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"Viagens Literárias", um projeto de formação de leitores da Secretaria da Educação. SALA DE LEITURA ESCOLA ESTADUAL JOSÉ CHEDIAK Proposta de atividade para o Ensino Médio e 9º ano do Ensino fundamental de "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, um clássico da literatura brasileira que quebrou os padrões românticos da época em que foi publicado, no ano de 1854. Atividade elaborada pelo Professor Carlos Pires Martins Como sugestão e complementação das atividades dos Professores de Língua Portuguesa Diretora da Escola: Vilma Lanzotti Professores Coordenadores Pedagógicos: Vera Lúcia Dias Canha Ensino Fundamental Rogério de Sousa Ensino Médio Rosa Cocco Ensino Médio

Sargento milícias

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Page 1: Sargento milícias

"Viagens Literárias", um projeto de formação de leitores da Secretaria da Educação.

SALA DE LEITURA

ESCOLA ESTADUAL JOSÉ CHEDIAK

Proposta de atividade para o Ensino Médio e 9º ano do Ensino fundamental de "Memórias de um

Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, um clássico da literatura brasileira que quebrou os padrões românticos da época em que foi publicado, no ano de 1854.

Atividade elaborada pelo Professor Carlos Pires Martins

Como sugestão e complementação das atividades dos

Professores de Língua Portuguesa

Diretora da Escola: Vilma Lanzotti

Professores Coordenadores Pedagógicos:

Vera Lúcia Dias Canha – Ensino Fundamental

Rogério de Sousa – Ensino Médio

Rosa Cocco – Ensino Médio

Page 2: Sargento milícias

SALA DE LEITURA

ESCOLA ESTADUAL “JOSÉ CHEDIAK”

Carlos Pires Martins

Page 3: Sargento milícias

Painel do Leitor.

Escreva de forma objetiva

seus comentários. Envie-os

para o Editor do Correio

Mercantil do Rio de Janeiro.

Eles poderão ser publicados

na edição de domingo na

coluna “Painel do Leitor” do

Suplemento Literário “A

Pacotilha”. Os comentários

publicados receberão brindes

dos nossos patrocinadores.

Carlos Pires Martins

Page 4: Sargento milícias

A alta sociedade é vista

pela perspectiva dos

pobres. Tendo como

personagem principal um

anti-herói, que se chama

Leonardo e relata os

esforços para driblar as

adversidades de sua

condição social e, ao

mesmo tempo, se

aproveitar ao máximo dos

intervalos de sorte que

tem na vida. O que não

falta são reviravoltas à

narrativa. Vale insistir no

valor documental e

sociológico do romance e

lembrar que se trata de

uma narrativa divertida e

bem humorada.

Primeiro capítulo do

folhetim Memórias de um

Sargento de Milícias que

mostra os costumes e

hábitos da vida suburbana

do Rio de Janeiro.

O Correio recomenda

leitura desse folhetim que

expressa visão de um

mundo sem marcas ou

traços idealizados e

sentimentalistas. O autor

se vale de um estilo

objetivo e realista ao

mostrar os tipos humanos

da gente modesta da

sociedade carioca com

suas histórias e costumes

no Século XIX.

Page 5: Sargento milícias

Memórias de um

Sargento de

Milícias:

Essa é a historia

de um rapaz

chamado

Leonardo que

nasceu de uma

“pisadela” e um

“beliscão”, expli

camos melhor:

seu

pai, Leonardo

Pataca e sua

mãe Maria da

Hortaliça

conheceram-se

no navio em que

vinha de

Portugal para o

Brasil

Page 6: Sargento milícias
Page 7: Sargento milícias

“Para selar essa

união usaram uma

forma bem exótica:

Leonardo, deu uma

delicada pisadela

em Maria da

Hortaliça, esta

retrucou com um

tremendo beliscão

e assim nasceu

Leonardo.”

No Brasil do século 18, a

demonstração de afeto

era o beliscão.

No século 18, em

Portugal e, muito

provavelmente, também

no Brasil, uma expressão

de amor bastante

difundida era o beliscão.

Entre os recém-

conhecidos, era de bom

tom beliscar “de

pincho”, aplicando

levemente a torção sobre

a pele. Para os mais

íntimos valia o beliscão

“de estorcegão”, também

conhecido como

“enérgico”. A moda era

tão forte que houve quem

discutisse a necessidade

de construir divisórias no

interior das igrejas para

impedir beliscões durante

a missa.

Beliscões, pisadas de pé

e mútuos estalos de

dedos consistiam em

rituais que simbolizavam

a dura vida rural.

Comente e compare

a expressão de

amor e afeto no

início de namoro

dos casais do

século 18 com os

casais no tempo de

hoje. Seu amor se

tornaria mais

“energético” com

uma pisadela e um

beliscão?

Carlos Pires Martins

Page 8: Sargento milícias

Comparação Histórica:

“Era no tempo do rei”

Sim, o Brasil teve um Rei!

Hoje tem uma mulher

Presidente!

Pesquise e comente:

- Os aspectos do Brasil na

época do Rei.

- Os aspectos do Brasil

na época da Presidente.

Carlos Pires Martins

Page 9: Sargento milícias
Page 10: Sargento milícias

Em síntese, o enredo de Memórias de um Sargento de Milícias é tecido com muitas peripécias e

intrigas, que não deixam, ainda hoje, de entreter e prender o leitor.

Pode resumir-se na história da vida de Leonardo filho de dois imigrantes portugueses, a sabia Maria da

Hortaliça e Leonardo, “algibebe” em Lisboa e depois meirinho no Rio do tempo do Rei D. João VI:

Nascimento do “herói”, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho abandonado mas sempre

salvo de dificuldades pelos padrinhos (a parteira e um barbeiro); sua juventude de valdevinos; seus

amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal, chefe de

polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de

tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a

proteção da madrinha, tudo tem “conclusão feliz”: promoção a sargento de milícias e casamento com

Luisinha”.

Primeira Parte

I – Origem

Nascimento e Batizado. A novela se abre com a frase “Era no tempo do rei”, que situa a estória no

século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora

com uma patrícia, Maria da Hortaliça, sabia portuguesa. Daí resultou o casamento e...

“sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo

e vermelho, cabeludo, espemeador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas

seguidas sem deixar o peito”.

Esse menino é o Leonardo, futuro “sargento de milícias” e o “herói” do livro.

O capitulo termina com o batizado do garoto, tendo a “Comadre” por madrinha e o. barbeiro ou

“Compadre” por padrinho, personagens importantes da estória.

II - Primeiros Infortúnios.

Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o traía com vários homens; dá-lhe uma

surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal.

O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega dele.

III - Despedida às Travessuras.O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, ficou caído pelo garoto, concentrando

todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas travessuras.

Depois de muito pensar, resolveu que ele seria padre.

Page 11: Sargento milícias

IV - Fortuna.

Leonardo-Pataca apaixonou-se por uma cigana que também o abandona. Para atraí-la

novamente, recorre a feitiçarias de um caboclo velho e imundo que morava num mangue. Na última

prova, à noite, quando estava nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal...

V - O Vidigal.

Este capítulo descreve o Major - “um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão; tinha o

olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada”. Era a polícia e a justiça

da época, na cidade.

Depois de obrigar todos que se achavam na casa do caboclo a dançar, até não agüentarem

mais, chicoteia-os e leva Leonardo para a “Casa da Guarda”, espécie de depósito de presos. Depois de

visto pelos curiosos, é transferido para a cadeia.

VI - Primeira Noite Fora de Casa.

Leonardo filho vai acompanhar uma “Via Sacra” de rua”, muito comum naquela época, e junta-se a

outros moleques. Acabam passando a noite num acampamento de ciganos. Descreve-se a festa e a

dança do fado. De manhã, Leonardo pede para voltar para casa.

VII - A Comadre.

Era a madrinha de Leonardo - “uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola

até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade e

benzia de quebranto...”. Gostava de ir à missa e ouvir o cochicho das beatas. Viu a vizinha do barbeiro

e logo quis saber do que é que ela falava.

VIII - O Pátio dos Bichos.

Assim era chamada a sala onde ficavam os velhos oficiais a serviço de El-Rei, esperando qualquer

ordem.

No meio deles, estava um Tenente-Coronel a quem a Comadre vai pedir para interceder junto a El-Rei

para soltar Leonardo-Pataca.

IX - O Arranjei-me do Compadre.

O autor conta-nos como o barbeiro conseguiu arranjar-se na vida, apesar de sua profissão pouco

rentável: improvisou-se de médico, ou melhor, “sangrador”, a bordo de um navio que vinha para o

Brasil. O Capitão moribundo, entregou-lhe todas as economias para que as levasse à sua filha (do

Capitão). Quando chegou a terra, ficou com tudo e nunca procurou a herdeira.

Page 12: Sargento milícias

X - Explicações.

O Tenente-Coronel interessara-se pelo Leonardo porque, de certa forma, ele o havia livrado de certa

obrigação: seu filho, um desmiolado, é que havia infelicitado a tal de Mariazinha, a Maria da Hortaliça, ex-

mulher de Leonardo. Por isso empenha-se e, por meio de um outro amigo, consegue que El-Rei solte

Leonardo.

XI - Progresso e Atraso.

Este capítulo é dedicado às dificuldades que o padrinho encontra para ensinar as primeiras letras ao

afilhado e às implicâncias da vizinha. A seguir vem um bate-boca entre os dois, com o menino

arremedando a velha, e com grande satisfação para o barbeiro que se julga “vingado”.

XII - Entrada para a Escola.

É uma descrição das escolas da época. Aborda a importância da palmatória e nos conta como o novo e

endiabrado aluno leva bolos de manhã e à tarde.

XIII - Mudança de Vida.

Depois de muito esforço e paciência, o padrinho convence ao afilhado de voltar para a escola, mas ele

foge habitualmente e faz amizade com o coroinha da Igreja. Pede ao padrinho, e este acede, para também

ser coroinha. Pensava assim o barbeiro que seria meio caminho andado para se tomar padre. Como

coroinha, aproveitou-se dessa função para jogar fumaça de incenso na cara da vizinha e derramar-lhe

cera na mantilha. Vingava-se assim dela.

XIV - Nova Vingança e Seu Resultado.

Neste capitulo, aparece o “Padre Mestre de Cerimônias”, que, embora de um exterior austero, mantinha

relações com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo-Pataca e fora causa de sua função. No dia da

festa da Igreja da Sé, o Mestre de Cerimônia prepara-se orgulhosamente para proferir seu sermão. O

menino Leonardo, encarregado de avisar-lhe a hora do sermão, informa-lhe que será às 10 horas, quando

na verdade devia ser às 9. Um capuchinho italiano, para cooperar, e porque o pregador não chegava,

começou a homilia. Depois de algum tempo, chega o Mestre, furioso, e corre para o púlpito também. Após

um bate-papo com o religioso, toma o lugar dele e continua o sermão. O resultado foi o sacristão ser

despedido.

XV - Estralada.

Leonardo-Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é que lhe tirara a cigana e que este iria ao

aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major

Vidigal, que prende todo mundo, inclusive o Padre, e os leva para a “Casa da Guarda”.

XVI - Sucesso do Plano.

O Mestre de Cerimônias, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana, voltando para Leonardo, que

recebe as censuras da Comadre.

Page 13: Sargento milícias

Segunda parte

I - A Comadre em Exercício.

Aqui, o autor narra o nascimento da filha de Leonardo-Pataca e de Chiquinha. A Comadre faz o

parto, e o autor aproveita para fazer interessante descrição dos costumes da época.

II - Trama.

A Comadre, numa aliança com o sobrinho e o Compadre contra José Manuel, inventa para D. Maria

que este fora o raptor da moça na porta da Igreja (um caso policial da época).

III - Derrota.

José Manuel põe-se em campo para saber quem é seu adversário e quem tinha feito a intriga perante

D. Maria.

IV - O Mestre de Reza.

Os mestres de reza da época eram geralmente cegos que ensinavam às crianças as primeiras rezas e

o catecismo. Faziam-no á base da palmatória. O Mestre de Reza encarregou-se de descobrir, para

José Manuel, quem era o intrigante.

V - Transtorno.

O Compadre morre e deixa Leonardo como seu herdeiro. Segue-se a cerimônia de luto e o enterro.

Leonardo volta para a casa do pai. A Comadre, que também mora com a filha, faz agora as vezes do

Compadre. Leonardo não se entende com a madrasta, Chiquinha.

VI - Pior Transtorno.

Leonardo, ao voltar da casa de Luisinha, aborrecido por não a ter visto, briga com Chiquinha. O pai

intervém de espada, e Leonardo foge de casa.

A Comadre censura os dois e vai procurar o afilhado, enquanto os vizinhos comentam as

ocorrências...

VII - Remédio dos Males.

Ao fugir de casa, Leonardo encontra o antigo colega, o Sacristão da Sé, num pique-nique em

companhia de moças e rapazes, o qual o convida para ficar; ele aceita e enche-se de amores por

Vidinha, cantora de modinhas, que tocava viola.

“Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de altura regular. ombros largos, peito

alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e

úmidos, os dentes alvíssimos. a fala era um pouco descansada, doce e afinada.”

Page 14: Sargento milícias

VIII - Novos Amores.

Este capitulo faz a descrição da nova família que acolhe Leonardo. Era composta de duas irmãs

viúvas, uma com três filhos e a outra com três filhas. Passavam dos quarenta anos e eram muito

gordas e parecidas. Os três filhos da primeira tinham mais de 20 anos e eram empregados no trem. As

moças, mais ou menos da idade dos rapazes, eram bonitas, cada uma a seu modo. Uma delas era

Vidinha.

IX - José Manuel Triunfa.

A Comadre procurou Leonardo por toda parte e, não o encontrando, foi à casa de D. Maria, que a

repreendeu por “ter cometido um grande...” Ela logo entendeu e percebeu que José Manuel estava

regenerado aos olhos de D. Maria; e também chegou à conclusão de que o cego Mestre de Reza é que

tinha desvendado tudo. A Comadre desculpa-se e toma conhecimento do interesse de José Manuel

por Luisinha.

X - O Agregado.

Leonardo fica agregado na nova família, como era costume naquela época. Dois irmãos pretendentes

a Vidinha unem-se contra Leonardo, que estava gostando dela. Vidinha e as Velhas tomam o partido

de Leonardo. Houve briga e confusões.

Leonardo decidiu sair da casa, mas as velhas não consentem. Chega a Comadre.

XI - Malsinação.

Depois de conferências entre as velhas e a Comadre, Leonardo fica, para alegria de Vidinha.

Os primos vencidos, combinam um modo de vingar-se. Fizeram uma patuscada semelhante à que

haviam feito quando conheceram Leonardo e avisaram o Major Vidigal... Este chega no meio da farra e

prende Leonardo.

XII - Triunfo Completo de José Manuel.

José Manuel ganha uma causa forense para D. Maria e, com isso, consegue o consentimento para

casar-se com Luisinha, que Leonardo já havia esquecido; ela aceita com indiferença o novo

pretendente. Há festa e casamento em carruagens - “destroços da arca de Noé”.

XIII - Escápula.

A caminho da prisão, Leonardo procura um jeito de fugir. O Major adivinha o pensamento do moço e

presta atenção a todos os seus movimentos. Entretanto, na hora em que surgiu um pequeno tumulto

na rua, e o Major desviou a atenção do prisioneiro, Leonardo escapuliu e foi para a casa de Vidinha. O

Major, pasmado com o acontecido, procura-o por toda parte, com os granadeiros.

Page 15: Sargento milícias

XIV - O Vidigal Desapontado.

Vidigal, com o orgulho ferido, sobretudo devido às zombarias do povo, jurou vingar-se. A Comadre, entretanto, que

não sabia da fuga, procura o Major e, ajoelhada a seus pés, chora e suplica pelo afilhado. Os granadeiros riam

dela cada vez que gritava - solte, solte!

XV - Caldo Entornado.

Tendo sabido da fuga de Leonardo, a Comadre dirigiu-se à casa das velhas e pregou um sermão ao

afilhado, concitando-o a que abandonasse a vadiagem e procurasse um emprego. Ela mesma consegue para ele

uma ocupação na “Ucharia Real”.

O Major não gostou disso porque assim não poderia prendê-la Ucharia, morava um tal de Toma-Largura, assim

chamado pela sua estampa grotesca, em companhia de uma mulher bonita Leonardo começa a demorar cada vez

mais no trabalho e a esquecer Vidinha.

Um dia, Toma-Largura surpreendeu-o tomando sopa com sua mulher e corre atrás dele escorraçando-o de casa.

No dia seguinte, Leonardo é despedido do emprego.

XVI - Ciúmes.

Vidinha, extremamente ciumenta, quando soube do acontecido, foi tomar satisfação com a mulher do Toma-

Largura, depois de gritar, chorar e ameaçar. Leonardo vai atrás e se encontra com o Major Vidigal, que o prende.

XVII - Fogo de Palha.

Vidinha começa a xingar Toma-Largura e a mulher. Como não houvesse reação dos dois, ficou

desconcertada, tomou a mantilha e saiu. Toma-Largura, encantado com Vidinha, resolveu conquistar nem que

fosse uma diminuta parcela de seu amor, porque assim se vingaria de Leonardo e satisfaria seu desejo de

conquista amorosa. Desse modo, acompanhou a moça para saber onde ela morava.

XVIII - Represálias.

Quando Vidinha chegou a casa, deram também por falta de Leonardo. Mandam-no procurar por toda parte e nada.

Suspeitam do Major, mas não o encontram na Casa da Guarda.

A Comadre, avisada, põe-se em campo à procura do afilhado, mas também não o encontra. A família que

hospedava Leonardo começou a odiá-lo, julgando que ele se havia ocultado propositalmente. Enquanto isso, o

Toma-Largura começa a rodear a casa de Vidinha para cumprimentá-la. Mal imagina ele o que lhes estão

preparando...

Recebido em casa, resolvem comemorar a aproximação com uma patuscada nos “Cajueiros”, no mesmo lugar

onde Leonardo conhecera a família. E claro que o Toma-Largura lá estava. E como gosta de beber, acabou

provocando uma grande confusão na festa. Inesperadamente chega o Vidigal com um grupo de granadeiros e dá

ordem a um deles para levar o Toma-Largura preso. Este granadeiro era Leonardo.

Page 16: Sargento milícias

XIX - O Granadeiro.

Depois de preso, o Toma-Largura foi abandonado na calçada porque estava completamente bêbado e

sem condições de andar. A seguir, o autor conta como Leonardo fora transformado em granadeiro:

depois de preso foi escondido por Vidigal e levado para sentar praça no Regimento Novo. A seguir, foi

requisitado para ajudar o Major nas tarefas policiais. Era a maneira de o Vidigal se vingar.

Leonardo mostrou-se bom de serviço, mas participou de uma “diabrura” quando, em

missão, representou Vidigal, defunto, numa cena para ridicularizá-lo.

XX - Novas Diabruras.

O Major decide prender Teotônio, um grande animador de festas, onde tocava e cantava modinhas e

mostrava outras habilidades, como banqueiro de jogo.

Teotônio, na festa de batizado do filho de Leonardo-Pataca com a filha da Comadre, fez caretas e

mímicas imitando o Major, que estava presente, para risada geral do público. O Major sai correndo e

incumbe Leonardo de prender Teotônio.

Leonardo, muito bem recebido na casa, revela a missão de que estava incumbido e, de comum acordo

com Teotônio, concebe um plano para lograr o Major.

XXI - Descoberta.

Leonardo foi cumprimentado por um amigo indiscreto, na frente do Major, pela façanha, e este o prende

imediatamente.

Enquanto isso, o José Manuel, depois da lua-de-mel com Luisinha, começou a mostrar que não era lá

grande coisa. Isso fez com que D. Maria se aliasse à Comadre para soltar Leonardo.

XXII - Empenhos.

Depois de uma tentativa frustrada junto ao Major, a Comadre pede os préstimos de D. Maria que, por sua

vez, recorre a Maria Regalada. Chamava-se assim por ser muito alegre, ria-se de tudo. Morava na

Prainha, e, quando mais nova, era uma “mocetona de truz”. Já era conhecida do Major, com quem há

tempos tivera encontros amorosos.

XXIII - As Três em Comissâo.

As três vão ao Major pedir-lhe para soltar Leonardo. Ele mostra-se inicialmente inflexível como o cargo

e o lugar exigiam. Como as três rompessem em prantos, ele não se conteve e chorou também, feito um

bobo. Depois recompôs-se e ficou novamente durão.

Entretanto, Maria Regalada cochichou-lhe qualquer coisa ao ouvido, e ele logo promete não somente

soltar Leonardo como alguma coisa mais.

Page 17: Sargento milícias

XXIV - A Morte é Juiz.

José Manuel, com a ação que lhe moveu a sogra, tem um ataque de apoplexia e morre.

Leonardo, libertado, chega à noitinha e a primeira coisa que procura é Luisinha. Tinha sido

promovido a sargento. A admiração um pelo outro é recíproca.

XXV - Conclusão Feliz.

Depois do luto, Leonardo e Luisinha recomeçam o namoro. Os dois querem casar-se, mas há uma

dificuldade: Leonardo era soldado, e soldado não podia casar. Levaram o problema ao Major, que

vivia com Maria Regalada. Esse fora o preço pela soltura do Leonardo.

Por influência da mulher, o Vidigal logo arranjou um jeito: dar baixa em Leonardo como tropa de

linha e nomeá-lo “Sargento de Milícias”.

Leonardo pai entrega ao filho a herança que lhe deixara o padrinho barbeiro. Leonardo e Luisinha

casam-se. E agora aparece “o reverso da medalha”:

“Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que

pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto .final.”

Literatura - Proposta de abordagem reflexiva de:

MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS: NEM ROMÂNTICO NEM REALISTA.

Nas produções românticas, principalmente nos romances urbanos a maioria dos personagens é

retratada como representantes das classes dominantes, na obra de Almeida essa tendência não é

seguida, aproximando-o do realismo; "procurou mostrar o povo como o povo era e continua a ser"

retratando como cenário as ruas cheias de gente, expressando dessa maneira uma preocupação

documental que também é uma característica do Realismo. Em “Sargento de Milícias” as

personagens se destacam por traços gerais e comuns ao grupo que pertencem. Muitas personagens

não têm nome pois são alegorias (representações simbólicas) do tipo de gente da época e da classe

sócio-econômica a que pertenciam.

- Identifique os personagens (mesmo aqueles que não têm nomes) do Folhetim Memórias de um

Sargento de Milícias.

A comicidade é explícita no Folhetim de Manoel Antonio de Almeida.

- Descreva e comente uma das cenas com alto teor de comicidade presente no texto.

Carlos Pires Martins

Page 18: Sargento milícias

Abordagem Filosófica e Social: A DIALÉTICA DA MALANDRAGEM

O crítico literário Antônio Candido publicou Dialética da malandragem, uma referência

obrigatória para qualquer estudo filosófico que aborde o tema da malandragem brasileira. O

trabalho, um ensaio sobre Memórias de um Sargento de Milícias, toma o personagem principal

do livro, Leonardo Pataca Filho, como o primeiro malandro da literatura brasileira, mostrando

que Leonardo transita, cotidianamente, entre a ordem estabelecida e as condutas

transgressivas, Cândido afirma que esse romance, já no século XIX, retrata -

retrospectivamente - a ambiguidade ética da sociedade brasileira, na época de Dom João VI. A

desarmonia entre as instituições ético-legais e as práticas sociais efetivas não seria

novidade: "Há um traço saboroso que funde no terreno do símbolo essas confusões de

hemisférios e esta subversão final de valores. (...) É burla e é sério, porque a sociedade que

formiga nas Memórias é sugestiva. (...) manifesta (...) o jogo dialético da ordem e da

desordem". Costuma-se apontar a corrupção como uma das maiores mazelas da sociedade

brasileira. Geralmente, quando questionada acerca desse assunto, a opinião pública tem como

alvo favorito de críticas a classe política. É curioso, no entanto, que boa parte dessas pessoas

que avaliam negativamente seus representantes costuma recorrer, cotidianamente, a

pequenos artifícios que burlam o costume ético e, muitas vezes, até a lei. Estamos nos

referindo ao nosso jeitinho brasileiro, à malandragem e ao jogo de cintura, "categorias" que, já

incorporadas à nossa cultura, convivem lado a lado com os valores ético-morais mais

tradicionais. A "ética" do jeitinho e da malandragem coexiste, paralelamente, com a ética

oficial. O cidadão que cobra dos políticos o cumprimento dos preceitos da ética tradicional é o

mesmo que usa o expediente do jeitinho e da malandragem.

Comente objetivamente:

- Essa exaltação do tipo "malandro" tem sido proveitosa para o Brasil?

- A Dialética da Malandragem tem contribuído para engrandecer nossa cultura ou para

degenerá-la?

- Comente sobre o estereótipo do “jeitinho brasileiro” . Você, cidadão brasileiro, cumpre os

preceitos da ética e ao mesmo tempo usa do expediente do “jeitinho” para tirar vantagens?

Page 19: Sargento milícias

Dialética da ordem e da desordem

Os personagens de Memórias de um sargento de milícias oscilam entre dois extremos da

sociedade: em um dos pólos (positivo), a ordem; no outro (negativo), a desordem. O protagonista

cresce passando ora por um ora por outro hemisfério, terminando absolvido pelo pólo

convencionalmente positivo. Leonardo pai, como oficial de justiça, pertence à ordem;

contudo, sua relação com a Cigana leva-o a praticar feitiçarias e ser preso pelo Major Vidigal.

Posteriormente, forma com a filha da comadre um casamento estável, retomando sua posição

relativamente sancionada.

Este transitar por entre a ordem e a desordem é comum entre os personagens de Memórias de

um sargento de milícias, dos quais os citados são só exemplos. Essa característica leva-nos a

uma sociedade na qual predomina a lógica da inculpabilidade. O romance de Almeida cria “um

universo que parece liberto do erro e do pecado”. Os personagens fazem coisas tidas como

reprováveis, mas também fazem outras dignas de louvor, que as compensariam. Desta

forma, “como todos têm defeitos, ninguém merece censura”.

A sociedade apresentada no romance estaria alicerçada por uma espécie de equilíbrio entre o

bem e o mal, que são compensados um pelo outro a cada instante. Para o crítico Antônio

Cândido, no romance de Almeida “decorre a ideia de simetria ou equivalência, que, numa

sociedade meio caótica, restabelece incessantemente a posição por assim dizer normal de cada

personagem. Os extremos se anulam e a moral dos fatos é tão equilibrada quanto as relações

dos homens” (CÂNDIDO, 1970).

Carlos Pires Martins

Page 20: Sargento milícias

O Folhetim Memórias de um

Sargento de Milícias mostra

uma sociedade que está

alicerçada por uma espécie

de equilíbrio entre o bem e

o mal que são compensados

um pelo outro a cada

instante. São mostrados

personagens com atitudes e

comportamentos

reprováveis, mas também

ações dignas de louvor que

as compensam.

- Identifique e descreva

momentos de ações dos

personagens que mostram

essa dualidade.

A dialética da ordem e da

desordem faz emergir um

mundo sem culpa, onde

aquele que transgride não

agride e, por isso, não é

punido. Os conceitos do

certo e do errado pendulam

de um lado a outro num

movimento constante entre

os indivíduos da sociedade.

Nas manifestações de rua

nós temos visto essa

dualidade com evidência.

Há vandalismo, há

reinvidicações pacíficas e

de direito.

Comente a relação atual

entre a ordem e a desordem

e o que é considerado

louvável e reprovável

nessas manifestações.

Carlos Pires Martins

Page 21: Sargento milícias

Memórias de Um Sargento de

Milícias

Martinho da Vila

Era o tempo do rei

Quando aqui, chegou

Um modesto casal feliz pelo

recente amor

Leonardo, tornando-se meirinho

Deu a Maria Hortaliça um novo

lar

Um pouco de conforto e de

carinho

Dessa união, nasceu

Um lindo varão

Que recebeu o mesmo nome do

seu pai

Personagem central da história

que contamos neste carnaval

Mas um dia Maria

Fez a Leonardo uma ingratidão

Mostrando que não era uma

boa companheira

Provocou a separação

Foi assim que o padrinho

passou

A ser do menino tutor

A quem lhe deu toda dedicação

Sofrendo uma grande

desilusão

Outra figura importante em

sua vida

Foi a comadre parteira

popular

Diziam que benziam de

quebranto

A beata mais famosa do lugar

Havia nesse tempo aqui no

Rio

Tipos que devemos

mencionar

Chico Juca, era mestre em

valentia

E por todos se fazia,

respeitar

O reverendo amante da

cigana

Preso pelo Vidigal

O justiceiro

Homem de grande autoridade

Que à frente dos seus

granadeiros

Era temido pelo povo da

cidade

Luisinha primeiro amor

Que Leonardo conheceu

E que Dona Maria, a outro

como esposa concedeu

Somente foi feliz

Quando José Manuel

Morreu

Nosso herói

Novamente se apaixonou

Quando com sua viola

A mulata Vidinha, esta

singela modinha cantou:

Se os meus suspiros

pudessem

Aos seus ouvidos chegar

Verias que uma paixão

Tem o poder de assassinar.

Page 22: Sargento milícias

A Leitura à luz de nossos próprios interesses

“O fato de sempre interpretarmos as obras literárias, até certo ponto, à luz

de nossos próprios interesses – e o fato de, na verdade, sermos incapazes

de, num certo sentido, interpretá-las de outra maneira – poderia ser uma das

razões pelas quais certas obras literárias parecem conservar seu valor

através dos séculos. Pode acontecer, é claro, que ainda conservemos muitas

das preocupações inerentes à da própria obra, mas pode ocorrer também

que não estejamos valorizando exatamente a „mesma‟ obra, embora assim

nos pareça. O „nosso‟ Homero não é igual ao Homero da Idade Média, nem o

„nosso‟ Shakespeare é igual ao dos contemporâneos desse autor. Diferentes

períodos históricos construíram um Homero e um Shakespeare „diferentes‟,

de acordo com seus interesses e preocupações próprios, encontrando em

seus textos elementos a serem valorizados ou desvalorizados, embora não

necessariamente os mesmos”.

(EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins

Fontes, 2003, p.18

Carlos Pires Martins

Carlos Pires Martins

Page 23: Sargento milícias

Os sentidos dos textos literários no tempo e na perspectiva de diferentes

Chama a atenção o fato de que sociedades ou partes delas já valorizaram (e certamente

muitas ainda valorizam) a interferência do leitor no texto, entendendo a leitura como uma

forma de “apropriação”. De algum modo, esse universo é próximo de você. A proposta é

fazer uma releitura ou uma reescrita do texto Memórias de um Sargento de Milícias, isto é,

criar paródias, raps, versões de músicas, trocadilhos com nomes dos personagens, sínteses

de capítulos, apresentações teatrais de capítulos, situações ou de todo texto, ensaios,

teses, trabalhos de conclusão de curso, games, enfim, releituras e ou reescritas que se

fazem “brincando” no dia a dia. Esse processo, no fundo, não é apenas individual, mas a

expressão de valores de grupos aos quais cada leitor pertence.

* Professor *

Seguindo a essência da mensagem dos textos acima, essa sugestão de situação de

aprendizagem está aberta para que se possa adicionar sugestões de atividades e, com isso,

possamos compartilhar nossas criações e adequar conteúdos conforme nossas

necessidades e proporcionarmos ferramentas cada vez mais eficientes a fim de facilitar

nosso trabalho na sala de aula.

http://saladeleiturachediak.blogspot.com.br/

Professor Carlos Pires Martins