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56 Especial Rota 66: a mãe de todas as estradas Nossa equipe percorreu 4.759 kms da histórica rodovia, que liga o leste ao oeste dos Estados Unidos, para conhecer um país que não aparece nos guias turísticos NO ASFALTO Fotos: Cláudio Vieira

Rota 66

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Reportagem especial sobre a histórica Rota 66 - Adriano Pereira

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56 Especial56 Especial

Rota 66: a mãe de todas as estradasNossa equipe percorreu 4.759 kms da histórica rodovia, que liga o leste ao oeste dos Estados Unidos, para conhecer um país que não aparece nos guias turísticos

NO ASFALTO

Fotos: Cláudio Vieira

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Harley Davidson, carregando pouca baga-gem e esperando conhecer uma América que poucos conhecem, até mesmo entre os americanos. “Vai estar quente”, avisa Mike.

A “velha 66” dele é a US-66 construída em 1926 para ligar o leste ao oeste dos Estados Unidos. Hoje é conhecida como “Historic Route 66” porque a maior parte da estrada está desativada, jogada num canto de uma interestadual moderna ou simplesmente sumida numa plantação de milho.

Sua pavimentação terminou em 1938 li-gando Chicago a Los Angeles, na Califór-nia, e seus 3.860 km, de pistas simples, que atravessam oito Estados, foram criados justamente para movimentar o interior do país. E conseguiram. Cidades nasceram às

margens da Rota 66 que serviu de cami-nho para os que procuravam empregos nas plantações de uva da Califórnia, até os que fugiam do temeroso “Dust Bowl”, ventos que traziam tanta poeira em velocidades tão assustadoras que eram capazes de di-zimar casas e até matar pessoas e animais.

Mas em meados dos anos 50, a tão útil Rota 66 foi caindo em desuso. O General Einsehower, encantado com as Autobanhs alemãs depois da Segunda Guerra, resol-veu criar um programa de construção de estradas modernas, com várias pistas, mais seguras e mais rápidas. Sua desativação completa aconteceu em 1984.

É a partir de uma interestadual que se chega à Rota 66 hoje em dia. Saindo de Chicago, o

São 9h30 do dia 26 de junho, em Chicago, Illinois. Uma semana após a cidade ser atingida por dois tornados de uma só vez, o dia promete ser quente, muito quente. No rádio da van, Marvin

Gaye canta sossegado com o ar condicionado que congela o interior do veículo.

Mike, um negro forte cheio de pulseiras e anéis de ouro, é nosso motorista no trajeto do hotel até a empresa que aluga motos. “Então vocês vão percorrer a ‘velha 66’?”, pergunta. Vamos, pilotando duas motos

Adriano PereiraCalifórnia (EUA)

Fotos: Claudio Vieira

ÍCONETrecho da Rota 66 no deserto de Mojave, na

Califórnia. A estrada que foi ‘contada’ em

livros, filmes e música continua atraindo

viajantes do mundo todo

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viajante é obrigado a entrar na I-55, uma es-trada impessoal. Por alguns quilômetros, mo-toristas estressados, com vidros fechados, e tomando café sem parar aceleram seus carros enormes. Caminhões ignorantes em tama-nho soltam fumaça e toda atenção é pouca.

Depois de 30 minutos o cheiro da grama e de um país esquecido no tempo invade o ambiente. As pequenas casas de Joliet, a maioria delas com uma bandeira americana pendurada na varanda, anunciam outro país. A Rota 66 ainda está lá. Poucos quilô-metros depois, Willmington. Era a primeira parada obrigatória nos anos 30, principal-mente para as famílias.

Um astronauta de cimento, com 10 me-tros de altura, chama a atenção para a lan-chonete “Launching Pad”. Lá dentro, uma garçonete com dentes ruins dança “Dirty Deeds”, do AC/DC, que está tocando no rádio. Tomamos nossa primeira Coca-Cola da viagem. Jimi Hendrix anuncia “Fire” e a garçonete continua dançando e cantaro-lando. Nós aceleramos nossas motos.

A próxima cidade é Dwight, um lugar tão tranquilo que parece não existir. Aqui a 66 justifica pela primeira vez a fama de “Prin-cipal Avenida da América”. A estrada que cruza as cidades nos leva para um posto de gasolina histórico. O local foi restaurado pela iniciativa de Ken Howard, que pre-servou as últimas duas bombas que fun-cionaram na Rota. “Nos bons tempos, este mesmo cruzamento abrigava quatro postos de gasolina. Hoje não temos nenhum fun-cionando”, diz. “Os negócios foram pio-rando e as pessoas foram embora”.

Mais à frente, Michael Hidings, de 68 anos, tenta se refrescar na varanda de sua casa enquanto sua esposa cuida de um lado do jardim. Do outro ficam suas relíquias. Bombas antigas de gasolina, uma cami-nhonete dos anos 40, centenas de latas de óleo vazias e todo tipo que bugiganga que se pode encontrar à beira de uma estrada. Por uma porta na garagem se chega ao te-souro. Três motos Harley Davidson, que devem valer uma fortuna para colecionado-res, estão estacionadas na garagem. “Não vendo e não troco. Fiz esse caminho que vocês estão fazendo várias vezes com elas”.

Deixamos Dwight para trás e depois de 11 horas de viagem debaixo de um sol escaldante e algumas curvas erradas chegamos à capital de Illinois, Springfield. A cidade se orgulha por abrigar o túmulo de Abraham Lincoln, e as referências estão em todos os lugares, até nos sinais de trânsito. A recepcionista do

mentos é possível ler mensagens de congra-tulações para o novo casal da cidade. Estamos entrando no Estado de Missouri.

A 66 nos leva a St. Louis, a maior cidade entre Chicago e Los Angeles em toda a Rota. Mas a “mãe de todas as estradas” é esquecida nesse lugar. O tradicional arco de St. Louis fica longe dessa paisagem e o caminho segue por subúrbios estranhos. Poucos trechos ori-ginais marcam esse trajeto e somos obrigados a pegar a interestadual por diversas vezes. É como se tudo tivesse perdido a graça.

O traçado da Rota 66, às vezes, segue como uma marginal das grandes estradas, é usada

hotel se espanta: “Onde vocês conseguiram essas queimaduras de sol?”. “Nós só preci-samos de um banho e uma cama, por favor”, respondo. “É pra já”, diz ela.

Segundo diaNosso segundo dia começa dolorido. As mãos e os braços estão cansados de segurar motos que pesam 650 kg. É a falta de costume. O tempo está nublado e bem diferente do pri-meiro dia. Um alívio. Logo depois de Sprin-gfield pela antiga 66 cruzamos Carlinville. Seus 750 habitantes ainda não acordaram da festa do dia anterior. Em todos os estabeleci-

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FANTASMAMotel abandonado na cidade de Erick,

no Texas; com a construção das

interestaduais as cidades foram ficando

vazias e esquecidas

como “Servide Road” para acessar bairros e outras avenidas. Mas quando ela desvia e fica longe da interestadual a viagem parece voltar ao eixo. E chegamos a Cuba, uma pe-quena cidade que tem em seus prédios toda a história da 66 pintada em murais coloridos. Antes de chegarmos a Rolla, nosso destino final do dia, paramos no Sparkys Cafe, uma lanchonete no meio do nada à beira da Rota.

O bar está cheio e todo mundo parece se conhecer. Assim que entramos, um silên-cio ensurdecedor toma conta do local por alguns segundos. Depois o barulho da Juke-box, o jogo de bilhar e as moças risonhas do

volta para o futuro”.Saímos do Missouri em poucos quilôme-

tros e entramos no Kansas. Aqui a Rota 66 está como era há 84 anos, ou seja, impres-tável em alguns trechos. O Estado tem o menor pedaço da estrada e não destrói nada, mas também não preserva. Nosso GPS nos mandou para um trecho de terra. Motos pesadas como essas não são feitas para andar fora do asfalto. Quase caímos por várias vezes derrapando nas pedras.

Quando a Rota sai da terra entra em Ga-lena, uma cidade que dura duas esquinas. Mas em uma delas um personagem é famoso. Um antigo guincho enferrujado ganha vida com dois olhos desenhados no para brisas. Foi esse veículo que inspirou os criadores da Disney para desenvolverem a animação “Carros”. As duas donas explicam que esse é o original. “Tem muita gente por aí que põe um guincho na frente de uma ‘biboca’ e diz que é aquele. Eu garanto que é esse!”.

Estamos andando há muito tempo nesse sol. Alguns trechos da Rota têm mais de 80 km em um nada absoluto. Chegamos em Paris Springs, no Estado de Oaklahoma, uma vila que tem um dos postos mais antigos da 66, a garagem do local foi construída em 1926. Quem cuida disso é Hurley, um senhor sim-pático de 65 anos, que calça botas de cowboy e diz que vende as camisetas mais baratas de toda a estrada. “Vivo aqui nesse posto há seis anos. Amo isso aqui, é a melhor coisa que já fiz na minha vida. As pessoas deram suas vidas para construir esse caminho, devemos preser-var isso por elas. Espero inspirar outros a faze-rem o mesmo”, diz. Antes de sairmos ele avisa: “Você se surpreenderão com o dia de hoje!”.

Já estávamos. Oaklahoma é o Estado que tem o maior trecho da Rota 66, e um dos mais bonitos também. Vales e pontes an-tigas, rios, trechos preservados e longe das interestaduais.

Depois de muito tempo chegamos a Tulsa, uma cidade com 375 mil habitantes e 1.200 companhias de petróleo. É o segundo maior município do Estado. Conseguimos vencer o calor e o maior trecho dessa viagem.

Quarto diaAcordamos sem dores e animados pelo fato de termos vencido o dia anterior. Mas co-meçamos com pouca sorte. Nosso GPS nos manda para um trecho da 66 que está fe-chado e em obras. Não conhecemos nada da cidade, não sabemos nem onde fica o norte. Entramos num bairro residencial para ten-tar alguma informação, mas é muito cedo

balcão voltam a preencher o local. Pedimos um hambúrguer para matar a fome. Rolla está a poucas milhas e queremos chegar antes de anoitecer.

Terceiro diaAs dores nas mãos e nos braços diminuíram. E parecemos mais dispostos para pegar a es-trada. Temos que estar, até Tulsa, no Estado de Oaklahoma, teremos que percorrer 505 km e cruzaremos um pequeno trecho do Kansas. Saindo de Rolla, no Missouri, seguimos direto para Carthage, uma cidadezinha que adora lembrar que serviu de cenário para o filme “De

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que sequer existem. Achamos nosso caminho com mapas e perguntas pela estrada.

Depois de Rock Creek vem um dos ícones da Rota 66, um celeiro redondo construído na cidade de Arcadia. O lugar é imenso e dizem que foi feito dessa forma, sem ângu-los retos, para enfrentar os fortes ventos sem perder suas telhas. Após 5 km, che-gamos ao Pop’s, outro ícone. O posto de gasolina acabou se transformando numa atração até para os que transitam pelas in-terestaduais. Mesmo da estrada moderna é possível ver a imensa garrafa de refrige-rante feita em aço.

Lá, os gerentes garantem que existem mais de 5.000 rótulos de refrigerantes do mundo todo. Achamos algumas garrafas de guaraná, experimentamos duas bebidas de laranja e tocamos nossas motos para Clinton.

O problema é que o GPS resolveu falhar de novo. Insiste em nos mandar para uma estrada de terra que não leva para nenhum lugar. Voltamos alguns quilômetros e en-contramos um mecânico. “Qual estrada devo seguir para Clinton?”, pergunto. “Hinton ou Clinton?”, me responde o me-

cânico com outra pergunta e um sotaque indecifrável. Soletro o nome da cidade e ele faz um sinal para que esperemos. Ele coloca os óculos escuros e sai da oficina pilotando uma Harley azul brilhando, acelera na es-trada e somos obrigados a andar a quase 140 km/h para acompanhá-lo. Assim que chega-mos num cruzamento ele aponta para a di-reita e diz: “Clinton!”. Agradecemos muito e seguimos nossa viagem.

A cidade de Clinton é nossa última parada antes do Texas, é onde fica o museu mais completo sobre a Rota 66. Muitas peças originais estão lá. Uma delas mostra que no início, a estrada foi aberta com equipamen-tos de tração animal. No final, você pode até sentar em um drive-in e assistir a um filme sobre o assunto.

Quinto diaApesar do trajeto ser curto, acordamos cedo em Clinton com destino a Amarillo, no Texas. A primeira cidade no caminho é Elk City, e outro museu sobre a 66 está no caminho. É menos completo do que o de Clinton, mas tem um charme especial por-

ainda. Encontramos um motociclista saindo para o trabalho e pedimos informação. Ele nos guia até um trecho da interestadual e nos explica onde sair.

Aqui vale uma ressalva. Desde que começa-mos, não existe um só motociclista que não nos cumprimente com um aceno de mão. Já nos deram mapas, coordenadas e sempre que paramos para uma água, um deles puxa uma conversa. Todos se surpreendem quando di-zemos que somos do Brasil, mas logo caem em si e descobrem que não viemos de lá pilo-tando motos, e a risada é certeira.

Assim que voltamos para a Rota 66 chega-mos a Rock Creek, a cidade que tem o Rock Cafe, um dos estabelecimentos mais anti-gos dessa estrada. Dizem que a dona do local também serviu de inspiração para o Porsche azul do filme “Carros”. Aqui pelo menos existe um pôster assinado pelo diretor do longa que diz: “Essa é a verdadeira Sally”. Todos viajantes que passam por ali deixam seus recados nas paredes dos banheiros. Co-memos alguma coisa e seguimos viagem.

Nosso GPS resolveu atrapalhar. Em vários momentos ele nos pede para virar em curvas

ARTEO Cadillac Ranch, no Texas, criado por um grupo de artistas que queriam protestar acabou se transformando num ícone da por art

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que conseguiu reproduzir uma pequena cidade dos anos 20 que dá uma volta com-pleta no prédio.

A paisagem começa a mudar. Se no início víamos pequenas cidades arborizadas se-guidas de grandes plantações de milho em Oaklahoma, na medida em que chegamos perto do Texas as planícies vazias domi-nam a cena. Parece não existir nada depois da próxima curva. Próximo à Erick, um fi -lhote de cervo cruzou a pista bem na nossa frente, ameaçou voltar e seria atropelado pelas nossas motos. Uma acelerada e ele resolveu seguir o caminho para o mato.

Tanto Erick, como Texola, são cidades fantasmas. Conforme o tráfego foi dei-xando a 66 e migrando para as interestadu-ais nos anos 50, as pessoas foram perdendo seus meios de vida. Casas, motéis e até carros foram largados nesse caminho. O si-lêncio desses lugares perturba. Parece que alguém vai sair de alguma porta e dizer: “O que você está fazendo aqui, tirando fotos da minha casa?”. Mas ninguém sai, não existe viva alma a não ser as nossas.

É inevitável não pensar nos sonhos que foram construídos no velho hotel, quantas viagens aquele carro enferrujado, largado na garagem, deve ter feito. Quem ele car-regou? Um gato aparece andando no meio disso tudo. Algo vivo. Mas as cadeiras que estão por ali, e parecem esperar por alguém, nunca mais serão usadas.

Saindo de Texola se chega a Groom, e tam-bém a mais um ícone dessa estrada. A caixa d’água que se equilibra em duas das quatro pernas de ferro num pasto. Apesar dos ven-tos fortes que aparecem no Texas, a estru-tura foi feita dessa maneira, torta. Ninguém explica como nunca caiu. As pessoas saem da interestadual para fotografar o “fenômeno”.

Chegamos a Amarillo em um calor infer-nal. O primeiro deserto do percurso está começando e já sentimos a mudança. O país está mais “mexicanizado” deste lado. Todos os empregos de supervisão para baixo são ocupados por imigrantes. Alguns mal falam inglês. Mas trabalham, e sem eles os Estados Unidos entrariam num colapso.

Sexto e sétimo diasHoje é o segundo dia mais longo da viagem: serão 435 kms que nos levarão até Santa Fé, no Novo México. Estamos empolgados porque teremos um dia de folga da estrada, e preci-samos disso, o cansaço começou a afetar al-gumas decisões sobre quais caminhos seguir.

Assim que saímos de Amarillo nosso

PRESERVAÇÃO Posto de gasolina

construído nos anos 30 e preservado

em Paris Springs, Oaklahoma

HISTÓRIA

A Rota 66 começou a ser constru-ída em 1926 com o objetivo de ligar o leste ao oeste dos Estados Unidos. Foi completamente pavimentada somente em 1938.Sua extensão total é de 4.579 kmsPassa por oito estados: Illinois, Missouri, Kansas, Oaklahoma, Texas, Novo México, Arizona e CalifórniaSão três fusos horários diferentes em todo o trajetoMuitas pessoas usaram essa es-trada para fugir do desemprego no leste causado pela quebra da bolsa em 1929. Outras milhares fugiram do “Dust Bowl”, um fenômeno natural que unia ventos fortes e poeira que transformava o dia em noite e que chegava a matar pessoas e animais.Diversos fi lmes usam a Rota 66 como cenário, alguns deles são: “Irmãos Cara de Pau”, “Kalifornia”,

“Easy Rider”, “As Vinhas da Ira”, “Thelma & Louise”, “Wild Hogs”, “On-de os Fracos Não Têm Vez”.O escritor Jack Keorouac imortali-zou a estrada no livro “On The Road”Vários músicos “usaram” a estrada como tema de suas composições, a mais famosa delas é “Get Your Kicks On Route 66”, de Bobby Troup e in-terpretada por diversos cantores e bandas como Nat King Cole, Rolling Stones, Chuck Berry e Depeche Mode.A Rota 66 foi completamente de-sativada em 1984. O último trecho a ser substituído fi cava no Estado do Arizona.

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primeiro destino seria o famoso Cadillac Ranch. O problema, mais uma vez, foi nosso GPS, que nos levou diretamente para Vega, 48 km depois de onde deveríamos estar. Voltamos e perdemos uma hora, mas foi compensador.

A visão de 10 Cadillacs enterrados num pasto é no mínimo intrigante. No quê esses caras estavam pensando? Criado em 1974 por um coletivo de artistas chamado Art Farm, a ideia foi surgindo sem planeja-mento. Os três artistas responsáveis resolve-ram comprar velhos Cadillacs em Amarillo e amassá-los na frente de seus antigos donos, como uma forma de protesto. Em vez disso, começaram a enterrá-los num pasto. Com a atenção da imprensa local a brincadeira ficou enorme e resultou em um dos maiores ícones da pop art dos anos 70.

Hoje, todos que visitam são convidados a grafitar os carros. Existe até um aviso oficial do governo do Texas na entrada que diz que antes da cerca, o grafite é crime e dá cadeia. Do lado de lá, crianças e adultos deixam marcas efêmeras que durarão por um dia, ou até por apenas algumas horas.

Voltamos ao nosso curso normal com destino a Adrian, a cidade que fica exata-mente no meio do caminho entre Chicago e Los Angeles. Sinceramente, quando chega-mos nos sentimos como alguém que vence um desafio. A placa está lá no meio do nada, e do outro lado da rua, o “Midpoint Cafe”, que serve tortas de maçã aos viajantes desde o final dos anos 30.

Esse desvio nos fez baixar o nível de gaso-lina. A paisagem já é de deserto no Novo Mé-xico e os postos estão ficando cada vez mais distantes uns dos outros. Com os tanques quase vazios, achamos um posto novinho, mas que ainda não estava aberto. O aten-dente diz que devemos andar 20 km até San Jon. Conseguimos, mas o posto está com-pletamente abandonado. Sabíamos que não tínhamos mais gasolina para nada. Mas um rapaz da loja que ficava no posto diz: “Atra-vessem por baixo daquela ponte, é um mi-nuto, e vocês terão gasolina”. Foi a salvação.

Estamos viajando sob a ameaça de uma tempestade. Um furacão que atingiu o Golfo do México mexeu com o clima nos Estados Unidos. E da estrada podemos ver vários pontos de chuva no horizonte. É pre-ocupante. Para piorar, nosso GPS resolveu pifar novamente. E em vez de nos levar para Santa Fé está nos dirigindo diretamente para Albuquerque. Quando percebemos, já estamos perdidos.

ASTRONAUTANos anos 50 e 60, a conquista do espaço estava no imaginário das pessoas

Paramos num bar que parecia sair de “Onde os Fracos Não têm Vez”, dos irmãos Coen. “Nosso GPS está meio maluco, como podemos chegar a Santa Fé”, pergunto. O homem ri e diz: “GPS? Todos são malu-cos!” Mas nos explica e seguimos viagem. De longe vemos a tempestade e resolvemos parar pouco antes de entrar na HW-285 que nos levará ao nosso destino e esperar por uma melhora no tempo. Almoçamos e saímos. Por uma providência divina, circu-lamos a tempestade o tempo todo e chega-mos sãos, salvos e secos.

Oitavo diaSair de Santa Fé foi como deixar algo se-guro e bonito para trás e começar a enfren-tar novamente o desconhecido e inóspito. Saímos bem cedo debaixo de uma chuva fina, o sol ainda nem apareceu direito. Mas temos que fazer isso. O problema de manhã não é o calor, mas a falta de umi-dade que existe em qualquer hora do dia. Em 30 minutos andando de moto, nossos lábios já estão rachados.

Resolvemos seguir o conselho de um mo-tociclista que conhecemos no caminho.

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CARROS O guincho que inspirou os criadores da Disney

a desenvolverem o personagem Tom Mate

do filme ‘Carros’

bonitas até agora. Apesar de estarmos no meio de um nada que chega a ser filosófico, o começo do deserto é encantador. Pedras e montanhas vermelhas contrastam com a vegetação verde-musgo rasteira criando um efeito visual interessante.

O povo Navajo também não é muito sim-pático. Depois de algumas caras feias des-cobrimos que o problema é histórico. Eles eram os donos disso tudo. Inóspito ou não, era seu mundo até que a civilização os for-çou a viver em reservas. Apesar de terem sua liberdade legislativa, eles precisam de

dólares para viver e o dinheiro está além das cercas dos pueblos. Como para quase todo “estrangeiro” na América, o subemprego é uma das saídas.

Em outra frente, legislando em causa pró-pria, muitas reservas acabam montando cassinos que funcionam 24h por dia, sempre lotados. São comuns lugares em que a única coisa que existe à beira da estrada é um monu-mental prédio cercado de índios e luzes pis-cando como se estivéssemos em Las Vegas.

Seguimos em frente e estamos chegando a Gallup, uma cidade que parece ter uma única avenida de quase 16 km. Nela você encontra todos os hotéis da cidade, todas as redes de fast food e todo o resto do município. Essa única via que um dia foi o caminho para o oeste ame-ricano, hoje é a “Avenida Histórica 66”.

Nono diaEntraremos no primeiro deserto do ro-teiro. Dá certo receio, mas é o caminho que nos propomos a fazer. Saímos de Gallup às 7h numa manhã bastante fria apesar do sol estar brilhando sozinho no céu. O clima aqui é tão seco que nossos narizes sangra-ram quando levantamos. Vamos cruzar o limite entre os Estados do Novo México e do Arizona com destino a Flagstaff.

Os índios Navajos são a maioria étnica nessa região. Em todos os lugares eles montam pe-quenos comércios para vender “artesanato autêntico” de suas reservas. É claro que é um grande engodo, na verdade as mesmas peças que se encontram em postos de gasolina estão nas “vilas originais” da beira da estrada.

Mas a paisagem mudou drasticamente mais uma vez. A umidade do ar praticamente sumiu e o pouco verde que existia deu lugar ao marrom em vários tons. São morros de pedra e areia esculpidos pelo vento que é tão forte que chega a desequilibrar as motos.

É 4 de julho e o norte-americano gosta de comemorar seu Dia da Independência. Está todo mundo nas interestaduais. Por sorte, a maioria deles se esqueceu da própria histó-ria e a 66 parece ser nossa.

O Estado do Arizona teve o último tre-cho original da 66 totalmente funcional até 1984, foi o último a ser desativado. Por conta disso, nas cidades, por exemplo, a Rota é a avenida principal até hoje.

Estamos bem adiantados no caminho em razão de mais uma mudança de fuso horá-rio. Agora temos duas horas de diferença de Chicago, onde partimos. E assim nos demos conta que ainda era cedo.

Assim que entramos em Winona parece que

“No Novo México, toda vez que você vir um posto, encha o tanque”. Passamos por Albuquerque e começamos a chegar nos “pueblos”, as reservas étnicas do Novo México. Os índios Navajos habitavam esses lugares antes de qualquer imigrante fardado ganharam o direito a terra. Nos pueblos não valem as leis americanas, eles têm seus próprios governantes e suas pró-prias leis. Uma delas nos fere diretamente. É proibido fotografar.

Até onde a cerca nos permite, conse-guimos registrar algumas das cenas mais

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por alguns minutos estivemos fora da sala de teatro e o pessoal dos bastidores trocou o ce-nário. Tudo muda na paisagem. O marrom dá lugar a pinheiros verdes e lá no fim do ho-rizonte, que antes não dava nenhuma pers-pectiva de mudança, uma montanha com um pouco de neve no cume dá um norte.

Estamos a 1.820 metros de altitude e a montanha chega aos 3.500 metros. Come-çamos a serpentear uma estrada que antes era reta como uma régua e logo o frio au-menta. Deixamos Winona e entramos em Flagstaff onde a Rota 66 é a avenida. Vence-mos o primeiro deserto.

Décimo diaDe Flagstaff para Williams são apenas 70 km pela 66. Então pegamos outro rumo, en-tramos na HW-180 rumando para o norte, uma estrada linda cercada por pinheiros, e depois entramos na AZ-64 e subimos mais um pouco para chegar num dos lugares

mais bonitos do mundo, o Grand Canyon.São 446 kms entalhados pelo Rio Colorado

expondo 2 bilhões de anos de história geoló-gica. Sua largura chega a 25 km em alguns pon-tos e é visitado por 4 milhões de pessoas por ano. Antes de chegarmos à entrada no par-que, desviamos para o aeroporto do Grand Canyon. Entramos num pequeno avião projetado especialmente para sobrevoar o local. Em 50 minutos é possível percorrer 160 km de algo indescritível.

O Grand Canyon já era habitado por indí-genas há milhares de anos, o primeiro arte-fato humano encontrado no local data de 12 mil anos atrás. Atualmente ainda moram na região índios das tribos Hualapai, Havasu-pai, Navajo, Hopi e Paiute. Sua redescoberta para o mundo foi em 1857, graças ao explora-dor Joseph Christmas, sendo que em 1919 foi criado o Grand Canyon National Park, admi-nistrado pelo governo americano.

A medida que essa viagem avança, ainda

mais diante de algo tão grandioso e antigo, percebemos nossa insignificância perante o mundo. Fechamos-nos em pequenas reali-dades que às vezes se limitam a pagar con-tas e terminar o dia sem lembrar-se do que foi feito pela manhã. Aqui percebemos que nossos horizontes devem ser ampliados sempre que pudermos.

Chegamos a Williams. Temos que rumar pela primeira vez para o leste na 66 e encon-trar nosso hotel. Nossas almas estão lavadas para sempre com as imagens que vimos.

Décimo primeiro diaSaímos bem cedo de Williams, no Arizona, com destino a Laughlin, em Nevada. A Rota 66 não passa por esse Estado, mas ela some entre o final do Arizona e a Califórnia, então para retomá-la é necessário fazer um desvio. O caminho guardava uma grata surpresa.

O Arizona preserva a 66, e muito. A maioria das cidades cortadas pela estrada se orgulha e aproveita esse fato deixando seu nome nas avenidas principais que faziam parte do tra-çado original da Rota e abrindo lojas de sou-venires e bugigangas para turistas. Desde Flagstaff, todos os municípios são assim.

Isso só foi possível por causa de um homem chamado Angel Delgadillo, de 83 anos. Em 22 de setembro de 1978, a interestadual I-40 foi inaugurada a 25 km de distância de Selig-man, por onde a Rota 66 passa. “Foi o dia em minha cidade morreu por 10 anos. Eu nasci aqui e vi isso acontecer. Quando lembro fico até perturbado”, diz Delgadillo. “Por todo esse tempo não tínhamos nem feijão para por no prato das nossas famílias, muitos foram embora. Em 18 de setembro de 1987 resolvi mudar essa situação. Convoquei os moradores que restavam aqui e falei que de-veríamos preservar nossa história”.

O barbeiro que herdou a profissão e a barbe-aria do pai, fundada em 1927, decidiu que era hora de tentar salvar sua cidade. Foi aí que ele fundou a “Historic Route 66 Association”, uma associação com o objetivo de resgatar a história e tentar fazer com que isso fosse um meio de vida para os moradores de Seligman.

“No início, ninguém acreditava em mim. Quem iria acreditar num pequeno grupo de moradores de uma cidade no norte do Arizona? Então resolvi fazer sozinho e, em dezembro de 1987, o governo do Estado reconheceu nossos esforços. Estamos preservando a América, os valores do passado. Não somos um lugar com McDonald´s ou grandes redes de loja, somos uma cidade de famílias”, conta.

Com a associação, Delgadillo arrecada fun-

HISTÓRIAAngel Delgadillo não aguentou ver sua cidade ‘morrer’ e criou uma associação para preservar a Rota

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dos para a preservação da 66. Na pequena barbearia que ainda funciona e na qual ele ainda trabalha todos os dias, uma pequena loja com tudo que se possa imaginar funciona anexa ao estabelecimento e ajuda nessa pre-servação. “Com nosso trabalho capturamos a imaginação do mundo. Hoje, a 66 tem essa vi-sibilidade por nossa causa. Não é apenas uma estrada, estamos falando de pessoas. Fico feliz quando vejo viajantes passarem por aqui e se sentirem felizes. A felicidade não custa um dólar e ao mesmo tempo não tem preço”.

Saímos de Seligman com uma sensação en-tranha. Fazemos parte dessa história agora, estamos viajando há 11 dias em contato direto com um asfalto que ganhou vida no imaginá-rio das pessoas. A Rota 66, como diz Delga-dillo, não é apenas uma estrada, é um lugar onde as pessoas construíram suas vidas, e esse suor derrubado nessa pista nenhum sol forte consegue secar. É para sempre.

Seguimos direto para Laughlin sem parada. Hospedamos-nos num cassino repleto de turistas japoneses gastando seus ienes. O de-serto de Mojave já começou e a temperatura lá fora ferve qualquer nervo. No dia seguinte enfrentaremos o restante deste fantasma.

Décimo segundo diaEstamos com medo do deserto. “Às 9h o sol já está te queimando”, disse no dia anterior o manobrista do hotel. “Se eu fosse você sairia antes do sol nascer”, avisou. É o que fizemos. Acordamos às 4h30 com as malas prontas. Nem tomamos café da manhã, a tensão de enfrentar a sensação térmica de 50ºC é enorme.

Durante os 340 kms teremos chance de abastecer somente duas vezes. Só existe um posto no meio do caminho. Ninguém é louco de se instalar no meio do nada. O Mo-jave recebe esse nome em razão de um tipo de cobra cascavel comum na região. É a parte mais elevada do deserto da Califórnia. Uma de suas regiões recebe o nome de Vale da Morte. São rios secos e repletos de sal.

No filme “As Vinhas da Ira”, de 1946, o Mojave já existia para as pessoas como um lugar onde a morte era uma companheira próxima. Naquela época, muitos viajantes não aguentavam o percurso, abandonavam seus carros na beira da estrada e nunca mais eram vistos. “Vocês tem que usar mangas compridas, nenhum filtro solar aguenta aquele sol”, avisou Hurley quando ainda estávamos no clima gostoso de Oaklahoma.

Entramos na interestadual com o dia na pe-numbra, é o único caminho para retomar a 66.

Aqui ela corre praticamente paralela à grande estrada, só que com algumas curvas a mais que vão nos distanciando da civilização. A cada pequena cidade, e são apenas três até Bristow, onde o deserto dá folga, a água é necessária.

Andamos por duas horas e o sol já está quente. Entre as cidades de Amboy e Ludlow, fica um lugar especial para a 66, o “Bagdad Café”, local usado para as filmagens do filme homônimo. É do mesmo jeito que o filme. Ermo, quente e insignificante. Mais a frente fica a cidade de Newberry Springs, e outro bar dá nome a um filme, é o “Sidewinder Cafe”.

Já estamos preocupados porque temos que chegar a Victorville antes do sol do meio-dia. Assim que a 66 volta para a interestadual conseguimos ganhar velocidade e terreno. Nossas bocas estão secas, nossos olhos ar-dendo e o calor está de matar. Chegamos em Victorville às 9h30. Passamos por essa prova em quatro horas e meia de viagem. Assim que chegamos no hotel o recepcionista pergunta:

“Vocês atravessaram o deserto?”. Responde-mos que sim. “Dá para perceber”, retruca.

Último diaHoje foi o trajeto mais curto, mais feio e mais tenso de toda essa viagem. Depois de Victorville, a Califórnia mostra sua riqueza e cresce no tamanho. Pequenas cidades acabam engolidas pela grande Los Ange-les e o que era um país pequeno do interior perde a identidade para um tráfego intenso nas estradas e trechos onde a Rota 66 se transformou em avenidas no subúrbio.

Logo que saímos de Victorville entramos na I-15 para acessar “nossa estrada” depois de 48 km, no vale de San Bernardino. O sol sumiu nesse trajeto dando espaço para uma neblina densa e fria. Saímos de 40ºC do de-serto para mínimos 13ºC. O tráfego nessa interestadual é completamente insano. Grandes carretas cruzam as quatro pistas, carros apressados para o trabalho e moto-

NAVAJOAs reservas indígenas

estão às margens da Rota desde que se

entra no Novo México

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66 Especial

ristas que não pensam em outra coisa a não ser em garantir o tempo.

Entrar em San Bernardino é um alívio por um lado, mas um sofrimento por outro. Esse subúrbio não é nada amigável e existem semá-foros a cada 800m. É local de fundação do pri-meiro McDonalds da história. O trecho de 160 km passa a ganhar contornos inimagináveis.

No caminho para Santa Monica, as casas começam a melhorar em aparência. Em Pa-sadena, o último pedaço de subúrbio antes de entrar na famosa Beverly Hills, tudo pa-rece ter saído de um seriado de TV. Ruas ar-borizadas e vazias de um bairro residencial cruzam as avenidas movimentadas por Fer-raris e Porsches. Isso tudo antes de entrar em West Hollywood, que é de fato, a terra do cinema, com estrelas nas calçadas.

Assim que chegamos no Píer de Santa Mo-nica procuramos um local para estacionar as motos. Entramos num estacionamento privado e vimos na placa que custava US$ 6,50 por veículo. O manobrista diz em in-glês que são US$ 10. Questiono e ele olha para o colega e em português grita: “Boca,

cobra US$ 10 de cada?” Brasileiro, morando temporariamente em Los Angeles, conse-gue colocar as duas motos numa única vaga e pagamos a metade do preço.

O píer marca o final dessa viagem de 4.579 km cruzando os Estados Unidos. No exato momento em que chegamos à ponta do píer, não conseguíamos analisar friamente o que fizemos. Sabemos que foi grande, cansativo e modificador. Sim, de alguma maneira a es-trada nos mudou numa loucura saudável. Como diz Jack Kerouac, em “On The Road”, “aqui estão os loucos. Os desajustados. Os re-beldes. Os criadores de caso. Os pinos redon-dos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.” •

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67Domingo 1Agosto de 2010

COMO PERCORRER A ROTA 66

Você deve partir de Chicago, Illinois, de onde ela começou a ser construída.

Para fazer de moto, empresas como a Ea-glerider (www.eaglerider.com) alugam os veículos em tours que podem ter um guia ou não, depende da sua escolha.

O custo parte de US$3889. Esse valor corresponde a uma moto, sem guias, com hospedagem durante os 15 dias de via-gem. Não inclui aluguel de GPS e progra-mação do equipamento, nem os seguros obrigatórios. Para tudo isso é necessário adicionar em média US$1.000, além de um limite no cartão de crédito que fica blo-queado até a devolução das motos. Não precisa levar capacetes.

O ideal é escolher os modelos de motos espe-cíficos para grandes trajetos como a Electra Glide, Road King ou Softail Heritage.

Espere um pouco de chuva no caminho, afi-nal você cruzará diversos climas e regiões.

Calcule uma média de US$15 por dia de com-bustível por moto.

Se você nunca pilotou uma Harley Davidson espere um cansaço acima da média. São motos pesadas e de mecânica bruta, bem diferente das motos japonesas.

A empresa dá a opção de alugar um carro conversível. As taxas variam conforme a dis-ponibilidade do veículo.

SANTA MONICA Placa que marca o final dos 4.579 kmda estrada no píer

de Santa Monica,na Califórnia