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8/12/2019 Ribeiro, Anely
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
ANELY RIBEIRO
ANLISE DE SITUAO NA CRISE ORGANIZACIONAL: ESPAO PARA
TEORIA DA POLIDEZ LINGSTICA NA RELAO DE COMPLEXIDADE?
CURITIBA2010
8/12/2019 Ribeiro, Anely
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ANELY RIBEIRO
ANLISE DE SITUAO NA CRISE ORGANIZACIONAL: ESPAO PARA
TEORIA DA POLIDEZ LINGSTICA NA RELAO DE COMPLEXIDADE?
Tese apresentada ao curso de Ps-Graduao emLetras - Estudos Lingsticos - Setor de CinciasHumanas, Letras e Artes, Universidade Federal doParan, como requisito parcial obteno do ttulo
de doutora em Letras.
Orientadora: Prof Dr Elena Godoi
CURITIBA2010
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Catalogao na publicaoSirlei do Rocio Gdulla CRB 9/985
Biblioteca de Cincias Humanas e Educao - UFPR
Ribeiro, AnelyAnalise de situao na crise organizacional: espao para
teoria da polidez lingistica na relao de complexidade? /Anely Ribeiro. Curitiba, 2010.
173 f.
Orientadora:.Prof Dr Elena GodoiTese (Doutorado em Letras) Setor de Cincias Humanas,
Letras e Artes, Universidade Federal do Paran.
1. Comunicao nas organizaes crise. 2. Comu-nicao nas organizaes contexto. 3. Lingistica comunicao. I. Titulo.
CDD 401.4
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SUMRIO
1 INTRODUO ...................................................................................................132 CAPTULO I - COMUNICAO: ABORDAGENS DOS ESTUDOS
LINGSTICOS E DA TEORIA DA COMUNICAO SOCIAL E SUASINTERFACES NA COMUNICAO ORGANIZACIONAL ...............................19
2.1 PERSPECTIVAS E ABORDAGENS NOS ESTUDOS EM TEORIA DACOMUNICAOSOCIAL............................................................................19
2.2 ALGUMAS TEORIAS SOBRE A COMUNICAO: ESTUDOSLINGSTICOS............................................................................................30
2.3 PERSPECTIVAS TERICAS DA/SOBRE A COMUNICAO
ORGANIZACIONALECONTRIBUIESSOBOFOCODAPRAGMTICALINGSTICA ..............................................................................................44
2.3.1 Panorama de Investigaes no Brasil .................................................45
2.3.2 Algumas abordagens sobre comunicao organizacional - mbitointernacional .........................................................................................51
2.3.3 Linguagem e cultura: aproximaes tericas com a pragmticalingstica e a comunicao organizacional ......................................61
2.4 CONFIRMAODEHIPTESE .................................................................70
3 CAPTULO II - PARADIGMA DA COMPLEXIDADE: CAMINHADA DE
COMPREENSO E INTERPRETAO NA PESQUISA SOBRECOMUNICAO (ORGANIZACIONAL) E OS ESTUDOS LINGSTICOS ....71
3.1 ORIGENS E PRINCPIOS DO PARADIGMA DA COMPLEXIDADE EMMORIN.........................................................................................................71
3.2 OSPRINCPIOSOPERADORESDOPARADIGMADACOMPLEXIDADE.75
3.3 OPARADIGMAEOMTODO.....................................................................82
4 CAPTULO III - ESTUDOS LINGSTICOS: PRAGMTICA - FOCO NAPOLIDEZ LINGSTICA ...................................................................................88
4.1 NOES CONCEITUAIS DA PRAGMTICA LINGSTICA: FOCO NATEORIADAPOLIDEZ..............................................................................8888
4.1.1 Teoria da Polidez Lingstica .............................................................102
4.2 PRAGMTICA E POLIDEZ LINGSTICA: INVESTIGAES NO MBITODACOMUNICAOORGANIZACIONAL.................................................117
4.3 O MAL-ENTENDIDOLINGSTICOE A VINCULAO EMSITUAO DECRISENACOMUNICAOORGANIZACIONAL ...................................1127
4.3.1 Conceituaes, componentes e fatores que caracterizam o mal-entendido lingstico: complementaes tercias sobre conflito ecrise ...................................................................................................1127
4.3.2 Ciclo de negociao e administrao do mal-entendido .................141
4.3.2.1 A interface entre a polidez lingstica e o exerccio do poder .......144
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4.4 CRISE E COMUNICAO ORGANIZACIONAL: TERRENO PROPCIO AQUAIS ESTRATGIAS DA POLIDEZ E POSSIBILIDADE DO MAL-ENTENDIDOLINGSTICO? ....................................................................148
4.5 CONFIRMAO DEHIPTESE...................................................................1581485 CAPTULO IV - POLIDEZ LINGSTICA CASO TAM 2007: VISO
COMPLEXA ....................................................................................................160
5.1 ANLISE DOCUMENTAL DA MDIA IMPRESSA COM AS ESTRATGIAS DA POLIDEZLINGSTICA: PROCEDIMENTOS DA AMOSTRA E FERRAMENTAS/INSTRUMENTOS E ACODIFICAO ...............................................................................................166
5.1.1 Cdigos de subdiviso das estratgias da polidez ..........................168
5.1.1.1 Cdigos de subdiviso das estratgias da polidez positiva............169
5.1.1.2 Cdigos de subdiviso das estratgias de polidez negativa ..........1695.1.1.3 Cdigos de subdiviso off record uso indireto.............................170
5.1.1.4 Subdivises das estratgias da polidez bald on redcord................170
5.1.2 Anlise das estratgias da polidez lingstica nos discursos dosfalantes organizacionais na mdia impressa: 17.07.2007- acidentecom Airbus A320 - TAM.....................................................................184
5.1.3 Hipteses e objetivos da pesquisa....................................................203
6 CONSIDERAES E RECOMENDAES FINAIS .......................................206
REFERNCIAS......................................................................................................................................... 215ANEXO 1 - CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE ...........................................237
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RESUMO
A investigao tem como tema a interface da pragmtica, com foco na teoria da
polidez lingstica em Brown e Levinson (1987) no processo da comunicao
organizacional, em situao de crise. Trata-se de pesquisa de cunho exploratrio
bibliogrfico sobre teorias advindas dos Estudos Lingsticos que contribuem no
desenvolvimento das pesquisas sobre/na comunicao, em especfico no campo da
comunicao organizacional, com suporte no paradigma da complexidade.
Utilizamos a pesquisa documental para a aplicao emprica da teoria da polidez
lingstica na anlise de enunciados dos falantes organizacionais (representantes
legitimados das organizaes), via mdia impressa nacional, envolvidos na situaode crise - acidente areo do Airbus A-320 TAM - em 2007. Nossos propsitos
comprovam a hiptese central de que h nexos tericos da pragmtica e polidez
lingstica com as abordagens que tratam da comunicao organizacional, sendo
que tais investigaes so escassas no Brasil e no mbito internacional, sob o
paradigma da complexidade. A teoria da polidez lingstica viabiliza anlise dos
enunciados lingsticos no contexto da comunicao organizacional em
comportamentos verbais escritos, veiculados na mdia impressa de circulaonacional, contextualizados na situao particular, tensa e complexa de crise.
Interessa-nos a contribuio terico-emprica na transversalidade da teoria da
polidez lingstica e o estudo no mbito da comunicao organizacional.
Palavras-chave: comunicao; polidez lingstica; contexto; crise; comunicaoorganizacional.
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ABSTRACT
The investigation has as theme the pragmatic interface with focus on the linguistics
politeness theory of Brown e Levinson (1987) in the process of organizational
communication, in a crisis situation. This is an exploratory bibliographic research
about the theories arising from the linguistics studies that contributes in the
development of researches about/ in communication, especially in the field of
organizational communication, with support in the complexity paradigm. We used the
documental research for the empirical application of the linguistic politeness theory
on the analysis of enunciates made by organizational speakers (legitimated
organizational representatives), via national print media, involved in the crisissituation -air accident of Airbus A-320 TAM- in 2007. Our purposes prove the main
hypothesis, that there are theoretical linkages in the pragmatic and in the politeness
linguistics in the approaches about organizational communication, being these
investigations rare in Brazil and in international context, under the complexity
paradigm. The theory of politeness linguistics enables the analysis of the linguistics
enunciated in the context of organizational communication on written spoken
behaviors, disseminated in print media of national circulation, contextualized in aspecific situation, tense and complex crisis. We are interested in the theoretical-
empirical contribution in the transversality of the theory of politeness linguistics and in
the studies of organizational communication area.
Key words: Communication; politeness linguistics; context; crisis; organizational
communication.
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1 INTRODUO
O presente trabalho est inserido no cmputo das indagaes, ansiedades e
motivaes de cunho pessoal e profissional dessa autora. Na primeira pessoa do
singular consigo expor que o questionamento sobre o processo da comunicao
deve ter iniciado comigo na fase intra-uterina. Durante a adolescncia, no primeiro
emprego, no interior do Rio Grande do Sul, numa empresa coureiro-caladista, o
dialeto mais usado era derivado da lngua alem. Enquanto que na convivncia
familiar, o dialeto italiano prevalecia. Havia o impacto, principalmente, nas
manifestaes da oralidade nas interlocues com pessoas que empregavam o
dialeto alemo em relao ao italiano, naquela poca. Agora, num balano maisamadurecido posso compreender melhor a minha prpria escolha ao ingressar na
vida acadmica como aluna do curso de Comunicao Social, habilitao em
Relaes Pblicas, numa tenra idade: estudar a comunicao que permeia os
agrupamentos sociais. Creio que a motivao foi refinada pelo mestrado sobre o
qual me debrucei na retrica situacional, voltada s aes de relaes pblicas, na
comunicao integrada organizacional e no ingresso ao doutorado em Letras,
concentrao em Estudos Lingsticos.A passagem para a fase profissional acadmica veio a fortalecer as
motivaes pessoais devido aos encaminhamentos orientadores recebidos da Prof
titular Dr Margarida Maria Krohling Kunsch, da Escola de Comunicaes e Artes da
Universidade de So Paulo, durante e aps a realizao do mestrado, influenciando
decisivamente na produo cientfica, principalmente nessa fase do doutoramento.
Enfatizo, tambm, que a transio do amadurecimento deveu-se a participao de
2003 a 2008 no Grupo de Pesquisa Linguagem e Cultura, certificado pelaUniversidade Federal do Paran CNPq, sob a liderana de minha orientadora Prof
Dr Elena Godoi que contribuiu, juntamente com meu esforo e dedicao para
chegar s pginas dessa introduo, cujo trabalho se direciona tese de doutorado
em Letras, concentrao nos Estudos Lingsticos.
A indagao sobre o processo comunicativo, nessa tese, est motivada ao
questionamento elaborado por Verschueren (2002, p. 28) O que a gente faz quando
usa a linguagem? e a seqncia argumentativa do autor de que o uso da linguagem
uma forma de comportamento fundada nos aspectos cognitivo, social e cultura.
Com base nessas premissas introdutrias de reflexo, seguimos a linha
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argumentativa de que o processo comunicacional, ao se referir linguagem em uso
indissocivel dos processamentos e composies mentais e scio-culturais,
portanto, abre novos direcionamentos aos estudos da linguagem no processo da
comunicao organizacional.
A pesquisa tem como tema a pragmtica com foco na teoria da polidez
lingstica no processo da comunicao organizacional, partindo das noes
conceituais sobre as teorias da comunicao nos estudos lingsticos e nos tericos
da comunicao social, bem como possibilidades de dilogo entre as
abordagens/perspectivas que tais teorias possam exercer no campo de estudos da
comunicao organizacional, sustentados pelo paradigma da complexidade. Os
objetos de investigao tericos so: a comunicao, a polidez lingstica e acomunicao organizacional. Os objetos empricos so os enunciados coletados na
mdia impressa nacional, veiculados nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S.
Paulo com as vozes dos falantes organizacionais, ou seja, representantes das
organizaes envolvidos no Caso TAM 2007.
Trata-se de uma investigao de cunho exploratrio bibliogrfico sobre a
contribuio da teoria da polidez lingstica no processo da comunicao
organizacional. A presente pesquisa, igualmente, de natureza emprica comutilizao de amostra documental, oriunda da mdia impressa de circulao nacional,
com recortes de material jornalstico que tratou da situao de crise organizacional
no acidente da TAM, em 2007. A tese est alicerada no paradigma da
complexidade em Morin (1998; 2003; 2005; 2006; 2008), o qual se fundamenta na
escolha do mtodo como percurso da pesquisa, conforme as estratgias e
habilidades empregadas pelo pesquisador(a), a indissociabilidade do sujeito com o
objeto, a incluso do sujeito no processo de construo do conhecimento, mantendoa coerncia dos propsitos, objetivos, mas sustentado na premissa de que o
conhecimento trabalha com a incerteza e a conjugao dos saberes, de modo
complementar e interdependente.
As perguntas/questes norteadoras buscam investigar:
a) Como esto delimitados o campo, o(s) objeto(s) e as caractersticas que
representam os estudos da/sobre a comunicao, sob os enfoques
tericos da pragmtica lingstica e da comunicao social?
b) De que maneira as teorias desenvolvidas sobre caractersticas, natureza e
fundamentos da/sobre a comunicao, com origem nos estudos
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a) H escassa aplicao dos estudos lingsticos, com foco na polidez
lingstica no mbito da comunicao organizacional, em particular na
situao de crise;
b) A polidez lingstica uma teoria, que ficar explicitado ao longo desse
trabalho, com conceitos capazes de permitir anlise em situao de crise
no processo da comunicao organizacional, recebendo a contribuio
dos princpios norteadores do paradigma da complexidade para o
amalgamento terico;
c) H estratgias da teoria da polidez lingstca empregadas nos
enunciados escritos pelos falantes organizacionais (representantes das
organizaes), em particular na aplicao em situao de crise do casoTAM 2007, que comprovam a existncia de tenses complexas nas
relaes hierrquicas, nveis de poder e distncia social dos
interlocutores.
O captulo I - Comunicao: abordagens da pragmtica lingstica e da
teoria da comunicao social e suas interfaces na comunicao organizacional -
descreve pesquisas desenvolvidas que contemplam caractersticas, natureza e
campo da/na comunicao. O critrio para escolha dos tericos da comunicaosocial a produo em coletnea ou individual de pesquisadores vinculados
Comps - Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em
Comunicao1. Os estudos sobre/da comuncao, sob abordagens da pragmtica
lingstica na presente tese, so derivados, principalmente do enfoque scio-cultural.
A diviso que ainda prevalece entre estudos da/sobre a comunicao pelos
tericos da comunicao social e dos estudos lingsticos, nessa pesquisa, pretende
constatar que h o desconhecimento, separatismo e fragmentao de taisinvestigaes entre os prprios pesquisadores. O separatismo e a fragmentao
exercem influncia nas escolhas das abordagens/perspectivas nos estudos que
envolvem a camunicao organizacional. Descrevemos a situao em que se
encontram os estudos que mencionam a pragmtica lingstica no campo da
comunicao organizacional, no mbito internacional, tendo como critrio a busca
em handbookse algumas produes independentes.
1 Para maiores informaes sobre a Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao emComunicao ver www.compos.org.br
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O Paradigma da complexidade: caminhada de compreenso e interpretao
na pesquisa sobre comunicao (organizacional), linguagem e cultura, no captulo II
apresenta as origens e os sete princpios operadores da complexidade em Morin.
Para Morin, torna-se importante as noes de mtodo, metodologia e paradigma
(interdisciplinar, multidiscplinar e transdisciplinar) na escolha que o investigador(a)
realiza. Apresentamos alguns exemplos de estudos brasileiros elaborados mediante
o emprego dos postulados transdisciplinares, em Morin, tendo como tema a
comunicao organizacional. No encontramos em nosso levantamento
bibliogrfico, investigaes que empregam o paradigma da complexidade associado
teoria da polidez lingstica na aplicao em anlises de enunciados, no contexto
da comunicao organizacional, em situao de crise.O captulo III Pragmtica e polidez lingstica contextualiza abordagens
sobre a pragmtica lingstica que do o suporte para o conhecimento e uso das
ferramentas e instrumentos tericos a serem empregados via teoria da polidez
lingstica: noes de contextos, aspectos scio-culturais vinculados competncia
comunicativa e intencionalidade. A teoria da polidez lingstica a partir de Brown e
Levinson (1987) com as noes das super-estratgias, desmembradas e codificadas
em subdivises so os instrumentos disponveis para anlise na presenteinvestigao dos enunciados em situao de crise no caso TAM 2007. Brown e
Levinson (1987) sustentam que a teoria da polidez lingstica est alicerada no
trip poder (P), distncia social (D) e nvel de imposio (I), os quais so
complementados pelas noes conceituais de contexto e intencionalidade em
Verschuren (2002) e Dascal (2006) para anlise dos enunciados. A interface da
polidez com o poder, assim como a possibilidade de gerar mal-entendido lingstico
recebe aportes de, Locher (2004), Bazzanella e Damiano (1999) e Weigand (1999).A maneira de re(tecer) as imbricaes conceituais dessas correntes tericas em
situao de crise no processo da comunicao organizacional apontada e
construda com as premissas da complexidade.
O captulo IV Polidez lingstica caso TAM 2007: viso complexa trabalha
com as condies para anlise documental da mdia impressa nacional, tendo como
fontes os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, mediante utilizao dos
enunciados proferidos pelos falantres organizacionais, ou seja, representantes
legitimados pelas organizaes. As bases tericas sobre os fundamentos da
pragmtica e polidez lingstica, tratados no captulo III, suas relaes com noes
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conceituais sobre comunicao (organizacional), presentes no captulo I,
sustentados pelos princpios da complexidade, em Morin oriundos do captulo II,
compem a tessitura de nossa interpretao e anlise contidas no captulo IV.
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2 CAPTULO I - COMUNICAO: ABORDAGENS DOS ESTUDOS
LINGSTICOS E DA TEORIA DA COMUNICAO SOCIAL E SUAS
INTERFACES NA COMUNICAO ORGANIZACIONAL
O captulo analisa a comunicao tanto pelas investigaes da
comunicao social (principalmente nas obras vinculadas ps-graduao), em
especfico Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduo em
Comunicao e abordagens tericas dos estudos lingsticos, com nfase na
pragmtica lingstica. A produo de Silvestrin; Godoi; Ribeiro (2006), no
Congresso da Alaic2, publicao em paper, o qual foi traduzido por Luis Igncio
Sierra Gutirrez (2007, p. 27-37) e editado pela Revista Signo y Pensamiento3sob ottulo Comunicacin, lenguaje y comunicacin organizacional desenvolve passos
iniciais para a lincagem das noes conceituais sobre o respectivo tema.O ponto de
vista da/sobre comunicao, sob os enfoques da pragmtica lingstica obteve
avanos em Godoi; Ribeiro (2009). Nessa tese revisamos as abordagens tericas
sobre a comunicao organizacional com o propsito de identificar as investigaes
realizadas com foco nos estudos lingsticos, especialmente os que adotaram
fundamentos tericos ancorados na pragmtica e na polidez lingstica.
2.1 PERSPECTIVAS E ABORDAGENS NOS ESTUDOS EM TEORIA DA
COMUNICAO SOCIAL
Os questionamentos que delineamos apontam para a necessidade de busca
dos fundamentos e nexos tericos dos estudos oriundos da Comunicao Social e
das Cincias Lingsticas, em especfico da pragmtica e polidez, com vistas a suaextenso para o campo de estudos da/na comunicao organizacional:
a) Como esto delimitados o campo, (o)s objeto(s) e as caractersticas que
representam os estudos da/sobre a comunicao sob os enfoques
tericos da lingstica e da teoria da comunicao?
2As informaes sobre a Alaic Asociacin Latinoamericana de Investigadores de la Comunicacin eventos, peridicos e produes podem ser obtidas em www.alaic.net
3A publicao do artigo foi realizada mediante convite e traduo do Prof. Dr. e Editor Adjunto Luis
Igncio Sierra Gutirrez, da Revista de la Faculdad de Comunicacin y Lenaguaje de la PontifciaUniversidad Javeriana Bogot y del Departamento de Comunicacin y Lenguaje de la PontifciaUniversidad Javeriana Cali. Signo y Pensamiento 51. vol. XXVI, Julio-Diciembre 2007, p. 27-37,ISSN 0120-4823.
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b) De que maneira os estudos tericos desenvolvidos pela pragmtica e
polidez lingstica podem contribuir para a anlise e interpretao dos
fenmenos na comunicao organizacional, especialmente em situao
de crise.
Elaboramos alguns recortes na produo cientfica nacional/internacional
que servem ao propsito de nossa descrio e anlise. Inicialmente, Duarte4(2003,
p 46-48) caracteriza o(s) objeto(s) e o campo da comunicao, com nfase na
fenomenologia da percepo e na abordagem cognitivista, desenvolveu o conceito e
caracterizao da comunicao com base em Merleau-Ponty (1945), o qual
denomina o ato de comunicar como sendo o encontro de fronteiras perceptivas,
sendo que o outro e a outra conscincia s possvel de acessar ou conceber porser o homem tambm um ser cultural. A interao do ser humano culturalmente e
os objetos culturais fazem com que se desenvolvam motivos e percepes de um
com o outro que compartilham e criam entendimentos comuns, nos quais a
linguagem promove o dilogo entre as conscincias. fundamental nesse ponto,
mencionar o que Merleau-Ponty define sobre comunicao, citado por Duarte (2003,
p. 47):
[...] O sentimento de partilha o que define a comunicao, construir como outro um entendimento comum sobre algo. o fenmeno perceptivo noqual duas conscincias partilham na fronteira. O entendimento comum noquer dizer concordncia total com os enunciados envolvidos na troca. Oentendimento pode ser a concluso das conscincias que discordam dosenunciados uma da outra. A linguagem desponta, ento, como objetocultural de percepo do outro. A linguagem torna-se o plano no qual a zonade encontro pode ser desenhada mediante o dilogo.
Nesta abordagem, Duarte explica que algo do eu passa a compor o outro
e o eu passa a ser composto pelo outro, formando um terceiro plano cognitivo,
como uma das caractersticas da comunicao, ou seja, as conscincias envolvidasdeixam partes de si mesmas, sem se fundirem numa s, mantendo as experincias
de cada ser, mas traz algo comum aos que esto na relao e redefine suas
percepes pela partilha e comunicao. Referente localizao dos objetos da
comunicao atravs do caminho da proposio filosfica em ressonncia com a
definio etimolgica Duarte (2003, p.51, grifo do autor) declara:
4Trata-se de captulo publicado em livro e para maiores informaes verificar em DUARTE, Eduardo.Por uma epistemologia da comunicao. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. (Org.).Epistemologia da comunicao. So Paulo: Loyola, 2003, p.41-54.
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Torna-se objeto da comunicao o fenmeno do encontro de planoscognitivos que pela percepo do outro so arrastados para uma fronteiracriativa de novas formas cognitivas. Torna-se objeto da comunicao esta
interface e suas propriedades, o processo de estabelecimento de vnculoque permite o desenho de uma fronteira. Torna-se objeto da comunicao oque emerge, o terceiro plano que no havia antes do encontro de todas aspartes dialogantes. Torna-se objeto da comunicao o estar em relao, oumelhor, a troca.
O campo da comunicao para o autor, na obra mencionada acima, pode
ser terico quando analisa a ontologia desses encontros e se preocupa com os
processos que tornam comum um pensamento a um grupo que troca informaes. O
campo pode ser emprico quando a mesma discusso ontolgica considera a
relao com os suportes nos quais os planos cognitivos esto atrelados. Tais
suportes no so, necessariamente, objetos da mdia ou miditicos, tais como
televiso, jornais, rdio, etc, mas outros objetos da comunicao situados em
manifestaes artsticas, em linguagens de grupos especficos. Nesse ponto, Duarte
(2003, p. 52) distingue objetos de mdia, conforme exemplos j citados e objetos de
comunicao, mediante argumentao de que se tomarmos a comunicao como
um fenmeno de percepo e troca: [...] no podemos reduzi-la a transmisso de
informao, ou seja, os meios no so necessariamente de comunicao. Os meios
podem veicular informao e a veiculao da informao uma das etapas do
estabelecimento da comunicao [...].
Podemos observar nos estudos de Duarte que o objeto da comunicao
permite investir metodologicamente em possibilidades de anlises, no sentido de
percepo e troca dos sujeitos envolvidos na interao em contextos diversos,
considerando os motivos que movimentam tal partilha. As situaes tambm so
extensivas aos contextos da vida humana na comunicao organizacional.Frana5 (2002) faz reflexes tericas ao afirmar a existncia de certa
negligncia e ostracismo no tratamento terico sobre a rea da comunicao, alm
da falta de consenso que demarque essa rea do conhecimento. Postula a
necessidade de ter um consenso mnimo da comunidade cientfica em nossos
estudos. Quanto ao objeto da comunicao, Frana (2002, p. 14-16) aponta dois: a)
os meios de comunicao e b) o processo comunicativo. O primeiro um objeto
5A autora faz parte da coletna publicada em FRANA, Vera. Paradigmas da comunicao:conhecer o que? In: MOTTA, et al. Estratgias e culturas da comunicao. Braslia:Universidadede Braslia, 2002, p. 13-29.
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emprico de grande visibilidade e impacto com aparncia de objetividade e
simplicidade. O objeto emprico da comunicao traz problema tambm como objeto
definidor da rea porque se desdobra em mltiplas dimenses da vida na sociedade
contempornea, ao tratar de vrias disciplinas, no um terreno especfico.
Considera, inclusive, que os processos comunicativos, enquanto objeto entendido
como processos humanos e sociais de produo, circulao e interpretao dos
sentidos, fundados no simblico e na linguagem precisa ser refinado, ou seja, o
recorte do recorte, pois ainda tem amplitude, podendo ser encontrada nas
dimenses biolgica, social e fsica. Falta solidez e articulao para que este objeto
permita anlises em diferentes situaes comunicativas. Podemos apontar que o
processo comunicativo, teoricamente, ou deveria ser o primeiro, o ponto departida, o objeto como tal. Os meios de comunicao, que so importantssimos, so
como que derivados do processo comunicativo.
Segundo Frana (2002, p. 17-18), um dos problemas da delimitao do
objeto da comunicao que sua definio vem apoiada no emprico e os objetos
do conhecimento so leituras e construes do conhecimento que demarcam
perspectivas que recortam e indicam a especificidade, permitindo, com isso, analisar
a natureza das prticas comunicativas. Considera que a natureza interdisciplinar nosestudos da comunicao fundada no cruzamento de diversas reas do
conhecimento indiscutvel, mas tambm serve de argumento para camuflar o
debate sobre o estudo da rea. O carter interdisciplinar deve ser considerado
transitrio, pois se for duradouro d origem a uma nova disciplina. O que natureza
interdisciplinar? De acordo com Frana, os temas e objetos da realidade so
apreendidos e tratados por diferentes cincias. No acontece a um deslocamento
ou alterao no referencial terico das disciplinas, o objeto que sobre diferentesolhares. Nesse sentido, a autora chama a ateno ao questionarmos se so estudos
da comunicao ou se so estudos sobre a comunicao, ou seja, se o objeto
comunicativo marca a confluncia de inmeras contribuies ou se ele se v
retalhado e distribudo entre as vrias disciplinas (FRANA, 2002, p. 18, grifos da
autora).
Conforme perspectiva terica sobre o carter e natureza interdisciplinar
abordados por Frana expostos acima, devemos enfatizar que h a tendncia atual
voltada para um novo paradigma cientfico que comporte o fortalecimento de
entrelaamentos e inter-relaes que perpassam as disciplinas e reas dos saberes,
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sem que estas sejam fragilizadas em si mesmas. Trata-se do paradigma da
complexidade, o qual ser discutido, a seguir, no captulo II. Morin (1998, p. 119)
enfatiza que a hiperespecializao dos saberes disciplinares reduziu a migalhas o
saber cientfico e acrescenta que:
[...] o destroado processo do saber/poder tende a conduzir, se no forcombatido no interior das prprias cincias, total transformao do sentidoe da funo do saber: o saber j no para ser pensado, refletido,meditado, discutido por seres humanos para esclarecer sua viso do mundoe sua ao no mundo, mas produzido para ser armazenado em bancos dedados e manipulados por poderes annimos.
Ao evocar o paradigma, entendido como esquema organizador das teorias e
que conduz o processo de conhecimento ordenado, Frana (2002, p.25-26) faz
referncia contribuio de Mauro Wolf (1995) ao descrever os seguintes
paradigmas:
a) informacional que analisa os resultados e efeitos das mensagens
transmitidas, com elementos fixos, pr-determinados, tido como
unilateral e mecnico, certamente, o modelo mais identificado com a
comunicao praticada nas organizaes;
b) semitico-informacional acrescenta ao primeiro, movimento analtico
centrado nas estruturas de significao das mensagens;
c) semitico-textual procura ler a intertextualidade das mensagens com a
presena dos sujeitos sociais e nfase na dimenso simblica e sentidos
produzidos. Frana acrescenta o modelo dialgico que enfatiza a
comunicao a partir da bilateralidade do processo e igualdade das
condies e funes estabelecidas entre os interlocutores.
Os estudos que definem os paradigmas da comunicao, ainda, contmfragilidades e simplificaes, conseqentemente podemos antever que ao fazer
ligaes possveis com a comunicao organizacional, partindo-se da base
comunicao pode-se encontrar dificuldades semelhantes. Frana (2002) advoga a
necessidade de um paradigma mais consistente e complexo, diante da insuficincia
do paradigma clssico e que traga elementos capazes de tratar e consolidar a rea
da comunicao. A autora considera relevante para o tratamento da comunicao as
seguintes caractersticas:
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- um processo de troca, ao compartilhada, prtica concreta, interao eno apenas um processo de transmisso de mensagens;- ateno presena de interlocutores, interveno de sujeitos sociaisdesempenhando papis, envolvidos em processos de produo einterpretao de sentidos mais do que simples emissores e receptores;
- identificao dos discursos, formas simblicas que trazem as marcas desua produo, dos sujeitos envolvidos, de seu contexto e no exatamentemensagens;- apreenso de processos produzidos situacionalmente, manifestaessingulares da prtica discursiva e do panorama sociocultural de umasociedade em lugar do recorte de situaes isoladas. (FRANA, 2002, p.26).
Maia e Frana (2003, p.187-203) retomam a discusso conceitual sobre a
perspectiva relacional da comunicao como processo de produo de sentidos
entre sujeitos interlocutores, processo marcado pela situao e interao pelo
contexto scio-histrico. As autoras mencionam a contribuio das cincias dalinguagem para a base conceitual e metodolgica, mas adverte que se ater somente
ao estudo dos signos limitante. Destaca a existncia do fora do texto, remetendo
para o sujeito da comunicao, como sujeito social e da linguagem, um sujeito em
relao, uma vez que estudar a comunicao estudar a relao entre sujeitos
interlocutores.
Martino, (2003, p. 11-25) parte da anlise do sentido etimolgico do termo
comunicaoe faz referncia ao comum como aquela realizada sobre outrem;
aquela cuja inteno realizar o ato de duas (ou mais) conscincias com objetos
comuns. No tocante distino conceitual entre comunicao e informao, a
comunicao refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de
conscincia, ela exprime a relao entre conscincias, enquanto a informao diz
respeito organizao dos traos materiais para uma conscincia, ou seja, a
comunicao exprime a totalidade do processo. Nesse sentido, no temos
comunicao sem informao, e por outro lado, no temos informao seno em
vista da possibilidade dela se tornar comunicao. Observamos que a afirmao de
Martino (2003) sobre a ao comunicativa, entre dois ou mais interlocutores,
envolvida com objetos comuns aproxima-se da noo conceitual defendida por
Duarte (2003), considerando que o encontro das fronteiras perceptivas no ato da
comunicao entre as conscincias envolvidas tem como eixo central o ser humano
que interage culturalmente. Para o autor, algo comum que se compartilha com o
outro tem a linguagem como promotora do dilogo e, ao mesmo tempo, a linguagem
o objeto cultural de percepo do outro. Tambm para Marcondes Filho (2004, p.
15-16) a simples difuso de informaes no comunicao. A comunicao
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tampouco instrumento [...] esclarece o autor, defendendo a comunicao como
um processo (grifo do autor), reforando a idia de troca:
A comunicao um acontecimento, um encontro feliz, o momento mgicoentre duas intencionalidades, que se produz no atrito dos corpos (setomarmos palavras, msicas, idias tambm como corpos); ela vem dacriao de um ambiente comum em que os dois lados participam e extraemde sua participao algo novo, inesperado, que no estava em nenhumdeles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar de as diferenasindividuais se manterem. Ela no funde duas pessoas numa s, pois impossvel que o outro me veja a partir do meu interior, mas o fato deambos participarem de um mesmo e nico mundo no qual entram e queneles tambm entra.
Discusso semelhante sobre distines e aproximaes sobre o que
significa comunicao e informao foi desenvolvida por Stumpf e Weber (2003). As
autoras afirmam que os conceitos de comunicao e informao necessitam da
sociologia para explicar seus fenmenos. Para Stumpf e Weber (2003, p.122), numa
perspectiva hermenutica, trata de relacionar a matria-prima da informao e
comunicao ao sentido gerado pelos diferentes modos de registrar (informao) e
interpretar (comunicao) realidade e suas representaes. As autoras afirmam
que h um vis pelos especialistas da teoria da informao que deixa de lado a
dimenso scio-cultural, inerente prpria sociedade. Para elas, a interdependncia
entre comunicao e informao, no que diz respeito diferenciao entre os dois
campos do conhecimento pode residir no carter persuasivo do processo
comunicativo. A argumentao persuasiva tambm estudada nas aes e
discursos estratgicos da comunicao organizacional, em situaes com seus
diversos interlocutores.
Martino6 (2001) contribui ao analisar os elementos para uma epistemologia
da comunicao. De acordo com Martino, o estatuto do campo da comunicaosocial varia entre o status de cincia ou um campo de interseo dos diversos
saberes. O estudo da comunicao teve entrada na cena intelectual de maneira
contrastante dos outros saberes. A entrada da comunicao nesse contexto foi sem
consistncia em sua fundamentao terica, devido forte demanda social, fundada
no apelo que a comunicao suscita nas diversas camadas sociais e grupos de
6A publicao do autor daz parte da coletnea elaborada por FAUSTO NETO, Antnio et al.(Orgs.).Campo da comunicao: caracterizao, problematizaes e perspectivas. Joo Pessoa: EditoraUniversitria/UFPB, 2001.
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interesse, principalmente devido s relaes estabelecidas entre os meios de
comunicao, sociedade e o indivduo.
Diante da possibilidade da comunicao constituir um saber especfico ou,
se ao contrrio, um campo atravessado pelos diversos saberes, Martino (2001, p.
59-62) argumenta que no atravessamento pelos diversos saberes, a comunicao
vista como um campo interdisciplinar. O campo interdisciplinar para o autor
consiste em: (1) o concurso de vrias disciplinas cientficas que se debruam sobre
uma matria emprica comum e (2) constitui-se de uma disciplina contendo um
objeto de estudo singular, a partir das contribuies de outras disciplinas.
Considerando as duas condies acima mencionadas, Martino (2001)
argumenta sobre a designao da comunicao como Cincias da Comunicao,no plural, adotada por vrios pesquisadores, que consideram a comunicao no
como uma disciplina, mas como uma sntese dos diversos saberes, os quais tomam
a comunicao como objeto. No entanto, adverte que essa denominao plural de
Cincias da Comunicao no exclui a possibilidade de haver uma disciplina
especfica denominada Comunicao. Nessa ltima acepo disciplinar, Martino
enfatiza que a disciplina especfica frente a um objeto nico, equivale tomar a
comunicao como sendo um processo emprico e no como uma construoterica, conforme requer o tratamento cientfico ou filosfico.
Para que a comunicao se constitua em uma disciplina com objeto de
estudo especfico, a partir das contribuies de outras disciplinas, segundo Martino
(2001, p. 61-62), deve-se colocar o problema ao nvel terico, sendo que o mesmo
reclama a colaborao entre as disciplinas, com dependncia mtua entre certos
saberes. Para Martino trata-se de um saber meta, ou seja, quer dizer que as
contribuies de um ou mais saberes na gerao de outro no significa a reduo doprimeiro em detrimento do segundo. Portanto, o apoio terico que a disciplina
Comunicao recebe de outros saberes (Psicologia, Sociologia, Lingstica,
Antropologia, etc.) no representa algo, em si, contrrio a sua autonomia, mas indica
necessidade de formulao adequada do que viria a ser meta saber na disciplina
Comunicao. A noo terica de Martino leva para o encaminhamento analtico
sobre a contribuio das teorias da pragmtica lingstica para e/ou na combinao
s teorias da Comunicao, tendo como fundamentos as premissas e os princpios
do paradigma da complexidade em Morin, contidos no captulo II
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A discusso sobre o campo da Comunicao retomada por Martino (2005)
ao enfatizar a existncia da diversidade de saberes que cruzam os processos
comunicacionais, de maneira que o campo de estudo reflete uma complexidade com
base nesse tipo de cruzamento, o que decorrente de vrios fatores, entre os quais
esto a prpria complexidade do processo comunicativo; as foras macro/micro
polticas que interferem nesse processo e a a heterogeneidade das lgicas sociais
procedente dos agentes vinculados s investigaes, fazendo com que muitos
autores aceitem a diversidade do campo comunicacional, sem discusso crtica.
Esse panorama nos faz refletir, consequentemente, sobre a identidade do
campo da Comunicao. Nesse contexto terico, Martino no define o que ele
entende por complexidade dos processos comunicacionais. Cabe a ns tratarmos,nessa tese, com o paradigma da complexidade com discernimentos que detalhem
os vises epistemolgicos que diferenciam as investigaes
inter/trans/multidisciplinarmente.
H discordncia sobre o significado da Comunicao como campo
interdisciplinar. Um dos argumentos est na abordagem terica exposta por Braga
(2001, p. 12-13) o autor considera que todos os campos do conhecimento so
interdisciplinares, da Fsica Biologia, ou seja, no tem existncia isolada eestanque, o que equivale dizer que a denominao enftica para a Comunicao
como campo interdisciplinar bvia e redundante, logo ociosa. Braga tem
preferncia pela compreenso dos conhecimentos na interface disciplinar, o que
significa segundo o autor, a interface no mbito de conhecimentos que se realiza na
confluncia de duas ou mais disciplinas estabelecidas, por exemplo, a
Psicossociologia e a Bioqumica. Quando trata do objeto de conhecimento da
comunicao, Braga (2001) despreza as vises holsticas de que tudo comunicao ou o direcionamento reducionista lgico que identifica o ncleo do
campo de acordo s preferncias pessoais ou de grupos de enfoques, banindo
outras perspectivas. O autor adere perspectiva que faz referncia ao objeto na
teoria da Comunicao entendido como conversao, tendo como base os
fundamentos de Rdiger (1998). A perspectiva por Rdiger (2004) denominada
conversao constitui o seu fundamento geral sobre a teoria da comunicao. Na
compreenso de Rdiger, a conversao est sujeita ou se nutre de vrias fontes
compondo, dessa maneira, uma espcie de mediao cotidiana no conjunto das
relaes sociais ao difundir idias e contribuindo na formao das condutas sociais.
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Conforme Rdiger (2004, p. 18) a comunicao no uma cincia, mas um campo
de estudo multidisciplinar, cujos mtodos de anlise no tm qualquer
especificidade, foram desenvolvidos pelos diversos ramos do conhecimento
filosfico, histrico e sociolgico.
Diante das questes apontadas no incio desse captulo, dentre os vrios
tericos da Comunicao na literatura internacional, torna-se imprescindvel
contextualizar o artigo de Otero Bello na revista Intercom Revista Brasileira de
Cincias da Comunicao, v. 29 (2006, p. 57-83) em que analisa o estado da arte
na teoria da Comunicao, resgatando antecedentes que possam sustentar a tese
de que os fenmenos da Comunicao formam um conjunto intelectual fragmentado
e disperso, com propostas que no dialogam entre si. A anlise da produointelectual em Comunicao feita por Otero Bello est fundada na proposio terica
de Thomas Kuhn (2002) de que a linha central que abrange as disciplinas imaturas,
caracterizada pela carncia de consenso, aplica-se aos estudos da Comunicao. A
cronologia de estudos desenvolvida por Otero Bello (2006, p. 59) parte do
levantamento do Journal of Communication (1983, p. 4-5), no qual o tom otimista
sobre o estudo da Comunicao a denominava como emergncia de uma nova
disciplina, com muita vitalidade, com rpido desenvolvimento e um fecundo dilogode perspectivas. Em 1993, dez anos aps essa investigao, o mesmo peridico
reaplicou o levantamento com diversos investigadores sobre o tema, apontando
resultados nos quais os estudos da Comunicao precisam de status de disciplina
porque no possui ncleo de conhecimento e, desse modo, sua legitimidade
institucional e acadmica constitui-se uma quimera. Alm disso, o estudo revelou
que o nmero crescente das investigaes sobre a Comunicao carece de pr-
condies bsicas, ou seja, teorias sustentveis, modelos formais e dadosempricos.
Otero Bello (2004, p. 61) enfatiza que os pesquisadores sobre as teorias da
Comunicao divulgaram os trabalhos em peridicos, por exemplo, na revista
Communication Theory, Craig (1999, p. 119-161) analisou sete livros sobre as
teorias da Comunicao, identificando 249 diferentes teorias, mas sem uma matriz,
um propsito comum que unam as teorias, nem disputas de questes que dividam
tais teorias. Segundo Craig (1999, p. 120-121) inevitvel dizer que a teoria da
comunicao no , no entanto, um campo coerente de estudo, sendo que o
desenvolvimento da pesquisa no/sobre o campo da Comunicao no leva a uma
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teoria unificada, mas segundo o autor a uma matriz disciplinar dialtica dialgica
com um conjunto de questes/assuntos discutidos em comum, o que possibilitaria
argumentao produtiva que atravessa as diversas tradies da teoria da
comunicao. (trad. nossa). Nesse artigo, Craig prope uma matriz disciplinar que
possa ser desenvolvida usando um meta-modelo de comunicao, o qual abre um
espao conceitual, possibilitando a interao com os diversos modelos, a partir da
concepo sobre a teoria da comunicao como meta-discurso, engajada ao meta-
discurso prtico da vida cotidiana.
Na continuao do levantamento sobre o estado da arte na teoria da
comunicao, Otero Bello (2006, p. 71-72) analisa os resultados comparativos
obtidos nas pesquisas elaboradas pelo Journal of Communication, em 2004 comrelao aos de 1983, com viso otimista. Em 2004, o peridico solicitou aos autores
a focalizao da pesquisa em quatro temas, segundo International Communication
Association:
a) revisar as teorias chave e a investigao recente sobre essas teorias;
b) as tendncias recentes de investigao sobre as teorias;
c) avaliao de suas foras e debilidades e;
d) sugestes sobre futuras direes dos estudos.De acordo com Otero Bello (2006, p. 73-76), dentre os diversos autores que
publicaram suas pesquisas no Journal of Communication (2004, p.663), Bryant e
Miron destacaram o trao pluralstico das epistemologias e metodologias em voga,
a proliferao de fontes de estudo (revistas) e a presena extensiva de mini-teorias
mal concebidas e mal definidas, sendo que tais mini-teorias desafiam a qualidade da
produo cientfica e a potencialidade da nossa compreenso. Bryant e Miron
revelam debilidades em termos de delineamentos das investigaes, envolvendotestes de hipteses, anlises dos dados e conseqncias dos resultados, dentre
outras questes metodolgicas.
Ao questionarmos se a discusso terica sobre a comunicao teve alguma
abordagem inovadora e, que tenha redefinido o pensamento terico no campo de
estudos da comunicao organizacional, podemos argumentar conforme os estudos
de Otero Bello expostos acima que no houve avanos. Tal argumentao se
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confirma na afirmao de Kunsch7 (2006, p. 176) de tudo o que foi pesquisado e
analisado sobre a evoluo das correntes dos estudos tericos da comunicao se
aplica na prtica do processo comunicativo nas organizaes.
Na mesma linha de crtica ao estancamento e tradicionalismo que ainda
media as interfaces entre a(s) teoria(s) da comunicao e o dilogo com o campo de
estudo da comunicao organizacional so enfatizados por Oliveira (2008, p. 10)
quando afirma que as discusses assim, foram em direo a outras reas, a saber
a poltica, a linguagem, a sociologia, a filosofia e a comunicao propriamente dita
que, estranhamente, parece ser timidamente incorporada compreenso dos
processos de comunicao organizacional. Concordamos com as afirmaes de
Oliveira ao destacar que o entendimento sobre o que comunicao foi e, ainda ,em certa medida muito prximo aos estudos lineares e mecanicista, mas que na
complexidade do contexto das organizaes h necessidade de avanos com
abordagens tericas advindas de outras reas do saber, que tratam o fenmeno da
comunicao.
Nossa tese visa contribuir com os aportes tericos contidos na seo a
seguir, 2.2 e no captulo III sobre a pragmtica e polidez lingstica, o qual propicia
fundamentos para anlise do captulo IV, com agrupamentos de enunciadoscontidos nos jornais impressos de circulao nacional, em situao de crise no
acidente areo da TAM, ocorrido em 2007, no Brasil. Diante da natureza relacional
complexa que ocorre no processo comunicativo organizacional cotidiano, acentuado
pela situao de crise, a anlise das estratgias da polidez e as abordagens
calcadas na pragmtica lingstica apontam a necessidade do caminho e mtodo
seguindo o paradigma da complexidade.
2.2 ALGUMAS TEORIAS SOBRE A COMUNICAO: ESTUDOS LINGSTICOS
Pelos estudos lingsticos, as discusses sobre a comunicao, conceitos,
caractersticas, componentes e anlises so, com freqncia, problematizados em
diversas correntes de pensadores. Um dos estudiosos que subsidia a anlise com
7 Para maiores detalhes que enfocam tal argumento ver em _____. Comunicao organizacional:
conceitos e dimenses dos estudos e das prticas. In: MARCHIORI, Marlene. (Org.). Faces da culturae da comunicao organizacional. So Paulo: Difuso Editora, 2006, p. 167-187.
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um composto terico frutfero dentro da lingstica aplicada a vrias reas da
atividade verbal humana Canale (1995, p. 63-81) ao tratar da competncia
comunicativa e da comunicao real. Canale entende a comunicao como o
intercmbio e negociao da informao entre ao menos dois indivduos por meio
do uso de smbolos verbais e no verbais, de modo oral e escrito/visual e dos
processos de produo e compreenso (p. 65). A informao caracterizada pelo
contedo conceitual, sociocultural, afetivo ou de outros tipos. Alm disso, Canale
enfatiza que a informao muda constantemente conforme o contexto da
comunicao e as escolhas do comportamento verbal e no verbal. Portanto, a
comunicao implica avaliao contnua e negociao do significado por parte dos
participantes. A perspectiva apresentada por Canale permite abranger osinterlocutores das mediaes organizao-pblicos, bem como as significaes e
intencionalidades que variam nos contextos especficos das situaes comunicativas
organizacionais.
Referente natureza da comunicao, Canale apresenta, com base em
diversos autores, as seguintes caractersticas:
(a) uma forma de interao social e, em conseqncia, se adquirenormalmente e se usa mediante a interao social; (b) implica em alto graude imprevisibilidade e criatividade na forma e contedo; (c) tem lugar noscontextos discursivos e socioculturais que regem o uso apropriado da lnguae oferecem referncias para a correta interpretao das expresses; (d)realiza-se sob limitaes psicolgicas e outras condies como restriesde memria, cansao e distraes; (e) sempre tem um propsito (porexemplo, estabelecer relaes sociais, persuadir ou prometer); (f) implicauma linguagem autntica, oposta linguagem inventada dos livros e textose (g) julga-se que se realiza com xito ou no sob a base de resultadosconcretos. (CANALE , 1995, p. 64).
Diante das caractersticas sobre a natureza comunicativa defendida porCanale podemos realizar reflexes transpondo-as para o contexto especfico da
comunicao organizacional. A forma de interao social que se adquire e se usa
normalmente pode ser inserida na perspectiva de que a comunicao organizacional
parte do processo de construo social da realidade em seu cotidiano,
possibilitando a criao de identidade e credibilidade da organizao perante o
conjunto da sociedade. A flexibilidade demandada pelo alto grau de imprevisibilidade
e criatividade na forma e contedo encontra ressonncia em situaes
comunicativas organizacionais mesmo diante de aes planejadas, em que podem
ocorrer margem de risco, conforme o comportamento dos pblicos, suas
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interpretaes e pela gerao de significados que os enunciados produzem nas
mentes humanas. Devido a isso, h a necessidade de muitas doses de criatividade
dos interlocutores organizacionais e seus pblicos em distintas situaes.
A comunicao tem lugar nos contextos discursivos e scio-culturais
buscando o uso apropriado da lngua, tanto nas interaes cotidianas, quanto na
dimenso da comunicao organizacional. Na dimenso da vida organizacional, a
comunicao requer conhecimento e habilidade em relao aos anseios e
expectativas dos pblicos. Mapear o perfil dos pblicos, a priori fundamental para
aplicao e adaptao dos discursos organizacionais, inclusive em situaes de
relacionamento intercultural. Aqui, podem ocorrer mal-entendidos nas interpretaes
discursivas por no partilhar interesses, crenas e valores culturais entre osinterlocutores em situaes dirias aparentemente normais, no debate de idias e
conflitos de posies e nas situaes de crise. As limitaes psicolgicas podem
envolver adequaes/inadequaes. Para atender um propsito, devemos
considerar os objetivos e intencionalidades que possam promover o dilogo e as
trocas comunicativas no contexto organizacional. At que ponto a linguagem
empregada nas organizaes autntica ou camufla interesses unilaterais e
escusos? Os resultados concretos em relao s conscincias envolvidas noprocesso da comunicao organizacional so obtidos pela interao contnua,
participativa e motivadora com seus interlocutores, ou seja, os pblicos? Como foi
tratada na situao comunicativa a relao pblicos-organizao-pblicos
considerando o comportamento verbal e no-verbal? Portanto, as caractersticas
apresentadas por Canale sobre a natureza da comunicao transportada para o
contexto da comunicao organizacional demonstram plena adaptabilidade e so
geradoras de importantes questes para investigaes e anlises.Canale (1995, p. 65) retoma estudos que realizou com Swain (1980) para
conceituar a competncia comunicativa entendida como sistemas subjacentes do
conhecimento e habilidades requeridas para a comunicao (por exemplo,
conhecimento do vocabulrio e habilidade para usar convenes sociolingsticas de
uma lngua). Por comunicao real entende a realizao de tais conhecimentos e
habilidades sob limitaes psicolgicas e ambientais como restries e de memria,
cansao, nervosismo, distraes e rudo de fundo.
A reformulao do conceito de competncia comunicativa defendida por
Canale (1995) compreendida como parte essencial da comunicao real, porm
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refletida pela ltima, apenas indiretamente, e em condies imperfeitas que limitam
a produo. A competncia comunicativa refere-se tanto ao conhecimento (o que
algum sabe, consciente ou inconscientemente) como habilidade (que utiliza - bem
ou mal - os conhecimentos) quando se participa da comunicao real.
Segundo Canale, o marco terico da competncia comunicativa inclui quatro
reas do conhecimento e habilidade: competncia gramatical, competncia scio-
lingstica, competncia discursiva e competncia estratgica. As quatro divises
expostas acima servem para incorporar, minimamente, o que se inclui na
competncia comunicativa, mas a questo como os componentes das reas
interagem uns com os outros e se a competncia comunicativa teria outros
componentes adicionais um tema a ser discutido pelos lingistas, mas ignoradapelos pesquisadores que atuam em outros campos da atividade humana que, como
o nosso, tm na linguagem e na comunicao verbal uma parte importante do objeto
de estudo, merecendo, assim novas interpretaes e investigaes.
Em nossa tese, a teorizao de Canale atravs das especificaes das
quatro reas do conhecimento e habilidade que compem a competncia
comunicativa traz contribuies que podem ser usadas na anlise do entendimento
das teorias da comunicao implicadas na formulao conceitual da/sobrecomunicao organizacional. Explicitaremos, portanto, conforme Canale (1995, p.
66-70) tais delimitaes, num sentido didtico, mas que so complementares e
interdependentes entre si quando utilizadas para anlise dos processos
comunicativos. A competncia gramatical est relacionada ao domnio do cdigo
lingstico (verbal e no-verbal). Inclui caractersticas e regras da linguagem, tais
como o vocabulrio, a formao de palavras e frases, a pronunciao, a ortografia e
a semntica. Centra-se no conhecimento e habilidade para empreender e expressaradequadamente o sentido literal dos enunciados. O tema sobre o sentido literal
controverso, atualmente, mas no vamos nos ater nesse trabalho.
A competncia sciolingstica ocupa-se de estudar a maneira pela qual as
expresses so produzidas e entendidas, adequadamente, em diferentes contextos
sciolingsticos, dependendo de fatores contextuais, tais como a situao dos
participantes, os propsitos da interao e as normas convencionais. Canale
defende que a adequao dos enunciados est relacionada adequao do
significado e da forma. Por sua vez, a adequao do significado est relacionada ao
alcance das funes comunicativas determinadas (por exemplo, ordem, reclamao,
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pedido, convite, etc), s atitudes (incluindo estratgias de cortesia e a formalidade) e
s idias (mundo mental) que so julgadas conforme caractersticas de dada
situao comunicativa. A adequao de forma trata da medida em que o significado
(includas funes comunicativas, atitudes e proposies/idias) est representado,
atravs de uma manifestao verbal e/ou no verbal, que caracteriza um contexto
scio-lingstico.
A competncia discursiva est relacionada ao modo de combinar formas
gramaticais e significados para obter um texto falado ou escrito em diferentes
gneros. Por gnero, entende-se o tipo de texto, por exemplo, uma narrativa oral ou
escrita, um ensaio argumentativo, um artigo cientfico, uma carta comercial e o
conjunto de instrues representam diferentes gneros. Aqui, segundo Canale, aunidade de um texto obtida por meio da coeso na forma e da coerncia no
significado. A coeso implica no modo em que os enunciados (frases) se unem
estruturalmente e facilitam a interpretao do texto, por exemplo, no uso de
pronomes, sinnimos, elipses, conjunes e estruturas paralelas que servem para
estabelecer conexes entre frases tanto individuais como em um grupo de frases ao
formarem um texto. A coerncia faz referncia s relaes entre os diferentes
significados literais (assunto polmico), funes comunicativas e atitudes. Ainterao das regras gramaticais, sciolingsticas e discursivas nos faz pensar na
complexidade da competncia comunicativa.
O paradigma da complexidade em seu conjunto de princpios e de
premissas, contidos no captulo II, nos fornece possibilidades tericas de anlises do
todo contido nas partes e das partes em seu todo, ou seja, como cada uma das
quatro reas do conhecimento e habilidades complementar, ao mesmo tempo, as
reas necessitam das noes de contexto, negociabilidade, adaptabilidade evariabilidade compondo um amalgamento terico interdependente e dialgico das
partes e do todo.
A competncia estratgica faz parte do domnio das estratgias de
comunicao verbal e no verbal que pode ser empregada para compensar as
falhas na comunicao devido s condies limitadoras da comunicao real, por
exemplo, a incapacidade momentnea de lembrar de uma idia ou forma gramatical
ou a insuficincia ocorrida em uma das reas da competncia, alm de possibilitar a
efetividade da comunicao, tais como ao falar de maneira lenta e baixa,
deliberadamente, com uma inteno retrica.
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pblicos, no mbito da comunicao organizacional, podem ter variao para
compreender e interpretar os enunciados da linguagem em uso. Os fatores que
geram interpretaes diferenciadas nos sujeitos dessas comunidades esto
vinculados aos conhecimentos e habilidades, ou seja, a competncia comunicativa,
associada aos valores e condies culturais, construdos socialmente, dentre os
quais influenciados pelo status, etnia, nvel educacional, idade, sexo, condies
geopolticas, ocupao, etc.
Saville-Troike (2003, p. 20,trad. nossa), embora no seja lingista, adotar o
ponto de vista etnogrfico da comunicao, ao estudar a competncia comunicativa
defende a formao do trip dos conhecimentos: (a) lingstico, (b) de interao e (c)
cultural, conforme exposto abaixo:
1. Conhecimento lingstico:(a) elementos verbais;(b) elementos no-verbais;(c) configuraes de elementos em eventos de fala especfica;(d) mbitos de possveis variaes ( seus elementos e sua organizao) e;(e) significado das variaes em situaes especficas.
2. Conhecimento de interao:
(a) percepo dos traos salientes nas situaes comunicativas;(b) seleo e interpretao de formas apropriadas para situaes, papis erelacionamentos especficos;(c) organizao dos processos discursivos;(d) normas de interao e interpretao e;(e) estratgias para realizao de metas de interao.
3. Conhecimento cultural:(a) estrutura social (status, poder, falas adequadas);(b) valores e atitudes;(c) mapas cognitivos/esquemas e;(d) processos de aculturao (transmisso de conhecimento e habilidades).
Com base em Saville-Troike (2003, p. 20), Godoi8(2008, p. 63-64) modifica
o trip acrescentando: (1) ao conhecimento de interao o significado das variantes
(dos componentes lingsticos) em situaes particulares; (2) no conhecimento
cultural refora com elementos no-verbais e cenrios (scripts), contextos fsicos.
8 Para aprofundar tais modificaes aplicadas verificar em GODOI, Elena. O que as cincias dalinguagem podem dizer para os estudos em comunicao organizacional? In: ORGANICOM- Revista
brasileira de comunicao organizacional e relaes pblicas. So Paulo: Gestcorp-ECA-USP,2008, ano 5, n.9, p. 49-66.
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Alm disso, Godoi cria o (3) Conhecimento operacional pressuposies,
inferncias, etc..
imprescindvel considerar que os sujeitos pertencentes s comunidades de
fala so membros de mltiplas comunidades, desempenhando papis nem sempre
semelhantes em cada uma delas. Os membros dessas comunidades, por terem
papis multifacetados, recebem e compartilham orientaes, valores, crenas,
regras e expectativas, dependendo das funes e posies de cada sujeito nas
diversas comunidades de pertencimento. Isso exerce influncia sobre as escolhas
lingsticas, de modo individual, mas permanentemente em relao ao agrupamento
coletivo de pertencimento. Nesse sentido, Godoi (2008, p. 64) explica que a
competncia comunicativa pragmtica ao se referir ao conhecimento dasnormas socioculturais de comunicao em uma comunidade de fala, devendo ser
compartilhada em certo grau pelos interlocutores, porm enfatiza que de natureza
individual, portanto, no processo interacional, os indivduos estaro sujeitos s falhas
e desentendimentos.
Os estudos lingsticos contribuem com o campo de estudos da
comunicao (organizacional), principalmente, nas investigaes que tratam da
pragmtica lingstica ao delimitar conceitos, funes, categorias e formasestruturais que fazem parte da composio do comportamento verbal e no-verbal
humano. Nessas abordagens e perspectivas encontramos, entre outros, os trabalhos
de Moeschler e Verschueren. Segundo Moeschler ([20--], p. 20), a pragmtica o
estudo da linguagem em uso, dos processos cognitivos envolvidos na interpretao
dos enunciados e, tambm o estudo dos aspectos inferenciais da comunicao
humana. O autor afirma que a relao crucial aqui est entre linguagem e
comunicao e, mais precisamente o modelo de comunicao envolvido nalinguagem em uso. Moeschler ([20--], p. 20, trad. nossa) conceitua: pragmtica
define comunicao como um processo misto, baseado em dois modelos de
comunicao, o modelo cdigo e o modelo inferencial. Ento, a comunicao verbal
est, em ambos modelos, nos processos de codificao e decodificao lingstico e
inferencial pragmtico.
Moeschler (2004, p. 52) retoma a discusso e especifica melhor o processo
misto, reafirmando a existncia dos dois modelos mencionados acima para delinear
a comunicao lingstica, mas destaca que o conhecimento do cdigo no
condio suficiente para a comunicao obter xito. Tal condio implica o
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conhecimento de mundo entre os interlocutores, como tambm, o conhecimento
sobre a situao da comunicao que so cruciais para o enriquecimento do
significado lingstico decodificado dentro dos enunciados.
Outro autor dedicado ao tema da comunicao lingstica Verschueren
(2002, p. 43), partindo das bases conceituais sob a perspectiva da pragmtica
lingstica entendida como [...] uma perspectiva geral cognitiva, social e cultural dos
fenmenos lingsticos em relao com seu uso nas formas de comportamento.
Observamos que nesta perspectiva, a pragmtica lingstica est enlaada, de modo
interdisciplinar, com as diversas cincias sociais e das humanidades, enfatizando a
relao funcional da linguagem nos vrios aspectos do processo comunicacional.
Destacamos que a obra de Verschueren (2002) desenvolve a linhaconceitual e a operacionalizao metodolgica sobre a perspectiva pragmtica a
partir de conceitos tais como as escolhas lingsticas, desmembrando-se na
teorizao da variabilidade, negociabilidade e adaptabilidade. O aspecto
metodolgico aprofundado pelo autor ao tratar do contexto, a partir da viso global
do mundo fsico, mundo social e mundo mental. O estudo da perspectiva
pragmtica que, resumidamente, descreveremos e analisaremos nesse trabalho
relevante para aplicao na comunicao humana desde um ponto de vista darelao dos interlocutores no cotidiano em geral, como tambm, incluindo a
comunicao organizacional.
Compreendemos que na perspectiva pragmtica, para Verschueren (2002,
p. 110-114), o uso da linguagem consiste na contnua escolha lingstica,
envolvendo razes internas ou externas linguagem. Isto significa que as escolhas
podem estar situadas em qualquer nvel lingstico, ou seja, na fontica/fonologia, na
morfologia, na sintaxe, no lxico e/ou na semntica, supondo tipos de variaesregional, social ou funcional. Observamos que no mbito organizacional, o fenmeno
das escolhas lingsticas para a comunicao, estabelecida na relao pblicos-
organizao-pblicos necessita ser bem pontualizada, sistematicamente de modo
metodolgico, ao analisar os enunciados, o contexto e seus respectivos pblicos na
fase do planejamento da comunicao estratgica denominada de levantamento de
dados e informaes, bem como elaborar consideraes aprofundadas sobre as
escolhas lingsticas, em seus diversos nveis, no diagnstico servindo de base para
o plano estratgico da comunicao organizacional.
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Diante dos nveis lingsticos mencionados acima, devemos considerar as
razes externas que envolve o mbito organizacional, o conhecimento concreto que
os comunicadores organizacionais tm sobre os pblicos que esto vinculados
organizao. O conhecimento concreto desvela os valores, crenas, nvel de
envolvimento social, cultural, meio ambiental, poltico, educacional, dentre outros
que possam caracterizar o mapeamento dos pblicos. A partir disso, analisar,
criticamente, os nveis que tais conhecimentos concretos esto permeando as
posturas, atitudes, aes e valores de maneira semelhante ou divergente por parte
dos pblicos e da organizao.
Verschueren (2002, p. 110-116) elaborou explicaes que contribuem para o
melhor entendimento do sentido atribudo ao fazer escolhas, que consideramosimportantes no estudo da comunicao:
a) as escolhas so feitas em qualquer nvel da estrutura, por exemplo,
escolhas para determinados gneros desencadeiam a construo de
oraes com palavras e formas gramaticais, dentre outros elementos,
considerando quem so os ouvintes/leitores;
b) os falantes no, apenas, selecionam as formas, mas tambm escolhem
estratgias, isto , as escolhas so feitas de modo que inclua o nvel daestrutura dentro do seu mbito. Significa que ao fazer a escolha da(s)
estratgia(s) lingstica, por exemplo, de deferncia, como uma escolha
especfica, considera-se uma gama de nveis estruturais, tais como estilo
e lxico para dirigir-se a determinado grupo de interlocutores. Nesse
sentido, de suma importncia a compreenso das teorias da polidez
lingstica, a serem abordadas em captulo sequencial;
c) o processo das escolhas lingsticas pode mostrar qualquer grau deconscincia, ou seja, algumas escolhas so mais conscientes, outras
so mais automticas;
d) as escolhas lingsticas so feitas na produo e na interpretao de
um enunciado, sendo ambos de igual importncia para o fluxo
comunicativo e para o modo que se gera significado;
e) o usurio da linguagem no tem liberdade para fazer ou no escolhas
lingsticas, exceto se decide permanecer em silncio (mesmo que a
ltima deciso seja significativa em algumas circunstncias),
considerando que sempre h srios riscos no uso da linguagem,
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podendo ocorrer situaes comunicativas permeadas por mal-
entendidos;
f) as escolhas no so equivalentes, o que pode ser exemplificado diante
de uma situao de oferta, pode-se responder tanto com uma aceitao,
como com um rechao e;
g) as escolhas lingsticas trazem consigo alternativas que, em outras
palavras, so motivadas por sua localizao na dimenso do significado,
evocando tambm a dimenso completa. Isto pode ser observado nas
escolhas lxicas e os efeitos comunicativos provocados, por exemplo, no
uso dos tempos verbais: passado, presente e futuro.
Partindo das explicaes que as escolhas lingsticas carregam em si osmesmos elementos que contribuem na gerao do significado e compreenso no
processo comunicativo, precisamos definir o processo da escolha como descrio
bsica do uso da linguagem. Para tanto, os conceitos chave so a variabilidade, a
negociabilidade e a adaptabilidade.
Segundo Verschueren (2002, p. 115), a variabilidade a propriedade da
linguagem que define a gama de possibilidades dentro das quais se podem
selecionar. A noo de variabilidade deve ser levada a srio diante da gama deaes possveis, sem ser algo esttico ou estvel, mas em contnua mudana. As
variveis contidas nessa propriedade podem ser internas e acessveis aos usurios
da linguagem para realizarem as escolhas, igualmente, podem ser externas de
modo geogrfico, social e funcional. Portanto, em qualquer momento do transcurso
do processo comunicativo, uma escolha pode descartar alternativa ou criar nova,
atendendo aos propsitos do intercmbio, no obstante, que os efeitos so
negociveis.A prpria variabilidade lingstica nos leva ao conceito chave de
negociabilidade definida por Verschueren (2002, p. 116) como propriedade da
linguagem responsvel pelo fato de que as escolhas no sejam feitas
mecanicamente, seguindo regras restritas ou relaes de forma-funo fixas, mas
baseadas em princpios e estratgias altamente flexveis. Para o autor, a
negociabilidade implica uma indeterminao de vrios tipos: h indeterminao por
parte do produtor da linguagem que opera sob restries ao tomar decises, mesmo
que estas correspondam ou no as suas necessidades. Por exemplo, no uso
cotidiano, as escolhas que fazemos so oriundas de opes convencionais e no
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nos damos conta que estamos restringidos e que poderamos criar outras
possibilidades, com suas novas restries. Em segundo lugar, ocorrem
indeterminaes ao fazer escolhas, por parte do intrprete. A este respeito,
identificamos na linguagem em uso, a ancoragem ao contexto, atribuindo o
significado implcito, diante da impossibilidade de termos a explicitude completa do
que dito nos modos lingsticos convencionais. Tal situao comunicativa
depende, altamente, do contexto e do conhecimento comum ou informao de
fundo compartilhado pelo enunciador e pelo intrprete. Outro tipo de indeterminao
est relacionado escolha feita pelos interlocutores que pode ser continuamente
negociada.
A noo de adaptabilidade respaldada no conceito de Verschueren (2002, p.119) como a propriedade da linguagem que capacita aos seres humanos de
fazerem escolhas lingsticas dentro de uma gama de possibilidades variveis de
modo que se aproximem da satisfao das necessidades comunicativas. O autor
esclarece diante do conceito exposto, que com referncia s necessidades
comunicativas no implicam que o termo necessidades no uso da linguagem infira
que todas as necessidades sejam comunicativas, bem como, que tais necessidades,
embora sejam geradas, em sua maioria no contexto, podem ser de carterespecfico. Diante disso, a adaptabilidade deve ser interpretada como uma
propriedade que permite fazer escolhas, diante de circunstncias que podem sofrer
mudanas ou adaptar-se a tais circunstncias.
As propriedades da variabilidade, negociabilidade e adaptabilidade esto
inter-relacionadas ao objeto da investigao global da pragmtica lingstica ou
funcionamento significativo da linguagem. A proposta apresentada por Verschueren
nos faz raciocinar sobre o que e como funciona o estudo do contexto lingstico eextralingstico. Nesse sentido, so identificados os correlatos contextuais da
adaptabilidade para explicar, numa viso global, os ingredientes do contexto
comunicativo englobando o mundo mental, mundo social e mundo fsico.
Verschueren (2002, p. 154-158) argumenta que a interao verbal a
comunicao de mente a mente, tendo como perspectiva a relao do enunciador
com o intrprete. Para tanto, o enunciado requer a adapatao do mundo mental do
enunciador, mediante as escolhas lingsticas ao mundo mental do(s) intrprete(s).
Devido ao processo mental, os julgamentos sobre as caractersticas da
personalidade do intrprete, o envolvimento pessoal, os padres de crenas,
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sonhos, desejos, as motivaes e intenes esto relacionados nesse processo,
considerando que os conflitos so inerentes na comunicao. necessrio fazer
escolhas lingsticas buscando a sintonia do estado mental do intrprete e
enunciado. Os estados mentais tm ocupado posio central em certos projetos da
pragmtica lingstica, levando em conta uma variedade de fenmenos inter-
relacionados os quais se aproximam e se separam do centro de um espao mental,
em movimento. O mundo mental ativado devido linguagem em uso contm
elementos cognitivos e emotivos, vinculados noo de adaptabilidade que baliza a
relao enunciado-enunciador-intrprete. um tema tratado pelos estudos na
pragmtica lingstica visando interpretar a realidade social e o fenmeno que
envolve o afeto e grau de participao no processo comunicativo.Na perspectiva pragmtica do comportamento lingstico, Verschueren
(2002, p. 161) enfatiza o argumento que a variabilidade social no processo de
desenvolvimento do mundo social e suas dimenses contribuem na formao das
identidades sociais dos interlocutores. A dimenso cultural comporta o contraste que
caracteriza diferentes sociedades orais e alfabetizadas, padres de vida rural e
urbana, dentre outras, cruzando com as dimenses da variabilidade social, que situa
a classe social, etnia, nacionalidade, comunidade lingstica, idade, nveleducacional, profisso, parentesco e gnero. Tais dimenses e suas especificidades
so relevantes na realizao das escolhas lingsticas em determinadas situaes
porque correlacionam grupos e repertrios, mas tambm necessita ser investigada,
de forma expansiva e ampla, na perspectiva pragmtica dos processos de uso da
linguagem.
Uma vez que a adaptabilidade da linguagem sob o enfoque do mundo social
pode ser considerada ampla, generalizada e flexvel, argumentamos que asescolhas lingsticas vinculadas, particularmente, aos atos comunicativos que se
processam na relao organizao-pblicos abrem possibilidade de investigao no
que diz respeito aos enunciados orais e escritos, associado ou no comunicao
no-verbal, tendo como base as propriedades mentais, sociais e fsicas,
considerando a localizao de uma organizao em determinada nao (sua lngua,
cultura, identidade), bem como as relaes e expanso que tal organizao amplia
transfronteira, passando desse modo, ao processo de comunicao organizacional
intercultural.
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O mundo fsico constitui o trip na viso global na gerao do contexto para
anlise pragmtica da linguagem em uso. Segundo Verschueren (2002, p. 164-176)
esta propriedade dedica-se ao estudo da dixis espacial e temporal. O que dixis?
Os conceitos de dixis em Yule (1996, p. 9) e Escandell Vidal (1999, p. 20-22),
definem que, do ponto de vista da comunicao, para compreendermos um
enunciado devemos identificar os referentes que indicam quais so os objetos, os
fatos ou situaes a que se referem. A dixis ajuda-nos a compreender as formas
especiais que faz referncia aos elementos dentro da situao, ou seja, so
significados apontados por meio de formas lingsticas e identificados tambm
como expresses diticas. Encontramos nas expresses diticas os pronomes
pessoais, demonstrativos, possessivos, advrbios de lugar e tempo, formas detratamento e expresses anafricas e catafricas, dentre outras. Destacamos que
todas as expresses diticas dependem do contexto compartilhado pelos
falantes/escritores e os ouvintes/leitores.
A comunicao em Brown e Levinson (1987, p. 3-6) parte da questo sobre
como se compe a teoria da implicatura (implicature) conversacional de Grice (1975)
em relao estrutura de trabalho das mximas conversacionais para a
compreenso do que dito e o que comunicado. A implicatura preenche lacunasque perpassa quilo que possvel dizer mais do que efetivamente dito. Grice
(1975) estabelece o Princpio da Cooperao que est calcado na hiptese de que
a base da comunicao a cooperao. Para tanto, a cooperao tem princpios
gerais que regulam a conversao entre interlocutores e, devem contribuir na
gerao de significados que realizam a mediao do processo comunicativo.
Segundo Brown e Levinson (1987, P. 5), o Princpio da Cooperao em
Grice desenvolve status completamente diferente dos princpios da polidez(trad.nossa). Nesse sentido, os autores afirmam que o Princpio da Cooperao define
uma estrutura para a comunicao presumvel, socialmente no marcada ou neutra,
uma vez que a suposio essencial no desviar da eficincia racional, sem uma
razo. Brown e Levinson argumentam que os princpios da polidez lingstica
apresentam razes para desvios comunicativos, cujas motivaes para os desvios,
possivelmente, tenham um statusespecial na interao humana.
A polidez comunicada e os vazios podem ser tomados como atitudes
polidas. Para Brown e Levinson (1987, p. 5-6), o modelo de polidez lingstica
adotado para as aes comunicativas est centrado na sensiblidade da face, ou
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seja, a imagem pblica e os tipos de raciocnios que induz, em conjunto ao Princpio
de Cooperao possibilita realizar inferncias nas implicaturas via estratgias da
polidez lingsitca. A partir das falhas e/ou deficincias encontradas nas mximas
conversacionais relacionadas ao valor da imagem pblica entre falantes e ouvintes,
adicionadas aplicao das estratgias de preservao da face (imagem pblica),
faz com ocorra a gerao das inferncias. Os autores chamam a ateno que
alguns trabalhos recentes com esse modelo da polidez lingsitica demonstram
detalhes de formas lingsticas, em especial suas estruturas semnticas, que podem
conduzir aos mecanismos das implicaturas conversacionais generalizadas.
Brown e Levinson (1987, p. 7-8) destacam a grande contribuio de Grice
(1971) em relao a natureza comunicativa, especialmente no que diz respeito aotipo de inteno a ser reconhecida pelo destinatrio da ao comunicativa na
interlocuo com o falante. Advertem, no entanto, as dificuldades conceituais na
teoria da comunicao que envolve o destinatrio da mensagem na tentativa em
reconhecer a inteno do falante e o qu pode inferir no comportamento
comunicativo em questo, Diante disso, h vrias tentativas de investigaes
psicolgicas, especialmente focalizando o envolvimento do conhecimento
compartilhado sobre os quais as inferncias nas intenes comunicativas tmdependncia acentuada. Consideramos importante tal questionamento e busca de
mais detalhes cientficos que do conta dessas questes. No esto em nossos
objeticos e hipteses de pesquisa, nessa tese, tal levantamento nesse momento,
no entanto, poderemos desenvolver melhor em pesquisas futuras.
2.3 PERSPECTIVAS TERICAS DA/SOBRE A COMUNICAO
ORGANIZACIONAL E CONTRIBUIES SOB O FOCO DA PRAGMTICALINGSTICA
Os propsitos nessa seo visam o levantamento dos estudos bibliogrficos
sobre as principais perspectivas que tratam sobre a comunicao organizacional e
se tais perspectivas tm vnculos ou no com as teorias da comunicao, abordadas
acima nesse captulo. Alm disso, investigamos quais as principais posies
adotadas pelos tericos da comunicao organizacional em relao aos estudos
lingsticos, em especfico sobre a pragmtica e polidez lingstica.
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2.3.1 Panorama de Investigaes no Brasil
No Brasil, a comunicao organizacional originou-se sombra do
jornalismo empresarial, a partir da Revoluo Industrial, houve o incremento da
expanso empresarial, o que viria a provocar mudanas nos relacionamentos e
gerenciamentos administrativos e de comercializao. O relato sobre o enfoque
histrico da comunicao organizacional no Brasil encontra-se em Kunsch9(1997, p.
55-72). A autora apresenta os registros dos estudos pioneiros de Torquato do Rego
(1987) sobre jornalismo empresarial e as diversas entidades voltadas ao
desenvolvimento das investigaes e relacionamento com os profissionais do
mercado, que por ora no mencionaremos aqui, mas merece ser consultado no
original.
Foi a partir das publicaes empresariais na dcada de 1960, trabalho
desenvolvido com a expanso dos departamentos de relaes pblicas que houve a
necessidade de aprimoramento daquilo que seria denominado de comunicao
organizacional, a qual segundo Kunsch (1997, p.57) passaria, sucessivamente, por
uma era do produto (dcada de 1950), imagem (dcada de 1960), da estratgia
(dcadas de 1970 e 1980) e da globalizao(dcada de 1990) (grifos no original).
Segundo Kunsch o boom na comunicao organizacional atingiu o auge na
dcada de 1980 com a reabertura poltica no Brasil. Com o passar dos anos e a
criao de linhas de pesquisas nos cursos de ps-graduao e de eventos com
publicaes que abordam o tema comunicao organizacional houve crescimento da
produo terico-metodolgica. As denominaes, no entanto, ainda diferem entre
pases, o que provoca significaes e compreenses distintas, variando como
comunicao social, comunicao empresarial ou comunicao organizacional. A
autora, com base em conceitos da literatura estrangeira, apresenta definiesclssicas da comunicao organizacional segundo Goldhaber, Kreeps e Cees van
Riel, o que demonstra no ter uma teoria nica sobre o tema.
Ao tratar a empresa como sistema, Torquato do Rego (1986, p.15) descreve
a comunicao como um sistema aberto, semelhante empresa. Por sistema, o
autor compreende que a comunicao organizada pelos elementos: fonte,
9A autora realizou reviso histrica aprofundada. Para maiores detalhes ver em KUNSCH, MargaridaMaria Krohling.Relaes pblicas e modernidade: novos paradigmas na comunicaoorganizacional. So Paulo: Summus, 1997.
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codificador, canal, mensagem, decodificador, receptor, ingredientes que vitalizam o
processo. O autor considera o processo dividido em duas partes: transmisso da
mensagem e, a segunda, de recuperao, necessria para o controle da
comunicao por parte da fonte. Argumenta que essa viso torna-se rgida,
aproximando-se do modelo matemtico-ciberntico de Wiener, preferindo identificar
nos elementos que formam o processo comunicacional os condicionantes
sociolgicos e antropolgicos. Ao descrever as modalidades da comunicao
organizacional, Torquato do Rego (2002, p. 34-76) apresenta quatro formas
consideradas estratgicas: comunicao cultural, comunicao administrativa,
comunicao social e de sistema de informao. O autor entende que a
comunicao organizacional , portanto, a possibilidade sistmica integrada, querene as quatro grandes modalidades, cada uma exercendo um conjunto de
funes.
Pelos artigos publicados nos ltimos anos nos congressos da Intercom
Sociedade Brasileira de estudos Interdisciplinares da Comunicao - destacamos
dois que estudam as perspectivas tericas da comunicao organizacional, com os
quais podemos estabelecer relao com nossa investigao. No primeiro,
Scroferneker (2000) faz reviso da literatura e dentre os vrios autores apontaDaniels, Spiker e Papa (1997) que descrevem trs modelos ou perspectivas para a
comunicao organizacional: (a) tradicional a comunicao pode ser medida,
padronizada e classificada; (b) modelo interpretativo as organizaes so vistas
como cultura e espao de negociao das transaes e discursos coletivos. A
comunicao um processo por meio do qual ocorre a construo social da
realidade organizacional. Os smbolos e as significaes so fundamentais nas
diversas formas de manifestao do comportamento organizacional. (c) Aperspectiva crtica, a organizao vista como espao de opresso e a
comunicao tida como instrumento de dominao.