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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRAPRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE FARMÁCIA
KARINY B. SANTOS
História da Vigilância Sanitária
Niterói2010
KARINY B. SANTOS
História da Vigilância Sanitária
Trabalho apresentado pela disciplina de Saúde Pública do curso de Farmácia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, como parte dos requisitos do curso.
Professor(a): Mauro da Conceição
Niterói2010
Vigilância Sanitária
A Vigilância Sanitária é uma das mais antigas faces da Saúde Pública e desde sua
origem expressa a preocupação que as sociedades têm com o nocivo e o seu
controle. Os primeiros registros de ações datam da Idade Antiga e visavam o
controle sobre as práticas de cura, sobre o meio ambiente e sobre produtos
relacionados à saúde e a doença. As organizações sociais sempre estiveram
envolvidas com o desenvolvimento de atividades ligadas à saúde e também ao
estabelecimento de normas e regras capazes de modelar comportamentos que
pudessem resultar em riscos à saúde da coletividade. O campo da saúde tem sido
alvo de normatizações, que incluem sanções para o caso de descumprimentos, em
códigos como, por exemplo, o de Hamurabi, o Antigo Testamento e o Manu. Esses
Códigos são tão antigos que na Índia em 300 a.C. uma lei proibiu a adulteração de
alimentos, medicamentos e perfumes.
O reconhecimento da saúde como um direito humano conquistado com a criação da
Organização Mundial da Saúde, logo após a Segunda Guerra Mundial, também
estimulou o aperfeiçoamento e a intensificação das práticas de controle sanitário no
campo da vigilância.
Hoje pensar a saúde pública sem ações eficazes de controle de salubridade é
impossível. Cada vez mais há a valorização de regulamentações que visam à
garantia dos produtos e serviços consumidos diariamente pela população de todo o
mundo.
A Vigilância Sanitária no Brasil
Pode-se afirmar que a vigilância sanitária originou-se na Europa dos séculos XVII e
XVIII e no Brasil dos séculos XVIII e XIX, com o surgimento da noção de “polícia
sanitária”, que tinha como função regulamentar o exercício da profissão, combater o
charlatanismo e exercer o saneamento da cidade, fiscalizar as embarcações, os
cemitérios e o comércio de alimentos, com o objetivo de vigiar a cidade para evitar a
propagação das doenças.
Essa noção apresentará significados diferentes ao longo do tempo, dependendo do
entendimento que se tem de dano ou doença e suas formas de ocorrência.
As primeiras ações de fiscalização e punição no Brasil, embora de eficácia reduzida,
data do século XVI. Com a chegada da família real no Brasil em 1808 o país passa a
fazer parte da rota comercial inglesa e sofre mudanças de ordem econômica
aumentando assim a necessidade de um controle sanitário que permitisse a
aceitação dos produtos brasileiros no mercado e que evitassem a disseminação de
doenças no país.
Em 1810, através de um Regimento da Provedoria, surge no Brasil a Polícia
Sanitária baseada no conceito desenvolvido por Peter Frank de polícia médica. As
atividades sanitárias tinham caráter fiscalizador, julgador e punitivo e as autoridades
possuíam o poder de tributar e arrecadar taxas sobre os serviços executados.
Normas de controle sanitário passaram a vigorar como a quarentena e o Lazareto
para isolamento de doentes, controle de alimentos, inspeções de açougues e
boticas, medicamentos e alimentos bem como a concessão de licença para o
exercício da medicina e da farmácia.
Pouco a pouco a legislação foi sendo completada e aperfeiçoada, mas durante o
império houve pouca evolução do sistema, que apesar de desenvolver essas ações
de controle tinha pouco alcance do território e atuava principalmente ao redor da
sede do governo. Somente após a independência os serviços sanitários foram
municipalizados e passaram a serem exercidos pelas Câmaras Municipais que
estabeleceram também seus regimentos.
Em 1829 foi criada a Sociedade de Medicina e Cirurgia que passou a atuar como
aliada do Estado na elaboração de normas sanitárias e no combate de doenças. Em
1832, foi elaborado pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro um Código de
Posturas que estabelecia normas para enterros e cemitérios, doenças contagiosas,
águas infectadas, matadouros, currais, açougues e gênero alimentícios e para o
exercício da medicina e da farmácia, controle de medicamentos, hospitais, casas de
saúde e introduzindo inclusive a prática de licenciamento e controle nas fábricas.
Em 1851 uma portaria do Ministro dos negócios proíbe a criação de novas casas de
saúde sem a consulta prévia à Junta de Higiene Pública. Mas mesmo com as
tentativas de controle sanitários desenvolvidas o país sofria com epidemias e com o
descontrole sanitário que atingia principalmente a camada mais pobre da população.
Os sistemas de saúde, vão se estruturando voltados para a doença e com imenso
descaso para o cunho preventivo e coletivo e de promoção da saúde.
Somente com a instalação da república que se iniciou a organização das
administrações sanitárias estaduais e a constituição de órgão de Vigilância Sanitária
na Unidades da Federação, e passaram a ser de responsabilidade da União o
estudo das doenças e medidas de profilaxia, fiscalização e análise das substâncias
importadas. As ações de combate à doença passaram a ser fundamentadas nas
pesquisas bateriológicas.
No final do Séc XIX e início do Século XX houve o predomínio das campanhas de
controle do agente etiológico dos vetores e este período foi marcado pelo
sanitarismo Campanhista adotado por Oswaldo Cruz, médico respeitado nos meios
acadêmicos, especialista em microbiologia. Cruz enfrentou as críticas da opinião
pública e da imprensa que desabonavam seus métodos de desinfecção. O maior
conflito enfrentado nesta época foi a Revolta da Vacina que aconteceu no Rio de
Janeiro em 1904. No dia 31 de outubro uma lei obrigava todos os cidadãos a tomar
vacina, os governos no intuito de sanear a cidade agiam como se estivessem em
guerra, os agentes de saúde invadiam as residências de forma pouco cortês. No dia
10 de novembro a população se revoltou e enfrentou a polícia, o resultado foi
desastroso: 30 mortos centenas de feridos e quase mil pessoas presas por se
recusarem a tomar a vacina. Apesar dos conflitos Oswaldo Cruz não admitia
interferências políticas em seu trabalho, aspecto que, sem dúvida, deve ser
observado rigorosamente para o sucesso das ações de Vigilância Sanitária.
Ainda neste ano foi implantado um novo regulamento dos Serviços Sanitários da
União, que previu a elaboração de um Código Sanitário e a instituição do Juízo dos
Feitos de Saúde Pública que tinha a incumbência de julgar as causas de interesse
da saúde pública. Durante as primeiras duas décadas deste século as ações de
Vigilância Sanitária adquiriram uma certa consistência de Estado.Na década de
1920 foi criado, com a Reforma Carlos Chagas, através do Decreto-Lei nº 3.987, o
Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) que veio a substituir a antiga
Diretoria Geral de Saúde Pública que vigia desde 1897, e que, apesar dos esforços,
tinha ações de pouco alcance no país.
Em 1923, um novo Decreto de nº 16.300 incluiu a totalidade da vida social na ordem
sanitária e se fixaram dispositivos e normas minuciosas, mas muitas vezes
inaplicáveis. O Decreto estabeleceu as competências do DNSP e normatizou o
controle do exercício profissional, o licenciamento prévio e a fiscalização de
estabelecimentos e produtos e fixou multas e penas de prisão inafiançáveis para
falsificadores de produtos sob controle do DNSP.
Foi incorporada ainda a expressão Vigilância Sanitária que passou a ser empregada
para o controle sanitário de doentes e de estabelecimentos.
A era Vargas, em 1930, foi marcada pela emergência de um Estado forte, autoritário,
centralizador que agia independentemente das oligarquias regionais e as estruturas
da saúde pública passaram por reformas que resultaram na criação de órgãos
especializados com funções ampliadas, foram eles: Serviço Nacional de
Fiscalização de Medicina (SNFM), o Instituto Oswaldo Cruz, a Comissão de revisão
da Farmacopéia e a comissão de biofarmácia; e muitos decretos foram sancionados
nas áreas de alimentos, entorpecentes e águas e minerais.
Em 1941 acontece no Rio de Janeiro a Primeira Conferência Nacional de Saúde
mas a participação social nos debates sobre políticas públicas para a saúde ainda
não existia e a conferência se aproximava mais de um encontro técnico de
administradores do Ministério da Saúde e dos Estados. Nesta época, a educação e
a saúde integravam um único Ministério.
Após a queda de Vargas em 1945 o país viveu uma fase de investimento estrangeiro
principalmente nas indústrias farmacêuticas e de alimentos. Em 1946 o decreto nº
20.397 regulou a indústria farmacêutica com normas para controle de produtos,
disposições sobre psicotrópicos e entorpecentes e regras que incluíam a licença
prévia e a responsabilidade técnica neste tipo de estabelecimento.
A área de alimento teve sua regulamentação decretada em 1950 pela Lei nº 1283
que tornou obrigatório a prévia fiscalização de produtos de origem animal. A
Segunda Conferência Nacional foi realizada em novembro deste mesmo ano, mas
assim como a primeira não teve grande força política. As discussões se
concentraram nas condições de higiene e de segurança no trabalho e na prestação
de assistência médica sanitária e preventiva para trabalhadores e gestantes.
Em 1953 a Lei nº 1944 obriga a iodação no sal de cozinha, este foi um marco na
prevenção de doenças na área de alimentos uma vez que a ausência do consumo
de iodo está relacionada com o bócio endêmico.
Ainda neste mesmo ano, o Departamento Nacional de Saúde foi transformado em
Ministério da Saúde que amplia e centraliza as ações de Saúde Pública, sem deixar
autonomia aos Estados e municípios. Em 1961 regulamenta-se o Código Nacional
de Saúde.
Os anos de 1962 e 1963, que precederam a ditadura, foram marcados pelas
discussões sobre as propostas de descentralizações e municipalizações dos
serviços de saúde. A primeira grande discussão se deu na Terceira Conferência de
Saúde realizada em dezembro de 1963.
Com o golpe de 1964 o Brasil passa a ser conduzido pelo binômio desenvolvimento
e segurança. O Campo de ação da Vigilância Sanitária se expande e há a
incorporação de novas práticas e objetivos como, por exemplo, o controle dos
produtos e serviços de interesse sanitário. O termo Vigilância Sanitária passa a
denominar o conjunto de ações nas áreas de portos e fronteiras.
Uma reforma Administrativa aconteceu em 1967 e resultou na redefinição das áreas
e competências dos ministérios. O Ministério da Saúde passou a ser responsável
pela política nacional de saúde e houve um incremento nas ações de prevenção
vigilância de portos e fronteiras e controles de medicamentos, alimentos e drogas.
Em 1970 surge a Secretaria de Saúde Pública.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) editou resoluções sobre as condições
higiênicas na produção e manipulação de alimentos, sobre os efeitos das técnicas
modernas de industrialização de alimentos e sobre resíduos e aditivos. Essas
regulamentações influenciaram diretamente as medidas de regulamentação no
Brasil.
Em 1971 foi criada a Central de Medicamentos (CEME) responsável pela regulação,
produção e distribuição de medicamentos em todo país. O ano de 1973 foi marcado
pela revisão de legislações sanitárias, edição de leis e sanção de decretos; alguns
deles vigoram até os dias atuais.
A consagração da Vigilância como atividade permanente com base no controle de
qualidade se deu com a criação da Lei nº 6.360/76 a chamada Lei de Vigilância
Sanitária. O Ministério da Saúde através do decreto nº 79.056 teve uma nova
estrutura formalizada e o campo de controle sanitário passou a condição de
secretaria ministerial surgindo então a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária.
Em 1977 a Lei nº 6.437 atualizou as disposições penais e administrativas e
promulgou instrumentos que até hoje são utilizados pela Vigilância Sanitária no
exercício de suas funções que são a aplicação de autos de infração, notificação,
defesa, impugnação, apreensão de amostras, inutilização de produtos e
cancelamento de registros. Toda década de 1970 foi marcada pela intensa produção
de leis, decretos e resoluções normativas destinadas ao controle sanitário do país.
Dessa estrutura nascem as primeiras ações de Vigilância Sanitária baseada no
Poder de Polícia, basicamente cartorial, mas sem ações que repercutissem de forma
eficaz na saúde da população.
A década de 1980 foi fundamental para as mudanças ocorridas na saúde pública
brasileira. A época foi marcada por um intenso movimento de exercício da cidadania
e pela redemocratização da sociedade. No setor de Vigilância Sanitária aparecem as
dissonâncias das ações do Estado que durante algum tempo oscilou entre o papel
de defensor da saúde da população e dos interesses comerciais dos produtos
produzidos no país. Por pressão de Órgãos como os Conselhos de Defesa do
Consumidor e o Instituto de Defesa do Consumidor o governo passa a se preocupar
mais com o cidadão.
No final da década de 1980 o Brasil passou por um processo de democratização da
saúde, denominado Reforma Sanitária, que resultou em mudanças significativas
para o setor. A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi o marco
da Reforma e muitas das sugestões ali propostas se concretizaram na Constituição
Federal do Brasil de 1988, que reconheceu a saúde como um direito de todos e um
dever do Estado.
Pela primeira vez uma equipe de sanitaristas assume o órgão nacional de Vigilância
Sanitária em 1985. O objetivo era submeter o sistema de saúde a uma reforma que
visasse a ruptura do modelo autoritário e centralizador e propor a construção de um
novo modelo, mas a equipe foi destituída em 1987; este ano foi marcado pela
divulgação na mídia de eventos de calamidade sanitária que resultou em uma
produção intensa de normas que regulamentassem serviços e produtos em todo
país.
Em 1989 o Presidente Fernando Collor de Mello assume a presidência e com sua
política neo-liberal traz custos incalculáveis para o setor de saúde. A criação do
Projeto Inovar, que tinha como objetivo dar respostas rápidas à petições dos
produtores, resultou em inúmeras liberações de registros de produtos que não
vinham de encontro as normas da Vigilância Sanitária.
Mas se avaliarmos o período todo desta década, principalmente seu final,
destacamos mudanças no enfoque dado a Vigilância Sanitária visando uma atuação
em cima do risco e da epidemiologia e a visão de cidadania que passou a ser
implicada ao órgão.
Dentre as muitas conquistas da Reforma Sanitária está a Lei Orgânica da Saúde, nº
8.080 de 19 de setembro de 1990, que organizou o Sistema Único de Saúde (SUS)
e redefiniu a atuação da Vigilância Sanitária no País. Antes da Reforma, a Vigilância
Sanitária era definida pelo Ministério da Saúde como um conjunto de medidas que
visem elaborar, controlar a aplicação e fiscalizar o cumprimento de normas e
padrões de interesse sanitário relativos a portos, aeroportos e fronteiras,
medicamentos, cosméticos, alimentos, saneantes e bens, respeitada a legislação
pertinente, bem como o exercício profissional relacionado com a saúde. Com a Lei
Orgânica, a Vigilância Sanitária passa a ser vista como “um conjunto de ações
capazes de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas
sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da
prestação de serviços de interesse a saúde” (LEI 8080/90).
Outros destaques devem ser dados a Lei 8.078 de 1990, também chamada de
Código de Defesa do Consumidor, que estabelece norma de proteção e defesa do
consumidor, a Portaria 1.565 de 1994 que define o Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária estabelecendo a descentralização dos serviços e ações de saúde e o
Decreto nº 793 que firmou a obrigatoriedade de se dar destaque ao nome genérico
na rotulagem dos medicamentos.
As conquistas da reforma foram um leque de regulamentações que introduziram
normas que levavam em consideração o enfoque de risco epidemiológico, de
planejamento de inspeções e de prioridades sanitárias.
Apesar de todo esforço, com o aumento da demanda e do reconhecimento da
importância da Vigilância Sanitária, não foi possível a criação de políticas públicas
que garantissem a capacitação institucional para atender toda demanda e as críticas
sobre a atuação da Vigilância Sanitária aumentaram e propostas de reformulação do
modelo foram discutidas.
Novas normas foram instituídas e foi criada a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), uma autarquia com modelo administrativo mais ágil,
independência financeira e estabilidade dos dirigentes com finalidade institucional de
“promover a proteção a saúde da população, por intermédio do controle sanitário da
produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à Vigilância
Sanitária, inclusive ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles
relacionados, bem como controle de portos, aeroportos e fronteiras” (ANVISA,
2005). A nova definição excluía as temáticas do meio-ambiente, ecologia, saúde do
trabalhador e informação e educação sanitária da população e dos consumidores.
Atualmente há três esferas interagindo para garantir a atuação da Vigilância
Sanitária no Brasil, é o que chamamos de tripatite: a esfera federal, a estadual e a
municipal. Todos os órgãos fazem parte do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.
A ANVISA e as Vigilâncias Sanitárias estaduais e municipais agem (ou ao menos
deveriam agir) em sintonia apesar de terem suas próprias competências que foram
definidas pelo Sistema Único de Saúde. A ANVISA é hoje a instituição Federal
responsável Vigilância Sanitária no Brasil, fazendo a gestão dos serviços que
competem ao nível federal. Seu papel é de coordenar as ações de fiscalização
realizadas pelas esferas estaduais e municipais, regulamentar e dar apoio técnico a
estas esferas. Cada esfera de governo deve agir dentro de sua área de atuação,
sendo assim o município não pode regular fora de sua área e o mesmo serve para o
Estado. No que tange as regulamentações as duas esferas estão impedidas de
aprovar quaisquer tipos de legislações ou atividades que contrariem as normas
federais, devido a hierarquia de poder.
Aos Estados e municípios são atribuídas as responsabilidades operacionais do
trabalho de campo da Vigilância Sanitária, com o processo de municipalização da
saúde as ações executadas passam a ser cada vez mais de responsabilidade
municipal cabendo ao Estado ações complementares e suplementares para o bom
desenvolvimentos das atividades das vigilâncias municipais.
Segundo a Lei Orgânica da Saúde são competências da União a expedição de
normas gerais sobre o sistema nacional de Vigilância Sanitária, definindo e
coordenando o serviço em todo território nacional. Os Estados tem o dever de
coordenar, executar ações e serviços de Vigilância Sanitária e de saúde do
trabalhador, suplementando a legislação sobre normas gerais expedidas pela União.
Aos municípios cabem suplementar as legislações federais e estaduais no tocante a
aplicação e excussão de ações e serviços de Vigilância Sanitária.
Praticas e Conceitos da Vigilância Sanitária no Brasil
No Brasil, a polícia sanitária, que é a prática mais antiga da saúde pública, surge na
época em que vigorava a “teoria dos miasmas”. Ela se rearticula e se modifica, pelo
menos na forma de interpretar os eventos, ao incorporar as várias novas noções que
vão surgindo, como aquelas originadas na era bacteriológica, no período da
introdução da terapêutica; mais tarde, com as teorias sistêmicas e do planejamento,
configuram-se os sistemas de vigilância à saúde, até a incorporação em sua função
de controle do conceito de defesa da cidadania, do direito do consumidor.
Com a Constituição brasileira assumindo a saúde como um direito fundamental do
ser humano, e atribuindo ao Estado o papel de provedor dessas condições, a
definição de vigilância sanitária, apregoada pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, passa a ser, nesse contexto, conforme o artigo 6º, parágrafo 1º, a seguinte:
“Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capazes de eliminar,
diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de
serviços de interesse da saúde, abrangendo:
I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a
saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo;
II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente
com a saúde.”
Essa definição amplia o seu campo de atuação, pois, ao ganhar a condição de
prática capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos decorrentes do meio ambiente,
da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde,
torna-se uma prática com poder de interferir em toda a reprodução das condições
econômico-sociais e de vida, isto é, em todos os fatores determinantes do processo
saúde–doença.
Com a incorporação da noção de meio ambiente, que hoje significa mais do que o
conjunto de elementos naturais físico-biológicos, mas também as relações sociais do
mundo construído pelo homem abrangem o ambiente de trabalho. Essa atribuição
de intervenção no meio de trabalho é reforçada pelo parágrafo 3º do mesmo artigo
6º da Lei 8.080/90: através das vigilâncias epidemiológicas e sanitárias, busca-se “a
promoção e proteção à saúde dos trabalhadores”, bem como sua recuperação e
reabilitação em decorrência “dos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho...”
Apesar das modificações havidas em seus enfoques conceituais ao longo dos
últimos dois séculos, e da ampliação de seu campo de atuação mais recentemente,
a prática de vigilância sanitária parece manter suas características mais antigas,
especialmente as atribuições e formas de atuar assentadas na fiscalização, na
observação do fato, no licenciamento de estabelecimentos, no julgamento de
irregularidades e na aplicação de penalidades, funções decorrentes do seu poder de
polícia. Essas são suas características mais conhecidas pela população ainda nos
dias de hoje. Suas outras características, normativa e educativa, representam um
importante passo na evolução de uma consciência sanitária e em sua finalidade de
defesa do direito do consumidor e da cidadania.
Fator decisivo para o fortalecimento de sua face educativa foi o estabelecimento do
direito de defesa do consumidor pela Constituição Federal de 1988, consolidado
pelo Código de Defesa do Consumidor, regulamentado pela Lei 8.078, de 11 de
setembro de 1990. Esse código nasce a partir da constatação da incapacidade do
mercado de consumo de proteger efetivamente, com suas próprias leis, o
consumidor. Ao estabelecer como direitos básicos do consumidor a proteção, saúde
e segurança contra riscos decorrentes do consumo de produtos ou serviços
perigosos e nocivos e o direito à informação clara sobre os produtos e serviços, esse
código possibilita a criação de uma nova relação entre Estado, sociedade e
Vigilância Sanitária. Relação de apoio ao seu corpo de leis que embasam as ações
de vigilância sanitária e de direcionalidade ao seu objeto de ação, isto é, importa
mais do que nunca o consumidor, elemento central do controle do processo de
produção de produtos e serviços.
Contribui também nessa direção a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que
dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS. São oficializados
mecanismos importantes de participação da população no controle de qualidade dos
serviços de saúde, através de conselhos. O usuário, objeto de proteção da Vigilância
Sanitária, passa a ser um aliado importante, um “vigilante voluntário”, da
transformação das condições de saúde, reforçando o papel educativo e
conscientizador da Vigilância Sanitária.
A intervenção do Estado nas relações entre produtores e consumidores expressa-se
de duas formas: uma, através do controle das práticas de produção, determinando
as normas técnicas e padrões de produção e exercendo a fiscalização para o
cumprimento dessas normas, para prevenir e evitar o dano no ato do consumo;
outra, através do estabelecimento do direito básico do consumidor e da
disponibilização do Estado a seu serviço, seja na elucidação dos procedimentos que
motivaram um dano, seja no aparato legal necessário à reparação do dano ao
consumidor.
Essas noções remetem para a questão da qualidade do produto ou serviço,
preocupação incorporada pelo Código de Defesa do Consumidor, que favorece a
consolidação de dois conceitos importantes: o do controle interno, ou seja, o
prestador /fornecedor é responsável pelo que produz e deve manter controle sobre
sua produção, respondendo pelos seus desvios, imperfeições ou nocividades; e o do
controle externo, exercido pelo Estado ou pelas sociedades organizadas na
vigilância do processo e na defesa do consumidor. O primeiro remete para as
práticas de auto-avaliação englobando os conceitos em voga de gestão da
qualidade total e garantia de qualidade que redundam em manuais ou guias de boas
práticas para o controle interno da qualidade da produção. O segundo, mais
precisamente, refere-se à prática da vigilância sanitária, o controle externo, que se
caracteriza pela elaboração de normas oficiais, licenciamento dos estabelecimentos,
orientação educativa, fiscalização e aplicação de medidas para a proteção da saúde
da população.
Destacam-se quatro dimensões inerentes à prática de vigilância sanitária:
a. A dimensão política: como uma prática de saúde coletiva, de vigilância da saúde,
instrumento de defesa do cidadão, no bojo do Estado e voltada para responder por
problemas, situa-se em campo de conflito de interesses, pois prevenir ou eliminar
riscos significa interferir no modo de produção econômico-social. Essa é sua
dimensão política, relacionada ao propósito de transformação ou mudança desses
processos em benefício, a priori, da população. Contudo, os entraves serão maiores
ou menores dependendo, de um lado, do grau de desenvolvimento tecnológico dos
setores produtores e prestadores, de suas consciências sanitárias ou mercantilistas,
e, de outro, da concreta atuação e consciência dos consumidores.
b. A dimensão ideológica, que significa que a vigilância deverá responder às
necessidades determinadas pela população, mas enfrenta os atores sociais com
diferentes projetos e interesses.
c. A dimensão tecnológica, referente à necessidade de suporte de várias áreas do
conhecimento científico, métodos, técnicas, que requerem uma clara fundamentação
epidemiológica para seu exercício. Nessa dimensão está incluída sua função de
avaliadora de processos, de situações, de eventos ou agravos, expressa através de
julgamentos a partir da observação ou cumprimento de normas e padrões técnicos e
de uma conseqüente tomada de decisão.
d. A dimensão jurídica, que a distingue das demais práticas coletivas de saúde,
conferindo-lhe importantes prerrogativas expressas pelo seu papel de polícia e pela
sua função normatizadora. A atuação da Vigilância Sanitária tem implicações legais
na proteção à saúde da população, desde sua ação educativa e normativa,
estabelecendo obrigatoriedades ou recomendações, até seu papel de polícia, na
aplicação de medidas que podem representar algum tipo de punição. Assentada no
Direito Sanitário, sua atuação se faz no plano do jurídico, o que significa que
qualquer tomada de decisão afeta esse plano. Para isso suas ações devem estar
corretamente embasadas em leis. Torna-se imprescindível para aquele que exerce a
ação o conhecimento dos instrumentos processuais, das atribuições legais e
responsabilidades.
De suas dimensões política e ideológica pode-se afirmar que interferem no grau de
desenvolvimento ou desempenho das ações em suas realidades. Aqui os conflitos
se manifestam, desde o valor ou importância que a sociedade atribui à prática da
vigilância até os próprios órgãos gestores da saúde, com políticas efetivas ou não de
controle, o grau de consciência dos vários interessados na questão, entre outros.
Nesse plano, sua atuação faz interface com os grupos sociais interessados, com
objetivos nem sempre confluentes.
No plano da dimensão tecnológica, deve desencadear ações para aumentar o
padrão de qualidade, reduzir ou minimizar riscos, evitar danos, o que requer uma
intersetorialidade na saúde, isto é, a articulação de vários setores que trabalham
com saúde, intra ou extragoverno. Ainda é imprescindível sua competência e
fundamentação científica, pois representa uma resposta técnica aos problemas
sanitários, e suas normas serão modelos a serem seguidos pelos
produtores/prestadores.
Na dimensão jurídica, faz interface com os campos da Ética, do Direito Civil e Penal,
em decorrência da aplicação de medidas legais quando da constatação de
problemas sanitários que representem riscos graves à saúde ou crimes contra o
cidadão. As características do poder de polícia decorrem de sua dimensão jurídica.
São tradicionalmente suas tarefas: inspecionar, julgar, notificar o infrator, autuar,
lavrar termos de aplicação de penalidades, licenciar estabelecimentos expedindo ou
cassando alvarás, dentre outras atividades. Assim, a ação sanitária, nesse plano,
para ser eficaz, requer a interação com vários órgãos intra e extragoverno, tais como
Ministério Público, Polícia de Defesa do Consumidor, Poder Judiciário, conselhos de
classe e outros órgãos de defesa do consumidor.
Aquele que lida com vigilância sanitária necessita conhecer os aspectos básicos do
Direito Sanitário e Administrativo, especialmente porque a ação em vigilância
sempre requer alguma decisão. O conhecimento dos fatos ou fatores jurídicos é
fundamental, pois uma ação mal embasada juridicamente não terá valor. Além disso,
há limitações em sua competência e, em muitos casos, a concretização de uma
ação representa uma atuação compartilhada; e sem o conhecimento dos
instrumentos processuais, das atribuições de responsabilidades tanto das equipes
quanto dos profissionais, dos prestadores /fornecedores em saúde, no que se refere
às questões éticas e legais, não há como concretizar sua ação.
A prática de normatização é uma atribuição do sistema legal e também uma
dimensão técnica. Cabe aos órgãos de coordenação da Vigilância Sanitária nos
níveis federal, estadual e municipal emanar legislação sobre técnicas e padrões
técnicos minimamente necessários a serem seguidos para promover a proteção da
população.
A introdução do conceito de qualidade e de reparo do dano ao consumidor, em
termos teóricos, permitiu apontar um novo modelo de vigilância sanitária.
A vigilância, que se espera que se faça hoje, terá que levar em conta a forma como
se faz o processo e o seu resultado para o usuário. A sua avaliação não pode se
detiver apenas nos aspectos cartoriais, burocráticos ou estruturais, como era a
prática anterior, porque eles por si mesmos não garantirão os resultados, como não
atendem às novas imposições colocadas pela evolução crescente na sociedade de
uma consciência do direito de consumir boa qualidade.
Essa evolução da forma de pensar de nossa sociedade, que conferiu ao consumidor
um novo status, o de cidadão, e embasamento jurídico de garantia da qualidade nas
relações entre os prestadores /fornecedores e o consumidor, impulsiona uma
consciência sanitária e a própria Vigilância Sanitária para as tarefas de promover
práticas e espaços saudáveis nos processos de produção da vida e saúde.
Assim, melhorar a qualidade de vida e saúde da população no município deve incluir
o desenvolvimento de ações de vigilância sanitária, buscando-se constituir um
modelo a partir das próprias experiências e realidade dos municípios.
O Campo de Abrangência da Vigilância Sanitária
A definição atual da vigilância sanitária, como já foi visto, torna seu campo de
abrangência vasto e ilimitado, pois poderá intervir em todos os aspectos que possam
afetar a saúde dos cidadãos.
Para facilitar a exposição, assumimos que seu campo de abrangência é composto
por dois subsistemas, subdivididos, a saber:
I – Bens e serviços de saúde
Subsistema de produção de bens de consumo e serviços de saúde, que interferem
direta ou indiretamente na saúde do consumidor ou comunidade. São bens e
serviços de saúde que interessam ao controle sanitário:
1. As tecnologias de alimentos, referentes aos métodos e processos de produção de
alimentos necessários ao sustento e nutrição do ser humano.
2. As tecnologias de beleza, limpeza e higiene, relativas aos métodos e processos
de produção de cosméticos, perfumes, produtos de higiene pessoal e saneantes
domissanitários.
3. As tecnologias de produção industrial e agrícola, referentes à produção de outros
bens necessários à vida do ser humano, como produtos agrícolas, químicos, drogas
veterinárias, etc.
4. As tecnologias médicas, que interferem diretamente no corpo humano, na busca
da cura da doença, alívio ou equilíbrio da saúde, e compreendem medicamentos,
soros, vacinas, equipamentos médico-hospitalares, cuidados médicos e cirúrgicos e
suas organizações de atenção à saúde, seja no atendimento direto ao paciente, seja
no suporte diagnóstico, terapêutico e na prevenção ou apoio educacional.
5. As tecnologias do lazer, alusivas aos processos e espaços onde se exercem
atividades não-médicas, mas que interferem na saúde dos usuários, como centros
esportivos, cabeleireiros, barbeiros, manicures, pedicuros, institutos de beleza,
espaços culturais, clubes, hotéis, etc.
6. As tecnologias da educação e convivência, referentes aos processos e espaços
de produção, englobando escolas, creches, asilos, orfanatos, presídios, cujas
condições das aglomerações humanas interferem na sua saúde.
II – Meio ambiente
Subsistema que se refere ao conjunto de elementos naturais e daqueles que
resultam da construção humana e suas relações sociais:
1. O meio natural, correspondente a água, ar, solo e atmosfera. Interessam ao
controle sanitário as tecnologias utilizadas na construção de sistemas de
abastecimento de água potável para o consumo humano, na proteção de
mananciais, no controle da poluição do ar, na proteção do solo, no controle dos
sistemas de esgoto sanitário e dos resíduos sólidos, entre outros, visando à
proteção dos recursos naturais e à garantia do equilíbrio ecológico e
conseqüentemente da saúde humana.
2. O meio construído, referente às edificações e formas do uso e parcelamento do
solo. Aqui o controle sanitário é exercido sobre as tecnologias utilizadas na
construção das edificações humanas (casas, edifícios, indústrias, estabelecimentos
comerciais, etc.) e a forma de parcelamento do solo no ambiente urbano e rural;
sobre os meios de locomoção e toda a infra-estrutura urbana e de serviços; sobre o
ruído urbano e outros fatores, no sentido de prevenir acidentes, danos individuais e
coletivos e proteger o meio ambiente.
3. O ambiente de trabalho, relativo às condições dos locais de trabalho, geralmente
resultantes de modelos de processos produtivos de alto risco ao ser humano. O
controle sanitário se dirige a esse ambiente, onde freqüentemente encontra
cidadãos que são obrigados a dedicar grande parte de seu tempo ao trabalho em
condições desagradáveis, em ambientes fechados e insalubres, em processos
repetitivos, competitivos e sob pressão, o que altera e põe em risco a saúde física e
psicológica e a vida dos indivíduos e da comunidade.
O enfoque de Atuação
Entendendo que a essência da prática da vigilância é uma ação permanente de
avaliação e de tomada de decisão, faz-se necessário referenciar os marcos teóricos
e métodos para essa avaliação.
Ainda que o ato de fiscalizar e o poder de polícia sejam as características mais
antigas da vigilância, sua atuação – a forma de ver as “irregularidades”, de julgar os
eventos – muda ao longo do tempo.
O modelo vigente tem sido alvo de críticas exacerbadas. Fala-se de um modelo
extremamente policial, pouco educador, cartorial, e que valoriza apenas os aspectos
de estrutura e, conseqüentemente, pouco eficaz.
Nesse item referenciamos, de forma resumida, alguns enfoques de avaliação, como
uma das contribuições à construção de uma prática de vigilância sanitária mais
eficaz, voltada para a defesa do cidadão e para a promoção da qualidade de vida e
saúde da população.
O enfoque epidemiológico
Todo o instrumental epidemiológico deverá ser assumido pela Vigilância Sanitária,
visto que o enfoque de risco é parte de sua própria definição. O conceito de risco,
em epidemiologia, corresponde ao conceito matemático de probabilidade, podendo
ser definido como a probabilidade de os membros de uma população desenvolverem
uma certa doença ou evento relacionado à saúde em um determinado período. É
atribuição da Vigilância Sanitária, em sua prática de observação, detectar riscos e
tomar medidas que os eliminem, previnam ou minimizem.
O instrumental epidemiológico é essencial para a definição de prioridades em face
da realidade em que atua a Vigilância Sanitária, a construção do quadro sanitário, o
conhecimento dos problemas e como subsídio às suas providências.
Há vários livros que descrevem os métodos epidemiológicos de forma didática e
clara, que recomendamos ao final àqueles que necessitarem de aprofundamento ou
conhecimento do tema.
O Enfoque do Planejamento e da Atuação Programática
É atribuição da Vigilância Sanitária detectar riscos e tomar medidas que eliminem,
previnam ou minimizem esses riscos. Para isso deverá planejar as suas ações de
forma a organizar a atuação sobre os problemas sanitários e as práticas de
avaliação.
A Vigilância Sanitária deve delinear sua atuação por meio do conhecimento dos
problemas. Problema é a representação social de necessidades ou agravos de
saúde, definidas por atores sociais e decorrentes das condições de vida e do modo
de produção econômico-social.
A identificação de problemas sanitários deverá ser uma atividade de planejamento
das ações de vigilância sanitária, a ser incorporada de forma sistemática.
Deve partir do reconhecimento de sua área geográfica de abrangência, do
mapeamento dos problemas locais e prioridades com base em fontes de informação,
questionários locais, denúncias, censo de estabelecimentos ou de espaços ou
fenômenos que representem risco à saúde e à vida, para se delinear um diagnóstico
da situação, priorizar ações, definir objetivos e programas, organizar recursos,
articular órgãos internos e/ou setores externos para a operacionalização das ações e
tomada de providências.
Definidos os problemas, será necessário operacionalizar um conjunto de ações para
sua solução, isto é, traçar programas. Ainda que sejam inúmeras as discussões
sobre as diferentes definições de ações programáticas em saúde, entende-se por
programa de saúde uma intervenção planejada de ações com o objetivo de atender
às necessidades de saúde de uma determinada população. Programar, portanto, é
organizar e racionalizar a ação para alcançar determinadas metas e objetivos.
Têm sido comum a implantação e o desenvolvimento de ações de vigilância
sanitária sem planejamento, sem programação. Sua atuação tradicional tem se
resumido ao atendimento das demandas espontâneas, isto é, o atendimento em
resposta às denúncias ou acidentes. Contudo, se considerarmos seu papel de
promotora da saúde e de prevenção de danos, não se pode imaginar uma vigilância
sanitária que não atue também, e principalmente, por meio de programas. Não é
possível pensar uma vigilância que não tenha o diagnóstico de sua área com base
em perfis epidemiológicos, que não defina os riscos potenciais, os objetivos e metas,
as rotinas, que não padronize os principais passos da inspeção ou que deixe de
fazer a avaliação sistemática dos resultados de sua atuação, até para reprogramar-
se.
Ainda em meio às confusões metodológicas ou terminológicas, no bojo das teorias
do planejamento, fala-se em vigilância por projetos e não por programas.
Pela necessidade de se adotar alguma terminologia, e também porque entendemos
que o conceito de programa é o mais apropriado para designar intervenções
organizadas a longo prazo, descreveremos as ações permanentes, sistemáticas,
como programas de vigilância sanitária. Até porque o conceito de projeto, ampliado
para além do seu significado comum de plano, planta, intento, tem características de
transitoriedade. Pode ser compreendido como um esforço complexo para produzir
resultados bem determinados, em um prazo bem determinado e dentro de um
orçamento restrito para isso, envolvendo diversas funções e escalões de
organização e não é, pelo menos totalmente, repetição de um esforço anterior. Por
exemplo, a construção de uma escola ou hospital; a introdução de uma nova
modalidade de atendimento à saúde e a verificação de sua eficácia em relação à
anterior; o teste de determinado medicamento ou vacina ou de uma nova conduta
médica; a organização da capacitação de profissionais por determinado período,
entre outros.
O Enfoque da Avaliação de Qualidade
Perdura ainda hoje a idéia de que vigilância sanitária é uma prática de fiscalização
restrita às instalações físicas, à emissão de licenças ou alvarás, à verificação das
habilitações profissionais e a outros fatores mais ligados a uma avaliação de
estrutura, pejorativamente conhecida como “vigilância de piso e parede” ou “prática
burocrática e cartorial”.
A avaliação estrutural parte da premissa de que as instalações, equipamentos,
higiene, etc., podem resultar em processos mais adequados, o que é uma verdade,
porém não suficiente. Uma estrutura hospitalar, no que se refere às suas
instalações, por exemplo, pode afetar os procedimentos e provocar resultados
indesejáveis. Mas uma boa estrutura por si só não garante os resultados.
Como orientação às equipes de vigilância sanitária, daremos adiante alguns
exemplos de modelos de avaliação que incorporam o conceito de qualidade para a
avaliação de produtos e serviços. Há outros modelos que poderiam ser adotados
pela Vigilância Sanitária, mas resolvemos optar por estes para a elaboração de
instrumentos operacionais a serem empregados na prática de fiscalização e análise
de processos.
Adaptando o modelo de avaliação para o objeto da vigilância, poderíamos adotar a
Tríade de Donabedian para avaliação de estrutura, processo e resultado, da
seguinte forma:
• Estrutura: refere-se às características relativamente estáveis, como condições
físicas, organizacionais, equipamentos, recursos humanos.
• Processo: conjunto de atividades desenvolvidas nas relações de produção em
geral e, no caso de serviços de saúde, entre profissionais e pacientes.
• Resultado: obtenção das características desejáveis dos produtos ou serviços, sem
erros, imperfeições ou nocividades; melhoria do meio ambiente e trabalho, ou
mudanças obtidas no estado dos pacientes ou quadro sanitário, que podem ser
atribuídas ao cuidado consumido ou tecnologias introduzidas.
Para cada componente da tríade deverá ser observado um conjunto de indicadores
que melhor retratem a realidade a ser avaliada.
Destaca-se os sete atributos da qualidade propostos por Donabedian:
1. Eficácia: a capacidade do cuidado, na sua forma mais perfeita, de contribuir para
a melhoria das condições de saúde.
2. Efetividade: o quanto de melhorias possíveis nas condições de saúde são obtidas.
3. Eficiência: a capacidade de obter a maior melhoria possível nas condições de
saúde, ao menor custo possível.
4. Otimização: a mais favorável relação entre custos e benefícios.
5. Aceitabilidade: conformidade com as preferências do paciente no que concerne à
acessibilidade, relação médico–paciente, às “amenidades”, os efeitos e o custo do
cuidado prestado.
6. Legitimidade: conformidade com as preferências sociais em relação a tudo
mencionado anteriormente.
7. Eqüidade: igualdade na distribuição do cuidado e de seus efeitos sobre a saúde.
O termo “amenidades” refere-se às condições de conforto e aparência dos serviços,
atenção dispensada aos pacientes, explicações e outros fatores que envolvem
questões de qualidade ligadas à satisfação do usuário, além da eficácia técnica.
A fiscalização sanitária é um ato de observação e julgamento, ao qual sempre
deverá corresponder uma tomada de decisão. Ao inspecionar estabelecimentos,
processos de fabricação de produtos, cuidados médicos ou o ambiente, sempre se
estará fazendo uma avaliação, que consiste em chamar a atenção para que os
aspectos de estrutura, processo e resultado sejam atentamente observados e
analisados quanto ao risco que possam oferecer à vida e à saúde de usuários,
consumidores ou comunidade.
Sob essa perspectiva é que serão apresentados mais adiante os principais passos
para a realização das inspeções sanitárias e outras formas de ação que implicam
julgamento de valor.
Os recursos de avaliação de procedimentos propostos pelo CQT ou GQT (Controle
de Qualidade Total ou Garantia de Qualidade Total), aqui descritos de forma breve,
são também de inegável importância para a prática da vigilância sanitária.
A teoria do Controle de Qualidade Total ou Gestão de Qualidade Total surge nos
Estados Unidos na década de 40, idealizada para as indústrias. Expande- se em
todo o território americano e para o mundo, e o modelo japonês é apontado como
aquele que apresenta o melhor desempenho.
Esses conceitos, apesar de antigos, entram em voga em todo mundo nas décadas
de 80 e 90, e no Brasil encontramos várias publicações sobre sua adoção nas
empresas privadas, e mais recentemente sua implantação em serviços de saúde. No
Brasil, as indústrias de medicamentos, soros e equipamentos vêm adotando em
maior ou menor grau esse tipo de controle. Esse método também foi oficializado
pelo Ministério da Saúde em legislação sanitária, que regulamentou a fiscalização
sanitária de medicamentos e as práticas de auto-avaliação das indústrias
farmacêuticas.
Na concepção de Ishikawa, o controle de qualidade é um sistema de métodos de
produção que produzem economicamente bens e serviços de boa qualidade,
atendendo aos requisitos do consumidor.
Em um primeiro enfoque apresentado, mais precisamente no enfoque americano,
essa teoria privilegia a inspeção, a cargo de uma divisão de controle de qualidade,
que tem como objetivo evitar que os produtos defeituosos sejam remetidos ou
consumidos. O controle de qualidade é efetuado por amostragem, após a fabricação
do produto.
Já em um segundo enfoque, correspondente ao modelo japonês, privilegiase a
prevenção, isto é, faz-se o controle de todo o processo de produção, em que todos
participam, e a opinião do consumidor é decisiva.
A descrição de algumas dessas ferramentas tem o propósito de sugerir às equipes
de vigilância sanitária a utilização delas em suas ações. São ferramentas do CQT ou
GQT o ciclo de controle/gerenciamento PDCA, o diagrama de Ishikawa ou “espinha
de peixe”, o diagrama de afinidades, o diagrama de interrelação, o diagrama de
Pareto, a carta de controle e os círculos de controle de qualidade. Destaca-se duas
delas e as adaptamos às possibilidades de avaliação na prática de vigilância
sanitária.
O Enfoque da Avaliação da Tecnologia em Saúde
São tecnologias médicas ou de saúde as drogas, equipamentos médicos e demais
dispositivos, procedimentos médicos e cirúrgicos e os sistemas organizacionais de
atenção médica e de apoio, segundo a definição do Office of Technology
Assessment (OTA – Escritório de Avaliação de Tecnologia), sobre um dos campos
de abrangência da Vigilância Sanitária.
O campo denominado avaliação de tecnologia origina-se nos Estados Unidos da
América, a partir de um conceito geral sobre tecnologia e da formação do OTA, em
1972.
Em 1975, é criado pelo OTA um programa de saúde destinado a avaliar as
tecnologias em saúde, novas e já em uso, para objetivamente verificar eficácia,
eficiência e segurança.
Parte dos processos de avaliação de tecnologia já vem sendo desenvolvida pela
Vigilância Sanitária. A respeito desses métodos, recomendamos vários trabalhos
para aqueles que necessitarem se aprofundar no tema.
Com relação às formas de desenvolvimento, validação e difusão das tecnologias em
saúde, destacamos as principais diferenças de acordo com o tipo de tecnologia:
1. Os medicamentos e outras substâncias destinadas à terapêutica, desenvolvidas a
partir de conhecimentos básicos de química, farmacologia e patofisiologia humana,
têm na indústria privada a fonte primária de descobertas. Quase todos os países
empregam semelhante processo para a introdução desse tipo de tecnologia. Após o
desenvolvimento de uma determinada substância química, solicita-se ao governo
permissão para testes humanos e, depois de estudos seguros e triagens clínicas, os
resultados são apresentados a ele. Após uma consideração crítica, se os resultados
forem considerados convincentes, a droga é aprovada, devendo respeitar os
regulamentos locais, e liberada para o mercado.
Essa forma de regulação, ainda que cara e demorada, tem como objetivo proteger a
população de drogas sem eficácia e sem segurança.
No Brasil, a regulamentação está a cargo da Secretaria Nacional de Vigilância
Sanitária do Ministério da Saúde e os métodos de aprovação são semelhantes aos
de outros países. Vale destacar que vários instrumentos foram introduzidos mais
recentemente pela Vigilância Sanitária Nacional para aumentar o controle da
qualidade do processo de produção de medicamentos e outros insumos. Contudo, a
prática de avaliação dessas tecnologias em uso no mercado não tem sido
sistemática e revela eventos isolados. Houve recentemente um grande esforço para
retirada de associações de medicamentos inócuos ou nocivos das prateleiras,
proibição da fabricação e cancelamento dos registros, gerando grande resistência
por parte dos laboratórios.
2. Procedimentos podem ser definidos como combinações de técnicas médicas e
cirúrgicas com drogas ou dispositivos ou ambos. Aparecem através de pesquisas
médicas, envolvendo vários campos do conhecimento, experiências clínicas, grupos
de controle e observações empíricas, geralmente realizados por especialistas.
Em geral, a validação dessa tecnologia não se dá de forma clara e, na maioria dos
países, sem um órgão do governo para oficializá-la. Um estudo de caso é publicado
em um jornal médico e o autor pode apresentá-lo em congressos, palestras ou
mesas-redondas.
As sociedades científicas de especialidades médicas e o meio de origem, quase
sempre as universidades, são de extrema importância na divulgação e no
reconhecimento dessas tecnologias.
Sem dúvida, trata-se de um processo complexo, pois envolve a questão do
desempenho médico, que é pouco ou nada regulado, e com certeza faz-se muita
experimentação não controlada e fora dos padrões de saúde. Há vários trabalhos na
literatura internacional que mostram procedimentos largamente utilizados na prática
médica e completamente inúteis.
Os avanços desse tipo de técnica têm dependido de médicos habilidosos e criativos,
requer incontáveis e pequenas mudanças da prática médica e se difunde por
caminhos ainda pouco observados. Contudo, e felizmente, observa-se recentemente
o crescimento do número de protocolos de conduta e padrões sobre procedimentos,
em nível nacional e internacional, especialmente gerados e utilizados em instituições
hospitalares. Nesse tipo de controle, vêm adquirindo cada vez mais importância as
comissões de ética.
No Brasil, eventuais portarias do Ministério da Saúde, sanitárias ou com a finalidade
de pagamento, têm referendado determinados procedimentos. Contudo, não há um
processo sistematizado de avaliação e aprovação dessas técnicas, conforme os
enfoques tratados aqui.
Ao deparar com dúvidas suscitadas por procedimentos novos ou diferentes em suas
fiscalizações de rotina, ou por denúncias de danos à saúde, de modo geral a
Vigilância Sanitária recorre às sociedades de especialistas, aos conselhos de classe
e às universidades. Trata-se de processo parcial e restrito, desencadeado a partir de
denúncias de charlatanismo, imperícias ou negligências médicas, não configurando
propriamente uma avaliação de tecnologia sistematizada.
O atual Código de Ética Médica pune o médico que utilizar procedimento não
aprovado pela legislação sanitária. Mas a maioria dos procedimentos não estão
legalmente formalizados. E esse fato constitui um problema para a Vigilância
Sanitária tomar alguma decisão, pois sua função é combater procedimentos sem
comprovação científica de eficácia.
3. Sobre os equipamentos médico-hospitalares e outros dispositivos médicos,
denominados “correlatos” na legislação sanitária brasileira, seu desenvolvimento
requer conhecimento na área de ciências biomédicas, engenharia, computação e
outras.
É uma história de invenções de médicos que transferem seus protótipos para
pequenas empresas, e estas para as grandes companhias se o equipamento obtiver
sucesso. Estas, por sua vez, registram a patente e submetem-se à regulação.
Contudo, esse tipo de tecnologia não sofre o mesmo tipo de normatização que as
drogas e, em alguns países, segue à margem de qualquer controle. Os Estados
Unidos, por exemplo, têm um programa que regula todos os equipamentos segundo
sua eficácia e segurança, e países como Canadá, Japão e Holanda investigam
minuciosa e rigorosamente a tecnologia.
No Brasil, a tarefa de regulação dessa tecnologia tem sido atribuída à Secretaria
Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, que regulamenta as
condições de registro e aprovação dos correlatos, que são aprovados para o
mercado após análise da documentação apresentada pela empresa e da certificação
de conformidade, expedida geralmente por instituições conveniadas ligadas a
universidades, que realizam avaliação por amostragem dos equipamentos ou
dispositivos.
Portarias mais recentes do Ministério da Saúde dispõem sobre os padrões técnicos
a serem seguidos na fabricação dos equipamentos, ou para sua importação,
referenciando padrões nacionais [Normas Técnicas Brasileiras (ABNT)] e
internacionais [ISO (International Standards Organization) e IEC (International
Eletrothecnical Comission)], bem como instituem programas de garantia de
qualidade envolvendo a avaliação de equipamentos e procedimentos, o que
representa um passo importante nas formas de atuação da Vigilância Sanitária
acerca da avaliação de tecnologia.
4. As organizações médicas e de apoio, que se incluem na definição de tecnologia
médica ou de saúde, em vários países estão sujeitas, em modalidades diferentes, à
regulação por órgãos do governo; no Brasil, essa tarefa cabe à Vigilância Sanitária.
Os profissionais da saúde, por intermédio de seus conselhos de classe, são
licenciados para exercer a profissão e, no caso dos médicos, são certificados quanto
às especialidades.
Há ainda os mecanismos privados de regulação, que são os sistemas de
acreditação, a cargo de comitês de especialistas ou sociedades, que estabelecem
os critérios técnicos para a avaliação de qualidade, e a certificação das instituições
de saúde é dada de acordo com o cumprimento desses parâmetros.
A Vigilância Sanitária exerce controle nesse âmbito através das normatizações e
fiscalização, com base no que está oficialmente reconhecido como científico,
consagrado e legalmente fundamentado. A Vigilância Sanitária tem sido responsável
pelo registro de produtos, dispositivos e equipamentos médicohospitalares,
licenciamento de estabelecimentos de produção de medicamentos e outros insumos
e de prestação de serviços de saúde, com fundamentação em padrões
determinados e consagrados por normas técnicas nacionais ou internacionais, que
representam o consenso técnico-científico, expressados em normas legais
elaboradas em grande parte por ela.
Contudo, ela não tem exercido um papel direto no acompanhamento do processo de
validação ou do ciclo de vida de uma determinada tecnologia, desde o seu
desenvolvimento e validação, e por referência até às necessidades da população.
Muitas vezes ela é criticada por realizar avaliações formais ou burocráticas, e com
razão, pois com certeza têm baixo impacto. Idealmente, os processos de adoção
dos vários tipos de tecnologia devem se concentrar na avaliação de eficácia e
segurança, custo e efetividade. Também devem considerar a relação com as
necessidades de saúde. Relação que nem sempre tem sido clara.
Em alguns países do Primeiro Mundo, essa tarefa cabe a comissões
governamentais ou órgãos próprios responsáveis por ciência e tecnologia em saúde
para avaliar e validar a introdução de novas tecnologias.
A parcela hoje atinente à prática da vigilância sanitária pressupõe que algum órgão
já tenha validado as tecnologias, restando a ela, nesse campo, a formalização
oficial, autorização dos produtos e correlatos e a observação das condições técnicas
de funcionamento das organizações de saúde ou daquelas que fabricam ou
comercializam produtos relacionados à saúde. Seu método, em geral, é a
observação por referência a tecnologias aceitas. Ao detectar um procedimento sem
comprovação científica, cabe a ela tomar providências, referenciando- se ao que
está fundamentado em lei.
Contudo, a estruturação desse campo está por ser feita e exige uma redefinição das
políticas de vigilância sanitária e ciência e tecnologia.
A Vigilância Sanitária no contexto do SUS
O Estado Brasileiro organizado sob a forma de Federação caracteriza-se por uma
reunião indissolúvel de Estados e um poder central, denominado União. A repartição
de competências entre a União, o Distrito Federal, os Estados-membros e os
Municípios, ocorre de acordo com o estabelecido pela Constituição Federal de 1988,
que define:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
A Lei Orgânica da Saúde, Lei 8080/90, no seu artigo segundo, define "Saúde" como
"um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis para o seu exercício".
Após o ordenamento jurídico das Leis 8.080/90 e 8.142/90, iniciou-se o processo de
descentralização da atenção à saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, SUS.
Este ordenamento reivindica a descentralização das políticas sociais e de saúde
visando à completa democratização e integração das instituições e à diminuição da
distância entre centros decisórios e cidadãos.
A respeito da Vigilância Sanitária, cada esfera de Governo tem uma competência e
cabe aos municípios a execução de todas as ações, desde que assegurados nas
leis federais e estaduais. Esse é o processo chamado de municipalização das ações
de VISA, onde está previsto que o Estado e a União devem atuar em caráter
complementar quando o risco epidemiológico, a necessidade profissional e a
necessidade tecnológica assim exigirem.
A perspectiva da descentralização / municipalização aparece, nesse contexto, como
um instrumento adequado para o uso e a redistribuição mais eficiente dos escassos
orçamentos públicos e para busca de maior eficiência e resolutividade dos serviços
prestados.
O princípio da descentralização nos diz que, quanto mais próximo do problema
estiver a possível solução, mais rapidamente ele será combatido e eliminado.
Considerando o caráter regional das ocorrências, entende-se que o município é
quem melhor conhece seus problemas.
Sendo assim, as tomadas de decisão e ações devem ser priorizadas no âmbito dos
municípios, entendendo que a municipalização possibilita a construção e
fortalecimento da vigilância com impacto direto na estruturação e operacionalização
do SUS.
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, SNVS.
A Lei nº. 9.782/99 criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, e
definiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, SNVS.
A ANVISA tem por finalidade institucional:
Promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da
produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância
sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a
eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras.
A partir da criação da ANVISA, iniciou-se o processo de reestruturação e
organização das ações de Vigilância Sanitária no Brasil visando o estabelecimento
dos focos de observação da realidade sanitária, direcionados para a identificação da
relação dinâmica e associada à interação entre produtos e / ou serviços de saúde
aos seus consumidores, no âmbito da pós–comercialização.
A complexidade do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, SNVS, e suas
interfaces:
No estabelecimento e fortalecimento da relação sistêmica, com vistas à
consolidação do Sistema de Vigilância Sanitária, um dos maiores desafios é o
estabelecimento da avaliação de riscos à saúde, principalmente associados a novas
e emergentes tecnologias, relativas a substâncias, aparelhos e /ou equipamentos
(produtos destinados aos cuidados de saúde), ou associadas aos serviços de saúde
(atenção e assistência à saúde).
A observação e avaliação de riscos são de fundamental importância, diante do
processo de intensa transformação do perfil produtivo e de consumo de bens e
serviços destinados a promover e proteger a saúde. Sendo assim, as ações
baseadas na precaução e prevenção em saúde despontam como prioritárias, para o
Sistema de Vigilância Sanitária.
Diante do caráter de atuação preventiva, necessidade de avaliação e emergência da
identificação de riscos, vêm sendo utilizados princípios do direito sanitário que
possibilitam e fundamentam as tomadas de decisão, particularmente quanto à
aplicação diferenciada entre os princípios da Precaução e da Prevenção.
O princípio de precaução pode ser invocado sempre que seja necessária uma
intervenção urgente em face de um possível risco para a saúde humana, animal ou
vegetal, ou para a proteção do ambiente, quando as evidências científicas, ainda
não permitam uma avaliação completa do risco.
Este princípio não deve ser utilizado como pretexto para ações protecionistas, sendo
aplicado, sobretudo, para os casos de saúde pública, porquanto permite, por
exemplo, impedir a distribuição ou mesmo a retirada do mercado de produtos
susceptíveis de ser perigosos para a saúde.
Existem diferenças entre os conceitos de precaução e de prevenção. A prevenção
está associada à riscos conhecidos e já bem identificados, o conceito de precaução
está relacionado aos riscos desconhecidos e que ainda precisam ser melhor
conhecidos e / ou identificados pela sociedade. Neste sentido, o conceito de
precaução possui uma amplitude maior que o da prevenção.
Para a implementação de ações no Sistema de Vigilância Sanitária, como parte da
garantia da segurança sanitária, o monitoramento da qualidade dos bens e produtos
destinados à saúde na pós-comercialização tornou-se uma vertente fundamental.
Carlos Chagas
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (Oliveira, 9 de julho de 1878 — Rio de Janeiro, 8
de novembro de 1934) foi um médico sanitarista, cientista e bacteriologista
brasileiro, que trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do
Brasil, iniciou sua carreira no combate à malária. Destacou-se ao descobrir o
protozoário Trypanosoma cruzi (cujo nome foi uma homenagem ao seu amigo
Oswaldo Cruz) e a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas.
Ele foi o primeiro e o único cientista na história da medicina a descrever
completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor (Triatominae), os
hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia.
Foi diversas vezes laureado com prêmios de instituições do mundo inteiro, sendo as
principais como membro honorário da Academia Brasileira de Medicina e doutor
honoris causa da Universidade de Harvard e Universidade de Paris. Também
trabalhou no combate à leptospirose e às doenças venéreas, além de ter sido o
segundo diretor do Instituto Oswaldo Cruz.
Infância e juventude
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu no município de Oliveira, Minas Gerais, em
9 de julho de 1878, filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de
Castro Chagas. O lugar de seu nascimento foi na Fazenda Bom Retiro, onde seus
antepassados, de ascendência portuguesa, se enraizaram.
Seu pai, cafeicultor, morreu quando tinha quatro anos de idade, ficando a cargo de
sua mãe a administração do cultivo de café e da criação dele e de seus outros
quatro irmãos: Maria Rita, José (que morreu com três anos de idade), Marieta e
Serafim. Eles vão morar em outra propriedade da família, a Fazenda Boa Vista,
próxima a Juiz de Fora, também no estado de Minas Gerais.
Em Oliveira, teve convivência direta com três tios maternos, Cícero, Olegário e
Carlos. Os dois primeiros eram advogados formados em São Paulo e incentivaram o
sobrinho a se dedicar aos estudos. Porém, o último, era formado em Medicina e
organizou uma casa de saúde na cidade. As ações desse tio o influenciaram para
seguir a carreira médica.
Aos oito anos de idade e já alfabetizado, foi matriculado no Colégio São Luís,
dirigido por jesuítas, em Itu, interior de São Paulo, mas foge do internato em 1888,
para ir ao encontro da mãe, em Juiz de Fora, ao saber que os escravos recém-
libertados estariam depredando fazendas. A punição para essa fuga foi a expulsão
de Chagas do Colégio pelos padres jesuítas.
Após encerrar os estudos secundários, Chagas ingressou no curso preparatório para
a Escola de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria de vê-lo
formado em Engenharia. Aí, com a companhia de colegas do curso, aderiu a vida
boêmia. Adoentado, em 1896, depois de reprovado nos exames, volta para Oliveira.
Estudos
Carlos Chagas e seus filhos, Evandro Chagas e Carlos Chagas Filho.
Durante o tempo de recuperação em sua cidade-natal, seu tio Carlos fortaleceu a
vontade de Chagas em ser médico e ajudou-o a vencer a barreira de sua mãe, que
acabou aceitando a opção de seu filho. Seguiu então para São Paulo, para obter os
diplomas básicos exigidos para matrícula no curso médico. Conseguindo tal
certificado, em fevereiro de 1897, segue para o Rio de Janeiro a fim de entrar à
Faculdade de Medicina.
Aos 18 anos, passou a cursar a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde este
mesmo tio trabalhava, em abril de 1897. Tal faculdade vivia uma "revolução
pasteuriana", pois havia adquirido as teses de Louis Pasteur e estava passando por
um processo de renovação. Chagas, assim, também leva essas idéias adiante em
seu trabalho. Ao longo do curso, dois professores exerceram grande influência em
sua carreira: Miguel Couto, que apresentou a Chagas as noções e as práticas da
clínica moderna e com quem passaria a ter uma estreita amizade; e Francisco
Fajardo, que colocou Chagas no estudo de doenças tropicais, especialmente da
malária, e que seria de grande importância para sua futura carreira. Assim, esses
dois professores apresentaram os dois caminhos que se abriram para Chagas no
decorrer de seu curso médico: a clínica e a pesquisa científica.
Concluído o curso, em 1902, para elaborar sua tese (pré-requisito para o exercício
da medicina), dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na fazenda de
Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor, Miguel Couto, a
Oswaldo Cruz, diretor do Instituto, onde teve seu primeiro contato com aquele que
veio a trabalhar, ser seu grande mestre e tornar-se amigo.
Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Chagas começou a trabalhar no Instituto
Soroterápico Federal (que após 1908 passou-se a chamar Instituto Oswaldo Cruz) e
elege como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sangüínea.
Assim, em março de 1903, estava concluído a sua tese, o "Estudo Hematológico do
Impaludismo" e em maio do mesmo ano terminou seus estudos. Oswaldo Cruz, que
assumiu simultaneamente a direção de Manguinhos e a Diretoria Geral de Saúde
Pública, nomeou Chagas como médico do instituto, cargo que foi recusado por
preferir, em 1904 trabalhar como clínico no Hospital de Jurujuba, em Niterói. Nesse
ano instalou seu laboratório particular no Rio de Janeiro e casou-se com Íris Lobo,
que dessa união nasceriam seus dois filhos, Evandro (em 1905) e Carlos Filho (em
1910); ambos seguiriam a carreira médica do pai.
Carreira: Combate à malária
Devido à tese de doutorado sobre a malária, em 1901 foi recrutado por Cruz para
missão de controlar a doença em Itatinga, interior de São Paulo, que atacava a
maioria dos trabalhadores da Companhia Docas de Santos, que construía uma
represa na região, causando a paralisação das obras. Assim, realizou a primeira
ação bem-sucedida contra a malária no Brasil, colocando em prática procedimentos
que mais tarde se tornariam corriqueiros nas outras campanhas.
Segundo ele, para se impedir a propagação da doença em regiões em que não
havia ações sistemáticas de saneamento, fazia-se necessário concentrar as
medidas preventivas nos locais onde viviam os homens e os mosquitos infectados
com o parasito da malária. Seguindo tal orientação, em cinco meses Chagas
consegue debelar o surto da doença - fato que serviu de base para o efetivo
combate à moléstia no mundo inteiro.
De volta ao Rio de Janeiro, Chagas continuou servindo a Diretoria Geral de Saúde
Pública e, em 19 de março de 1906, transferiu-se para o Instituto Oswaldo Cruz. Foi
solicitado, no ano seguinte, pela Diretoria Geral, a organizar o saneamento na
Baixada Fluminense, onde estava acontecendo obras para a captação e
bombeamento de água ao Rio de Janeiro. Junto com Arthur Neiva, seguiu para
Xerém, e os resultados positivos que conseguiu nessa obra confirmaram a sua
teoria da infecção domiciliar da malária.
Doença de Chagas
Trypanosoma cruzi.
Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi.
Em junho de 1907 Chagas foi enviado pelo Instituto à cidade de Lassance, Minas
Gerais, perto do Rio São Francisco, para combater uma epidemia de malária entre
os trabalhadores de uma nova linha de trem da Estrada de Ferro Central do Brasil,
instalando-se durante dois anos num vagão de trem, montando um pequeno
laboratório e um consultório para atendimento dos doentes.
Neste tempo, capturou, classificou e estudou os hábitos dos anofelinos, mosquitos
transmissores da doença, e examinou o sangue de animais em busca de parasitas.
Assim, Chagas identificou no sangue de um sagüi uma nova espécie de protozoário,
ao qual deu o nome de Trypanosoma minasensis. Um engenheiro da ferrovia
alertou-o para a infestação de um inseto hematófago nas residências rurais, da
espécie Triatoma infestans, conhecido como barbeiro, assim chamado porque suga
o sangue das pessoas durante a noite, atacando o rosto delas. Chagas levou alguns
deles ao seu laboratório e percebeu que nos seus intestinos havia outros
Trypanosoma minasensis, já numa fase evoluída.
Por Lassance não ter condições para uma pesquisa mais aprofundada, enviou
alguns exemplares de barbeiros para Cruz, pedindo que os alimentasse em sagüis.
Um mês depois, foi comunicado da presença de tripanossomos no sangue dos
animais. Voltou ao Rio de Janeiro para confirmar a pesquisa, e descobriu que não se
tratava dos Trpanosoma minasensis, mas de uma nova espécie. Chagas chamou
esse novo parasita de Trypanosoma cruzi; mais tarde batizou de Schizotrypanum
cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz.
Retornando a Lassance, Chagas suspeitava que o parasita poderia causar algum
mal aos outros animais e aos humanos, visto que o barbeiro estava sempre em
lugares freqüentados por pessoas e o hábito desse inseto em mordê-las. Recolheu
amostras de sangue de um gato infectado em 14 de fevereiro de 1909 e, em 23 de
abril do mesmo ano, descobriu o Trypanosoma em uma menina de três anos,
chamada Berenice, que apresentava febre e anemia. Tal tripanossoma foi o
segundo descoberto a causar uma doença, a tripanossomíase americana, pois até
então o único confirmado é o causador da doença do sono, ou tripanossomíase
africana, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé.
Também observou inclusões parasitas no cérebro e no miocárdio dela, que
poderiam explicar algumas manifestações clínicas em pessoas doentes. Para
completar seu trabalho sobre a patologia da nova doença, o cientista descreveu 27
casos de formas agudas e realizou mais de cem autópsias de pacientes que tinham
a forma crônica da doença. Se concluiu, então, o ciclo da doença, tendo identificado
o vetor (barbeiro), o agente causal (Trypanosoma cruzi), o reservatório doméstico
(gato), a doença nos humanos (o caso de Berenice) e suas complicações. Ao longo
da pesquisa, Chagas propôs algumas complicações da doença que, mais tarde,
mostraram-se equivocadas. Exemplo disso foi ao anunciar que o bócio era um
sintoma da tripanossomíase americana. O trabalho que Chagas realizou foi o
primeiro e o único na história da medicina, descrevendo completamente a nova
doença infecciosa: anatomia patológica, o meio de transmissão (Triatoma infestans),
etiologia, suas formas clínicas e sua epidemiologia.
Chagas também foi o primeiro a descobrir o gênero Pneumocystis, um fungo
parasita nos pulmões dos animais experimentalmente infectados com tripanossoma.
Nessa altura ele não o reconheceu como um organismo distinto e portanto ele
descreveu o gênero Schizotrypanum de modo a acomodar ambos os ciclos de vida,
que ele ilustrou. Porém, a sua descoberta levou outros a aprofundar a investigação e
descrever Pneumocystis como um gênero distinto, que agora é reconhecido como
um fungo. Chagas, seguia atentamente a literatura e rapidamente confirmou a
distinção, pelo que novamente adotou o nome Trypanosoma cruzi que havia
originalmente cunhado. Pneumocystis é agora associado a uma outra doença, PCP
ou pneumocistose , causada por uma espécie (P. jirovecii), mas a espécie original
de Pneumocystis, observada por Chagas em espécies de porquinho-da-Índia, não
foi ainda nomeada como uma espécie separada.
Repercussão da descoberta
A descoberta da doença foi levada ao conhecimento da comunidade científica
através de uma nota prévia escrita por Chagas em 15 de abril de 1909 e publicada
na Revista Brasil-Médico em 22 de abril. No mesmo dia, Oswaldo Cruz anunciou
formalmente a Academia Nacional de Medicina, que decidiu levar a Lassance uma
comissão para verificar o trabalho. Miguel Couto, presidente da comissão, sugeriu
que a nova doença se chamasse doença de Chagas, mas o próprio Carlos Chagas
preferia chamar a doença como tripanossomíase americana.
Na Europa o trabalho teve repercussão em revistas científicas, em especial na
Alemanha e na França, pois esses países tinham interesses em doenças tropicais,
visto que a tripanossomíase africana vinha prejudicando o plano imperialista em tal
continente.
Em agosto de 1909 Chagas publicou o primeiro volume da revista do Instituto de
Manguinhos, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, um estudo completo sobre a
doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário que causa da doença. Esse
trabalho garantiu a ascensão do cientista na instituição, sendo promovido a "chefe
de serviço" em março de 1910.
Em 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu
formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como membro honorário,
já que tal entidade não dispunha de lugares vagos no momento. Nessa solenidade,
Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença. Em 1911 divulgou os
resultados à Sociedade de Medicina e Cirurgia de Minas Gerais e, em agosto, uma
segunda conferência à Academia Nacional de Medicina. Nesse mesmo ano ocorreu
a Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, Alemanha, onde,
no pavilhão brasileiro, foi mostrado a doença, que despertou grande público. Em
1912 foi a vez da classe médica paulista recebê-lo para uma apresentação sobre a
doença descoberta em Lassance.
O estudo da moléstia avançou nas décadas de 1940 e 1950 através do Instituto
Oswaldo Cruz, no município mineiro de Bambuí.
Expedição à Amazônia
Carlos Chagas (ao centro) na expedição à Amazônia.
Na década de 1910, o Instituto Oswaldo Cruz promoveu viagens científicas no
interior brasileiro, com o objetivo de investigar os problemas médicos do país. Em
1912, com a crise do extrativismo da borracha na Amazônia, o governo federal firma
parceria com a instituição para verificar as condições de salubridade do vale do Rio
Amazonas e elaborar um plano de exploração racional dos recursos naturais.
Assim, em agosto daquele ano, Chagas liderou um grupo que incluía mais dois
cientistas e um fotógrafo, onde visitaram a população ribeirinha dos rios Solimões,
Negro e Purus e analisaram as condições de moradia, abastecimento de água,
esgoto, alimentação e assistência médica. Também realizaram observações clínicas
sobre as epidemias que assolavam a região, em especial a malária. Também foram
recolhidas amostras de plantas de cunho medicinal, insetos causadores de doenças
e peixes foram analisados em busca de novos parasitas.
A expedição encerrou-se em março de 1913, e os resultados encontrados foram
expostos por Chagas em outubro daquele ano, na Conferência Nacional da
Borracha, organizada pelo Senado Federal no Rio de Janeiro. Com tal conferência e
o relatório escrito por Oswaldo Cruz e entregue para o Ministério da Agricultura, foi
possível formar um panorama da situação de abandono social que a região vivia,
sem assistência do Governo Federal. Também foi possível viabilizar o
desenvolvimento econômico da região. Tal expedição foi fundamental para fortalecer
o movimento que, ao longo da década de 1910, buscou alertar o governo para a
importância do saneamento rural do país e para a necessidade de uma ampla
reforma dos serviços de saúde pública brasileiros.
Gripe espanhola
A gripe espanhola chegou ao Brasil em 1918 e, no Rio de Janeiro, tal enfermidade
atacou dois terços da população (por volta de seiscentos mil habitantes) e fez onze
mil vítimas, devido às precárias condições de higiene e saneamento, além da falta
de assistência médica. Tal quadro fez com que o então presidente da República
Wenceslau Braz convidasse Carlos Chagas a assumir o controle da situação.
Tal ação não foi fácil, pelo fato do próprio estar doente, além de sua mulher e de
seus filhos. Porém, dentre suas atitudes, criou um serviço especial de postos de
atendimento à população em vinte e sete pontos diferentes da cidade. Ao mesmo
tempo que providenciou tal tarefa, criou cinco hospitais emergenciais e publicou
cartazes e panfletos de alerta aos habitantes e buscando apoio de profissionais da
sua área, conseguindo ajuda da maioria dos clínicos cariocas e de vários membros
da Academia Nacional de Medicina.
No Instituto Oswaldo Cruz, incentivou a pesquisa da doença, como causa da
infecção, meio de contágio e diagnóstico. Chagas trabalhou integralmente para o
desaparecimento da doença, em novembro do mesmo ano.
Direção do Instituto Oswaldo Cruz
Carlos Chagas, em recepção ao Presidente da República Epitácio Pessoa e ao Rei
Alberto I da Bélgica no Instituto Oswaldo Cruz.
Três dias após a morte de Oswaldo Cruz, em 14 de fevereiro de 1917, Chagas foi
nomeado para a direção do Instituto de Manguinhos através de um decreto
presidencial. Ao assumir o cargo, buscou consolidar o modelo estabelecido por Cruz
semelhante ao Instituto Pasteur, onde a autonomia administrativa e financeira eram
as características principais, além de estreitar a relação entre a pesquisa, o ensino e
a fabricação de produtos medicinais e veterinários.
No campo da pesquisa, sua administração ficou marcada pela investigação das
principais epidemias que assolavam a zona rural brasileira em sua época, e com o
objetivo de controlá-las, inaugurou em 1918 o Hospital Oswaldo Cruz, nas
dependências do Instituto, para constituir em um centro de estudos para os
pesquisadores do Instituto. Mais tarde, em 1942, o hospital passaria a ser chamado
Hospital Evandro Chagas.
Chagas foi responsável pela criação de seções científicas independentes,
separando-as por áreas de conhecimento, com o intuito de estabelecer uma divisão
de trabalho mais nítida no Instituto. Assim, são instaladas seções de Química
Aplicada, Micologia, Bacteriologia, Zoologia, Anatomia, Protozoologia e Fisiologia.
Quanto ao ensino, o cientista amplia o programa dos Cursos de Aplicação do
Instituto, oferecidos desde 1908 como especialização em Microbiologia.
Na área de produção, Chagas diversificou os medicamentos e produtos fabricados
no Instituto, com a estimulação do comércio dos mesmos e a renda gerada por eles
tornou-se fundamental para o funcionamento da instituição. Uma medida para a
expansão da área de Produção foi a criação do Serviço de Medicamentos Oficiais,
destinado para produzir, entre outros medicamentos, a quinina, usada no combate à
malária. Na década de 1920 o Instituto ficou responsável por verificar o controle de
qualidade dos produtos utilizados na Medicina brasileira, tanto os fabricados em
laboratórios nacionais quanto os importados. Outra iniciativa foi a incorporação do
Instituto Vacinogênio Municipal, ficando a cargo do Instituto Oswaldo Cruz a
fabricação da vacina antivaríola.
Carlos Chagas e equipe do Instituto Oswaldo Cruz, em recepção a Albert Einstein.
Em 1920 a autonomia administrativa do Instituto ficou preservada, mesmo que
estivesse subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
Financeiramente, a autonomia assegurou-se graças ao regulamento criado por
Chagas e aprovado em 1919, onde toda a receita gerada por trabalhos realizados
em Manguinhos a pedido de particulares seria dividida igualmente entre a instituição
e os funcionários que os executassem.
Porém, com o aumento das atividades do Instituto, no decorrer da década de 1920,
acarretou num acúmulo de problemas financeiros, além das limitações
orçamentárias agravadas pela crise econômica de 1929. Isso prejudicou o
aperfeiçoamento tecnológico e a manutenção das instalações físicas da instituição,
com uma conseqüente perda da qualidade dos produtos.
Tal quadro se agravou na década de 1930, onde, com a criação do Estado Novo e a
ditadura de Getúlio Vargas, aos poucos pôs-se o fim da autonomia administrativa e
um aumento da intervenção do Estado. A nova ordem política brasileira trouxe
conseqüências diretas a estrutura e o funcionamento de Manguinhos, que, sob a
denominação de Departamento de Medicina Experimental, passou à jurisdição do
recém-criado Ministério da Educação e Saúde. A partir desse momento até a sua
morte, em 1934, Chagas enfrentou os efeitos da perda do modelo institucional criado
por Oswaldo Cruz.
Direção do Departamento Nacional de Saúde Pública
Ao tomar posse em 1919, para reorganizar a Saúde pública nacional, o presidente
Epitácio Pessoa nomeou Carlos Chagas para a então Diretoria Geral de Saúde
Pública (DGSP), acumulando a função com aquela praticada em Manguinhos. Um
ano seguinte tal instituição se chamaria Departamento Nacional de Saúde Pública
(DNSP), ligado ao Ministério da Justiça de Negócios Exteriores.
Sua primeira atitude, exposta na Bilbioteca Nacional em fevereiro de 1921, foi a
centralização das atividades, que até então a DNSP vinha trabalhando com a
descentralização, onde os estados e municípios brasileiros tinham maior liberdade
de organizar seus sistemas sanitários. Acordos com os mesmos foram essenciais
para a segunda ação - a interiorização, em busca da erradicação das epidemias
rurais, principalmente malária, ancilostomose e tripanossomíase americana. Em
paralelo a esse projeto, criou um minucioso de medidas referentes à higiene pública.
Com apoio da Fundação Rockefeller, Chagas criou o Serviço de Enfermagem
Sanitária e, com o desdobramento desse serviço, fundou, em 1923, a Escola de
Enfermagem Anna Nery, introduzindo o ensino profissionalizante de Enfermagem no
Brasil. Os alunos foram instruídos também no Hospital São Francisco de Assis,
fundado também por Chagas para tal finalidade.
Chagas também foi responsável pela criação do primeiro curso de Higiene e Saúde
Pública do Brasil, onde garantia vagas nos cargos federais aos aprovados. Como
diretor da DNSP, representou o país no Comitê de Higiene da Liga da Nações,
associação sediada em Genebra e percussora da Organização Mundial de Saúde
(OMS). O médico permaneceu à frente do órgão até novembro de 1926, ao fim do
mandato do presidente Arthur Bernardes. A DNSP foi transferida para o Ministério
da Educação e Saúde, em função da reforma política do Estado Novo.
Ensino médico
Chagas acreditava que a ciência médica era sustentada por dois pilares: o primeiro
defende uma estreita articulação entre o ensino e a pesquisa. O segundo dá
importância de introduzir nos cursos de Medicina o estudo específico de doenças
tropicais e o combate dos problemas de saúde pública brasileira, como malária,
ancilostomose e tripanossomíase. Com isso, o país teria profissionais qualificados
para tratar dos problemas sanitários.
Em 1925, o Ministério da Justiça e Negócios Exteriores promoveu a refoma na
Educação brasileira, permitindo a Chagas pôr em prática o seu objetivo, criando a
especialização em Higiene e Saúde Pública e a cadeira de Doenças Tropicais na
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no ensino médico.
Morte
Carlos Chagas faleceu aos 55 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro. A causa
de sua morte foi um infarto do miocárdio.
Prêmios e homenagens
Frente da nota comemorativa de dez mil cruzados em homenagem a Chagas.
Verso da nota comemorativa de dez mil cruzados em homenagem a Chagas.
Idealizador do Centro Internacional de Leprologia, Carlos Chagas recebeu diversas
homenagens: uma herma na Praia de Botafogo foi construída em sua memória, de
autoria do escultor Modestino Kanto. Um município do estado de Minas Gerais
recebeu seu nome, além de cédulas de Cruzado (depois Cruzado Novo) terem
circulado com sua imagem durante a década de 1980.
Quanto aos prêmios recebidos, em 1912 chegou o primeiro, o Prêmio Schaudinn,
cedido pelo Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo, Alemanha. Em 1921 foi
nomeado Artium Magistrum, Honoris Causa, da Universidade de Harvard, EUA; em
1923 ganhou o Prêmio Hors-concours, na Conferência Comemorativa sobre o
Centenário de Louis Pasteur, em Estrasburgo, França, e em 1925 o Prêmio Kummel,
da Universidade de Hamburgo, Alemanha. Ainda receberia em 1926, 1929 e 1934
outros títulos Honoris causa, vindos das universidades de Paris, de Lima e Livre de
Bruxelas, respectivamente.
Município de Carlos Chagas - MG .
Recebeu diplomas da Universidade Nacional de Buenos Aires, em 1917; da
Faculdade de Medicina da Universidade de Hamburgo, em 1925; e da Cruz
Vermelha Alemã, em 1932. Foi nomeado membro da Academia Brasileira de
Medicina em 1910, assim que o estudo foi divulgado. Como não havia vagas na
época, foi decretado que ele seria um membro honorário. Também pertenceu à
Société de Patologie Exótique da França (em 1919), à Physicans Club of Chicago
dos EUA (em 1921), à Associação Médica Panamericana (em 1922), da Sociedade
de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas (1924), à Academia de
Medicina de New York e à Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle
(1926), à Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres (1928) e da
Sociedade de Biologia de Buenos Aires e Academia de Medicina de Paris (1930).
Recebeu o título, em 1920, de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália; em 1923 de
Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de
Honra da França; em 1924 o Grau de Oficial da Ordem de São Thiago, de Portugal;
em 1925 o de Comendador da Ordem de Afonso XII, Espanha, em 1926
Comendador da Ordem de Isabel, a Católica da Espanha e em 1929 Cavaleiro da
Ordem da Coroa da Romênia. Além disso, Carlos Chagas recebeu duas indicações
para o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, embora não tenha sido laureado, pelo
fato de ter nascido num país de terceiro mundo.
Osvaldo Cruz
Osvaldo Gonçalves Cruz (São Luiz do Paraitinga, 5 de agosto de 1872 — Petrópolis,
11 de fevereiro de 1917) foi um cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e
sanitarista brasileiro.
Foi o pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no
Brasil. Fundou em 1900 o Instituto Soroterápico Nacional no bairro de Manguinhos,
no Rio de Janeiro, transformado em Instituto Oswaldo Cruz, respeitado
internacionalmente.
Biografia
Casa onde nasceu Osvaldo Cruz, em São Luís do Paraitinga, São Paulo.
Filho de cariocas, nasceu no interior de São Paulo. Aos cinco anos, acompanhou a
família no retorno ao Rio de Janeiro. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro em 1887, formando-se em 1892. Casou-se aos 20 anos, com jovem de
família rica. Em 1896, estagiou durante três anos no Instituto Pasteur, em Paris,
sendo discípulo de Émile Roux, seu diretor. Voltou ao Brasil em 1899 e organizou o
combate ao surto de peste bubônica registrado em Santos (SP) e em outras cidades
portuárias. Demonstrou que a epidemia era incontrolável sem o emprego do soro
adequado. Como a importação era demorada, propôs ao governo a instalação de
um instituto para fabricá-lo.
Capa da Revista da Semana (outubro de 1904) sobre a Revolta da Vacina.
Foi então criado o Instituto Soroterápico Federal (1900), cuja direção assumiu em
1902.
Diretor-geral da Saúde Pública (1903), nomeado por José Joaquim Seabra, Ministro
da Justiça, e pelo Presidente Rodrigues Alves, coordenou as campanhas de
erradicação da febre amarela e da varíola, no Rio de Janeiro. A nomeação foi uma
surpresa geral. Organizou os batalhões de "mata-mosquitos", encarregados de
eliminar os focos dos insetos transmissores. Convenceu Rodrigues Alves a decretar
a vacinação obrigatória, o que provocou a rebelião de populares e da Escola Militar
(1904) contra o que consideram uma invasão de suas casas e uma vacinação
forçada, o que ficou conhecido como Revolta da Vacina. A cidade era uma das mais
sujas do mundo, pois dos boletins sanitários da época se lê que a Saúde Pública em
um mês vistoriou 14.772 prédios, extinguiu 2.328 focos de larvas, limpou 2.091
calhas e telhados, 17.744 ralos e 28.200 tinas. Lavou 11.550 caixas automáticas e
registos, 3.370 caixas d´água, 173 sarjetas, retirando 6.559 baldes de lixo e dos
quintais de casas e terrenos 36 carroças de lixo, gastando 1.901 litros de petróleo
(são dados do livro indicado abaixo, de Sales Guerra). Houve um momento em que
foi apontado como «inimigo do povo», nos jornais, nos discursos da Câmara e do
Senado, nas caricaturas e nas modinhas de Carnaval. Houve uma revolta,
tristemente célebre como a revolta do quebra-lampeão, em que todos foram
quebrados pela fúria popular, alimentada criminosamente durante meses pela
demagogia de fanáticos e ignorantes.
Premiado no Congresso Internacional de Higiene e Demografia, em Berlim (1907),
deixou a Saúde Pública (1909).
Dirigiu a campanha de erradicação da febre amarela em Belém do Pará e estudou
as condições sanitárias do vale do rio Amazonas e da região onde seria construída a
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Em 1916, ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências e, no mesmo ano,
assumiu a prefeitura de Petrópolis. Doente, faleceu um ano depois, não tendo
completado o seu mandato. O mundo inteiro lamentou sua morte no dia, com mais
de que um minuto de silêncio.
Homenagens
Nota de 50 mil cruzeiros (anverso).
Na cidade do Rio de Janeiro, uma estação de trem, uma avenida, um bairro e
diversas escolas têm o nome de Osvaldo Cruz, além do instituto soroterápico (atual
Fundação), por ele fundado. Um município do estado de São Paulo também tem o
seu nome.
Em 1909, quando Carlos Chagas descobriu o protozoário causador da
tripanossomíase americana (popularmente conhecida como "doença de Chagas")
batizou-o com o nome de "Trypanosoma cruzi", em homenagem a Osvaldo Cruz.
Homenageado na capital de São Paulo, com o logradouro Praça Oswaldo Cruz, no
início da Avenida Paulista.
Em 1913 foi fundado o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, entidade representativa
dos estudantes de medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (FMUSP).
Em 1936 o sanitarista teve a sua efígie cunhada na moeda brasileira de 400 réis, e,
em 1986, impressa nas notas de Cz$ 50,00 (cinqüenta cruzados). A partir de 1989,
essas notas passaram a valer cinqüenta centavos de cruzados novos.
Em 1983, a Marinha do Brasil homenageou-o com o NAsH Oswaldo Cruz (U-18),
que opera nos rios da Amazônia a partir da cidade de Manaus.
Em 2001, Bruno Giordano fez o papel de Osvaldo Cruz em Sonhos Tropicais, de
André Sturm.
Em 2003, Marcos Palmeira interpretou o sanitarista no curta metragem de Silvio
Tendler Oswaldo Cruz – O Médico do Brasil.
Academia Brasileira de Letras
Oswaldo Cruz é o segundo ocupante da cadeira 5 na Academia Brasileira de Letras,
eleito em 11 de maio de 1912, na sucessão de Raimundo Correia e recebido pelo
acadêmico Afrânio Peixoto em 26 de junho de 1913.
Adolfo Lutz
Adolfo Lutz (Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1855 — Rio de Janeiro, 6 de
outubro de 1940) foi um médico e cientista brasileiro, pai da medicina tropical e da
zoologia médica no Brasil. Pioneiro na área de epidemiologia e na pesquisa de
doenças infecciosas.
Trajetória profissional
Estudou medicina na Suíça, graduando-se em 1879 na Universidade de Berna.
Depois de graduado, foi estudar técnicas de medicina experimental em vários
centros médicos de Londres (Inglaterra - onde estudou com Joseph Lister, 1827-
1921); Leipzig (Alemanha); Viena (Áustria); Praga (República Checa) e Paris
(França - onde estudou com Louis Pasteur, 1822–1895).
Retornou ao Brasil em 1881. Lutz inicialmente trabalha como clínico geral em
Limeira (São Paulo) por seis anos. Desejando seguir em pesquisas médicas, ele
retorna para Hamburgo (Alemanha), onde mais uma vez irá trabalhar com Paul
Gerson Unna (1850-1929), especializando em doenças infecciosas e em medicina
tropical. Com o aumento de sua fama, ele foi convidado para assumir o cargo de
diretor do Hospital Kalihi no Havaí, onde fez sua pesquisa sobre hanseníase. Depois
disso, ele trabalhou por um período na Califórnia (Estados Unidos), antes de retornar
para o Brasil em 1892, atendendo ao convite do governador de São Paulo para
dirigir o Instituto de Bacteriologia (mais tarde, este instituto irá se chamar Instituto
Adolfo Lutz em sua homenagem). A cidade de Santos (São Paulo) sofreu uma
severa epidemia de peste bubônica, e Lutz foi trabalhar com outros dois jovens
médicos brasileiros, Emílio Ribas e Vital Brazil. Lutz e Brazil tornariam-se amigos,
sendo que este daria suporte às pesquisas pioneiras de Vital Brazil sobre antídotos
para picadas de cobra, contribuindo decisivamente para a criação de outro instituto
de pesquisa (Instituto Butantan) em São Paulo, totalmente devotado para essa linha
de pesquisa.
Aedes aegypti
Lutz foi o primeiro cientista latino-americano a estudar e confirmar os mecanismos
de transmissão da febre amarela pelo Aedes aegypti, uma espécie de mosquito que
é um reservatório natural e vetor dessa doença. Lutz foi o responsável pela
identificação do blastomicose sul-americano. Sua dedicação à saúde pública fez
com que lutasse e pesquisasse sobre várias epidemias de diversas regiões do
Brasil, como a cólera, peste bubônica, febre tifóide, malária, ancilostomíase,
esquistossomose e leishmaniose.
Outras de suas maiores realizações foi seu pioneirismo sobre a Entomologia Médica
e as propriedades terapêuticas das plantas Brasileiras. Como zoologista, ele
descreveu várias novas espécies de anfíbios e insetos, como o Anopheles lutzii
(uma espécie de mosquito).
Depois da aposentadoria em 1908, Dr. Adolfo Lutz mudou-se para a Cidade do Rio
de Janeiro, onde trabalhou por mais 32 anos, até a morte em 6 de outubro de 1940,
no Instituto Oswaldo Cruz.
A filha, Bertha Lutz (1894-1976) foi uma importante zoóloga, feminista e política
brasileira.
Vital Brazil
Vital Brazil Mineiro da Campanha (Campanha, 28 de abril de 1865 — Rio de Janeiro,
8 de maio de 1950) foi um importante médico imunologista e pesquisador biomédico
brasileiro, de renome internacional.
Vida e obra
Filho de José Manuel dos Santos Pereira e de Maria Carolina Pereira de Magalhães
foi casado em primeiras núpcias com sua prima em primeiro grau, Maria da
Conceição Filipina de Magalhães, viúvo da primeira, casou-se, então, com Dinah
Carneiro Vianna. Pelo ramo de sua mãe - os Pereiras de Magalhães - Vital tinha
consangüinidade com o protomotor da Independência do Brasil, Joaquim José da
Silva Xavier, o Tiradentes, e era, ainda, sobrinho neto materno do Professor Major
Joaquim Leonel Pereira de Magalhães,que foi, igualmente, avô paterno da primeira
mulher de Vital - Maria da Conceição Filipina de Magalhães. Vital foi tio do célebre
empresário e mecenas das artes Oscar Americano de Caldas Filho, mais conhecido
por Oscar Americano.
Um aspecto inusitado em sua família foi o fato de José Manoel, seu pai, haver
abolido completamente o seu sobrenome em seus filhos, criando, para substituí-lo,
outros com características quase que exclusivamente toponímicas e receberam, no
Cartório do Registro Civil, os seguintes nomes: Vital Brazil Mineiro da Campanha -
Maria Gabriela do Vale do Sapucai - Iracema Ema do Vale do Sapucai - Judith
Parazita de Caldas - Acacia Sensitiva Indígena de Caldas - Oscar Americano de
Caldas (pai do Oscar acima) - Fileta Camponeza de Caldas - Eunice Peregrina de
Caldas; conforme relata o seu filho, Lael Vital Brazil, as paginas 15 e 16, do livro de
sua lavra - "Vital Brazil Mineiro da Campanha, uma genealogia brasileira".
Vital Brazil é mundialmente conhecido pela descoberta da especificidade do soro
antiofídico, dos soros específicos contra picadas de aranha, do soro antitetânico e
antidiftérico e do tratamento para picada de escorpião.
Estudou medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em meio a grandes
dificuldades financeiras, vindo a formar-se com brilhantismo em 1891. Retornando a
São Paulo clinicou em várias cidades do interior do Estado. Presenciou durante essa
época a morte de várias pessoas mordidas por serpentes, principalmente
lavradores.
Ele era médico sanitarista, que atuou em frentes diversificadas: participou das
brigadas de combate contra a febre amarela e a peste bubônica em várias cidades
no Estado de São Paulo e coincidentemente, algumas décadas mais tarde seu primo
- pelo ramo Pereira de Magalhães - Dr. Adhemar Paoliello, igualmente formado pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, médico da The Rockefeller Foundation,
se dedicaria, também como sanitarista, ao mesmo ideal de combater a febre
amarela e a peste bubônica, no Brasil e no exterior. Criou uma das primeiras escolas
do Brasil que alfabetizavam crianças de dia e adultos à noite; desenvolveu materiais
de informação sobre como se proteger das cobras e outros animais peçonhentos
para as pessoas do campo; inventou uma caixa de madeira barata e segura para
que os fazendeiros pudessem capturar as cobras e firmou convênios com as
estradas de ferro para transportá-las, pois eram essenciais à fabricação do soro.
O convite do governo estadual, Vital Brazil ingressou em 1897 no Instituto
Bacteriológico do Estado de São Paulo, dirigido pelo sábio Adolfo Lutz. Foi então
que tiveram início suas pesquisas. Vital Brazil trabalhou junto com Oswaldo Cruz e
Emílio Ribas no combate a peste bubônica, ao tifo, a varíola, e à febre amarela.
Recebeu do governo de Rodrigues Alves a Fazenda Butantan, às margens do Rio
Pinheiros, São Paulo, que viria a se tornar posteriormente o Instituto Butantan.
Foram aí desenvolvidos trabalhos, sem tréguas, num ambiente desprovido de
recursos. Os primeiros tubos de soro antipestoso começaram a ser entregues após
quatro meses de trabalho.
Em 1903 surgiu o soro antiofídico (Piroplasma vitalli), parasita no sangue dos cães.
Após este evento outros soros foram produzidos no Instituto Butantan. As vacinas
produzidas também serviam em combate ao tifo, varíola, tétano, psitacose,
disenteria bacilar e BCG. As sulfuras e as penicilinas vieram mais tarde. As picadas
de aranhas venenosas, escorpião e lacraias deram origem a novos soros.
Freqüentou por longo tempo o Instituto Pasteur. Também é o fundador do Instituto
Vital Brazil, em Niterói.
A importância da especificidade
A descoberta de Vital Brazil sobre a especificidade dos soros antipeçonhentos
estabeleceu um novo conceito na imunologia, e seu trabalho sobre a dosagem dos
soros antiofídicos gerou tecnologia inédita. A criação dos soros antipeçonhentos
específicos e o antiofídico polivalente ofereceu à Medicina, pela primeira vez, um
produto realmente eficaz no tratamento do acidente ofídico que, sem substituto,
permanece salvando centenas de vidas nos últimos cem anos.
Consagrado em congresso científico nos Estados Unidos em 1915, o seu trabalho
logo despertou o interesse da Europa, onde se encontrava a vanguarda da pesquisa
médica da época, e lhe valeu o reconhecimento mundial. O Instituto Butantan
representa um marco na ciência experimental brasileira. Desenvolvendo significativo
número de pesquisas de elevado teor cientifico, educando as populações rurais na
adoção do tratamento e na prevenção de acidentes ofídicos e criando aquela que
foi, possivelmente, a primeira escola de alfabetização de adultos, esse Instituto
desempenhou importante papel social na época e tornou-se conhecido e famoso no
mundo todo.
Instituto Butantan
Vital Brazil foi o criador do Instituto Butantan, em São Paulo, que foi instalado em
uma fazenda antiga e distante da cidade, comprada pelo governo do estado de São
Paulo para que lá funcionasse um laboratório para a produção de vacinas.
O documento de compra da fazenda tem a data de 24 de dezembro de 1899. A
partir desse começo precário e difícil, o Instituto cresceu rapidamente. Em 1901 já
produzia os soros antipestoso e antiofídico, daí ter recebido o nome de Instituto
Serunterápico do Estado de São Paulo. Em 1925, passou a se chamar Instituto
Butantan.
O Instituto continua um centro de referência e excelência, em diversas áreas
científicas.
Vital Brazil em 1911.
Instituto Vital Brazil
Após deixar a direção do Instituto Butantan, em 1919, Vital Brazil foi para o Rio de
Janeiro. Apesar de convidado por Carlos Chagas para trabalhar em Manguinhos
(renomeada FioCruz), resolveu fundar um novo laboratório, por achar que o Brasil
necessitava de mais instituições científicas, onde o estudo e a pesquisa se
ocupassem da solução de seus graves problemas.
Fundou, com o apoio do então Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Raul de
Morais Veiga, o Instituto Vital Brazil em Niterói.
Sua seriedade, perseverança e dedicação fizeram deste Instituto outro importante
centro de pesquisas, único por sua organização em âmbito nacional e reconhecido
internacionalmente como estabelecimento científico pelos trabalhos de valor aí
realizados. Muitos estudantes brasileiros e estrangeiros se iniciaram na carreira de
pesquisadores estagiando nos laboratórios desse Instituto, formador de cientistas.
Emílio Ribas
Emílio Marcondes Ribas (Pindamonhangaba, 11 de abril de 1862 — São Paulo, 19
de fevereiro de 1925) foi um sanitarista brasileiro. Trabalhou no combate a
epidemias e endemias, tendo criado Instituto Butantan entre outros órgãos públicos
de saúde pública.
Biografia
Nasceu em Pindamonhangaba, São Paulo, aos 11 de abril de 1862. Filho de
Cândido Marcondes Ribas e D. Andradina Marcondes Machado Ribas. Faleceu na
cidade de São Paulo, aos 19 de dezembro de 1925.
Diplomou-se em 1887 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Depois de
formado, retornou a sua terra natal onde se casou com D. Maria Carolina Bulcão
Ribas, seguindo, logo depois, para Santa Rita do Passa Quatro, onde iniciou sua
atividade clínica.
Nomeado Inspetor Sanitário a 11 de setembro de 1895, iniciou sua carreira como
auxiliar do Dr. Diogo Teixeira de Faria, no Desinfetório Central, em 1896. Teve
oportunidade de combater várias epidemias, não só na Capital, mas também no
Interior, principalmente de febre amarela, em Jaú, Rio Claro, Araraquara,
Pirassununga e Campinas.
Promovido a Chefe da Comissão Sanitária de Campinas em 1896, permaneceu até
15 de abril de 1898, data em que foi nomeado Diretor Geral do Serviço Sanitário.
Exerceu o cargo por quase vinte anos consecutivos, tendo-se aposentado em 1917.
Suas principais realizações:
• Foi o pioneiro na luta contra a Febre Amarela no Brasil e na América do Sul;
• Foi o criador do Instituto Butantan, na época em que a peste invadiu o nosso país
(1899);
• Foi o idealizador de Campos do Jordão, como estância climática, juntamente com
Victor Godinho, em 1911;
• Foi o idealizador do Sanatório de Santo Ângelo, o primeiro com características
mais humanas de assistência aos hansenianos no Brasil;
• Estudou, com critério e segurança, a forma atenuada da Varíola levando os seus
estudos aos grandes centros científicos, onde foram discutidos e acatados;
• Foi criador da Seção de Proteção à Primeira Infância, da Inspetoria Sanitária
Escolar, do Serviço de Profilaxia e Tratamento do Tracoma;
• Reorganizou o Serviço Sanitário, remodelando o Desinfetório Central, o Hospital de
Isolamento, Laboratório de Análises Clinica e Bromatológicas, o Farmacêutico e a
Seção de Engenharia Sanitária.
Experiência da febre amarela
Dr. Emílio Marcondes Ribas já tinha enfrentado a febre amarela na região de
Campinas, no final do século XIX, contando com o apoio do cientista Adolfo Lutz,
então Diretor do Instituto Bacteriológico.
Dr. Ribas publicou, em 1901, o trabalho “O mosquito considerado como agente de
propagação da febre amarela”, que encontrou forte oposição de médicos
importantes de São Paulo.
Em janeiro e fevereiro de 1903, resolveu fazer uma experiência semelhante à
realizada em Cuba. Unindo-se ao médico e amigo Adolfo Lutz e a mais dois
voluntários, Oscar Marques Moreira e Domingos Pereira Vaz, deixaram-se picar por
mosquitos que estiveram em contato com doentes graves de febre amarela.
A experiência ocorreu no interior do Hospital de Isolamento de São Paulo, atual
Instituto de Infectologia Emilio Ribas, sendo o Diretor da época Dr. Cândido
Espinheira e o médico interno Dr. Victor Godinho. Repetiram a experiência com dois
novos voluntários, Januário Fiori e André Ramos, realizando o mesmo procedimento
anterior.
Uma nova experiência foi realizada em abril de 1903, dessa vez, com três imigrantes
italianos, pagos para permanecerem entre secreções e lençóis usados por doentes
com febre amarela. As experiências revestiram-se do maior rigor científico.
As provas foram acompanhadas por médicos que não endossavam essas teses.
Com os resultados desse trabalho se provou:
• A transmissão da febre amarela pela picada de mosquitos infectados por pessoas
atingidas por essa moléstia;
• O não contágio, através do contato com roupas e objetos usados e sujos dos
doentes.
Em 1903, a Memória dessa experiência foi apresentada no 5º Congresso Brasileiro
de Medicina e Cirurgia, onde Dr. Ribas defendeu a tese de que os meios de defesa
válidos para a eliminação da moléstia deviam dirigir-se à eliminação dos mosquitos
vetores e não aos meios apregoados pelos “contagionistas”.
Nesse mesmo ano, a febre amarela é declarada extinta em todo o Estado de São
Paulo.
Homenagem de sua terra - Cinqüentenário da Morte de Emílio Ribas
História
Um dos bravos e incompreendidos sanitaristas brasileiros do fim do século XIX e
início do século XX que, juntamente com Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil e
Carlos Chagas, lutaram para livrar a cidade e os campos das epidemias e endemias
que assolavam o país. Formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
(1887).
Guiado apenas pela intuição, Emílio Ribas combateu a febre amarela, exterminando
com êxito o mosquito transmissor da doença (hoje conhecido por Aedes aegyptii)
nas cidades paulistas de São Caetano, Pirassununga, Pilar, Campinas e Jaú, o que
lhe valeu a nomeação, em 1898, para diretor do Serviço Sanitário do Estado de São
Paulo.
Sofreu forte oposição dos que acreditavam que a doença era transmitida por
contágio entre pessoas e para provar que esta tese estava errada, deixou-se picar
pelo inseto contaminado, junto com os colegas Adolfo Lutz e Oscar Moreira. Foi a
partir da contaminação de Ribas que Oswaldo Cruz empreendeu a eliminação dos
focos de mosquito no Rio de Janeiro.
Ribas foi fundador do Instituto Soroterápico do Butantã, construído numa fazenda
nos arredores de São Paulo, e colaborou para a fundação do Sanatório de Campos
do Jordão para tratamento da tuberculose, além de ter idealizado e construído a
Estrada de Ferro Campos do Jordão.
Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão (São Paulo), para deter a terceira
epidemia de Febre amarela. Só saiu da cidade quando conseguiu com uma equipe
de médicos e voluntários acabar com a grave epidemia, mandando limpar o rio que
corta a cidade, e tomando medidas para melhorar o Saneamento básico na cidade
que, ao chegar, descreveu-a de forma pouco lisonjeira: 530 prédios, mal
construídos, 90% sem assoalho ou forro, e com péssimo saneamento básico, o que
era verdade.
Conclusão
A Vigilância Sanitária pode ser então compreendida como um ganho para a saúde
brasileira, pois diante do recorte histórico foi possível compreender melhor sua
criação, como está sendo desenvolvida, além de aprimorar os conhecimentos
quanto a sua função.
Assim, pode-se afirmar que a Vigilância Sanitária é um órgão que desempenha suas
funções de maneira interdisciplinar, tendo em vista sua ampla área de atuação nos
mais diferentes setores, é ainda considerada um espaço de comunicação que
possibilita a promoção à saúde da população, já que lida com diversos produtos que
são utilizados por indivíduos das distintas classes sociais.
Por ter a missão de proteger e promover a saúde da população, sempre em defesa
da vida, tal órgão necessita de uma interação muito grande com os cidadãos, para
isso estes podem buscar a efetivação das ações da Vigilância Sanitária pela própria
diretriz do SUS, a de participação da comunidade, ou seja, o sujeito social pode ser
ativo no referido órgão através dos conselhos de saúde. Desta forma a sociedade só
tem a ganhar e a Vigilância Sanitária irá avançar em suas práticas, tendo assim
melhores resultados.
Referências Bibliográficas
Livro(s):
- EDUARDO, Maria Bernadete de Paula e de MIRANDA, Isaura Cristina S. de
Miranda (colaboradora). Saúde & Cidadania – Vigilância Sanitária. p. 3 Instituto para
o Desenvolvimento da Saúde - IDS. Núcleo de Assistência Médico-Hospitalar -
NAMH/FSP e Banco Itaú. São Paulo, 1998
Site(s):
- http://portalses.saude.sc.gov.br/arquivos/sala_de_leitura/cartilha_visa/index.htm
- http://www.artigonal.com/medicina-artigos/a-evolucao-da-vigilancia-sanitaria-no-
brasil-2294739.html
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Vital_Brazil
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Chagas
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Emilio_Ribas
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswaldo_cruz
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Adolfo_Lutz
- http://www.anvisa.gov.br/institucional/snvs/coprh/cartilha.pdf
- http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php