lado do túmulo. Eu tinha nove anos de idade. Isso me marcou muito”, recorda Wa-rley Sobroza.

Nessa época, o avô de Warley, o também fotógrafo Antonio Motta de Souza, o Zinho Pereira, residia em uma rua próxima ao Rio São João e à

José Correia

casa onde está instalado o Museu de Casimiro de Abreu.

“Papai gostava muito de Barra de São João. Lembro-me quando ele e meu avô me levavam com eles para pescar no rio, em frente à Igreja. Pa-pai usava uma roupa impermeável e assim ele jogava a linha de pesca de dentro do rio.”

Nos dirigimos ao cemitério ao lado da Igreja. Warley acredita que as pessoas nem saibam que o poeta Casimiro de Abreu está ali enterrado. É uma quinta-feira, pouco mais das 16h, e o coveiro Élcio Holanda nos avisa que daqui a pouco o cemitério estará sendo fechado. Warley vê um grupo de pessoas e se aproxima.

“Desculpe-me perguntar. Vocês sabem quem está sepultado aqui neste cemitério?”

Um rapaz se adianta e responde:“Sei, é o poeta Casimiro de Abreu.”Warley não esconde sua surpresa.

Logo depois o coveiro nos explica que

Warley em frente ao busto de Casimiro de Abreu na praça em frente ao Museu do poeta. Seu avô nos anos de 1940 fez ali um comício em favor do poeta e de protesto ao encontrar um penico enfiado no busto.

Fotos: José Correia

Page 13: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|13

a grande maioria das pessoas procura mesmo o túmulo do poeta.

No final do pequeno cemitério, bem cuidado, está Casimiro de Abreu sepultado ao lado do pai (que morreu seis meses antes do poeta).

“O túmulo está mais baixo. Antes, os pombinhos nos cantos da pedra eram de bronze. Havia também um belo florão e uma peça de mármore em que o governo do Estado homena-geava o poeta”, avalia Warley Sobroza, que não gostou do que viu. “O túmulo reformado está mal feito.”

Warley também fica incomodado pelo pouco caso que o município de Casimiro de Abreu faz do poeta.

“Esta avenida que traz ao cemitério deveria ter galhardetes com poemas de Casimiro de Abreu. Quem quiser saber alguma coisa do poeta não tem aqui nada que possa ser oferecido ou adquirido. Conheci Barra de São João como um lugar bucólico. Mas o progresso traz seus impactos. O pior é que o município não sabe explorar turisticamente este valor único, que é ter Casimiro de Abreu como um grande poeta brasileiro e a grande figura desta terra.”

A casa do pai de Casimiro de Abreu, hoje Museu, fotografada em 1948 e em 2014.

Eu me lembro! eu me lembro! - Era pequenoE brincava na praia; o mar bramia,E, erguendo o dorso altivo, sacudiaA branca escuma para o céu sereno.

E eu disse à minha mãe nesse momento:“ - Que dura orquestra! Que furor insano!Que pode haver maior do que o oceano, Ou que seja mais forte do que o vento?”

Minha mãe a sorrir olhou pros céusE respondeu: - “Um Ser que nós não vemosÉ maior do que o mar, que nós tememos,Mais forte que o tufão! meu filho, é - Deus!” Casimiro de Abreu, Dezembro de 1858.

DEUS!

Foto: Wolney Teixeira

Page 14: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

14|NOSSA TRIBO

Luiz Carlos da Cunha Silveira

As singularidades de CABO

TRÊS EMBAR-CAÇÕES BA-TIZADAS DE

“CAROLINA” JÁ NAUFRAGARAM

NO MAR DE CABO FRIO .

Você sabia? ... O litoral da Região dos Lagos vem a ser um dos mais perigosos à navegação no mundo? E que todos os navios denominados “Carolina” que passaram por Cabo Frio naufragaram?

De fato, a costa da Região dos Lagos é do tipo “a bela e a fera” pois, a par de sua deslumbrante beleza cênica, apresenta, segundo os registros da Marinha de Guerra do Brasil, a frequência de um naufrágio a cada quatro anos e meio durante 272 anos, desde o “Rainha dos Anjos” em 1722 até o “Tunamar” em 1994 ao largo do Arraial do Cabo, no total de 58 sinistros, sendo 2 em Búzios, 6 na Massambaba, 5 em Ponta Negra, 9 em Cabo Frio e 36 (!) no Arraial, isto é, neste último caso, ao redor do cabo propriamente dito.

Uma anedota trágica, porém curiosa, consiste no caso do navio de cabotagem a vapor brasileiro denominado “Carolina”, que afundou em 1913 próximo à barra do Canal do Itajurú e do Forte São Mateus, o qual por isso batizou, a partir de então, com seu nome, este costão da barra e do forte. Ocorre ser, este navio sinistrado, apenas um de três homônimos, todos naufragados na

região, pois temos, além de um segundo que afundou em 1874 em Cabo Frio, ainda um terceiro soçobrado muito recentemente, em 1999. Pelo visto, “Carolina” vem a ser um nome azarado a ser evitado ao se batizar embarcações ou, conforme dizem os velhos marujos, é um “Jonas”; ou, pelo menos, todas as batizadas com tal nome deveriam evitar ao máximo passar próximo ao Cabo Frio que, por seu histórico sinistro, fica sendo o maior “Jonas” de todos.

As fotos abaixo são dos anos de 1980. Aonde foram tiradas? A constatação é que Cabo Frio mudou muito.

[1] Pessoas levando compras passam por uma salina, utilizada como caminho. Aonde ficava essa salina. Identificou?

[2] Amigos acompanham o enterro do velho comunista Chico Ribeiro em 1985. Que local é esse, que não mudou?

[3] Esse bar ficava no meio do que é hoje uma das avenidas principais de Cabo Frio.

Resposta: 1- Onde hoje está instalado o bairro Novo Portinho. 2- Avenida à beira do Canal Itajuru, próximo à ponte. 3 - Praia do Forte. (Fotos: José Correia)

veja se localiza?

Page 15: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|15

quem procu-A cidade e os ermos (2)

Rossana Maria Papini

Gastar tudo o que tinha com o professor, trazer sonhos para as cabeças dos meninos, tudo para quê? Manoel olha para as mãos e os pés arrebentados pelo sal, pensa no pai e resolve deixar Massambaba.

Foto: José Correia

A cidade, campo de tantos combates (a maioria camufla-dos), motivo para opulências e brigas, jazia ali inerte, sendo invadida pelas águas. Chegara o tempo de seu ocaso. Sendo inelutável, a maioria a abandonara, indo abrigar-se na parte continental, atrás dos morros, terreno ainda firme.

O mar retomara o que era dele, como diziam as antigas profecias. Dali do São Bento, olhando para a avenida, via a vaga vindo, azul, gostosa, a emendar na lagoa. Aquela maré vazante lhe permitia ainda estar ali. Dera o pulo quando ela passou e lembrara do sonho, décadas antes, quando assom-brado com a onda correra à casa da mãe e ela ria, ria, de cima do guarda-roupa, velhinha, a muito habitando o onírico outro lado, num conformismo trocista com o inevitável. Era até bom, dissera, sua voz sem palavras, pois cobriria com as águas sãs toda a vilania, a ganância, a iniqüidade que grassara naquela terra. Seria de novo tudo areia e sal, água e vento.

E os ermos lá estavam, maiores, as coroas de areia, recantos bons fora das ressacas, para quem tinha espírito aventureiro, as pequenas lagunas nos declives da velha cida-de, a aparecer assombrada na maré baixa, a sumir engolida pelo mar.

E como uma borracha iam se apagando as histórias e vestígios de uma terra de lutas com os índios, de lugarejo feito para abrigar um pelotão no forte, do lento domínio sobre os cajueiros, dunas, pitangais, a cidade antiga aonde todos cabiam, mesmo que nas bordas; depois a outra, com ares de riqueza, a cidade dos salineiros, arrogantes donos dos lugares desertos, tirados de sua quietude para o sal. E também a cidade do turismo, imponente, vertical, a purificar-se nas águas, talvez a já procurar outros cantos para a sua sede de beleza e lucros.

Está em Borges [1], Ulisses [2] perguntando aos deuses por que tanta desgraça a atingir os homens e o deus responde que é para as gerações vindouras terem histórias para contar, histórias sem fim, como a de Manoel, lá nas salinas do Acaí, com saudades de Aveiro que deixara criança, a sonhar voltar para Portugal - coisa que nunca faria - e deixar aqueles er-mos varridos pelos ventos, a construir salinas de sol a sol, os

quadros multiplicando-se como a riqueza do dono. E ele ali naquela casa em meio à desolação de gente, duas casuarinas e o poço, tão sozinhos, a mulher a lhe perturbar pelas meninas - não fez filho homem, desgraça! - a querer largar tudo e ir para a cidade, palavra mágica, festa e luz, levar as meninas para a escola, não deixar elas ali prisioneiras, a ficarem com o rosto gretado pelo sol, as mãos grossas, as mentes toscas.

Manoel lembrou quando seu pai, juntando todo o ouro que tinha foi para Niterói procurar um professor para eles, para ensinar a ler, escrever e contar. Selou o cavalo e foi, voltando com o estranho homem de óculos pincenê, bem vestido, com sapatos, nunca tinham visto algo assim. Lá ficou por três meses a ensinar todos os dias, a fazer fama e a atrair crianças dos outros. Temeridade de Totonho, dizia o povo escasso do lugar, gastar tudo o que tinha com o professor, trazer sonhos para as cabeças dos meninos, tudo para quê? Manoel olha para as mãos e os pés arrebentados pelo sal, pensa no pai e resolve deixar Massambaba. Sim, iria para a cidade, mudaria de vida, seguiria o devir-pescador, outro de sua linhagem, seria livre sobre a superfície flutuante do mar. Lá descobriria, tendo contato com os ermos que já o habitavam a muito, um sossego, um lugar para si.

[1] Aqui estou a me referir ao grande escritor argentino Jorge Luis Borges, no seu livro “Outras inquisições”, São Paulo: Companhia das Letras, 2007.[2] Ulisses ou Odisseu, mitológico guerreiro, personagem principal da Ilíada e da Odisséia, de Homero, epopéia grega onde se conta a guerra de Tróia e seu demorado retorno à Ítaca, onde era o rei.

conto

Page 16: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

16|NOSSA TRIBO

{Sob nossa MIRA}As inscrições para o Prêmio Lite-

rário Teixeira e Sousa, nas categorias conto, crônica e poesia, terminam no dia 7 de fevereiro. Há premiação e a Secretaria de Cultura de Cabo Frio promete publicar os textos dos ven-cedores. A Secretaria informa que o regulamento está disponível no portal da Prefeitura (www.cabofrio.rj. gov.br), na seção editais.

Prêmio literário

“O amor, sem dúvida, é a maior de todas as panacéias. Sem ele, o universo inteiro se desintegraria como se nunca houvesse existido.” Assim o nosso amigo, o grande poeta Eraldo Amay, está divulgando o que ele chama de um belo acontecimento que ocorrerá nos dias 28, 29 e 30 de março: um seminário a ser realizado em Mendes, “A Yoga de São Fran-cisco de Assis”, com as informações necessárias sobre o evento no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=x4 FY81skk4E. Em outubro, Eraldo lan-çou o e-book “O Livro das Bem-Aven-turanças (Poesia para Deus)”, editado pela Editora YogaBook, de Brasília.

Bem-Aventuranças

Não parece nada, mas foi há 50 anos, no dia 13 de janeiro de 1964, que a atriz francesa Brigitte Bardot visitou Búzios. Quem se lembra que Búzios naquela época era ainda o 3° Distrito de Cabo Frio? Búzios se projetou in-ternacionalmente, é um município e não mais uma vila de pescadores.

Foi hontem

A Rádio Cabo Frio AM 1530 está de volta, agora sob o controle de pro-prietário de rádio de Nova Friburgo. Por 50 anos, desde 1961, a rádio ficou nas mãos da família Massa. Boa par-te da história política de Cabo Frio (quando a política era bem quente) - no tempo em que não havia tevê local, regional e rádios FM -, passou pelas ondas da Cabo Frio. Cícero Márcio, companheiro de comunicação aqui de Cabo Frio, está gerenciando a rádio, e a idéia e torná-la novamente popular, com a participação do ouvinte. O pro-jeto da nova direção é passar a rádio AM logo logo para FM.

A velha Rádio

“Eu evito concorrência, quemgosta de mim sou eu.”Noel Rosa

QUERO LANÇAR O MEUPRÓPRIO LIVRO. COMO FAÇO?

Nossa Tribo tem experiência e qualidade em edições. Dis-ponibilizamos serviços e condições para pequenas e grandes tiragens de livros (e outras publicações). Arte, diagramação, revisão, copidesque, registro do livro junto à Biblioteca Nacional, fotolito, impressão, acabamento e entrega, a preço acessível. Confira.Contato: [email protected]

Page 17: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|17

Gustavo Vieira é cabofriense, tem 19 anos, e desde o início do ano passado dedica-se à arte com a cria-ção de um tumblr onde expõe seus trabalhos.

“O desenho, como todas as outras formas de arte que tento praticar, é uma forma de encontrar uma harmonia no caos. Para meu futuro, o desenho está em tentar deixar uma marca no universo”, afirma com convicção Gustavo Vieira.

arte: Gustavo Vieira

Page 18: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

18|NOSSA TRIBO

Com CarlosHeitor Cony eGerson Tavares

Uma época adiciona um tom existencialista a recordações soltas sem previsão de onde irão chegar, a não ser o livre curso das coisas.

Meu Diário

À minha frente, na mesma mesa em um jantar, Carlos Heitor Cony e Gerson Tavares. Depois que eles participaram das “Tardes literárias” da Festa Portu-guesa no Museu José de Dome, o final de noite foi em um restaurante de Cabo Frio. A amizade entre Cony e Tavares começou em 1968 na filmagem que Tavares fez de “Antes, o verão”, título do livro de Cony que tem Cabo Frio como cenário e que conta a história de um romance em crise.

Tavares e Cony estavam então com a mesma idade, 83 anos. Gostam de lite-ratura, de cinema, de artes plásticas e da Itália. Gerson Tavares estudou por cinco anos na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Ganhou uma bolsa de estudos da Universidade do Brasil para passar seis meses na Itália. Lá, se apaixonou por cinema e fez o curso de dois anos do Centro Sperimentale di Ci-nematographia. De 1953 a 1958, Gerson andou pela Itália, França e Espanha. No jantar, Cony cita alguns atores, diretores de cinema, e pergunta se Gerson Tavares os conheceu. Alguns, sim, outros, não. Cony pergunta se ele conheceu o diretor de cinema Lattalda. Tavares sai com a seguinte história: estava de olho em um sapato italiano em uma sapataria até que um dia entrou na loja para comprá-lo; o vendedor mostra um outro sapato mocassim que tinha sido devolvido exatamente por ninguém menos que Lattalda, que calçava 37, o número de Gerson Tavares, que, sem pestanejar, o comprou.

Bem, estamos em um jantar onde há descontração. Cony nos surpreende ao contar o que ele considera ser a melhor história do meio literário. É um privilégio ver Carlos Heitor Cony nar-rar. Há uma reunião na casa de Aníbal

Machado que pede a Magalhães Junior para chamar Afonso Arinos de Mello Franco. Magalhães Junior telefona para Afonso Arinos que declina do convite alegando que estava chovendo, ele estava cansado e iria ler Montaig-ne. Magalhães Junior passa o recado. Aníbal Machado responde: “Você não soube convidá-lo. Deixa comigo.” Aníbal Machado telefona então para Afonso Arinos. “Arinos, estamos aqui em casa reunidos e gostaríamos que você viesse para cá.” Afonso Arinos: “Não dá. Está chovendo, estou cansado e vou ler meu Montaigne.” “Mas, Arinos, a gente está falando mal de Gilberto Freyre.” Afonso Arinos: “Em cinco minutos chego aí.”

Carlos Heitor Cony intercala convin-centemente ficção e realidade. Para ele, pode-se dar a tudo um ou mais sentidos. Pergunto a ele, qual destas histórias é a real. Cony já contou a mesma história algumas vezes mas com desfechos dife-rentes. Seu avô era mulherengo. Até que já bem velho cai doente e espera a morte na cama. A vida de seu avô chegara ao fim. A família, muito católica, chama o padre para dar a extrema unção. Alguns filhos sabiam da paixão secreta do pai por uma certa mulher. E o medo deles era que, no delírio, o velho pronunciasse o nome dela. O padre aproxima então a imagem de Jesus Cristo. O velho levanta a cabeça, encara o crucifixo, e afirma ... Neste ponto, Carlos Heitor Cony me interrompe e completa: “Eu quero carne seca.” Mas, na outra história, que digo

para Cony que, para mim, tem o melhor final, seu avô mulherengo afirma ao ver o crucifixo: “Que pernas!” Carlos Heitor Cony sorri e garante: “Essa história é uma invenção minha!”

As histórias de Carlos Heitor Cony recusam o tom moralista da vida e, enraizadas em uma visão de mundo existencialista, dão a cada personagem a liberdade da escolha. Há também em suas histórias um componente de impo-tência que percorre um caos silencioso implantado em nossas vidas. Seu humor, no entanto, cai sempre para o que ele chama de um pessimismo light. “O oti-mista é um idiota”, afirmou no Museu José de Dome.

Indago sobre sua estrutura básica para escrever todos os dias. Ele tem duas secretárias, uma especializada em arqui-vo, outra em pesquisa. Nos comentários diários da CBN, ele tem pauta. O que Cony considera ser bom. Nos artigos da “Folha de S. Paulo”, os temas são livres. Aí, ele se socorre muito da memória.

Carlos Heitor Cony exibe esse espíri-to carioca da cordialidade e da conversa solta. Com ele, sinto estar diante de di-versas “camadas geológicas” da cultura brasileira. Foi amigo pessoal de Otto Maria Carpeaux, Enio Silveira, Paulo Francis, preso na ditadura militar dividiu uma cela com Glauber Rocha, e admira figuras como a esquecida atriz Darlene Glória. Em uma incerta quinta-feira, um encontro memorável com Carlos Heitor Cony e Gerson Tavares.

José Correia

Page 19: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014

NOSSA TRIBO|19

Arte: Júlia Quaresma

Page 20: REVISTA NOSSA TRIBO Nº 8 - JANEIRO/FEVEREIRO 2014