Richard Branson - O perigosos embate entre nós e eles

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  • 8/8/2019 Richard Branson - O perigosos embate entre ns e eles

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    Direto d o T o p oR IC H AR D B R A N S O N

    o p erig o s o e m b a tee n tre "n s " e "e les "T o d a e m p r e s a q u e a b u s a d a im p e ss oa l id ad e t e m p r o b l e m a s .S e o f u n c io n r i o n o s e s e n t e id e n t i f i c a d o c o m a c o m p a n h i a ,e l e n o u s a r j a m a i s o v e r b o n a p r im e i r a p e s s o a d o p lu r a lD e todas as espertezas gramaticais, nenhuma me irritamais do que o uso conveniente de construes impes-soais. Por exemplo, voc pergunta a um vendedor seele tem um produto qualquer e ele diz: "Desculpe, ficoudecidido que a loja no trabalharia mais com essa marca".No aeroporto, um funcionrio da companhia area lhe diz:"Fomos informados de que o voo ter uma hora de atraso".Essa impessoalidade misteriosa sempre a culpada por todosos problemas. Quando a notcia ruim, ela costuma serdada de forma impessoal, ou apenas de maneira genricacom o sujeito "eles". Ao passo que a notcia boa costumavir na primeira pessoa do singular. (Como eu gostaria queminha professora lesse isso. Ela achava que eu no prestavaateno nas aulas!) Se a loja tem o produto desejado, o ven-dedor dir: 'Tenho, sim." Quando o voo est no horrio, ofuncionrio da empresa diz: "Tenho o prazer de comunicarque o voo 123 sair no horrio programado".Essa tendncia merece ateno. Toda empresa que abusa daimpessoal idade tem problemas. Se o funcionrio no se senteidentificado com a companhia, em situaes crticas ele nousar jamais o verbo na primeira pessoa do singular - e mui-to menos do plural. Isso sinal de que no est havendo co-municao entre os diferentes escales. Em companhias dessetipo comum que existam problemas generalizados - dodesenvolvimento de produtos prestao de servios ao clien-te. Pode parecer o maior clich do mundo,mas o maior tesouro de qualquer empresaso seus empregados. Quando se deixa deobservar esse princpio bsico, o que se tem esse antagonismo que contrape "ns" a"eles" - um embate velado entre as aese os interesses da massa de funcionrios eos principais executivos.Basta ouvir as queixas mais comuns da

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  • 8/8/2019 Richard Branson - O perigosos embate entre ns e eles

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    equipe de vendas: "Eles (os chefes) nunca pedem nossa opiniopara nada". Ou ainda: "Se nos tivessem perguntado, teramosdito que no adianta propor solues abstratas para os problemasconcretos que temos". E o que dizem os executivos? "Parece queeles (os funcionrios) no entendem. Ser que no percebem quenossas propostas arrojadas vo ao encontro de uma clientelamoderna?" Esse antagonismo, que coloca funcionrios e execu-tivos em lados opostos, jamais formar um "ns". Se os empre-gados se sentem como se estivessem do lado de fora da empresa,de quem a culpa? Talvez a administrao no esteja investindotanto quanto deveria para que eles se sintam devidamente valo-rizados. fcil fazer esse diagnstico. Basta perguntar a essesfuncionrios, por exemplo, onde eles conseguem informaessobre os novos produtos da empresa em que trabalham ou onde

    ficam sabendo das notcias que podem afet-Ios. Se a respostafor "nos jornais" ou "no concorrente", pode ter a certeza de quea empresa para eles algo muito distante.Essa queda de brao entre "ns" e "eles" comum em qual-quer grande corporao, portanto os executivos podem estarcertos de que vo ter de lidar com isso a vida toda. s vezes,encontro esse tipo de coisa nas empresas da Virgin. Quandouma pessoa qualquer me diz: "Desculpe, senhor Branson, masme disseram que no faramos mais isso", respondo assim:"Disseram? Desculpe, pensei que voc trabalhasse aqui". Umpouco pesado, talvez, mas no h quem no entenda!O problema fica pior ainda por causa de nossa dependnciaexcessiva das tecnologias impessoais de comunicao. Um dosmaiores desafios de qualquer executivo hoje fazer com que as

    o p r o b le m a a u m e n t a c o m ad e p e n d n c ia e x c e s s i v a d a st e c n o lo g ia s d e c o m u n ic a o .R e u n i e s e o v e l h o b r a i n s t o r m i n gs o f u n d a m e n ta i s n a s e m p re s a spessoas conversem de verdade umas com as outras. Reuniespresenciais e o velho brainstorm ing so fundamentais para qual-quer empresa. Mandar um e-mail com um anexo de PowerPointpode dar resultado em alguns casos, mas no na maior partedeles. preciso adotar um estilo mais fluido de comunicaointerna entre a administrao e os empregados.Na VirginAtlantic, quando estamos bolando uma nova cabinepara nossos avies, chamamos o pessoal da administrao, deprojetos e de marketing para que acompanhem desde o inciotudo o que ser feito. Um representante do grupo que utilizar acabine (isto , um membro da tripulao) far parte desse grupo,j que ele, em ltima anlise, ser responsvel pelo sucesso oupelo fracasso do novo local de trabalho. Se esse profissional nofor convocado, corre-se o risco de ouvir o seguinte comentrioda tripulao na primeira vez que entrar nessa cabine que custoumilhes de dlares: "Hurn, que beleza, mas onde fica a cafeteira?"Quando todos participam do desenvolvimento do produto, o pro-jeto no s sai melhor como tambm potencializa o sentimentode orgulho prprio dos trabalhos em equipe. Todos saem ganhan-do, inclusive os clientes e os acionistas. R I C H A R D B R A N S O N fun d a d o r d o gr up o V ir g inP a ra e nv ia r s ua p e rgun ta . e sc re va p a ra ric ha rdb ranso n@ nyt im e s .co m

    30 de junho de 2010 193