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Se Deus Quiser
Espaço
TERRA NOVA - BAHIA
Se Deus Quiser
Terra Nova, janeiro de 2008
Apresentação
O Bangüê, uma entidade cultural beneficente, instalado no município de Terra Nova, Região do Recôncavo da Bahia, vem
elaborando o projeto A Família e a Escola visando, na escola pública, os alunos da pré-escola. O projeto parte do pressuposto de que:
- Aprendizado é uma função direta da Escola, do Aluno e da Família:
Ap = E +A + F.
- Família (mais precisamente a mãe) não tem a participação condizente com a sua importância no processo de aprendizagem.
A aproximação Família-Escola pode ser feita pelo Estado ou pela Comunidade.
O Estado, através dos projetos de Transporte Escolar, Bolsa Família, Merenda Escolar, tem conseguido aumentar significativamente
a matrícula escolar, entretanto essas ações não fazem com que professora e mãe de alunos interajam.
É por isso que, considerando-se como uma entidade comunitária, o Bangüê espera ver integrada a Escola e a Família. Faz isso
porque acredita ser fundamental que aulas e deveres ministrados na escola sejam acompanhados em casa.
Sendo evidente, para nós do Bangüê, a pouca participação da família na escola, temos adotado algumas ações mais diretas,
inclusive disponibilizando no Espaço Bangüê uma Biblioteca completa, TV, Computador e um aparelho DVD.
Uma tentativa para integração é este livro de história, Se Deus Quiser, parte de vários outros com histórias de era
uma vez, constantes da pasta Contos Vovó, do arquivo Bangüê.
A força das histórias no processo de integração Família-Escola pode gerar um efeito multiplicador, explicito por exemplo, com
Os alunos do segundo grau como Contadores e Ilustradores de Histórias era uma vez .
Se Deus Quiser
Dedico esta história aos meus netos, Noé e Francisco,que me inspiraram a escrevê-la
EXPEDIENTEAUTOR/ PRODUTOR
Viraldo Ribeiro
PROGRAMAÇÃO VISUAL/ILUSTRAÇÕESEderval Mendonça
REVISÃO DE TEXTOSIvanete Paixão
Maria Luíza Ribeiro
Se Deus Quiser
Era uma vez um casal
Que morava na roça
Dona Ecília, Seu Francisco e os meninos
Tinha mais o jegue Tiragosto e dois cachorros
5
Eles iam poucas vezes à cidade.
Ela, com os filhos para a igreja,
Ele e o jumento para negócios.
A escola era légua e meia da casa. 6
Antes de sair avisou:
- Mulher, vou na cidade pra
Vender essas coisas que estão no caçuá
E comprar mantimentos pra casa e pro sítio. 7
Certo dia,Seu Cisco se preparou
Para ir à cidade vender a colheita
Uns frangos dois porcos e, também,
Comprar coisas para dentro de casa.
- Tá bem, Francisco, mas diga Se Deus Quiser.
- Não digo nada de Se Deus Quiser
- Não faça isso não, homem. Tudo que
A gente vai fazer deve de dizer Se Deus Quiser. 8
- Não digo não! Ora que teimosia!
- Não carece se zangar; olhe, não esqueça
O badogue e a boneca dos meninos;
Botei a lista das compras no seu bolso.
9
10
Na feira, vendeu tudo que tinha levado
11
Depois de fazer tudo,
Tudo que tinha de fazer, tomou uma cachacinha
- Ninguém é de ferro, né!- disse para o vendeiro.
12
Comprou muita coisa. O caçuá ficou cheio
Cheio e tão pesado que ele nem montou para a volta.
Olhou prum lado e pro outro,
Não viu ninguém naquele fim de mundo.
E o jegue parou com as compras no lombo.
- Tou perdido!
13
No meio da estrada, tropeçou, caiu no chão.
Tentou se levantar, não conseguiu.
- Quebrei a perna, disse baixinho.
Não tinha nada que o ajudasse
Só restava mesmo vivo naquele cafundó
Uns urubus que, tranquilamente, voavam
Pra lá e pra cá, no céu, e seu jegue velho. 14
Começou a escurecer
E ele ali, sozinho,
No meio do mato,
Ninguém que o acudisse.
Aí ele pensou:
- Será que isso tudo
É por que eu não disse
Se Deus Quiser? Será?
Será castigo de Deus?
- Que fazer, meu Deus?
Tão distante de casa
Sem poder andar e, no meio do mato?
Aí bateu o desespero.
Ai ele começou a dizer bem alto:
Urubu, urubu, se Deus quiser
Vá dizer a minha mulher se Deus quiser
Que eu quebrei a perna se Deus quiser
E não posso andar se Deus quiser.
15
E repetia: urubu, urubu se Deus quiser
Vá dizer a minha mulher se Deus quiser
Que quebrei a perna se Deus quiser
E não posso andar se Deus quiser.16
Dona Ecilia, em casa assuntou:
- E Francisco, que não chega!
Foi ficando impaciente,
Saiu para o terreiro e ficou olhando o caminho.
- Ai meu Deus! Esse homem, que não chega!
17
Era um belisco do urubu
O jegue pum, se apressava
E foi assim, um belisco:
Pum, pum, pum, até em casa.
O urubu, vendo o desespero do coitado,
E o burro do jegue ali parado, desceu,
Botou o chapéu de Seu Cisco na cangalha
E beliscou o fundo do jumento.18
19
Sítio
Inhatá
Quando Dona Ecilia avistou o jegue...
- Vixe Maria, não é que é o Tiragosto Oxente/
Vem escoltado por um urubu.
Cadê meu marido? O que aconteceu?
Descarregou o animal, montou,
E retornou em cima do rastro.
A noite já vinha chegando.
O urubu se agasalhou no pé de dendezeiro,
No quintal da casa 20
Sítio
Inhatá
Pouco menos de uma légua
O marido esperava; agoniado, cheio de dor
Quando a mulher de Francisco avistou:
- Meu Deus o que terá acontecido?!
21
- O que foi que aconteceu, homem de Deus?
- Se Deus quiser, em casa eu lhe conto
Ela o atravessou nas costas do jegue.
Assim, com Seu Cisco nas costas,
Tiragosto chegou morto de cansado no terreiro.
Na porta da casa, os cachorros e as crianças
Com candeeiro aceso esperavam.
Rindo do quadro os quatro foram
Ao encontro dos três.
O urubu lá de cima observava.
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- Vou sim. Se Deus Quiser.
- Não sei o que/ não sei o que/ não sei o que.
Se Deus Quiser23
E daí em diante, tudo que falava,
Dizia Se Deus Quiser.
- Cisco,você vai consertar a cerca?