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1 Julho/2013 - edição 76 sesctv.org.br ARTES VISUAIS UMA RETROSPECTIVA SOBRE A OBRA DE LYGIA CLARK ARQUITETURAS O LEGADO DE LINA BO BARDI NO SESC POMPEIA ENTREVISTA MAYA GÖTZ: PRODUÇÃO AUDIOVISUAL PARA CRIANÇA COMPOSIÇÃO, 1953, LYGIA CLARK. FOTO: MARCELO RIBEIRO ALVARES CORREIA /CEDIDA PELO INSTITUTO ITAÚ CULTURAL.

Revista SescTV - Julho de 2013

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Nesta edição, uma retrospectiva da obra de Lygia Clark no programa Artes Visuais e a obra de Lina Bo Bardi no Sesc Pompeia, retratada no programa Arquiteturas.

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Page 1: Revista SescTV - Julho de 2013

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Julho/2013 - edição 76sesctv.org.br

Artes VisuAisumA retrospectiVA sobre

A obrA de LygiA cLArk

ArquiteturAso LegAdo de LinA bo bArdi

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AudioVisuAL pArA criAnçA

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youtube.com/sesctv @sesctv facebook.com/sesctv

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como o cinema interpreta a vida e produz mundos

estreia em agosto

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destAques dA progrAmAção 4

entreVistA - Maya Götz 8

Artigo - Ana Mae Barbosa 10

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CAPA: Composição, 1953 - Lygia Clark.Foto: Marcelo Ribeiro Alvares Correia /cedida pelo Instituto Itaú Cultural.

A arte nos apresenta novos significados para a palavra fronteira. Por meio das mais diversas manifestações artísticas, compreendemos que não existe um limite claramente desenhado para o início de um movimento estético ou para determinar diferenças entre o teatro, a dança ou a performance. Na tentativa de assimilar e interpretar as propostas – e darmos a elas um sentido, a partir do nosso repertório acumulado – recorremos a nomenclaturas, divisões temáticas e temporais, classifi-cando-as por escolas, sem que essa categorização alcance, de fato, a complexidade da proposta artística em questão. Não se conter nesses limites é inerente à própria arte.

Esse diálogo, presente na arte contemporânea, já pautava os trabalhos da artista mineira Lygia Clark. Desde o final dos anos 1940, ela propunha um mergulho a um universo novo, numa aproximação crescente com seu público, passando das telas para as proposições e os exercícios sensoriais. Neste mês, o SescTV apresenta uma retrospectiva da carreira de Lygia Clark, em dois episódios inéditos da série Artes Visuais.

Criar, transformar, fundir, recuperar: verbos conjugados pela arquiteta Lina Bo Bardi e materializados no projeto do Sesc Pompeia. Inaugurada em 1982, a unidade foi construída numa fábrica de geladeiras desativada, aproveitando galpões inspirados nas estruturas fabris inglesas, como mostra episódio inédito da série Ar-quiteturas. A programação musical do canal traz o espetáculo O Fim da Canção, com Luiz Tatit, Zé Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski.

A Revista do SescTV deste mês entrevista a diretora do Instituto Prix Jeunesse, a alemã Maya Götz, que esteve no Brasil, no mês passado, para discutir a produção audiovisual para crianças na América Latina. O artigo da arte-educadora Ana Mae Barbosa aborda a relação entre a mídia e as artes. Boa leitura!

Danilo Santos de MirandaDiretor Regional do Sesc São Paulo

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Artes VisuAis

A busca pela essência

dois episódios inéditos dA série ApresentAm umA retrospectiVA do trAbALho dA ArtistA pLásticA LygiA cLArk

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Uma artista inquieta, que propunha a aproxima-ção e a interação do público com sua obra. Assim é sintetizada a trajetória da artista plástica Lygia Clark. Mineira de Belo Horizonte, nascida em 1920, começou a produzir aos 27 anos. Ao longo de sua carreira, experimentou a pintura, a escultura, as ins-talações e proposições, rompendo barreiras e ofere-cendo uma interação entre obra e espectador. Apesar da diversidade de linguagens, suas obras dialogam entre si, tendo em comum o estudo sobre o movi-mento e a construção de um trabalho orgânico. “A linha orgânica presente na pintura [da primeira fase de sua carreira] se torna as dobradiças das esculturas de metal [do projeto Bichos] e, finalmente, passa a ser tátil, com o desejo de ação do espectador”, afirma Felipe Scovino, um dos curadores da mostra Lygia Clark: Uma retrospectiva, realizada em 2012, no Insti-tuto Itaú Cultural, em São Paulo.

Lygia Clark foi discípula de Burle Marx. Em 1948, morando no Rio de Janeiro, ela experimentou a pintura. Dois anos depois, mudou-se para Paris, onde teve aulas com Arpad Szènes, Dobrinsky e Fernand Léger, e realizou estudos e telas a óleo, como O Vio-loncelista, de 1951. Suas obras desse período inspi-

ram-se na arte cubista. Em 1954, faz sua primeira participação na Bienal de Veneza, com as obras Com-posição nº 1 e Composição nº 2, nas quais carrega influências do holandês Piet Mondrian. Ao retornar ao Brasil, em 1954, encabeça o Grupo Frente, que propunha estudos sobre o espaço e a materialida-de do ritmo, ao lado de Décio Vieira, Rubem Ludolf, Abraham Palatnik e João José da Costa.

No final dos anos 1950, Lygia Clark se aproxima da escultura, numa busca pela articulação e manipu-lação dos metais. É de 1959 uma de suas obras mais conhecidas: a série Bichos. Chapas interligadas por dobradiças permitem ao espectador interagir com as esculturas, recriando a composição a cada nova inter-venção. Esse estreitamento da criação com o público pauta os trabalhos posteriores da artista, resultando em obras como a Rede de Elásticos, de 1974, e as pro-posições sensoriais, nos anos seguintes.

Morre no Rio de Janeiro, em 1988.A obra e a trajetória de Lygia Clark são tema de dois

episódios inéditos da série Artes Visuais, produzidos durante a exposição da artista no ano passado, que o SescTV exibe neste mês. O curador Felipe Scovino leva o telespectador para uma visita à exposição e resgata as histórias por trás de cada trabalho. Também neste mês, serão exibidos outros três episódios inéditos da série (confira no quadro). Artes Visuais tem direção de Cacá Vicalvi.

ARTeS ViSuAiSQuartas-feiras, 21h30

german LorcaDia 3/7

renata egrejaDia 10/7

rodrigo bivarDia 17/7

Lygia clark: uma retrospectivaDias 24/7 (parte 1) e 31/7 (parte 2)

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o espetácuLo O FIM DA CANÇÃO trAz composiçÕes de zé migueL Wisnik, Luiz tAtit e Arthur nestroVski

A canção vai acabar?

Quando Chico Buarque, em entrevista a um jornal, em 2004, avaliou que a canção, tal qual se conhece como estrutura musical, poderia estar perdendo es-paço, tornando-se um elemento cultural próprio do século 20, houve quem se perguntasse: seria o fim da canção? A provocação ganhou projeção na mídia e alcançou a universidade, atraindo a atenção de mú-sicos e pesquisadores que se dedicaram a entender o papel da canção na cultura brasileira e, mais do que isso, a buscar elementos que comprovassem que, sim, a canção está mais viva do que nunca. “Essa canção não pode acabar. Como as mães iriam ninar seus fi-lhos?”, responde o músico Luiz Tatit. E completa: “O que está acabando é o modelo de veiculação: o rádio, que antes era tão importante. A canção está crescen-do, só não existe mais é a centralização”.

Para o músico, professor e pesquisador Zé Miguel Wisnik, o modelo clássico de canção, com melodia, harmonia e letra, sofreu a intervenção do rap e da música eletrônica, que possibilitaram novos arranjos, timbres e sonoridades. “A canção, ou seja, a palavra cantada, está em toda parte. No Brasil, ela tem uma importância central, porque parece que é um lugar onde a gente se sente localizado”, afirma Wisnik. Na opinião do músico Arthur Nestrovski, o Brasil se des-taca na produção de canções, pela maneira com que seus compositores arranjam poesia e melodia com originalidade. “Nas culturas musicais pelo mundo, poucas têm uma tradição de canção análoga ao que a gente tem no Brasil, aos borbotões e há tanto tempo. É algo que salta aos ouvidos.”

Em 2011, Tatit, Wisnik e Nestrovski decidiram am-pliar esse debate para além da academia, levando-o também para os palcos. O resultado é o musical O Fim

MúsicA

MúSiCA

o fim da cançãoDia 27/7, 22h

da Canção, apresentado no Sesc Vila Mariana e lan-çado em DVD pelo Selo Sesc, com direção de Daniel Augusto, e que o SescTV exibe neste mês. “São três universitários, da academia, que desenvolvem um trabalho da música popular com o mesmo rigor com que eles fazem o trabalho acadêmico. Esse transitar entre a cultura erudita, a chamada alta cultura, e a baixa cultura diz muito sobre quem somos”, afirma o cantor Celso Sim, que participa do espetáculo.

No repertório, composições resultantes da parce-ria entre os três músicos e cujas referências vão da música erudita ao baião. “Pra quem compôs, pra quem tocou e pra quem ouve / É o destino que sem-pre se quis / É uma quinta sinfonia de Beethoven / Que decantou e só ficou a raiz”, diz a letra de Baião de Quatro Toques. Em Mestres Cantores, uma respos-ta a quem aposte no fim da canção: “Nós aqui mes-tres cantores / Aprendizes felizes / Modestos e muito dignos / Da prosa da prosódia / Da prosápia da poesia / Da música popular / Da canção enquanto tal / Da música total / Da voz que fala / Pela fala e pela voz”.

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Poesia edificada

A arquiteta Lina Bo Bardi não perseguia a beleza em seus projetos, certa de que se tratava de um conceito subjetivo. “A beleza, por si mesma, é uma coisa que não existe praticamente. O que é belo hoje pode não ser amanhã. E voltar a ser belo depois.” Ela preferia projetar a partir de outras referências, tais como o uso coletivo daquele espaço, sua finalidade essencial e a vocação por promover trocas entre as pessoas. No final dos anos 1970, Lina foi convidada para projetar a unidade do Sesc Pompeia, na região Oeste da capital paulista. O espaço, que abrigaria ati-vidades de lazer, esportes, cultura e convívio, seria instalado numa fábrica de geladeiras desativada, cuja arquitetura já se destacava por reproduzir um modelo fabril inglês, com tijolos aparentes; amplas aberturas envidraçadas, para a entrada da luz natural; e grandes armazéns. O desafio era transformar o espaço para os novos usos, sem perder suas características arquitetô-nicas originais.

“Sua ideia foi criar dois tipos de circulação: uma horizontal, dedicada à convivência e às atividades cul-turais, e uma vertical, concentrando o complexo des-portivo”, explica o arquiteto André Vainer, à época estagiário de Lina no projeto. A área de convivência deveria ser, essencialmente, um espaço de encontros. “Essa área é um dos poucos espaços de praça pública coberta da cidade. É muito interessante, porque cria um espaço de acolhimento. O projeto cobre uma

episódio ApresentA As pecuLiAridAdes do proJeto Arquitetônico do sesc pompeiA, criAdo por LinA bo bArdi e inAugurAdo há 30 Anos

enorme lacuna, que é a ausência desses espaços públicos de convívio”, afirma o produtor cultural Fábio Malavoglia, em depoimento ao programa da série Arquiteturas, que o SescTV exibe neste mês.

A inauguração do Sesc Pompeia, em agosto de 1982, confirmou a vocação da unidade para o abrigo de manifestações culturais de diversas naturezas. Di-versidade era a palavra de ordem. “O Pompeia prota-gonizou as primeiras apresentações do Ira! e dos Titãs. Era como se a arquitetura desse espaço projetado pela Lina se confirmasse na programação das atividades. É um espaço com vida”, diz Malavoglia. Além de pensar os espaços, Lina também desenhou os móveis da área de convivência, do refeitório e do teatro, apresen-tando uma coerência com sua proposta original e com o foco do Sesc. “Arquitetura é uma ação inte-gradora do Sesc, é parte do programa. Através dela, você propõe ideias, discute questões, educa, ajuda a refletir, mostra sua intenção”, afirma Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo.

O episódio Sesc Pompeia, da série Arquiteturas, traz entrevistas com arquitetos e produtores culturais que falam sobre o projeto e lembram histórias sobre sua criação. Nas palavras de Lina: “Nunca procurei beleza, somente a poesia”. Direção de Paulo Markun e Sergio Roizenblit.

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ArquiteturAsSábados, 21h

estádio serra dourada (goiânia, go)Dia 6/7

mAm (rio de Janeiro, rJ)Dia 13/7

sesc pompeia (são paulo, sp)Dia 20/7

instituto inhotim (brumadinho, mg)Dia 27/7

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Ensaios sobre a realidade

confusÕes entre LembrAnçAs e deLírios e os VALores dA AmizAde são temAs de dois curtAs-metrAgens

FAixA curtAs

“Eu fechei a janela da sala. Tenho certeza que fechei...” Uma simples e corriqueira tarefa do cotidia-no doméstico é o ponto de partida para uma série de questionamentos sobre atividades rotineiras. Dúvidas e certezas se misturam, em lembranças e delírios, fatos e imaginações. Qual é a versão oficial da história? Qual é a ordem dos acontecimentos? É nesse contexto que o diretor Philippe Barcinski constrói o curta-metragem de ficção A Janela Aberta, uma produção da O2Filmes que o SescTV exibe neste mês, na série Faixa Curtas.

Essencialmente, o filme faz uma abordagem sobre a memória. Enrique Diaz interpreta um homem que, ao se deitar em sua cama, tenta se lembrar se fechou a janela da sala. Diferentes versões sobre o seu dia são, então, apresentadas: o que comeu, comprou, conser-tou e como feriu a mão e o pé. Nessa narrativa frené-tica, diferentes combinações são possíveis, provocando novos resultados, em pensamentos interrompidos pelo seguinte comentário: “Ah, não, isso foi ontem”. E nesse constante recomeçar já não é mais possível perceber o que é causa ou consequência, início ou fim. Lançado em 2002, o curta A Janela Aberta foi premiado em festivais em Chicago (EUA), Florianópolis (SC) e Brasília (DF) e conta com a participação do ator Eugênio Puppo.

O desejo e a curiosidade de três garotos em viver uma aventura é tema do curta-metragem São Paulo

Segundas-feiras, 21h

Amor / dez reaisDia 1/7

14 bisDia 8/7

coda / ensaio de cinemaDia 15/7

A Vida do Lado / um par a outroDia 22/7

A Janela Aberta / são paulo railwayDia 29/7

fAixA curtAs

Railway, que também integra a série Faixa Curtas. Uti-lizando uma linguagem que se aproxima do documen-tário, o filme de Marcelo Müller conta a história de três amigos pré-adolescentes que, certo dia, apostam um cachorro quente para saber se ainda está ativa a linha de trem Santos-Jundiaí. Eles partem de Jundiaí em direção a São Paulo e, nessa busca para chegar perto do mar, vivem os conflitos, as dúvidas, os medos e a intensidade dessa amizade. O curta-metragem de 2010 tem, no elenco, Eduardo Bernardes, Pedro Mingotti e Rômulo Oliveira.

Com um novo episódio a cada semana, com estreias às segundas-feiras, 21h, a série Faixa Curtas reúne cur-tas-metragens de ficção de diferentes épocas e lingua-gens, mostrando a diversidade de produções, temas e abordagens presentes no audiovisual brasileiro. Ainda neste mês, serão exibidos os episódios Amor / Dez Reais; 14 Bis; Coda / Ensaio de Cinema; e A Vida do Lado / Um Par a Outro. Faixa Curtas tem curadoria de Luís Carlos Soares.

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entreVistA

Quando a criança é o foco

“nosso desAfio é ALcAnçAr um equiLibrio entre o que é

enriquecedor pArA eLAs, mAs que tAmbém seJA diVertido de Assistir”

Quais são as principais ações da Fundação Prix Jeunesse? Nossa missão é promover a qualidade da programação da TV para crianças e adolescentes. Nossa principal atividade é o Prix Jeunesse Internacional, o maior e mais antigo festival de produções audiovisuais para crianças. É realizado anualmente em Munique (Alemanha) e também em outras regiões, como a América Latina, com parcerias locais. Fazemos inclusive workshops, entre 40 e 60 por ano, para promover a excelência da programação de TV para crianças. Aqui, contamos com parcerias como o Instituto Goethe e o Unicef. O Prix Jeunesse não é apenas uma premiação pelos melhores programas. É uma intensa experiência de aprendizado entre produtores. Ao assistir e discutir a programação de qualidade de diferentes países, dedicando-se a pensar e refletir sobre seus conceitos dessa programação para crianças, exercitamos um modo efetivo de promover essa almejada qualidade. A ideia básica é: a qualidade deve ser criada pelos produtores, baseados em suas experiências locais, sua cultura e sua criatividade. Eles podem aprender e se inspirar nos outros, mas a excelência da programação infantil tem de nascer da cultura regional e, então, ser espalhada para o resto do mundo. Historicamente, quando a televisão começou a produzir para crianças?Desde o início, os profissionais da TV pensavam em como poderiam usar essa mídia para oferecer às crianças conteúdo educativo e de entretenimento. Mudanças na abordagem pedagógica de como

Maya Götz é diretora da Fundação Prix Jeunesse,

organização internacional fundada em 1964,

na Alemanha, com o objetivo de promover

a qualidade da programação voltada para

crianças na televisão. ela esteve no Brasil, no

mês passado, para participar do ComKids Prix

Jeunesse Iberoamericano, evento que reuniu, no

Sesc Consolação, na capital paulista, produtores

e pesquisadores para assistir, premiar e debater a

produção audiovisual na América Latina. Graduada

em educação, com mestrado e doutorado em

Mídia, ela desenvolve pesquisas sobre a percepção

do público infanto-juvenil aos programas de TV.

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Page 9: Revista SescTV - Julho de 2013

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percebemos as crianças, seu papel na sociedade, seus direitos etc., também transformaram a programação feita para crianças na TV. No início, era algo exclusivamente educativo e fortemente influenciado pela escola, que aos poucos foi sendo dominado pela cultura do consumo. Nosso desafio é alcançar um equilíbrio entre o que é enriquecedor para elas, mas que também seja divertido de assistir. Quais são as especificações das produções audiovisuais voltadas para crianças? Hoje em dia, há todos os gêneros audiovisuais para crianças, mas temos de estar conscientes de um aspecto importante: as pessoas gostam de dizer quanto valorizam as crianças, mas têm investido cada vez menos recursos para a produção audiovisual voltada para elas. Quase não há espaço para que as crianças tenham voz ativa em nossa sociedade, especialmente no mercado. Por isso é tão importante que a sociedade faça um esforço para percebê-las e para abrir espaço para que elas cresçam e se desenvolvam de forma saudável. E como se dá a recepção do público infantil aos programas de TV? Para entender o que significa produção de qualidade para crianças e do que elas gostam de assistir, você tem de aprender como esse público assiste à TV: o que elas acham divertido? Como elas entendem as histórias? Ou como elas usam essas histórias para lidar com a própria identidade? Para citar um exemplo: crianças com cinco ou seis anos de idade não entendem ironia ou flashbacks. Seu foco está na imagem e frequentemente elas ignoram o texto falado. Elas precisam de um longo tempo para compreender e sentir uma história. São questões importantes que se deve conhecer se quer realizar uma produção que contribua com seu desenvolvimento. Por essa razão que, além das exibições feitas no Prix Jeunesse Iberoamericano, também há workshops e aulas com especialistas de diversos lugares do mundo. Na sua opinião, produtores levam em consideração o caráter educativo das obras? Até que ponto os interesses comerciais pautam as produções? Hoje em dia, nenhum produtor pode ignorar o mercado. Programas de TV são caros para produzir e você deve atingir seu público para alcançar seus objetivos educativos, mas também para sobreviver como uma empresa ou uma emissora comercial. E mesmo as emissoras públicas devem avaliar o impacto de sua programação junto ao público, não com a meta de financiar seus programas, mas para ser relevante e para se certificar de que estão realmente sendo assistidos pelas crianças. Não quer dizer que você tenha de abrir mão de todos os seus objetivos para contribuir cognitiva e emocionalmente com as crianças. A maioria dos produtores de TV e dos canais voltados para esse público está ciente da

especificidade de seu público. Mas, é claro, há muitas diferenças em como eles se aproximam das crianças e diariamente aprendem e reavaliam como poderiam ter feito melhor para oferecer mais oportunidades para que elas aprendam, sintam e se inspirem. Como é a produção audiovisual para o público infantil na América Latina, em comparação às produções europeias? Em minha quarta participação no Prix Jeunesse Iberoamericano, vejo uma enorme diferença nos programas finalistas desta edição: a qualidade este ano está muito alta! Isso mostra que produtores e emissoras latino-americanas encontraram caminhos para exercitar sua criatividade e contar histórias baseadas em seu universo cultural. Histórias com crianças e seus cotidianos, claramente locais e com uma qualidade estética. A fotografia é bem escolhida. O ritmo de edição tem – se assim podemos dizer – um pouco de samba e salsa. Obviamente, não são todos, mas muitos encontraram um jeito latino de abordagem. E eu adoraria ver essas produções compartilhadas não apenas na América Latina, mas em todo o mundo. Seria uma inspiração maravilhosa para todos, especialmente para nós, europeus, tão duros e cognitivos. O que ainda pode ser melhorado na produção audiovisual para crianças? O mais importante quando se fala em qualidade de programação para criança na TV, na minha opinião, é diversidade. Crianças devem ter a possibilidade de escolher entre diferentes programas, do Bob Esponja e da Hannah Montana até as atrações regionais; dos desenhos animados engraçados aos documentários que mostram diferentes olhares e histórias que podem tocá-las profundamente. Somente se têm a oportunidade de escolher entre todos os tipos de gêneros elas podem aprender a decidir o que é, de fato, interessante para elas. Apenas se têm a chance de escolher, por exemplo, entre ótimos programas, produzidos de forma brilhante para um mercado global, e também com excelente conteúdo local, cujas histórias são baseadas em experiências regionais, elas terão a chance de aprender sobre si mesmas e também a expandir seu mundo.

“o mAis importAnte quAndo se fALA em quALidAde de

progrAmAção pArA criAnçA nA tV, nA minhA opinião, é diVersidAde”

Page 10: Revista SescTV - Julho de 2013

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As Artes Visuais e as mídias audiovisuais

Ana Mae Barbosa é arte-educadora.

Hoje em dia não se pode dizer que existem meios visuais, porque todos os meios são mistos. Essa afir-mação foi feita por W. J. T. Mitchell em seu artigo No existen medios visuales, publicado no livro organiza-do por José Luis Brea, Estudios Visuales: La episte-mología de la visualidad en la era de la globalización (2005 p.17 a 25) – o melhor livro sobre Estudos Visuais ou Cultura Visual na Espanha. Só se pode falar de es-pecificidades dos meios se os compararmos a receitas de cozinha. Há vários componentes, o que é espe-cifico é a proporção dos ingredientes, a ordem em que são mesclados, a temperatura e o tempo em que são cozidos. Às vezes, o ingrediente que se destaca dá nome ao processo: música, teatro, artes visuais, dança etc. O que fazem os VJs? Música ou artes visuais? O videoclipe é arte visual ou teatro ou música?

As interpretações multimidiáticas do visual começaram cedo. Mitchell lembra que Decartes esta-beleceu a comparação do ver e do tato, considerando a visão uma forma mais sutil e prolongada do tato. Para McLuhan, a TV é um meio tátil. Gombrich negou o “olho inocente”; Berkeley também estabeleceu a teoria da visão como a inter-relação de impressões táteis e óticas, criando a linguagem visual, o que foi comprovado por Oliver Sacks em seus estudos com cegos que recuperaram a visão.

O conceito de olhos modelados esboçado por Martin Jay, a sociedade do espetáculo de Debord, os regimes escópicos foucaultianos, a vigilância de Virilio, o simulacro de Baudrillard, a Cyber Cultura, a Semiótica, os Estudos Visuais e as Teorias da Cognição na perspectiva histórico-cultural nos levam a pensar que as artes se ampliam em colaboração com uma gama enorme de meios audiovisuais que enriquecem nossos sentidos hoje.

O regime colaborativo ou participativo das artes vem criando problemas nesta sociedade categoriza-dora baseada em editais para o financiamento da Cultura. Um dos grupos mais inventivos, produtivos e de mais alta qualidade estética do Brasil é o dos Irmãos Guimarães, que vivem em Brasília, mas atuam em todo o sul do País. Seus espetáculos/exposições são teatro, música, artes visuais, poesia. Mas, se entram em um edital de teatro, são rechaçados por serem artistas visuais e vice-versa. O grupo chileno Casa-grande, que vem entusiasmando a Europa com seus bombardeios de poemas em cidades que foram bom-bardeadas pelas guerras, como Guernica, Varsóvia, Londres etc., apesar de serem famosos internaciona-lmente, também sofrem do mesmo problema, pois são músicos, poetas e artistas visuais e seus produtos, híbridos. As artes se modificam, se ampliam e alguns críticos e gestores demoram em decodificar e aceitar as mudanças.

A inter-relação das artes ditas visuais com outras mídias, como a TV, a web, o mundo virtual, os jornais, as revistas, o rádio, as performances e os procedi-mentos de remixagem, citações, hibridizações, inte-rações ecológicas, computações ubíquas, simuladores de ambientes, cartografias, raqueamento etc., criam novas formas de mediação entre as tradicionais artes plásticas (desenho, pintura, escultura, gravura, ar-quitetura) em um mundo plural de apresentações ampliadas da realidade e da imaginação virtual.

As teorias da arte também ampliam o conceito de artes visuais e de subjetividade, o alvo incontestável da arte mesmo quando tem por objetivo desenvolver a cognição. Fala-se de teorias do fluxo de visualiza-ção, de rizoma, de radicante apontando para a pro-liferação, mobilização, criação de copresença, hetero-geneidade e dinâmica da arte e da ação humana.

As formas de indexação já não dão conta da tarefa classificatória em relação às produções artísticas.

A expansão dos meios audiovisuais não só ampli-ficaram as produções chamadas visuais, mas também sua recepção. As possibilidades de mediação entre as artes visuais e o público se ampliaram de tal maneira que os termos espectador, observador e plateia já não servem às práticas de interatividade e de diálogo propostos pela mediação cultural. Tentam-se usar termos como interator, actante ou interactante para dar a ideia de aprendizagem participativa ou intera-ção material que a mediação cultural estimula. Ainda não encontrei um termo que me satisfizesse e não fosse pedante.

Dos meios audiovisuais, o mais democrático do ponto de vista da mediação cultural é a TV. Com o ba-rateamento dos aparelhos, a TV aberta chega à casa de todos, do pobre ao rico; do universitário ao anal-fabeto. A diferença está na interpretação. Aqueles educados criticamente pelas escolas ou pela vida po-tencializam o conhecimento e detectam as armadil-has culturais e capitalistas, assim como as agendas escondidas, os discursos de convencimento. Por isso é tão importante que a educação formal ou não formal procure desenvolver a capacidade de todos para ler as imagem e decodificar as associações entre elas e os muitos meios audiovisuais.

Os meios não dependem apenas dos sentidos, mas são operações simbólicas e cognitivas que definitiva-mente associam arte ao conhecimento, tema da atual Bienal de Veneza. Precisamos de mais arte na TV para ampliar o conhecimento das novas gerações

Artigo

Page 11: Revista SescTV - Julho de 2013

As Artes Visuais e as mídias audiovisuais

para sintonizar o sesctV: Anápolis, Net 28; Aracaju, Net 26; Araguari, Imagem Telecom 111; belém, Net 30; belo horizonte, Oi TV 29; brasília, Net 3 (Digital); campo grande, JET 29; cuiabá, JET 92; curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); fortaleza, Net 3; goiânia, Net 30; João pessoa, Big TV 8, Net 92; maceió, Big TV 8, Net 92; manaus, Net 92; natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; porto Velho, Viacabo 7; recife, TV Cidade 27; rio de Janeiro, Net 137 (Digital); são Luís, TVN 29; são paulo, Net 137 (Digital). uberlândia, Imagem Telecom 111. no brasil todo, pelo sistema DTH: Oi TV 29 e Sky 3. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br

Esta revista foi impressa em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas.A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.

O Sesc São Paulo estreou, no mês passado, seu novo portal na internet. Agora, o acesso à programação das unidades está ainda mais direto, facilitando a busca do internauta às atividades de cada unidade. Programação, cursos e as atividades de turismo estão destacadas no menu principal. O conteúdo editorial é ilustrado com imagens panorâmicas, valorizando as diferentes linguagens presentes nas ações culturais. Outra novidade é que, a partir de agora, o SescTV pode ser azzzssistido pela internet, em transmissão simultânea, 24 horas por dia no ar. Acesse: sescsp.org.br.

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Sincronize seu celular no QR Code e assista ao vídeo com os destaques

da programação.

Festas populares com conotação religiosa são tema de três episódios inéditos da série Coleções. O sincretismo entre catolicismo e candomblé marca a festa de São Roque, São Lázaro e Obaluaê, na Bahia, no episódio do dia 4/7. Devotos de Nossa Senhora do Bonsucesso organizam, todo mês de agosto, a Festa da Carpição, mostrada no programa do dia 11/7. Os gêmeos de origem árabe São Cosme e São Damião são festejados pela comunidade do bairro de Andaraí, no Rio de Janeiro, no ar dia 18/7. A série Coleções aborda a diversidade da cultura regional brasileira e tem direção de Belisario Franca. Classificação indicativa: Livre.

Direção Executiva Valter Vicente Sales Filho Direção de Programação Regina Gambini

Coordenação de Programação Juliano de Souza Coordenação de Comunicação Marimar Chimenes Gil

Divulgação Jô Santina e Jucimara Serra

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A revista SESCTV é uma publicação do Sesc São Paulo sob coordenação da Superintendência de

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Coordenação Geral Ivan Giannini Supervisão Gráfica Hélcio Magalhães

Redação Adriana ReisEditoração Rosa Thaina Santos

Revisão Ana Lúcia Sesso

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Grupo mineiro conhecido por suas experimentações sonoras, o Uakti é atração inédita da série Instrumental Sesc Brasil, dia 14/7, às 21h. O quinteto, que fabrica alguns de seus instrumentos, apresenta um repertório de Bach, Philip Glass, Milton Nascimento, além de composições próprias. O programa traz entrevistas com os integrantes do grupo e também com a cantora Mônica Salmaso e o maestro Gil Jardim, da Orquestra de Câmara da USP. Instrumental Sesc Brasil é exibido todos os domingos, 21h tem direção artística de Max Alvim. .

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Dois programas do SescTV são finalistas dos Prêmios TAL, uma realização da Televisão América Latina para promover produções audiovisuais latino-americanas de qualidade em emissoras públicas e culturais. O canal concorre em duas categorias: Interprogramas, com a série Ofícios (foto), dirigida por Lucila Meirelles; e Produção de Série, com Caminhos, co-realizado pelo canal e pela Maquina Filmes, com direção de Heloisa Passos. Os ganhadores serão anunciados no final deste mês, no Uruguai. Outras duas atrações do canal foram selecionadas para a Mostra Competitiva do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de 2013, em Goiás. São elas: o documentário Louceiras, direção de Tatiana Toffoli; e a série Somos1Só, direção geral de Ana Dip e coprodução do SescTV com a TV Cultura. No festival, será exibido o episódio O Trabalho e o Português Gostoso, de Evaldo Mocarzel.

sesctV é finAListA em dois festiVAis

Page 12: Revista SescTV - Julho de 2013

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