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Revista Sinapse Ambiental, V3 N3 Ano 2006: 1-5 1 SHORT COMMUNICATION: EFEITOS DO TRATAMENTO COM DIFERENTES DOSES DE ESTRÓGENO NO EPITÉLIO SEMINÍFERO DE RATOS JOVENS SCHNEIDER, Francisco S 1 .; DA CUNHA, Filipe C.R 1 .; GUERRA, Bruna M. 1 ; SÁBATO, Deila J.F. 2 Palavras chave: rato, epitélio seminífero, estrógeno INTRODUÇÃO Espermatogênese é o processo pelo qual células germinativas imaturas sofrem mitoses, meiose e diferenciação e originam espermatozóides haplóides alongados e flagelados. Este processo é regulado por hormônios como FSH e testosterona (O’Donnel et al., 1994, Ranniko et al., 1996). Recentemente, estudos mostraram a presença de receptores para estrógeno em células da linhagem espermatogênica e destacam o papel fisiológico do estrógeno, hormônio tradicionalmente tido como feminino, na espermatogênese (O’ Donnel et., 2001, D’ Souza et al., 2005). Isto pode ser percebido em camundongos deficientes em GnRH que submetidos a tratamento com estrógeno apresentaram completa restauração da espermatogênese (Ebling et al., 2000). Na espermatogênese de roedores o estrógeno controla parcialmente o número de células tronco germinativas e a maturação de espermátides (Carreau et al., 2003). No entanto, em doses elevadas o estradiol pode acarretar atrofia testicular, redução da motilidade do espermatozóide, ausência de luz, desorganização da citoarquitetura dos túbulos seminíferos e vacuolização das células do epitélio seminífero, (D’Souza et al., 2005). No presente trabalho, ratos machos imaturos sexualmente foram submetidos a tratamento com diferentes doses de estrógeno para avaliação do comprometimento da espermatogênese através de análise histológica dos testículos. 1. Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas. 2. Professora do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas Correspondência: [email protected]

Revista Sinapse Ambiental, V3 N3 Ano 2006: 1-5 DIFERENTES ... · EBLING, F.J. et al. Estrogenic induction of spermatogenesis in the hipogonadal mouse. Endocrinology , 141:2861-69,

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Revista Sinapse Ambiental, V3 N3 Ano 2006: 1-5

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SHORT COMMUNICATION: EFEITOS DO TRATAMENTO COM DIFERENTES DOSES DE ESTRÓGENO NO EPITÉLIO SEMINÍFER O DE

RATOS JOVENS SCHNEIDER, Francisco S1.; DA CUNHA, Filipe C.R1.; GUERRA, Bruna M. 1; SÁBATO, Deila J.F.2 Palavras chave: rato, epitélio seminífero, estrógeno

INTRODUÇÃO Espermatogênese é o processo pelo qual células germinativas imaturas sofrem mitoses,

meiose e diferenciação e originam espermatozóides haplóides alongados e flagelados.

Este processo é regulado por hormônios como FSH e testosterona (O’Donnel et al.,

1994, Ranniko et al., 1996). Recentemente, estudos mostraram a presença de receptores

para estrógeno em células da linhagem espermatogênica e destacam o papel fisiológico

do estrógeno, hormônio tradicionalmente tido como feminino, na espermatogênese (O’

Donnel et., 2001, D’ Souza et al., 2005). Isto pode ser percebido em camundongos

deficientes em GnRH que submetidos a tratamento com estrógeno apresentaram

completa restauração da espermatogênese (Ebling et al., 2000). Na espermatogênese de

roedores o estrógeno controla parcialmente o número de células tronco germinativas e a

maturação de espermátides (Carreau et al., 2003). No entanto, em doses elevadas o

estradiol pode acarretar atrofia testicular, redução da motilidade do espermatozóide,

ausência de luz, desorganização da citoarquitetura dos túbulos seminíferos e

vacuolização das células do epitélio seminífero, (D’Souza et al., 2005).

No presente trabalho, ratos machos imaturos sexualmente foram submetidos a

tratamento com diferentes doses de estrógeno para avaliação do comprometimento da

espermatogênese através de análise histológica dos testículos.

1. Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da PUC Minas. 2. Professora do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas Correspondência: [email protected]

Revista Sinapse Ambiental, V3 N3 Ano 2006: 1-5

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MATERIAL E MÉTODOS

Utilizaram-se 20 ratos machos, imaturos sexualmente (com aproximadamente 40 dias

de idade), submetidos ao tratamento diário com diferentes doses de estrógeno contidos

na droga anticoncepcional Neovlar® (Schering AG). Cada drágea de Neovlar® contém

0,25mg de levonorgestrel e 0,05mg de etinilestradiol. As drágeas foram trituradas e

dissolvidas em 0,20ml de água, administrados oralmente. Os animais foram separados

em 4 grupos de tratamento: I – controle; II – tratados 0,5 drágea; III – tratados 1 drágea

e IV – tratados 1,5 drágea. Os animais foram mantidos no biotério da PUC Minas, com

água e ração ad libitum até o período do sacrifício. Após 7 e 15 dias de tratamento

diário os ratos foram sacrificados sob anestesia com éter e os testículos foram

dissecados, fixados em solução de Bouin e submetidos ao processamento de rotina para

inclusão em parafina. Posteriormente, secções histológicas com 7µm de espessura foram

coradas por H.E. e Tricrômico de Gomori e analisadas ao microscópio óptico.

RESULTADOS

A análise histológica das lâminas não mostrou diferenças significativas entre o grupo

controle (FIG. 1) e os animais dos grupos II (0,5 drágea) e III (1,0 drágea) tratados por

sete dias.

Figura 1 – Túbulo seminífero de rato controle. A seta indica espermatozóide formado ainda preso à parede do túbulo. H.E. 100X

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No entanto, com a dosagem de 1,0 drágea, mas período de tratamento aumentado para

15 dias foi possível notar algumas espermátides arredondadas e grandes próximas à

membrana basal e leve redução na quantidade de espermatozóides já formados aderidos

à parede do túbulo seminífero. Estas células não foram visualizadas nos túbulos

seminíferos dos ratos controles.

O grupo dos ratos tratados com 1,5 drágea foi o que apresentou alterações mais

significativas na citoarquitetura do epitélio seminífero, nos dois períodos de

tratamentos. Nestes animais, observou-se aumento de espermátides arredondadas,

grandes e basófilas próximas à membrana basal dos túbulos seminíferos. Espermátides

arredondadas também foram detectadas exfoliadas na luz dos túbulos (FIG. 2). Notou-se

a presença de células gigantes multinucleadas entre as células germinativas (FIG. 3).

Houve nítida redução na quantidade de espermátides alongadas e espermatozóides

formados nos túbulos. Tais observações sugerem falhas nas etapas da espermatogênese,

incluindo a espermiogênese e a espermiação.

Figura 2 – Rato tratado com 1,5 drágea (15 dias) com espermatócitos (seta larga) e espermátides arredondadas (setas) na luz do túbulo. H.E. 100X

Figura 3 – Célula gigante multinucleada na luz do túbulo seminífero em rato tratado com 1,0 drágea (15 dias). Tricrômico de Gomori 400X

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DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os resultados do presente trabalho indicam que a administração de estrógeno a ratos

imaturos sexualmente afeta o desenvolvimento normal da espermatogênese,

principalmente as células no estágio de espermátides. Estes efeitos mostraram-se doses

dependentes, sendo mais evidentes nos animais tratados com dosagens maiores (1,0 e

1,5 drágea).

Apesar de haver relatos da função do estrógeno no desenvolvimento das células

germinativas (revisão em O’Donnel et al., 2001), este hormônio tem sido indicado como

causador da inibição da espermatogênese e da atrofia dos túbulos seminíferos, das

células de Leydig, próstata e vesículas seminais após longa administração e dosagens

elevadas (Verjans et al., 1974; Toyama & Yuasa, 2004). Neste estudo, as alterações

histopatológicas testiculares nos ratos submetidos ao tratamento com estrógeno foram

caracterizadas pelo aumento de espermátides arredondadas sendo exfoliadas para a luz

dos túbulos seminíferos, presença destas células próximas à membrana basal, ausência

de espermatozóides formados e espermátides alongadas e observação de células

gigantes multinucleadas entre as células germinativas. Estas alterações se tornaram mais

evidentes com a elevação da dosagem da droga e também com o aumento do tempo de

tratamento. Kaneto e colaboradores (1999) também observaram alterações semelhantes

nas células espermatogênicas de testículos de ratos submetidos ao tratamento com

diferentes dosagens de etinilestradiol. Os estudos de D’Souza e colaboradores (2005)

também mostraram falhas nas etapas processo espermatogênico em ratos administrados

com elevadas doses de estrógeno, além de demonstrar alterações ns níveis de

gonadotrofinas plasmáticas e testosterona intratesticular.

Conclui-se que os dados obtidos no presente trabalho são corroborados por estudos

anteriores e há realmente alteração no processo de gametogênese normal provocada pela

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administração de doses elevadas de estrógeno. O rato mostrou-se um modelo confiável,

podendo ser utilizado em outros estudos que almejam decifrar os eventos celulares,

bioquímicos e moleculares que ocorrem nos testículos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

D’SOUZA, R. et al. Effect of high intratesticular estrogen on the seminiferous

epithelium in adult male rats. Molecular and Cellular Endocrinology, 241: 41-48,

2005.

O’DONNELL, L. et al. Testosterone promotes the conversion of round spermatides

between stages VII and VIII of the rat spermatogenic cicle. Endocrinology, 135:

2608-14. 1994.

RANNIKO, A. et al. Stage specific expression of FSH receptor in the prepubertal and

adult rat seminiferous epithelium. Journal of Endocrinology, 151: 29-35, 1996.

EBLING, F.J. et al. Estrogenic induction of spermatogenesis in the hipogonadal mouse.

Endocrinology, 141:2861-69, 2000.

VERJANS, H.L. et al. Effects of estradiol benzoate on pituitary and testis function in

the normal adult male rats. Acta Endocrinology, 77: 636-42, 1974.

TOYAMA, Y. & YUASA, S. Effects f neonatal administration of 17β- estradiol, β-

estradiol, 3 benzoate or bisphenol A on mouse and rat spermatogenesis.

Reproductive Toxicology, 19: 181-88, 2004.

KANETO, M. et al. Epididimal sperm motion as a parameter of male reproductive

toxicity: sperm motion, fertility and histopathology ethinylestradiol-treated rats.

Reproductive Toxicology, 13: 279-89, 1999.