64
Quatro Décadas História da Universidade Estadual de Londrina Vida e Arte Perfil da professora de piano que vive pela música Eslo de vida Conheça a carreira rona de um tatuador Comportamento Entenda por que brasileiros são mal vistos na internet Hasta la vista! Diário de bordo de Férias na Europa! Drogas: Expansão da mente ou queima de neurônios? Especial: 7 pecados novembro 2011

Revista Tem Que Pensar

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista online desenvolvida pelos estudantes do 3º ano - Jornalismo Matutino 2011 para a disciplina “Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística III”, ministrada pelo Prof. Lauriano Atílio Benazzi. Edição nº 2.

Citation preview

Quatro DécadasHistória da Universidade Estadual de Londrina

Vida e ArtePerfil da professora

de piano que vive pela música

Estilo de vidaConheça a carreira rotina de um tatuador

ComportamentoEntenda por que

brasileiros são mal vistos na internet

Hasta la vista!Diário de bordo de Férias na Europa!

Drogas:Expansão da mente ou queima de neurônios?

Especial:7 pecados

nove

mbr

o 20

11

Novembro2011

7. STAY CLASSY, LONDRINA!

CRÔNICAS8. A CIGARRA CIBERNÉTICA

9. METÁFORAS, PRA QUE TE QUERO?

10. NEM TUDO SÃO FLORES, MAS OS ESPINHOS SÃO MUITOS

11. DO FUTURO NO JORNALISMO

12. O NETO, A RAPOSA E O TUCANO

13. É FOGO!

14. SINAIS

15. A ARTE DO DESAPEGO

ESPECIAL 7 PECADOS18. VAIDADE É O MEU PECADO PREDILETO

9. AVAREZA NECESSÁRIA

20. PREGUIÇA GENIAL

21. ODE À PREGUIÇA

22. AS RAINHAS DOS 7 PECADOS

23. 7 MANEIRAS DE CONTROLAR A SOCIEDADE

REPORTAGENS24. UEL QUATRO DÉCADAS

28. FANTASIA PARA PIANO

32. HASTA LA VISTA! TSCHÜSS! ADEUS

36. BRASIL E OS GAFANHOTOS

40. OS CAMINHOS DE UM ESTILO DE VIDA

44. ENIGMA CHAMADO MENTE

CRÍTICAS48. A SANGUE FRIO

50. GRANDE CRÔNICA DA VIDA URBANA

52. O REINO E O PODER

53. JORNALISTAS E REVOLUCIONÁRIOS

54. JOGOS DO PODER55. SUBURGATORY

MATINÉE56. A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES57. ZELIG

QUE MÁRIO?58. JOGO E MÚSICA59. NÃO É UMA QUESTÃO DE NOSTALGIA

60 - 61 . ALTA FIDELIDADECARNICEIROS DO FUTEBOL MUNDIAL

TOP 5 MELHORES HISTÓRIAS EM JOGOS ELETRONICOS

MÚSICAS PARA OS DIAS DA SEMANA

MÚSICAS PARA DAR UNS PEGAS

Equipe

Guilherme FeijóHenrique AntonioLeonardo CarusoLucas Nabesima

Paulo Zambolin CastanhoVanessa Germanovix

Textos

DiagramaçãoLucas Nabesima

Vanessa Germanovix

Imagens

Worth1000.com/galeriesgettyimages.com

Thecoolist.com/seven-deadly-sins-wine

buscafilme.com.brvintageculture.net

vintageadbrowser.comMontagens (Morte da bezerra e Vinhos 7 pecados traduzidos

para português): Rafael Vedovatte

DisciplinaTécnica de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística III

ProfessorLauriano Benazzi

Jornalismo Matutino - 3º Ano

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

2011

Edição GeralVanessa Germanovix

A elaboração de uma revista é um processo longo e exi-

gente. Exige-se o planejamento de seu conteúdo. Exige-se a cria-ção de uma identidade visual. Exige-se uma dedicação de todos os envolvidos na criação de um material que atenda as necessi-dades apresentadas pelo desafio do desenvolver a Revista TQP. O trabalho é resultante de um ano de produção para a disciplina “Técnicas de Reportagem, Entre-vista e Pesquisa Jornalística III” do curso de Comunicação So-cial - Jornalismo da Universida-de Estadual de Londrina (UEL). Foram elaboradas durante o ano crônicas, artigos e colunas que serviram como experiência para a produção de grandes matérias opinativas. O resultado é o que você vê nesta edição, repleta do uso da criatividade humana - ou a tentativa de explorar ao máximo a mais avançada máquina que o homem co-nhece, o cérebro. Pesquisamos sobre o poder das drogas como forma de abrir a mente e desenvolver a plenitude da criatividade. Também vimos como é o trabalho - criativo - de uma experiente professora de piano e a rotina de um es-túdio de tatuagem. Temos um diário de viagem pela Espanha, a (infeliz) invasão dos brasileiros na internet e os 40 anos da UEL. Mais do que uma experiência de formação, a “Tem Que Pensar” é uma junção de vários olhares sobre várias realidades com o intuito de... te fazer pensar!

Stay classy, Londrina!

TQP | novembro 2011 | 7

8 | novembro 2011 | TQP

“Tri... tri... tri...”Se o cursor do computa-dor emitisse algum som

enquanto pisca em uma página em branco do editor de textos, à espe-ra de companhia, à espera de As, Bês e Cês que a completem, seria esse, um “tri, tri, tri” interminá-vel. Como o canto de uma cigarra. Com intervalos, mas desesperador depois de um tempo. Aquela faixa preta se destacando em um uni-verso branco.

Por outro lado, a respostas para essa solidão se encontram em um universo escuro e aparentemente sombrio. Futebol, carro, café, mu-lheres, aqui, pronome, sinônimo,

verbos, idéias, parágrafo, caracte-res, assunto, bola, crônica, horá-rio, computador, escrever, rostos, lugares, lembranças, compromis-sos, ansiedade, um leve desespero. Tudo ganha forma nesse céu negro e tem uma cor branca, o negativo da tela. Mas como fazer para o mundo das idéias criar uma copia no mundo dos bites? Como trans-formar as palavras que circundam a imaginação em 0 e 1 que trans-mite o computador.

Aos poucos, a Via Láctea de pensamentos é explorada. Aos poucos vamos nos aproximando das estrelas e assim podemos vê--las melhor. Vemos seu contorno,

seu brilho, seu tamanho. E ainda aos poucos elas vão encontrando seu lugar nessa galáxia branca. Aquelas que não pertencem a esse universo somem e aquelas com o brilho certo permanecem. E, aos poucos, lentamente, sem perceber, o que era uma página em branco, ecoando um “tri, tri, tri” desespe-rador dá lugar a um mundo com-pletamente novo. Um cursor é bem mais que um cursor. É uma viagem para onde quisermos.

Mas essa viagem termina.Felizmente termina como co-

meçou... “Tri, tri, tri...”

Leonardo Caruso

TQP | novembro 2011 | 9

Crônica

De onde vêm os ditos populares? Citações feias que aparentemente

não querem dizer nada. Es-tas máximas são populari-zadas e consagradas pelo uso desgastado de provér-bios. Por que cargas d’água usar a expressão “cargas d’água?”.

Às vezes as pessoas re-correm aos ditados para preencher um assunto, ou para dizer algo que não conseguem expressar lite-ralmente. Mas o dicionário tem uma grande coleção de palavras para serem usadas em seu sentido denotativo. Frases que foram usadas em um determinado evento do passado são apropriadas e até distorcidas até chega-rem às péssimas metáforas repetidas diariamente.

Um exemplo do uso in-correto de expressões é a famosa “quem tem boca vai a Roma”, que ganhou senti-do de “deslocar-se a”. Entretanto, o correto seria “quem tem boca vaia Roma” (do verbo vaiar).

Ficar de nhenhenhém deve ser a mais irritante de todas. E quem a usa provavelmente não conhece o seu significado original muito me-nos sua história, que vem de uma palavra em tupi, Nheë, que quer dizer “falar”. Quando os portugue-ses chegaram ao Brasil no início do século XVI não entendiam a lingua-gem dos índios e reclamavam que eles ficavam de “nhenhenhém”.

Não adianta. Pensar na morte da bezerra é inaceitável. Sempre

que alguém usa esta pérola a única imagem mental que me vem é uma lápide com a inscrição “Aqui jaz Be-zerra”.

Existem também as sentenças de conteúdo geográfico. Afinal, onde Judas perdeu as botas? Será que existe uma plaquinha na região do Triângulo das Bermudas indicando “Judas perdeu as botas aqui”?

Apesar destas citações maçan-tes, nem só de denotações vive o ho-mem. Há algumas expressões cono-tativas admiráveis e importantes. Como a universal OK, que remete a eventos históricos. OK significa

“tudo certo” (all correct em inglês). No início do século XIX, nos Estados Unidos, em vez de usar as letras AC, que pode-riam ser confundidas com alternating current (corrente alternada), as pessoas diziam OK, de oll korrect, gíria de mes-mo significado. A sigla ficou conhecida em uma campanha presidencial de 1840. Outra versão é começou a ser usada du-rante a Guerra da Seces-são, uma disputa entre o norte e o sul dos Estados Unidos. As fachadas das casas exibiam o OK para indicar zero killed, ou seja, nenhuma baixa na guerra civil.

Na culinária, o banho--maria é muito comum, mas poucos conhecem sua história. É uma alu-

são à alquimista Maria, possivel-mente irmã de Moisés, o líder he-breu que viveu entre os séculos XIII e XIV a.C. Foi ela quem inventou o processo de cozinhar lentamente alguma coisa mergulhando um re-cipiente com a substância em água fervente. Ou também pode se uma referência à Virgem Maria, símbolo de doçura, pois o termo evoca o “o mais doce dos cozimentos”.

Bons ou maus, os ditos popula-res deveriam vir com o aviso “use com moderação”.

Vanessa GermanoVix

10 | novembro 2011 | TQP

Quando eu entrei no jor-nalismo tentaram me desanimar logo de cara, falaram que é uma ótima

profissão para você que pretende morrer de fome. Aliás, enquanto eu escrevia esse texto fui lembrado que isso nos foi dito no primeiro dia de aula, no distante ano de 2009. Esse foi o ano da fatídica queda da obri-gatoriedade do diploma.

Tudo bem que algumas pessoas escolhem o jornalismo para abaste-cer os seus inflamados idealismos, mas cá entre nós idealismo não en-che barriga, não bota o pão na mesa da sua família, não garante a lua de mel em Bahamas, não garante a aula de xadrez do seu filho ou o cur-so de inglês da sua filha.

Por outro lado eu reconheço a importância da comunicação social no mundo globalizado e tecnológico de hoje. Apesar da falta de valoriza-ção, tanto na remuneração quanto no preparo dos novos profissio-nais, a procura de espaço na mídia aumentou, assim como a produção cultural com a popularização das mídias sociais.

No fundo dessa reflexão eu vejo que eu gosto de trabalhar com a co-municação, bem no fundo, apesar do decepcionante primeiro impacto que entrar em jornalismo causa em você. Das principais experiências da minha curta vida as mais empolgan-tes foram em torno do jornalismo. A experiência de estagiar em uma redação jornalísticas é muito boa. O importante é que diferente do pen-samento do Homer Simpsons, “ten-tar é o primeiro passo para o fracas-so”, eu continuo tentando gostar de jornalismo e seguir essa profissão pelo resto da vida...

Crônica

PauLo ZamboLin Castanho

Nem tudo sao flores, mas os espinhos sao muitos

TQP | novembro 2011 | 11

Crônica

Do futuro no jornalismo

Lucas Nabesima

Desde que entrei no cur-so de Jornalismo, me questionei sobre como seria o futuro assim que

saísse da faculdade. Entraria eu em alguma redação de jornal impresso ou faria parte da loucura que é uma TV? Na cabeça deslumbrada de um calouro, essas questões ressoavam quase que com alegria, ansioso pelo que o futuro poderia reservar.

Conforme o tempo passou e a experiência com a profissão foi au-mentando – não muito, vá lá, mas aumentando – a tão inevitável de-

cepção aconteceu. A rotina exaus-tiva daqueles que usam a notícia como seu ganha-pão e a baixa re-muneração assustavam, desmoti-vavam.

“Mas fazer o quê, já estou aqui mesmo”, e assim a faculdade foi sendo empurrada com a barriga. Indo pra frente, aos trancos e bar-rancos, mas sempre pra frente. Al-guma coisa me segurava no curso, alguma força maior. Uma loucura, uma paixão, não sei precisar. O fato é que, apesar dos pesares, mesmo que alternativas e opiniões mais

sensatas digam que o jornalismo não é a melhor escolha, não consi-go me desvencilhar disso.

Segundo a pensadora Lenina Natasha Doistoiaska, o jornalismo não é somente uma profissão; é algo que está entre religião e doen-ça. E eu concordo. Apesar de estar terminando o terceiro ano do curso e sem perspectiva do que fazer no futuro, não me vejo em outra área. Seja no diário ou em alguma área especializada, não me livrarei dis-so, que é quase um karma.

12 | novembro 2011 | TQP

Crônica

GuiLherme Feijó

se não podes ganhar deles, junte-se a eles. Olha o brilhantismo do ga-roto! Ele aproveitou a incapacidade da raposa mais velha de se eleger e propôs a ela uma aliança. “Você me apóia no Terceiro turno, eu ganho do tucano, e você continua vencedor na cidade de estúpidos.” A aliança por fim aconteceu e o resto você leitor londrinense já sabe.

Mas tem uma parte da história que eu esqueci de lhe contar caro lei-tor. Lembra do programa policial? Então, adivinha quem tinha seus atos de corrupção delatados e criti-cados de maneira mais que exaltada por nosso protagonista. Sim a velha raposa. Será realmente devemos considerar a política um território sem leis? Tire as suas próprias con-clusões.

TQP | novembro 2011 | 13

Crônica

PauLo ZamboLin Castanho

14 | novembro 2011 | TQP

Eu nunca fui muito bom na leitura de sinais. Qualquer tipo de sinal. Seja um sinal de trânsito, seja um aceno

de longe. Sou daqueles que sempre fica indeciso, no melhor estilo ‘vou, não vou’, quando o semáforo fica amarelo. Não que eu não saiba que o amarelo esteja alí, mas na hora que o bendito aparece, eu não consigo tomar uma decisão. Também já fui (hoje não mais) daqueles que quan-do veem alguém acenando de longe, sabe-se lá o porque, acenam tam-bém. Cansei de passar vergonha ba-lançando a mão de um lado pro outro e abrindo um sorriso para pessoas que estavam apenas querendo cha-mar o garçom ou o amigo que estava atrás de mim. Patético. Sem contar que em 90% das vezes, esse tipo de cena sempre envolve uma guria ex-tremamente gata. Ou, na pior das hipóteses, ‘interessante’. Patético ao quadrado!

Enfim, não me dou com sinais. Sempre tive a sensação de que se um dia perdesse a audição ou a fala, mor-reria de fome, incomunicável, num canto de algum lugar isolado. Pura e simplesmente por me achar incapaz de aprender a ler e/ou fazer uso da linguagem dos sinais. Alias, alguém sabe se a linguagem dos sinais é uni-

versal pra valer? Tipo uma língua única? Ou rola algo como ‘língua es-trangeira’? Algo como: “Então cara, hoje eu não posso, tenho aula de lin-guagem de sinais em inglês. Sacumé, né? Tenho que me preparar pro mer-cado de trabalho... em sinais”.

E é claro que toda essa dificulda-de de leitura se intensifica quando o assunto em questão é o sexo oposto. Não sei se é a sutileza dos movimen-tos, se são as distrações visuais que elas nos impõem, mas elas são, defi-nitivamente, mais complicadas de se ler. O que faz total sentido, pensando que elas são mais complicadas como seres humanos.

Mas aí entra em cena minha meu incrível radar com a ainda mais in-crível habilidade de encontrar e se fixar nas mulheres mais complica-das do meio raio de alcance. Sempre, haja o que houver. Quase um radar para psicóticas! Mas talvez não che-gue a tanto.

Todos sabemos que quanto mais complicada a mulher, mais mis-turados serão os sinais. E some-se a isso, uma pessoa que já não os lê com muita facilidade e, pronto! Te-mos um indeciso que prefere ficar no meio do caminho do que arriscar por causa de um sinal mal interpretado.

Não sei se é coisa da minha cabeça

desconfiada, um mecanismo de auto-defesa ou pura teoria da conspiração, mas mesmo quando me deparo com sinal que consigo decifrar, sempre acho que existe um significado por trás do significado mais simples. Algo como uma “semiótica da con-quista“, ou nos meus casos, semió-tica-de-como-ela-está-me-dando-o--fora-de-maneira-agradável (adoro ironia em frases longas! Funcionam tão bem!).

Mas, de qualquer modo, não há in-segurança que resista aos sinais mais claros quando eles vão aparecendo. Pois até a mais complicada das gu-rias são capazes de envia-los quando querem. E, eventualmente, esses si-nais aparecem. Em uma mensagem de texto, uma ligação, um esbarrão, no momento em que olhares se cru-zam sem querer ou simplesmente em um abraço inesperado. Nessa hora, toda a dificuldade de leitura, baixa autoestima, teorias conspiratórias e o que mais exista, caem por terra. E de repente uma certeza cresce dentro de você, e a partir dali, joga-se fora todos os manuais de leitura de si-nais. E você está sozinho. E, de algu-ma maneira, pronto para tudo aquilo que te fazia perder o sono enquanto perdia tempo tentando decifrar o que talvez sempre esteve lá.

Crônica

henrique antonio

TQP | novembro 2011 | 15

Acumulamos de mais. Coisas que um dia ti-veram um valor senti-mental, que pensamos

ser úteis, mas apenas ocupam espaço nos armários. Colwecio-nismo exagerado pode ser até doença, mas a mania de amonto-ar aos poucos também pode ser um problema.

É difícil desapegar daquilo que chamamos de nossas quan-do associamos com quem nós somos ou com algum momen-to importante da vida. É difícil compreender que o reflexo de quem somos não pode ser pro-jetado em objetos inanimados. Objetos têm forma, tamanho,

peso, profundidade, mas não têm vida, nem podem represen-tar nossa vida.

Guardar algo que traz boas lembranças é bom, pode trazer a sensação de uma agradável nos-talgia. O que pode ser patológico é a idolatria a itens frívolos. O acúmulo desordenado de coisas pode até impedir o fluxo de boas e renovadas energias.

Às vezes somos colecio-nistas também de sentimentos ruins. Conservamos na alma mágoas, angústias, ira por coisas passadas. Insistimos em man-ter arquivadas memórias de so-frimento que, se não é doentio, pode gerar problemas de saúde

(várias doenças podem ter ori-gem psicossomática, como de-pressão e câncer). Assim, amar-gura e falta de desprendimento com o passado impedem de vi-ver o presente.

Ambas as situações – amon-toar coisas e acumular mágoas – amarram nossa vida àquilo que nem lembramos quando foi vivido ou que desejaríamos nem ter vivido. É essencial aprender a valorizar o tempo presente, a investir no que realmente é im-portante, a apreciar as pessoas queridas. Praticar a arte do de-sapego de cargas do passado, de objetos e de amarguras, viver o presente e idealizar o futuro.

Crônica

Vanessa GermanoVix

18 | novembro 2011 | TQP

No filme “O Advogado do Diabo”, essa é a última frase proferida pelo Diabo. A vaidade aparece – não só no filme, mas em relatos teológicos e filosóficos – como o mais grave dos pecados ca-

pitais. Seria a responsável por despertar os outros peca-dos. A vaidade acompanha a gula por tratar o alimento como objeto de desejos, não como sustento. A vaidade nutre a avareza e a inveja. A vaidade torna a luxúria ne-cessária, incitando o desejo incansável por prazer.

Vaidade é o pecado de Lúcifer, o anjo de luz. Sua queda ocorreu por causa de sua arrogância e ambição de ser como Deus. A rebelião de Lúcifer não foi pública de início. Começou em sua mente, onde iniciam todos os pecados.

No mundo dos homens, o vaidoso crônico vangloria--se o tempo todo, precisa mostrar aos outros as coisas que faz e chamar a atenção de quem o rodeia. Na ver-dade, é uma expressão de insegurança essa necessidade em se auto-afirmar. Esse comportamento é muito co-mum nas celebridades instantâneas. Perseguem os ho-lofotes, sempre à busca de uma câmera para aparecer em revistas e acreditam que são reis e rainhas da beleza.

A cultura atual cria vaidosos em potencial, não ape-nas os famosos, como também os anônimos. A prolife-ração de livros motivacionais exalta incansavelmente o leitor, com frases de efeito dizendo como ele é bom, ele merece o melhor. É claro que pequenas doses de auto-confiança podem ser benéficas, mas o sujeito com orgu-lho inflado, ao fim de um livro assim, estará se achando digno de banquetes dos olimpianos. A ele, o melhor se-ria adquirir um pouco de modéstia.

O narciso moderno, cheio de orgulho pelas várias qualidades que acredita ter, despreza as pessoas, pois imagina que nenhuma é boa o bastante. Para sua mente vaidosa, apenas ele próprio é bom. Aquele que passa a vida olhando apenas a si mesmo pode acabar definhan-do, sozinho, enquanto admira o próprio reflexo.

VaNessa GermaNoVix

TQP | novembro 2011 | 19

“Representa o medo de perder algo que possui. É uma pes-soa que tem difi-

culdade de abrir mão do que tem mesmo que receba algo em troca, tem cuidado com seus pertences como uma pessoa egoísta. Prefe-re abrir mão do que tem menos valor e preservar o que é mais valioso. Acha que perder algo pode ser um desastre.” Essa é a definição dada pela Wikipédia para a avareza. Mas o que nos in-teressa é o significado religioso: “O pecado avareza, na verdade é a ganância, que foi traduzido de forma errada para o português como avareza. Uma pessoa ava-renta acha que tudo e todos que-rem seus valores materiais ou financeiros, nada é verdadeiro tudo é interesse em suas posses.”

Sendo assim podemos chegar a uma conclusão um tanto quanto polêmica de que a avareza hoje em dia é justificável.

Nesses tempos, da velocida-de de informação, especulação financeira, da malandragem, bolsas de valores e afins quem não se cuida é passado para traz. Isto só contando as atividades consideradas legais, as ilícitas só pioram a situação, seqüestros falsos, furtos, assaltos à mão ar-mada. Quantas vezes ligamos a televisão e vemos empresas que-brando por desvalorização re-pentina de suas ações, por meio de especulação nos mercados de ações, ou pessoas geralmente de mais idade que foram enganadas por meliantes que fingem um se-qüestro com entes queridos para arrancar dinheiro dos mais desa-

visados.Outro aspecto que contribui

para o cenário atual é a maneira banal com que as pessoas estão lidando com as situações. Tudo pode, nada é estranho. Como se sacanear o próximo não tem pro-blema, a galera cresce um olho gordo nas coisas de quem tem mais posses. Quem é abonado ou é porque teve sorte de herdar ou tem pacto ou roubou, pelo menos é isso que a inveja das pessoas as deixa ver. Então o negócio é ficar esperto, sendo a mal-falada ava-reza uma das maneiras de se pro-teger, mal olhado, inveja, olho--gordo e sacanagem só tendem em aumentar, pelo menos é o que o século XXI está prometen-do. Como diz a minha avó: canja de galinha e precaução nunca é demais.

GuiLherme Feijó

Desde o primeiro momento que eu soube da tarefa de escrever um texto sobre os sete pecados um deles

despertou dentro de mim. A pregui-ça pode ser definida pelo dicionário como: pouca disposição para traba-lhar, lentidão em fazer qualquer coi-sa; moleza; morosidade.

Enfim este texto está atrasado e escrito com pressa tudo por causa da maldita e pecaminosa preguiça. Se você é daqueles que curte ficar um tempo à toa e aproveita ao máximo seu tempo de ócio deve me com-preender.

Os preguiçosos sofrem muito neste mundo dinâmico no qual as pessoas têm que fazer as coisas para “agora”. Não tem mais aquele negó-cio do “devagar se vai ao longe” hoje a máxima que vale é a do “atrasado come frio”. Por isso se você é afetado pela tal da preguiça e gosta de fazer as coisas lentamente, muito cuidado!

Até hoje eu não consegui enten-der de onde vem esta tal de preguiça. Algumas pessoas afirmam que vem da Bahia, mas quando eu vejo a Ivete Sangalo e a Cláudia Leite pulando e cantando no trio elétrico eu não dou muito crédito a esta informação.

Se as pessoas normais vieram dos macacos eu tenho a teoria de que as pessoas preguiçosas vieram do bicho preguiça. No momento ainda não existe comprovação sobre a minha teoria, mas acredito que algum cien-tista tome conhecimento sobre ela, deixe a preguiça de lado, e consiga comprová-la.

Gostaria de aproveitar a ocasião e homenagear o grande padroeiro do

preguiçoso. Viva Robert Adler! Te-nho certeza que você não sabe quem foi Robert Adler. Lógico, os pregui-çosos não são valorizados hoje em dia. Deixa que eu explico, Adler foi o inventor do controle remoto. Alguém já imaginou o que seria de um pre-guiçoso sem seu controle remoto?

Aliás, fico revoltado em ver os preguiçosos serem subestimados. As mentes mais brilhantes deste mundo foram instaladas no crânio de gran-des preguiçosos.

Vejamos, o Thomas Edison era de uma morosidade tão grande para botar o querosene no lampião que

inventou a lâmpada elétrica incan-descente. Graham Bell tinha tanta preguiça de deixar carta no correio para sua namorada que deu origem ao telefone. Já o japonês Momofuku Ando era tão cozido para preparar o jantar que criou o macarrão instan-tâneo.

A preguiça desperta o grande gê-nio que há em você. Para não correr o risco de ser discriminado não diga mais que está com preguiça, diga que precisa do tempo de ócio criati-vo. Não sei se o texto ficou bom, mas encerro por aqui, o motivo, ah deixa para lá...

PauLo ZamboLin Castanho

“Tudo deveria se tornar o mais simples possível, mas não simplificado.” Albert Einstein

20 | novembro 2011 | TQP

Einstein em momento relax

TQP | novembro 2011 | 21

A bem da verdade, lei-tores, eu tinha intenção de escrever sobre coisas sublimes hoje. Sobre

música, filosofia; sobre a eterna batalha do ser humano sobre a face da Terra e sobre as incessan-tes provações e intempéries a que nossa espécie está submetida to-dos os dias. Mas não deu.

Minha inimiga e algoz, a pre-guiça, me impediu de realizar meus intentos mais uma vez. E, sendo sincero, esse calor que anda fazendo só intensifica a von-tade de ficar deitado em uma rede ou cama, fazendo coisa alguma.

Esse bloqueio me fez pensar

no quanto a tão malfadada pre-guiça faz parte do cotidiano das pessoas. Ou, pelo menos, do meu cotidiano. Não acho que passe um dia sem que diga ‘Puxa vida, que preguiça!’

E então, imediatamente, sur-giu a voz de minha mãe falando para não ser preguiçoso, que só me traria desgraça e infortúnio na vida e que em algum ponto acabaria com a cara na sarjeta.

Mas não sei não. Muitas vezes a preguiça pode salvar vidas – ou, no mínimo, evitar situações desagradáveis. Aquele casamen-to que você não quis ir pra ficar assistindo TV no domingo e ficou

sabendo depois que seu tio mala – é, aqueeele – foi e irritou todo mundo, por exemplo. Ou aque-le super show que todos os seus amigos foram, mas você acabou desistindo na última hora e aca-bou chovendo o dilúvio?

E mais: a preguiça também tem seu valor na comparação. O que seria dos esforçados se não existissem os preguiçosos para enaltecê-los ainda mais? Que fa-riam os dedicados se os procras-tinadores não estivessem aí?

Lendo novamente essa crô-nica, senti vontade de amassar e jogá-la fora. Se ela sair, é por que fiquei com preguiça.

Lucas Nabesima

22 | novembro 2011 | TQP

Por mais que as pes-soas tentem ser per-feitas e viver correta-mente em sociedade,

alguns vícios ou característi-cas ruins existem em todos. E aqui não digo cutucar o nariz e comer a caquinha após fazer uma bolinha com ela – que o treinador da seleção alemã de futebol Joachim Löw me des-culpe.

Me refiro à aqueles senti-mentos que temos quando ve-mos alguém em uma posição melhor que a nossa, quando comemos só por comer, quan-do não dividimos o que temos, quando sexo é nossa vida, quando trocamos nossa res-ponsabilidade por um cochilo até às 11 horas da manhã. Os sete pecados. Por mais corre-to ou religioso que uma pes-soa seja com certeza em algum ponto da vida ela terá rom-pantes pecaminosos.

E algumas “classes” ou “gru-pos” de pessoas são mais pro-pensas a cometer certos tipos de pecados. A “preguiça”, por exemplo, é uma das formas mais comuns de pecado e en-contramos em 90% dos estu-dantes universitários, sempre dá tempo de fazer amanhã. A “ira” podemos encontrar em pessoas que sofrem ou sofre-ram muito bullying.

Nem precisamos dizer que a “gula” é o pecado favorito dos gordinhos de plantão. “In-

veja” é o que nós homens sen-timos do Dentinho, Neymar e seus amigos, que mesmo sen-do incrivelmente feios estão com mulheres maravilhosas! “Luxúria” já o que esse mesmo Dentinho, Neymar e amigos (e aqui não podemos esquecer--nos da ilustre contratação co-rintiana Adriano Imperador e com ênfase no mesmo) fazem nas festas. Os dois últimos pe-cados restantes são a “sober-ba” e “avareza”, ligados, sem duvida de errar, aos advoga-dos e políticos (e não preciso nem explicar o motivo). É fácil perceber que todo mundo tem um pé no pecado.

Mas se tem um grupo de pessoas que tem os dois pés e se bobear está até com a cabe-ça atolada nos pecados capi-tais é o grupo das mulheres. Duvida? Acompanhe o raciocí-nio. As mulheres sempre estão se apaixonando por artistas bonitões, jogadores de coxa larga e empresários cheios da grana. Nessa breve descrição já encontramos dois pecados, a luxúria e a soberba. Se elas pelo menos aceitassem um ménage a tròis, estariam livres da avareza. É feio não querer compartilhar o que tem com as amigas. A inveja vem quan-do a mulher vê aquela amiga mais bonita que ela. Pior se não for nem amiga. E se, por algum acaso você concordar que é bonita, esteja preparado

pra despertar a “ira” feminina. Os dois últimos pecados são fáceis de perceber. São aque-les pecados que sempre algo/alguém leva a culpa. Na pre-guiça é culpa da dor de cabe-ça “a não amor, tô com dor de cabeça”. Na gula, a TPM “ai, to gorda! Comi 5 caixas de cho-colate, brigadeiro, dois pane-tones, fiz um bolo, pedi duas pizzas. Não fala comigo que to na TPM”.

Como percebemos, a mu-lher é a rainha dos pecados ca-pitais, mas nada que atrapalhe nossa admiração por elas.

LeoNardo caruso

TQP | novembro 2011 | 23

Definir o que seria pecado é, no mínimo, um tanto quan-to complicado para um ateu. Alias, um dos melho-

res momentos de quando você se des-cobre ateu, é aquele quando se perce-be que tudo aquilo que você fazia de errado e vinha carregado de culpa, não te trará mais peso na consciência.

Mas isso não significa que você pode sair por aí pegando qualquer um ou qualquer uma que passar na sua frente, ficar dormindo em casa enquanto o resto do seu grupo na fa-culdade rala para terminar um traba-lho, que pode ficar invejando aquele babaca que estudou com você no cole-gial e que está sempre de carro do ano e cada vez com uma namorada mais gata, muito menos de ter um acesso de raiva e quebrar a cara desse mes-mo babaca em meio a um ataque de ira.

Não, ser ateu não te dá permissão moral para sair por aí “pecando” as-sim, simples e impunemente. Pois, independente do que um determina-do ser superior disse que você não po-deria fazer, existe uma linha moral de conduta do ser humano, essa sim, es-tabelecida durante milhares de anos de evolução e vivencia em sociedade e que deve ser minimamente respei-tada. Para o seu próprio bem e para o bem daqueles que vivem em torno de você..

Pensando por esse lado, essa his-tória de 7 pecados capitais, é na ver-dade muito da bem bolada. Pois com

eles deixa-se o cidadão que crê, sem-pre assustado pela possibilidade de estar mijando fora da bacia. E, pelo menos em teoria, se esforçando para fazer tudo certo. O que não deixa de ser uma maneira muito interessante da religião proteger a sociedade de si mesmo. Se realmente essa classifica-ção se deve a um ser de força maior, onipresente, onisciente e insípido e/ou inodoro, foi muito do bem bolado. Ponto pra ele.

Mas o que acontece na prática, me parece um pouco com o que acontece quando sua mãe te fala para ir lavar as mãos antes de comer quando você ainda é apenas uma criança. E diz que se você não lavar, vai ficar com a mãos cheias de germes e micróbios. E então você passa a lavar as mãos impregna-do de medo, porque, afinal, algo que tem um nome tão feio quanto micró-bios, só pode te fazer mal! E assim so-mos criados na base da intimidação. Para apenas mais tarde, descobrir-mos que o que nossa mãe nos dizia, realmente é verdade, até certo grau de dramaticidade. Mas que não ne-cessariamente iremos morrer vítimas de micróbios assassinos se não lavar-mos as mãos toda santa vez antes de comer. E é a partir daí, que passa-se a correr riscos por conta própria ao dar aquele famoso “migué” na hora de hi-gienizar as mãos antes das refeições. Você pode até saber que é errado, mas tem a opção de errar se quiser. E é assim que um ateu vive (pelo menos os bem educados e conscientes da so-

ciedade da qual fazem parte). Saben-do que tem a escolha de, em alguma ocasião, ter uma conduta que não é considerada a mais correta pela so-ciedade. Tudo isso, sem queimar no fogo do inferno ou ser largado por tempo indeterminado no purgatório. Mas sempre tendo a consciência que quando se faz uma escolha, sempre existe um preço a ser pago.

Se você quiser exibir seu carrão importado na porta da balada, que o faça. Mas saiba que existe a grande possibilidade de urinarem na maça-neta enquanto ele está estacionado. Se você quer sair por aí comendo mais do que precisava ou até mes-mo queria, bom apetite! Mas tenha em mente que a azia, a obesidade e o colesterol estão aí para atazanar sua vida. Se quer sair por aí fazendo sexo com o maior número de pessoas que você conseguir (aqui não importa se esse número for 2 ou 200, o que con-ta é intensão, ok?), divirta-se! Mas lembre-se que nem um motel inteiro cheio de companheiros sexuais vai te trazer a satisfação que um amor de verdade traz.

Acho que o que eu estou tentando dizer é que não importa se você evita os pecados por medo do julgamento de um ser maior, por acreditar que aquilo vai te tornar uma pessoa me-lhor, ou simplesmente por saber que é o caminho certo a se seguir. O que mais vale mesmo, é ter bom senso e “desconfiômetro” para escolher o “correto” para cada situação.

heNrique aNtoNio

História

´GuiLherme Feijó

Instituições de ensino superior, faculdade, universidade. Mui-tos sãos os nomes para os locais onde nos preparamos para o fu-

turo, onde comparecemos sedentos por conhecimento, onde mentes são moldadas, onde pessoas presenciam o nascimento do amanhã, enfim, onde o progresso acontece.

Muito ainda precisamos avançar no quesito educação em nosso país com economia de primeiro mundo, mas pensamento e miséria de tercei-ro. Investimentos no conhecimento ainda são escassos, as pessoas não enxergam o óbvio, políticos não se preocupam e os que querem mudar a situação acabam não tendo suporte necessário nem de seus partidos, nem da sociedade. Este talvez seja o mal do Brasil, mas o que podemos fazer para mudar isto?

Esta história que começo a contar aqui diz respeito a uma das Universi-dades mais conceituadas deste país de tamanho continental. Talvez não seja a maior, a com mais cursos ou até a melhor no que se diz respeito ao en-sino, mas ainda é nova e tem todas as condições de um dia se tornar mun-dialmente reconhecida como centro de conhecimento, cultura e progresso. Não digo isto de uma maneira desvai-rada ou parcial, digo porque realmen-te acredito que não só esta instituição, mas todas as outras que compõe o portfólio nacional, são feitas de pes-soas que se importam que talvez nem sempre acertem, porém sempre dese-jaram fazer seu melhor para os estu-dantes e as gerações futuras.

Eis que no dia 7 de outubro de 1971 é fundada a Universidade Estadual de Londrina, organizada a partir de cinco faculdades já existentes na cida-de: Faculdade Estadual de Direito de Londrina; Faculdade Estadual de Fi-losofia, Letras de Londrina; Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina, Faculdade de Medicina do Paraná, Faculdade Estadual de Ciências Eco-nômicas e Contábeis de Londrina. Seu começo foi um tanto quanto contur-bado, com as obras no campus em an-damento, as aulas eram ministradas no Colégio Hugo Simas, no centro de Londrina. Estudantes de hoje podem achar que o espaço reduzido atrapa-lhava, mas era realmente este espaço

reduzido que trazia o que os estudan-tes da época mais apreciavam: a pro-ximidade de alunos dos mais diversos cursos. Hoje em dia o campus é muito grande, é complicado para pessoas de centros diferentes se encontrarem, a não ser pelo Restaurante Universitá-rio.

O ambiente da década de 70 era no mínimo complicado. Os anos setenta foram anos de contrastes,iniciou com o apogeu do golpe militar no Brasil, do regime implantado pelos milita-res, mas também foi do declínio deste regime implantado desde o inicio dos anos 60. Foram anos de massiva pro-paganda, anos de ditadura, falta de li-berdade, censura e perseguições. Mas foram anos de resistência, formada pelos intelectuais, estudantes, operá-rios, artistas. Houve perseguições com prisões para todos que ousavam ir contra o regime. Muitos foram presos, torturados e banidos para fora do país. Anos de muita propaganda oficial Anos dos slogans do “Brasil! Amae--o ou Deixe-o”. Foi também a déca-da em que o futebol esteve em pauta contribuindo para alienação do povo salientado pelo título de tri-campeão mundial, bem no começo da década “noventa milhões em ação”.

A ironia é que a mesma ditadura que pregava a censura, exilava inte-lectuais e suicidava outros, ajudou em certo ponto na consolidação da recém fundada UEL. Alguns dos intelectuais mais conceituados das capitais brasi-leiras, se mudaram para Londrina na esperança de conseguirem fugir da censura. Os centros culturais estavam saturados e muito marcados pelos mi-licos, eles tentaram a sorte no interior. Foi aí que a universidade deu um salto de qualidade, viramos centro intelec-tual, cursos estruturados, ótimos pro-fessores e juventude participativa. Londrina entrava oficialmente no mapa intelectual brasileiro.

De 1971 pra cá a Universidade Es-tadual de Londrina só cresceu. Hoje são 18.549 estudantes, distribuídos em 43 cursos de graduação e 4.427 em cursos de pós-graduação. São nove centros de estudos, 57 departamen-tos. A Instituição oferece 19 doutora-dos, 42 mestrados, 82 especializações e 65 residências. No total são 26.154 pessoas que freqüentam diariamente

26 | novembro 2011 | TQP

o campus. A Pretty Big Deal levando em conta que estamos no Brasil. Em pesquisa feita por um instituto inglês a UEL aparece em 61º lugar em uma lista com as melhores universidades da América Latina e em 19º em rela-ção as instituições brasileiras.

Nestes 40 anos de história são muitas as contribuições de conheci-mento que a UEL proporcionou. A vice-reitora da universidade Profa. Berenice Jordão diz que por ser uma universidade a instituição tem o papel de articular e desenvolver o ensino a pesquisa e a extensão. A UEL tem uma vocação desde a sua fundação de che-gar até a população. Berenice acredita que dentre as universidades estaduais do Paraná a UEL se destaca pelos pro-jetos e programas de extensão que tem, de cunho social e de possibilida-de de trazer a experiência colhida fora, para dentro da universidade para ge-rar novo conhecimento.

Um projeto desenvolvido no Hos-pital Universitário, é um exemplo da importância da universidade no en-sino, pesquisa e extensão. No HU um projeto integrado de pesquisa e exten-são exerce um papel fundamental di-retamente ligado ao objetivo de redu-zir os números de mortalidade infantil na cidade.

Peroba: o símbolo da UEL

TQP | novembro 2011 | 27

Hospital Universitário de Londrina

“Uma rede de apoio a fa-mília prematura” foi criado em 2007. De lá pra cá, já são mais

de 500 famílias de bebês prematuros que receberam acompanhamento de uma equipe multidisciplinar de saúde. O projeto é do curso de Enfermagem e tem a participação de médicos, fo-noaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais. O atendimento é feito desde o nascimento do bebê prematuro de baixo peso.

As enfermeiras acompanham os pais nas primeiras visitas ao filho na UTI Neo-natal. Orientam o mais cedo possível a assistência da família ao bebê, para que assumam cuidados como troca de frauda, banho, admi-nistração de medicamentos e aleita-mento materno.

Com a finalidade de capacitar a fa-mília para os cuidados com o bebê em casa, a equipe faz uma primeira visita antes da criança ser liberada do hos-pital. Depois de uma semana da alta hospitalar a equipe do projeto faz uma segunda visita, o objetivo é identificar as dificuldades de adaptação do bebê ao ambiente e intervir em problemas que vem com a insegurança dos pais.

Uma outra etapa do projeto é um intercâmbio de informação entre a equipe que acompanhou a família e a criança prematura no HU para a equi-pe médica que vai acompanhar mãe e filho a partir da alta do bebê. Nes-te momento, as enfermeiras visitam a unidade básica de saúde mais pró-xima da família e passa o quadro do pequeno paciente para o pessoal que

trabalha no local. Paralelo ao atendimento das uni-

dades básicas de saúde a família do bebê prematuro é atendida no Hos-pital de Clínicas da UEL, por meio de uma equipe médica, e também pela equipe do projeto. Este acompanha-mento é feito durante o primeiro ano de vida e é documentado. Os dados preenchidos servem de base para pes-quisas do grupo.

A UEL tem o maior Hospital Uni-versitário Público do interior do Para-ná. O HU já é o terceiro maior do sul do país e nos últimos 12 meses aten-deu pessoas de 20 estados do Brasil. O HU atende pelo SUS, Sistema Úni-co de Saúde. Entre outubro de 2010 e setembro de 2011, o hospital realizou cerca de 140 mil atendimentos am-bulatoriais e mais 35 mil de pronto--socorro. Entre os principais proce-dimentos estão os partos, cirurgias, transplantes, tratamentos de saúde, internações e exames de laboratório.

Em 2010, foi inaugurada no hospi-tal, a unidade de transplante de medu-la óssea. Com a implantação da unida-de em Londrina, o paciente deixa de se locomover para Curitiba, onde fica localizada a central mais próxima, e passa a realizar o tratamento no HU. A meta estabelecida pela Central de Transplantes do Ministério da Saú-de, era de 10 transplantes em um ano, mas o HU praticamente dobrou esta expectativa e realizou 19 procedimen-tos desde setembro do ano passado.

O HU também é referência pela contribuição que oferece a formação acadêmica. Estudantes da UEL dos

cursos de medicina, enfermagem, fi-sioterapia, farmácia e odontologia, vivenciam no hospital a prática da profissão.

O atendimento a comunidade também é papel de outros órgãos su-plementares da UEL, ligados a saúde, como a Bebê Clínica. Nela, os profis-sionais da Odontopediatria e estu-dantes de graduação e pós-graduação, atendem crianças de 0 a 5 anos idade, com o objetivo de educá-los na saúde bucal e prevenir doenças.

O apoio a cultura também é parte importante da UEL. Marca que acom-panha a Universidade desde que a ins-tituição foi criada. Antes mesmo de a universidade nascer, estudantes das cinco faculdades de Londrina organi-zavam festivais artísticos, o primeiro foi em 68.

Para que a UEL fosse reconheci-da como universidade, era necessário que a instituição mantivesse um pro-jeto de extensão cultural. Nenhuma das faculdades tinham um projeto de extensão, então o reitor Ascêncio Gar-cia Lopes propôs aos estudantes que organizavam o festival universitário, que o evento fosse mantido pela UEL.

O festival de todas as artes, pas-sou apenas a ser festival de teatro. O festival cresceu e se tornou um dos mais importantes do Brasil e também mudou de nome, passou a se chamar Festival Internacional de Londri-na, o FILO. A universidade continua apoiando o FILO e o Festival de Mú-sica de Londrina, que já tem 31 anos.

Perfil

28 | novembro 2011 | TQP

vida e arte da pianista que chega aos 70 anos sem medo de novos projetos

VaNessa GermaNoVix

Prelúdio

TQP | novembro 2011 | 29

Aos seis anos, já era apaixonada pelo som do piano dos tios

Aos 12 anos, começou a ter aula com Lídia Costa Bran-co, uma exigente professo-

ra. Ela determinava que no início de cada estudo em casa deveria tocar uma hora de Hanon (exer-cícios técnicos para piano), e não admitia que os alunos chegassem à aula sem ter treinado. E Magdalena sempre foi disciplinada e cumpria à risca as exigências.

A mãe da pianista incentivava as aulas de música, mas naquela épo-ca eram muito caras e demanda-vam intensa dedicação, assim, era fundamental ter boas notas no bo-letim para poder continuar. Música não poderia ser mero passa-tempo. Com a cidade ainda em fase inicial de crescimento, as poucas escolas contavam com professores com formação em conservatórios na Europa. Aos 13 anos, Magdalena já mostrava além do talento, compro-metimento com a arte. Para poder aprimorar ainda mais seu desem-penho, o pai lhe comprou, então, um piano.

Além de técnica e erudita, a mú-sica para piano também pode ser popular. Até hoje as tutoras mais tradicionais não incentivam a exe-cução dessas peças, mas isso não é motivo para que sejam negligen-ciadas. Magdalena sempre apre-ciou músicas brasileiras e os tangos argentinos, desde cedo recorria ao repertório de partituras da mãe e das tias, que tinham uma extensa coleção destas peças. As músicas eram compartilhadas com a amiga de infância Terezinha de Almeida, que tinha dois pianos na sala. As-sim, as duas se reuniam frequen-temente para tocar juntas. Terezi-nha é conhecida por ter fundado o Conservatório de Música Carlos Gomes, mas seu primeiro aluno foi o irmão mais novo, Marco Antonio de Almeida – atual diretor artístico do Festival de Música de Londrina.

Enquanto isso, Londrina cres-cia. Heloisa e Guilherme Rausch foram pioneiros no Norte do Para-ná. O senhor Rausch foi o primeiro motorista de praça da cidade. Che-gou da Áustria em 1925, e veio para

Londrina em 1933. Presenciou as primeiras décadas de desenvolvi-mento e trabalhou para a Cia. de Terras Norte do Paraná. Na déca-da de 1950, já existia a Catedral, a Santa Casa e a primeira agência do Banco do Brasil. A expansão ur-bana foi rápida devido à produção cafeeira, e neste período popula-ção passou de 20 mil para 75 mil habitantes. O Cinema Ouro Verde, fundado em 1952, transformou-se em cine e teatro apenas em 1978, quando passou a pertencer a Uni-versidade Estadual de Londrina, e começaram a ter mais concertos na cidade e os festivais de música clássica.

Mas ainda em 1958, a aluna de-dicada de piano conclui seus estu-dos com a professora Ruth Lemos, com graduação em Curso Superior de Piano, no Conservatório Musi-cal de Londrina. Agora Magdalena amplia sua meta para além de ser pianista: decide ser professora de piano. Para realizar este objetivo, além da preparação com sua men-tora, estágios no Conservatório, ela também realiza cursos de especia-lização. Seu professor de Harmo-nia Musical foi Andrea Nuzzi, o compositor da melodia do Hino de Londrina que foi acompanhada da letra de Francisco Pereira Almeida Jr.

1958: A apresentaçao de formatura

30 | novembro 2011 | TQP

A musicista, experiente em técnica e teoria, publicou com a marca “Gênios do

Teclado” uma obra em 25 volu-mes para órgão eletrônico, livros para piano em seis volumes, vários arranjos de músicas populares, transcrição de obras eruditas, além de composições próprias. Tom Jo-bim, Chico Buarque, Marcos Vale e outros compositores autorizaram suas obras a serem publicadas com o arranjo de Magdalena.

Os livros são vendidos para al-guns professores e escolas de músi-ca de Londrina e de outros estados. Dos três filhos, quem mais seguiu seus passos foi Miriam, que tam-bém é professora de piano.

Hoje Magdalena recebe em casa seus alunos, idades e níveis dife-rentes do curso de música. Esta professora sente-se especialmente feliz por ter aumentado o interes-se de crianças entre sete e dez anos

Melodia

A jovem professora de piano casa-se em 1959, com Fran-cisco do Amaral Souto, com

quem teria três filhos: Adriano, Co-rina e Miriam. Nos anos 1960, mo-rou com a família em Arapongas, cidade vizinha de Londrina, porém menor e menos desenvolvida; na-quela época as ruas ainda eram de terra.

Lá, foi chamada para trabalhar na Igreja Matriz como organista. Em seguida, foi para a Igreja São Vicente Palotti, acompanhando o coral. Sem ter feito cursos especí-ficos de órgão, a experiência veio com a prática, adaptando os conhe-cimentos sobre piano. Os ensaios aconteciam terças e quintas à noite e, como a igreja era distante de sua casa, os cantores do coral lhe ofere-ciam carona. Magdalena colaborou voluntariamente como instrumen-tista das missas de domingo por dez anos. Além do trabalho na igre-ja, aos sábados Magdalena tocava também em casamentos.

Realizou diversos estudos sobre performance para órgão e prepa-rava os arranjos para as músicas sacras utilizadas pelo coral. Apoia-da nesta pesquisa, a professora de-senvolveu uma literatura específica para técnica organística. Ainda em Arapongas, o desejo de ensinar continua. Sua tia Carmen, que co-nhecia várias pessoas na cidade, promove um chá com as amigas para apresentar Magdalena como professora de piano. O evento lhe rendeu 20 novos alunos de piano.

O intenso trabalho não a impe-dia de cuidar da família. Acompa-nhava de perto as atividades esco-lares dos filhos e, juntamente com Francisco, administrava o lar como uma boa dona de casa.

Em 1981, retornou a Londrina. Para suas aulas, alugou uma sala em um centro comercial, antigo “Shopping Londrina”, na Rua Pará. O número de alunos aumentou, e o marido da musicista apoiara no propósito de investir na carrei-ra. Decidiram montar uma escola

maior e com mais professores. A escola de música “Gênios do Tecla-do” em 1983, oferecendo cursos de piano e órgão. Magdalena publicou, então, seus livros técnicos para ór-gão e, mais tarde, para piano.

Allegretto

pela música. Mesmo o incentivo inicial sendo dos pais, ela tem cer-teza de que, depois que as crianças começam a tocar piano, o gosto e o empenho vêm inteiramente delas.

Neste ano, Magdalena ganhou da filha Miriam e do genro João Henrique Cruciol a oportunidade de gravar o seu primeiro CD. O ál-bum contém 19 faixas, com peças de vários compositores clássicos como Liszt, Chopin, Debussy, Bee-thoven, e cinco de autoria própria. A pianista tem uma história para cada composição, algumas são de-dicadas aos filhos e aos netos, ou-tras são meditativas ou de agrade-cimentos a Deus.

Magdalena considera este mo-mento a melhor fase de sua vida. Contente com os alunos, com o CD e com a família. A dedicada pianis-ta, professora e compositora tem ainda muitos projetos. Para o ano que vem, há planos para um segun-do volume do CD, e foi convidada para ministrar um curso de Apre-ciação Musical aos responsáveis pela música nas igrejas.

Ainda que muitos novos proje-tos lhe apareçam, Magdalena está convicta de que dar aula de piano é a sua missão e seus alunos serão sempre prioridade.

Durante a gravação de seu primeiro CD

TQP | novembro 2011 | 31

Foto

s de

arqu

ivo

pess

oal

32 | novembro 2011 | TQP

Viagem

PauLo ZamboLiN castaNho

Saindo do país

TQP | novembro 2011 | 33

De repente surgiu uma oportunidade muito viá-vel, inclusive financeira-

mente, de viagem para fora. A chance era de ir para um país que falava espanhol, e sequer fi-cava na América do Sul, eu teria que atravessar o Oceano para chegar a Madrid na Espanha! A viagem era seria épica, eu iria para lá na semana em que acon-teceria a Jornada Mundial da Juventude com o Papa. A JMJ foi idealizada pelo Papa João Paulo segundo e reúne jovens cristãos do mundo inteiro para

celebrar, viajar e fazer amiza-des. É um dos maiores eventos do mundo. Para se ter noção em Madrid chegou a reunir mais de 2 milhões de pessoas em um único lugar, o aeroporto par-ticular de “Cuatro Vientos”. É mais do que uma Copa do Mun-do a qual não chega a ter 100 mil pessoas dentro do estádio assistindo à final.

Conversei com meus pais e recebi todo o apoio. Assim o que era um sonho distante se torna-ria realidade. Eu precisava me preparar pois eu queria apro-

veitar o máximo possível. Con-tudo eu sou um cara bem tran-qüilo e sei que se eu começasse a correr atrás das coisas para a viagem não conseguiria pensar em outra coisa e a ansiedade iria acabar comigo. Fui pensan-do na viagem aos poucos, con-forme a data se aproximava eu me mexia mais. Essa é uma das dica que eu deixo para você que é bastante ansioso, segue a vida e prepare-se para viajar com naturalidade.

Plaza del Sol

34 | novembro 2011 | TQP

Outra coisa importante a fazer antes de viajar é verificar quais vacinas são indicadas tomar para o país de destino escolhido. Para isso existem bastantes sites para tirar dúvidas. Contudo a melhor coisa a fazer é pegar sua carteiri-nha de vacinação, levar no posto de saúde mais próximo, informar para onde vai e pedir para verifi-car se está tudo em dia. Não tem custo e não demora muito. Prova-velmente nenhum país vai te bar-rar por não ter uma vacina, mas é prioridade se preocupar com a saúde nessas horas.

Passaporte

A primeira coisa para ver é se o seu passaporte está em dia, no meu caso precisei

fazê-lo. É tudo bem prático hoje a foto do passaporte é agendada pela internet, eu cheguei na polícia fe-deral antes da hora marcada e fui atendido em menos de cinco mi-nutos. Porém, você provavelmente não conseguirá marcar para a se-mana seguinte vai demorar algum tempo, e em determinados meses, geralmente quando se aproximam as férias de julho e final de ano, o passaporte demora a ficar pron-to. Outra dica é ir arrumado para a foto, não vai com aquela barba de três semanas sem fazer, cabe-lo despenteado e camiseta da sua banda favorita de heavy metal.

Vacinas

Money

Dinheiro no bolso não pode faltar. Euros, Dólares, Ienes, Libras...Enfim você vai ter que fazer o câmbio de reais para a moeda do país de destino. Essa hora exige planejamento, é importante fazer uma estima-tiva do que vai ser gasto. Não leve além do necessário, trazer dinheiro que sobrou de volta e convertê-lo novamente em real da um prejuízo razoável. Eu fui bem ponderado com o dinheiro que levei. Desse valor, dois terços eu levei em espécie e um terço no cartão de moeda estran-geira. Dá para fazer o cartão em qualquer casa de câmbio ou agência de turismo. Uma vantagem do cartão é alguém no Brasil poder colocar mais dinheiro nele, outra é que a maioria dos estabelecimentos comer-ciais o aceita como forma de pagamento. A desvantagem consiste em não encontrar muitas máquinas para sacar o dinheiro dele ou confe-rir o saldo. É legal também levar aqueles porta moedas que você deixa por dentro da calça. Dá para levar umas notas e até o passaporte. É um pouco constrangedor tirar o dinheiro de dentro da caça toda hora, mas acostuma, é questão de segurança. Evita que você perca uma carteira ou alguém “tire” ela do seu bolso por exemplo. Em Madrid um amigo teve a carteira “retirada” de dentro da mochila no metrô.

Precaução

Para entrar em outro país é necessário fazer um seguro de saúde ou de vida também, depende do país e do contrato que você fi-zer. Na minha viagem eu não fui sozinho e a agência optou por

fazer um seguro pelo grupo para sair mais barato que um seguro in-dividual. Na prática, pelo que eu entendi, fica mais em conta só isso. Ninguém assina um seguro pensando em como utilizá-lo lá na frente. Eu não sou diferente, assumo que li apenas superficialmente o contrato. Para que ler o contrato? Alguém usa? Bom, eu usei. Quando um bra-sileiro pisa na Europa a primeira coisa que eles querem ver você fazer é sambar. Eu infelizmente não tenho intimidade com samba. A segun-da coisa que mais querem ver um brasileiro fazer, e nisso eu assumo que sou muito bom mesmo, é jogar futebol. Após muita insistência dos gringos eu resolvi mostrar minha arte em solos madrilenhos, se algum olheiro do real visse certamente me contrataria.

O resultado fugiu um pouco do esperado e logo no meu segundo dia na Espanha eu torço o pé jogando futebol. Com isso meu pé inchou bas-tante e doía muito ao ponto de não poder pisar no chão. Precisei acionar o seguro e torcer para que ele fosse eficiente. Liguei para a empresa conversei com uma atendente em português, que ficou de analisar para onde me encaminharia, em menos de quinze minutos recebi o retorno, dizendo para ir ao Hospital San Camilo. Lá eu me senti no primeiro mundo, um atendimento espetacular. O hospital era pequeno, mas mo-derno, bem equipado e atendia rapidamente. Deu cerca de trinta mi-nutos do tempo de fazer a ficha a ser atendido, tirar raio x, e pegar o diagnóstico da médica. Ainda bem que não era nada muito grave, foi só a torção mesmo, a médica pediu uma semana sem pisar e gelo para desinchar o local. Como aquela semana era única, eu não podia ficar sem andar, fiquei o dia de cadeira de rodas e no outro já saí andando. Desobedeci a médica e até hoje não estou 100%. Toda essa história serve apenas para exemplificar como é importante um seguro bem feito. Nós nunca esperamos usar, mas quando precisamos dele ele precisa suprir nossas necessidades.

TQP | novembro 2011 | 35

Arrumar malas sempre foi um problema. Só consigo fechar a mala, tanto na ida

quanto na volta, com muita in-sistência. Para verificar o quanto de bagagem é permitido levar no voo é preciso entrar no site da em-presa de aviação, pois cada uma tem um regulamento próprio. Na companhia aérea que eu viajei era permitido duas malas de 32 kg e uma bagagem de mão para voos internacionais. Eu levei uma mala grande e uma mochila de costas como bagagem de mão. Por mais que eu poderia levar duas malas grandes, andar por aí com duas malas de rodinha e uma mochi-la nas costas reduziria muito a mobilidade, sem falar no descon-forto. A mochila de costas é fun-damental, nela eu coloquei itens de higiene, uma troca de roupa, documentos, e uma quantia em dinheiro. Caso a sua mala extra-vie, as coisas de maior necessida-de estão na sua bagagem de mão. Registre

Todo turista que se preze leva a sua máquina fotográfica. Em uma viagem internacional dá para co-nhecer muita coisa extremamente diferente das que existem em seu país. Por isso registre-as, depois você coloca no facebook e mos-tra para os amigos. Atente apenas a um detalhe, as viagens sem-pre são um momento marcante da sua vida, então viva a viagem. Não seja daqueles que dá um pas-so e tira uma foto. Desfrute todos os momentos, a viagem é sua e não dos outros, não fique pen-sando na lembrancinha que você “tem” que levar para sobrinha do vizinho do seu amigo. Aprendi com umas amigas algo importan-te: “seja egoísta nessas horas”. Espanha e Alemanha

Na minha viagem eu conheci a Espanha e a Alemanha, não intei-ras óbvio, eu fiquei apenas dezes-seis dias no total. Não vou te falar em que lugar você deve comer,

Arrumando as malas

onde você deve visitar... Aprovei-te as dicas que eu já dei e as ex-periências compartilhadas, claro. Mas também aproveite para criar seu próprio manual e seus roteiros de viagem. Pesquise antes e saiba mais ou menos o que quer conhe-

cer no lugar de destino, mas não vá com tudo detalhadamente pla-nejado, deixe-se surpreender com o que a cidade pode te oferecer. Enquanto isso, eu fico por aqui pensando no meu próximo desti-no.

Plaza del Sol

Em frente ao Palácio Real

Foto

s de

arqu

ivo

pess

oal

36 | novembro 2011 | TQP

Não é novidade, ao menos para aque-les que frequentam regularmente, que a internet é um dos maiores an-tros de pessoas rudes, mal educadas

e desagradáveis. Aventurar-se pela web signi-fica, invariavelmente, encontrar alguma des-sas criaturinhas. O anonimato proporcionado

pela rede parece trazer o que há de pior nas pessoas. É por isso que vemos por aí, pesso-as irritando outras pelo prazer de irritar – os trolls –, ofensas e ataques gratuitos e outros comportamentos que fazem da internet quase que uma terra sem lei.

Por que os internautas brasileiros são tão mal vistos, a ponto de serem considerados os “gafanhotos” da internet?

Lucas Nabesima

Comportamento

TQP | novembro 2011 | 3

Um grande exemplo desse comportamento foi o que aconteceu com o Orkut. A

idéia do site de relacionamento do Google era agregar amigos próxi-mos ao seu perfil – tanto que, no começo, para entrar no Orkut, era necessário um convite. Algumas semanas após o lançamento do tão exclusivo site, alguns convites foram postos à venda no Mer-cado Livre. Com o número alar-mante de pessoas cadastrando-se, o Google eventualmente retirou o requerimento do convite. O re-sultado: hoje, a rede que supos-tamente deveria ser exclusiva e quase totalmente anglófona é ab-erta e dominada por brasileiros. Mas digresso.

Mas brasileiros são especial-mente mal vistos em jogos online multiplayer, os MMOs. É muito fácil encontrar algum compatriota quebrando as regras do jogo – al-gumas simples, como por exem-plo, conversar usando somente o idioma do servidor (normalmente o inglês) e utilizar seu idioma ma-terno apenas em conversas par-ticulares ou não ofender a equipe de GameMasters. E, por muito fácil quero dizer “olhar para o lado e encontrar algum fazendo isso”.

E isso sempre me incomodou. Essas ações atrapalham o bom andamento do jogo, estragam a diversão daqueles que não es-tão atrás de bagunça e “sujam” a reputação dos demais brasileiros. Sempre quis saber por que diabos sempre que tinha alguma con-fusão em MMOs, tinha brasileiro envolvido. Conversei com muitos jogadores em busca de respostas. As que consegui serão relatadas mais à frente.Dificuldade - Quando eu era mais novo, não conseguia pas-sar de uma determinada fase no Donkey Kong Country, para Super Nintendo. Provavelmente era uma de gelo, onde os macacos escor-regavam sem parar. Vendo minha frustração, meu primo perguntou

2 | novembro 2011 | TQP

o que tinha acontecido. Após con-tar minha lamentável campanha contra o gelo, esse primo em questão me deu um conselho que carrego comigo até hoje. Ele me disse “seja melhor”.

Observando o comportamento de certos players, parece que esse conselho não atingiu a todos. O desafio imposto pelos desenvol-vedores quando se joga contra o ambiente (o PvE) ou por out-ros jogadores (o tão famoso PvP) simplesmente some com o uso de programas ilícitos que geram al-gumas modificações no jogo, os hacks. Um jogador que preferiu permanecer anônimo contou que usa bot – um programa que faz com que seu personagem real-ize ações pré-determinadas, sem a necessidade de que um jogador o controle – por que “é mais fácil fazer dinheiro assim”. Esse lu-cro seria usado para a compra de equipamentos mais fortes, que o dariam vantagem sobre outros personagens de nível semelhante.

Um hack desse tipo é, de certa forma, leve. Não afeta a jogabi-lidade, apenas dá uma vantagem maior a determinado personagem. Existem outros, por outro lado, que mudam completamente o jogo. O Pangya, um MMO de golfe, teve de fechar vários servidores por conta de uma modificação – que, não surpreendentemente, fora criada por um brasileiro— que retirava a inclinação do Green, ga-rantindo quase 100% de acerto em cada putting. Por conta desse hack, poucas pessoas compravam a moeda virtual do jogo, que era a base de manutenção do servidor.Lei de Gérson – Seria muita in-genuidade pensar que uso desses programas é somente para aplacar uma enorme dificuldade imposta. A Lei de Gérson, a nossa tão ar-raigada mania de querer levar vantagem em tudo aparece aqui também. Independente se vai cau-sar prejuízo a outro player, à em-presa que desenvolve ou a que

TQP | novembro 2011 | 39

A tira que ilustra essa matéria retrata a vistão que estrangeiros

– especialmente norte-americanos – sobre o comportamento brasileiro. ela foi, originalmente, escrita em

inglês e pode ser acessada em http://goo.gl/rIF5f

disponibiliza o jogo, uma vantagem que te permite vencer o oponente em um golpe é buscada a todo custo.

Muitos “brasileiro é safado mesmo” mesclados com um aparente orgulho por “ser melhor” que outros, ainda que quebrando as regras apareceram várias vezes durante as entrevistas que conduzi. É curioso, apesar disso, que todos os que assumiram usar hacks exigiram terem suas identidades – tan-to nomes quanto apelidos em jogos – ocultadas.

Uma das coisas mais ditas no exterior sobre o comportamento brasileiro é que não sabemos nos comportar. Uma comparação que é recorrente relaciona um personagem brasileiro (facilmente identificável pela tag BR, presente em quase todos os servidores – incluindo os servidores naciona-is) a um macaco que corre pela sala, quebrando tudo. Apesar de ofensiva – e me desculpem agora, leitores – cabe em muitos casos. Não interessa se o idioma oficial do servidor é o inglês, vamos fa-lar em português no canal global, deixando mui-tos gringos irritados; vamos achincalhar e atacar aleatoriamente players pelo simples prazer de fazê-lo. Muitas vezes, a simples presença de joga-dores brasileiros é uma afronta: por causa desse comportamento inconveniente, muitos jogos blo-queiam os endereços IP do Brasil.Má fé – Mais comum do que ver algum brasileiro usando hack é ver algum tentando passar outrem pra trás. Uma rápida passada pelo Google mostra dezenas de sites alertando contra tentativas de roubos e trapaças em MMOs. Bianca Fagundes, de 17 anos foi recentemente enganada desse modo. “Fui trocar um animal de estimação raro por uma armadura para minha personagem. Depois de al-guns cancelamentos de troca, que pareciam acon-tecer por algum problema na conexão com o ser-vidor, consegui pegar a armadura. O problema é que ao invés de ser o item raro que queria, era uma armadura genérica. A pessoa com quem tinha tro-cado, claro, sumiu. Parei de jogar por causa disso, desanimei”, conta Bianca.

Procurei algum psicólogo ou antropólogo para comentar esses comportamentos, mas nenhum aceitou o convite. Rafael Gumieri, de 22 anos e 15 deles passados nesses mundos virtuais, avaliou que o comportamento brasileiro na internet, ape-sar de ainda falho, melhorou bastante nos últimos anos. “O problema do Brasil é que viveu um boom de internet muito tardio. Apesar de dominarmos o ranking de tempo conectados à rede, somos muito jovens nisso. Do mesmo modo que um novo-rico demora para acostumar-se à sua nova condição, temos um tempo até acostumarmos à liberdade obtida virtualmente.”

40 | novembro 2011 | TQP

heNrique aNtoNio

Acordar as nove horas da manhã, para chegar ao trabalho depois das dez, é um horário extremamente agradável para começar o dia. Ainda mais levando

em conta que, nesse caso, não existe patrão para prestar contas ao chegar. Quer mais? Ok, imagi-ne que assim que você chega ao local de trabalho, pode ligar um computador – conectado a um mo-derno sistemas de caixa de som – e colocar para tocar a música que quiser, mas isso, claro, em um volume que não interfira na conversa com o clien-te da vez.

Se não dá para ser chamado de rotina, esse pode ser considerado um começo de dia comum para Miguel Dimas, tatuador, de apenas 28 anos, dono da “Tatuaria Brasil”, estúdio de tatuagens, na ci-dade de Bauru, no interior de São Paulo. Mais do que apenas um tatuador, um jovem empresário, que ao invés de faculdade, pós-graduação, terno e dinâmica de grupo; optou por aprender com a vida ao observar o trabalho de outros profissio-nais, vestir shorts e camisa, e trocar ideias com os clientes enquanto houve diferente histórias e explicações para diferentes trabalhos.

Tatuagem

TQP | novembro 2011 | 41

42 | novembro 2011 | TQP

Mas é claro que todo es-tilo de vido, ou, lifestyle, como ele mesmo gosta

de dizer, traz consigo um preço a ser pago. Se você escolhe viver da sua própria arte rabiscada no cor-po dos outros, tem que estar cien-te que os caminhos são por vezes desconhecidos. Não existe um guia a se seguir sobre o que fazer para aprender, cada um ganha experiência de um jeito. Como também começa de um jeito. No caso de Miguel, foi o acaso. Ou melhor, o fato de ter ido morar com um tatuador enquanto fazia faculdade de publicidade. Como sempre desenhou, acabou cha-mando a atenção do colega. Aos poucos, começou a passar mais tempo no estúdio com o amigo do que nas aulas de publicidade, o que acabou em bomba acadêmi-ca. A reprovação no segundo ano de faculdade acabou sendo deci-siva para a decisão de trancar a matrícula. Uma decisão momen-tânea até alí, tempo para parar e pensar se era aquilo mesmo que lhe trazia prazer. Mas ao invés de voltar para a casa dos pais, Mi-guel continuou morando com o tatuador. E começou a trabalhar no estúdio para ajudar o amigo e também para ajudar a pagar as contas.

Foi assim durante pouco mais de um ano. Tempo mais que sufi-ciente para o talentoso desenhis-ta aprender como desenhar em peles, ao invés de papel. Depois foi necessário mais algum tempo, cerca de um ano, para ele tomar coragem e bater o martelo. Era aquilo que queria para sua vida! A faculdade de publicidade já ha-via ficado no passado, apagada em algum lugar de memória. O futuro agora era cheio de agulhas afiadas... e tinta! Muita tinta.

Com a decisão tomada, era hora de ganhar mais experiência. Então ele começou a se valer dos contatos que havia feito. E a par-

tir daí se tornou um nômade, em nome da tatuagem. Acabou pas-sando um temporada fora do país e foi estudar tatuagem e desenho nos Estados Unidos. Em cidades

conhecidas pela cultura e tradição no mundo das tattoos: Orlando e Miami, na Flórida; São Francisco e Los Angeles, na Califórnia e, por fim, Nova Iorque.

TQP | novembro 2011 | 43

Com a bagagem profissional adquirida durante o tem-po trabalhando ao lado de diversos profissionais de renome, era hora de dar o próximo passo. E assim ele

fez. Voltou para cidade dos pais, em Bauru. Usou as eco-nomias, emprestou mais uma grana com os pais e abriu o próprio estúdio de tatuagem. No começo era apenas uma apertada salinha em um conjunto de salas comerciais.

O inicio nunca é fácil, ainda mais quando se decide ir para uma cidade menor, com um público menor, com me-nos tatuados e aspirantes a tal título, ou seja, menos clien-tela. Mas ele tinha certeza que era ali que ele queria estar. E assim ele começou o maior desafio da carreira profissio-nal que escolheu, sendo que os primeiros clientes eram na verdade amigos de longa data. Principalmente o pessoal do skate e a galera da música. Gente que já conhecia Miguel antes do tatuador, que acompanhou a caminhada do amigo a distância. E que agora colocavam a própria pele em jogo para comprovar a qualidade do trabalho de Miguel.

E é assim que as coisas funcionam nesse meio. Não exis-te anúncio, panfleto, outdoor ou nenhum outro tipo de pro-paganda que divulgue melhor seu estabelecimento do que o seu próprio trabalho. Suas linhas e tintas na pele de pes-soas, desfilando por aí como se fossem telas em movimento. Exibindo sua arte e seus traços para outras pessoas, que po-dem acabar se interessando. E a partir daí o boca a boca faz o resto. E nesse caso, o resto, mais uma vez, veio rápido. Em poucos meses, a agenda do estúdio estava lotada, trabalho de manhã, a tarde e a noite. O que até atrapalhou as coi-sas durante um tempo, por causa de uma tendinite crônica na ocupada e talentosa mão direita do, agora, concorrido profissional. Nada que algumas sessões de fisioterapia não resolvessem.

Logo a salinha ficou apertada para os clientes e agrega-dos que chegavam todos os dias para acompanhar as ses-sões. Após reembolsar o dinheiro emprestado pelos pais, mais uma decisão arriscada para o empreendedor Miguel. Era tempo de expandir. E por volta de um ano e meio depois de dar o passo mais arriscado de sua vida, Miguel mudava seu estúdio para uma sala mais ampla, com dois andares, uma fachada planejada e uma secretária! O que o afastou da tarefa que mais o consumia e torrava sua paciência: ter que arrumar sua agenda e marcar os horários das sessões.

Mais uma vez, o risco corrido valeu a pena. Deixando de lado a megalomania que afeta jovens empresários dos mais diferentes ramos, os investimentos rapidamente se paga-ram sem maiores problemas. E desde então Miguel passou a viver tranquilamente apenas da tatuagem. De sua arte. A venda dos quadros em óleo sobre tela são apenas um com-plemento, algo feito por puro prazer. Pois a tela preferida dele é outra... aquela que sangra.

44 | novembro 2011 | TQP

LeoNardo caruso

TQP | novembro 2011 | 45

A mente é um enigma. O po-der do cérebro humano e o potencial inativo que há por trás dessa máquina desper-

ta interesse não só dos estudiosos da medicina e biologia, mas de escrito-res, executivos e artistas. Muitos uni-versitários também procuram outros modos de enxergar a realidade, mais calmos, mais ativos ou simplesmente de forma alternativa.

Quando fazemos a pergunta de qual a porcentagem que usamos do nosso cérebro, muitas vezes so-mos levados a responder de 10 a 20%, porém os médicos explicam que usamos a totalidade desse or-gão, ou seja, 100%. Então o que faz as pessoas acreditarem que poderiam ser mais criativas e di-nâmicas (e se sentem assim) após usarem certos tipos de substâncias e drogas?

Alguns filmes retratam a altera-ção física e psiquica que se decorre do uso de substâncias psicoativas (aquelas que agem sobre o sistema nervoso central e de certa forma alteram alteram a percepção, hu-mor, comportamento e consciên-cia). Neles, os indivíduos agem mais espontâneamente, com me-nos medo e/ou de maneira mais criativa.

Um exemplo clássico de obra nesse sentido é Tainspotting, fil-me de 1996, em que o personagem principal - e seu círculo de amigos - são usuários de heroína e encon-tram na substância a solução para o bem estar e para viver. Eles pas-sam por vários momentos de cur-tição, porém a droga os leva por caminhos infelizes. Apesar dos be-nefícios momentâneos que os per-sonagens pudessem ter, o uso da heroína e sua finalidade acabam por colocá-los num círculo vicioso e perigoso de consumo e sobrevi-vência pela droga.

Recentemente foi lançado Li-mitless (2011), um filme de Neil Burger e que explora a questão “uso do cérebro efetivo” x “poten-cial que poderíamos alcançar com a mente ‘livre’”. Na história, um es-

critor falido acaba experimentan-do uma droga revolucionária ao se reencontrar com um ex-cunhado. A droga funciona como um cata-lisador de transmissões neurais e o protagonista desenvolve seu potencial cerebral ao máximo. Em pouco tempo, Eddie Morra (perso-nagem principal) desenvolve múl-tiplas habilidades, aprende novos idiomas, adapta-se ao mundo dos investimentos e, princiapalmente, atinge o ápice de raciocínio e cria-tividade. Em suma, não há ativida-de intelecto-social que ele não pos-sa desenvolver. O problemas vem quando ele decide parar de ingerir a mágica substância, “síndrome de abstinência”. Porém, com uso mo-derado, não há malefícios. Ao final do filme, Eddie consegue conciliar o uso dessa “droga” e virar um po-lítico bem sucedido.

A abordagem midiática sem-pre recai sobre casos do primeiro exemplo, casos como Trainspot-ting, em que a droga, independen-temente de seu uso, é maléfica. Mas é possível que exista alguma substância que favoreça o desen-volvimento das qualidades indi-viduais sem que existam “efeitos colaterais”, como no segundo fil-me (Limitless), ou mesmo um uso saudável das drogas já conheci-das?

Um amigo relatou suas expe-riências com diversas substâncias e até que ponto o uso delas serviu como otimizadora da mais avan-çada ferramenta humana, o “pen-sar”.

Anônimo (A.N.) - pseudôni-mo para o tal amigo - conta que suas experiências tiveram origem de forma recreativa, em rodas de amigos que, dentre outras subs-tâncias, já haviam experimentado maconha, ecstasy, lsd e “cogume-los mágicos”, além das drogas le-galizadas (álcool e cigarro).

Para A.N., o desenvolvimento da criatividade e da inteligência decorrentes do uso de substâncias psicoativas é plausível. “Depende do meio que se encontra e do psi-

cológico de cada um”, comenta. Para ele, é muito mais fácil com-preender algumas coisas quando está num estado de loucura.

Só que Anônimo acredita que o uso que visa um objetivo especí-fico é ineficaz. “Tomar esperando encontrar uma solução não resol-ve, tem que estar descontraído. Sua mente aos poucos vai buscan-do informações no inconsciente e mesclando com a realidade e daí podem surgir as soluções”, expli-ca.

Usuário de LSD, A.N. relata que precisa andar com um caderno de anotações. “As ideias sempre vem, mas é difícil lembrá-las depois que o efeito da droga passa”, acrescen-ta.

Um outro amigo dele, Anôni-mo2, utilizador do “místico” chá de cogumelo, relata ter chegado a soluções para um problema de al-gorítimos (lógica programacional da informática) após beber do chá com os amigos. Explica que, por sorte, estava em casa e pode colo-car no papel o raciocínio para mais tarde desenvolvê-lo.

Em nenhum dos casos eles sen-tiram qualquer efeito colateral por terem utilizado essas drogas. “No momento temos um aumento da temperatura do corpo, dilatação das pupilas, sudorese, mas sinto-mas normais, como se tivéssemos tomado um café e nos sentíssemos acordados”, explica A.N..

Porém, seria essa criatividade algo permanente?

Anônimo afirma que é difícil “controlar a loucura”.

Entender o funcionamento dessas substâncias no organismo humano ajuda a compreender os efeitos que sentimos decorrentes do uso delas.

O cérebro é o orgão responsável por interpretar os estímulos rece-bidos pelo organismo e significar, dentro de um contexto fisiológico e psicológico o que aquela infor-mação quer dizer para o indivíduo. Ver um pôr-do-sol tem significa-dos diferentes para cada a

46 | novembro 2011 | TQP

indivíduo, sendo resultante de processos neurológicos e quími-cos em nosso cérebro.

O mestre em Psicologia Cog-nitiva José Arturo Costa Esco-bar, em seus estudos, explora a ideia de que “os efeitos promovi-dos pelos psicodélicos envolvem as experiências subjetivas das pessoas, portanto estão mais re-lacionadas com o funcionamento da mente humana do que com o cérebro ou a cultura”.

As drogas atuam, principal-mente, em nosso Sistema Ner-voso Central (SNC), alterando a forma como sentimos, pensa-mos e fazemos (psicotrópicas). O modo de ação dessas substâncias passam por duas vias principais: serotonérgicas e dopaminérgi-cas. Em outras palavras, há hipo ou hiperfrontalidade - diminui-ção ou aumento das atividades neurais.

Em sua dissertação para mes-trado em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco, José Arturo Costa Escobar aprofundou-se no tema “Observação e exploração da percepção visual e do tempo em indivíduos sob o estado amplia-do de consciência após o consu-mo de cogumelos “mágicos”.

O que José Arturo Escobar tentou demonstrar é como a uti-lização dessa substância afeta o modo como os indivíduos se comportam nos diferentes graus de percepção da realidade.

Comprovadamente - por meio de técnicas de Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) - as drogas do tipo psicodélicas (aquelas que estimulam expe-riências de manifestações men-tais/do espírito de maneira posi-tiva) estimulam essas atividades neurais, o que podemos relacio-nar com um aumento de criativi-dade ou percepção do mundo.

Durante análises, o estudioso chegou a algumas conclusões,

sendo as principais a detecção de uma mudança na percepção do tempo, subestimada no caso da Psilocibina, aumento da sociabi-lidade entre os participantes do experimento e aumento dos estí-mulos neurais relacionados com a percepção visual (apesar de uma redução da memória curta). Esses resultados são mais signi-ficantes quando passa-se a en-tender o funcionamento cerebral humano. Durante os estudos, o mestre corroborou a seguinte teoria: “a estimulação da explo-ração dessas memórias é o cerne da questão central do sistema de Grof, e a partir desse ponto o pa-ciente pode atingir as memórias perinatais (da vida intra-uterina) e experienciar os traumas físicos sofridos durante esse período. Nesse sistema, a importância do nível perinatal é crucial para toda a gama de comportamentos a serem desenvolvidos pelos or-ganismos após o nascimento. Os traumas físicos sofridos geram emoções residuais e as sensações físicas, provindas de ameaças à sobrevivência ou integridade fí-sica do organismo, parecem ter um papel significativo no desen-volvimento de várias formas de psicopatologia, mas não ainda

reconhecidas pela ciência acadê-mica”.

Assim como explicitado em documentário sobre o LSD re-alizado pelo canal de televisão National Geographic, o uso de substâncias psicodélicas pode ser benéfica para o tratamento de diversas doenças, incluindo psicosomáticas, crônicas e trau-mas.

Podemos não estar perto de desenvolvermos uma superdroga “saudável”, que aumente nossa capacidade sensorial, de memó-ria e afetiva, mas cada vez mais os estudos tem demonstrado que conhecer o cérebro é remar rumo a soluções para doenças incurá-veis, tratamento de traumas e, quem sabe um dia, chegarmos a perfeição do pensamento.

Segundo Escobar, “dizer que os cogumelos promovem um estado ampliado de consciência significa apontar para uma ex-pansão dos limites perceptuais em níveis subjetivos ou mesmo biológicos, com consequente au-mento da quantidade de infor-mação perceptual captada pelo sujeito, refletida em maiores ta-xas de processamento de infor-mações cerebrais. Há uma maior avaliabilidade mental em acessar

TQP | novembro 2011 | 47

conteúdos remotos com provável movimento da associação lexical em relação aos significantes”. Isso porque essas drogas agem nos sistemas responsáveis pelo processamento e “filtragem” de

informação sensorial, passando mais informação para interpre-tarmos.

As drogas psicodélicas po-dem, portanto, serem considera-das como ampliadoras da mente,

mesmo em utilização recreati-va? Muitos acham que sim. Um grande número é contra qual-quer tipo de “droga”. Eu sou con-tra o pré-julgamento de usuários de drogas.

Sabe-se que as substâncias que inge-rimos (sendo elas consideradas drogas ou não, lícitas ou não) geram efeitos em nosso organismo e que esses efei-tos podem ser ampliados para o meio em que vivemos. Um artigo de um es-tudo desenvolvido pela Neuropsycho-pharmacology Unit da Imperial Colle-ge de Londres, na Inglarerra, mostra os danos para os usuários e para os outros resultantes do uso de certas substân-cias. o estudo visava caracterizar esses danos e comparar com a atual catego-rização dessas drogas. entre os itens estudados, são nove ligados aos usu-ários (mortalidade direta, mortalidade relacionada, dano específico, dano relacionado, dependência, desordens mentais específicas, desordens men-tais relacionadas, perda de bens e per-da de relacionamentos) e sete (danos, crimes, danos ao ambiente, adversida-des familiares, danos internacionais, custos econômicos e comunidade) às outras pessoas. Dentre as drogas es-tudadas estão: álcool, heroína, crack, metanfetaminas, cocaína, tabaco, an-fetaminas, cannabis, GHb, benzodia-zepinas, ketamina, metadona, butano, khat, esteróides anabolizantes, ecstasy, LSD, buprofeno e cogumelos. os re-sultados podem ser visto nas tabelas abaixo. o curioso é notar que de todas as drogas analisadas, aquelas legaliza-das ao redor do mundo fazem parte das mais danosas à sociedade (o álco-ol é a principal droga quando o assun-to é danos à outras pessoas e o tabaco a quarta). essas informações são úteis para que possam ser desenvolvidas políticas públicas mais eficientes no que se diz respeito a liberação/proibi-ção do uso de substâncias químicas. o artigo completo (em inglês) pode ser visto no endereço http://download.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140673610614626.pdf .

Crítica | Livro

“A Sangue Frio”, de Truman Capote, foi publicado em 1966, e é basea-

do em eventos que aconteceram quase 50 anos atrás. Os eventos foram reais. Esta não é uma obra de ficção. Os Clutter, uma família de sobrenome típico do estado do Kansas, têm as suas próprias complicações dentro de casa. E que a família não têm? O patriar-ca é um agricultor, mas a vida não é tão produtiva como se fosse um conto de fadas. Além da esposa e as duas crianças mais novas, uma filha e um filho, que ainda vivem com a família.

Até que, em novembro de 1959, os quatro Clutter são encon-trados amordaçados, todos com suas gargantas cortadas e seus cérebros estourados por tiros de espingarda. A comunidade fica em assustada. Ninguém consegue explicar porque alguém poderia querer matar uma família inteira em Holcomb, uma pequena e po-bre comunidade rural, no meio de uma das áreas mais religiosas do Estados Unidos.

Nesse contexto, temos Hic-kock e Smith, dois personagens provenientes de famílias pou-co funcionais, por assim dizer, e que estão sempre na estrada. Por qualquer motivo, eles caçam suas presas, de forma que os torna cul-

pados, detectáveis e, finalmente, passíveis de punição. Eles sabem que roubar é errado. Foram eles os responsáveis pelo assassinato da família Clutter. Eles que pu-xaram o gatilho, que cortaram as gargantas, que não chegaram a cometer estupro, pois acredi-tavam haver limites. E tudo isso por causa de quarenta dólares e um rádio transistor.

Mas fique tranquilo, eu não estou contando nada de mais ao revelar que os dois homens co-meteram os assassinatos – até porque, ninguém nunca admitiu - e que, após anos de disputas liti-giosas, ambos foram enforcados. A força de “A Sangue Frio” não é o que acontece, mas sim como isso acontece.

Truman Capote nos oferece um livro grande, sustentado em apenas quatro capítulos, cada um dos quais é subdividido enquanto a narrativa vai mudando entre os aspectos da vida dos indivíduos. Durante o livro, percebe-se que o estilo é muito mais complexo do que normalmente encontramos em um livro de linguagem jorna-lística, pois a clareza com que ele se comunica, às vezes é de tirar o fôlego. Nós ouvimos diretamente os envolvidos, vítimas e culpados, suas famílias, a polícia, o judiciá-rio, os vizinhos, os advogados, os espectadores de ocasião, os

conhecidos, os companheiros de cela. Os detalhes são tão ricos que podem ser classificados quase como forenses.

É essencial que o leitor seja lembrado constantemente que isso não é ficção. Truman Capote oferece diálogo onde um jorna-lista escreveria apenas mais uma matéria, oferece interpretação onde um historiador esperaria pela confirmação, oferece a opi-nião onde um observador poderia titubear. E assim “A Sangue Frio” se torna um clássico multifacetá-rio da metade do século XX. Ex-plorando o lado social e o contex-to dos acontecimentos junto com as questões psicológicas.

E é aí que o livro se revela pro-fundamente perturbador, pois sugere que a sociedade contem-porânea parece exigir de nós um certo grau de egocentrismo, que dá origem a nada menos do que o desprezo para com relação ao próximo. Sendo que nos 40 anos passados desde a publicação ori-ginal de “A Sangue Frio”, pode se dizer que tal “egoísmo” passou a ser um problema cada vez maior. Pois, a cada dia que passa, dife-rentemente do que propôs John Donne, o homem se transforma mais e mais em uma ilha. O que deixa a obra de Capote com um certo ar de atualidade, além de deixar tudo mais assustador.

heNrique aNtoNio

Crítica | Livro

VaNessa GermaNoVix

50 | novembro 2011 | TQP

Tom Wolfe nasceu em dois de março de 1931, na ci-dade de richmond, virginia, nos estados Unidos. Com Ph.D. em estudos Americanos na Universidade de Yale, sua tese foi intitulada “A Liga de escritores Americanos: Atividades organizacionais Comunistas entre escritores Americanos, 1929-1942”.

Wolfe foi convidado para o trabalho de professor acadêmico, mas escolheu a carreira de repórter. Aos 25 anos começou a trabalhar no jornal Springfield Union, em massachusetts. Trabalhou de 1959 a 1961 no The Washington Post e em 1962 foi para Nova Iorque traba-lhar como repórter geral e ensaísta do jornal New York Herald Tribune.

enquanto ainda um repórter diário do Herald-Tri-bune, completou seu primeiro livro, uma coletânea de artigos sobre os anos sessenta para a revista esquire, publicado em 1965 com o título de “The Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline baby”. o livro tornou-se um best-seller e colocou Wolfe em posição de destaque na produção literária de não-ficção, que ficou conhecida como New Journalism.

em 1968, publicou dois best-sellers no mesmo dia: “The Pump House Gang”, formado por mais artigos sobre o estilo de vida da década de sessenta, e “The Electric Kool-Aid Acid Test”, uma narrativa não-ficcional sobre a história da era hippie. Além desses títulos, Tom Wolfe escreveu outros oito livros de não-ficção. As obras de ficção incluem – além de “A Fogueira das Vaidades” – “Um Homem por Inteiro”, publicado em 1998, e “eu sou Charlotte Simmons”, de 2004.

Atualmente, Wolfe vive em Nova Iorque com a espo-sa Sheila e com os filhos, Alexandra e Tommy.

TQP | novembro 2011 | 51

Crítica | Livro

52 | novembro 2011 | TQP

As entranhas da Imprensa norte-americana podem são apreciadas em um re-trato fiel do universo con-

siderado o quarto poder. O Reino e o Poder (Companhia das Letras, 560 págs., R$ 39), do jornalista Gay Talese, é uma obra lançada em 1969, nos Estados Unidos, mas que só ganhou uma versão traduzida para o português em 2000.

Talese é tido como o inventor do new journalism, um estilo que bus-ca na ficção os recursos necessários para dar a uma história mais “cli-ma, um estilo elaborado, quando não afetado, e subjetivo, declarada-mente parcial. E é exatamente este estilo que torna o livro realmente interessante: a história do NYT, jornal cujo apelido é “a velha dama cinzenta”, conhecido pela sobrie-dade e objetividade. Contado como um verdadeiro romance, em que há conflitos, erros e angústias, mas no final, entre frustrados e feridos, os princípios são vencedores.

O autor extravasa os segredos editorias de um dos maiores jornais do mundo, o cultuado New York

Times, ao mostrar como as notícias de interesse público estão direta-mente relacionadas aos interesses de uma redação.

O autor conta a história das famílias Ochs e Sulzberger, des-cendentes dos judeus alemães, que formaram a dinastia do jornal norte-americano. Para isso, Talese adota técnicas de apuração jorna-lística que vão além das entrevis-tas tradicionais. O autor procurou informações em arquivos do pró-prio meio de comunicação, cartas e diários para montar diálogos e uma rica descrição de detalhes. Recur-sos, aliás, utilizados pela literatura dos romances.

A obra desmistifica, por exem-plo, o mito de que a redação do New York Times é um lugar de gen-tlemen que não se desentendem e que tomam as decisões de maneira calma e racional sempre. O livro mostra que a redação de um grande jornal é na verdade palco de dra-mas de todos os tipos, com alianças entre editores e repórteres, desen-tendimentos e jogos de influências de toda espécie. Dessa forma, o au-

tor desvenda as formações das rixas comuns às redações. Prova ainda que elas são muito mais do que um amontoado de casos de interesse restrito ao universo jornalístico.

Talese vai além ao relatar como o poder político e econômico se re-laciona com repórteres e editores do jornal. Coloca, por exemplo, pre-sidentes como John Kennedy e Ri-chard Nixon como coadjuvantes de histórias ao relatar suas estratégias para cativar jornalistas e editoriais favoráveis aos seus respectivos no-mes.

O Reino e o Poder está longe de ser de interesse restrito aos ameri-canos. Pelo contrário. O livro ali-nha a saga do The New York Times a casos paralelos importantes re-lacionados às Primeira e Segunda Guerras Mundiais, à recessão de 1929, que atingiu o mundo intei-ro em efeito dominó, entre outros momentos da história mundial deste século. É um livro indispen-sável para estudantes desta que é uma das profissões mais excitantes, complicadas e estressantes.

GuiLherme Feijó

Gay Talese

TQP | novembro 2011 | 53

Bernardo Kucinski é um jor-nalista paulistano e profes-sor da Universidade de São Paulo (USP). Nascido em

1937, chegou a cursar graduação em Física na USP, por volta de 1967. Foi nesse período que Kucinski come-çou a colaborar em jornais alternati-vos na Universidade, isso despertou nele o interesse pelo jornalismo. Foi preso e exilado no regime militar por seu engajamento na militência estudantil. O livro “Jornalista e Re-volucionários” é uma adaptação de sua tese de doutorado defendida jun-to à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo em 1991. Ele ajudou a fundar vários jor-nais alternativos de destaque como “Amanhã”, “Movimento”, “Opinião” e o “Em tempo”. É colaborador do Partido dos Trabalhadores (PT) au-xiliou o ex-presidente Lula durante a campanha presidencial que o elegeu pela primeira vez. Trabalhou tam-bém como assessor de imprensa da Presidência da República no primei-ro mandato de Lula, mas o próprio Kucinski garante não servir de asses-sor de imprensa. Hoje ele abandou o jornalismo e só escreve ficção.

O livro “Jornalistas e Revolucio-nários” conta a história da imprensa alternativa no Brasil durante a Di-tadura Militar. O regime político foi quando os militares assumiram a força a poder sem eleições diretas, de 1964 até 1985. O período foi caracte-rizado pelo desrespeito aos direitos humanos, principalmente a liberda-de de expressão. Na ditadura foram utilizadas as mais diversas formas de violência para inibir manifesta-ções contrárias ao regime. Dentro do regime o momento mais crítico foi durante a instituição do Ato Intitu-cional 5, decretado por Costa e Silva.

Com ele se decretou a censura prévia em jornais, revistas, emissoras de TV e também nos espetáculos culturais de música, teatro, entre outros.

Dentro do contexto apresentado o livro que narrar parte da trajetória da imprensa alternativa contando a história de alguns jornais que circu-lavam na época, conta também com cerca de 60 entrevistas de jornalistas ou pessoas que participaram de for-ma ativa no período.

O próprio autor divide o seu livro em três partes que podem ser lidas separadamente.

A primeira parte ressalta o pa-norama que envolveu a demanda pela imprensa alternativa. O autor instrumentaliza a imprensa alter-nativa para a realização de questio-namentos, diante de uma sociedade extremamente contraditória. Seu verdadeiro objetivo era atuar dire-tamente nas mudanças sociais, di-ferente da grande imprensa que ce-dia a censura, por vezes, criava uma autocensura para evitar problemas ou tentava mudar o jeito de escrever para enganar os censores, a impren-sa alternativa vai direto ao ponto. A obrigatoriedade do diploma e au-mento de cursos de jornalismo pelo país alteraram o perfil do jornalista. Começaram a trabalhar em jornais específicos de uma região, bairro ou movimento.

Já na segunda parte o autor des-taca as histórias do “Pasquim”, “Re-pórter, “Bondinho”, “Ex” e “Coo-jornal”. O autor destaca também a necessidade de diversificar a lingua-gem para driblar a censura. Nisso en-tra o humor junto com o jornalismo, evidenciados pelas charges. Kucinski destaca a grande fase de criatividade de Ziraldo. E cita outros nomes de destaque como Miguel Paiva Juarez

Machado e, o mais famoso deles, Henfil.

Na terceira parte são abordados alguns jornais vinculados a parti-dos ou frentes políticas. Entre eles o “Movimento”, “Opinião” e o “Em tempo” todos com envolvimento di-reto do autor. Colaborou na funda-ção do “Opinião”, do “Movimento”, além de fundar e ser o primeiro edi-tor do “Em tempo”. O autor descreve os três como jornais bastante ideo-lógicos com pequeno público, mas de grande influência na época, era uma imprensa de oposição em rota freqüente de colisão com o regime ditatorial. Ele destaca o “Opinião”, como um jornal de alta qualidade e colaboradores importantes como Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, que na época já era doutor em economia, Octavio Ianni, um dos sociólogos mais influentes do país, e Antônio Cândido. Ressalta que al-guns jornalistas da grande imprensa colaboravam às escondidas como a imprensa alternativa.

A principal virtude da obra é o resgate de um trabalho fundamental para a restauração da democracia e da garantia dos direitos humanos. Diferente da grande imprensa ela não se curvou diante dos interesses do poder dominante. Traz a tona também reflexões sobre as relações da imprensa com os partidos políticos e movimentos sociais atualmente.

PauLo ZamboLiN castaNho

Crítica | Livro

Através pelas ruas e becos escu-ros e sujos de Washington, DC, com o desespero de alguém que sabe que não viverá muito

mais, um jovem corre. Ele é atropelado, sobe por uma cerca e, quando pensa es-tar a salvo do quer que seja que estava perseguindo-o, é alvejado com uma bala na cabeça.

Alguns segundos depois, um entre-gador de pizza que assistiu à execução é alvejado também. O assassino foge, dan-do tempo para os espectadores retoma-rem o fôlego.

Assim começa Intrigas de Estado (State of Play), a adaptação Hollywoo-diana da série inglesa de mesmo nome exibida em 2003. É uma pena que o fil-me, dirigido por Kevin Macdonald (O Último Rei da Escócia, The Eagle), não consiga recriar a excitação e a velocidade dramática da cena da abertura. Confor-me o filme progride, mais confusa a tra-ma se torna. Personagens e revelações estranhas dão um ar pesado ao título.

Isso, entretanto, não é surpreenden-te. A série original, escrita por Paul Ab-bot, era composta por seis episódios de uma hora. Na adaptação para o cinema, a ação atravessou o Oceano Atlântico e foi comprimida para pouco mais de duas horas.

Esses defeitos são compensados com os atores. Russell Crowe impressiona como Cal McAffrey, um repórter inves-tigativo veterano do Washington Globe designado para investigar as duas mor-tes. McAffrey gosta de beber, tem conta-

tos exclusivos nos cantos mais obscuros da cidade e um método um tanto duro de lidar com as possíveis testemunhas, que inclui truculência e gravação ilegal de depoimento.

Junto dele está Della Frye (Rachel McAdams), que é astuta e ambiciosa. McAffrey prontamente a trata de modo condescendente por ser uma blogueira e não uma repórter de jornal impresso. Mas suas habilidades investigativas se mostram tão boas quanto às de qualquer repórter da redação. Durante a apuração dos fatos do aparente suicídio da asses-sora parlamentar Sonia Baker, Della descobre que a assessora estava dormin-do com o congressista Stephen Collins (Ben Affleck) e que sua morte não se tra-tava de um suicídio.

Todas as três mortes parecem estar conectadas e ter algo a ver com uma em-preiteira militar chamada Point Corps. E, caso esses fatos vazem para o público, as vidas de Collins e McAffrey – que, coin-cidentemente, foram colegas de quarto durante a faculdade – correm risco.

Cheio de reviravoltas, do mesmo modo que filmes de espionagem como Syriana (2005), Intrigas de Estado pres-ta uma homenagem a títulos como To-dos os Homens do Presidente (1976). É um filme que exalta jornalistas pela sua disposição de lutar contra as mentiras, o jogo de interesses e descobrir verdades inconvenientes.

Algumas das cenas mais divertidas do filme envolvem McAffrey e Della pro-vocando um ao outro, dando um tom

de crítica (ou, no mínimo, contestação) entre o velho e o novo jornalismo. Ele considera-a novata e sem experiência; alguém que poderia estar usando uma caneta ao invés de ficar olhando para um monitor o dia inteiro enquanto que ela pensa que ele é algo como uma relíquia de museu. Outros filmes poderiam re-solver esse tipo de tensão na cama, mas aqui McAffrey se torna uma espécie de mentor de Della, em uma relação que não existia no roteiro original.

É quase irresistível ver Russell Cro-we – que, para encarnar McAffrey, en-gordou vários quilos – atuando. Seu domínio sobre o personagem captura a atenção do público de modo que, se o es-pectador não tiver visto a série, vai ficar até o final especulando se o idealismo de McAffrey será recompensado ou não.

Rachel McAdams também atua de maneira fantástica. Com seu olhar in-tenso e expressões fortes, consegue se manter bem ao lado de Crowe, evitando qualquer tentação de interpretar de ma-neira mais feminina e recatada diante de McAffrey.

Intrigas de Estado se mantém fiel ao material original, com uma trama polí-tica e policial convolutada e apresenta um pouco da rotina de uma redação e do trabalho de reportagem investigativa aos espectadores. Não é, de modo algum, um desapontamento. Mas poderia ser mais. Poderia ser agressivo, instigante, com uma intensidade capaz até mesmo de machucar, mas não é.

Lucas Nabesima

Crítica | Filme

54 | novembro 2011 | TQP

TQP | novembro 2011 | 55

Crítica | Série

A presença da indústria cultural e a discussão sobre a exploração de seus potenciais nos leva até o meio estu-dantil.

Na série “Suburgatory”, do canal ABC, na qual um pai solteiro muda-se para o subúr-bio com sua filha para que ela cresça “sauda-velmente” e longe das tentações e perigos dos grandes centros, um dos episódios aborda tal tema: o jornal deve se sobrepor aos valores éti-cos e morais e ao conteúdo informativo para simplesmente alcançar um maior número de leitores.

O terceiro episódio da série traz Tessa (pro-tagonista) tendo que escolher uma atividade optativa no colégio. Dentre as várias opções - todas críticas ao pensamento simplista e mate-rial das pessoas -, a garota escolhe fazer parte do jornal da escola.

“Crônica de Chatswin”, o impopular jornal estudantil, por não ter leitores, é utilizado, entre outras coisas, como calço da mesa dos professores e forro da gaiola dos hamsters do laboratório. Apesar disso, o aluno responsá-vel pelas publicações continua o trabalho, pois “acredita no que faz”.

Com a chegada de Tessa na redação, uma mudança editorial ocorre. Ela convence Malik de que as pessoas se interessam por assuntos superficiais e fofocas. O que acontece é que am-bos acabam mudando e perdendo a personali-dade, “ofuscados com o poder”, além da priva-cidade que tinham quando eram “anônimos”.

Ao descobrirem que havia mais gente que se importava com o “Crônica”, Malik e Tessa voltam a trabalhar no que realmente achavam importante, popular ou não.

Até que ponto o comercial deve prevalecer às ideologias e senso ético das pessoas? Nes-se pequeno episódio de 21 minutos, a prota-gonista se depara com elementos cruciais da comunicação: a indústria cultural e o fluxo de informações. O primeiro conceito nos remete à transformação em mercadoria das obras cul-turais (incluindo a comunicação) e o segundo a qual o fator de imposição de valores (é o pú-blico que define o que será consumido ou os

meios de comunicação que o fazem?).A indústria cultural, segundo Adorno e

Horkheimer, consiste em “moldar” toda a pro-dução artística e cultural, de modo que elas assumam os padrões comerciais e que possam ser facilmente reproduzidas. A intenção da in-dústria cultural não é promover um conheci-mento, mas incorporar uma nova necessidade, do “consumo”, e incentivar o produto ao invés do conhecimento.

De maneira sutil e irônica, a série conseguiu trazer à tona a questão “por dinheiro X por amor”, apesar de o episódio ser curto e o final mais “romântico” do que vemos no dia-a-dia.

Suburgatory é uma série pra se assistir sem expectativas. Episódios pequenos, sem muita profundidade nas questões abordadas, mas suficientemente boa e com produção de quali-dade para prender a atenção do telespectador.

Isso considerando-se uma sessão sem “co-merciais”. Agora, se os “Polishops” da vida farão desviar a atenção, não sei e nao tenho a intenção de descobrir.

LeorNardo caruso

56 | novembro 2011 | TQP

A primeira versão para ci-nema de A Fantástica Fábrica de Chocolate, de 1971, foi dirigida por Mel

Stuart e foi um fracasso de bilhe-teria. Quando chegou à televisão, conquistou crianças daquela ge-ração e também das seguintes. A ótima atuação de Gene Wilder no papel de Willy Wonka é uma das maiores qualidades do filme.

Quase bregaA história é boa, mesmo não

sendo fiel ao livro homônimo de Roald Dahl. Mas a direção de arte é de gosto duvidoso. No filme de Mel Stuart, a produção explorou

Matinée

Um remake melhor que o clássico

a estética camp – popular pela os-tentação e pelo brega – e utilizou referências ao movimento hippie para criar aquele mundo colorido.

Melhor que o clássicoA refilmagem de Tim Burton,

de 2005, supera o clássico porque consegue manifestar o estilo ex-cêntrico do diretor e ser, ao mesmo tempo, mais fiel ao livro de Dahl. O escritor não gostava daquela ver-são dos anos 70, já nesta última, a viúva dele assina co-produção. Burton já decifrara à sua maneira o estilo do autor, quando adaptou o livro James e o Pêssego Gigante, na animação de 1996.

Willy Wonka e os novos Oompa-Loompas

Willy Wonka na nova versão é interpretado por Johnny Depp, parceiro de Burton e mestre em criar personagens exóticos. O ator pensou em cada detalhe como o jeito de andar, expressões corpo-rais e verbais para incorporar o maluco e neurótico dono da fábri-ca. Até os Oompa-Loompas foram remasterizados, são menos alaran-jados, mais modernos, e interpre-tam como show cada canção da excelente trilha sonora de Danny Elfman.

Mesma mensagem, novo visual

Em A Fantástica Fábrica de Chocolate de Tim Burton, a men-sagem permanece, mas o visual é inédito, com momentos sombrios. O universo açucarado e cintilante dentro da fábrica é cenário para episódios extraordinários, também presentes no primeiro filme, mas que agora aparecem com tom mais macabro. O filme encanta crianças e adultos, fãs dos delírios de Tim Burton e admiradores da história clássica. Uma fantasia charmosa e duradoura como esta, em projetos de grandes estúdios, não acontece todos os dias.

VaNessa GermaNoVix

Gene WilderJohnny Depp

TQP | novembro 2011 | 57

58 | novembro 2011 | TQP

Que Mario?

Lucas Nabesima

IdentidadeAlgumas trilhas são tão icôni-

cas que acabam formando uma espécie de identidade do jogo. Ao pensar na série de espionagem Metal Gear Solid, a exclamação sonora quando algum soldado te avista é um dos primeiros sons a serem lembrados. O tique-taque de um relógio pode ser relacio-nado a Chrono Trigger por joga-dores mais saudosistas. E para a maioria das pessoas, ao pensar em Mario, a música da animação de abertura vem instantanea-mente à cabeça.

Sempre me irrito quando ouço gente falando sobre algum jogo e exaltam apenas os

gráficos. Gráficos isso, gráficos aquilo... Acabam esquecendo-se de um ponto extremamente importante quando se analisa um jogo: seus sons e trilha sonora.

AmbientaçãoPor mais que o videogame seja uma mídia muito visual, para fazer

o jogador comprar a idéia que o título quer passar, pra fazer com que ele sinta-se imerso naquele mundinho, somente as imagens não são suficientes. Dá pra tomar como exemplo a série de survival horror Silent Hill. As cenas mostradas são opressivas e um tanto quanto assustadoras, mas são os sons que tornam a experiência aterrorizante: são gritos que vem de lugar nenhum; risadas de crianças em um prédio abandonado; correntes ou ferros sendo arrastados; seu rádio que liga e começa a chiar sozinho ou aquele pequeno zumbido baixinho que te acompanha o tempo todo...

Do mesmo modo, se estou jogando um jogo medieval, ao me aproximar de um castelo ou de alguma comitiva da nobreza, quero ouvir uma fanfarra. Todas essas coisas tornam o jogo mais crível e facilitam a imersão.

Fator “Empolgação”Mas não são somente os scores que são importantes na trilha sonora

do título. As músicas, não raro, dão suporte à ação acontecendo na tela deixando o jogador cada vez mais empolgado. As trilhas sonoras das séries Tony Hawk’s Pro Skater, que vai do reggae até o punk e Need for Speed – que contém rock, hip-hop e música eletrônica – foram sempre muito elogiadas por casar bem com a ação do jogo.

TQP | novembro 2011 | 59

Eu não sei quanto a vocês, leitores, mas tenho uma certa birra com as gerações mais novas de videogames. Depois o final da era

N64/Playstation e a chegada do Playstation 2 e do Xbox, perdi um pouco do entusiasmo que tinha pelos consoles. Do advento da chamada geração 128 bits em diante, as coisas meio que perderam a mágica.

Polígonos, polígonos em todos os lugaresCom máquinas mais poderosas, os gráficos ficaram mais

elaborados e os sprites 2D foram deixados de lado em favor do 3D, dos polígonos. O que é uma pena; a fluidez que os personagens e os cenários em duas dimensões possuíam demorou muito para ser alcançada pelas três dimensões. Mas mais do que isso, essa nova capacidade de processamento e renderização de gráficos gerou outro problema: muitas softhouses se focavam tanto em trabalhar os gráficos que se esqueciam de um item dos mais importantes: o roteiro.

EnredoTalvez por causa das limitações dos

consoles anteriores, o enredo era mais bem amarrado, as coisas aconteciam por algum motivo. Você ganhava a capa em Super Mario World porque existiam coisas acima das nuvens que podiam ser exploradas; você ganhava a Epoch em Chrono Trigger para avançar no tempo e evitar que seu mundo fosse destruído. Em contrapartida, muitos jogos tem passagens que simplesmente não tem razão de ser – e alguns casos, jogos inteiros não tem razão de existir.

Fun factorNão sei, eu acho que a diversão sofreu

um pouco por causa disso. Não consigo mais me manter várias horas frente a TV jogando algo como fazia quando era mais novo. Jogos atuais não conseguem me prender como um Super Nintendo conseguia.

NintendoUma exceção dessa regra é a Nintendo.

A Big N consegue se reinventar a cada novo console. O Gamecube, apesar de não ter sido um grande sucesso comercial tem fãs até hoje e o Wii faz você querer ficar jogando sem parar – até o momento em que você fica fisicamente cansado e tem que desligar o videogame para não ficar exausto. L.N.

A capa do Mario não tinha somente função cosmética, era bastante útil

60 | novembro 2011 | TQP

Alta Fidelidade

Carniceiros do Futebol Mundial

1Marco MaterazziUm mito. o único jogador que apenas

com um sutil movimento de levantar o antebraço, foi capaz de deixar o adversário (nesse caso, o argentino Sorín) mais ensanguentado

do que se tivesse sofrido um acidente de moto... sem capacete. Seus duelos contra Shevchenko são uma verdadeira aula de mmA. Não é à toa que recebeu o apelido de macelazzi, um trocadilho com a palavra “açougueiro”, em italiano.

2 Vinnie JonesJogador limitado, viril e com cara de hooligan. essa última característica, inclusive, foi de suma

importância para seu sucesso como ator após a carreira no futebol. Campeão de uma FA Cup pelo extinto Wimbledon e com passagens por Leeds e Chelsea, detém o recorde de cartão amarelo mais rápido do futebol profissional, com 3 segundos de jogo!

3Nigel De JongA fama do volante holandês do manchester City é recente, mas já justificável para figurar na lista.

Dentro todos os selecionados, é o mais novo, mas mesmo assim já tem uma perna de um adversário quebrada. De Jong, porém, precisa ter mais aulas com van bommel, já que a arbitragem não costuma deixar passar em branco seus carrinhos violentos. A não ser a famosa voadora no peito de Xabi Alonso, na final da Copa do Mundo, que foi ignorada pelo arbitro Howard Webb.

4CocitoTinha cara de xerife de cidade fantasma e o apelido de “Coicito”. Se fosse um pokemon, seria algo como

a evolução do Sandro Goiano. o cavanhaque faz com que Kaká, ex-melhor do mundo, tenha pesadelos até hoje. Pois após enfrentar o volante do Atlético Paranaense, por um jogo do campeonato brasileiro de 2001, o então promissor são paulino saiu de campo aos prantos depois de uma das famosas botinadas do atleticano.

5Mark van BommelPor vezes sujo. o volante holandês do bayern munique coleciona inimigos e desafetos em vários

lugares do planeta. Sua “vantagem”, porém, é que sabe bater, e com isso não é tão punido pela arbitragem. Pelo contrário, consegue muitas vezes punir o adversário e ainda passar ileso. Merece figurar na lista.

5SilENt Hill (PSX, PC)

Terror! A franquia da Konami é apenas para gamers com coragem. Silent Hill apresenta uma história com aquele terror bizarro no melhor estilo japonês. A jogablidade pode ser um pouco frustrante na maioria sequências, mas a experiência de conseguir terminar qualquer Silent é única. A imprevisibilidade e o clima de tensão durante todas as horas do game dão um charme inigualável aos survivals japoneses.

TOP 5 Melhores Histórias em Jogos Eletrônicos1 iCo

(PS2)Ico foge do usual e apresenta uma espécie de conto de fadas melancólico, impossível não começar esse jogo sem terminar. recheado de belos cenários, jogabilidade simples, com um bom nível de desafio sem deixar de ser cansativo. Ico é algo muito diferente do que existe no mercado . Vale a pena conferir!

2 tHE lEgEND of ZElDA: tHE oCAriNA of tiME (N64)

Provavelmente o melhor game já publicado. Desde o NeS a franquia de miyamoto sempre nos deu excelentes experiências, no console de 64 bits da Nintendo atingiu o seu melhor momento. Desde a infância até a vida adulta, a jornada de Link é uma unanimidade para os amantes do joystick.

3 BrAiD (XBoX360, PS3, PC)

A obra-prima e única de Jonathan blow é um jogo curto, sem gráficos poderosos e sem grandes investimentos (Blow tirou dinheiro do bolso para finalizar Braid) mas é um dos mais importantes games da última geração. Um game de plataforma/puzzle que recebeu quase sempre nota máxima de todas as mídias especializadas com uma história ímpar que, na minha opinião, têm o melhor final da histórias dos games.

4 MAX PAyNE 2: tHE fAll of MAX PAyNE (PC, PS2, XBoX)

Além de ser um grande shooter com uma jogabilidade refinada, nível ótimo de desafio e um shooting mode único, a história de Payne colará seus olhos na tela. A mistura de HQ com o clima Noir de detetive nova iorquino é irresistível. o primeiro max Payne também é uma obrigação. Uma dica, max Payne 3 saiu em maio, o game terá São Paulo como cenário ao invés de NY.

Por heNrique aNtoNio

Vinnie Jones

TQP | novembro 2011 | 61

5Domingo TitãsNão consigo pensar em resumo melhor para o

domingo de um brasileiro normal, antes do advento da internet, óbvio. obra prima cotidiana dos Titãs e segunda faixa do disco homônimo, “Domingo” relata o marasmo desse dia que nos traz uma verdadeira mistura de sentimentos. Tédio e tranquilidade pelo merecido descanso depois uma semana de trabalho (fora a eventual recuperação da ressaca das baladas de sexta e sábado), junto com a angustia e a tristeza de saber que a ralação começa tudo outra vez no dia seguinte.

5 Hypnotize U – N.E.R.DPharrell Williams é praticamente o mestre em músicas para tais momentos. Só não aparece outras vezes na

lista, para não ficarmos repetitivos. Os sussurros e tom de voz alto fazem mágica quando misturados com a batida certa. Pode soar meio clichê às vezes, mas tem um efeito certeiro!

1 Wear My Hat – Mac Miller A linha de baixo faz toda a mágica. melodia no tempo certo. Nem muito rápida, nem muito lenta, como tem

que ser. música feita exatamente pensando no intuito de dar uns pegas. Não tem como não dar certo. Funciona melhor se você estiver com um boné!

2 Make It Chu – Queens of The Stone Age Direto e reto, sem rodeios. Sutileza não é o caso aqui. Apesar das gírias, o título da música já é bem

autoexplicativo, algo como “eu quero fazer isso com você”. Trilha sonora para momentos mais quentes mesmo.

3Vultures – John MayerRitmo! Aqui tudo gira em cima do ritmo. A letra não pesa tanto assim, até pelo fato de ser uma música

do John mayer. Pois mulheres não precisam de maiores explicações quando a música é dele. Sucesso garantido. o resto é contigo, para fazer valer e manter o swing da guitarra...

4Buzzin’ – Shwayze Quem disse que dar uns pegas, a trilha sonora precisa ser cheia de energia? Afinal, devagar também

se chega lá! Música para ficar numa boa e curtindo mais tranquilo. mas nunca com a namorada, por causa da letra. Apesar de todo romance na melodia, a letra, no fundo, não deixa de ser um retrato de um cafajeste que “vai de cidade em cidade, espreitando por vadias”. mas, de qualquer jeito, uma música extremamente útil para determinadas ocasiões e determinadas gurias. Sempre efetiva!

Músicas Para os Dias da Semana

1SEBUNDA-fEIRA VirgulóidesPara todos os dias, por fazer um resumo carregado

de bom humor sobre a semana do cidadão comum. Um clássico do samba com rock (nada de samba-rock, ok?). Você vai rir e se identificar instantaneamente com a letra irreverente. Pena que o saudoso “Topa Tudo por Dinheiro” não existe mais...

2I DON’T LIkE MONDAyS The Boomtown Rats (Bob Geldof)Segunda é o pior dia da semana e isso é um fato.

o que pouca gente sabe , é que essa música foi inspirada por uma tragédia, quando uma garota de 16 anos abriu fogo contra crianças em um playground nos eUA. Saldo: 2 adultos mortos e 8 crianças feridas. Perguntada sobre os motivos que a levaram à tal ato, a garota simplesmente respondeu que era porque “eu não gosto de segundas-feiras”.

3Tuesday’s GoneMetallicaPara passar a terça no sítio e com estilo! Não que

a versão original, do Lynyrd Skynyrd não seja boa, mas a versão “quase country” do metallica é uma verdadeira jam session, com participação de vários astros do rock curtindo um dia de redneck. Senão, vejamos: Jerry Cantrell, do Alice in Chains, Pepper Keenan, do Corrosion of Conformity, Jim martin, ex-Faith No more, Gary rossington, um dos compositores da versão original, entre outros.

4friday I’m in Love The CureSextas-feiras são sempre festejadas, não importa o

motivo. E esse caso comprova que elas ficam melhores ainda se você estiver “in love”!outra música que passeia por todos os dias da semana, mas claro, só para chegar a uma apaixonada sexta-feira. Clássico dos anos 90 que faz o ouvinte esquecer que quem está tocando é o The Cure, banda por vezes “quase depressiva” da, também por vezes, fria e cinzenta Inglaterra.