Rosa Maria Nº7 (Junho 2014)

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O Jornal da Mouraria. (PDF)

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  • 5/24/2018 Rosa Maria N7 (Junho 2014)

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    junho 14 ldezembro 14 semestral

    Associao Renovar a Mourariawww.renovaramouraria.pt

    directora lIns Andrade

    distribuio gratuita

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    Rosa Maria n. 7junho 14 dezembro 14

    J partu um pulo, um p, um joelho e alguma otela.E eteve prete a ter uma perna amputada. Catarata,audo reduzda, pedra blare... So vra a maletaque aetam a dona Emla, ma a maora dela j paa-ram h ma de trnta ano. Hoje, ao em, dee (e obe)do terero andar que habta na Travea do Jordo e pal-mlha a eadara at ao Largo da Olara, onde requen-ta a mereara da dona Helena. Am ez, por exemplo,no da em que no onedeu eta entrevta, numa tera--era, de Mao.

    Sempre o aernha, ma mantm ete gro entre arotna habtua e, todo o ano, h um da em que nunafia em aa: de Mao. Anda ete ano l eteve ela, noTerrernho, entada no eu banqunho, om a nora Iau-ra, de ano, om quem vve, omo me e filha. o dada Proo da Noa Senhora da Sade, a ma antgado pa, que vem do tempo da Deoberta (em ),por devoo do artlhero de So Sebato na Mourara,que rogaram, om xto, pelo fim da pete em Lboa.

    Emla de Jeu Morera Cota naeu no dtrto deCatelo Brano na Qunta da Perera, Belmonte no da de Dezembro de , tr ano depo da Implantaoda Repbla. r de pa anda ante de naer, o a manova de e rmo e goza da maor longevdade em todaa amla. Tem um filho de ano e um neto de nquen-ta, a mema dade que tnha quando envuvou e omeoua trabalhar em aa omo ama de rana uma dela,a Ana, filha da dona Helena da mereara, que anda lhehama av. Ua preto h meo ulo e, dede que perdeuo eu ompanhero, nuna ma o ao nema. Chegou a vero Capas Negras veze em onta, ma j no e lembra da h-tra dee filme de , em que a Amla Rodrgue teveum etrondoo xto, tnha Emla ano.

    Paou por dua guerra munda, entrou e au da malonga dtadura da Europa odental (vveu-a do ao ano), atu mafiao da eletrdade, do teleone,da mquna de lavar roupa, da televo (tnha anoquando naeu a RTP) e da nternet, que a nora otuma

    uar, em epeal o Faebook. No abe ler nem ma no e atrapalhou, j om ano, quandubttuu o eudo em , na equna da enPortugal na Comundade Eonma Europea, Vve um pa regatado pela terera vez dede a Da ntaurada em . Prmero pelo FMI, em e agora pela troka do FMI om o Bano Centrale a Como Europea, at ao paado da de M

    A telenovela o a ua dtrao, ma tambpanha a nota e tem do pv preerdo:Guede de Carvalho, da SIC, e Judte de Soua muto mpta e expla muto bem a oa.ra na Chna om o Cavaqunho [Cavao Slva],o que que e pode azer om Portugal, para aConegue magnar-e a vver em televo? Apoda! Ento que morra etpda memo.

    A quem vver no prxmo em ano, dexa umJuznho, muta pana. Ser bom para a peoavantar alo tetemunho, no matar, no roubar, na

    Viver em televio?

    No podia! Ento quemorria espida memoNaeu em Belmonte no ano de 1913 e vve na Mourara h ma de etenta. Converou om o ROSA MAe repondeu pergunta que reolhemo pelo barro, entre o eu vznho, om dade do 10 ao 90 an

    Emla Cano

    reportagem TextoMarisa Moura *FotografiaCarla Rosado

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    Entrevsa FotografiaMarisa Moura

    Margarda Guerrnha, ano:Na suainfncia havia tantas coisas como hoje?Ao que que brincava?Resposta:A trabalhar! A trabalhar dedeo e ano! Tomava onta de um menno,que anda no tnha um ano ma era umgordo e eu tnha que deer uma eadaom ele ao olo. Levava-o ota, e umda, pumba, vamo o do pela eadaa baxo [ro]. A patroa deu-me umapalmada e eu ug para a mnha me, maela o-me l levar outra vez. S a a aa

    ao domngo.Nuna tve uma boneaequer. Depo omee a trabalhar noque aparea. A avar... Anda hoje etudo do ampo.S j me eque dadata para emear. Do reto anda melembro de tudo. Regar, ahar, aterrar...Trar gua para um pano mo om obalde... O ampo tem muta oa bonta.

    Tatana Barro, ano:Como que a

    chegada da Ditadura interferiu na suavida? Destruiu algum sonho ou objectivo?Resposta: O onho para mm eram trabalhar, ma nada. Gotava de ter do eola e muta oa, ma no poda.Morava numa pequena povoao, aeola era muto longe e no hava tran-porte. E tnha que trabalhar. Vm paraLboa tnha un ano. Servr. No eraum onho. A mnha me de-me Vapara o p da tua rm. E eu u. Ped auma enhora que me lee o anno eela de-me: Olha Emla, et aqu umbom! Fo bom, o... At ome l pae!Ah po! Muto ro, ma...

    A mnha olega, oznhera, tambmetava aflta. S omamo o que vnhada mea. E davam-no pmento rto.Dz-me ela: Emla, vamo arranjaroutra aa e vamo a dua embora? Elatambm no aba ler e de: Vou pedra uma enhora que mnha onhedapara ver e ela no aolhe. L no arran-jou outra aa, na Avenda da Lberdade.Fomo. A Jeu! Era uma aa enorme,muto luxo. Cadera dourada, mvelndo, tudo muto lndo, ma... Comer que no era om ele. Fu outra vez paraaa da mnha rm. Ma eu no gotava

    do meu unhado, de manera que dedvoltar para a terra. A paagem utava eudo. No tnha explao o quea gente ganhava. Era muto pouo. ou eudo. eudo j era muto. E tnhamo uma olga de qunze em qunzeda. Era uma eravatura. Detava-me

    veze dua hora, tr hora, e tnhade me levantar no.Met-me noomboo e l u. A Jeu! Eu dza mal mnha vda. No aba o que hava deazer. No quera etar l na terra, matambm no quera pear mnha rm.Um da deu-me uma veneta e vm paraLboa outra vez.

    A mnha me tnha envado uma arta mnha rm para ela r buar-me etao, ma ela no o. Entretanto vnhano omboo um enhor l da noa terra,o enhor Bdarra, uma peoa muto boa.Chegue etao, epere, epere... Eleno me dexou al oznha.J era quaeuma hora da note e hova que Deumandava! A menna Emla onhee a

    enhora Damana? Era uma enhora del da terra, portera na Ba. Ele hamouum tx e levou-me l. Eu peda Noa Senhora que me aompanhae[hora]. A ratura levantou-e, etavamo filho a dormr. No outro da perguntoua uma enhora: dona Roa, a enhorano prea de uma empregada?, Olhe,por aao preo. Era para azer re ea oa para a onetara. E letve. Depo aonteeu qualquer oana vda dela e dexou de azer o pat.Era no qunto andar. No andar de baxohava uma peno om doze quarto. Ful perguntar: enhora Jla, a enhoraprea de uma empregada? Ao tempoque ela andava om o olho em mm! Fo

    a mnha egunda me. Era uma enhora!Anda tenho al uma otografia dela. Elaj me tnha dado um toque, ma utava--me dexar a dona Roa. Ma omo ela,otada, j no poda ter-me... L fiquena peno.

    Fo a que onhe o meu mardo. Erahpede onhedo da amla dele. Eta-va dvorado h quatro mee e eteve alun tempo. L no enamormo. Ele per-guntou enhora Jla: Aquela rapargaque a enhora tem a, ela boa raparga,no ? E dz ela am: uma ja! Notem etudo ma muto boa raparga.Um da vou levar a gua e a toalha e eleez al uma antga... [ro] Eu nem deque m, nem que no. dona Jla, o e-nhor Fernando de-me to am-am.O que que a enhora aha?, Olha filha,az o que entendere, ma aho que azebem. Sempre va para a tua anha,Ma eu tenho medo que ele e aborreae me dexe..., Olha que no rapaz parao. E no o... [hora]. Fo a melhoroa que eu tve na mnha vda! Prmerovvemo num quarto em So Paulo [Cado Sodr] e depo que arranjmo etaaa. Ante de o onheer anda etve noBarro da Colna.

    Hugo Mauro, ano: Como viveu aprimeira e a segunda guerras mundiais?Resposta:J no me lembro dea oa. veze hava am, uma revoluo eam... Uma oa... Hava tro para ,tro para aol. Eu morava al no Barroda Colna, que era quae terra...Um da, de manh, omo varanda e otanque da roupa etava om bala. MeuDeu! Nea note a gente no oneguudormr. Aqulo era de um da para o outro.Depo aalmava. Nem e para que era.Anda nem onhea o meu mardo.

    Gertrude Da, ano:Em esta-mos num estado calamitoso, nomeada-mente na Sade e na Educao. Houvealguma altura nestes cem anos em que

    tenha sentido que o pas funcionoubem, com as coisas a preos acessveise as pessoas a viverem em esprito deamizade?Resposta: Eu no, filha. A gente vaera pobreza. Por o que azam dagente erava. A melhora j verammuto tarde. Comeou tudo a abrr oolho. E depo, quando e deu a revolta

    do de Abrl, ento o... H pouo tem-po que h ea oa da axa [pene].Antgamente no hava. A mm no meortaram nada porque no tnha. A trokamaldta nuna ma tra de o p. Stm eto mal. Metem o narz em tudo.Devam azer a oa de outra manera.

    Anabela Mota, ano: Que alimentaomantm para chegar a esta idade?Resposta: Uma opnha, poznho omqualquer oa, ejo, batata, arroz,maa... Enjoe tudo dede a doena quetve [pedra na veula]. Agora j omoum boadnho de baalhau, ma pouo.Adorava a e beba a toda a hora, maagora no poo beber para no fiar oma teno alta.A gente quando nae j trazo detno marado, para vver ou morrer.No o que e ome, nem nada do. Tudo o detno. O que Deu manda, ma nada.

    Ilda Novo, ano: Como foi voltar a viverem Liberdade aos anos?Resposta: Eu nea altura no penavanada, etava no meu burao. E am te-nho paado, e am etou. Trabalhe mu-to, muto. Quando omeo a deenterraroa na mnha abea, pao note queno durmo. Mano tomo omprmdo.No dorme hoje, dorme amanh! Rezo otero. Por enquanto, graa a Deu, no mehabtue a nada do. Parte do remdoque me reetaram, j o rejete.

    Mara Jo Lu, ano:Ainda conseguetratar de si prpria?Resposta: No tenho ralda, no tenhonada do, graa ao Noo Senhor. E tomobanho oznha. Dante levantava-me maedo, agora no preo, omo a dua.No da que no tenho que azer, levanto--me pela oto e mea, nove hora. Hojelevante-me eram ete, arranje-me e u-meembora, mereara. Em jejum. S emjejum que poo azer a oa. Se omoe me baxo va tudo ora. Chegue l havade er oto e mea. Nngum me dexa tra-zer nada. Ia a ar e o meu vznho: Quer

    que lhe leve alguma oa? Trouxe-me oao do baalhau.

    Jorge Bato, ano:At que idadepensa chegar?Resposta: Eu quera hegar at amanhFava elz. Dede que Deu Noo Senhorme leve para um bom lugar... Ma to no o que eu quero, o que Ele quer. Faa-ea ua vontade.

    Helena Olvera, ano: Com esta idade,o que que andamos c fazer!?Resposta: O que que eu ando aqu a a-zer? S ando aqu a penar... A gente, endovelha, penar. Chatear o outro. Eu noquera que oe am. Sempre ped a Deuque, memo que levae o meu mardo mnha rente, que me levae numa hora Ma Deu no qu que eu oe om ele.

    D. Emlaresonde

    * Com os nove vizinhos que fizeram as perguntas, e com a preciosa colaborao de todos os que ajudaram a concretizar esta entrevista. Agradecemos em especialao Sr. Jos Ferreira, da Charcutaria Beiro, Paleta, da Msica da Mouraria a Gostar Dela Prpria, e D. Laurinda Barbosa, do restaurante A Vaidosa do Terreirinho,que nos conduziram D. Emlia. E tambm D. Maria Amlia Miranda que tanto se empenhou a ajudar-nos a encontrar os entrevistadores com as idades certas.

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    Intendente:Sa Antno Coa...O predente da Cmara Munal de LbAntno Coa, paou tr ano no Largo ddente Pna Manque, para onde traneruo quartel-general da autarqua em Abrl de no arranque do PDCM Programa de Deemento Comuniro da Mourara, quando tzona era um antama por reanmar. RegrePao do Conelho no paado m de Abredendo a nalae Junta de FregueaArroo, predda por Margarda Martn, raoao Abrao. Va tratar de outra Moegundo anunou em Maro numa reunora. Entretanto, em Mao, ap a elee euem ae do reultado deavorve ao oanunou a ua anddatura lderana do PSoala, de olho poo na leglatva doano, na qua poder tornar-e prmero-m

    ...entra uma rednapara eudante.Na mema reuno de mara, no da de o aprovado o projeo para uma redneudante, no Largo do Intendente, a er expela Unverdade de Lboa, om apada ama.

    OMob j eO esao Mob dexou o Barro Alto, onde anomportvel, e abru porta na Rua do Aem Abrl, ap tr mee em aa. Naeu ano de uma parera om a Aoao de Prearedade Prero Inflexve (aten exta, da h h) e om a ooperatvCrew Haan. A moblzao ontnua no Ite, reorada om o Habia Colevo pelo Habiao e Cdade, que al dnamza atoda a egunda, h. Contnuam a eaNa naugurao, a ma eeve por onta dGolpe de Eado. Ma normae em mobl

    E h tambm umanova (d)entdade:O reente nmero de nqulno no Intenjufia um BI. Naeu am, em Mao, o Barro Intendente, que nu omerante Portuguea, Bke Pop, Horgnal, et.) e entultura (Largo Redna, Caa IndepenSport Club Intendente, Mob, et.) edeadodo Intendente Pna Manque, na Rua do ARua do Benormoo, ea ltma olada MComunam evento onjuntamente em badente.wordpre.om e no Faebook.

    Futura agentede geratraDezaete mulhere om dade entreo 20 e o 50 ano eto em ormao

    na Mourara dede Feverero para etornarem agente de geratra, omequvalna ao 9. ano.Alm de enrqueerem em matra quevo do Ingl Matemta e Htra,reebem uma bola de euro men-a, ou valor aproxmado e j reebamapoo anterore. E ganham empregab-ldade para o uturo, tratando de quemtanto prea: o ma doo (ver outranatva para enore da Mourara napgna ).A ormao reulta de um protoolo entreo gabnete munpal GABIP Mourarae o Inttuto do Emprego e FormaoProfional, em parera om a ObraSoal da Irm Oblata do Santmo

    Redentor, que enamnhou era demetade da ormanda. Etaro prontapara exerer a profio quando o uroaabar, em Novembro de .

    nota

    CarlaRosado

    MarisaMoura

    DiogoLin

    publ

    icidad

    e

    Calada Agonhode Carvalho:

    Xadrezda drda

    O paeo da Calada Agonhode Carvalho tm, dede Maro, trontrovera rea. Um lado deangreme rua manteve a aladaportuguea, o outro fiou dvddoem do to: ee memo pav-mento num quarto do paeo eo reo om uma argamaa nzen-ta eura que a todo deagrada,nundo ao predente da Cma-ra de Lboa, Antno Coa.

    A iuao levou memo uma moradora a agendar uma reuno na junta defeguea. No da em que a obra fiou pronta, marque logo, para morar o meudeagrado, onta Ana Slva, ano, dede o por aqu. Hava uma agravante:eava finalzada a empreiada que manteve a rua eventrada durante o Inverno,ap o rebentamento do oleor de egoto, ma fiaram por unr a pedra doempedrado por onde rula o trnio. Ele [Mguel Coelho, predente da Junta

    de Freguea de Santa Mara Maor] lgou logo a algum ao p de mm e o orapdamente arranjado.O predente da mara j tnha do camado ao loal pelo prpro MguelCoelho e no da dea via a noa vznha eava janela. O Antno Coa pergun-tou-me o que que eu acava e eu resond que j tnha uma reuno marada.At ele onordou que aquele novo pavmento muio bruto. De que talvez embege fiae melhor. A obra oram da resonabldade da mara, ma o pre-dente da junta admie vr a embelezar aquele treco.O objevo do polmo materal eviar queda, obretudo entre a peoama doa, ma o moradore rejeiam tal argumento, alentando que a pedrapreta da alada portuguea j tm un bqunho ant-derrapante, omo dz

    Joo Brio, dono da Leiara do Benormoo ano, h redente na alada.Conordam om ele oogenro omo a dona Helena Almeda. Por: a oberturaem aua (tambm uada no parque nantl da Rua da Gua) da ma ara, eia bae de rena epx, egundo explae do arquieo da junta, Jo Carvalhe-ra. Indgnou tambm o ao de o novo po ter do poo quando, no da anteror,j al e tnha oloado a alada portuguea. Fez-e e deez-e, para por.

    Eaonamento ondonado na Rua da GuaAm que termnarem a ea do Santo Populare, omear na Rua da Guaa onruo de um eaonamento para - lugare, no loal onde hoje e a ram-pa em fente ao prdo devoluto. O moradore do Largo da Severae da rua do Capelo, da Gua e Joo do Outero oram onvoadono paado da de Mao pelo predente da Junta de Fregueade Santa Maor para erem normado e auultado. Ajudem-mea dedr nea queo eenal, para a qual no enontre melhoroluo, de Mguel Coelho era de qunze peoa preentena Caa da Covlh, adantando que ea uma alternatva menoradal em relao nteno da mara munal, que era de nalarum plarete a nterdiar a zona. A Rua Marqu de Ponte de Lma paara ear ontrolada pela EMEL, reervada a redente, mplando o paga-mento anual de um elo no valor de euro. O Largo da Severa no oeio para ter arro, ma m eslanada, explou. E ao deagradadomoradore da Rua da Mourara que no ero onderado utente dazona, lembrou: O ptmo nmgo do bom.

    Mara do ano

    Nee Carnaval, o Grupo Gente Novarealzou ma um anmado onuro demara. O venedore oram a prneaCarna Leta, ano (prmero lugar),o mexano Gonalo Fernande, ano(egundo), e o pola Maro FranoSoua, ano (terero).

    Uma das aulas de ingls com a professoraJoana Pessoa no GABIP Mouraria

    B.I

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    Crna

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    BBBBBBBBBBBBB tBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB

    H 24 anos que trabalho na Mouraria e como estudante de Sociologia uma sorte ter um marchante devoto do bairro como colega. Chega abril eo Nuno, nem com guas mil, deixa de cumprir a tradio. A azfama inicia--se com os preparativos para as marchas populares. No escritrio surgemos primeiros relatos do recrutamento, das medidas para os fatos ficarema matar, as primeiras marcaes, a escolha dos pares e as tentativasde convencer os mais indecisos. A marcha comea a ganhar forma. O Nunoespera escrupulosamente pela hora do incio do ensaio, sobe rua desce rua,decora as letras e as marcaes. O entusiamo notrio no seu semblante.

    Os comportamentos e as dinmicas recorrentes, ano aps ano,permitem a transmisso de fatos culturais de gerao em gerao,perpetuando assim, no s a tradio, mas tambm a rivalidade entre

    bairros. O Nuno ilustra brilhantemente tudo aquilo que estudamos nosmanuais acadmicos sobre identidade. Como ele diz: H sempre unsbairrismos, depois h as picardias, uma claque grita mais alto, a outra gritamais alto e envolveu-se tudo porrada no pavilho.

    interessante constatar que a cmara municipal promove os bairrosdivulgando os costumes enraizados na populao como atrao, masos marchantes no do grande importncia parte turstica do evento,referindo-se s festas populares como uma festa deles e para eles.A gente sente mais (eu sinto mais) a volta ao bairro do que descera Avenida. As marchas e os bairros fundem-se assim em tradies,significados, rivalidades, sentimentos de pertena e identidades coletivas.

    Ser marchante envolve um conjunto de disposies forjadas ao longodos tempos - e ser marchante da Mouraria no o mesmo que sermarchante em Alfama. I i i, a nossa marcha que . Ainda assim,sendo nossa, no nossa da mesma maneira para todos. O orgulhodo bairro do bairro, mas se no se for na marcha no a mesma coisa.Tem de se ir para sentir o que aquilo. este orgulho, este sentimento

    de pertena enraizado, que muitas vezes transborda e acerta em cheiona claque da marcha vizinha.I i i, a Mouraria que !

    Jos Lus Elvastrabalha num bancode imagens e finalista da licenciaturade Sociologia na Faculdade de Cincias Sociaise Humanas da Universidade Nova de Lisboa

    I i i,a nossa marcha que !

    Prmera alade onumo atdode droga prete anaer na Mourara

    u

    Mais de vinte pessoas da Mouraria j cantaram em frente s cmaras do projecto A Msica Portuguesa a Gostar Dela Prpria.Em cima, o quarteto Fateh, Charan, Kuidip e Sewak. Abaixo, Maria de Lurdes Santos. Ao alto, a fadista Elvira Igreja

    Fotografia

    Raquel Cavaleiro /MPAGDP

    MariadoCuBarata

    CarlaRosado

    Podemo at dzer que a Mourara et namoda. Ma no h ahada aada que o eon-da: a droga ontnua na rua. Perpetua o guetono barro; aata moradore, turta e nvet-dore; traz rmnaldade e prottuo; detramla e etgmatza onumdore.

    Em , num edo da Calada de Santode Andr eddo pela mara, naeu o In Mou-rara, entro de apoo a toxodependente ge-rdo pelo GAT (Grupo Portugu de Atvtaobre Tratamento de VIH/SIDA). Al, o on-umdore enontram enermero e potera-peuta que j o onheem. Al ouvem one-lho de ex-onumdore. Al e azem a ponteom o entro de emprego. H merenda, aa--de-banho e roupero; do-e ernga nova, a-hmbo e preervatvo; ala-e de exo eguroe do ontgo de doena aoado ao onumode droga em onde nalubre. Tambm eazem ratreo de VIH e Hepatte B e C.

    Rardo Fuerte, que oordena ete entroe trabalhou numa ala de onumo atdo dedroga em Barelona, ente-e de mo atada.

    O onumdore entram, o aonelhado,reebem ernga nova... Ma hega a alturaem que pream de njetar herona ou umarcrack e tm de o r azer para a rua, oznhoem ao de overdose, abrgado numa runa ou

    aoorado atr de um arro no Benormoo.A dea de onumo atdo et prevta nale dede , ma nuna o pota em prta.Paree que deta: a vero nal do relatroda Admntrao Regonal de Sade de Lboae Vale do Tejo e do SICAD (ex-Inttuto da Dro-ga e da Toxodependna) que reomenda

    a rao de uma etrutura de onumo egurode droga neta zona er entregue ao Preden-te da Cmara Munpal de Lboa anda neteVero. Fo at dentado o lugar deal: a Ruada Palma, perto do uturo entro de ade doMartm Monz e da utura equadra da PSP.

    A deo tna et tomada. Falta a pol-ta. At ao eho deta edo, Antno Cotanada tnha dto. Reta aber e a ua anddatu-ra lderana do PS (e, qu, leglatva doprxmo ano) ondonar a ua deo. Sabe-mo que ete um tema envel, ampo rtlpara populmo e preoneto.

    J e tentou rar um epao am em ,om a Etratga Munpal de Interveno paraa Dependna, que preva o alargamento daatvdade do Gabnete de Apoo ao Toxo-

    dependente, tuado em Chela e em Bena.Paaram a hamar-e Intalae de ConumoApoado para a Reuperao. A ua aberturahegou a etar marada para o egundo tr-metre dee ano, deorra ento o onturbadomandato de Carmona Rodrgue, ndependenteapoado pelo PSD (partdo que ma onte-tava ete epao na due munpa).Sempre adada. Tambm no Porto e dutao tema, pela voz do padre Jo Maa, predenteda Fundao Flo.

    Joo Menee (oordenador do GABIPMourara) e Lu Mendo (predente do GAT)aredtam que o moradore ompreendem oque agora e prope: no um pa do onumo,ma uma aa de aolhmento que aproveteo tno de nterveno omuntra, m-

    do e enermero para rar empata om oonumdore e apotar na ua regeneraoe ormao proonal. Ou eja, uma aa omoo In Mourara, ma om um quarto a ma. Serdeta?3Joo Berhan

    E vo,j antou?

    Se gota de antar, no e epante e or abordado poruma mpata de abelo urto e ulo redondo hamadaAna Paula Slvetre, ma onheda por Paleta.Velho e novo, naona e etrangero, amadoree proona tm antado pela rua da Mourarajuntando-e a entena de outra voze, do Mnho aoAlgarve. Ma de vnte peoa do barro j gravarame muta outra eto na mra deta aadora de vozeque uma da gua turta da Aoao Renovar aMourara e a ponta-de-lana da Mourara no projetoA Ma Portuguea a Gotar Dela Prpra, rado em2011 pelo realzador Tago Perera. O objetvo gravarno projeto mua por emana, para rar o maorarquvo de ma portuguea.A partpae naona eto em aebook.om/amuaportugueaagotardelaproprae a da Mourara, organzada no anal A Mada Mourara a Gotar dela Prpra em http://mmagdp.tumblr.om. J o tanta que nem temo epao netaedo para tar todo o artta, e meno anda parapublar toda a otograa. bom nal!

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    ...o cafarz do largo do trguero muio vajadSaba que... o aarz do Largo do Trguero muo vajado? No meado do XIX, urge omo bebedouro pblo do paeo da Cosa do Caselo. Em , n

    olao do regedor da parqua de So Crsvo e So Loureno, plantado no Lda Aada. a que o lusrador e aguarelsa Alfedo Roque Gamero o torna amoo em obra (ver pgna ). No ano , muda-e para o Terrer

    da Farnha, aual Largo do Trguero. Ese pequeno lde orgem margnal (que o oligrao Norberto de Ar

    dereveu omo um apro de onsruo de aao e oluo de urbansa antgo na orreo do decveenosa) hoje um do loa ma prazentero da Mour

    E ese velhnho bebedouro o eu ex-lbr.

    Prmero EnontroRavdaa na Mourara

    Ma de em ravda enheram a Sala Fernando Mauro do Grupo Deportvo da Moura-ra, no paado da de Mao, para reeberem uma umdade: Sant Nranjan Da J, lder doanturo Dera Sah Khand, em Ballan, na rego ndana do Punjab.No a prmera vez que Sant Nranjan vem Mourara, ma uma etrea enquanto lder deuma relgo. Dante repreentava o movmento Ravda, ntegrado na relgo Sque; agorarepreenta a relgo Ravdaa Dharam, reultante de um orte radal om o qumo em. Dante vnha omo ravda, agora omo ravdaa, egundo a termnologa adoptadadede que o eu anturo deretou a nova relgo, na equna de um atentado na utra.A preena polal no paou deperebda. Tem do mprendvel dede que ete lderfiou erdo, em , em Vena, no atentando eto por rada que, que hegou memoa matar o eu parero Sant Rama Nand. Seguram-e tumulto por toda a nda e o anturoderetou a nova relgo. Ito, ob uma huva de rta de outro anturo radva, queapelaram uno entre todo o que e e mantveram omo tal.Ambo o alvo do atentado de Vena tnham etado em Portugal na emana anteror, e-gundo Davnder Lakha, ano, redente na Mourara e lder do Shr Guru Ravda Sabha o templo ravdaa tuado no Anjo, que por er pequeno dema para eta reepe

    obrgou ao aluguer de ala no Deportvo. Ete er o no templo ravdaa em Portugal,egundo Davnder, etmando-e que, no total, extam ravda nete noo pa dedez mlhe de habtante. Na utra o o dobro, numa populao de oto mlhe.Conotado om a lae baxa (dalit,o ntove), o ravda araterzam-e por eguremo Guru Ravda, nado nea ata em . Um no guru. J o qumo araterza-epelo eu dez guru. O prmero o Guru Nadak, nado em , e o ltmo GobndSngh, que morreu em em nomear ueor, alegando que o poder orrompeo humano. Ravda ter do orte onte de nprao do qunto guru que. A reenteo tem do analada pela mprena nternaonal omo uma luta do dalitpor umaeetva gualdade oal.

    ReFood finalmente na MourariDz-e rud. um projeto de voluntarado que reolhna retaurao e a dtrbu pelo ma arenado. Fngl, omda. Re vem de relar ou reutlzar. Oo rado h tr ano pelo amerano Hunter Halepao eddo pela Igreja da Noa Senhora de Ftma,

    de Epanha. No ano paado abru novo nleo, prmero em Telhera, dEtrela e no Lumar. Dtrbu qunhenta reee dra e tem entena de voEto em uro dezena de abertura, om junta de reguea que ederoNo noo barro, a ReFood nou a prmera reune no ano paado, mae onoldou o projeto, endo entretanto etenddo a todo o barro da reSanta Mara Maor. Porqu a demora? Ia haver elee e quemo evtar auaprovetamento polto, omo etava a aonteer noutro loa, elaree JoMorera, banro e oordenador dete nleo da ReFood, ento teourero daFreguea do Soorro. J em une polta, oordena o nleo de Santa Mae et prete a ter o aval de um epao eddo pela junta de reguea.

    Nasceu a Comisso Social de Freguesia de Santa MariaQualquer dado pode, e deve, ntegrar uma omo oal de reguea uprevto na le dede , ma que reentemente ganhou vda prta. EMara Maor, a omo naeu no da de Abrl, e o eu xto depende da mde ada um do eu membro. Na reuno de arranque, no alo nobre da Ade Rereo Artto, na Rua do Fanquero, etveram nquenta da e

    onvoada, tendo do do enontro ma partpado de Lboa om a ada Mourara em laro detaque. No mbto deta omo, et a er elaborUnverdade Catla um detalhado dagnto oal do terrtro, que bae atuao do grupo a onttur, para abordagen que vo dede a rdoo, pobreza, volna domta ou toxodependna.

    Mais uma primavera sem jarO jardm da Calada do Monte j devera ter do naem Setembro de . Ap uevo adamento, a dapara o paado m de Abrl, ma nada. O jardm o apela mara munpal omo o maor parque pblo depao urbano de Lboa, om um nvetmento de

    A obra j omearam em Feverero de . Depo pararam, porque alegahava ahado arqueolgo. A obra no avanam. No h jardm nem repo

    Centro de Inovao tambm continua adO adamento maram tambm o Centro de Ino

    Mourara (CIM), o epao de empreendedormo eno quartero do Lagare, que devera ter do naem Janero. A nolvna da ontrutora Contrope-Catraou a obra oramentada em era de mlhe

    Deva etar onluda no prmero trmetre dete ano, ou em Abrl. No etj altou ma. O tapume aram entretanto de ena, dexando vlumbrar brano quae finalzado.

    A nova ede da Junta de Freguea de Santa Mara Maor o naugurada em Medo do Elevador do Catelo, om aeo pela rua da Madalena ou, abaxo,Fanquero. O nmero de teleone entral paou a er o .

    BREVES

    Tome nota! Novos contactos da Junta

    reportagem TextoMarisa MouraFotografiaCarla Rosado

    Saba que... Texto e IlustraoNuno Saraiva

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    Rosa Maria n. 7junho 14 dezembro 14

    hbo Texto e FotografiaJos Fernandes

    Parmod Kumar, fiel ao movimento Hare Krishnae aluno das aulas de portugus da AssociaoRenovar a Mouraria

    A marca de Deu

    A tilaka (tambm conhecida por tilkaou tika) usada especialmente na testasobre um dos principais centros ener-gticos (chacras) do corpo, o terceiroolho, mas tambm noutras onze partes,incluindo os ps. um smbolo de pro-teco e santificao.

    Esta marca prpria da cultura hindu,que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria, Vishnupreserva e Shiva destri), mas que teminmeras ramificaes religiosas, entre asquais sobressai o movimento Hare Krish-na, fiel a Krishna uma figura central dohindusmo que, para uns, foi uma encar-nao de Vishnu na Terra, e, para outros,a representao nica de um deus su-premo. Tambm a tilaka assume diversasvariantes, consoante tambm a condiosocial (a casta) de cada um.

    Destacam-se duas verses. Uma emforma de U ou de V, como um diapasoou tridente, ao alto. Outra, horizontal,

    composta por trs linhas, geralmen-te com um ponto vermelho ao centro.A primeira tpica dos que mais adoramVishnu. a tilaka vaishnava. A segundaprevalece entre mais prximos de Shivae chama-se tilaka shaivites.

    A simbologia de cada uma destasverses tambm varia. Para uns, as duaslinhas do diapaso podem representaras paredes de um templo de Krishnae Radha (sua mulher). O espao entrecada uma dessas linhas representaro local onde o casal ter vivido.Paraoutros, cada linha representa Brahmae Shiva, sendo o espao intersticial acasa de Vishnu. Outros ainda defen-dem que em causa esto cada uma das

    margens do Yamuna, um dos principais

    rios do Norte da ndia. A tilaka deve seraplicada com o dedo anelar da mo di-reita ou por um material metlico. Otrao inicial deve ter aproximadamentea largura do espao entre as sobran-celhas, de maneira a que se consigam

    desenhar duas linhas verticais. Por fim,faz-se a parte do U, mais prximo do na-riz. Nessa altura, apela-se ao poder dosrios da ndia, recitando-se este mantra:Om gange cha yamune chaiva godavari, sa-rasvati, narmade, sindhu kaveri jalesminsannidhim kuru. ( Ganges, Yamuna,Godavari, Sarasvati, Narmada, Sindhue Kaveri, tornem-se presentes nestasguas.) A tinta pode ser feita a par-tir de vrios materiais: argila, aafro,alume, iodo, cnfora, cinzas ou sndalo.Vendem-se preparados sob, por exemplo,a designao gopi chandan. Se a corfor vermelha, kumkum ou sindur; verseco Conversas de Bazar na pgina ).

    H quem use esta marca no dia-a-dia,outros apenas em ocasies especiais. Entreas mulheres, assume a forma de um ni-co ponto vermelho, que simboliza, emespecial, a fora feminina. o chama-do bindi, bem mais popularizado aquno ocidente do que a tilaka. Este estassociado a Parvati, deusa-me, segun-da consorte de Shiva (a primeira Sati)e progenitora de Ganhesha, o popularelefante, smbolo da sabedoria inte-lectual. Segundo a tradio, o bindi erausado s pelas mulheres casadas, masdeixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessrio de moda.

    Por que que algumas pessoas desenham no centro da testa umaespcie de tridente ou diapaso? Faz parte da cultura hindu.Chama-se tilaka marca em snscrito.

    Ptio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

    MarisaMoura

    No Ptio do Coleginho ainda podemos encontraro que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas. uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboaera um aglomerado de aldeias separadas pelo verde doscampos que o crescimento urbano uniu. Alcandoradona Colina do Castelo, o ptio ainda guarda as memriasbuclicas que despertam os nossos sentidos. Pela RuaMarqus de Ponte de Lima chega-se a este atravsde uma ngreme calada a fazer lembrar os antigosquebra-costas: a subida a pique faz-se por entre prdiosde belos azulejos padro do sculo XIX e as desgastadas

    paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteirode Santo Anto o Velho o primeiro colgio dosJesutas em Portugal, no sculo XVI. No topo da caladaa paisagem dominada pelas traseiras do mosteirocom o seu claustro manuelino, hoje considerado um dosmais belos da cidade de Lisboa.Do lado oposto ao mosteiro, entre dois prdios,avistamos um moribundo porto de alvenaria: comportas em chapa, indica-nos a entrada do que resta deuma antiga quinta que em tempos galgava a encostaat ao Teatro Taborda na Costa do Castelo. A rua subitamente dividida por um velho e rangente portoque abre para um pequeno ptio: um corredor estreitopavimentado em macadame, ladeado por casas simplesde dois andares do sculo XIX e abruptamente fechadopor um muro alto de pedra. Sobre este penduram-se asvideiras e assomam as copas das laranjeiras que nascemdo outro lado: um pedao verde de uma quinta queoutrora pertencia ao mosteiro e residncia habitual dapassarada que enche de chilreios e melodias as manhssoalheiras do ptio. Entre as sonoridades canorase caninas (h muitos ces por este quintais), o tempo marcado pelos sons graves e fortes que se soltam horaaps hora dos sinos da Igreja da Graa, confirmandoa boa acstica do espao. O ptio vai fazendo o seuquotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os),o ritual do estender da roupa e, tardinha, a chegadaatribulada dos carros alis, o nico momento do dia

    em que se ouvem os carros no ptio, como se este fosseum cantinho protegido dos rudos da cidade.Encaixado numa achada da Colina do Casteloe rodeado por prdios, as vistas e o horizonte do ptioso dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja daGraa que do alto da Colina de Santo Andr, contemplaa Costa do Castelo: numa curiosa sobreposio deplanos, a torre sineira e a fachada da igreja parecememergir das copas arredondadas dos pinheiros mansosque arborizam o miradouro altaneiro da Graa. Pormentre o ptio e a colina da Graa, existe um curiosodilogo e jogo de perspectivas: vista do ptio, a colinacom a sua Igreja, parece estar fisicamente to prximae omnipresente que nos impede de contemplar todaa encosta e o vale que separa as duas colinas. Pelocontrrio, para quem lana o olhar do Miradouro daGraa, o ptio tem tendncia a diluir-se por entre ocontnuo de casas, telhados, becos, ruelas e escadinhaso mesmo acontecendo com as pessoas e os seusolhares. Um outro momento mgico ocorre noite,quando as luzes brancas que iluminam o monumentoda Graa produzem um claro to intenso que parecederramar a sua luz sobre o ptio que se funde como halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeirosdo sculo XIX. Ao silncio do ptio vai chegandotambm a algaraviada de vozes indistintas que descemdo miradouro, atravessadas pelo miado estridentee agressivo dos gatos da Mouraria. a hora dos gatos.

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    reportagem FotografiaCarla Rosado

    Texto

    Teresa Melo

    Chineecelebraram o ano novo

    noMartim Moniz

    Fecadaa eola bada Madalena... Santa Clara ou Baxa?A eola ba da Madalena, ujo enerramento j eteve prevto para o ano letvoque agora termna, dever ehar no prxmo ano, altura em que etar finalmentepronta a nova eola no Campo de Santa Clara, que ubttur a velha eola bado Agrupamento Gl Vente.

    At aqu tudo bem. At o tranporte, que era uma preoupao de muto pada Mourara, tambm et garantdo, eja atrav da rede de tranporte eolarmunpal, o Alanha, eja atrav da junta de reguea. Etamo dponve para,e neero, rar um ervo de tranporte. No er por o que a rana dexarode r eola, garante Mguel Coelho, predente da Junta de Freguea de Santa MaraMaor, que ntegra no barro: Mourara, Alama, Catelo, Baxa e Chado.

    H todava uma dvda: uma vez que tambm abrr a nova Eola da Baxa, quepoder de eolha tero o atua utente da eola da Madalena? Ser um endaloe ea eola no etver aberta a ea rana, e eu are ouvr bem alto a mnhandgnao, ava Mguel Coelho. A aebldade eolare o ompetnada mara e do Mntro da Eduao, ma ete predente de junta tem umapalavra a dzer. Algun aluno da Mourara podero am requentar a nova eolado agrupamento Gl Vente, junto Fera da Ladra, e outro a Eola da Baxa.

    A prmera unonar no antgo Convento do Deagravo do SantmoSaramento, om apadade para rana, que vem ubttur a velhaeola ba do agrupamento Madalena, S, Inanta D. Mara (Campo de SantaClara), Marquee de Tvora (Largo da Graa), Convento do Salvador (Alama)e o Jardm de Inna de So Vente. Mantm-e a EB Catelo, que a na emboa onde de unonamento. A Eola da Baxa unonar no antgo onventoe trbunal da Boa Hora, Rua Nova do Almada, tem apadade para rana(nquenta em jardm de nna) e nere-e na polta munpal de atraode joven amla baxa pombalna.

    Colna de Santana:a polma ontnuaO Hoptal Mguel Bombarda ehou em e para o eu lugar o arqutetado ummoblro que nlu um hotel e uma torre de andare. O Hoptal do Deterro e e et em obra para um epao de redna artta e produo hortola epela Mande, a promotora da LX Fatory, em Alntara. O hopta de So JoMarta e do Capuho, que ervem redente da Mourara, ero tranerdo paraA ntegraro o novo Hoptal de Todo o Santo, que nlur tambm o Curryo Dona Etena e a Materndade Alredo da Cota, e que abrr em (etevej em ). O polmo projeto tm do a debate na aemblea munpal e dpublamente por dado omun e entdade omo a Aoao Portuguea pOutder, o ICOM-Portugal, a Ordem do Enermero, a Ordem do Mdo, o G

    Amgo de Lboa e a Soedade de Geografia de Lboa. O ontetatro do pmanetaram-e no ltmo defile do de Abrl. 3AA/MC

    Ano Cristo:lDia de Ano Novo: de Janeiro

    Ano Chins: lDia de Ano Novo: de Fevereiro

    Ano Hindu: lDia de Ano Novo (Gudi Padwa,tambm conhecido como Samvatsar Padvo, Yugadi ouNavreh): de Maro

    Ano Sikh:lDia de Ano Novo (Vaisakhi):

    Ano Budista: lDia de Ano Novo (Vesak Purnima): de Maio

    Ano Judaico: lDia de Ano Novo (Rosh H de Setembro> no prximo dia de Setembcomea o ano de

    Ano Muulmano: lDia de Ano Novo (Aou Muharram): de Novembro > no prximo diOutubro comea o ano de

    Em que ano esamo?Depende do aniversrio do profeta de cada cultura, sendoque a maioria dos dias de Ano Novo varivel em funo decalendrios lunares. A Terra, essa, para os cientistas, existeh , mil milhes de anos. Os primeiros homindeos terosurgido h uns cinco milhes e a actual espcie de sereshumanos, homo sapiens sapiens,h duzentos mil anos.

    Pela primeira vez, a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento pblico organizado por todas as associaes chinesas de Lisboa, em parccom a cmara municipal e a embaixada da Repblica Popular da China. No passado dia de Fevereiro, o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

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    publ

    icidad

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    edoral es bem es mal

    s

    Carla

    Rosado

    E e daqu a 100 ano algun de n anda etvermo? A probabldadeno o am to aburda. Na Mourara h dua peoa om 100 ano.Uma dela, a dona Almernda, az 101 j em Agoto. Tentmo entrevt-la neta edo, ma uma queda tem-na mantdo meno onveradorae teremo de aguardar. A outra a dona Emla. Repondeu a novepergunta que reolhemo pelo barro, entre peoa do 10 ano ao90 ano (ver pgna 2).A dona Emla alou-no, por exemplo, da eravatura em quevveu. O eu tetemunho motra-no que o mundo mudou batantenum ulo, ma a humandade j nem tanto. A lebre Lberdade--Igualdade-Fraterndade deretada na Revoluo Franea, h made duzento ano, ontnua uma rem-nada, om quae tudo poraprender. Reultado: algun beb que hoje onheemo podero etardaqu a 100 ano a dar uma entrevta omo eta, obre vvna que

    muto no azem penar.A Htra julgar-no- pela derena que, todo o da, zermona vda da rana, de Nelon Mandela (1918-2013). Ele ou naHtra omo mbolo da luta pela gualdade. E n, omo podemoar? O que que ada um de n, aqu e agora, pode azer para que onoo beb venham a ter reordae ma elze do que a da noaentenra vznha?Neta edo, o noo ontrbuto o de empre: ajudar a que noonheamo um pouo melhor, po no h lberdade, gualdadenem raterndade que reta gnorna. E deta vez temo vranovae. Temo um tema (ntergerae) que mara grande parte doartgo, temo um texto traduzdo (pgna 22, em bengal) e temo umanova eo: Convera de Bazar (pgna 27). A propto de produto venda no bazare da Mourara, a Roa Mara deobre peoae etra do mundo. Dexamo, por outro lado, de edtar a Dobrada Palavra j entmo audade dela, ma aguentamo quando

    penamo na etrea deta edo e na reente eo Hbto, queno aompanha dede o nmero anteror (nete, etudamo o hbtohndu de deenhar mbolo na teta a tilaka, pgna 7). Abraoa todo. E no e equeam O que podemo azer n hoje para queo ano de 2114 veja o noo entenro beb orrr?

    O Mercado de Fuso, na Praa Martim Moniz, estacolhedor com os novos bancos num espao verdEstivesse a msica um pouquinho mais baixa e o r

    seria perfeito.

    O ROSA MARIA um jornal obre a peoa e o aontemento da Mourara, matambm obre aunto naona e nternaona relaonado om o eu redente,rado para preervar e dvulgar o eu meno patrmno humano, htro e ultural.OROSA MARIA um jornal omuntro produzdo por todo o que querampartpar (jornalta, otgrao, lutradore, degner grfio, voluntroe moradore ou trabalhadore do barro) e que e pautem pelo prnpo daoldaredade, do rgor e da qualdade.O ROSA MARIA parte ntegrante da omundade em que e nere, ma totalmente

    omprometdo om o dgo deontolgo que enquadra o exero da lberdadede mprena e ndependente de ae relgoa, polta e eonma.O ROSA MARIA edtado pela Aoao Renovar a Mourara dede , omperoddade emetral. O eu nome nprado na mta Roa Mara mortalzadano adoH Festa na Mouraria uma mulher atrevda e vrtuoa, omo eta publao.

    Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar n. /, de de Junho,sobre Registo dos rgos de Comunicao Social.

    ROSA MARIA Eatuto Edioral

    Deolhoem

    RecebaoRosaMariapeloCorreioFaaumaainaturaeajudeesejornalomunitrioareer!Por,oudonativouperior, reebaedie.

    [email protected].

    Carla

    Rosado

    O que diro os turistas das escadinhas WC por dda paragem onde fazem fila para o elctrico ? Ndizemos isto: inadmissvel.

    FICHA TCNICA Direco:Ins AndradeDireco grfica:Hugo HenriquesEdio fotogrfica:Carla RosadoEdio editorial: Marisa MouraReviso:Joo Berhan e Joana ChocalhinhoPublicidade:Susana SimplcioTraduo: Moinuddin Ahamed e Pedro Leader Ilustrao: Alexandra Belo, Aude Barrio, Hugo Henriques, Nuno Saraiva, Vtor Mingacho Passatempos:Aude Barrio e Joo Madeira Fotografia:Augusto Fernandes, Carla Rosado, Diogo Lin, Helena ColaoSalazar, Hlio Balinha, Jos Fernandes, Marisa Moura, Nuno Moro, Paulo Marques, Sophie Cadet , Teresa Melo, Yolanda Bettencourt Texto:Ana Lusa Rodrigues, Carmen Correia, Daniela Silva, Joo Berhan, Jos Fernandes, Lus Elvas, LusaRego, Marisa Moura, Nuno C atarino, Oriana Alves, Pedro Santa Rita, Raquel Albuquerque, Ricardo Miguel Vieira, Rita Pasccio, Teresa MeloAgradecimentos especiais a:Andr Alves, Antnia Tinture, Cludia Henriques, Edgar Clara, HlderOliveira, Hugo Curado, Maria Coimbra, Mariana Melo, Nuno Franco, Paula Cosme Pinto/Expresso, Sandra Bernardo, Slvia de Melo Olivena e Vitorino Coragem. E ainda, pela cedncia de imagens: Duck Production, EGEAC/Jos Frade,Museu da Cidade/CML, Maria do Cu Barata, Nuno Botelho/Expresso, Raquel Cavaleiro/MPAGDP e SiteNorberto Arajo (1889-1952)www.norbertoaraujo.org (copyright 2012), Jos Vicente de Bragana, Jorge Quina Ribeiro de Arajo eHerdeiros de Norberto de Arajo Capa:Helena Colao Salazar Propriedade:Associao Renovar a MourariaRedaco, administrao e publicidade:Beco do Rosendo, n. 8, 1100-460 Lisboa, Tel.: +351 218 885 203, Tm.: +351 922 191 892,[email protected] Impresso:Funchalense Empresa Grfica S.A. Distribuio:Associao Renovar a MourariaVerso digital:www.renovaramouraria.ptTipos de letra: Atlantica, Lisboa e Tramuntana > Ricardo SantosDepsito legal: 310085/10 Periodicidade:Semestral Tiragem: 10 000 exemplares Nmero sete, Junho 2014 N. Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicao Social): 126509Correco:Na edio anterior, a fotgrafa Helena Colao Salazar no foi includa na ficha tcnica. E o jornalista Samuel Alemo ficou na redaco, mas sem referncia ao trabalho de edio que tambm prestou.

  • 5/24/2018 Rosa Maria N7 (Junho 2014)

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    Rosa Maria n. 7junho 14 dezembro 14

    reportagem Texto Lusa RegoFotografiaYolanda Bettencourt

    reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

    Dona A. vive no segundo andar em prdiocentenrio, num dos becos da Mouraria.Chega-se l subindo uns estreitos lanosde escadas de madeira. E entrada deum apartamento minsculo e velhssimoque aguardamos que a senhora terminea higiene, servio prestado pelo apoiodomicilirio da Santa Casa da Misericr-dia de Lisboa. A vida diria desta mu-

    lher de anos, praticamente acamada,depende muito da equipa do MaisProximidade, Melhor Vida (MPMV), umprojecto inserido no Centro Social Paro-quial de So Nicolau que apoia pessoasidosas residentes na zona da Baixa deLisboa. O foco o combate ao isolamen-to, no a caridade explica Leonor MoraisBarbosa, assistente social e gestora decaso no MPMV.

    Com um grupo de voluntrios, tratamda aquisio de medicamentos, de apoiopsicolgico e de fisioterapia, que, no casodesta senhora, inclui pintar. E nada a fazmais feliz, diz ela. No mbito da cinesio-terapia, pinta quadros (flores, paisagens,elctricos), uma paixo que descobriu h

    anos, no Centro de Medicina de Reabili-tao de Alcoito, quando recuperava deuma queda da cama, numa madrugadaem que quase perdeu a vida.

    O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de utentes, sobretudo mulhe-res com uma mdia de idades de anos,

    na freguesia de Santa Maria Maior. Foramsinalizados enquanto frequentadores docentro de convvio da parquia de SoNicolau. A misso reduzir o impactoda solido e isolamento das pessoasidosas residentes na Baixa e proporcionarmaior qualidade de vida, para que os lti-mos anos sejam passados sem ansiedade,tristeza ou carncias de qualquer nature-

    za. Agora tambm na Mouraria, o projec-to vai acompanhar mais pessoas commais de anos, financiado pelo PDCM Programa de Desenvolvimento Comu-nitrio da Mouraria, implementado desde para reabilitao do bairro atravs daCmara Municipal de Lisboa.O projecto MPMV comeou a ser esbo-ado em quando Maria de LourdesMiguel integrou a direco do Centro So-cial e Paroquial de So Nicolau. Foi investi-gar a razo por que s da populaoidosa da freguesia frequentava o centro...Onde estavam as outras pessoas?! Com aajuda dos alunos de Servio Social da Uni-versidade Catlica, fez-se ento um inqu-rito porta-a-porta, tendo-se concludo que

    a grande maioria dessa gente oculta viviaem pisos elevados quartos, quintos ousextos andares em prdios degradados,sem elevador ou luz nas escadas, sem vizi-nhana e, portanto, em situao de isola-mento e solido. Era urgente intervir juntodestas pessoas. Nasceu ento o projecto

    Os Mais Ss, assente em voluntariado, queem se transformou no Mais Proximi-dade, Melhor Vida, j com uma equipa decinco profissionais a tempo inteiro.

    A maria dos afectosRute Lopes, anos, a Maria dos Afetos.Auxiliar de geriatria, trabalha no apoiodomicilirio da Santa Casa da Misericr-dia desde . Tem um horrio duro, queinclui noites, fins-de-semana e feriados.Porm, permite-lhe ter parte do dia paraacudir a trs pessoas idosas, as suas pri-meiras clientes, a quem disponibiliza umamplo lote de servios de apoio domici-lirio, com uma tabela hora ou ao ms,sempre com bnus de afecto. Com site epgina no Facebook, mas ainda sem sedefsica, a pequena empresa nascida no bair-ro no incio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graas ao passa-palavra.

    Ao que diz, Rute cai na graa das suasclientes, sabe que cada pessoa idosa, inde-pendentemente das suas limitaes, gostade sentir que o centro das atenes. Porisso, tambm ofereo servio de cabelei-reira. Neste trabalho, criar empatia, muitoimportante. A Maria dos Afetos, que em

    breve ganhar novo flego quando se concretizar uma parceria com a cmara municipal atravs do GABIP (Gabinete de Apoioao Bairro de Interveno Prioritria) da

    Mouraria, uma iniciativa que surgiu pararesponder a carncias no preenchidapelas estruturas de apoio a pessoas idosasmas tambm para aproveitar as qualidadeque Rute Lopes rene.

    J sabia cozinhar (tive um restaurante), sei coser, trabalhei de cabeleireiratirei o curso de geriatria, sei reconhecedoenas, aprendi as tcnicas, um poucode psicologia, enfermagem... Este trabalho muito compensador. Claro que paracomear qualquer coisa preciso algumsacrifcio. Mas quando gostamos do quefazemos d-se sempre um jeito!

    Maria dos Afetoswww.mariadosafetos.com

    E-mail: [email protected]:

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    /

    Obras a preode amigoJ est no terreno a ADAO Associao Dedos Obra.

    Foi criada a pensar especialmente nos idosos maisdesfavorecidos da Mouraria, mas todos podemrequisitar os servios, at noutros bairros.

    As obras so feitas por gente mal-intencionada que querganhar muito e trabalhar pouco. Enganam at pessoas quesabem que so carenciadas, diz Lus Lin, anos, criado naMouraria, filho de uma portuguesa e de um chins imigranteque fabricava malas em casa, na Rua das Farinhas.

    o presidente da ADAO Associao Dedos Obra epromete honestidade, qualidade e tambm segurana, j queos seus clientes so sobretudo pessoas idosos vulnerveis e hque garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas.

    A ADAO uma associao sem fins lucrativos e estava paranascer desde que comeou a reabilitao da Mouraria, porideia de Joo Meneses, coordenador do GABIP (Gabinete deApoio ao Bairro de Interveno Prioritria) da Mouraria. Lus Lin

    foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-rincia na gesto de obras (tem sido comerciante de vesturioe restaurao, mas sempre foi dado ao bricolage e gere obrasde maiores dimenses para amigos). A demora de trs anosficou a dever-se, primeiro, escolha da equipa certa, e depoisao processo de extenso da parceria Junta de Freguesiade Santa Maria Maior que complementar o financiamento

    da associao, at ento suportado pelo PDCM Programde Desenvolvimento Comunitrio da Mouraria, da CmarMunicipal de Lisboa.

    Ser atravs da ADAO que a junta realizar os seus serviode pequenas reparaes aos fregueses mais carenciados. Novepessoas constituem esta equipa, que v assim estendida a suainterveno aos demais bairros da junta: Alfama, Castelo, Baix

    e Chiado. O ncleo duro inclui mais dois homens da MourariaManuel Carvalho, nascido no Largo dos Trigueiros e moradona Rua dos Cavaleiros, e Rogrio Carvalho, de So CristvoE tambm a mulher de Lus Lin: Rute Lopes, a Maria dos Afeto(ver texto acima).

    Com essa ligao, a associao pe em prtica o primeirodos seus objectivos listados no site: Atender s dificuldadedos habitantes da freguesia (deficientes condies de habitabilidade, carncia econmica, excluso social, problemade sade, dificuldades de acesso educao...).

    ADAO Associao Dedos Obra | www.dedosaobra.ptE-mail: [email protected]

    Telefones: / /

    Mais respostas idade da solido

    Juntam mimos s ajudas mais elementares comoas da Santa Casa. Uma chama-se Maria dos Afetos.A outra, Mais Proximidade, Melhor Vida. So duas novasorganizaes a trabalhar c no bairro, para os idosos.Fomos v-las em aco.

    Rute Lopes, a maria dos afectos, numa das visitas a Fernanda Antunes, para limpezas e companhia

    Lus Lin ( esquerda) e Rogrio Carvalho trabalham juntos em vriasobras, dentro e fora do mbito da ADAO

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    publ

    icidad

    e

    de Abril: Somo pequAs crianas da Escola Bsica da Madalena viveram em grano 40. aniversrio da Revoluo dos Cravos. Visitaram uma

    priso, plantaram cravos, pintaram quadros na Casa da Ach

    escutaram pessoas que viveram na ditadura desde amigodo bairro como a Dona Ermelinda, ao poltico Joo Soares e

    senhora que tornou esta revoluo conhecida pelos cravoCeleste Caeiro. A Associao Renovar a Mouraria acompanh

    tudo neste blogn

    www.vamosfalardeabril.blogspot.pt

    reportagem TextoTeresa MeloFotografiaCarla Rosado

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    o ma no equecemo!

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    Sabco, O Quz da Mourara

    O abho-mor Alexandre Ovdo tem poto provao neurno de equpa omo o Bora L, o Cabreznhoou o Falta Aqu Algum, que o a tr ma pontuada.O prmero ampeonato arranou no da 12 de Maroe tem do uma anmao! Aontee quarta-era, da19h30 24h, qunzenalmente. Cada nro uta noeuro por peoa, om jantar nludo.

    Rebaldara, aJamda Mourada

    Improvar a palavra de (de)ordem de Aono

    Catanhera (ontrabaxo), Dogo Vda (pano) e NunoMoro (batera). o tro redente na Mourada CaaComuntra da Mourara dede Abrl, exta-era,pela 22h, qunzenalmente. Entrada lvre. Alterna omo j mto Karaoke ao Vvo, ujo aompanhamentomual abe a Joo Madera, na gutarra ou no pano.

    Toda a peoa ngular ou oletva que queraapreentar uma dea, onretzada ou por onretzar,tem antena aberta na Mourada. Mea palavra podebatar para enontrar o parero erto na hora erta- e ete pode er o to erto para ee enontro.O projeto Ma Proxmdade, Melhor Vda oo prmero a apreentar-e, no da 3 de Abrl. Todaa qunta-era, entre a 19h30 e a 21h.

    A Renovar deaou o o a ontrburem parao reoro da reeta da aoao, dnamzandoele prpro atvdade. Danar, antar, oznharou outra oa qualquer. De da ou de note, na ltmaexta-era de ada m. A Ana Lua Rodrgue,

    do ROSA MARIA, ez a honra da etrea trazendo Mourada o antor e gutarrta bralero CelnhoBurlamaqu. Intmmo e alegra mararam ea note,no da 17 de Abrl, em vpera de Poa numaqunta-era, exeponalmente.

    H anda ma vda no Beo do Roendo!

    Quatro dploma de aletero oram o preente mavaloo na eta do exto anverro da Renovar, nopaado da 22 de Maro. No Beo do Roendo, entre adoe ardnha, ubram ao palo a peoa que tornaram mabonto e eguro ete reanto do Poo do Borratm. Foramela: Mamadou Raya Dallo (60 ano), Brama Cand (26),Mamadu Bald (22) e o noo vznho Jo Bernardno (19ano), entretanto ntegrado na equpa da aoao. Numaparera om a Santa Caa da Merrda, que dentfiouo ormando, e om a emprea de ontruo vl QCI,que deu a ormao, melhormo anda ma ete epao,ao abrgo do projeto Da Caa Para o Beo, apoadopelo programa munpal BIP/ZIP Barro e Zona deInterveno Prortra de Lboa.

    Toxodependna e urnol a u aberto araterzavamete beo onde et edeada a rehe Enota do Catelo,da Santa Caa, e paou a etar, dede Dezembro de 2012,a noa ede: Mourada Caa Comuntra da Mourara.Agora, om a nova obra, ganhou melhor pavmento,antero e orrme que melhoram a aebldade amoradore e vtante. E uma hurraquera omuntraque etar ao rubro nete arraal.

    A reabltao do beo paa anda pela nterveno(em uro) da EbanoColletve, uma aoao emfin luratvo que atua em epao pblo em dlogoom a arte e a pequa etnogrfia de ada loalepefio. Lboa ganhou ma uma reabltao- e o quatro aletero, ma um vto no paaporteda empregabldade.

    Para onheere toda a atvdade ultura e oa

    da Aoao Renovar a Mourara, onulta:www.renovaramourara.pt e proura por Renovara Mourara no Faebook.nota:O Meradnho do Beo, que e realza no ltmobado de ada m, regrea no final de Julho.Em Junho, etamo em arraal todo o da (onultao programa da eta na pgna 14).

    Gua do Mundo na Mourara

    A Aoao Renovar a Mourara, em parera omo Inttuto Marqu de Valle Flr, aaba deoloar o barro da Mourara na rede nternaonalMygranTour Rota Urbana Interultura. uma redede gua mgrante que permte a dado orundode outra parte do mundo motrarem o barro ondeeolheram vver, tal omo ele o vem onvdandotodo o que por l paam a olhar para a rua omoutro olho e a eutar nova htra.

    O projeto naeu em Turm em 2010, numa pareraentre o operador turto talano Vagg Soldal,

    a undao de empreendedormo oal ACRAe a Oxam Itla, filal da rede ant-pobreza Oxam. agora alargado a nove dade europea: Npole,Roma, Mlo, Florena, Gnova, Par, Marelha, Valnae Lboa. Eta nova ae reulta do o-finanamento daUno Europea para ormar vnte novo gua em adauma deta dade, para promover o repeto mtuoe valorzar a derena ultura entre pae europeude aolhmento e pae no-membro de todo o mundo.

    O novo gua da Mourara o do Bral, Congo,Iro, Bangladeh, Paquto, da Polna e da Urna,entre outro pae. Um onvte a onheer a ml e umaMourara, a no perder!

    Jornalmo Comuniro:Que Voz tem a Mourara?

    Uma tertla organzada pelo ROSA MARIA, no da 19de Feverero, teve omo mote: Que Voz tem a Mourara?A repota no poda ter fiado ma lara. O Largoe a Marta j aram em trnta ml to na omunaooal, ma a peoa al do Intendente fiarama onheer pelo Roa Mara o meu peruro.O jornal onegue realmente hegar a muta gente queno utlza nenhum do outro meo. Palavra de MartaSlva, undadora do Largo Redna e protagonta daeo Paeando Com na edo de Junho de 2013. A alaenheu-e de voze e na mea de oradore etveram AnaLua Rodrgue (jornalta e membro undador do ROSAMARIA), Cluda Henrque (promotora do projeto derdo Voze do Intendente e nvetgadora no Centro deInvetgao Meda e Jornalmo da Unverdade Novade Lboa) e Vtorno Coragem (reprter freelancer,ex-olaborador do Dirio de Notcias, da Folha de So Paulo, LaOpinin de Granada e doextnto jornal lboeta A Capital).

    4 percursos, 6 lnguas, 7 dias da semana:Mouraria das Tradies Mouraria do FadoDo Castelo Mouraria Mouraria dos Povos e das CulturasH visitas em portugus, espanhol, ingls, francs, italiano, alemo.

    Informaes e reservas:www.renovaramouraria.ptvisitasguiadas@renovaramouraria.ptTelefones: +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

    Histria e estriascom gente dentro

    A Marta Silva,fundadora do Largo Residncias, ao centro, sentada. E quemtiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA est com sorte!Nesta foto esto a directora (Ins Andrade, sentada mesa), o designergrfico (Hugo Henriques, porta), a delegada comercial (Su sana Simplcio, porta no interior) e um dos primeiros voluntrios da redaco: o jornalistaAntnio Henriques, entre a Marta e a Ins.

    nota ARM

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    Umaya, uma menna bengal de ano, e Ioana, romenade ano, vznha e olega, derevem epdo dvert-do quando pem em prta o novo doma. O meu pa,quando a loja do pa da Umaya, hegava e, na lnguadele, apontava e dza a oa que quera, ma nngum oentenda!, onta Ioana no meo de muta rada. Ambarequentam a aula de Portugu Lngua No-Materna daeola ba da Rua da Madalena, onde % da populaoetudantl onttuda por naonaldade.

    Eta aula promovem maor gualdade no aeo eueo de todo o aluno, expla a proeora CarlaCarvalho, empre empenhada em az-lo ompreender

    que a aprendzagem da lngua portuguea no deve erentendda omo uma mpoo, ma omo um meo po-deroo para e exprearem. am dede na EB n. da Madalena. O deafio et na rao de metodologaque e entrem no na ormao ma tambm na promo-o da nterulturaldade. Entre a olue eto, por exem-plo, o almoo vegetarano epealmente penado paraa rana hndu.

    A etratga o dtnta e unonam em dua aulatoda a tera e qunta. Da h h, o ma novoexploram a oraldade e dentfiam onema. Deenhar,onverar e ouvr antga e lengalenga etmula o pr-mero pao para o domno da lngua e, am, ma ler hegar ua erta, reere a proeora.

    Tradutores no faltamUjjawal, que vem do Bangladeh, tenta, entuamado, de-rever a ua ra de Poa. Eu v muta luze e omhoolate!. Al todo ajudam. Por exemplo, a Ayeeha(bengal de ete ano que hegou reentemente a Portu-

    gal) tem traduo multnea do olega onterrneoquando no entende a pergunta da proeora.No grupo da tarde, para o ma velho, a le o

    da h h e oam a ontruo ra e nterpretaoda palavra. A realzao de exero de audo lgado numerao ou aoao de magen uma prtarequente. A gramta tambm alvo de ma ateno,j que no prxmo ano letvo o menno mgranteque etejam em Portugal h ma de um ano j no erodpenado do exame naonal da quarta lae.

    Integrao contraO abandono escolarO dlogo uma prordade. Por um lado, expportugu a ua rotna e otume perante o

    obrga o aluno a oloar em prta o que o ado, exertando a apadade lnguta. Por oudeperta-o para o repeto pela multulturalenrazada na Mourara.

    O objetvo da aula etendem-e ao pa, do a partpar na atvdade extraurrulareeta de Natal ou o final do ano letvo. Am e-e o ombate ao abandono e ao nueo do endente e o reoro da ormao profional, aa ntegrao e a gualdade do mgrante na omportuguea. No undo, no detr do mdonha a proeora Carla. Motrar que aredtamonele e valorzar a ua onquta. A eola

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    A aula para a rana ajudam tambm o pa, po na mgrante o filho o o prnpa tradutore

    Uma eola,muia naonaldadeNa Mouraria coexistem nacionalidades, estando delas representadasna escola bsica da Madalena. Fomos ver como se gerem diferentesculturas e assistimos s aulas de portugus para crianas imigrantes.

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    reportagem TextoTeresa MeloFotografiaCarla Rosado

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    Texto Paula Cosme Pinto /Expresso

    Fotografia Nuno Botelho /Expresso

    Uma

    Chavepara aVidaEram casos de excluso social

    extrema. Alguns, nas ruas daMouraria h mais de vinte anos.Uma casa o ponto de partidaneste modelo de reabilitaosocial para muitos aindadesconhecido: o Housing First.

    Pensava que ia morrer na rua, ainda no acredito.M. roa as unhas encardidas na tentativa de se acalmar,encolhido contra o vidro da carrinha da associaoCrescer na Maior. Consigo levava um cobertor atadocom uma corda e uma mochila. Ao fim de dezoito anosna rua, era s o que possua. Agora tudo mudava, ia teruma casa s sua. Estvamos em Outubro de .

    M. era um dos sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior, associao que, no fim de , recebeuum desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-veno Prioritria da Mouraria: ajudar aquelas pessoasa sarem da rua. A experincia de terreno desde dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumosde substncias e patologia mental. Era prioritria a pre-sena de um psiquiatra na rua, conta Amrico Nave,coordenador da equipa. Depois questionmos oparadigma: so as pessoas que no querem sair da ruaou so as estruturas existentes que no se adequam?

    Uma casa e seis visitas mensaisPerceberam que o encaminhamento para centrosde acolhimento no funcionava nos casos de maiorexcluso social. Foi a pensar nessas pessoas quesurgiu o programa de reabilitao Uma Casa, basea-

    do no modelo norte-americano Housing First. Alm daequipa que todos os dias palmilha o bairro, foram atri-budas sete casas individuais. A casa apenas o pontode partida e as regras so poucas: tm de contribuircom de quaisquer rendimentos que tenham ouvenham a ter e aceitar seis visitas por ms da equipa.

    Nasceu assim um novo projecto Housing First emLisboa, a primeira cidade europeia a adopt-lo, pelamo da Associao para o Estudo e Integrao Psicos-social (AEIPS). Desde , esta associao j tirou darua pessoas com doena mental e pretende reabi-litar outras ao abrigo da Estratgia Europa ,da Comisso Europeia.

    Deve estar cheia de pulgasNum destes sete casos, s depois da entrada na casa

    que a equipa da Crescer na Maior percebeu que outente tinha um p partido, fruto de uma agressona rua. Fizeram radiografia e estava partido. S mederam uns comprimidos, conta H., que hoje pre-cisa de ajuda para andar. E quando uma segundapessoa precisou de internamento compulsivo,tambm a polcia reagiu mal autorizao oficial dodelegado de sade. Isto vai ser lindo. sem-abrigo,deve estar cheia de pulgas. P-la no carro onde an-dam os turistas que so roubados no tem jeito ne-nhum, argumentou um dos agentes naquela tardede Outubro de . Mais uma vez, tambm no hospi-tal o internamento durou pouco.

    Testemunha o director do servio de PsiquiatriaGeral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquitricode Lisboa (CHPL), Antnio Bento: s vezes fico comas pessoas nos braos porque no h quem lhes quei-ra dar acompanhamento. J vi muitos voltarem paraa rua e morrerem. O psiquiatra, que em fundoua primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericrdiade Lisboa (SCML), acredita que comear por tirar aspessoas da rua e p-las numa casa, autonomamente, um bom comeo, mas rejeita esta soluo comouma panaceia. E questiona: O que feito da Estrat-gia Nacional para a Integrao de Pessoas Sem-Abrigo,que deu tanto alarido em ?

    O Censos apontava casos de sem-abrigo emLisboa, mas a SCML contabilizou em . Mais demetade dormia na rua, havendo vagas nos albergues.

    Contas simplesOs sete casos da Mouraria [so dez entretanto] contaramem com o financiamento total do municpio deLisboa. Em , o apoio camarrio ao projecto continuaestando a Crescer na Maior tambm em conversaes

    com o Servio de Interveno nos ComportamentosAditivos e nas Dependncias (SICAD) e a AdministraoRegional de Sade (ARS) e a identificar outros possveisinvestidores. Estamos atentos aos fundos europeuse queremos sensibilizar algumas instituies privadasrevela Amrico Nave, que pretendealargar o projectoa mais oito casos urgentes ainda este ano. Assumimosum compromisso com estas pessoas e a ltima coisaque pode acontecer terem de voltar para a rua, onde

    j perderam tanto tempo das suas vidas.As contas so simples: segundo dados do SICAD,

    o custo mdio mensal por utente num centro deacolhimento pode rondar os euros. No casodo projecto Uma Casa, cada utente representa umcusto de euros. Conclui Amrico Nave: O mais im-portante nem so os valores, o facto de se resolvera gnese do problema.

    Testemunhos:

    No me ficaram apenas com o dinheiro, ficaram--me com a dignidade.J., anos, mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado chegada a Portugalsob promessa de emprego na construo civil; rouba-ram-lhe a documentao pessoal).

    Uma bola de neve... Ia a entrevistas, mas dar comomorada um albergue no cai bem. S., anos, ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que, numasituao de desemprego e divrcio, se refugiou emdrogas e perdeu tudo).

    Quando saa do Jlio de Matos, ningum me propu-nha nada e eu voltava para a rua.P., anos, dez narua (tentou viver sozinha aos anos aps ter ficadorf de me e tido m relao com a madrasta, desconhecendo-se ento a sua esquizofrenia).

    Quando recebo o subsdio, a prioridade passoua ser comprar comida. J no tinha amor pela vida.M., anos, dezoito na rua (toxicodependente desde amorte do pai, a me expulsou-o de casa no dia em queM. assumiu um roubo do irmo, toxicodependentedesde a mesma altura).

    M. uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior.Em troca, tem de aceitar seis visitas por ms e contribuir com 30%de rendimentos que venha a obter.

    Nota l Este artigo uma verso resumida da reportagem de oito pginas publicada naRevistado jornal Expresso no dia15 de Maro de 2014, com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho. Inclua quatro caixas com casosde pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses.

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    Sempre que hove, h note em laro no Largo daOlara. E lgrma, at. Ele anda va dormndo, maeu no ongo, onta Iabel Amoedo, ano, doen-te renal, horo l. De vez em quando, etou a dor-mr e pum!, a uma vga l em ma. Ou enhe o bdoe enopa-no a ama, areenta Lu Amoedo, umdoente ardao de ano que, obe, nanvel, aoandar de ma para ajetar o arenal de oleado, bdone manguera que drenam a gua para a rua. Am ev-tam dano anda maore no penltmo andar que eteaal arrendou h ano ela oturera, ele erralhero

    no tempo do enhor tenente-oronel [enhoro], omtudo arranjadnho, por eudo mena ( euro,ontra o em euro atua). Hoje, om reorma queomam euro (donde anda ajudam uma filha deem-pregada), ada da uma luta e a note peadelo.

    Entre o enhoro, emelhante nquetae.Levantava-me om o barulho da huva, a ter de to-mar Valdpert. Quera arranjar o que onegue.Chegue a ubr ao telhado do , eta malua, a ten-tar lmpar o algeroz, onta Mara Joana Fgueredo, ano. tetraneta do homem que mandou ontrur, noulo XIX, vro prdo no Largo da Olara,nlundoa morada do aal Amoedo e o nmero , que nlu umharmoo jardm, e que oram venddo em Janero ao un-do moblro Sutento. Todo em elevado etado dedegradao, omo al ma de edo dete barrolboeta de e ml redente. Na aptal do pa, % doedo eto degradado e % deoupado, egundo umlevantamento de da Cmara Munpal de Lboa queetmou erem neero oto (ndponve) mlhe deeuro para a repetva obra, egundo anunou o vereadordo urbanmo Manuel Salgado em Mao dee ano.

    O vazo ntalou-e no prdo habtado pelo Amoe-do h era de uma dada, dede que um nndo

    detruu o telhado. Se ele tveem eto logo a otnha hegado a ete ponto, omenta Lu, reoda em que o teto da oznha abateu. Se que reo dnhero do eguro, ma aqulo nuna fiou oer. O metre-de-obra dza que, enquanto no tdem para avanar, o trabalho fiava provro. Aomearam a r embora. Un aleeram, outro tnna terra e oram para l. A vda fia dependenteEvtam-e at paeo ma demorado om medhabtua urto-ruto deenadeem algum n

    Vero do enhoro: Aqulo fiou am porl um enhor om problema menta e houve um

    nndo. A amla pagou um balrdo pelo arraomo todo aham que o enhoro o o mauo para extorqur, obraram ma fizeram um pbalho, garante Joana.

    Do tetrav Figueiredo inquilina ilegalA habtae vaza enombram o largo, ma uhegou a er oupada em , em autorzaopretra. E quem a oupou? A nonormada Jode uma dela. Fo abuo de poder, omo dz a mnMontou um atelierpor onde paaram trnta arttamou o jardm om uma horta ao udado da vznhna Frere, da Coznha Popular da Mourara. Paoua motrar o mve a potena nvetdore.

    H tr ulo, o tetrav de Joana (Maroredo, um omerante de apato a quem, rezaau a lotara por dua veze) nvetu em mve

    eduao emerada para a tr filha, que toano e alavam ran. A amla detaou-e nnete pa que anda hoje tem o ma elevadode analabetmo da Europa. Ma tal no mpedfiuldade finanera, que ulmnaram na dedo edo, ao ponto de omearem a hegae juda para obra oerva. Ito, no teav de Joana, a ento o patrmno na quartae orra a dada de do ulo paado. Ele ere tnha a pola a bater-lhe porta, reorda etadente, autora do doumentro Ai Mouraria... Bairro, de , e aprante realzao de um filmpatrmno da amla. Ito a metora de um pa

    Desconfiana, depressoe sndrome de avestruzA nope: uma amla de mltare e mdoo herdero o maortaramente mulhere. Dram roubada pelo mardo, logo na egunda Deonfiana. Caamento om eparae obrgatra. Depo, a tragda: um mdo vvaro de tr ano morrer de pneumona. De exeva proteo do prxmo filho. Dee negao ntalam-e no ADN da amla. A mmorreu em e dede ento a aa nuna o mo equema da avetruz. Bloqueo. Nto tudo, e euguma oa, repondam-me: no arranje problea da amla vaza e n a pagarmo renda noutBora l er oletvta!? No. A peoa no oorganzar-e nem equer dentro da ua prpra

    O peadelo toa a todo, enhoro e nqureeb ameaa por teleone, garante Joana. a famlia tentar um aumento ao abrigo da

    PRDIOSDA

    MOURARIA:TRISTE FADOA metfora de um paO Largo das Olarias alberga prdios decadentes onde habitam pessoas emsituao decadente. A reabilitao est prestes a comear. Mas como chegoua este ponto? Eis a histria, contada por Maria Joana Figueiredo, cineastae herdeira de imveis que j vo na stima gerao e que foram vendidosem Janeiro. Um caso de polcia e psicologia.

    Lus Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

    Alice e Lus Amoedo, janela, so dos poucos moradores do prdio vendido pela famlia Figueiredo ao Grupo Libertas

    reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

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    MarisaMoura

    Lei n. /, que h dois anos veio des-congelar rendas dos anos e facilitarprocessos de despejo, afectando em espe-cial os mais idosos. O Estado tem de tersolues para estas pessoas, no podem seros senhorios a fazer de Segurana Social,lamenta. Por exemplo, a minha me e asminhas tias so todas professoras de liceu.Funcionrias pblicas. Chegaram a ter dedar explicaes para haver um extra, dizesta herdeira que a mais nova de cincoirmos e me de uma menina de quatro

    anos representante da stima gerao.H muita vergonha em relao aos in-quilinos, face a uma responsabilidade quesabiam que tinham, aponta. Anda todaa gente cheia de medo. Medo de tudo, dasolido... de tudo.

    Programas municipaisineficazesA famlia chegou a tentar fazer obras noincio da dcada de , ainda nos tem-pos do senhor tenente-coronel. Ten-taram atravs do Recria o primeiro devrios programas camarrios anunciadosem vrios anos (Recria, Recriph, Rehabitae Solarh) e que, na Mouraria, tiveram osmais baixos ndices de execuo, segun-

    do um relatrio de realizado peloISCTE/Dinamia no mbito da avaliaoao Programa de Desenvolvimento Comu-nitrio da Mouraria, implementado pelaCmara Municipal de Lisboa desde neste bairro, onde desde os anos exis-tem gabinetes de reabilitao local, comoo actual Gabinete de Apoio ao Bairro deInterveno Prioritria (GABIP) da Mou-raria, da Cmara Municipal de Lisboa.O valor a suportar, apesar da compartici-pao, continuava alto para a disponibili-dade da famlia.

    No para um hotelVrios investidores visitaram os prdios nasOlarias. Chegaram a oferecer dois milhesde euros, mas a famlia insistiu em mantero patrimnio. Mas eis que no passadoms de Janeiro so vendidos trs prdios,incluindo o do jardim. Comprou-os, porcerca de , milhes de euros, o fundo deinvestimento Sustentasis, que inclui capi-tal francs e que se estreia num bairro his-trico. Foram os nicos que olharam paraaquilo com algum amor, constata Joana.

    O que ali nascer? Haja o que houver, ha-ver sempre o jardim, garantiu ao ROSAMARIA a gestora de projecto HonorinaSilvestre, do grupo Libertas, responsvelpela gesto tcnica do projecto, e parte doinvestimento. Mais: A proposta que temosna cmara para uma rea residencial, no para um hotel, assegurou a porta-voz.Est tudo em aberto, em discusso na c-mara municipal. Por outro lado, na juntade freguesia j esto reservados mileuros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitao desta rea.

    Por executar esto tambm os delicadosrealojamentos dos inquilinos. Nunca maisnos disseram nada. Dinheiro, no quere-mos. Queremos um buraco para bastar at

    Deus nos levar, afirmaram os Amoedoem Maio. Terminou, todavia, a primeiraparte deste filme cujo desfecho (a vendaa estrangeiros) se afigurava inevitvel. Ascoisas foram-se arrastando: a cmara foifechando os olhos, os senhorios recebendoalgumas rendas, os inquilinos conseguindocasas por vinte euros... Os problemas tmde ser vistos de todos os ngulos. Todaa gente tem a sua verdade, diz uma dasvendedoras. Verdades que se passaram naMouraria, mas que se podiam ter passadoem qualquer outro bairro de Portugal.

    Iso Portugalno eu melhorHouve pnico na Mouraria no diado temporal que fez cair pedaosda cobertura do Estdio da Luze adiou um drbi, em Fevereiro.E em muitos outros dias.

    Senti pnico! Estou aqui com uma direc-ta, diz Jos Martins, morador na Rua daGuia. Ali, bombeiros, representantes da

    cmara, o presidente da junta e curiososjuntam-se frente ao prdio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairroh mais de vinte anos a fachada frontald para a Rua dos Cavaleiros, por onde pas-sa o turstico elctrico .

    a manh do dia de Fevereiro, do-mingo. A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medoque se soltassem, como acontecera natarde anterior com a cobertura do Est-dio da Luz. Pior: em dezenas de casas daMouraria, a noite passou-se entre baldes,escoamentos e oraes que aguentassemos tectos e os curtos-circuitos.

    Vistorias e editaisem guas de bacalhauAlice Costa Pinto, anos, (na foto) tam-bm ali estava.Vizinha de Jos na mesmarua, j sobreviveu ao desabamento docorredor instantes aps ter passado porele. Tambm assistiu ntegra queda daenorme chamin que partiu o telhado doterceiro andar que a famlia habitava desdeos tempos da sua bisav. Nessa noite, dezmeses antes desta manh de Fevereiro, tevede abandonar a casa, com o marido, acom-panhados pela Proteco Civil. Tiveramguarida em familiares e ocuparam depois oandar debaixo, dos mesmos senhorios, commenos uma assoalhada e o triplo da renda,ento deixada pelos anteriores inquilinos

    precisamente pela degradao um buraco no tecto da cozinha teima em crescer.

    As rendas nesse prdio esto entre os e os euros. Os proprietrios, netos doprimeiros senhorios, no fazem obras. A cmara faz vistorias, tira medidas, fotografa coloca editais na porta a obrigar a solueimediatas. Mas fica sempre tudo em guade bacalhau. uma coisa que ningum entende! Portugal no seu melhor. Fica-se espera de uma desgraa, critica Jos,noseus quarentas. Em Maio, o ROSA MARIA

    perguntou por novidades. Na semana passada vieram c os senhorios para trataremde um novo oramento. Havia um do anopassado mas era muito caro, conta AlicePorque no mudam de prdio? Uma pessoa vai perdendo a aco.

    Voltando tal manh de Fevereiro. Oque fazia tanta gente na Rua da Guia? O

    bombeiros avaliavam como subiriam ao

    topo do tal edifcio-moribundo para fixa

    rem as chapas. Os curiosos indignavam-se

    O presidente da Junta de Freguesia de

    Santa Maria Maior, Miguel Coelho, no

    largava o telemvel. A nica coisa que

    posso fazer chamar a ateno da cmara

    para o potencial de perigosidade que isto

    tem. Avisos no faltam, h anos.

    Este mvel, no nmero - da Ruada Gua, pertene Cmara Munpal dLboa, tal omo outro, no Beo da Gralha, junto Rua da Farnha, tambmatdo nea manh. O grupo Lberta(ver texto ao lado) hegou a analar etemvel em onreto, ma problema dendole admntratva de de reolverlevaram o nvetdore a detr, egundoHonorna Slvetre, porta-voz dete potena ompradore.

    Este o telhado do prdio onde habita o casal Amoedo, nas Olarias. No caso nico na Mouraria

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    Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra emPortugal, e na Mouraria tambm. Mas por c havia mi-dos igualmente fs de outras cantorias: as das marchaspopulares. A primeira letra acho que falava das Desco-bertas, recorda Bruna Fernandes, 31 anos, me de ummenino de quatro anos e de uma menina que nascer emOutubro. Tinha 10 anos quando, nos anos 90, integrouas primeiras marchas infantis desta era mais recente sucessoras das primordiais em que Fernando Maurciodesfilava, aos 13 anos, em 1947, antes de se tornar no rei

    do fado castio. A Bruna ainda jovem, mas j do tem-po em que ainda no existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cmara Municipal de Lisboa que animarama pequenada entre 1996 e 2006, em Belm.

    Na Mouraria dos anos 90, mais de vinte midos, entreos 10 e os 15 anos, marchavam sob a coordenao de IolaCosta (prima da Bruna, ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito, hoje com 73 anos, ento presidente da Juntade Freguesia de So Cristvo e So Loureno e chefedo departamento de qualidade da Ucal em Loures. Tudoa marchar! Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo,protegidos do trnsito onde moram ainda hoje as primasBruna e Iola filhas das irms Cila e Laurinda, donas doconhecido restaurante O Trigueirinho, no Largo dos Tri-gueiros, onde tambm chegaram a ensaiar. Outras vezesera no Largo da Rosa ou junto Igreja de So Cristvo.

    Quando eles se portavam mal a certa altura arran-jei um apito, recorda Ermelinda, divertida. Foi a mento-ra dessas marchas, nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais. E tambm autora das letras at ao ano passado,altura em que deixou de presidir junta e que, coinciden-temente, acabou a marcha infantil da Mouraria.

    Trabalho de equipa e responsabilidadeDessa tropa que marchava sob o apito de Ermelinda,trs soldados ainda c esto no bairro. Alm da Bruna,est o seu inseparvel irmo Jorge, de 29 anos, e o amigoIvo, de 27, que ainda hoje marchante. O rigor dosensaios precisamente o que os manos Fernandes maisrecordam, pela positiva.

    A responsabilidade, os horrios, o trabalho de equi-pa... So detalhes que ali importavam e que ainda hoje

    prezam nas suas vidas pessoais e profissionais. Ela en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada, licen-ciada. Ele est imigrado na Blgica desde Maro comotcnico de elevadores, sado de Portugal com o 10. anoincompleto, a trabalhar como secretrio num escritriode uma ptica.

    Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e dobairrismo responsvel. Aprendi a dar muito mais valorao stio onde vivo, a intervir. Por exemplo, se vemos umtoxicodependente a drogar-se na rua ao p de crianas

    ali a brincar, a gente capaz de ir l cham-lo ateno,diz a Bruna. E completa o Jorge: Pessoas que moremaqui h pouco tempo, se calhar, no fazem isso.

    Novas geraes, outras motivaesO rigor marcava tambm as marchas dos adultos queos Fernandes, bairristas como so, obviamente tambmintegraram. Toda a gente fazia o que ensaiador dizia,e bem feito. Havia respeito. Os ensaios eram como umtrabalho, recorda o Jorge, que se estreou nos crescidoscom 17 anos. E no foi logo aos 16, como a irm, porqueera muito magrinho e da praxe comear por carregaros arcos, que pesam cerca de 30 quilos. Foi marchantegrado dos 17 aos 22 anos, com um regresso h dois anos,aos 27. A mana marchou por uma dcada, at h seisanos, pelos 26.

    Deixou de ser srio. Saram os pais, entraram osfilhos e passou a ser apenas engraado, argumentamestes irmos dados s tradies. Sempre conviveram compessoas mais velhas.Diariamente em casa com os avs,at eles morrerem e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai, que era treinador de futebol c no bairroe guarda-costas de profisso (chegou a ser segurana doDom Duarte Pio). Bruna descendente desta famlia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a suabisav paterna e sublinha: Dantes havia os senhores dasmarchas, nem toda a gente entrava, mas depois at jvinham pessoas de fora do bairro. Os irmos desmotiva-ram-se. Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitamos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria. E este ano,o Jorge, de frias por c, at comentou o bom ambienteque l sentiu.

    O que feito dessa malta?E os outros midos que ensaiavam nos o que feito deles? Foram saindo daqui. Asjuntaram-se muito cedo ou foram para a fOs rapazes foram ficando c com os pais, contE estudaram menos. O Jorge constata: Entremeus amigos, s um que foi para a faculdadsaiu tudo da escola com o sexto ou o nono anoparte das negras estatsticas da escolaridaPortugal surge como o penltimo pas menos esc

    do chamado mundo desenvolvido, s menoque a Turquia e o Mxico, segundo a Organizaa Cooperao e Desenvolvimento EconmicoE h a falta de emprego Muitos tambm no patira a Bruna. tpico dos bairros. Fica-se ali pe

    O ltimo resistente o Ivo. Dos primeiros mchantes dos anos 90 o nico que continuchar pela Mouraria. Encontrmo-lo num dos eGrupo Desportivo da Mouraria, numa sexta-feirNem o cansao dos turnos nocturnos, que o trabazes exige, desencoraja este bairrista. Vai estandonos dois meses de ensaios, das 21h s 23h30. Todtantos afazeres, m sorte a nossa ficou sem tedar uma entrevista ao ROSA MARIA.

    Mais crise, menos filhos e menos maO Ivo e os irmos Fernandes so dos tempohavia crianas com fartura c no bairro. Ermelinda recorda que houve anos em qufizeram marchas infantis porque uns ainda erpequeninos, outros j grandes demais. Stempos. A incerteza desmotiva a paternidapas que o mais envelhecido da Europa (h anos, pelo contrrio, tinha a populao made todas) e o sexto em todo o mundo, coma liderar. O Jorge, por exemplo, viu-se obrigado por isso mesmo: por causa da incerteza. Senoo de que no ia ter um filho s por ter. Tecondies, testemunha. Apesar de nunca tedesempregado, decidiu juntar-se ao cunhado, nem busca da oportunidade de uma vida macom outros horizontes: constituir famlia.

    Os irmos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo, onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famlia h cinco geraes

    Rosa Maria n. 7junho 14 dezembro 14

    reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Jos Fernandes

    Aidade

    avana,asmarchasfic

    am

    Como estaro hoje os midque faziam as marchasinfantis na Mouraria? Fom procura deles e encontrtrs. Uma viagem ao bairr

    (e ao pas) dos anos 90. E anos 30 tambm, no inciodas marchas populares.

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    Os tempos so efectivamentediferentes. Mais ainda se com-pararmos com a dcada de 30,quando nasceram as marchaspopulares (ver A origemdas marchas populares). As

    crianas j trabalhavam. Erao caso de Fernando Maur-cio, nos anos 40. Em 1947, com ape-nas 13 anos de idade, trabalhavaj como manufactor de calado e can-tava em associaes de recreio ().Em 29 de Junho do mesmo ano, participaj na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com ClotildeMonteiro no papel de Severa. Esta umapassagem da sua biografia patente no sitedo Museu do Fado.

    O esprito das Descobertas

    A marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade a da Sociedade de Instruoe Beneficncia A Voz do Operrio, que estreou em 1988 (uma data consensual, apesar de vriasoutras serem por vezes indicadas). Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmoe meio, surgindo depois um movimento mais srio entre 1996 e 2006: as Marchas Populares Infantisde Lisboa. Nesse perodo, milhares de crianas incluindo as da Mouraria desfilaram anualmenteem Belm, o bairro dos monumentos s Descobertas, onde o ditador Salazar realizou a mticaExposio do Mundo Portugus em 1940. Cada edio reunia cerca de trinta freguesias e cinquentainstituies, com subsdios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia.

    O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o ltimo): Esta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memria cultural que se pretendefomentar nas geraes mais novas. Desta forma, possvel ter crianas, pais, escolas, associaese juntas de freguesia absorvidos de um esprito que, para alm de recreativo, simboliza a alma alfa-cinha. Assinado: Srgio Lipari Pinto, vereador da Aco Social e Educao.

    Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007, mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pde.

    Na Mouraria, a marcha infantil tambm continuou e teve at um momento alto em 2011. Ensaiada pelovizinho Vtor Hugo, marchou em directo na SIC, no programaBoa Tarde, apresentado por Ana Marques.

    Estava esta marcha em grande dinmica desde o ano anterior, reunindo a energia(e o investimento) de duas juntas: a de So Cristvo e So Loureno, presididapor Ermelinda Brito, e a do Socorro, por Maria Joo Correia. Recorda a veterana:Eu tinha dito Maria Joo: Se ganhares as eleies, para o ano fazemos juntas.E fizeram. Assim foi por trs anos, at ao ano passado. Agora, com a extino dasjuntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autrquicasde Setembro de 2013), extinguiu-se tambm a marcha infantil. Veremos quando

    reanimar. As marchas nasceme renascem. Assim tem sido athoje, tanto nas midas comonas gradas.

    A marcha infantil da Mouraria esteve em

    directo na SIC em 2011, ensaiada pelo vizinho

    Vtor Hugo (na foto acima, ao centro, com

    chapu) e acompanhada pela veterana

    Ermelinda Freitas ( esquerda, de azul) e

    Maria Joo Correia, ento presidente da junta

    de freguesia do Socorro ( direita)

    A origem das marchas populares

    As celebraes do Santo Antnio existem desde o sculo XII,mas as marchas populares que integram as festas do padroeirode Lisboa, tal como as conhecemos, s nasceram com a ditadurado Estado Novo, h oitenta anos. Resultaram de uma misturaentre os ranchos folclricos regionais e as chamadas Marchesaux Flambeaux marchas dos archotes, realizadas em Frana emhomenagem Revoluo Francesa, num ambiente militar combandeiras e archotes acesos, transformados por c nos balespopulares. Aportuguesaram-se sob a designao marchasao filamb, com especial adeso entre actores do teatro, queas encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo.Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa:

    19323 O director do Parque Mayer, Campos Figueira, pretendereanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Jos Leitode Barros, director do jornal Notcias Ilustrado, prximo do ento mi-nistro das finanas Antnio de Oliveira Salazar, que instauraria no

    ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974). Organiza-se umconcurso de ranchos folclricos na vspera do dia de Santo Antnio.Na noite de 12 de Junho, desfilam em concurso os bairros de Campode Ourique (vencedor, com trajes do Minho), Alto do Pina e BairroAlto, com massiva divu