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relatório Sacrário do Santo Lenho Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova
estudo laboratorial e de intervenção de conservação e restauro coordenação científica: Mercês Lorena (conservadora-restauradora, DCR)
Vanessa Antunes (bolseira de doutoramento SFRH/BD/37929/2007 e investigadora do projecto PTDC/EAT- HAT/100868/2008)
equipa técnica: Ana Cardoso (bolseira do projecto PTDC/EAT-HAT/100868/2008)
Ana Fryxell (bolseira de investigação SFRH/BGCT/33598/2009) Ana Mesquita e Carmo (física, LCR-JF) Carlos Marques (bolseiro de investigação, DCR-FCT) Maria José Oliveira (física, LCR-JF) Luís Piorro (fotógrafo, LCR-JF) Sónia Costa (bolseira do projecto PTDC/EAT-HAT/115692/2009)
Luís Dias (bolseiro do Laboratório HERCULES / Universidade de Évora)
O Director do DCR: José Maria Amador O Director do LCR-JF: António Candeias
1
Índice
1. Identificação 2
2. Apreciação sumária do objecto à vista desarmada e exames de área 3
3. Diagnóstico do estado de conservação 5
4. Análise laboratorial dos materiais constituintes 7
5. Intervenção de conservação e restauro efectuada 19
2
Fig.1 e 2. Imagem geral do sacrário, com as portas fechadas e abertas respectivamente.
1. Identificação
Sacrário do Santo Lenho
Autor: Jorge da Mota
Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova
Data/Época: 1604 1
Dimensões.620 x 295 x 170 cm
Assinatura/ inscrições: IHS no frontão triangular
1 Cf. Vítor SERRÃO, A Pintura Proto-Barroca em Portugal, 1612-1657. O triunfo do naturalismo e do
tenebrismo, tese doutoral, 2 vols., Universidade de Coimbra, 1992, vol. I, pp. 657-658 (Doc. nº 18) e vol. II, pp. 499-304.
620
295 170
Fig.3 e 4 Vistas de trás e de lado respectivamente.
3
2. Apreciação sumária do objecto à vista desarmada e exames de área
O Sacrário de secção rectangular, apresenta duas portas e frontão triangular, onde se podem ler
as iniciais IHS. Nas portas estão representados S.Paulo e S. Pedro. O interior, com pintura
decorativa, apresenta motivos vegetalistas. Estes motivos apresentam duas fases de execução
com padrões diferentes. Foi executado um primeiro padrão, que se observa através das marcas
incisas na preparação localizadas na parede fundeira do sacrário (Ilustração 3,4,5). Esta incisão
com motivos decorativos em forma de alcachofra foi abandonada, dando lugar ao padrão
fitomórfico dourado e policromado visível (Ilustração 1, 2).
Ilustração 1-Padrão fitomórfico final
Ilustração 2-Padrão fitomórfico – pormenor
Ilustração 3-Padrão fitomórfico –puncionado do decalque inicial
Ilustração 4-Padrão inicial inciso na camada de preparação subjacente ao padrão visível (decalque: Mercês Lorena)
Ilustração 5-Padrão inicial inciso na camada de preparação (decalque: Mercês Lorena; tratamento da imagem Sónia Costa)
4
No exame de reflectografia de infravermelho foi possível verificar que o desenho subjacente não
se destaca da restante execução pictórica, sendo na sua maioria difícil de observar (Ilust. 6).
Destaca-se neste exame, em tom mais escuro, o empastado repinte que cobria o fundo (Ilust. 7).
Ilustração 6 -Reflectografia de infravermelho da frente do Sacrário (foto: Luís Piorro)
Ilustração 7- Pormenor de repinte contornando a cabeça de S.Paulo (foto:Luís Piorro)
5
3. Diagnóstico do estado de conservação
Destacamento e faltas pictóricas
A obra apresenta problemas de destacamento e faltas pictóricas, sobretudo ao longo das duas
tábuas laterais, quer no lado exterior, de cor verde, quer no lado interior, da pintura decorativa.
Nas pinturas das portas do lado interior identificam-se também algumas faltas pictóricas,
deixando à vista a camada preparatória.
Zonas de lacuna
As arestas do frontão apresentam todas lacunas de pequena e média dimensão, deixando
visível o suporte de madeira e ou a camada de preparação branca. Na tábua inferior identificam-
se várias lacunas de dimensões variadas, as quais abrangem quase a totalidade da área da
tábua.
Fig. 7 e 8 - Zonas douradas do frontão onde se identificam faltas de ouro e lacunas estruturais.
Fig.9 - Interior da tabua inferior onde se identifica uma grande área de lacuna.
Fig.5 e 6 - Faltas pictóricas presentes nas tábuas laterais, lado exterior e nas pinturas das portas.
6
Fig.11 e 12 - Aspecto das dobradiças das portas devido à corrosão do metal.
Fissuras
A tábua traseira apresenta uma fissura no sentido vertical, ao centro, com cerca de 23 cm.
Corrosão dos elementos metálicos
Os pregos utilizados para fixar a estrutura e as 4 dobradiças das portas apresentam uma
camada espessa de ferrugem, o que indica um estado avançado de corrosão do metal.
Fig.10 - Verso do sacrário onde se identifica uma fissura, ao centro.
7
4. Análise laboratorial dos materiais constituintes
Objectivo
Estudo estratigráfico e identificação de pigmentos e aglutinantes para apoio à intervenção de conservação e restauro.
Amostragem
Fig. 13 - Sacrário - Calvário “Arma Cristi”: Identificação dos locais de amostragem.
Estratigrafia
- Montagem das amostras, num molde de PVC, envolvendo cada amostra numa matriz constituída pela mistura de uma resina epóxida e endurecedor. Após a cura, as amostras inclusas são retiradas do molde e lixadas, até ser possível expor, à superfície da resina, um corte transversal. - Observação ao microscópio óptico da estratigrafia de cada amostra, distinguindo-se entre duas a cinco camadas de espessuras muito finas, conforme se indica na Tabela 1.
Porta dir. Porta esq. Interior
8
Tabela 1 - Sacrário: Estratigrafia das amostras
Amostra - Cor/ Localização
Corte estratigráfico Nº da
camada Camada
Cor do grão
Espessura (µm)
1 - vermelha/ manto da
Figura
Ampliação 220x
2 Vermelha Branco e vermelho
8
1 Preparação
Branco, castanho e preto
23
2 - dourada/ cercadura da
porta
Ampliação 110x
5 Orgânica ____ 11
4 Dourada ____ 3
3 Castanha
Branco, laranja e
preto 20
2 Laranja Branco 21
1 Preparação
Branco, castanho e preto
281
3 - verde/ fundo da
porta
Ampliação 110x
5 Verde escura
Branco, vermelho e preto
20
4 Cinzenta escura
Branco, vermelho, laranja e
preto
16
3 Castanha
clara
Branco e laranja
38
2 Laranja Branco e laranja
22
1 Preparação Branco 96
4 - carnação/ pé da Figura
Ampliação 110x
4 Orgânica ____ 6
3 Castanha
Branco, vermelho,
laranja, azul e preto
35
2 Orgânica ____ 12
1 Preparação Branco 162
9
Tabela 1 - Sacrário: Estratigrafia das amostras (continuação)
Amostra - Cor/ Localização
Corte estratigráfico Nº da
camada Camada
Cor do grão
Espessura(µm)
5 - amarela/ manto da
Figura
Ampliação 110x
3 Orgânica ____ 6
2 Branca Branco e
preto 33
1 Preparação Branco, laranja e
preto 28
6 - dourada/ interior do sacrário
Ampliação 65x
4 Orgânica ____ 9
3 Dourada ____ 6
2 Laranja Branco e laranja
44
1 Preparação Branco, laranja e
preto 128
6’ - verde/ interior do sacrário
Nota: 6’ foi retirada do
mesmo local da amostra 6
mas tem a camada dourada
coberta por uma camada
verde.
Ampliação 110x
3 Verde Branco 22
2 Dourada ____ 4
1 Laranja
Laranja, vermelho, amarelo e
branco
46
Identificação de pigmentos e aglutinantes
Os aglutinantes e alguns pigmentos foram identificados por Microespectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (µS-FTIR). A Espectroscopia de Fluorescência de raios X por dispersão de energia (EDXRF) e Micro-difracção de raios X (µ-XRD) e, em alguns casos, a análise por Microscopia Electrónica de Varrimento com Espectroscopia de raios X por dispersão de energia (SEM-EDS), foram outras técnicas complementares utilizadas na identificação dos materiais.
10
Na Figura 14 encontra-se representado o espectro, obtido por µS-FTIR, referente à camada de preparação da amostra 2.
Fig. 14 – Espectro µS-FTIR: Amostra 2, camada de preparação.
Na Tabela 2, constam os materiais identificados e a atribuição das respectivas bandas.
Tabela 2 - Sacrário: Materiais identificados por µS-FTIR e atribuição das bandas
Materiais identificados Bandas/cm-1 Atribuição das bandas
Gesso dihidratado
3546s, 3488sh, 3402s, 3246vw
1681vw, 1622m
1144vs
1015vw
ʋ(OH) antissimétrica e simétrica
δ(OH)
ʋ(SO42-) assimétrica
ʋ(SO)
Anidrite 673s δ(SO)
Proteína
2929w, 2856vw
1542vw
1446w
ʋ(CH)
amida II (+ʋ(COO-))
amida III
(s-strong; vs-very strong; sh-shoulder; w-weak; vw-very weak; m-medium; ʋ-elongação; δ-deformação)
Esta análise revelou que a camada de preparação contém sulfato de cálcio dihidratado, sulfato de cálcio anidro e, uma proteína, provavelmente cola animal. A análise, por µ-XRD, à camada de preparação desta amostra confirmou a presença de gesso dihidratado e de anidrite, conforme se apresenta nos difractogramas da Figura 15.
11
00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 18.43 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 30
00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 74.16 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -
Operations: Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]
Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_01 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 12.420 ° - End: 77.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 12.420 ° - Theta:
Lin
(C
ps)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
2-Theta - Scale
13 20 30 40 50 60 70
00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 3.90 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 305
00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 48.36 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -
Operations: Bezier Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]
Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_02 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 6.420 ° - End: 71.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 6.420 ° - Theta: 1
Lin
(C
ps)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
2-Theta - Scale
7 10 20 30 40 50 60 70
00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 18.43 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 30
00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 74.16 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -
Operations: Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]
Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_01 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 12.420 ° - End: 77.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 12.420 ° - Theta:
Lin
(C
ps)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
2-Theta - Scale
13 20 30 40 50 60 70
00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 3.90 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 305
00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 48.36 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -
Operations: Bezier Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]
Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_02 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 6.420 ° - End: 71.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 6.420 ° - Theta: 1
Lin
(C
ps)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
2-Theta - Scale
7 10 20 30 40 50 60 70
Fig. 15 - Difractogramas da camada de preparação. a) Compostos identificados: gesso e anidrite (análise realizada numa zona próxima da camada cromática); b) Compostos identificados: gesso e anidrite (análise realizada numa zona próxima do suporte).
a)
b)
Gesso dihidratado (CaSO4.2H2O)
Anidrite (CaSO4)
12
A análise à amostra 2, realizada por EDXRF, confirmou a existência de cálcio e enxofre. A identificação de cálcio e fósforo poderá indicar a existência de carvão animal. Entre os outros elementos detectados, identificou-se também ouro, na cercadura da porta (Figura 16).
Fig. 16 - Elementos identificados na folha metálica, por EDXRF
Nas Figuras 17 e 18 apresentam-se os espectros FTIR da amostra 2, das camadas 2 e 3, respectivamente.
~
Fig. 17 - Espectro µS-FTIR: Amostra 2, camada 2 (laranja).
keV
cps/
eV
13
Fig. 18 - Espectro µS-FTIR: Amostra 2, camada 3 (castanha).
Na Tabela 3, constam os materiais identificados e a atribuição das respectivas bandas, referentes às camadas 2 e 3 da amostra 2. Tabela 3 - Amostra 2, camadas 2 e 3: materiais identificados por µS-FTIR e atribuição das bandas
Na camada laranja de bólus (camada 2), identificou-se caulinite, constituída por argilas (aluminossilicatos e óxidos de ferro) aglutinadas com proteína, provavelmente cola animal, e
Camada/Cor Materiais
identificados Bandas/cm-1 Atribuição das bandas
2/laranja
Gesso dihidratado 3403s, 3244vw
1622m 669s
ʋ(OH) δ(OH) δ(SO)
Caulinite
3698s, 3669w, 3649s, 3620m
1115vs, 1032vs 1006vs 913s 796m
ʋ(OH) ʋ(Si-O-Si) ʋ(Si-O-Al) ʋ(Al-O-H)
ʋ(SiO)
Proteína
2925w, 2851w 1652m 1558vw 1456w
ʋ(CH) amida I ʋ(C=O)
amida II (+ʋ(COO-))
amida III
3/castanha
Branco de chumbo 1407vs
839m, 678m
ʋ(CO32-)
simétrica/assimétrica δ(O-C-O)
Caulinite
3699s, 3621m 1112vs, 1033vs
1009vs 913s
798m, 781sh
ʋ(OH) ʋ(Si-O-Si) ʋ(Si-O-Al) ʋ(Al-O-H)
ʋ(SiO)
Óleo 2921vs, 2851vs
1708vs ʋ(CH)
ʋ(C=O)
Proteína 1642m 1546vw 1460vw
amida I ʋ(C=O)
amida II (+ʋ(COO-))
amida III
14
gesso proveniente da camada de preparação. Na camada castanha (camada 3) foi identificada caulinite, branco de chumbo, proteína e óleo, possivelmente, óleo de linho. A análise SEM-EDS evidenciou a distribuição dos pigmentos presentes na amostra 2 e a sua granulometria (Figura 19).
Fig. 19- Amostra 2: a) Corte estratigráfico observado por microscopia óptica (OM); b) Imagem de SEM-EDS obtida por electrões secundários (SE); c) Mapeamento químico da distribuição dos elementos: Ca, Fe, Au e
Pb, detectados por SEM-EDS na região analisada; d) Espectro EDS de um ponto analisado na folha dourada.
Na Figura 20 encontra-se representado o espectro obtido por µS-FTIR, da amostra 4, camada 3.
Fig. 20 - Espectro µS-FTIR: Amostra 4, camada 3 (castanha).
a) b)
c) d)
15
Na camada 3 da amostra 4, foram identificados, por µS-FTIR, os seguintes materiais: calcite, gesso dihidratado, branco de chumbo, caulinite e óleo, conforme consta na Tabela 4.
Tabela 4 - Amostra 4, camada 3: materiais identificados por µS-FTIR e atribuição das bandas
Materiais identificados Bandas/cm-1 Atribuição das bandas
Calcite 876s δ(OCO)
Gesso dihidratado 3487sh, 3403s, 3247vw
1621m 669s
ʋ(OH) antissimétrica e simétrica
δ(OH) δ(SO)
Branco de chumbo 3527w 1406vs
839m, 679m
ʋ(OH)
ʋ(CO3
2-) simétrica/assimétrica
δ(O-C-O)
Caulinite
1034vs 914s 780m 691m
ʋ(Si-O-Si) ʋ(Al-O-H)
ʋ(SiO) δ(SiO)
Óleo 2919vs, 2849vs
1708vs ʋ(CH)
ʋ(C=O) (s-strong; vs-very strong; sh-shoulder; w-weak; vw-very weak; m-medium; ʋ-elongação; δ-deformação)
A análise à amostra 4, realizada por EDXRF, identificou os elementos: chumbo, cálcio, ferro, mercúrio, cobre, enxofre e potássio, conforme está representado no espectro (Figura 21).
Fig. 21 - Espectro EDXRF.
cps/
eV
keV
16
A análise SEM-EDS evidenciou a distribuição dos pigmentos presentes na amostra 4 e a sua granulometria (Figura 22).
Fig. 22 - Amostra 4. a) Corte estratigráfico observado por microscopia óptica (OM); b) Imagem de SEM obtida por electrões retrodifundidos (BSE); c) Pormenor da amostra. Imagem de SEM obtida por electrões secundários (SE); d) Mapeamento químico da distribuição dos elementos: Al, Ca, Fe e Pb detectados por EDS na região analisada; e) Espectro EDS do grão negro assinalado na camada 3.
A não existência de fósforo na análise do grão negro indica que se trata de carvão vegetal. Na Tabela 5 encontram-se os resultados das análises efectuadas e a composição atribuída a cada uma das camadas.
a) b)
c)
d)
e)
17
Tabela 5 - Resultados e composição das amostras/camadas analisadas
Amostra
Camada - Cor µS-FTIR EDXRF SEM-EDS Composição
1
2 - vermelha
branco de chumbo; carboxilatos metálicos;
óleo; proteína
Pb, Ca, Fe, Cu, S,
K, Hg, Mg, Al, Si
____
branco de chumbo; óleo; proteína
1 - preparação gesso dihidratado;
proteína gesso dihidratado;
proteína
2
5 - orgânica ____
Pb, Fe, Ca, Au,
Cu, K, Ba, Cr, Hg,
Si, S, Mg, Al, P
____ ____
4 - dourada ____ Au Ouro
3 - castanha
branco de chumbo; caulinite;
óleo; proteína
Pb, Al, Si, Fe, K, Cu,
Hg, S
branco de chumbo; aluminossilicatos de Fe e K;
vermelhão; óleo; proteína
2 - laranja caulinite;
gesso dihidratado; proteína
Fe caulinite;
gesso dihidratado; proteína
1 - preparação gesso dihidratado;
anidrite; proteína
Ca, S gesso dihidratado;
anidrite; proteína
3
5 - verde escura
calcite; gesso;
caulinite; proteína
Ca, Pb, Fe, Ba,
Cu, S, Cl, P, K,
____
calcite; gesso;
caulinite; proteína
4 - cinzenta escura
____ ____
3 - castanha clara ____
2 - laranja caulinite;
gesso dihidratado; proteína
caulinite; gesso dihidratado;
proteína
1 - preparação ____
4
4 - orgânica ____
Pb, Ca, Fe, Hg, Cu, S, K
____ ____
3 - castanha
calcite; gesso dihidratado; branco de chumbo;
caulinite; óleo
Pb, Fe, Cu
calcite; gesso dihidratado; branco de chumbo;
caulinite; carvão vegetal
óleo
2 - orgânica ____ ____ ____
1 - preparação ____ Ca, S gesso
5
3 - orgânica
branco de chumbo; caulinite;
óleo; carboxilatos metálicos;
proteína
Pb, Cu, Fe, Co, K, Ca, S, Si,
Hg, Al
____
branco de chumbo; caulinite;
óleo; proteína
2 - branca azurite;
branco de chumbo; óleo
azurite; branco de chumbo;
óleo
1 - preparação anidrite; proteína
anidrite; proteína
6
4 - orgânica ____ Fe, Ca, Ba, K, Sr, Pb, Hg, Si, Cu,
Mg, Al, P, S
____
____
3 - dourada ____ ____
2 - laranja ____ ____
1 - preparação gesso dihidratado;
proteína gesso dihidratado;
proteína
18
Conclusão:
Os resultados obtidos2 permitiram identificar que, na camada de preparação, constituída por
gesso dihidratado e anidrite, foi utilizada uma proteína, possivelmente cola animal.
O aglutinante utilizado na pintura foi óleo, provavelmente, óleo de linho.
Nas camadas cromáticas foram identificados os seguintes materiais inorgânicos:
- pigmentos brancos: branco de chumbo, calcite e gesso;
- pigmentos vermelhos: ocre vermelho e vermelhão;
- pigmentos laranja: ocre laranja;
- pigmentos amarelos: ocre amarelo;
- pigmentos azuis: azurite;
- pigmentos pretos: carvão vegetal.
2 Para uma informação mais detalhada sobre os compostos presentes nas amostras deverão ser realizadas análises de µ-XRD,
nomeadamente às amostras:
- 2 para identificação do composto à base de cobre, na camada castanha, e para especificar as percentagens de ouro e prata existentes
na liga metálica;
- 4, camada 3, para identificação do pigmento à base de cobre;
- 5, camada 2, para verificar se existe algum pigmento à base de cobalto.
19
5. Intervenção de conservação e restauro efectuada O tratamento da obra consistiu nas seguintes fases:
- Desmontagem da estrutura
- Correcção da fissura da tábua traseira, através de colagem e pressão;
- Consolidação das zonas em destacamento, utilizando adesivo de natureza vinílica;
- Remoção mecânica da camada de ferrugem dos pregos e dobradiças;
- Protecção dos elementos metálicos;
- Limpeza da camada pictórica (das pintura das portas, dos dois lados);
- Preenchimento das lacunas;
- Reintegração cromática;
- Douramento das lacunas nas áreas douradas;
- Montagem da estrutura.
Materiais utilizados
- goma laca
- verniz damar
- guaches
- pigmentos em pó
- folha de ouro falso
- mordente aquoso
- massa Modostuc
- paraloid B72
- cola branca (Mowilite)
- xileno
- white spirit
- etanol
- lã de vidro
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Fig.27 e 28 - Tábua lateral e inferior - Preenchimento das lacunas com massa Modostuc.
Fig.24 e 25 - Pormenores dos rostos das figuras representadas nas portas do oratório, antes e após a operação de limpeza.
Fig.26 - Pormenor do manto da figura de S. Pedro antes e após a limpeza.
Fig.23 - Desmontagem da estrutura.
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Fig.29 e 30 - Pintura das portas após a limpeza e preenchimento de lacunas com massa Modostuc
Fig.31 e 32 - Pintura das portas após a reintegração cromática.
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Fig.34 e 35 - Aplicação do bolus (guache) seguida da aplicação da folha de ouro falso.
Fig.33 - Área de lacuna da tábua inferior após a reintegração cromática.
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Fig.36 e 37 - Imagens da obra após concluída a intervenção.