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www.msbrazil.com Risco de liquidez: marco regulatório e impacto na gestão Instituições Financeiras

Riscodeliquidez: marcoregulatórioeimpacto nagest ão · contemplem uma gama de cenários de estresse a curto e a longo prazo, visando identificar possíveis gaps de liquidez e garantir

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Risco de liquidez:marco regulatório e impactona gestão

Instituições Financeiras

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Índice

Introdução

Resumo executivo

Impactos da norma de liquidez

Estudo quantitativo da estabilidadedos depósitos

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Novas normas em termos de liquidez 8

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Estrutura de gerenciamentodo risco de liquidez 32

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Introdução

Edifício do Bank for International Settlements, Basileia (Suíça)

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O Comitê de Supervisão Bancária de Basileia define a liquidezcomo «a capacidade de uma instituição para financiaraumentos de seu volume de ativos e para cumprir suasobrigações de pagamento no vencimento, sem incorrer emperdas inaceitáveis»1.

Neste sentido, o risco de liquidez pode ser definido como aprobabilidade de incorrer em perdas por não dispor derecursos líquidos suficientes para cumprir as obrigações depagamentos comprometidas em um horizonte temporaldeterminado, e uma vez considerada a possibilidade de que ainstituição consiga liquidar seus ativos em condições razoáveisde tempo e preço2.

As instituições do setor financeiro se encontramparticularmente expostas ao risco de liquidez, devido ànatureza de suas atividades, dentre as quais está incluída acaptação de fundos. Trata-se de um risco inerente à atividadebancária; entretanto, o risco de liquidez havia recebido menosatenção que outros riscos, tanto por parte das instituiçõescomo dos reguladores. Assim, até 2010, a norma consistiafundamentalmente em uma série de princípios qualitativos nãovinculantes sobre o bom gerenciamento da liquidez.

Nos últimos anos, contudo, isto tem sofrido mudanças; a crisefinanceira e as restrições de liquidez fizeram com quereguladores e instituições iniciassem uma reflexão profundasobre o gerenciamento do risco de liquidez, com o objetivo degarantir a estabilidade financeira e prevenir novas situações deestresse. Por parte dos reguladores, esta reflexão se concretizouna definição de novos padrões normativos vinculantes e decaráter mais quantitativo, que estão atualmente em processode implantação.

Estes padrões implicam, contudo, uma séria de impactosmacroeconômicos e financeiros que estão sendo avaliadostanto por parte dos próprios reguladores como das instituiçõesfinanceiras. Um dos principais impactos é o aumento nacontração a curto prazo da liquidez nos mercados, o que estáfazendo com que as instituições atribuam ainda maisimportância aos depósitos de seus clientes como fonte definanciamento, efeito em parte promovido pelos própriosreguladores. 1Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, Principios para la adecuada gestión y

supervisión del riesgo de liquidez (2008).2O Comitê de Basileia faz a distinção entre risco de liquidez de fundos (o risco denão poder atender os fluxos de caixa esperados e inesperados sem afetar aoperação diária ou a condição financeira da instituição ) e risco de liquidez demercado (o risco de que uma instituição não possa fechar ou eliminar umaposição sem reduzir significativamente seu preço devido a uma perturbação ouuma profundidade inadequada do mercado). De qualquer forma, considera-seque os mesmos fatores ocasionam ambos tipos de risco de liquidez. Comitê deSupervisão Bancária de Basileia, The management of liquidity risk in financial groups(2006).

Neste contexto, as instituições estão desenvolvendo estruturasde gerenciamento que contemplam o risco de liquidez a partirdos ângulos: governança, organização e funções, políticas eprincípios, metodologia, teste de estresse, planos decontingência, ferramentas e reporting.

O presente documento pretende oferecer uma visão global (eao mesmo tempo detalhada) do risco de liquidez, queproporcione os principais elementos da situação atual e dastendências normativas e de gerenciamento deste risco. Paraisso, o documento tem quatro objetivos básicos que, após umresumo executivo, são desenvolvidos em quatro seções:

� Descrever a situação atual da norma de liquidez, comênfase especial na nova regulação emitida pelo Comitêde Basileia (conhecida como Basileia III).

� Caracterizar os impactos desta norma tanto na economiareal como no setor financeiro e identificar pontos quepossam ocasionar incerteza ou sobre os quais ainda nãoexiste acordo entre as instituições e os reguladores.

� Analisar um aspecto de grande relevância dogerenciamento da liquidez, como a estabilidade e adependencia macroeconômica dos depósitos dasinstituições financeiras, através de um estudoquantitativo com dados reais e de uma análise qualitativade vários casos singulares, tanto recentes comohistóricos.

� Por último, descrever como as instituições financeirasestão adaptando suas políticas a esta nova realidade, comênfase nas práticas mais avançadas do setor e os pontosde desenvolvimento futuro.

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Esta seção sintetiza as principais conclusões alcançadas nestedocumento em relação ao risco de liquidez no setor financeiro.Estas conclusões são desenvolvidas nas seçõescorrespondentes do documento.

Novas normas em termos de liquidez

1. Ainda que o risco de liquidez já fosse objeto de atençãopelo parte das instituições financeiras, nos últimos anos,aumentou a preocupação a esse respeito, derivada entreoutras causas, das circunstâncias do mercado ocasionadaspela crise financeira iniciada em 2007.

2. De fato, como consequência da crise, os reguladoresnacionais e supranacionais têm concentrado sua atenção naliquidez (e não apenas na solvência), e passaram, em umtempo relativamente breve, de promover algumasrecomendações gerais não vinculantes a desenvolvernormas detalhadas de cumprimento obrigatório que

incorporam, além disso, uma série de métricas e indicadoresquantitativos.

3. A maior parte da nova regulação sobre liquidez, incluindoBasileia III3, CRD4 IV, assim como a norma do Banco deEspaña ou da FSA5, adotou os princípios sobre boagovernança e gerenciamento de liquidez estabelecidospelo Comitê de Basileia em 2000 (última atualização em2008). Em linhas gerais, estes princípios estabelecem quecada instituição é responsável pelo bom liquidez, e paraisso, deve definir robustas garantindo que a liquidezsuficiente seja incluindo um buffer de ativos líquidos dealta qualidade e livres de encargos para enfrentar situaçõesde estresse.

Resumo executivo

3Comitê de Basileia, Basileia III: Marco internacional para a mensuração,normalização e acompanhamento do risco de liquidez (2010).4Capital Requirements Directive da Comissão Europeia (2011).5Financial Services Authority, regulador financeiro no Reino Unido.

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4. Entre as diferentes normas sobre liquidez, destaca-se ocitado acordo de Basileia III, publicado em 2010, que comoprincipal novidade, define um índice de cobertura deliquidez a 30 dias (LCR6), que obriga dispor de um buffer deativos líquidos explícito e bem definido, e outro definanciamento estável a um ano (NSFR7), concebido paratornar sustentável a estrutura de prazos dos ativos epassivos, além de outras ferramentas de acompanhamentoda liquidez. A implantação destes índices será progressiva:o LCR será obrigatório em 2015, e o NSFR, em 2018.

5. O acordo de Basileia III está sendo adotado na UniãoEuropeia mediante a Diretriz e o Regulamento conhecidoscomo CRD IV. Os índices LCR e NSFR fazem parte doRegulamento, o que implica que serão cumprimentoobrigatório em toda a União Europeia a partir do momentoem que entre em vigor. O CRD IV será aprovado peloParlamento Europeu em 2012 e o cumprimento dos índicessegue o mesmo cronograma que o de Basileia III.

6. Reguladores como o Banco de España ou a FSA, por suavez, desenvolveram normas com maior foco no reportingde liquidez que as instituições devem enviarperiodicamente ao supervisor. No caso do reguladorbritânico, é estabelecido também um processo deautoavaliação da liquidez que incorpora métricas desobrevivência perante cenários de estresse e que deve serrealizado periodicamente.

Impactos da norma de liquidez

7. De acordo com o último QIS8 publicado (dezembro de2010), para cumprir a norma de liquidez de Basileia III,as263 instituições participantes do QIS, de 23 países deaplicação de Basileia, necessitariam 1,73 trilhões de eurosde liquidez para cumprir o LCR e 2,89 trilhões de euros parao NSFR.

8. Está previsto que a norma de Basileia III tenha os seusbenefícios, centrados no aumento da estabilidadefinanceira, dentre os quais, cabe destacar a maiorresistência da liquidez a curto e a longo prazo, a melhoriado gerenciamento e o controle do risco de liquidez nasinstituições, a prevenção de novas crises sistêmicas deliquidez e o reforço da confiança dos investidores.

9. Não obstante, estão também previstas consequências nãodesejadas em distintos âmbitos; dentre elas, o aumento dademanda de liquidez aos bancos centrais, a contração acurto prazo da liquidez no sistema, uma possíveldiminuição da atividade de crédito, a redução darentabilidade das instituições e, a nível macroeconômico,uma previsível diminuição do PIB e um aumento dodesemprego.

10. De qualquer forma, considera-se que a maioria destesefeitos são incertos e de difícil quantificação e espera-seque o efeito final seja limitado uma vez concluída aimplantação de Basileia III e que, a longo prazo, osbenefícios compensarão os custos.

11. Por outro lado, embora o setor tenha recebidopositivamente o novo marco regulatório, subsistem certasincertezas e reticências sobre vários aspectos de suaimplantação, ainda pendentes de resolução:

�A penalização implícita aos bancos comerciais frenteaos bancos de atacado nas ponderações do NSFR aosdistintos tipos de ativos, aspecto que poderia sercorrigido no processo de calibragem dos índices (aindaem andamento).

�A percepção do mercado sobre as instituições duranteo período de transição até a implantação completa donovo marco regulatório.

�O caráter restritivo da definição dos ativos líquidos dealta qualidade, que exclui quase por completo osinstrumentos de securitização e as emissões deinstituições financeiras, e o incentivo potencial parainvestir em dívida soberana.

�Os impactos potenciais da norma sobre a própriaestrutura e o modelo de negócio das instituições.

�O possível efeito secundário sobre a inadimplência e asituação patrimonial das instituições.

6Liquidity Coverage Ratio7Net Stable Funding Ratio8Quantitative Impact Study

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Estudo quantitativo da estabilidade dosdepósitos

12. Um aspecto fundamental do gerenciamento da liquidez é aestabilidade dos depósitos, que faz parte do LCR de BasileiaIII. Concretamente, a norma estabelece que em umasituação de estresse de liquidez devem estar previstasalgumas saídas mínimas a um mês de entre 5% e 10% dosdepósitos de varejo, conforme sejam considerados estáveisou instáveis. O estudo realizado aponta que,nasinstituições financeiras espanholas analisadas e na janelatemporal histórica observada, estas porcentagens de fugade depósitos correspondem a um cenário de estresse comprobabilidade de ocorrência de 2,1% e 0,35%,respectivamente. Ou seja, a norma aplicada a estasinstituições representaria um nível de confiança de entre97,9% e 99,65%.

13. Existem diferenças moderadas, porém, estatisticamentesignificativas entre instituições, que apontam para que umaestimativa por parte de cada instituição de suas própriastaxas de saída de depósitos levaria a resultados maisajustados e a um LCR interno mais alinhado com a gestão eo perfil de financiamento da instituição.

14. A analisar o comportamento dos depósitos nas instituições,o estudo demonstra um comportamento sistêmico oucadenciado que pode ser calculado em 50% do movimentototal9. Deste comportamento sistêmico, aproximadamente40%10 pode ser explicado através de um modeloeconométrico em função de vários fatoresmacroeconômicos: a renda disponível, o saldo em fundosde investimento, a taxa da poupança, o preço da moradia eo desemprego; e os 10% restantes corresponderiam afatores latentes.

9Segundo uma análise de componentes principais.10Correspondente ao R2 do modelo econométrico.

15. Em uma análise qualitativa individualizada do movimentodos depósitos em instituições diversas durante o períodoconsiderado (2004-2011), observa-se que:

� Em termos gerais, as instituições se mantêm na faixa devariações trimestrais de entre 10% e 10%.

�Os aumentos superiores a 10% devem-sefundamentalmente a ações comerciais, como asempreendidas na denominada «guerra do passivo», oua fusões ou aquisições.

�As reduções acima de 10% são pouco frequentes edevem-se, em muitos casos, a notícias tão negativasque podem supor o colapso da instituição , como oanúncio de uma intervenção por parte do supervisor,de uma solicitação de liquidez massiva ao bancocentral ou, inclusive, da possível suspensão depagamentos por parte de um Estado, que podemocasionar saídas de até 30% dos depósitos em apenasum trimestre.

� Em relação à retirada de depósitos, o estudo demonstraque os clientes são menos sensíveis a outros eventos,como o rebaixamento de rating ou a publicação deresultados moderadamente negativos.

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Estrutura de gerenciamento do risco deliquidez

16. Como consequência dos novos requisitos regulatóriosdescritos e das condições de mercado herdadas da crise, asinstituições financeiras estão evoluindo sua estrutura degerenciamento da liquidez de forma substancial, o que émanifestado em âmbitos distintos: governança,organização e funções, políticas e princípios básicos;métricas, metodologias e limites, teste de estresse e planosde contingência; e reporting e ferramentas.

17. Governança: na estrutura de governança são estabelecidasnovas responsabilidades na definição e monitoramento dapolítica de gerenciamento do risco de liquidez e sua relaçãoe consistência com o apetite por este risco, é definida agovernança do plano de contingência e o risco de liquidezé incorporado à estrutura da decisão (limites, decisões decriação de novos produtos e aprovação de operações comimpacto relevante na liquidez). Além disso, é reforçada aestrutura de comitês operacionais em que o ALCO delegafunções táticas de liquidez.

18. Organização e funções: o modelo organizacional ésustentado por dois princípios fundamentais: oenvolvimento da Alta Administração para que as políticassobre liquidez sejam implantadas de forma efetiva e asegregação entre as funções de originação egerenciamento, por um lado, e de controle e supervisão daliquidez por outro, com foco em Finanças e Riscos,respectivamente. Aprofunda-se também em aspectos comoa segregação de funções entre a Finanças e a Tesouraria nogerenciamento da liquidez estrutural e operacional, apotenciação de determinados objetivos de gestãoderivados da manutenção de buffers de liquidez detamanho significativo, ou a constituição de mesas de LVA(Liquidity Value Adjustment).

19. Políticas e princípios básicos: as instituições estãoreforçando a concretização de princípios de gerenciamentodo risco de liquidez (administrar todas as moedasrelevantes, assegurar a continuidade do negócio, manterum buffer de ativos líquidos e um perfil de fontes definanciamento diversificado, etc.) e avançando em aspectoscomo os mecanismos para integrar o custo da liquidez nosprocessos de decisão, a descentralização do gerenciamentodo risco de liquidez por países e a intensificação de esforçosno gerenciamento da liquidez intradia e das garantiascomo fonte de liquidez, assim como no acompanhamentode indicadores de mercado e da própria instituição.

20. Métricas, metodologias e limites: as instituições avançam naintegração da gerenciamento de novas métricas de risco deliquidez e na modelagem de seus componentes,melhorando a consistência entre os distintos elementos edesenvolvendo seu backtest de liquidez. Evolui noestabelecimento de limites tanto em termos degranularidade como de complexidade das métricas e orisco de liquidez é incorporado ao pricing das operações

através de ajustes pelo valor da liquidez em derivativos detaxas de transferência interna (TTI). Em relação a este últimoaspecto, as instituições estão aperfeiçoando seus sistemasde TTI para mensurar com maior precisão a rentabilidade deseus negócios e incentivar políticas de gestão relacionadasao risco de liquidez, o que implica, entre outras questões, odesenvolvimento de curvas que reflitam o custo demercado do financiamento e propõe alguns desafiosmetodológicos sobre os quais ainda não existe consenso nosetor.

21. Teste de estresse e planos de contingência: as instituiçõesestão desenvolvendo metodologias e cenários de estressede liquidez que utilizam no estabelecimento de apetite porrisco e limites. Estão também modificando seus planos decontingência de liquidez e redefinindo os procedimentospara seu acompanhamento e atualização periódica. Alémdisso, avançam no desenvolvimento da planejamentointegrado de capital e liquidez.

22. Reporting e ferramentas: os novos requisitos não apenasobrigam a realização de novos cálculos; implicam tambémuma exigência maior em relação à atual em termos degranularidade e frequência de cálculo. Consequentemente,as instituições estão reforçando seu modelo de informaçãoe infraestrutura tecnológica para o gerenciamento do riscode liquidez, o que inclui o desenvolvimento de bases dedados, motores de cálculo para os índices e outras métricasde liquidez e dashboards que englobem tanto relatóriosregulatórios como gerenciais. Tanto o desenvolvimentocomo a consistência entre estas ferramentas e entre oreporting de liquidez e o de solvência são um desafio emque a maioria das instituições ainda estão imersas.

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Novas normas em termos de liquidez

Nos últimos anos, distintos organismos supranacionais ereguladores nacionais têm publicado vários documentosrelativos ao risco de liquidez, que pretendem:

� Apresentar alguns requisitos quantitativos mínimos emrelação ao risco de liquidez alavancados em uma estruturade mensuração diferente do aplicado em outros riscosfinanceiros, visto que uma maior disponibilidade ouqualidade de capital não permite necessariamente repararos efeitos adversos da iliquidez.

� Definir a informação que o supervisor necessita para avaliaro perfil de risco de liquidez das instituições.

� Conseguir uma maior harmonia internacional que reforce ogerenciamento e supervisão do risco de liquidez.

Nesta seção estão resumidas as principais recomendações enormas relativas ao risco de liquidez publicadas por diversosórgãos que foram selecionados pela sua relevância ourepresentatividade:

� O Comitê de Basileia, como principal órgão supranacionalde referência em termos de normas de riscos, querecentemente formulou padrões sobre liquidez que estãosendo adotados internacionalmente.

� A Comissão Europeia, que em CRD11 IV está implementandoas normas propostas por Basileia, que serão decumprimento obrigatório em toda a União Europeia.

� O Banco de España, como regulador e supervisor-membrodo Sistema Europeu de Bancos Centrais que desenvolveuseus próprios padrões de risco de liquidez e está emprocesso de adoção da norma de Basileia.

11Capital Requirements Directive

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Princípios para o adequadogerenciamento do risco de liquidezO Comitê de Basileia publicou em 2000 (última versão de 2008)o documento Sound Practices for Managing Liquidity in BankingOrganisations, que contém alguns princípios para umaadequado gerenciamento da liquidez nas instituiçõesfinanceiras que, de forma geral, foram adotados pelosdiferentes supervisores locais, incorporando sua própriaregulação em termos de gerenciamento do risco de liquidez.

A seguir, estão resumidos os principais aspectos consideradospor estes princípios.

1. Princípio fundamental para gerenciamento e supervisão dorisco de liquidez (Princípio 1)

O princípio fundamental, do qual se deriva o restante,estabelece que uma instituição é responsável pelo bomgerenciamento de seu risco de liquidez, e para isso deverádefinir um estrutura de gerenciamento robusto para garantirque a liquidez suficiente seja mantida (incluindo um buffer deativos líquidos de alta qualidade e livres de encargos) paraenfrentar uma série de eventos que geram estresse, incluindo osque causam a perda ou deterioração das fontes definanciamento.

Os supervisores devem avaliar a suficiência da estrutura degerenciamento e a posição de liquidez da instituição e devemadotar as medidas oportunas se detectarem deficiências nestesentido, visando proteger os depositantes e limitar possíveisdanos ao sistema financeiro em seu conjunto.

2. Boa governança do risco de liquidez (Princípios 2 a 4)

As instituições devem estabelecer com clareza uma tolerânciaao risco de liquidez adequada à sua estratégia de negócio, eincluir para todas as atividades de negócio custos, benefícios eriscos de liquidez nos processos de determinação de preços,mensuração de resultados e aprovação de novos produtos.

A Alta Administração deve desenvolver estratégias, políticas epráticas para administrar o risco de liquidez de acordo com suatolerância ao risco, que devem ser aprovadas pelo Conselho deAdministração, e informar este último sobre a evolução daliquidez.

O Conselho de Administração deve, pelo menos uma vez porano, examinar e aprovar as estratégias, políticas e práticas degerenciamento da liquidez, e certificar-se de que a AltaAdministração administra o risco de liquidez com eficácia.

3. Mensuração e gerenciamento do risco de liquidez (Princípios5 a 12)

As instituições devem contar com um adequado processo deidentificação, mensuração, vigilância e controle do risco deliquidez.

Devem-se monitorar e controlar de forma ativa as exposições aorisco de liquidez e as necessidades de financiamento dentro decada instituição legal, linha de negócio e moeda, como tambémentre as mesmas, levando em conta as limitações jurídicas,regulatórias e operacionais para a transferência de liquidez.

Cabe estabelecer limites para controlar a exposição evulnerabilidade ao risco de liquidez (que deverão ser revisadosperiodicamente).

É preciso estabelecer indicadores qualitativos e quantitativos dealerta precoce com o objetivo de reconhecer o aparecimento deriscos ou vulnerabilidades adicionais na posição de liquidez decada instituição ou possíveis necessidades de financiamento.

Estará disponível um sistema de informação planejado parafacilitar informação pontual e prospectiva sobre a posição deliquidez da instituição ao Conselho de Administração, a AltaAdministração e outros funcionários competentes.

� A FSA12, como autoridade bancária pioneira na regulação daliquidez, com norma publicada antes dos padrões deBasileia III que contém critérios, em geral, mais restritivos.

As principais características das normas propostas por estesórgãos reguladores estão resumidos a seguir.

Princípios formulados pelo Comitê de Basileiapara o adequado gerenciamento do risco deliquidez

Trata-se de um conjunto de normas comumente aceitas para ogerenciamento do risco de liquidez, publicadas em 2000 (últimaversão de 2008) no documento Sound Practices for ManagingLiquidity in Banking Organisations, que foram adotadas de formageneralizada por diferentes órgãos supervisores nacionais.Postulam que cada instituição tem a responsabilidade dedefinir estruturas robustas de gerenciamento de sua liquidez emanter uma posição de liquidez adequada (aspectos quedevem ser avaliados pelos supervisores), estabelecer suatolerância ao risco de liquidez e garantir o envolvimento doConselho de Administração e da Alta Administração em seugerenciamento e controle.

Além disso, as instituições devem contar com um processoadequado de identificação, mensuração, monitoramento econtrole do risco de liquidez, incluindo o estabelecimento delimites e indicadores qualitativos e quantitativos, um sistema deinformação apropriado e um modelo de teste de estresse deliquidez.

Por último, as instituições devem dispor de uma estratégia definanciamento diversificada e manter um buffer de ativoslíquidos de alta qualidade e livres de encargos para enfrentarsituações de estresse de liquidez da instituição ao Conselho deAdministração, a Alta Administração e outros.

12Financial Services Authority

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Em todo caso, quando a exposição superar 1% do passivo total da instituição :

Basileia III

O acordo conhecido como Basileia III (publicado pelo Comitê deBasileia em 2010 após um processo consultivo iniciadodezembro de 2009) consiste em uma referência na regulação daliquidez e desenvolve padrões para sua mensuração e controleque são traduzidos em dois índices de cumprimentoobrigatório e algumas ferramentas de acompanhamento dorisco de liquidez.

O LCR (Liquidity Coverage Índice) pretende garantir que ainstituição mantenha um nível suficiente de ativos líquidos dealta qualidade e livres de encargos para sobreviver a um cenáriode estresse de liquidez de 30 dias, e o NSFR (Net Stable FundingÍndice) pretende assegurar uma estrutura equilibrada dobalanço e limitar uma dependência excessiva do financiamentode atacado a curto prazo, para o qual define um mínimo definanciamento estável em um prazo de um ano (Figura 1).

O LCR será de cumprimento obrigatório em 2015, e o NSFR, em2018, após um período de observação durante o qual serápossível ajustar alguns de seus parâmetros.

Figura 1. Índices de liquidez exigidos por Basileia III

Figura 2. Outras ferramentas de acompanhamento de liquidez exigidas por Basileia III

13Comitê de Supervisores Bancários Europeus, na sigla em inglês, que em1/1/2011 se integrou à Autoridade Bancária Europeia (EBA).

Gap devencimentoscontratuais

Gap de vencimentos contratuais em horizontes temporais distintos:· Com o vencimento contratual mais distante possível nos ativos e mais próximo nos passivos.· Sem hipótese de manutenção do tamanho do balanço nem sobre os ativos sem vencimento.

Informação sobre a quantidade, tipo e localização de ativos não comprometidos que possam ser utilizados comogarantias: 1. Classificados por moedas significativas. 2. Estimando o haircut exigido sobre seus ativos pelo mercado oupelo banco central elegível. 3. Estimando o valor monetário esperado da garantia.

Nível de ativos líquidos de alta qualidade de cada moeda/saídas líquidas de caixa em um período de 30 dias de cadamoeda: · As saídas deverão ser líquidas das coberturas em moeda estrangeira.

· Uma moeda é considerada significativa se alcança 5% dos passivos.

Três tipos de informação:· Informação do mercado em sentido amplo (renda variável, commodities,dívida,etc.).· Informação do setor financeiro (renda variável e dívida).· Informação específica para cada instituição financeira (preços das ações, spreads de CDS; preços de contratação

nos mercados monetários; preços da dívida, etc.

Concentração defontes de

financiamento

Ativosdisponíveis nãocomprometidos

LCR porprincipais moedas

Ferramentas deacompanhamentode mercado

Dívida com contraparte significativaBalanço totalA=

Dívida por instrumento significativoBalanço totalB=

Buffer de ativos líquidos de alta qualidadeSaídas líquidas de tesouraria em 30 dias

≥≥ 100%LCR=

Assegurar que a instituição conta com ativos líquidossuficientes para enfrentar as saídas líquidas de liquidez ao

longo de 30 dias, em um cenário de estresse.

Índice Cobertura Liquidez (c.p.) - LCR

Nível disponível de financiamento estávelNível exigido de financiamento estável >> 100%NSFR=

Assegurar uma estrutura equilibrada do balanço,em que as necessidades de financiamento estáveis estejam

baseadas em passivos estáveis.

Índice Financiamento Líquido Estável (l.p.) - NSFR

Além dos índices, o Basileia III propõe a utilização sistemáticade outras ferramentas complementares de acompanhamentocomo elemento básico para que os supervisores avaliem o riscode liquidez das instituições (Figura 2).

CRD IV

Após a publicação de vários guias com recomendações porparte do CEBS13, a Comissão Europeia está adotando o acordode Basileia III na forma de uma Diretriz e um Regulamentoconhecidos como CRD IV. A Diretriz reflete essencialmente osprincípios básicos publicados pelo Comitê de Basileia nodocumento Sound Practices for Managing Liquidity in BankingOrganisations, ao passo que o Regulamento incorpora, entreoutros, os índices LCR e NSFR com mesma definição ecronograma de aplicação que o Basileia III.

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Princípios para o adequadogerenciamento do risco de liquidez (cont.)Será determinada uma estratégia de financiamento quecontemple uma diversificação eficaz das fontes e prazos devencimento do financiamento, a manutenção contínua dapresença nos mercados de financiamento escolhidos e asestreitas relações com os provedores de fundos, a calibragemperiódica de sua capacidade para obter com presteza fundos decada fonte e a identificação dos principais fatores que afetamsua capacidade de captar fundos, vigiando-os rigorosamente.

Cabe administrar ativamente as garantias constituídas,diferenciando entre ativos sujeitos a encargos e livres deencargos, bem como a instituição legal e a localização físicaonde se encontrem as garantias e a forma em que estaspoderiam mobilizar-se com presteza.

Deverão ser realizados testes periódicos de estresse quecontemplem uma gama de cenários de estresse a curto e a longoprazo, visando identificar possíveis gaps de liquidez e garantirque as exposições tenham relação com a tolerância ao risco deliquidez estabelecida.

Os resultados dos testes de estresse deverão ser utilizados parao desenvolvimento de planos de contingência eficazes, queserão revisados periodicamente.

As instituições deverão manter um buffer de ativos líquidos dealta qualidade e livres de encargos como seguro frente a umasérie de cenários de estresse de liquidez. Não deverá existirnenhum obstáculo de índole jurídica, regulatória ouoperacional que impeça a utilização destes ativos para obterfinanciamento.

4. Outros princípios (Princípios 13 a 17)

As instituições realizarão uma difusão pública (Princípio 13) desua informação em termos de liquidez para manter osparticipantes do mercado informados.

Finalmente, desenvolvem-se os preceitos que os supervisoresdeverão considerar no exercício de sua função (Princípios 14 a17).

14Aprovados pela primeira vez na CBE 4/2011, porém, já existiam para consultadesde 2009 (denominados ‘Demonstrações L’).15Capítulo 12 do Prudential Sourcebook for Banks, Building Societies and Investment Firms.

Figura 3. Principais marcos em normas de liquidez

Banco de España

O supervisor espanhol também incluiu em sua norma diretrizesespecíficas relativas ao risco de liquidez através das Circulares3/2008 e 4/2011. Estas Circulares transpõem, na prática, asSound Practices for Managing Liquidity in Banking Organisationsdo Comitê de Basileia, e definem o reporting oficial de risco deliquidez: as Demonstrações LQ14, de periodicidade mensal, queapresentam alguns elementos comuns com as ferramentas deacompanhamento de Basileia III. Além disso, em dezembro de2011 o Banco de España adotou como próprios os guias doCEBS sobre liquidez, nos quais, entre outros aspectos,apresentam-se diretrizes sobre a mensuração das posições deliquidez a curto, médio e longo prazo e o estabelecimento delimites sobre liquidez.

FSA

O supervisor britânico foi pioneiro na regulação da liquidezatravés da publicação em dezembro de 2009 (após uma sériede documentos consultivos prévios) do BIPRU 1215, cujaaplicação completa ocorreu em 2010. Seus aspectos maisrelevantes são a solicitação às instituições de um processo deautoavaliação de liquidez (Individual Liquidity AdequacyAssessment, ILAA), a elaboração de um guia de liquidezespecífico para cada instituição (Individual Liquidity Guidance,ILG), o acompanhamento dos índices LCR e NSFR de Basileia III ede um índice adicional a três meses (alinhado com o ILG), e umaestrutura de reporting ao regulador que contemple o reportede fluxos de caixa diários, gaps e buffer de liquidez,concentração e custo das fontes de financiamento, cujaperiodicidade em geral é semanal, porém, pode chegar a serdiária.

Fonte: elaboração própria a partir de informações de BIS, EBA, Comissão Europeia, Banco de España e FSA.

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Em termos gerais, o setor financeiro recebeu de forma positivaa nova norma sobre liquidez e reconheceu o efeito benéficoque terá sobre a estabilidade financeira e a prevenção de novascrises sistêmicas de liquidez, assim como na harmonização dosrequisitos em nível internacional. Não obstante, persiste certaincerteza com respeito a determinados impactos derivados daatual calibragem dos índices que foi destacada pelas própriasinstituições em seus comentários ao documento consultivo deBasileia III publicado em 2009.

Algumas das principais questões abertas que podem ser acausa de potenciais impactos são:

� A definição dos ativos líquidos de alta qualidade, quealgumas instituições consideram muito restritiva, visto queexclui ativos como as securitizações, a dívida emitida porinstituições financeiras (incluindo a avalizada pelosgovernos) ou as ações listadas em mercados organizados, eque não está alinhada com os critérios de elegibilidade doBCE e outros bancos centrais.

� O fato de que um enfoque único de ponderações no LCR eno NSFR, com margem reduzida para as estimativasinternas, possa não refletir bem a variedade de modelos denegócio financeiro e penalizar alguns deles.

� Particularmente, o fato de que as ponderações dos distintostipos de ativos nos índices de liquidez (por exemplo,obrigações frente a empréstimos ou créditos a clientes devarejo frente a de atacado) poderia penalizar determinadosmodelos de negócio.

� A determinação de um esquema de financiamento deativos a curto prazo com passivos a longo prazo (implícitana definição do NSFR), que contravém a função detransformação de vencimentos desempenhada pelo setorfinanceiro.

Impactos da norma de liquidez

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Figura 4. Resultados do QIS sobre índices de cobertura enecessidades de liquidez

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Basileia IIIObjetivo

O objetivo das medidas propostas por Basileia III é melhorar acapacidade do setor bancário para absorver perturbaçõesprocedentes de estresses financeiros ou econômicos de qualquertipo, reduzindo o risco de contágio do setor financeiro naeconomia real.

Principais componentes

Basileia III não especifica os elementos qualitativos relacionadosa governança, políticas e outros procedimentos (como teste deestresse ou planos de contingência de liquidez) a efeitos dogerenciamento do risco de liquidez, visto que estes já sãoabordados nos princípios do documento Sound Practices forManaging Liquidity in Banking Organisations.

A principal novidade do acordo é a definição dos índices deliquidez a curto prazo (LCR) e a longo prazo (NSFR), decumprimento obrigatório e outras ferramentas que asinstituições devem utilizar para monitorar seu risco de liquidez.

• Índice de cobertura de liquidez (Liquidity Coverage Índice ouLCR): é uma métrica a curto prazo que visa garantir que umainstituição mantenha um nível suficiente de ativos líquidos dealta qualidade e livres de encargos que possam sertransformados em caixa para satisfazer suas necessidades deliquidez durante um período de 30 dias corridos, em umcenário de estresse de liquidez.

Segundo a norma, este cenário incorpora muitas dasperturbações experimentadas durante a crise iniciada em2007: retirada parcial de depósitos de varejo, perda parcial dacapacidade de financiamento não garantida em mercados deatacado, etc.

O LCR é expresso da seguinte forma:

LCR = ≥ 100%

onde:

Buffer de ativos líquidos de alta qualidade: é o fundo deativos com que as instituições devem contar para enfrentaremsuas necessidades de liquidez. A norma define ascaracterísticas que estes ativos e seus mercados devem terpara serem considerados como de alta qualidade (porexemplo, que estejam livres de encargos), dividindo-os emdois níveis de liquidez em função de tais características (aosegundo nível é aplicado um haircut para sua consideraçãono buffer).

Saídas de caixa totais líquidas em 30 dias corridos: sãodefinidas como as saídas de caixa totais previstas menos asentradas de caixa totais previstas no cenário de stresseespecificado durante os seguintes 30 dias corridos. As saídasde caixa totais previstas são calculadas multiplicando osmontantes vigentes das diversas categorias ou tipos depassivo e dos compromissos fora do balanço pelas taxas quese espera que sejam canceladas ou descartadas. No caso dosdepósitos de varejo, estas taxas são de 5% para os depósitosestáveis e de 10% para os menos estáveis. As entradas decaixa totais previstas são os montantes vigentes das diversascategorias de direitos de cobrança pelas taxas que se esperaque entrem no banco segundo o cenário especificado, até umlimite máximo agregado de 75% das saídas de caixa totaisprevistas.

A norma considera que este índice deve ser maior ou igual a100% para garantir que as necessidades mínimas de liquideza curto prazo (30 dias) sejam cobertas.

Além disso, demonstram também reservas sobre a necessidadede publicar as métricas de liquidez com a granularidade eperiodicidade prescritas, que por sua natureza, podem servoláteis e ter uma repercussão indesejada nos mercados.

Distintos órgãos âmbito nacional e internacional, com apoio doambiente acadêmico, realizaram estudos para analisar oimpacto que a norma pode ter sobre a economia.Concretamente, para avaliar os efeitos da implantação deBasileia III, o Comitê de Basileia realiza periodicamente análisesde impactos quantitativos (QIS) sobre uma amostra deinstituições em processo de adaptação a esta norma. Os últimosresultados publicados16 em dezembro de 2010 abrangem 263bancos de 23 países (94 deles pertencentes ao grupo 1, ou seja,com mais de 3 trilhões de euros de capital, diversificados einternacionalmente ativos).

A partir destes resultados, deduz-se que unicamente 46% dasinstituições estudadas cumpria o LCR e que para quecumprissem os restantes 54%, seriam necessários 1,73 trilhõesde euros de liquidez a curto prazo. Em relação ao NSFR, anecessidade atinge 2,89 trilhões de euros de liquidez a longoprazo, correspondentes a 57% de instituições que nãocumpririam o índice (Figura 4).

16Results of the Comprehensive Quantitative Impact Study, Comitê de Basileia,dezembro de 2010, que contém dados relativos ao fechamento de 2009..

Grupo LCR (média) NSFR (média)

1 83% 93%

2 98% 103%

Observações

� Somente 46% dasinstituições cumpremo LCR.

� Para que os 54%restantes sejamcumpridos, sãonecessários 1,73bilhões de euros.

� Somente 43% dasinstituições cumpremo LCR.

� Para que os 57%restantes sejamcumpridos, sãonecessários 2,89bilhões de euros.

Nota: em 12 de abril de 2012, o Comitê de Basileia publicou os Resultadosdo exercício de monitoração de Basileia III em 30 de junho de 2011. Nestesresultados se indica que os LCR médios são de 90% e 83% para os grupos1 e 2, o que implica uma necessidade adicional de liquidez a curto prazode 1,76 trilhões de euros. O NSFR médio é de 94% nos grupos 1 e 2, o queimplica uma necessidade acima de 2,78 trilhões de euros.

Buffer de ativos líquidos de alta qualidade Saídas de caixa totais líquidas em 30 dias corridos

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Mais além do QIS, foram realizados diversos estudos no setor e oComitê de Basileia criou vários grupos de trabalho com o objetivode avaliar os efeitos das métricas de liquidez propostas porBasileia III; entre eles encontram-se o (Macroeconomic AssessmentGroup) do Financial Stability Board e o LEI (Long-term EconomicImpact Group). Estes efeitos também foram avaliados por estudosdo IIF (Institute of International Finance17).

Em termos gerais, os estudos avaliam o impacto dos novosrequisitos em um cenário de aumento dos ativos líquidos durantedistintos períodos de transição, combinando com a extensão dovencimento dos passivos de atacado, e identificam uma série deefeitos potenciais que serão abordados nesta seção.

Embora exista certa incerteza sobre a quantificação destes efeitos,existe um consenso razoável na consideração de determinadosbenefícios e riscos potenciais (Figura 5).

Benefícios

O principal benefício da introdução das medidas estariavinculado à estabilidade financeira, derivada da melhoria dacapacidade do setor bancário de absorver perturbaçõesprocedentes de estresses financeiros ou econômicos,reduzindo, com isso, o risco de contágio do setor financeiro naeconomia real, através dos seguintes aspectos:

� Reforço da resistência do perfil de risco de liquidez a curtoprazo das instituições, ao garantir que dispõem desuficientes ativos líquidos de alta qualidade para suportarsituações de estresse de liquidez, e a longo prazo, ao criarincentivos para que as instituições se financiem com fontesmais estáveis de forma contínua

Figura 5. Benefícios e riscos potenciais da implantação dasnormas de liquidez

Fonte: elaboração própria a partir de estudos do MAG e do LEI

� Melhoria do gerenciamento e do controle das instituiçõessobre seu risco de liquidez, ao reforçar os padrões do setorsobre esta questão e promover o estabelecimento deestruturas integradas que abranjam todos os aspectos dogerenciamento da liquidez.

� Consolidação do enfoque supervisor sobre o risco deliquidez, através da aplicação coerente das mesmas normasharmonizadas em nível internacional e com valoresprescritos.

� Proteção diante de potenciais crises sistêmicas de liquidez;o LEI Group estima18 uma redução da probabilidade de crisesistêmica de 3% a 1,6%.

Riscos potenciais a curto prazo

Porém, surgem alguns riscos de potencial impacto a curtoprazo

� Aumento da demanda de liquidez das instituições aosbancos centrais (a curto e longo prazo), como consequênciados requisitos regulatórios.

� Contração da liquidez do sistema, visto que as instituiçõesmantêm maiores níveis de ativos líquidos de alta qualidadeno balanço e, portanto, diminuindo a demanda de ativosnão contemplados na definição regulatória do buffer. Istopode prejudicar os mercados destes ativos ou definanciamento a curto prazo.

� Possível diminuição do volume de crédito, comoconsequência da contração da liquidez e a necessidade dasinstituições de manter o buffer de liquidez, e diminuição darentabilidade, já que para cumprir a norma, as instituiçõesdeverão investir em ativos líquidos de alta qualidade, eportanto, com menor margem.

� Possíveis impactos no PIB, como consequência da contraçãodo crédito, o que por sua vez, poderia ter consequências nonível de desemprego.

Estes efeitos são incertos e de difícil quantificação e espera-seque o impacto final seja limitado e que, a longo prazo, osbenefícios compensem os custos.

Analisando o anterior, com base nos comentários do setorfinanceiro e nos distintos estudos publicados19, podem-sedestacar os seguintes efeitos contrapostos nos âmbitos que seencontram mais afetados pela introdução dos novos padrões:

1. Impactos sobre a rentabilidade das instituiçõesfinanceiras.

2. Impactos no modelo de negócio das instituiçõesfinanceiras.

3. Modificação dos mecanismos de financiamento dasinstituições financeiras.

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Basileia III (cont.)De qualquer forma, a norma destaca que o cenário definidopara o LCR é um requisito supervisor mínimo e que asinstituições devem realizar seus próprios testes de estresseadicionais considerando horizontes temporais mais amplos.

• Índice de financiamento líquido estável (Net Stable FundingRatio o NSFR): visa limitar uma dependência excessiva dofinanciamento de atacado a curto prazo durante períodos deliquidez abundante no mercado e fomentar uma avaliaçãomais precisa do risco de liquidez de todos os elementosdentro e fora do balanço, neutralizando os incentivos dasinstituições para financiar seu fundo de ativos líquidos comfundos a curto prazo com vencimento logo após o período de30 dias do índice LCR.

Para isso, estabelecem um valor mínimo aceitável definanciamento estável em função das características deliquidez dos ativos e atividades da instituição ao longo de umhorizonte temporal de um ano.

O NSFR é expresso da seguinte forma:

onde:

Quantidade disponível de financiamento estável: é definidacomo a proporção dos tipos e montantes de recursos própriose alheios que se espera que sejam fontes confiáveis definanciamento durante um horizonte temporal de um ano emcondições de estresse prolongado. É calculada atribuindo acada categoria de financiamento um fator definido pelanorma.

Quantidade necessária de financiamento estável: é umafunção das características de liquidez dos diversos tipos deativos, das posições contingentes fora de balanço assumidasou das atividades realizadas. A norma define os fatores aserem aplicados a estes elementos para efeitos de suaconsideração como financiamento necessário estável.

Outras ferramentas de acompanhamento: como medidascomplementares aos índices de liquidez, Basileia III propõe autilização sistemática de outras ferramentas deacompanhamento:

- Gap de vencimentos contratuais*.- Concentração de fontes de financiamento por contraparte,

por instrumento ou produto significativo, por moeda epor horizonte temporal.

- Ativos disponíveis livres de encargos.- LCR por moeda significativa.- Ferramentas de acompanhamento baseadas em dados de

mercado.Cronograma de aplicação

Embora as disposições de Basileia não tenham força legal, seusmembros aprovaram um cronograma comum para implantar ascitadas medidas:

• Reporte durante o período de observação: desde 1 de janeirode 2012, as instituições devem reportar o LCR e o NSFR aseus supervisores com a periodicidade necessária.

• Fechamento da definição: em meados de 2013 será encerradaa definição do LCR, e a meados de 2016, a do NSFR.

• Entrada em vigor: o cumprimento obrigatório do LCR entraráem vigor em 1 de janeiro de 2015 e do NSFR em 1 de janeirode 2018.

4. Impactos sobre a estabilidade financeira.5. Aumento da demanda de dívida soberana.6. Demanda de liquidez aos bancos centrais.7. Aumento do custo e diminuição do volume do crédito.8. Aumento da inadimplência e contração do PIB e do

emprego.

Para cumprir os novos padrões de liquidez, os bancos terão queinvestir em ativos menos rentáveis e mais líquidos, reduzindosuas posições, portanto, em ativos mais rentáveis, o queprevisivelmente causará impacto em suas margens.

Além disso, em um contexto em que a maioria das instituiçõesprecisa recorrer ao mercado para, ao mesmo tempo, captarcapital e ativos líquidos, existe certa incerteza com respeito àelasticidade da oferta de ambos elementos a curto prazo:quanto maior for o aumento dos preços dos ativos diante destademanda, maior será o custo para as instituições paracumprirem os novos requisitos regulatórios.

Um comentário generalizado sobre a nova norma de liquidez éque um enfoque único de ponderações no LCR e no NSFR nãopode refletir de forma adequada a variedade de modelos denegócio financeiro e que, portanto, seria desejável um enfoquemais flexível e adaptado aos distintos modelos de negócio paranão penalizar nenhum deles.

Particularmente, algumas instituições consideram que acalibragem atual dos índices prescritos na norma penaliza osbancos comerciais frente aos bancos de atacado, devido aaspectos como as ponderações dos distintos tipos de ativos noNSFR (por exemplo, obrigrações frente a empréstimos, ou aponderação de 85% aos créditos livres de encargos a clientesde varejo e pequenas empresas com vencimento residualinferior a um ano, frente a 50% dos créditos de atacado com omesmo vencimento).

Embora estes aspectos poderiam ser modificados durante oprocesso de calibragem dos índices, o que ainda não foiconcluído, o efeito anterior é considerado pouco justificado,visto que os bancos comerciais têm demonstrado maiorresistência durante a crise.

*Entendido como a diferença entre as entradas e saídas contratuais decaixa e de títulos dentro e fora do balanço atribuídas a ligaçõestemporais em função de seus respectivos vencimentos.

Cantidad de financiación estable disponibleCantidad de financiación estable requerida

17Associação global de instituições financeiras, que inclui os 420 principais bancosde mais de 70 países.18Basel III: Long-term impact on economic performance and fluctuations, LEI (2011).19MAG, Assessing the macroeconomic impact of the transition to stronger capital andliquidity requirements (2010); Serviços da Comissão Europeia, SEC (2011) 949 final,Annex X (2011); Institute of International Finance (IIF), ‘The Cumulative Impact onthe Global Economy of Changes in the Financial Regulatory Framework’, (2011); FMI,Working Paper, WP/11/103 Macroeconomic costs of higher bank capital and liquidityrequirements, Scott Roger and Jan Vlček (2011); Banco de España. EstabilidadFinanciera, Núm. 19: Impacto macroeconómico del reforzamiento de los requisitos decapital y liquidez, Ángel Gavilán (novembro 2010); Banco de España. EstabilidadFinanciera, Núm. 21. El impacto de los nuevos estándares de liquidez desde el puntode vista de un banco central, Liliana Toledo Falcón (novembro 2011); OECD, OECDJournal: Financial Market Trends Thinking beyond Basel III: necessary solutions forcapital and liquidity (2010).

NSFR = > 100

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Por outro lado, visto que as instituições não haviam sidosubmetidas até o momento a requisitos normativos em termosde liquidez, existe certa incerteza sobre a reação que a novaregulação irá provocar nas instituições em termos dereorientação do negócio para produtos que equilibremmargem e liquidez. A este respeito, a opinião do MAG é que ofato de que historicamente o índice de ativos líquidos sobreativos totais não tenha tido um efeito significativo sobre asmargens de crédito, ou sobre outras variáveismacroeconômicas, não implica necessariamente que os novosrequisitos de liquidez venham a ter um impacto reduzido.

A definição do LCR poderia propiciar uma substituição dedemanda unsecured a curto prazo por demanda em repo,sendo o efeito no mercado interbancário unsecured, além doaumento da inclinação da curva, uma diminuição do número deinstituições participantes e do volume negociado, com efeitosde retroalimentação: dada a menor participação no mercado,seria mais difícil encontrar contrapartes. Além disso, ummercado mais estreito conduziria a um aumento da volatilidadedos tipos de juros, reduzindo, assim, ainda mais a atratividadedo mercado para os agentes.

Por outro lado, poderia ocorrer um aumento da dificuldade deacesso ao financiamento através dos mercados, entre outrasrazões, porque as posições em dívida emitida por instituiçõesfinanceiras são penalizadas pelos novos índices de liquidez, aonão disporem da consideração de ativo líquido.

A nova norma pode ser considerada como uma estrutura deproteção contra potenciais crises sistêmicas (o LEI Group20

estima uma redução da probabilidade de crise sistêmica de

3% a 1,6%), uma garantia para a estabilidade individual dasinstituições, e, em última instância, do sistema financeiro emseu conjunto. Não obstante, existe outra série de efeitoscontrapostos que convém analisar:

� Movimento conjunto das instituições: alguns estudos21

consideram que definição restritiva dos ativos líquidos parao cômputo do LCR pode aumentar a concentração dasinstituições de um mesmo tipo de ativos. Assim, diante deum evento de caráter sistêmico, o mercado interbancáriopoderia não cumprir sua função, de modo que a únicaalternativa seria liquidar ativos ou recorrer ao banco centralcomo mutuante de última instância, atuações que aregulação pretende evitar.

� «Shadow banking»: os mutuários afetados pela novaregulação poderiam ser forçados a buscar investidores oumutuantes alternativos, provocando uma transferência desetor dos riscos que a nova regulação pretende reduzir, comimplicações em termos de funcionamento do mercado e deestabilidade financeira

� Informação ao mercado: o fato de que os mercados estejaminformados continuamente sobre alguns índices quepodem assumir valores muito díspares em cada momentoconcreto, em ocasiões, por motivos simplesmenteconjunturais, poderia provocar um impacto negativo naestabilidade financeira, o que levanta a questão de que seas instituições somente deveriam proporcionar os valoresdos índices ao supervisor correspondente ou se deveriamser publicados periodicamente.

Por outro lado, existem algumas dúvidas sobre a reação domercado durante o período de transição, conforme a posiçãode cada instituição no cumprimento dos requisitos. No caso deque o mercado penalize em excesso as instituições composicionamento pior, isto poderia comprometer sua viabilidade

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CRD IVA Comissão Europeia publicou em 20 de julho de 2011 umanova proposta legislativa para reforçar o sistema bancárioeuropeu, conhecida como CRD IV. Esta proposta, uma vezaprovada*, irá substituir as Diretrizes 2006/48/CE (CRD II) e2006/49/CE (CRD III) que, entre outros aspectos, regulavam osrequisitos de capital, modalidades de governança e supervisãoaplicáveis às instituições de crédito e empresas de investimentoexercendo sua atividade em algum dos Estados-membros.

O CRD IV implementa o acordo de Basileia III na UniãoEuropeia. Seu principal objetivo para efeitos do risco deliquidez é reforçar a governança corporativo da liquidez dasinstituições e incluir métricas de risco de liquidez (a curto e alongo prazo) para fortalecer a estrutura de mensuração desterisco.

A norma consta de:

• Uma Diretriz que, portanto, deverá ser transposta à normanacional por cada Estado-membro, e que essencialmente,reflita as Sound Practices for Managing Liquidity in BankingOrganisations estabelecidas pelo Comitê de Basileia para a boagovernança e gerenciamento da liquidez.

• Um Regulamento que contém os índices LCR e NSFR,embora antes de exigir este último em 2018, considera-se queum acompanhamento extenso de seus efeitos potenciais devaser realizado.

O fato de que parte da norma será implementada em umRegulamento deve-se ao objetivo da Comissão de garantir quese evitem divergências nas aplicações das medidas entre osdistintos países da União Europeia.

Até o momento não foi definido nenhum formato de reportecomunitário em termos de liquidez, embora o Regulamentoindique que a EBA irá elaborar projetos de normas técnicas deexecução a fim de especificar os formatos uniformes, com asinstruções correspondentes (frequências, datas e prazos detransmissão da informação), assim como medidas adicionaisnecessárias para o controle da liquidez. Estas propostas denormas técnicas deveriam ser apresentadas à Comissão até 1 dejaneiro de 2013.

De qualquer forma, a implementação proposta segue o mesmocronograma que Basileia III em termos de liquidez; ou seja, ocumprimento do LCR em 2015 e do NSFR em 2018.

e forçar um ajuste do sistema financeiro mais rápido que onecessário, o que incidentalmente provocaria alguns custosmacroeconômicos maiores.

Como consequência da definição atual do LCR e dos ativoslíquidos de alta qualidade, prevê-se um aumento da demandade dívida soberana em detrimento de outros ativos.

Por outro lado, embora a priori a preferência por manter títulossoberanos em carteira em relação a outros ativos melhoraria oíndice de solvência (sua ponderação por risco médio é próximaa 0%), de acordo com a OCDE, poderia estar instaurando umanorma de liquidez que, em circunstâncias extremas, contribuiriapara a geração de problemas de solvência.

Apesar de que a princípio, o índice LCR tenha sido concebidopara reduzir a dependência das instituições do financiamentodo banco central, é possível que o efeito a curto prazo sejaoposto, visto que a definição de ativos líquidos de Basileia IIInão coincide com a definição de garantias estabelecidos pelosbancos centrais (mais ampla), nem com seus haircuts devaloração. Desta forma:

� Os ativos líquidos de nível 1 resultarão mais valiosos seforem mantidos no balanço, frente aos ativos de nível 2(menos líquidos que os de nível 1), que conviriam serdescontados no banco central para obter liquidez.

� Os demais ativos que são elegíveis como garantia, mas quenão são considerados líquidos podem ser utilizados nasoperações de política monetária para gerar caixa. Oresultado seria uma demanda adicional e artificial deliquidez do banco central para cumprir os índices ouampliar a margem de manobra para seu cumprimentomantendo esta liquidez no balanço ou comprando outrosativos líquidos, como a dívida pública.

� Consequentemente, se as instituições substituíssem o usode ativos de nível 1 em operações com os bancos centraispor ativos de nível 2 e ativos elegíveis não classificadoscomo líquidos de alta qualidade, os bancos centraisestariam concedendo liquidez com um conjunto degarantias de menor qualidade.

Por outro lado, como consequência dos novos requisitosregulatórios, as operações de financiamento a longo prazoserão mais interessantes que o restante das formas habituais definanciamento, visto que a norma incentiva o financiamentoestável de forma explícita através do NSFR. Portanto, espera-seuma maior demanda no mercado e licitações mais agressivaspor este tipo de financiamento.

*A data prevista para que esta proposta seja votada pelo ParlamentoEuropeu é 25 de abril de 2012 em comissão e 12 de junho de 2012 emplenário.

20LEI, Basel III: Long-term impact on economic performance and fluctuations (2011).21Estabilidad Financiera, Núm. 21. El impacto de los nuevos estándares de liquidezdesde el punto de vista de un banco central, Liliana Toledo Falcón (novembro 2011).

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Em relação aos mecanismos de transmissão da políticamonetária, espera-se um aumento do custo de financiamentodos bancos, que aumentarão suas margens para tentaremmanter o ROE objetivo, que previsivelmente, será transferidoaos clientes, especialmente aos de varejo. Este aumento demargens é determinado pelo FMI, considerando um período deaplicação das medidas de dois anos, em 20 pbs nos EUA e 5 pbsna Zona do Euro, sob a hipótese de que os requisitos deliquidez serão cobertos com um aumento imediato da dívidasoberana das instituições; a diferença entre ambas regiõesdeve-se ao maior ROE objetivo e payout de dividendos nosEUA.

Os mais afetados pela redução e pelo encarecimento docrédito, serão os setores que mais dependem do financiamentobancário, ou seja, os lares e as pequenas e médias empresas,prejudicando, com isso, a atividade econômica. A reduçãopotencial do crédito foi quantificada pelo MAG em 3,2%.

A contração dos mercados de ativos considerados ilíquidos oude financiamento a curto prazo poderia, por sua vez, terconsequências na concessão de crédito final, e isso nocrescimento econômico, dado que grande parte dofinanciamento das instituições provém destes mercados22.

Concretamente, a piora da atividade econômica implicaria umaredução do PIB que alguns estudos quantificam entre 0,13%(segundo o MAG) e 3,2% (segundo o IIF) em 2015,considerando o impacto conjunto das normas de liquidez ecapital.

Consequentemente, prevê-se que o emprego poderia serafetado em 7,5 milhões de postos de trabalho até 2015 e 4,1milhões até 2020 (entendendo como número de postos abaixodos que haveriam se a norma não fosse implantada) emconjunto para a Zona do Euro, EUA, Suíça, Reino Unido e Japão,de acordo com o IIF.

Por último, estes impactos poderiam provocar, por sua vez, umaumento da inadimplência e a deterioração da situaçãopatrimonial das instituições, o que implicaria em umdistanciamento dos padrões regulatórios, e portanto, umcomportamento paradoxal (o cumprimento de uma normadificultaria o cumprimento de outras).

*Guidelines on Liquidity Buffers and Survival Periods, CEBS (2009) eGuidelines on Liquidity Cost Benefit Allocation, CEBS (2010).

22De fato, a OCDE indica em seu estudo que o fato de precisar manter um nívelalto de ativos líquidos e não serem investidos poderia aumentar o risco em outrosmercados.

Banco de EspañaEm 30 de novembro de 2011, o Banco de España publicou a CBE4/2011, que modificou a CBE 3/2008 de 22 de maio, sobredeterminação e controle dos recursos próprios mínimos. Aentrada em vigor da CBE 4/2011 ocorreu em 31 de dezembro de2011.

Esta Circular inclui diretrizes para o adequado controle egerenciamento do risco de liquidez. Seu conteúdo é, na prática,uma transposição das Sound Practices for Managing Liquidity inBanking Organisations do Comitê de Basileia, que na versãoanterior da norma (atualizada pela última vez pela CBE 9/2010)estavam incluídas nos Guias complementares às normas contidas naCircular. Regras para a avaliação e controle do risco de liquidez, e quecom a CBE 4/2011 passaram a ser incluídas no corpo da norma.

Além disso, a Circular define o reporting oficial de risco deliquidez: as Demonstrações LQ, de periodicidade mensal eremitidos pela primeira vez ao supervisor em 16 de janeiro de2012, que são uma modificação das Demonstrações L, quevinham sendo remitidas pelas instituições desde 2009 em versãoprovisória. Estas são:

•Sequência de vencimentos residuais (Demonstração LQ1.1).

•Ativos líquidos e emissões em processo (Demonstração LQ1.2).

•Concentração das fontes de financiamento (DemonstraçãoLQ1.3).

•Risco de liquidez contingente (Demonstração LQ1.4).

•Custo do financiamento novo (Demonstração LQ1.5).

Uma comparação das Demonstrações LQ com as ferramentas deacompanhamento de liquidez de Basileia III permite concluir que,embora o âmbito de análise de Basileia seja maior (propõerequisitos de reporting por produto ou instrumento significativo,por moeda, etc.), nos elementos comuns, os relatórios do Bancode España requerem um maior nível de discriminação (prazos devencimento, percentis de concentração, etc.). De qualquer forma,os elementos contidos nas Demonstrações LQ não são suficientespara um cálculo completo do LCR.

Por outro lado, o Banco de España estabelece a necessidade deelaborar cálculos para a mensuração do risco de liquidez, taiscomo as posições de liquidez a curto, médio e longo prazo,limites e buffers de liquidez, a atribuição de custos e benefíciosde liquidez às linhas de negócio, agências e instituições do grupoao qual pertencem, etc., embora seu procedimento de cálculo nãoseja determinado.

Nos guias do EBS sobre liquidez que a Comissão Executiva doBanco de España, datado de 5 de dezembro de 2011, resolveuadotar como próprios*, são oferecidas diretrizes neste sentido.

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FSAA FSA (Financial Services Authority) foi um dos primeirosórgãos que, no contexto da crise econômica, emitiu um conjuntode documentos relacionados à adequada mensuração,gerenciamento, monitoramento e controle do risco de liquidezem instituições financeiras. Após as primeiras consultas (Reviewof Liquidity Requirements for Banks and Building Societies,dezembro de 2007) surgiram uma série de documentos paraconsulta sob o título de Strengthening Liquidity Standards,publicados entre dezembro de 2008 e outubro de 2009. Comoresultado do feedback recebido, a FSA incorporou ao seuregulamento (BIPRU*) os requisitos de liquidez parainstituições financeiras. Seu capítulo 12, publicado em 1 dedezembro de 2009, contém a regulação relativa ao risco deliquidez, cuja aplicação completa ocorreu em 2010, após umperíodo transitório de adaptação aos novos requisitos.

O objetivo da FSA é garantir que toda instituição financeiramantém, a todo momento, recursos líquidos adequados (emvolume e qualidade) para assegurar que é capaz de enfrentar ospagamentos de suas obrigações em situações de estresse demercado e sem a necessidade de depender de outras unidadesde seu grupo (a menos que esta dependência sejaexpressamente autorizada pela FSA).

Os aspectos mais relevantes da norma de liquidez da FSA sãoos seguintes:

• Necessidade de um processo de autoavaliação de liquidez(Individual Liquidity Adequacy Assessment, ILAA). Este processovai além de um simples reporte e deve servir às instituiçõespara definir e quantificar seu buffer de liquidez, concretizaros níveis de gerenciamento e controle da liquidez, determinaro impacto de cenários de estresse sobre as capacidades definanciamento da instituição e definir as necessidades futurasde liquidez de acordo com os planos estratégicos.

• Elaboração e envio de um guia de liquidez (IndividualLiquidity Guidance, ILG) específico para cada instituição, com oobjetivo de proporcionar diretrizes sobre a quantidade equalidade do buffer de liquidez e sobre o esquema definanciamento, assim como cenários de estresse alinhadoscom a realidade da instituição.

• Necessidade, além dos índices LCR e NSFR de Basileia III, deum acompanhamento do período de sobrevivência e dosíndices ILG, obtidos a partir de um gap de fluxos de caixa eum buffer de liquidez.

• Necessidade de uma estrutura de reporting das instituiçõesao regulador que envolva desde o reporte dos fluxos de caixadiários (FSA047), gaps de liquidez (FSA048) e buffer (FSA050)até a concentração de fontes de financiamento, perfil definanciamento de atacado/de varejo, custo (preço) dofinanciamento de atacado e análise da informação pormoedas, assim como informações sobre controles e sistemas.A frequência de envio destes relatórios pode variar em funçãodo tipo de instituição, seu tamanho e trata-se de informaçãoindividual ou consolidada. Em termos gerais, deve serenviada semanalmente, porém a FSA realiza testes periódicosde capacidade, durante os quais esta informação é requisitadadiariamente.

Por outro lado, as métricas adicionais exigidas pela FSA (osíndices ILG e o período de sobrevivência) diferem e são maisrestritivas que as de Basileia III em vários aspectos.Concretamente, estas métricas:

• São calculadas utilizando os fluxos de caixa especificados emum horizonte de 3 meses, em lugar dos 30 dias especificadospor Basileia III para o LCR.

• Requerem um buffer de liquidez submetido a um estresseespecífico determinado pelo regulador, com restrições sobre oreconhecimento de ativos líquidos no buffer mais severas queas especificadas em Basileia III.

• Não distinguem depósitos estáveis de menos estáveis paraempresas.

• Não reconhecem as deduções nas taxas de retirada parafinanciamento de clientes de atacado com relaçõesoperacionais (custódia, liquidação, gerenciamento de caixa,etc.), que são reconhecidas em Basileia III.

A norma está em vigor desde 1 de dezembro de 2009, comalgumas disposições transitórias que se estenderam até o finalde 2010.

Em termos gerais, pode-se se afirmar que a regulação da FSA éanterior e, em diversos aspectos, mais restritiva que a norma deBasileia III.

*Prudential SourceBook for Banks, Building Societies and Investment Firms.

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Estudo quantitativoda estabilidade dos depósitos

Dentro do âmbito de mensuração do risco de liquidezestabelecido por Basileia III e adoptado pela Comissão Europeiae outros órgãos supranacionais e reguladores nacionais,discutido nas seções anteriores, um elemento em destaque é onovo índice de cobertura de liquidez (LCR), cujo objetivo épromover que as instituições disponham de um nível de ativoslíquidos de alta qualidade suficiente para cobrir suasnecessidades de liquidez durante um período de estresse deliquidez de 30 dias, que é expresso da seguinte forma:

Buffer de ativos líquidos de alta qualidade

Saídas de caixa totais líquidas em 30 dias corridos

Enquanto os ativos que compõem o numerador do índicefiquem indicados em uma classificação de dois níveis quedeterminam sua representatividade como componente dobuffer, as saídas de caixa previstas são calculadas multiplicandoos montantes vigentes das diversas categorias ou tipos de

passivos e dos compromissos fora de balanço pelas taxas queespera-se que sejam canceladas ou descartadas.

Para a definição destas taxas de cancelamento oudescartamento, Basileia III estabelece alguns valores efetivospor cada componente,embora considere a possibilidade deque estes possam ser submetidos à apreciação das autoridadessupervisoras nacionais23.

Particularmente, o denominador contempla como primeirocomponente a retirada de depósitos de varejo: estabelece quepara o cálculo do LCR deve-se considerar que em situação de

23Basileia III, Seção 51: «Embora a maioria das taxas de cancelamento (roll-off rates),taxas de disposição (draw-down rates) e fatores semelhantes encontram-seharmonizados nas diversas jurisdições conforme descreve esta norma, algunsparâmetros deverão ser determinados pelas autoridades supervisoras nacionais.Nesse caso, os parâmetros deverão ser transparentes e estar à disposição dopúblico».

LCR = ≥ 100%

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24Basileia III considera depósitos estáveis «aqueles que gozam de cobertura totalpor parte de um sistema eficaz de seguro de depósitos ou de uma garantiapública que oferece uma proteção equivalente e onde os depositantes mantêmoutras relações estabelecidas com o banco, que tornam muito improvável umaretirada de depósitos ou os depósitos são realizados em contas operacionais (porexemplo, as contas onde os salários são depositados automaticamente)».25Basileia III considera que os depósitos menos estáveis «poderiam incluirdepósitos não cobertos por um sistema efetivo de seguro de depósitos ou poruma garantia pública, depósitos de valor elevado, depósitos de particulares comperfis sofisticados ou com elevados patrimônios, depósitos que possam serretirados com rapidez (por exemplo, depósitos por Internet) e depósitos emmoeda estrangeira, conforme seja determinado em cada jurisdição».

estresse de liquidez ocorrerá uma saída de depósitos de varejode pelo menos 5% ou 10% (no caso de depósitos estáveis24 oumenos estáveis25, respectivamente).

Devido à importância dos depósitos de varejo como fonte definanciamento, especialmente em um contexto de crise deliquidez, assim como a orientação da maior parte de regulaçõespara um uso menos intensivo do financiamento de atacado,esta seção desenvolve um estudo para analisar a estabilidadedos depósitos e avaliar a cobertura das taxas de retiradaspropostas por Basileia III.

Após as principais conclusões e descrição dos dadosempregados, o estudo está estruturado em três seções, querespondem a três objetivos:

� Análise de distribuição: determinar o nível de confiançaque representam as taxas de retirada (5%-10%)estabelecidas por Basileia III para os depósitos de varejosobre as principais instituições financeiras espanholas.

� Análise sistêmica: descrever a influência do ambientemacroeconômico sobre a estabilidade dos depósitos destasinstituições, para determinar se tal influência existe e, emcaso afirmativo, analisar quais variáveis determinam adinâmica das taxas de retirada.

� Análise idiossincrática: explicar, através de casos singularese representativos dos principais eventos de crise deliquidez, as causas de retirada de depósitos nãoquantificadas na seção anterior e, portanto, não atribuir-lhes a fatores sistêmicos.

Principais conclusões do estudo

Dos exercícios detalhados nesta seção, pode-se chegar àsseguintes conclusões:

� As avaliações estabelecidas por Basileia III sobre a taxa desaída de depósitos a um prazo de 30 dias correspondem,em comparação com o comportamento históricoobservado sobre um conjunto representativo deinstituições espanholas, com um cenário de estresse cujafrequência de ocorrência encontra-se entre 0,35% e 2,1%.As análises estatísticas individuais baseadas nos dados dasinstituições separadamente permitiriam realizar avaliaçõesmais ajustadas à gestão individual de cada uma.

� Com o propósito de explicar a dinâmica docomportamento dos depósitos, é necessário ter em contaos efeitos do contexto econômico através doscomportamentos de certos indicadores como a rendadisponível, o saldo em fundos de investimento ou odesemprego.

� Não obstante, estes efeitos são limitados para a explicaçãodo comportamento dos depósitos e não são suficientespara obter avaliações ajustadas do risco de liquidez. Nestesentido, deve-se considerar outras causas não sistêmicas,mas idiossincráticas de cada instituição , que possamocasionar possíveis crises de confiança e em perda decredibilidade.

� Dentre estas causas idiossincráticas, analisadas tanto eminstituições sem problemas relevantes de liquidez como emcasos singulares, destacam-se:

- Os efeitos secundários de uma guerra do passivo,entendidos como os vencimentos não renovados dedepósitos de alta remuneração.

- A perda de confiança dos depositantes diante dapublicação nos meios de comunicação de eventos comimpacto severo na reputação e na percepção desolvência da instituição (nem sempre vinculados àliquidez), como o anúncio de uma intervenção por partedo supervisor, a solicitação de ajuda ao banco centralou, inclusive, o temor a uma suspensão de pagamentospor parte do Estado.

� Por último, observou-se a não representatividade de outrosfatores potencialmente influentes na confiança dosdepositantes, como podem ser os rebaixamentos de ratingou a publicação de resultados moderadamente negativos,na explicação da dinâmica de saídas de depósitos nasinstituições analisadas. Conclui-se, portanto, que os clientessão pouco sensíveis a estes fatores.

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Dados do estudo

Para a realização das análises quantitativas foram empregadosexclusivamente dados públicos26 de sete instituições financeirasespanholas e do sistema financeiro espanhol em seu conjunto.A descrição e características das séries temporais é a seguinte:

� Instituições: a seleção baseou-se em critérios derepresentatividade e de disponibilidade de informação. Emseu conjunto, as instituições consideradas acumulam 50%do volume de depósitos do sistema financeiro espanhol.

� Elementos: soma dos saldos deflacionados das contas àvista, de poupança e a prazo, incluídas nos elementos dedepósitos de clientes27. Estas séries são escolhidas com ofim de eliminar conceitos próprios de carteiras de atacado,bem como elementos não contemplados na definição deBasileia III, como são os credores de setores públicos, acessão de ativos e as emissões cédulas hipotecárias. Não éfeita a distinção entre depósitos estáveis e instáveis28.

� Âmbito geográfico: Espanha. Com o objetivo de obterséries de depósitos limpas dos efeitos de fusões ouaquisições de instituições estrangeiras, foram consideradosapenas os dados correspondentes à subamostra deresidentes29 de cada instituição.

� Profundidade histórica: 2004 a 2011.

� Periodicidade: trimestral, que será ajustada a mensalmediante um método de Monte Carlo para atender ohorizonte de 30 dias do LCR.

Em suma, as séries selecionadas para o estudo representam asvariações trimestrais relativas30 dos saldos deflacionados decontas à vista, de poupança e prazo do setor residente.

Figura 6. Séries de variações trimestrais do volume de depósitos

26Todos os dados de suporte utilizados nos estudos procedem de informaçõespúblicas apresentadas nas demonstrações financeiras trimestrais das instituiçõesselecionadas e do Banco de España. Na medida em que as informaçõesapresentadas não refletem o nível de desagregação necessário para realizarexatamente a classificação mencionada em Basileia III, as análises e resultadosexibidos não as levaram em consideração.27Devido à indisponibilidade de dados homogêneos, para algumas instituiçõesconsiderou-se a série de depósitos de clientes. No caso de instituições resultantesde processos de fusão ou absorção, para o período anterior à fusão considerou-sea soma dos depósitos das instituições que a compõem. 28Os estudos apresentados desenvolverão suas análises e resultados relativos aosdois fatores estabelecidos por Basileia III (5% e 10%), ainda que, por motivos dedisponibilidade de informação, não se considerou a distinção entre depósitosestáveis e instáveis. Tanto as premissas assumidas como os resultados econclusões derivados das análises serão entendidos como aplicáveis a um e outroconjunto. Cabe destacar que, de acordo com Basileia III, a impossibilidade dedistinguir estes segmentos obriga a instituição a incluir a totalidade dosdepósitos sob um fator de retirada de 10%. 29Os dados correspondentes de algumas instituições não apresentam adiscriminação suficiente para distinguir entre residentes e não residentes e porisso optou-se por considerar os dados agregados, embora nestes casos a hipóteseseja razoável, visto que a porcentagem de clientes residentes representa mais de75% do total.30A variação relativa em um trimestre t é: Var(t) = (Saldo(t) – Saldo(t – 1)) / Saldo (t – 1).

Fonte: relatórios trimestrais das instituições

Uma primeira análise gráfica (Figura 6) permite observar algunsperíodos de movimentos cadenciados entre as instituiçõesfinanceiras (por exemplo, o primeiro trimestre de 2007 ou oterceiro de 2010), cujo comportamento responderáprevisivelmente a um padrão sistêmico. Não obstante, tambémsão apreciáveis os períodos de movimentos desacoplados(dezembro de 2004 ou dezembro de 2009) que responderão acausas idiossincráticas de cada instituição; portanto,independentes do contexto macroeconômico.

Esta tese, que será comprovada nas seções a seguir, determinaa necessidade de realizar uma análise tanto sistêmica comoidiossincrática das séries para compreender as causas quedeterminam a estabilidade dos depósitos.

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Análise da distribuição histórica das variaçõesobservadas

A amostra de dados descrita na seção anterior tem ascaracterísticas exibidas na Tabela 1.

A partir das séries, o primeiro dos exercícios consistirá naquantificação do grau de adequação dos fatores de retirada dedepósitos de Basileia III às variações históricas observadas.

Para isso, ajusta-se uma distribuição paramétrica à série dasvariações trimestrais dos depósitos e realiza-se a mensualizaçãopara torná-la comparável com o horizonte temporal do LCR. Oestudo dos percentis desta distribuição permitirá identificar onível de confiança a que correspondem os coeficientesregulatórios e, com isso, possibilitar uma interpretaçãoestatística do nível de estresse que refletem.

A análise, portanto, é composta por três passos e conclusões:

i. Ajuste de uma distribuição paramétrica às séries devariações trimestrais.

ii. Mensualização da distribuição de variações trimestrais.

iii. Obtenção e interpretação dos percentis.

iv. Conclusões.

Partindo das séries de variações relativas trimestrais dedepósitos das sete instituições consideradas, ajusta-se umadistribuição paramétrica às variações históricas. Para isso,consideram-se as distribuições normal, logística, de valorextremo generalizada, de valor extremo e t-location scale, apósdescartar as que por suas propriedades (não continuidade, nãonegatividade, monotonia) não são adequadas à natureza dosdados. O ajuste é realizado através do método de máximaverossimilhança.

Da análise gráfica (Figura 7) e do estudo das verossimilhançasconclui-se que a distribuição que melhor se ajusta aos dados éuma t-location scale de parâmetros (µ; σ; ν) = (0,016; 0,035;4,223), onde:

� µ é a média da distribuição de ajuste, que como se espera,aproxima-se à média observada de 0,018.

� σ é a volatilidade ou amplitude da distribuição de ajuste.

� ν são os graus de liberdade da distribuição de ajuste. Grausde liberdade pequenos implicam caudas mais pesadas,enquanto graus de liberdade muito grandes fazem comque a distribuição se incline a uma normal de parâmetros(µ; σ).

A distribuição escolhida é aquela com maior valor do estimadorde máxima verossimilhança, ou seja, a t-location scale. A t-location é uma família de distribuições que contém a t deStudent como caso particular e que é utilizada para amodelagem de séries de dados com poucas observações ecaudas mais pesadas que a normal, condições observadasneste caso.

Tabela 1. Dados estatísticos das variações de depósitos das seteinstituições consideradas em seu conjunto

Dado estatístico Valor

Número de observações 217

Média 1,83%

Desvio padrão 4,69%

Figura 7. Ajuste máximo-verossímil das cinco distribuiçõescandidatas à série empírica de variações trimestrais de depósitos

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Partindo destes intervalos de confiança, mediu-se asensibilidade dos parâmetros da distribuição à supressão decada instituição, o que permite estimar a capacidade degeneralização da distribuição obtida.

Na Tabela 2 são exibidos os resultados da reavaliação dadistribuição mensal excluindo uma instituição em cada iteraçãopara comprovar sua semelhança com a distribuição conjunta.

Como pode-se observar, os parâmetros de todas asdistribuições marginais ficam dentro dos intervalos de confiançaestimados para os parâmetros da distribuição conjunta; ou seja,a supressão de qualquer instituição não traz variaçõessignificativas. Conclui-se, portanto, que a distribuição mensalobtida é robusta e representativa do conjunto de instituições.

Os resultados das análises anteriores permitem confirmar arobustez do estudo e afirmar que as variações mensais dosdepósitos seguem uma distribuição t-location scale de média0,55%, de desvio padrão 1,64% e com 3,1 graus de liberdade.

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Visto que a distribuição anterior reflete as variações trimestraisdos depósitos, para alinhar o estudo com o prazo do cenário deestresse de liquidez proposto pelo Basileia III (30 dias), énecessário transformá-la para que abranja as variações mensais.

Para isso, seguindo um procedimento de Monte Carlo31,conclui-se que a série das variações mensais dos depósitostambém segue uma distribuição t-location scale, mas agora deparâmetros (µ; σ; ν) = (0,0055; 0,0164; 3,0996).

Na Figura 8 são comparadas as distribuições das variaçõesmensais e trimestrais de depósitos das sete instituições em seuconjunto.

Como consequência da mensalização da distribuição, foramobtidos dois efeitos intuitivos e esperados: reduzem-se avolatilidade da distribuição (associada à menor incerteza de umhorizonte mais curto) e o valor médio das variações.

Adicionalmente, e com o objetivo de validar a distribuiçãomensal obtida, calcularam-se os intervalos de confiança a 95%da média, o desvio padrão e os graus de liberdade que adefinem.

I0,95 (µ)=[0,0035; 0,0077]

I0,95 (σ)=[0,0122; 0,0205]

I0,95 (ν)=[1,6203; 4,3467]

Figura 8. Distribuições de variações mensais e trimestrais dedepósitos

Tabela 2. Parâmetros da distribuição mensal excluindo cadainstituição

Instituição 1 0,0056 0,0159 3,0420

Instituição 2 0,0056 0,0152 2,7533

Instituição 3 0,0054 0,0169 3,1411

Instituição 4 0,0054 0,0168 3,2150

Instituição 5 0,0051 0,0168 3,1299

Instituição 6 0,0052 0,0162 2,8967

Instituição 7 0,0056 0,0163 3,0339

Instituição excluída µ σ ν

31Visto que não se conhece a expressão analítica que reescalona a distribuição t-location scale, mediante um processo iterativo obtiveram-se os parâmetros dadistribuição mensal que minimizam o erro entre a distribuição trimestral originale a obtida ao voltar a trimestralizar as variações mensais obtidas, sobre uma basede simulação de 3.000.000 meses.

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Partindo da distribuição de variações mensais, encontraram-sepercentis distintos visando estudar as probabilidades com asquais se poderia esperar as variações negativas previstas porBasileia III no conjunto das instituições espanholasconsideradas. Na Tabela 3 são apresentados os valores obtidos.

Do estudo, deduz-se que os coeficientes regulatórios situam-seentre os percentis 0,35 e 2,1 da distribuição, o que permiteconcluir que:

� A probabilidade de que sejam observadas saídas dedepósitos maiores que 5% é de 2,1%; ou seja, somenteocorreria 1 em cada 47 vezes.

� A probabilidade de obter saídas superiores a 10% é de0,35%; ou seja, apenas 1 em cada 300 vezes este fenômenoseria observado.

Conclui-se, portanto, que as taxas de retirada de depósitosprevistas por Basileia III cobrem um nível de confiança de entre97,9% e 99,65%.

Por último, e com o propósito de particularizar as conclusõesanteriores para cada uma das instituições objeto de estudo,repetiu-se o procedimento realizado para o conjunto globalsobre cada uma das instituições analisadas, bem como para asérie de variações de depósitos à vista e a prazo do sistemafinanceiro espanhol.

Nas Figuras 9 e 10 são demonstradas as funções de densidade ede distribuição individuais de cada uma das instituiçõesconsideradas, e na Tabela 4, as probabilidades de saídas dedepósitos superiores a 5% e a 10% em cada uma delas.

No gráfico apreciam-se diferenças moderadas entre asdistribuições das sete instituições, que são confirmadas naanálise dos percentis. Alguns dos dados derivados maisrelevantes são:

� Enquanto a probabilidade de saída de depósitos estáveisprevista nos coeficientes regulatórios (5%) situa-se em 2,1%,ao considerar as sete instituições em seu conjunto, a análiseindividualizada demonstra que existe certa disparidadeentre as instituições: em algumas, eleva-se até 3,27%, aopasso que em outras diminui até somente 1,09%.

25

Tabela 3. Probabilidades de ocorrência das variações previstas porBasileia III

–10% 0,35% 99,65%Taxa de retirada dosdepósitos instáveissegundo Basileia III

–6,7% 1% 99%

–5% 2,1% 97,9%Taxa de retirada dos

depósitos estáveissegundo Basileia III

–3,3% 5% 95%

Variação de depósitos

Probabilidade de ocorrência

Probabilidadede não

ocorrênciaObservações

Figura 9. Funções de densidade da variação mensal de depósitosdas sete instituições consideradas e o SFE

Figura 10. Funções de distribuição da variação mensal dedepósitos das sete instituições consideradas e o SFE

Tabela 4. Probabilidade de variações extremas de depósitos em cadainstituição

Instituição 1 3,27% 0,61%

Instituição 2 1,13% 0,01%

Instituição 3 1,90% 0,51%

Instituição 4 1,15% 0,29%

Instituição 5 2,50% 0,64%

Instituição 6 1,09% 0,45%

Instituição 7 2,01% 0,35%

SFE < 0,01% < 0,01%

Instituição P(variação < –5%) P(variação < –10%)

Sistemafinanceiroespanhol

Sistemafinanceiroespanhol

Variação dos depósitos Variação dos depósitos

Prob

abili

dade

acu

mul

ada

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� Em todo caso, a partir de uma análise mais detalhadadeduz-se que, com 95% de confiança, em nenhumainstituição foram observadas saídas de depósitos superioresa 5,7% a um horizonte de um mês, e com 99% deconfiança, estas saídas não superam 11%.

� Se o sistema financeiro espanhol for considerado comouma única instituição, as probabilidades de ocorrência deuma variação de depósitos tão brusca como a que descreveBasileia III são sumamente remotas. O motivo é que a sérieagregada do sistema financeiro não reflete a idiossincrasiada gestão das instituições que o compõe, e portanto, éexplicado através de fatores macroeconômicos e deaversão ao risco dos depositantes (ex.: capacidade depoupança e preferência por depósitos frente a outrosprodutos).

A partir deste primeiro exercício quantitativo é possível chegara duas conclusões gerais:

� As avaliações estabelecidas por Basileia III sobre a taxa desaída de depósitos a um prazo de 30 dias correspondem,em comparação com o comportamento históricoobservado sobre um conjunto representativo deinstituições espanholas, a um cenário de estresse cujafrequência de ocorrência encontra-se entre 0,35% e 2,1%.

� As diferenças no comportamento das variações dedepósitos entre as instituições são suficientes paraconsiderar que uma estimativa interna por parte de cadainstituição de suas próprias taxas de saída de depósitoslevaria a resultados mais alinhados com a gestão interna ecom o perfil de financiamento de cada instituição. Istosugeriria a oportunidade de estabelecer uma distinçãoentre um método padrão e um avançado, baseado naexperiência interna de cada instituição, de forma análoga àestimativa de capital por métodos IRB em risco de crédito.

Análise sistêmica

Uma vez analisado o comportamento estatístico das variaçõesde depósitos das instituições em seu conjunto, cabe perguntarem que medida estas variações são comuns entre as distintasinstituições, ou seja, se mostram um comportamento sistêmicoe, se for o caso, quais fatores macroeconômicos determinamsua dinâmica.

Para isso, nesta seção é construído um modelomacroeconômico das séries de depósitos, com o objetivo decaracterizar os fatores que explicam os movimentoscadenciados e deduzir, portanto, qual parte de seucomportamento é sistêmica e qual é idiossincrática.

Atendendo ao sentido econômico, são identificadas asmagnitudes que podem explicar o comportamento sistêmicona evolução dos depósitos das instituições financeiras. Asprincipais são:

Renda disponível bruta: um dos fatores macroeconômicos commaior incidência na evolução dos depósitos é a rendadisponível bruta, não apenas por ser a magnitude da qual sederivam as decisões de consumo e economia das famílias, maspela sua importância como indicador de expectativas dosindivíduos. Neste sentido, os aumentos de renda de cadapessoa podem ser destinados a diferentes formas depoupança, dentre as quais os depósitos, na medida que seconsidere que a variação é temporal ou permanente.

Taxa de poupança: relacionada com a renda disponível bruta,outro fator que incide nos depósitos é a poupança das famílias,que se complementa à variável anterior como determinantedas expectativas econômicas futuras das famílias segundo suapercepção da conjuntura. Desta forma, uma mudança nasexpectativas econômicas implica uma mudança na taxa depoupança e isto provoca de maneira inequívoca uma variaçãono mesmo sentido dos depósitos no sistema.

Fundos de investimento: as expectativas econômicas atuamciclicamente sobre as quantias destinadas aos fundos deinvestimento: o indivíduo elege entre fundos de investimentose depósitos como destino de suas economias em função darentabilidade esperada, fiscalidade, políticas comerciais dasinstituições e incerteza econômica; devem apresentar,portanto, uma relação significativa e inversa.

Taxa de desemprego: a taxa de desemprego, que aumentousensivelmente nos últimos anos, condiciona a situaçãoeconômica dos lares, que observam a diminuição de suasrendas. Neste sentido, identifica-se um duplo efeito econômicovinculado à evolução dos depósitos: por um lado, pode-seregistrar uma menor renda disponível dos agentes econômicos,assemelhando-se seu efeito ao indicado na primeira variável, epor outro, espera-se uma saída da economia das famílias(contas e depósitos) pela necessidade de convertê-la emconsumo.

Preço da moradia: a moradia é um componente fundamentalda riqueza das famílias e, portanto, um dos fatores quecontribuem para explicar suas decisões de gasto. O preço damoradia, particularmente na Espanha, é fator determinante naevolução da economia. As reduções do preço da moradiapropagam os ciclos imobiliários à economia real, afetandotodos os agentes econômicos, que observam a desvalorizaçãode seu principal investimento e reagem aumentando apoupança (em diferentes modalidades, dentre as quais osdepósitos) e reduzindo o consumo.

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Portanto, o modelo teórico esperado que permitirá vincular ocomportamento dos depósitos ao contexto macroeconômicopoderá ser expresso da seguinte forma funcional:

∆Depósitos = β0 + β1 ∆Renda + β2 ∆Poupança − − β3 ∆Investimento − β4 ∆Paro − β5 ∆Moradia + ε

onde os sinais indicam o comportamento esperado para cadavariável.

A partir do marco teórico, estimaram-se os modelosmacroeconômicos que consideram a variação observada dosdepósitos como combinação linear das cinco variáveisanteriores (ou variáveis que refletem conceitos semelhantes) eseus atrasos.

Como modelo matemático escolheu-se a regressão linearestimada em variações por mínimos quadrados ordinários. Sobo critério estatístico, o modelo selecionado é, daqueles comsentido econômico, o que cumpre as propriedades desejáveis(melhor acurácia, inexistência de autocorrelação nos resíduos einexistência de multicolinearidade das variáveis explicativas).

O modelo obtido para estimar a variação trimestral do saldodos depósitos em cada trimestre t é:

∆S(t) = 0,023 + 0,297 ∆Renda (t − 2) + 0,001 ∆Poupança (t) − − 0,308 ∆Investimento (t) − 0,106 ∆Desemprego (t − 1) −

− 0,381 ∆Moradia (t − 1) + ε

Na Tabela 5 são demonstradas as variáveis do modeloselecionado, na Tabela 6, seus dados estatísticos de acurácia eautocorrelação, e na Figura 11, a análise gráfica de suasestimativas no período histórico considerado.

Tabela 5. Variáveis do modelo macroeconômico

Tabela 6. Dados estatísticos do modelo

Como pode-se observar (Figura 11), a série proporcionada pelomodelo suaviza alguns dos comportamentos individuais ereúne as tendências observadas em cada um dos períodos. Nãoobstante, a acurácia do modelo permite afirmar que nem todocomportamento pode ser explicado como consequência doambiente macroeconômico e que, portanto, deverão serconsideradas as causas idiossincráticas na avaliação dequalquer cenário.

Renda: variação trimestral darenda disponível bruta dos lares 0,297 42,7% < 0,0001

Taxa de poupança: variação trimestral daeconomia líquida 0,001 9,7% 0,0412

Investimento: variação trimestral dosaldo dos fundos de investimento –0,308 17,6% 0,0004

Desemprego: variação anual dodesemprego –0,106 14,5% 0,0134

Moradia: variação anual do preço dometro quadrado de moradia livre –0,381 15,5% 0,0141

Variável32 Peso Pesorelativo33 p-valor34

R2: acurácia35 38,3%

Durbin-Watson: autocorrelação36 1,925

Dados estatísticos Valor

Figura 11. Estimação das variações dos depósitos

32Fonte: as séries de renda, taxas de poupança e desemprego foram obtidas doINE.Os valores da série de fundos de investimento provêm da INVERCO e o preçoda moradia foi obtido do Banco de España.33Calculado como o quociente entre o valor absoluto do peso padronizado (pesopor desvio padrão) e a soma dos valores absolutos de todos os pesospadronizados.34Os p-valores inferiores a 0,05 permitem afirmar a significância de todas asvariáveis com 95% de confiança.35O R2 explica as variações simultâneas de todas as instituições. De formaindividual, os R2 oscilam entre 26% e 54%.36O teste de Durbin-Watson descarta a autocorrelação ao outorgar um valorpróximo a 2.

Estimativado modelo

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Este modelo corrobora as hipóteses iniciais e permite concluirque a deterioração da renda disponível e a consequentediminuição da poupança devido à situação econômicaprovocam a escassez dos depósitos efetuados pelos lares. Alémdisso, a diminuição do preço da moradia gera uma menorrentabilidade dos bens imóveis e estes perdem suaatratividade, fomentando a busca por outras formas depoupança.

Uma análise dos componentes principais permite determinar,de modo independente das variáveis macroeconômicasconsideradas, e portanto, fazendo uso exclusivo das variaçõesde depósitos das instituições, em que medida é conjunto omovimento das séries das sete instituições.

Tabela 7. Análise dos componentes principais

Segundo esta análise (Tabela 7), poderia ser construída umaúnica série que combinasse as séries das sete instituições e queexplicasse 49% das variações dos depósitos, uma segunda sérieque explicasse 19% adicional, etc. Seria necessário construircinco séries para chegar a uma porcentagem de 93,7%. Estadispersão nos dados demonstra que não é possível chegar aacurácias muito superiores à obtida no modelomacroeconômico construído nesta seção.

Número demovimento 1 2 3 4 5 6 7

% do movimentototal explicado 49,25% 19,37% 11,27% 8,95% 4,85% 4,22% 2,07%

37Apesar de que os limites estabelecidos pela norma fazem referência a variaçõesmensais, por disponibilidade de informação, estas análises foram realizadasatravés de variações trimestrais. Não obstante, todas as conclusões da análise sãoextrapoláveis a variações mensais, já que as perturbações extremas em umperíodo inferior de tempo são mais infrequentes.

Figura 12. Séries de variações trimestrais do volume de depósitos

A partir da análise sistêmica realizada pode-se concluir que omovimento dos depósitos pode ser explicado em 40% pelocontexto econômico, através de um modelo macroeconômicoque o relaciona com a renda disponível, a taxa de poupança, osaldo dos fundos de investimento, o desemprego e o preço damoradia.

Análise idiossincrática

As análises anteriores permitem destacar que, para a definiçãode um cenário de estresse de liquidez a curto prazo, deve-secontar com uma combinação de fatores sistêmicos eidiossincráticos.

Para analisar as causas não atribuíveis a fatores sistêmicos, éapresentada a seguir uma análise pormenorizada das instituiçõesde estudo, bem como de vários casos singulares, que podemajudar a explicar quais causas podem originar saídas dedepósitos tão bruscas, provocando o colapso de uma instituição.

Na Figura 12 são demonstradas as séries de variações dosdepósitos das sete instituições objeto de estudo. Foramassinaladas sob duas faixas as variações que superam os limitesmínimos37 estabelecidos pela norma para identificarmovimentos característicos de um cenário de estresse.

Como pode-se observar, a maior parte das variações dedepósitos ocorrem dentro do intervalo [–10%, 10%] e entre as

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observações extremas, são mais frequentes as oscilaçõespositivas que as negativas, e estas ocorrem fundamentalmenteno último período da janela.

As principais causas das variações positivas fora deste intervalosão duas:

� Ações comerciais e lançamentos de depósitos com altasremunerações: este fato intensifica-se em períodos como2009-2010, na guerra do passivo entre os bancos e as caixasespanholas.

� Fusões e aquisições: ao longo de todo o período estudado,a integração das instituições fusionadas foi um dosprincipais motivos das flutuações positivas mais relevantesdas instituições resultantes.

As variações trimestrais negativas superiores a 5% e 10% nestasinstituições são explicadas pela não renovação dos depósitosem períodos anteriores, e em geral, não implicam flutuaçõesmuito importantes. As mais destacadas ocorrem no últimoperíodo, um ano após a guerra do passivo, e somente paraalgumas das instituições.

Além disso, cabe questionar se a retirada de depósitos mostrasensibilidade a outros efeitos, como os rebaixamentos dosratings das instituições ou a publicação de resultadostrimestrais moderadamente negativos. Para contrastar estashipóteses, foram realizados dois estudos:

� Ratings: uma análise de regressão das variações dedepósitos em função dos ratings (incluindo desajustestemporais), instituição por instituição. Todas as regressõesrepudiam a significância do rating como variável explicativados movimentos dos depósitos, com p- valores entre 0,5 e0,9, e R2 que, na melhor das hipóteses, alcança 1,4%.

� Resultados: uma segunda análise de regressão, neste casodas variações de depósitos em função das variações dosbenefícios (incluindo desajustes temporais) de cadainstituição. Neste caso também se repudia a significânciados resultados para explicar as variações dos depósitos,com p-valores superiores a 0,4 em todas as instituições eum R2 máximo de 4%.

Portanto, as regressões obtidas não são significativas, e pode-se concluir que efetivamente os clientes não são sensíveisl aestes efeitos.

Não obstante, as instituições estudadas são instituiçõesfinanceiras que estão superando a crise sem sofrer estressesconsideráveis de liquidez mais além das experimentadas pelorestante do sistema, de modo que sua evolução reflete odesenvolvimento normal do negócio bancário. Por isso, e como propósito de realizar uma análise mais exaustiva e determinaras causas de uma maior instabilidade dos depósitos, sãodescritos a seguir três casos singulares que evidenciam em suahistória problemas relevantes de liquidez.

1. Instituição de crédito espanhola

Esta seção analisa um caso paradigmático de fuga de depósitosrelevante, devido à perda da confiança por parte dos clientesde varejo.

Na Figura 13 observa-se como até 2007 a instituição seencontrava em plena expansão econômica, ampliandoconsideravelmente sua quota de mercado e aumentando seusdepósitos. Não obstante, a partir de 2008 começou a perder aconfiança dos depositantes. Isto a levou a competir no período2009-2010 na guerra do passivo, oferecendo altasremunerações pelos seus depósitos, e portanto, endividando-se a médio prazo.

Figura 13. Variação do volume dos depósitos na instituição deestudo

Fonte: relatórios trimestrais e anuais da instituição e de seu auditor

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Sob essas circunstâncias, iniciou-se a denominada «fusão fria» comoutras três instituições de crédito; porém, após o voto contra suaintegração pelas necessidades adicionais de crédito solicitadas aofundo de resgate, a fusão foi cancelada, o que teve um impactonegativo para a instituição em termos de sua reputação.

Após a obtenção de resultados adversos no teste de estresserealizado pela EBA, a inspeção da instituição por parte do Bancode España revelou uma preocupante falta de liquidez; contudo, foio anúncio de sua intervenção em julho de 2011 o que provocouuma fuga massiva de depósitos. Esta fuga, que aumentou com osefeitos da guerra do passivo, provocou uma queda 36% dosdepósitos em apenas um trimestre.

2. Instituição de crédito britânica

Embora no primeiro semestre de 2007 a instituição de estudocaracterizava-se por ser o quinto banco britânico em hipotecase havia superado todos os testes de estresse exigidos pelosreguladores, durante o semestre seguinte, viu-se com um graveproblema de liquidez por vários fatores, dentre os quais cabedestacar:

� O aumento da desconfiança entre os bancos comoconsequência da alta exposição à quebra devido à crise dashipotecas subprime.

� Devido a esta crise de confiança, o fechamento de volumee o aumento dos juros do mercado interbancário.

� O fato de que a instituição possuía uma estrutura deliquidez descompensada, com excessiva dependência defontes de financiamento a curto prazo: aproximadamente75% de seu financiamento originava-se do mercadointerbancário.

Assim, em setembro de 2007, a instituição esgotou seus recursosde liquidez e não pode acessar o mercado interbancário, o que

provocou seu resgate por parte do Banco da Inglaterra. Em 14de setembro o problema foi noticiado pela imprensa, o quedesencadeou uma retirada em massa de depósitos em apenasum dia, estimados em 1 bilhão de libras, quase 5% dosdepósitos de varejo.

Na Figura 14 pode-se observar as variações semestrais dosdepósitos da instituição entre 2005 e 2010, percebendo-seclaramente o efeito comentado no segundo semestre de 2007.Como consequência, as ações caíram rapidamente e o Governobritânico viu-se obrigado a emitir um comunicado em que secomprometia a garantir 100% dos depósitos da instituição. Estefato conseguiu tranquilizar os poupadores e as ações subiram16% nesse mesmo dia.

Depois de uma estabilização progressiva, em dezembro de2007, a imprensa anunciou sua nacionalização e em fevereirode 2008, passou a ser tratado como uma corporação pública, adívida do banco foi acrescentada à dívida nacional,recuperando, assim, a confiança dos depositantes.

3. O «corralito» argentino

Em 1998, a Argentina entrou em uma profunda recessão. Adesaceleração econômica e o aumento progressivo da dívidaexterna acrescentou a inquietude dos investidoresinternacionais.

Segundo o FMI38, os principais fatores que levaram a Argentinaa esta crise foram:

� Uma política fiscal excessivamente relaxada.

� O regime de convertibilidade fixa (devido à imobilidade docâmbio, não foi possível a depreciação do Peso quando eranecessário).

Figura 14. Variação semestral dos depósitos de clientes dainstituição de estudo

38Fonte: El papel del FMI en la Argentina, 1991-2002, FMI, 2003.

Fonte: relatórios trimestrais da instituição

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Figura 15. Variação quadrimestral dos depósitos de bancosargentinos, 1997-2001

� Fatores institucionais e políticos: o considerável poder dosgovernos provinciais reduziu muito a flexibilidade dapolítica fiscal.

� Choques externos: a apreciação do dólar (fez subir o tipo decâmbio real), a crise da Rússia e da LTCM39 (provocou umaredução dos fluxos de capital), a desvalorização do realbrasileiro (impactou negativamente na competitividade dasexportações) e a desaceleração da economia mundial.

� O aumento da dívida externa, que provocou aumento doprêmio de risco e, consequentemente, a subida das taxasde juros.

� A crise do sistema bancário em geral e a perda de confiançana moeda.

Neste contexto, os bancos tinham uma grande exposição àdívida pública e estendeu-se a percepção de que o Estadopodia entrar em suspensão de pagamentos. Apesar dasmedidas tomadas pelo Governo, a partir de março de 2001, istodesencadeou uma fuga de depósitos dos bancos, que pode serobservada na Figura 15.

Como consequência desta saída de fundos, que provocou umasevera contração de liquidez no sistema, em dezembro de2001, o Governo decidiu impor uma série de restrições àretirada em dinheiro das contas de depósitos, o que sedenominou «corralito». Dentre as medidas mais chamativas,destacaram-se a proibição da retirada de mais de 250 pesos porsemana e titular de conta, o impedimento de transferir dinheiroao exterior e a impossibilidade de realizar grande parte dasoperações em pesos por parte das entidades40. Estas medidas,embora tenham debilitado o sistema de pagamentos,desaceleraram o ritmo da saída de depósitos, evitando aquebra do sistema financeiro.

A pressão dos depositantes para transformar seus depósitosbancários em dólares e a diferença entre o tipo de câmbio livree o oficial colocou o país na disjuntiva entre a hiperinflação e ocolapso do sistema. Contudo, distintas medidas adotadas peloGoverno (como o esquema de troca de depósitos e a disciplinafiscal) começaram a criar um cenário de tranquilidade econfiança que permitiu chegar a um acordo com os órgãosinternacionais de crédito e reinstaurar o crescimentoeconômico.

Da análise idiossincrásica realizada, conclui-se que as principaiscausas das retiradas de depósitos mais severas que oestabelecido pela norma de Basileia III são os efeitossecundários da guerra do passivo (os vencimentos nãorenovados dos depósitos de alta remuneração) e a perda deconfiança dos depositantes diante da publicação de eventosmuito negativos sobre a reputação e a percepção da solvênciada instituição (como a intervenção por parte do supervisor, asolicitação de ajuda ao banco central ou o temor à suspensãode pagamentos por parte do Estado).

Além disso, observou-se que os depositantes não são sensíveisa outros fatores que a priori poderiam parecer influentes emsua confiança, como os rebaixamentos de rating ou apublicação de resultados moderadamente negativos.

39O Long-Term Capital Management, fundo de investimento de caráterespeculativo que empregou um elevada alavancagem, quebrou e teve que serresgatado por outras instituições financeiras sob a supervisão da Reserva Federaldos EUA. 40A disposição expressa foi: «As instituições [...] não poderão realizar operaçõesativas denominadas em Pesos, nem intervir no mercado de futuros ou opções demoedas estrangeiras, nem arbitrar direta ou indiretamente com ativos a prazo emPesos. As operações vigentes poderão ser convertidas em Dólares dos EstadosUnidos à relação prevista na Lei de Convertibilidade Nº 23.928, com oconsentimento do devedor». Fonte: Decreto 1570/2001, Ministério da Economia eFinanças Públicas da Argentina.

Fonte: boletim monetário e financeiro da Argentina do Banco Central daRepública Argentina (2002)

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Como vimos, a nova situação do mercado é caracterizada poruma maior consciência de potenciais situações de restrição deliquidez global (com o correspondente encarecimento doscustos de financiamento), a piora da qualidade dos ativos euma crescente preocupação pela otimização da estrutura definanciamento e a consideração da liquidez nas decisões denegócio.

Diante desta situação, os órgãos reguladores e supervisoresimpuseram às instituições alguns requisitos de mensuração,controle e reporting do risco de liquidez que têm um impactodireto na gestão.

Todos estes fatores estão propiciando a evolução da estruturade mensuração, controle e gerenciamento do risco de liquidez,o que implica também em impactos relevantes no modelo deinformação e infraestrutura tecnológica.

Nesta seção serão discutidos os principais elementos que estãoem processo de transformação no âmbito de gerenciamentodo risco de liquidez das instituições financeiras. Para isso, oseixos-chave de uma estrutura de gerenciamento do risco deliquidez serão revisados (Figura 16):

� Governança

� Organização e funções

� Políticas e princípios

� Métricas, metodologias e limites

� Teste de estresse e planos de contingência

� Reporting e ferramentas

Estrutura de gerenciamento do risco de liquidez

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Governança

O órgão de decisão fundamental na gerenciamento do risco deliquidez costuma ser o Comitê ALCO, formado pela primeiralinha de responsabilidade da instituição, que lidera a análise dorisco de liquidez assim como as decisões de enfrentar o risco eseu gerenciamentos (incluindo a aprovação dos planos deemissões e securitizações). O Comitê Executivo de Riscos, porsua vez, lidera o controle, aprovando os limites gerais de riscode liquidez e podendo delegar em comitês de categoria inferiora aprovação e acompanhamento de outros limites de carátermais operacional. As instituições de âmbito global costumamdispor de estruturas parcialmente descentralizadas nestes doisaspectos.

Neste âmbito, os principais pontos de evolução em direção aosque se inclinam as instituições são os seguintes:

� Em primeiro lugar, reforçam-se as estruturas de governançaque sustentam e dão cumprimento às estruturas degerenciamento e controle do risco de liquidez definido.

� Nestas estruturas de governança, são definidas novasresponsabilidades e intensificam-se as existentes sobrevários aspectos:

- Define-se uma governança clara ao redor da elaboraçãoe aprovação da estrutura de gerenciamento do risco de

Figura 16. Elementos de uma política de gerenciamento de risco de liquidez

liquidez e sua relação e consistência com o apetite poreste risco. Ambos elementos devem ser acordados pelasdiferentes áreas envolvidas e aprovados pelo Conselhode Administração.

- Define-se uma governança do plano de contingência deliquidez que estabelece responsáveis e umaperiodicidade de revisão (tipicamente, pelo menosanual). Em casos extraordinários, constitui-se um comitêexecutivo (derivado do ALCO) para a cobertura desituações contingentes de liquidez.

- Incorpora-se o risco de liquidez em dois limites, nasdecisões de criação de novos produtos e na aprovaçãode operações com impacto relevante em liquidez.

� Reforça-se (ou, em alguns casos, cria-se) uma estruturaapropriada de comitês operacionais ou táticos de categoriainferior em que o ALCO delega várias de suas funções que,por razões de periodicidade, materialidade ou carátertécnico, não é operacional que assuma diretamente; dentreas quais:

- A revisão periódica de todas as métricas e indicadoresde liquidez.

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- A definição da metodologia de cálculo dos parâmetrosde liquidez.

- A aprovação de operações com impacto em liquidezdentro das atribuições definidas.

Organização e funções

O modelo organizacional para o gerenciamento e o controle dorisco de liquidez é sustentado por dois princípios fundamentaisque as instituições estão reforçando de forma ativa: oenvolvimento da Alta Administração e a segregação dasfunções de originação e gerenciamento daquelas de controle esupervisão.

Para isso, as instituições estão enfatizando os seguintesaspectos de sua organização:

� As instituições reforçam a publicação interna das estratégiase políticas estabelecidas pelo Conselho de Administraçãocom relação ao risco de liquidez, de modo que estas sejamefetivamente conhecidas pelas áreas responsáveis pelogerenciamento aplicadas em sua função diária.

� Também visam garantir que tanto o CEO como osmembros do ALCO estejam devidamente informados sobrea exposição da instituição ao risco de liquidez e documprimento da estratégia e das políticas estabelecidaspelo Conselho.

� As instituições estabelecem controles e atuações paragarantir que as funções de originação e gerenciamentoestejam claramente segregadas daquelas de controle esupervisão, o que por sua vez, propicia o adequado controledo risco, a eficiência e transparência em seu exercício.

� Finanças, e mais especificamente, a Gerência Financeira, éresponsável pela análise e gerenciamento do risco deliquidez de acordo com as decisões adotadas pelo ALCO:

- Colabora na definição das hipóteses a seremconsideradas na projeção do balanço e geração dasdistintas métricas utilizadas na gestão.

- Analisa e projeta o risco de liquidez, elabora propostasde atuação e as apresenta ao ALCO.

- Executa as decisões tomadas no ALCO, podendoalavancar-se para isso, na Tesouraria (por exemplo,delegando a gerenciamento da liquidez operacional).

- Elabora e executa o plano de emissões.

- Controla a curva de crédito da instituição .

� Riscos identifica, mensura, analisa e controla o risco,monitorando o cumprimento do apetite por riscoestabelecido pela Alta Administração:

- Define a metodologia para a mensuração do risco deliquidez.

- Estabelece métricas e limites alinhados com o apetitepor risco estabelecido pelo Conselho.

- Controla que as exposições de risco de liquidez sejammantidas dentro dos limites aprovados.

- Monitora os excessos sobre os limites, informando a AltaAdministração e as demais áreas envolvidas.

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� Além disso, trabalha-se na segregação de funções entregerenciamento da liquidez estrutural (com objetivos comoassegurar a continuidade do negócio e a manutenção deum perfil de fontes de financiamento diversificado) egerenciamento da liquidez operacional, realizada emocasiões por áreas como a Tesouraria, que funcionam comocentros de lucro e que têm, portanto, objetivos deorçamento ou resultados e limites de risco operacionaisassociados. Isto implica na resolução de questões maneirasdistintas pelas instituições em aspectos como os critériospara a distinção entre liquidez estrutural e operacional(prazos, produtos, etc.) e a necessária distribuição defunções entre Finanças e a Tesouraria, a responsabilidadesobre a gestão direta das emissões ou a capacidade deexecução direta no mercado por Finanças.

� Por outro lado, as instituições estão reforçando seuscontroles para monitorar tanto o adequado cumprimentodos índices regulatórios como a correta observância daspolíticas e procedimentos definidos, bem como ocumprimento dos limites aprovados pela instituição.

� Também aparecem ou são reforçados os objetivos degestão derivados da manutenção de buffers de liquidez detamanho significativo; dentre os quais:

- Estabelecimento de medidas destinadas à otimização dopróprio buffer.

- Gerenciamento do risco de base entre os ativos dobuffer de liquidez e o restante do balanço.

� Por último, é reforçada a função de pricing do risco deliquidez e, em alguns casos, constituição nas Tesourarias demesas de gerenciamento do LVA.

Políticas e princípios básicos

Com o objetivo de otimizar o balanço e a conta de resultados,proteger a margem financeira e o capital e administrar aliquidez estrutural, as instituições estão dotando de maiorrelevância a definição e o controle do cumprimento deprincípios básicos para o gerenciamento e o controle do riscode liquidez, dentre os quais cabe destacar:

� O risco de liquidez deve ser administrado para todas asmoedas relevantes em nível agregado e individual, dentrodos limites estabelecidos pelo Conselho.

� Tal gestão terá como objetivo minimizar os custos definanciamento observando, ao mesmo tempo, um critériode prudência que permita assegurar a continuidade donegócio em situações normais e de estresse.

� A gestão deve basear-se na análise forward looking dobalanço e da situação e perspectivas do mercado (emsituação normal e de estresse).

� Deve existir um buffer de ativos líquidos apropriado,composto por ativos de alta liquidez não comprometidos,que garanta a sobrevivência da instituição em cenários deestresse em distintos horizontes temporais.

� A instituição deverá contar com um plano de contingênciade liquidez permanentemente atualizado que defina aspolíticas de atuação e as responsabilidades em cenários deestresse.

� Deverá manter um perfil de fontes de financiamentodiversificado e prudente, baseado na manutenção derelações estreitas com provedores de financiamento(incluindo os bancos centrais).

Além do reforço para o cumprimento destes princípios, asinstituições mais avançadas estão evoluindo em váriosaspectos:

� O uso de mecanismos que assegurem que os custos daliquidez se integram nos processos de decisão e namensuração do desempenho.

� Uma maior descentralização do gerenciamento do risco deliquidez, para cumprir requisitos por países ou instituiçõessubsidiárias, sem perder de vista a visão consolidada.

� Uma intensificação de esforços no gerenciamento daliquidez intradia, o gerenciamento de garantias como fontede liquidez e o acompanhamento contínuo de indicadorestanto do mercado como próprias da instituição.

Métricas, metodologias e limites

A revisão das métricas (e limites associados) utilizadas nogerenciamento e controle do risco de liquidez, bem como dasmetodologias e hipóteses empregadas para sua estimativa,constitui um elemento fundamental na evolução da estruturade gerenciamento e controle do risco de liquidez nasinstituições.

A mensuração, que deve ser realizada de maneira individualpara todas as moedas relevantes, é alavancada no cálculo degaps de liquidez (estáticos e dinâmicos) em distintoshorizontes temporais e precisa, nos modelos mais avançados,da estimativa de modelos dinâmicos de evolução do balanço efontes financiamento (opcionalidades, pagamentosantecipados, etc.).

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Além desses gaps, as principais métricas utilizadas incluemíndices tanto de caráter interno (loan to deposit, concentraçãode fontes de financiamento por distintos eixos, etc.) comoregulatórios (LCR e NSFR), assim como outras métricas, como operíodo de sobrevivência (Figura 17).

Adicionalmente, as instituições monitoram de formapermanente as condições do mercado e os indicadorespróprios da instituição como os spreads de CDS ounegociações de emissões no mercado secundário.

Neste âmbito, os principais pontos de evolução em direção aosque se inclinam as instituições são os seguintes:

� Reforço dos distintos supostos metodológicos utilizados(pagamentos antecipados, taxas de retirada de depósitos,haircuts sobre ativos líquidos, etc.) e análise desensibilidade sobre os mesmos.

� Aumento da granularidade e frequência de cálculo dasmétricas utilizadas no acompanhamento do perfil de risco econtrole de limites.

� Adequação das metodologias para o cálculo das novasmétricas (EAD de derivativos em distintos horizontestemporais, gap de liquidez conforme novos critérios,passivos por contraparte significativa a diferenteshorizontes temporais, etc.).

� Melhoria da consistência entre os distintos elementos dagerenciamento e mensuração (cenários de estresse, planode contingência, LCR, planejamento integrado de capital eliquidez, etc.).

� Planejamento e desenvolvimento de sistemas de backtestque permitam monitorar a adequação das premissas nosmodelos.

� Desenvolvimento das metodologias de pricing do risco deliquidez, incluindo a consideração do LVA (Liquidity ValueAdjustment) na valoração de derivativos.

Um dos aspectos aos quais as instituições estão dedicandograndes esforços é a evolução dos sistemas de taxas detransferência interna que, em muitos casos, estão sendoreplanejados para responder à necessidade de transferiradequadamente o custo da liquidez para os negócios,mensurar com maior precisão sua rentabilidade e incentivarpolíticas de gestão relacionadas com o risco de liquidez. Istoimplica o desenvolvimento de curvas que reflitam o custo demercado do financiamento e causa impacto, em últimainstância, no aumento dos spreads.

As principais questões abertas em termos de taxas detransferência que, à luz da situação atual, estão sendoabordadas pelas instituições mais avançadas são as seguintes:

� A seleção da «curva correta» de financiamento que deve serempregada para o cálculo das taxas de transferência.

� A metodologia para transferir às taxas o fato de que ofinanciamento da instituição provém de fontes distintas,com diferentes preços e vencimentos.

� O reconhecimento e impacto nas taxas de transferência daincerteza dos fluxos de caixa.

� A avaliação do custo real de mitigação do risco de liquideze sua deslocamento para as taxas de transferência.

Todos os desenvolvimentos anteriores servem para obteralgumas taxas de transferência ajustadas que reflitam arealidade dos custos de liquidez, envolvendo as unidades denegócio e sem perder de vista que seu objetivo último é aintegração na gestão efetiva da instituição, desde amensuração de incentivos até a avaliação de novos produtos,passando, obviamente, pela determinação de preços.

Figura 17. Métricas de mensuração e acompanhamento do risco de liquidez

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Teste de estresse e planos de contingência

O teste de estresse é uma ferramenta de análise e controleessencial para avaliar a capacidade das instituições de dominarsituações de estresse de liquidez. Esta análise deve serexecutada tanto com base nos critérios prescritos peloregulador como através de modelos desenvolvidosinternamente.

As instituições estão avançando no desenvolvimento destesmodelos e propõem diversos desafios, dentre os quais cabedestacar:

� A utilização de cenários próprios e sistêmicos e maiordesenvolvimento das hipóteses consideradas na suadefinição, considerando fatores como:

- A liquidez do mercado.

- O comportamento de clientes e fontes definanciamento.

- O impacto dos rebaixamentos de rating.

- Os valores de mercado de ativos líquidos e garantias.

- A garantia que se deve depositar pela variação do mark-to-market de derivativos em distintos horizontestemporais.

- A interação entre os requisitos de liquidez e a evoluçãoda qualidade crédito da instituição.

� A garantia de consistência com os cenários aplicados naplanejamento de capital e a limitação do risco (apetite elimites) e com o plano de contingência, que por sua vez,deverá incluir variáveis que façam parte do exercício deestresse e as ações destinadas a mitigar situações descritasnos cenários de estresse de liquidez.

� Seus resultados deverão ser analisados pela AltaAdministração para identificar potenciais debilidades epropor ao Conselho medidas para mitigá-las.

O plano de contingência de liquidez, por sua vez, deveráidentificar responsáveis e estabelecer planos de ação para agestão de situações de crise de liquidez que garantam asobrevivência em distintos horizontes temporais, cobrindo,entre outros, os seguintes aspectos:

� Definição e categorização dos cenários de crise(consistentes com os empregados no teste de estresse),distinguindo seu âmbito e níveis de severidade e definindoem cada um deles, as hipóteses de comportamento deelementos-chave de balanço.

� Definição dos critérios de ativação do plano alavancadosem indicadores e alertas.

� Delimitação clara dos papéis e funções dos responsáveispelos distintos âmbitos do gerenciamento e o controle(incluindo seus dados de contato atualizados).

� Variações na frequência de realização dos comitêsordinários e constituição de comitês de crise específicos,delimitando as funções de cada um deles.

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� Critérios e guias de atuação em relação à informação a sergerada durante a crise e protocolos de comunicaçãointerna e externa (acionistas, agências de rating,investidores, depositários, imprensa, etc.).

� Descrição do mapa de fontes financiamento, incluindométricas de liquidez contingente e de reestruturação debalanço.

Por último, com o propósito de garantir sua efetividade, asinstituições estão articulando procedimentos periódicos paramanter o plano de contingência de liquidez testado epermanentemente atualizado.

Reporting e ferramentas

Finalmente, cabe destacar que também são reforçados osmodelos de informação e as ferramentas de acompanhamentoe reporting do risco de liquidez para que suportemmetodologias de mensuração avançadas, garantam aqualidade e a consistência da informação, bem como a geraçãoa tempo e forma do reporting gerencial e regulatório.

Para isso, as instituições necessitam dispor de ferramentas comrequisitos de informação muito superiores aos atuais,especialmente em granularidade e periodicidade, o que estáexigindo importantes esforços para seu planejamento edesenvolvimento. Os principais elementos dos quais asinstituições necessitam dispor são os seguintes:

� Bases de dados que:

- Disponham de capacidade suficiente para armazenarvolumes de informação muito elevados.

- Possibilitem o rastreio da informação, para garantir aauditabilidade dos dados utilizados para ogerenciamento e mensuração do risco de liquidez.

- Garantam a consistência da informação utilizada pelasdiversas áreas que utilizam estes dados.

- Armazenem dados com a granularidade suficiente parao cálculo das métricas requeridas.

� Motores de cálculo para obter as novas métricas degerenciais e regulatórias exigidas (incluindo a consideraçãodo custo de liquidez no pricing) de maneira rápida,confiável e automática, considerando que, em algumasocasiões, parte da informação exigida para efeitos deliquidez é calculada pelas ferramentas de risco de créditoou de mercado.

� Dashboards e ferramentas de reporting que englobemtanto informes regulatórios (QIS, Demonstrações LQ(Espanha), FSA047, FSA048 y FSA050-54 (UK), etc.) comogerenciais, em função das necessidades dos distintosusuários (Finanças, Riscos, etc.).

� Ferramentas para o acesso e a exploração da informaçãoque contem com a flexibilidade suficiente para darcobertura à análise ad hoc.

Por último, além das implicações tecnológicas, cabe mencionarcomo desafio na maior parte das instituições financeiras aconsistência e a conciliação entre os distintos reportes(regulatório e gerencial, de risco de crédito e de liquidez), quecostumam se originar de distintas ferramentas.

Conclusão

Como foi observado, as instituições financeiras estão imersasem um processo de revisão de sua estrutura de liquidez com oobjetivo de adaptá-la aos novos requisitos normativos ereforçar o gerenciamento e o controle do risco de liquidez,cada vez mais presente nas decisões de negócio.

Este processo tem implicações em âmbitos distintos:governança, organização e funções, políticas e princípios;métricas, metodologias e limites, teste de estresse e planos decontingência; e reporting e ferramentas. Nesta seção foramdestacadas algumas das chaves que estão orientando aevolução das instituições nos referidos âmbitos.

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