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Página 1 Boletim 566/14 – Ano VI – 21/07/2014 Salários crescem menos e reduzem custo de substituição de mão de obra Zylberstajn: vagas de baixa qualificação explicam salário de entrada menor Por Camilla Veras Mota e Tainara Machado | De São Paulo O esfriamento das contratações de empregados com carteira assinada desde o fim do ano passado começa a ter reflexos negativos sobre o ritmo de avanço da renda. No segundo trimestre, o salário médio real dos admitidos no mercado formal foi 1,2% maior do que aquele pago aos contratados no mesmo período do ano passado, metade do avanço observado entre janeiro e março deste ano, de 2,4%, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) deflacionados pela LCA Consultores. Com a redução do ritmo de crescimento dos salários de admissão, a diferença de remuneração em relação aos demitidos aumentou no período, o que para economistas mostra um mercado de trabalho menos apertado, em que as empresas têm mais facilidade para substituir mão de obra mais cara por mais barata e o poder de barganha do trabalhador por salários mais altos cai. Para Fabio Romão, da LCA, os ganhos reais estão mais difíceis em parte por causa da inflação mais alta. "O poder de barganha dos trabalhadores também diminui com o crescimento bem menor da ocupação". De janeiro a junho, as admissões retraíram 1,4% em relação a igual período do ano passado. O saldo de geração de vagas formais em junho, de 23,4 mil, ficou distante em quase cem mil postos do registrado no mesmo mês de 2013. Assim, quem começa em um novo emprego neste momento tem recebido salários um pouco mais baixos do que era possível conseguir no ano passado para garantir uma ocupação, avalia. No setor de serviços, essa flexibilidade parece ser maior, já que este é um segmento em que há menor exigência de qualificação. Em termos nominais, os salários de admissão nesse ramo subiram 6,5% no segundo trimestre, em relação a igual período do ano

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Boletim 566/14 – Ano VI – 21/07/2014

Salários crescem menos e reduzem custo de substitui ção de mão de obra

Zylberstajn: vagas de baixa qualificação explicam salário de entrada menor

Por Camilla Veras Mota e Tainara Machado | De São Paulo O esfriamento das contratações de empregados com carteira assinada desde o fim do ano passado começa a ter reflexos negativos sobre o ritmo de avanço da renda. No segundo trimestre, o salário médio real dos admitidos no mercado formal foi 1,2% maior do que aquele pago aos contratados no mesmo período do ano passado, metade do avanço observado entre janeiro e março deste ano, de 2,4%, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) deflacionados pela LCA Consultores.

Com a redução do ritmo de crescimento dos salários de admissão, a diferença de remuneração em relação aos demitidos aumentou no período, o que para economistas mostra um mercado de trabalho menos apertado, em que as empresas têm mais facilidade para substituir mão de obra mais cara por mais barata e o poder de barganha do trabalhador por salários mais altos cai.

Para Fabio Romão, da LCA, os ganhos reais estão mais difíceis em parte por causa da inflação mais alta. "O poder de barganha dos trabalhadores também diminui com o crescimento bem menor da ocupação". De janeiro a junho, as admissões retraíram 1,4% em relação a igual período do ano passado. O saldo de geração de vagas formais em junho, de 23,4 mil, ficou distante em quase cem mil postos do registrado no mesmo mês de 2013. Assim, quem começa em um novo emprego neste momento tem recebido salários um pouco mais baixos do que era possível conseguir no ano passado para garantir uma ocupação, avalia.

No setor de serviços, essa flexibilidade parece ser maior, já que este é um segmento em que há menor exigência de qualificação. Em termos nominais, os salários de admissão nesse ramo subiram 6,5% no segundo trimestre, em relação a igual período do ano

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anterior, alta semelhante à inflação do período, de 6,52%, de acordo com o IPCA acumulado em 12 meses. Já na indústria, ainda parece ser mais difícil negociar com os novos empregados, afirma Romão. "O trabalhador que já tem algum tipo de treinamento consegue pleitear um salário inicial mais alto". Neste segmento, os salários subiram 7,9% no mesmo período.

"Em um cenário de desaquecimento da atividade e menor geração de empregos, as pessoas passam a aceitar novos postos com salários não tão maiores e eventualmente até se prendem menos a questões salariais", concorda João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Saboia avalia que os empresários podem aproveitar para reduzir custos com a substituição de mão de obra mais cara por mais barata. Por enquanto, no entanto, não há sinais de que os empregadores estejam demitindo para isso, e sim procurando barganhar mais quando algum trabalhador se desliga voluntariamente, por exemplo.

Hélio Zylberstajn, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), chama atenção para os salários de primeiro emprego, que têm registrado uma desaceleração maior do que a média. A menor geração de vagas em segmentos que exigem maior qualificação seria um dos fatores a explicara essa dinâmica, além da tendência "geral" de redução do aumento dos salários, pela atividade mais fraca. Ele diz que ainda não há indicativo de um processo deliberado de substituição de mão de obra por parte das empresas.

Para Rodrigo Leandro de Moura, do Ibre/FGV, o crescimento menor dos salários dos novos empregados pode estar sendo influenciado por uma reorganização nas formas de remuneração. Segundo o economista, em períodos de crise muitas empresas costumam

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contratar como pessoa jurídica profissionais com salários mais altos - que não apareceriam, portanto, nas estatísticas do Caged, que só contabilizam o emprego com carteira assinada. Em períodos de avanço menor da economia, completa, aumenta ainda o número de trabalhadores por conta própria, também fora do cadastro do Ministério do Trabalho.

De outro lado, o aumento mais intenso da remuneração de quem se desliga da empresa seria consequência do maior tempo de permanência do trabalhador no mesmo emprego, tendência apontada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE.

Saboia, da UFRJ, afirma que ainda é cedo para dizer que há uma piora do mercado de trabalho neste momento. "Os sinais parecem sugerir mais estabilidade das condições do que uma piora efetiva".

Quadro pode ajudar a conter inflação de serviços Por Camilla Veras Mota e Tainara Machado | De São Paulo A desaceleração dos salários observadas nos últimos meses deve levar a inflação de serviços a perder força neste e no próximo ano, apesar do primeiro semestre de preços bastante pressionados, avaliam economistas ouvidos pelo Valor .

Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, alguns fatores contribuíram para a sustentação do crescimento da renda mesmo em um período de crescimento mais baixo, o que deu suporte para que os preços de serviços continuassem a subir bem acima da inflação média da economia. O aumento da formalização do mercado de trabalho, por exemplo, expôs mais trabalhadores aos reajustes estabelecidos nas convenções coletivas, o que ajudou a impulsionar os ganhos reais nos últimos anos.

O terceiro ano de baixo crescimento consecutivo do PIB, porém, parece ter tornado um ajuste no mercado de trabalho, com desaceleração de salários, inevitável. "O nível de ocupação já piorou de forma mais clara e isso tem reflexos sobre a renda, o que deve ficar até mais visível ao longo do segundo semestre", diz Romão.

Na Pesquisa Mensal do Emprego, do IBGE, que considera seis regiões metropolitanas do país, a renda deve encerrar o ano com alta de 2%, até um pouco mais forte do que observado em 2013, quando o avanço foi de 1,8%. Essa variação, porém, embute uma desaceleração importante ao longo do ano, já que o crescimento, que deve ter sido de 2,8% até junho, segundo Romão, deve passar para uma alta de apenas 1,3% na segunda metade de 2014, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.

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Com isso, a sensação de bem-estar da população tende a diminuir nos próximos meses, afirma o economista. Por outro lado, essa perda de força tende a se refletir sobre a inflação de serviços, ainda que de forma gradual. Em 2013, esse conjunto de preços subiu 8,73%, mesma taxa de 2012. Para este ano, apesar das pressões no primeiro semestre, a inflação de serviços deve encerrar o ano em 8,3% e, posteriormente, desacelerar para 7,7% ao fim de 2015.

Para João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os salários são elemento importante para a inflação de serviços, já que são um dos itens mais pesados no custo das empresas. A elevada parcela de profissionais por conta própria no segmento, porém, pode contribuir para tornar esse ajuste mais lento.

De qualquer forma, diz Saboia, uma economia que cresce pouco facilita a redução da inflação. "É até natural que haja esse efeito sobre o mercado de trabalho e os preços depois de alguns anos de crescimento mais baixo, senão caminharíamos para estagflação". O pé no freio observado na demanda já é evidência desse cenário, de sensação de riqueza menor. "As pessoas já estão endividadas, ou vendo que salários mal acompanham a inflação, então preferem esperar até o quadro ficar mais claro".

Destaques Acidente de trabalho

A Justiça do Trabalho responsabilizou a concessionária Gravataí Veículos, do Rio Grande do Sul, por acidente de trabalho sofrido por um pintor contratado para pintar o telhado da empresa. Ele caiu de uma altura de cerca de seis metros ao executar o serviço. Para a 5ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST), é responsabilidade do tomador dos serviços controlar o ambiente de trabalho e exigir o uso do equipamento de segurança. De acordo com o processo, embora o vínculo de emprego não tenha sido reconhecido pelo juízo de primeiro grau, a empresa foi considerada parcialmente responsável pelo acidente e deveria indenizar o trabalhador por ter contribuído para sua ocorrência. Segundo a sentença, a empresa foi omissa quanto às normas de segurança, que deveriam ter sido observadas independentemente de se tratar de trabalhador autônomo ou empregado. A decisão foi mantida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio Grande do Sul, que ressaltou ainda a concessionária se beneficiou da mão de obra "barata" do autônomo.

(Fonte: Valor Econômico dia 21-07-2014).

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Caso não haja interesse em continuar recebendo esse boletim, favor enviar e-mail para [email protected] , solicitando exclusão.