Sebenta Organologia 20160220

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    Organologia

    Considerada um ramo da Musicologia, a Organologia é a disciplina que estuda,

    descreve e classifica os instrumentos musicais tendo em conta, essencialmente, osmateriais de que são fabricados, a forma, o timbre e o modo de execução. A organologia

    afirmou-se como disciplina devido, essencialmente, aos trabalhos desenvolvidos por

    Victor-Charles Mahillon, Curt Sachs, Erich Moritz von Hornbostel e Andre Schaeffner.

    Objectivos da Organologia

     A organologia apresenta dois grandes objectivos (Malm, 1986):

    •  Compreensão da terminologia dos instrumentos originária de cada região ou país

    na sua relação com a cultura em que é utilizada.

    •  Desenvolvimento de método de estudo e de terminologia que permitam comparar

    e sistematizar a informação acerca de todos os instrumentos musicais –

    ocidentais, orientais, primitivos (existentes e não existentes).

    Instrumento musical

    “Considera-se genericamente como instrumento musical todo o dispositivo suscetível

    de produzir som, utilizado como meio de expressão musical ” (Henrique L. 2006)

    O conhecimento e a caraterização dos instrumentos implicam a abordagem de diversas

    matérias: história da música, técnicas de execução, repertório, materiais de construção,

    acústica, qualidade sonora, história da arte, etc.

    O estudo dos instrumentos musicais e da sua história faz-se com base nas seguintes

    fontes:

    •  Os próprios instrumentos

    •  Instrumentos antigos originais e instrumentos populares de origem arcaica

    •  Iconografia musical (Estudo das representações figuradas relativas à musica)

    •  Obras teóricas e tratados sobre construção de instrumentos e sobre

    execução/interpretação

    •  Alusão a obras literárias

    •  Outras fontes documentais (inventários, folhas de pagamento, etc.)

    •  A própria música escrita para os instrumentos em estudo

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    Obras teóricas

     A partir do século XVI foram escritas diversas obras teóricas – tratados sobre música e

    construção de instrumentos – que se tornaram imprescindíveis para o estudo da história

    dos instrumentos. Entre elas podemos destacar:

    •  1511 Sebastian Virdung, Musica getutscht und ausgezogen, Basileia. Esta obra é

    considerada o primeiro tratado inteiramente dedicado a instrumentos

    •  1528 Martin Agricola, Musica instrumentalis deutsch, Wittemberg. Primeira obra

    que contém instruções relativas à execução em diversos instrumentos musicais.

    •  1619 Michael Praetorius, Syntagma Musicum, Wolfenbuttel. Obra dividida em

    três volumes. O segundo volume é uma enciclopédia de instrumentos,

    constituindo o mais importante documento sobre instrumentos renascentistas, em

    grande parte devido às suas gravuras, bastante realistas, que incluem uma escala

    gráfica, permitindo a reconstituição com bastante rigor de instrumentos de que

    não possuímos quaisquer outros vestígios.

    Para além de tratados teóricos sobre instrumentos, existem diversos outros tratados e

    escritos sobre a execução de um instrumentos (ou tipos de instrumentos), que

    constituem fontes fundamentais para o estudo dos instrumentos musicais. De entre as

    que chegaram até aos nossos dias podemos destacar:

    •  1535 Silvestro Ganassi, Opera Intitulata la Fontegara (tratado sobre flauta de

    Bizel), Veneza

    •  1553 Silvestro Ganassi, Regula Rubertina (Viola da Gamba), Veneza

    •  1687 Jean Rosseau, Traité de Viole, Paris

    •  1752 Carl Philip Emanuel Bach, Versuch uber die wahre Art das Clavier zu

    Spielen, Berlim

    •  1756 Leopold Mozart, Violinschule, Ausburg

    No contexto nacional devemos destacar as obras de:

    •  1964 Ernesto Veiga de Oliveira, Instrumentos Musicais Populares Portugueses, 

    Lisboa

    •  1988 Luís L. Henrique, Instrumentos Musicais, Lisboa

    •  2002 Luís L. Henrique, Acústica Musical , Lisboa 

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    Origem e evolução dos instrumentos

    O uso de instrumentos de música é encarada hoje de forma tão natural que

    nem nos lembramos de questionar a sua origem, a razão da sua criação ou a

    sua evolução ao longo dos tempos.

     A voz humana, parece ter sido o primeiro instrumento musical. Segundo

    Schaeffer (1965), o Homem teria a certo momento sentido necessidade de

    produzir outros sons para além dos da sua voz, quer utilizando o corpo, quer

    através de qualquer instrumento.

    Os instrumentos para além de serem aparelhos produtores de som tiveram

    muitas outras funções ao longo da História. Para além da função de produzir

    som tinham, e tem ainda nos nossos dias em algumas civilizações, funções

    rituais e é-lhes atribuído poderes mágicos. Considerados atributos dos deuses,

    são imprescindíveis na realização de cerimónias e actos sociais. Noutros

    períodos deu-se grande importância ao aspecto exterior, à estética da sua

    decoração, criando-se assim instrumentos, que como peças são verdadeiras

    obras de arte (Thornton, 1982).

    “...algumas formas primitivas de objectos mantiveram-se sem alterações, outras

     precisaram de modificações”  (Wachsmann, 1969).

     A evolução dos instrumentos é semelhante à dos outros utensílios e objectos.

    Em algumas culturas africanas e orientais, por exemplo, muitos instrumentos

    mantêm hoje a sua simplicidade original de épocas remotas, não tendo sofrido

    qualquer transformação. Para esses povos tais instrumentos são de tal forma

    perfeitos e produzem uma tal sonoridade para a execução da sua música, que

    qualquer alteração é desaconselhável.

    “ A eficácia de um instrumento musical só pode ser medida pelo grau de

    satisfação que o seu som proporciona ao povo que a utiliza” (Wachsmann,

    1969).

    No que diz respeito às alterações dos instrumentos, Nikolaus Harnacourt

    realça: ”Os instrumentos não se foram tornando melhores, e cada passo, cada

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    modificação na construção dos instrumentos foi por um lado perda e por outro

    lado ganho” (Harnacourt, 2002). Tomando como exemplo a evolução do oboé e

    da flauta barrocos, pode-se verificar que houve uma grande evolução na sua

    extensão (tessitura), igualdade tímbrica, facilidade de execução, grau de

    virtuosismo. No entanto, a estrutura e o timbre destes instrumentos modificaram-

    se tanto que poderemos considerar que deram origem a outros instrumentos. 

    Fases de desenvolvimento da música instrumental

    No desenvolvimento da música instrumental ocidental podemos considerar três

    fases tendo em conta a importância relativa da voz e dos instrumentos musicais

    (Apel, 1972)

    •  De meados do sec.XIII até final do sec.XVI, período em que música vocal

    é mais importante que a instrumental. A execução nos instrumentos tinha

    como modelo a voz humana, limitando-se muitas vezes a dobrá-la: os

    seus âmbitos sonoros eram reduzidos, comparando com instrumentos

    mais tardios, uma vez que não havia necessidade de produzir notas

    impossíveis de cantar.

    •  Do séc. XVI até meados do séc. XVIII, período em que a música

    instrumental adquire importância equivalente à vocal. É nesta altura que

    os compositores começam a escrever num estilo próprio para um

    determinado instrumento ou voz, explorando ao máximo as suas

    possibilidades.

    •  A partir de meados do séc. XVII, período de maior importância da música

    instrumental. A própria voz é frequentemente tratada como um

    instrumento, sendo-lhe exigida a execução de passagens rápidas,

    intervalos muito largos, notas muito agudas e muito graves (nos extremosda sua extensão).

    De uma maneira geral até ao séc. XVII não se especificava que instrumentos

    deveriam executar uma obra. A escolha ficava ao critério dos executantes e

    dependia das suas possibilidades. A partir de então os compositores começam a

    indicar expressamente para que instrumentos escreve. A questão do compositor

    explicitar para que instrumento escreve foi um problema que subsistiu durante

    ainda algum tempo. Para que uma obra possa ser executada em diferentes

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    locais pressupõe-se a existência de um determinado conjunto de instrumentos

    de caraterísticas idênticas (afinação, extensão...)

    O desenvolvimento da técnica específica dos instrumentos está intimamente

    relacionado com o aparecimento dos luthiers  (violeiros) e dos construtores de

    instrumentos em geral. Depois do séc. XVII os instrumentos passam a obedecer

    a certos padrões estandardizados (uniformização dos teclados do órgão, cravo,

    piano, etc.) factor decisivo para o desenvolvimento da técnica instrumental.

    Mais recentemente (séc. XIX), o desenvolvimento da tecnologia permitiu

    importantes modificações nos instrumentos (em especial nos aerofones:

    invenção dos pistões e do sistema Boehm). Com o advento dos instrumentos

    eletrónicos (em finais do séc.XIX e, sobretudo a partir das primeiras décadas do

    séc.XX), surge uma nova fase: torna-se possível a criação de novos sons – não

    de origem mecânica mas de origem eletrónica.

    Caraterísticas dos instrumentos

     Ao conceber um instrumento é fundamental que a sua configuração tenha

    sempre em conta as limitações anatómico-fisiológicas do homem, principalmente

    no que se refere à forma e dimensões da mão.

    Materiais

     A escolha dos materiais de construção obedece a critérios mecânicos,

    acústicos e de ordem prática: Vejamos de seguida alguns exemplos:

    O clarinete é fabricado de ébano porque a cor escura desta madeira evita que

    se notem manchas provocadas pelo uso e a sua elevada massa volúmica inibe

    vibrações indesejáveis das paredes. Para além disso quando torneado permite

    um bom acabamento e suporta sem problema o sistema de chaves.Para a construção de um instrumento de arco, a escolha da madeira é

    extremamente seletiva, reservando-se para o tampo certas variedades de

    espruce (variedade de abeto) com fibras paralelas muito juntas. Segundo Leipp

    (1965) as madeiras preferidas pelas suas qualidades acústicas, para esta

    aplicação, provêm de árvores que cresceram em terreno silicioso, num clima

    temperado, a uma altitude de 1000 a 1500 m.

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    Campos de liberdade

    Os instrumentos são construídos de modo a que o executante possa explorar

    as caraterísticas do som: altura, intensidade e timbre. Cada uma destas

    caraterísticas apresenta um campo de variação, que se designa campo de

    liberdade (Leipp, 1996)

    Consideram-se três campos de liberdade:

    •  Campo de liberdade da intensidade  – Condiciona as possibilidades

    dinâmicas do instrumento, e diz respeito à gama de intensidades

    diferentes que este permite.

    •  Campo de liberdade da altura  – Diz respeito não apenas à extensão ou

    âmbito sonoro, mas também a rigidez da sua afinação: há instrumentos de

    afinação fixa (piano), de afinação semi-fixa (quase todos os sopros) e de

    afinação livre (a voz, os instrumentos da família do violino). Nos dois

    últimos grupos o executante pode actuar sobre a altura exata de cada

    nota, o que tem grande interesse musical, já que não o limita a um

    sistema de afinação único.

    •  Campo de liberdade do timbre  – É a capacidade que um instrumento

    tem de variar o timbre produzido. Embora se diga usualmente que cada

    instrumento tem um determinado timbre, num mesmo instrumento esta

    caraterística pode variar substancialmente em função do modo de

    execução.

    O instrumento do ponto de vista físico

    Se um violino estiver a produzir som, podemos observar a vibração das cordas,

    mas não conseguimos ver o movimento vibratório de toda a estrutura do

    instrumento. No entanto, praticamente todas as partes do instrumento vibram. Noseu todo, o instrumento comporta-se como um sistema de osciladores de grande

    complexidade.

     Analisando um instrumento musical do ponto de vista físico, podemos encará-lo

    como um sistema dinâmico, seja qual for o instrumento em questão, ele é

    constituído por três componentes: sistema excitador , sistema ressoador ,

    sistema radiante. 

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    Sistema excitador  é o mecanismo físico que gera as vibrações transformando a

    energia não-vibratória (movimento do arco, fluxo de ar) em energia vibratória.

    Ex: martelo/corda no piano, fluxo de ar/vibração labial nos metais,

    baqueta/membrana nos timbales, fluxo de ar/vibração da palheta dupla no oboé.

    Nos cordofones, os modos de pôr uma corda a vibrar são: percutir, friccionar,

    dedilhar (ou beliscar). Relativamente aos aerofones a forma de excitar a coluna

    de ar são: jato de ar/arets, palheta e vibração labial.

    O sistema excitador pode ser bem diferente consoante o tipo de energia

    envolvida na produção sonora:

    Nos instrumentos mecânicos o sistema excitador consiste em provocar

    vibrações mecânicas ou acústicas; nos instrumentos eletrónicos a origem do

    som está em osciladores eletrónicos ou em dispositivos informáticos, havendo

    necessariamente um transdutor como um altifalante para converter a energia

    elétrica em energia acústica; nos instrumentos electromecânicos utilizam-se

    elementos eletrónicos e mecânicos. Neste caso a origem do som é mecânica, e

    a eletrónica intervém, quer para modificar e amplificar esse sinal antes de ser

    radiado, quer para simular a resposta do corpo do instrumento.

    Sistema ressoador  - O sistema excitador está acoplado ao sistema ressoador,

    processo pelo qual as oscilações são amplificadas, filtradas ou modificadas. O

    ressoador é o elemento que ressoa à frequência pretendida.

    Ex: corda e caixa de violino, tubo/modos acústicos na trompa, cordas e caixa de

    ressonância na guitarra, cordas vocais/trato vocal no aparelho vocal humano.

     A fonte sonora produz, regra geral, energia em muitas frequências, algumas

    das quais são depois amplificadas e modificadas pelo sistema ressoador.

    Sistema radiante – O som dos instrumentos que chega até nós depende do seu

    sistema radiante. Este é constituído pelos mecanismos que o instrumento possuipara radiar os som, isto é, transmitir vibrações ao ar circundante originando

    assim a onda sonora que se propaga no meio até atingir os nossos ouvidos. A

    energia vibratória e acústica resultante dos sistemas excitador e ressoador é

    transformada em energia vibratória no ar (energia acústica radiante)

    Ex: Orifícios laterais e pavilhão no clarinete, tampo harmónico no piano,

    pavilhão no trombone, caixas da guitarra e violino e massa de ar interior.

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    Em todos os instrumentos existe um compromisso entre a energia necessária

    para se formarem ondas estacionárias no interior do instrumento, e a energia

    que se deve transferir por radiação para o exterior para que possamos ouvir esse

    instrumento. Se a transferência de energia do sistema radiante fosse total, a

    onda estacionária não se formava e o som que estamos habituados a ouvir num

    instrumento musical não surgiria.

    Interação dos sistemas excitador, ressoador e radiante

    Os sistemas excitador, ressoador e radiante estão acoplados, interagindo entre

    si. O modo como se influenciam fisicamente depende de muitos factores

    variando com o tipo de instrumento.

    Ex: Nos instrumentos mecânicos, a frequência do som emitido é determinada

    essencialmente pelo sistema ressoador. Nos instrumentos de sopro são os

    modos acústicos do tubo que prevalecem sobre as frequências do sistema

    excitador. Nos instrumentos auto-excitados, o ressoador interage com o sistema

    excitador controlando a energia que “precisa” receber dele.

    Nos violinos, por exemplo, existem vários sistemas oscilatórios interligados: a

    corda, o cavalete, tampo superior, alma, barra, ar no interior da caixa, tampo

    inferior, etc.

    De notar que em muitos casos uma parte do instrumento pode ter diversas

    funções: a corda do violino faz parte simultaneamente do mecanismo de

    excitação e é elemento ressoador; a lâmina do xilofone cumpre três funções

    simultaneamente: faz parte do sistema excitador e é elemento ressoador e

    radiante.

    Radiação e direcionalidade

    Devido à sua geometria (muitas vezes complexa) , e ao modo de execução, os

    instrumentos musicais não radiam a sua energia acústica de modo idêntico em

    todas as direções, apresentando caraterísticas direcionais. A radiação sonora

    varia de instrumento para instrumento e para o mesmo instrumento varia com a

    frequência. Conhecer as caraterísticas direcionais dos instrumentos e da voz

    permite otimizar a colocação dos instrumentos num conjunto musical, a

    colocação de microfones nas gravações e tirar o melhor partido da acústica deuma sala.

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    Os instrumentos musicais pela sua geometria e modo de execução são

    sistemas radiantes de grande complexidade que se afastam mais ou menos dos

    monopolos (modelo comparativo com a realidade, que parte do princípio de que

    um sistema radiante produz um campo sonoro idêntico em todas as direções),

    apresentando portanto caraterísticas direcionais. Caraterística direcional de um

    instrumento é a dependência relativamente à direção, do nível de pressão

    sonora radiada (Meyer, 1978). Esta dependência varia com a frequência.

     A partir dos estudos realizados por Jurgen Meyer verificou-se que, tendo como

    referência um nível normalizado de radiação sonora correspondente a 0 dB

    como nível máximo emitido, as caraterísticas de direcionalidade de radiação dos

    instrumentos de orquestra apresentam radiação de tipo omnidirecional (idêntica

    em todas as direcções) para as frequências mais graves de em alguns

    instrumentos. Acima de 500 Hz não existe radiação omnidirecional para nenhum

    instrumento.

    Definindo um factor estatístico de direcionalidade relativo à energia, Meyer

    conseguiu avaliar a grandeza da direcionalidade. Estabelecendo uma relação

    entre a pressão sonora gerada por um instrumento real e a pressão sonora

    gerada por uma fonte omnidirecional, radiando a mesma potência sonora, Meyer

    concluiu que quanto maior for o factor de direcionalidade menor é o ângulo

    privilegiado de radiação.

    Ex: a 3000 Hz a trompa apresenta um factor de direcionalidade aproximado de

    5. Este valor significa que a pressão medida num ponto do ângulo de radiação é

    cinco vezes maior do que a pressão medida no mesmo ponto se a radiação

    fosse omnidirecional (para a mesma potência radiada).

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    Fig.1 – Principais direções de radiação (0 dB a -3dB) A – do violino no plano horizontal.

    B - do contrabaixo no plano horizontal

    Fig.1 – Principais direções de radiação da trompa (0 dB a -3dB) A – no plano horizontal.

    B – Em dois planos verticais

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    Classificação dos instrumentos 

     Ao longo do tempo tem havido diversas abordagens à classificação dos

    instrumentos. Das obras de que há registo devemos salientar o contributo de

    alguns estudiosos para a classificação e sistematização dos instrumentos:

    •  Victor-Charles Mahillon (1880-1922) – Elaborou o catálogo dos

    instrumentos pertencentes ao museu onde era conservador (Musée

    Instrumental de Bruxelles) e no qual incluiu um importante ensaio de

    classificação dos instrumentos. Pelo rigor científico com que foi elaborado

    é considerado um trabalho pioneiro, tendo influenciado trabalhos

    posteriores sobre classificação.

    •  Erich von Hornbostel (1877-1935) – Elabora juntamente com Curt Sachs o

    sistema que é nos dias de hoje referência universal na classificação dos

    instrumentos. O sistema Hornbostel-Sachs

    •  Curt Sachs (1881-1959) – Ver no apontamento sobre Hornbostel

    •  André Schaeffner (1890-1980) – Contributo para o conhecimento das

    origens dos instrumentos e história da música instrumental na obra

    Origine des instruments de musique. Introduction ethnologique à l'histoire

    de la musique instrumentale. 

    Existem classificações dos instrumentos musicais em que os instrumentos

    musicais são agrupados em categorias gerais, baseando-se em:

    •  método de execução

    •  estrutura ou material

    •  uso ou estatuto (Malm, 1986)

    Malm considera que essas classificações reflectem as necessidades e a cultura

    de quem as elabora. Como exemplo refira-se a classificação dos instrumentosusados na música de gamelão, baseado no material de construção.

    Na denominada classificação da orquestra sinfónica, os instrumentos que a

    constituem são divididos em três grupos.

    •  Instrumentos de corda

    •  Instrumentos de sopro

      Instrumentos de percussão

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    Esta classificação serve para os instrumentos de orquestra, no entanto, não é a

    mais indicada para classificar os instrumentos em geral. É um sistema limitado já

    que não permite classificar um elevado número de instrumentos (harmónica de

    vidro, berimbau, as caixas de música, etc.)

    Para ser universal, um sistema de classificação deve basear-se num princípio

    único, lógico e coerente. Se numa classificação pretendemos incluir todos os

    instrumentos de todas as épocas e de todo o mundo – actuais ou antigos,

    eruditos ou populares, ocidentais e orientais – teremos que nos basear num

    critério uniforme para que não haja instrumentos impossíveis de classificar ou

    classificáveis em mais de um grupo. Um tal critério deve assentar em algo que

    seja essencial, indispensável a qualquer instrumento musical.

    Classificação de Hornbostel-Sachs

    Muitas foram as classificações elaboradas ao longo dos tempos. No entanto a

    classificação que é mais usada e universalmente aceite para fins científicos por

    musicólogos, antropólogos e músicos tem sido a classificação de Hornbostel-

    Sachs.

    No sistema de Hornbostel-Sachs os instrumentos são divididos em quatro

    categorias principais:

    •  Idiofones – O som é produzido pelo próprio corpo do instrumento, feito de

    materiais elásticos naturalmente sonoros, sem estarem submetidos a

    tensão.

    •  Membranofones – O som é produzido por uma membrana esticada.

    •  Cordofones – O som é produzido por corda tensa.

    •  Aerofones  – O som é produzido pela vibração de uma massa de ar

    originada no (ou pelo) instrumento.Com o aparecimento dos instrumentos electrónicos passou a considerar-se

    uma quinta categoria.

    •  Electrofones – O som é produzido a partir da variação de intensidade de

    um campo eletromagnético. Distinguem-se nesta categoria os

    instrumentos electrónicos e os instrumentos eletromecânicos. Nestes

    últimos, o som é produzido por meios mecânicos e posteriormente

    amplificado e/ou modificado eletronicamente.

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    Subclassificações 

    Embora a classificação Hornbostel-Sachs base seja relativamente simples, as

    subdivisões de cada categoria tornam-se bastante complexas devido à enorme

    quantidade de instrumentos existentes.

    Idiofones 

    Distinguem-se de acordo com a maneira como são postos em vibração.

    •  Idiofones de percussão – O som é obtido sujeitando o corpo vibrante a

    um choque. São de forma (placas, sinos, tubos) e construídos de material

    variado (bambu, madeira, pedra, vidro, metal). Para conjuntos (colecções)

    de corpos vibrantes, usam-se designações como xilofone, litofone,

    cristalofone, metalofone. Porém muitos consistem em apenas um corpo

    vibrante (gongo ou tam tam, sino, triângulo).

    Nos idiofones de percussão podemos distinguir três tipos:

    •  Idiofones percutidos  – O som é obtido batendo com a mão, baqueta,

    pau ou outro objecto no corpo vibrante. O som é proveniente da superfície

    onde se bate (vibrafone, marimba de vidro).

    •  Idiofones percussivos  – O som é obtido batendo com o próprio

    instrumento numa superfície dura. O som provém do objecto com que se

    percute (diapasão).

    •  Idiofones de concussão  – O som é obtido pelo entrechoque de dois

    corpos iguais ou semelhantes e provém da vibração de ambos. Podem

    ser usados cada um numa mão (pratos de orquestra) ou ambos na

    mesma (castanholas).

     Ainda na subclassificação dos idiofones encontramos mais quatro subclasses:

    •  Idiofones de agitamento  – Podem ser constituídos por um recipiente

    contendo grânulos que se agitam (maracas), podem estar suspensos ou

    ainda presos num caixilho (sistro)

    •  Idiofones de raspagem – Um corpo raspa outro de superfície canelada,

    dentada ou irregular. Ambos podem funcionar como corpo vibrante (reco-

    reco).

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    •  Idiofones beliscados – O som é produzido pela flexão de uma lâmina

    (berimbau, sansa).

    •  Idiofones friccionados – O som é produzido por fricção do corpo

    vibrante (violino de pregos, harmónica de vidro).

    Membranofones

    Embora a maioria dos membranofones sejam tambores (no sentido lato do

    termo), para fins de classificação consideram-se três categorias:

    •  Tambores  – Podem ser unimembranofones  ou bimembranofones,

    assumindo diversas formas: cilíndricos, cónicos, em forma de barril, taça

    ou ampulheta, com pés, longos, munidos de um caixilho, etc. Deste grupo

    os timbales (ou tímpanos de orquestra) distinguem-se pelo seu corpo

    hemisférico e por produzirem um som de altura definida.

    •  Tambores de fricção – São caraterizados pelo facto da membrana ser

    posta em vibração através de um pau ou corda que a ela está preso.

    (zamburra da beira baixa ou cuíca brasileira)

    •  Mirlitão – Deriva da palavra francesa mirliton, que designa um conjunto

    de instrumentos (também chamados de kazoos ou flautas de eunuco) que

    hoje são considerados mais curiosidades e brinquedos que propriamente

    instrumentos musicais. Uma membrana é posta a vibrar por simpatia

    através de sopro, amplificando e distorcendo o som produzido pela voz,

    conferindo-lhes um timbre anasalado. Não são propriamente geradores,

    mas apenas modificadores de sons.

    Cordofones

    Classificam-se habitualmente de acordo com a posição das cordas em relaçãoao corpo do instrumento. Para além deste aspecto podemos distinguir os

    cordofones pelo modo como as cordas são excitadas:

    •  Percutidos – As cordas são excitadas com uso de uma baqueta (santur,

    dulcimer).

    •  Dedilhados – As cordas são excitadas com o uso dos dedos ou de um

    plectro (palheta) (guitarra, harpa)

      Fricionados – As cordas são excitadas por fricção através do uso de umarco (violino, violoncelo)

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    Para distinção geral e devido às diversas formas que apresentam é usual a

    seguinte distinção:

    •  Arcos musicais – São constituídos por uma corda presa nas extremidade

    de uma vara muito arqueada. (berimbau)

    •  Liras  – As cordas estão esticadas entre a caixa de ressonância e uma

    armação no mesmo plano. (lira celta)

    •  Harpas – As cordas estão esticadas entre a caixa de ressonância e um

    braço. O plano que contém as cordas é perpendicular à caixa de

    ressonância (embora as cordas em si se encontrem oblíquas

    relativamente a ela). (Harpa)

    •  Cordofones tipo alaúde – As cordas, paralelas, estão esticadas ao longo

    de um braço, prendendo na caixa de ressonância no extremo oposto a

    esse. (Guitarra)

    •  Cordofones tipo cítara  – As cordas estão esticadas ao longo

    comprimento total do instrumento. O plano das cordas é paralelo ao plano

    da caixa de ressonância. (citara, dulcimer, saltur, saltério)

    •  Cordofones friccionados (com arco)  (família do violino, violas da

    gamba, viela). Note que organologicamente estes instrumentos são

    considerados tipo alaúde.

    •  Cordofones de teclado  – Cordofones munidos de teclado (clavicórdio,

    cravo, piano)

    Aerofones

    O principal elemento distintivo dos aerofones é a embocadura.

    Podemos considerar os seguintes grupos:•  Aerofones de aresta  (família das flautas) – Instrumentos cuja

    embocadura é uma aresta, para a qual se direcciona um jato de ar.

    Existem dois tipos de embocadura de aresta: simples (flauta transversal,

    flauta de pã) e de apito (flauta de bisel, tubos labiais de órgão).

    •  Aerofones de palheta  – O jato de ar modulado pela vibração de uma

    palheta (ou duas, vibrando uma contra a outra). Existem vários tipos de

    palhetas: livres (acordeão, órgãos de boca) ou batentes. Estas por sua

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    vez, podem ser simples (saxofone, clarinete) ou duplas (oboé, corne

    inglês, fagote).

    •  Aerofones de bocal  – Neste instrumentos o som é produzido por

    vibração labial. Os lábios no instrumento funcionam como palhetas

    duplas, razão pela qual muitos autores consideram estes instrumentos de

    palheta labial (trompete, trompa, serpentão). Note que o bocal não vibra,

    servindo de apoio à vibração dos lábios [Ac. Mus. pp.602, 609]

    Existem três categorias que pela sua especificidade são classificadas à parte:

    •  Orgão (de tubos) – Aerofone munido de um ou mais teclados, contendo

    tubos labiais (embocadura de aresta) e tubos palhetados (embocadura de

    palheta).

    •  Voz humana  – O órgão da voz também designado sistema fonador é

    constituído pelo sistema respiratório, cordas vocais e tracto vocal. Os

    cantores utilizam-no como instrumento musical, mas desempenha

    igualmente funções não-musicais, nomeadamente a comunicação verbal.

    •  Aerofones livres  – o som é produzido pelo movimento de um corpo

    sólido que se desloca no ar. O corpo vibrante não é instrumento, mas o ar

    que o rodeia (rombo, pião musical).

    Eletrofones

    No inicio do século 20 construíram-se os primeiros instrumentos musicais

    eletrofones. O sistema de rodas fónicas (nome genérico dado a vários

    mecanismos eletromecânicos geradores de som. Ex: No órgão Hammond eram

    discos eletromagnéticos) dominou a produção de instrumentos eletromecânicos

    de 1890 até à década de sessenta, constituindo praticamente sempre a base dossistemas geradores de som tanto em órgãos como noutros instrumentos de

    teclado (Davies, 1984)

    Nos instrumentos focados até aqui, a produção, amplificação e radiação do som

    eram feitas por meios acústicos e mecânicos. Nos eletrofones há intervenção da

    eletrónica, seja na produção sonora, seja na sua manipulação. Como focado

    anteriormente os eletrofones constituem uma categoria de instrumentos em que

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    o som é produzido a partir da variação da intensidade de um campo

    eletromagnético, sendo a radiação feita através de altifalantes.

    Habitualmente consideram-se dois tipos de instrumentos eletrónicos:

    •  Eletrónicos propriamente ditos

    •  Eletromecânicos

    Na realidade os eletromecânicos combinam produção sonora mecânica com

    manipulação e/ou difusão eletrónica.

     Alguns autores distinguem instrumentos eletromecânicos de instrumentos

    eletroacústicos (Davies, 1984) reservando o termo eletromecânico apenas para

    instrumentos em que o som é produzido por rodas fónicas; na categoria dos

    eletroacústicos incluem os instrumentos tradicionais cujo som é posteriormente

    processado e difundido por meios eletrónicos. Ex: violino e saxofone elétricos.

     A história dos instrumentos eletrónicos está associada a algumas invenções

    que foram aplicadas na sua concepção: roda fónica (telharmonium), válvulas

    (theremin, ondas martenot ), transístores e circuitos integrados (sintetizador

    Moog ), microprocessadores (chips) (Yamaha DX7 )

    Disposição dos instrumentos na orquestra sinfónica

     A disposição dos músicos na orquestra varia bastante e depende de diversos

    fatores: do número de músicos, do tamanho do palco, do repertório. A escolha

    está sempre direta ou indiretamente relacionadas com aspetos estéticos e

    acústicos. A mudança da posição dos músicos altera necessariamente o

    resultado sonoro devido a vários fatores, entre os quais um muito importante: as

    caraterísticas direcionais de radiação dos instrumentos.

     A escolha da disposição dos músicos é geralmente da responsabilidade do

    maestro, podendo variar muito nas suas opções. Wilhem Furtwangler daOrquestra Filarmónica de Berlim, mudava a disposição dos músicos em todas as

    salas em que atuava (Meyer, 1978). Por outro lado outros maestros optam por

    disposições que produzem melhores resultados sonoros, mantendo-a sempre.

    Disposição alemã ou europeia

    Na disposição dita alemã ou europeia, a disposição dos instrumentos segue

    esta ordem:

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    Os dois naipes de violinos em posições opostas:

    •  primeiros violinos à esquerda do maestro

    •  segundos violinos à direita do maestro

    •  Os violoncelos praticamente à frente do maestro, ao lado dos primeiros

    violinos

    •  As violas ficam entre os segundos violinos e os violoncelos

    •  Os contrabaixos do lado esquerdo atrás dos primeiros violinos

    •  Madeiras atrás dos violoncelos no alinhamento do maestro

    •  Metais atrás das madeiras

    •  Membranofones e idiofones atrás dos metais

    Esta disposição surge inicialmente na Orquestra de Mannheim (século 18) mas

    só se generaliza na segunda metade do século 19 (Meyer, 1978)

    Disposição americana

    No princípio deste século o maestro inglês Henry Joseph Wood, sugeriu um

    reordenamento da posição das cordas na orquestra. Da esquerda para a direita:

    - primeiros violinos

    - segundos violinos

    - violas

    - violoncelos

    - contrabaixos

    Esta disposição segue uma lógica de ordenamento dos instrumentos por gama

    de frequências: do agudo ao grave. Nesta disposição os chefes de naipe ficam

    numa disposição semelhante aos quartetos de cordas.

    Os defensores desta disposição conhecida como disposição americana

    argumentam que a proximidade dos primeiros, segundos violinos, violas,

    violoncelos é a mais adequada à maioria da escrita para orquestra. Apesar de

    este facto ser uma realidade, a razão histórica que levou a esta opção está

    relacionada com a influência das companhias de gravação de discos durante os

    anos cinquenta. Esta era a disposição preferida para a realização de gravações

    estereofónicas de grandes orquestras, por permitir uma melhor separação de

    frequências: agudas à esquerda e graves à direita (Eargle, 1995). Embora tenha

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    sido usada esporadicamente por algumas orquestras, esta nova disposição só se

    impôs depois da segunda guerra mundial na maioria dos países.

     Ambas as disposições tem vantagens e desvantagens, mas atualmente poucas

    orquestras mantêm a disposição alemã (Westrup, 1984). Uma importante

    exceção é a Orquestra Filarmónica de Viena.

    Instrumentos transpositores

    Grande parte dos instrumentos de sopro são transpositores, isto é, os músicos

    executam sons diferentes daqueles que lêem na partitura (no caso das

    respetivas partes não estarem transpostas). Para os designar junta-se ao seu

    nome o da tonalidade em que estão afinados  – por exemplo, clarinete em Si

    bemol , trompa em fá, etc. Quase todos os instrumentos de sopro estão

    organizados em famílias. É lógico que todos os membros de uma mesma família

    sejam concebidos de uma maneira idêntica quanto à disposição da sua

    mecânica; por outro lado, a fim de facilitar o seu estudo, é também lógico que

    uma nota produzida da mesma maneira (com a mesma dedilhação nas

    madeiras, com o mesmo harmónico e posição de pistões ou da vara nos metais)

    tenha em todos eles o mesmo nome. Mas como os vários modelos de uma

    família têm dimensões diferentes os sons produzidos vão ser naturalmente

    diversos: assim a dedilhação correspondente ao Dó fará ouvir um Dó num

    clarinete em Dó, Mi b num clarinete em Mi b, Si b num clarinete em Si b, Lá num

    clarinete em Lá. Se se quiser que todos eles produzam o mesmo som, teremos

    de o escrever transpostos em sentido oposto – Para obtermos Dó em cada um

    dos clarinetes referidos teríamos de escrever Dó (clarinete em Dó), Lá (clarinete

    em Mi b), Ré (clarinete em Si b), Mi b (clarinete em Lá). Este sistemas facilita

    muito a execução aos instrumentistas, mas em contrapartida dificulta a escrita eleitura das partituras de orquestra. Alguns compositores, como Prokofiev,

    Schoenberg, Webern e Berg, publicaram sempre partituras escritas em notas

    reais.

     A transposição é sempre feita em relação a Dó4. Assim um clarinete em Si b

    transpõe ao intervalo de 2ª M inferior, devendo o compositor escrever a sua parte

    uma 2ª M acima do que deseja ouvir; para que se toque Sol como som real, terá

    que se escrever Lá. Do mesmo modo a Trompa transpõe a uma 5ª P inferior, ou

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    seja, ao ler Dó ouve-se Fá: assim para que ela emita o som real Dó 3, terá que se

    escrever Sol3, uma 5ª P acima, portanto.

    Há um caso particular de instrumentos transpositores: aqueles que transpõem à

    oitava, em que a nota que se ouve é a que se lê mas à oitava inferior ou superior

    desta. É o caso do flautim (que soa uma oitava acima das notas escritas) e do

    contrafagote (que soa uma oitava abaixo). Nestes dois casos (como também

    acontece no contrabaixo de cordas) como os sons produzidos são muito agudos

    ou muitos graves evita-se assim o uso constante de linhas suplementares.

    Nas madeiras, o elevado número de dedilhações diferentes faz com que estes

    instrumentos, mais que qualquer outros, tenham vantagem em serem tratados

    como transpositores. A tabela seguinte indica-nos que nota se ouve ao ler o Dó 4,

    para as principais madeiras, bem como os intervalos a que transpõem. Para

    comparação, incluem-se também os instrumentos não transpositores.

    Dó5  – Flautim...........................................................(transpositor à oitava superior)

    Dó4  – Flauta.............................................................(não transpositor)

    Sol3 – Flauta Alto..................................................... (em Sol – 4ª P inf.)

    Dó4  – Oboé...............................................................(não transpositor)

    Lá3  – Oboé de Amor..................................................(em Lá – 3ª m inf.)

    Fá3  – Corne Inglês.....................................................(em Fá – 5ª P inf.)

    Mi b4 – Requinta.........................................................(em Mi b – 3ª m sup.)

    Si b3 – Clarinete Soprano, Saxofone Soprano...........(em Si b – 2ª M inf.)

    Lá3 – Clarinete Soprano em Lá..................................(3ª m inf.)

    Mi b3 – Clarinete Alto / Saxofone Alto........................ (em Mi b – 6ª M inf.)

    Si b2 - Clarinete Baixo / Saxofone Tenor....................(em Si b – 9ª M inf.)

    Mi b2 – Clarinete Barítono...........................................(em Mi b – 13ª M inf.)Dó4 – Fagote................................................................(não transpositor)

    Dó3 – Contrafagote......................................................(transpositor à oitava

    inferior)

    Também nos metais se utiliza com frequência a transposição. Indicam-se de

    seguida apenas as transposições mais comuns para os metais usados na

    orquestra sinfónica.Si b3 – Trompete.............................................................(em Si b – 2ª M inf.)

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    Dó4  – Trompete...............................................................(não transpositor)

    Fá3  – Trompa...................................................................(em Fá – 5ª P inf.)

    Dó4 – Trombone................................................................(não transpositor)

    Dó4 – Tuba.........................................................................(não transpositor,

    embora por vezes existam modelos transpositores)

    Vantagens e desvantagens

     A razão fundamental para os instrumentos serem transpositores está

    relacionada com o facto de um músico poder executar facilmente noutros

    instrumentos, de diferente tamanho, da mesma família (Henrique, 1999).

     A existência de instrumentos transpositores tem diversas desvantagens:

    •  A complexidade da escrita de uma partitura de orquestra, implica que o

    maestro terá que ler simultaneamente várias tonalidades diferentes se as

    partes dos instrumentos transpositores não estiverem transpostas.

    •  Necessidade dos compositores escreverem as partes desses

    instrumentos transpostas.

    •  Para os músicos que têm ouvido absoluto, torna-se muito confuso estar a

    tocar um som que sabem ser, por exemplo, um mi, mas estarem a ler um

    lá.

    Instrumentos de altura definida

    Os instrumentos de altura definida, são aqueles que produzem notas musicais

    específicas. Na família dos idiofones (ou seja aqueles de corpos sólidos que

    produzem sons ao serem percutidos) usa-se a distinção entre idiofones de altura

    definida e indefinida, visto haver necessidade de os distinguir dentro da mesma

    categoria. Dos de altura definida podemos destacar:Marimba, Xilofone, Vibrafone, Glockenspiel, Campanas Tubulares, Gongos

    etc.

    Obs: Alguns Gongos possuem notas específicas, nesse caso há uma leve

    confusão, pois muitos confundem, pela semelhança, os Gongos com os

    chamados Tam-Tams, que não possuem notas específicas.

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    Idiofones de altura indefinida

    Nos idiofones considerados de altura indefinida existem alguns que produzem

    sons que dão uma certa sensação de altura. Este facto gera uma fronteira difícil

    de traçar entre idiofones de altura definida e idiofones de altura indefinida.

    Idiofones de função rítmica

    De entre os idiofones de altura indefinida podemos salientar os de função

    rítmica e os de efeitos especiais.

    De função rítmica:

    •  Triângulo

    •  Gongo e Tantã

    •  Pratos

    •  Castanholas

    •  Clavas

    •  Caixa Chinesa

    •  Temple Bocks

    •  Maracas

    De efeitos especiais:

    •  Blocos de Lixa

    •  Cegarrega

    •  Guizos

    •  Estalo ou chicote

    •  Flexatone

    •  Máquina de trovoada

    •  Máquina de vento

    •  Serrote musical•  Correntes

    Membranofones de altura definida

    Nos membranofones salientam-se como membranofones de altura definida os

    timbales ou tímpanos, a tabla, e os bongos, as congas e os boobams.

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    Membranofones de altura indefinida

    Dos membranofones de altura indefinida salientamos, a caixa, o bombo, a

    pandeireta e o adufe.

    Cordofones de teclado

    Resumo histórico

     A história dos cordofones de teclado remonta à era antes de Cristo, havendo

    representações de um instrumento que se pensa ser a origem dos cordofones de

    teclado, o monocórdio ou manicórdio. Registos gráficos indicam que Pitágoras

    (c.582 a 500 a.c) se debruçou sobre o estudo das cordas vibrantes e suas leis

    usando o monocórdio como apoio a esse estudo.

    Na idade média era usado como apoio à afinação da voz e de outros

    instrumentos.

    O monocórdio pode ser usado para ilustrar as propriedades matemáticas da

    vibração das cordas. Por exemplo, quando a corda do monocórdio está esticada

    produz uma vibração numa determinada frequência que tem uma relação directa

    com o comprimento da corda. dividindo a corda ao meio e tocando-a, com o uso

    de um plectro, a corda vai vibrar a uma frequência duas vezes maior que a

    original (2:1). As metades desse comprimento irão produzir uma frequência duas

    oitavas mais acima da original, quadruplicando sua frequência (4:1) - e assim por

    diante.

    Clavicórdio

    Considera-se que o Clavicórdio teve a sua origem no monocórdio,

    possivelmente inventado por Pitágoras. Várias representações e textos

    medievais mostram que o monocórdio era bastante usado no ensino da música.O monocórdio consiste numa corda esticada ao longo de uma caixa comprida e

    que pode ser dividida no local que se desejar com o uso de uma cavalete.

     A partir do monocórdio criou-se um mecanismo que permitisse a corda ser

    delimitada em determinados pontos sem ter que se deslocar à mão o cavalete.

     Assim teriam sido criados a sanfona e o clavicórdio.

     A transformação do monocórdio em clavicórdio ocorre durante o sec.XIV,

    surgindo a designação Clavicórdio durante o sec.XV embora durante um séculoos clavicórdios se continuassem a designar por monocórdios.

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    O clavicórdio é constituído por uma caixa retangular comprida, com um teclado

    na sua parte maior (por vezes saliente). As cordas são percutidas com uma

    pequena peça de latão chamada tangente, situada na parte posterior de cada

    tecla. Após o ataque e enquanto não se larga a tecla, a tangente permanece em

    contacto com a corda, pelo que é possível variar a tensão da corda com a

    variação da tensão na tecla, produzindo um efeito semelhante ao vibrato.

    O ponto em que a tangente ataca a corda é o limite da sua parte vibrante,

    porque do lado esquerdo ela é impedida de vibrar por um abafador. Quando se

    larga a tecla a corda deixa de estar dividida pela tangente, de modo que o

    abafador acaba por extinguir o som.

     As cordas do clavicórdio (cerca de 40 cordas) eram de latão, ferro ou aço, de

    ordem dupla e eram dispostas paralelamente ao teclado. O diâmetro das cordas

    varia entre cerca de 0.6 mm (dó1) e 0.3 mm (dó5)

     As teclas brancas são feitas de buxo e as pretas em nogueira, pau-santo e mais

    tardiamente em ébano.

     A caixa é de madeira de castanho ou carvalho

    Na sua evolução podemos encontrar dois instrumentos com mecanismos

    distintos:

    - Clavicórdios ligados – em que a mesma corda podia produzir dois, três ou

    quatros sons diversos: várias tangentes batem em diferentes pontos da mesma

    corda. Este sistema foi a razão da popularidade do clavicórdio porque exigia um

    menor número de cordas o que tornava o instrumento mais pequeno, mais fácil

    de construir e de afinar. No entanto não permitia que certas notas fossem

    tocadas simultaneamente o que não era um grande problema já que se

    encontravam à distância de meio tom, logo pouco provável de serem usadas

    simultaneamente na música da altura.- Clavicórdios desligados – cada tecla tem a sua corda, ou as suas cordas, já

    que na maioria dos clavicórdios as cordas são duplas, cada tangente bate em

    duas cordas afinadas em uníssono. Cada ordem de cordas só produz uma nota.

    Os clavicórdios foram muito populares na Península Ibérica, sendo construídos

    em quantidade em Portugal durante os séc.XVI ao XVIII.

    É um instrumento de som pouco intenso o que fez com que fosse usado

    essencialmente para prática doméstica. A adaptação fácil da música de órgãopara clavicórdio fez com que fosse usado pelo organistas como instrumento de

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    estudo evitando a prática em igreja e a necessidade de outras pessoas para

    acionarem os foles do órgão.

    Cravo

    Cordofone de teclado de forma semelhante aos pianos de cauda primitivos, em

    que as cordas são beliscadas por um plectro, feito de pena de corvo ou águia, de

    couro duro ou de plástico.

     A peça fundamental do mecanismo do cravo é o martinete, uma peça de

    madeira ou plástico, colocada de maneira a poder deslizar verticalmente.

    Na parte superior do martinete existe uma lingueta (também de madeira ou

    plástico), presa por um eixo que lhe permite oscilar ligeiramente em relação ao

    plano do martinete. É nessa lingueta que se encontra o plectro.

    Martinete

    Fig.2 - 1) corda, 2) eixo da lingueta, 3) lingueta, 4) plectro, 5) amortecedor

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    No seu funcionamento, a mecânica do cravo apresenta três momentos

    caraterísticos:

    - Quando se carrega na tecla o martinete sobe e belisca a corda

    - Quando se larga a tecla o martinete desce e o plectro toca levemente na

    corda, não chegando a belisca-la, já que a lingueta oscila para trás, vencendo a

    pressão de uma mola extremamente débil (pêlo de javali)

    - Quando o martinete volta à posição inicial, um pequeno abafador de feltro

    (saliente da parte superior do martinete) pousa na corda, impedindo-a de

    continuar a vibrar.

     A extensão do cravo é de cerca de cinco oitavas embora nos cravos mais

    antigos e nos italianos a extensão seja menor (quatro oitavas ou menos)

    O cravo pode ter um ou dois teclados (manuais) e possui normalmente dois ou

    três registos. Nos modelos mais versáteis de dois teclados (ex: de tipo francês)

    existem em geral três registos, acionados por comandos em forma de botões:

    isto significa que cada nota correspondem três cordas: duas em uníssono,

    registo de 8 pés (8´) e uma à oitava aguda, registo de 4 pés (4´).

    Os martinetes de um dos registos de 8’ são acionados pelo teclado superior,

    enquanto o teclado inferior acionada o outro registo de 8’ e o de 4’. Os dois

    registos de 8’ não tem a mesma sonoridade. O do teclado superior excita as

    cordas quase na extremidade gerando um som mais intenso e mais anasalado

    que o do teclado inferior, cujo ponto de excitação se encontra mais a meio da

    corda.

     A designação de 4 e 8 pés (4´e 8´) deriva da medida inglesa pé (foot) utilizada

    para caraterizar registos de órgão e cravo.

     Ao deslocar lateralmente o bastidor (travessas de madeira, nas quais existem

    ranhuras através das quais os martinetes deslizam) que contém os martinetes doregisto correspondente estes deslocam-se lateralmente, fazendo com que o

    plectro de cada martinete encontre ou não a sua corda, conforme a sua posição

    exata. Torna-se deste modo possível pôr todos os martinetes de um registo fora

    de ação.

    Em alguns modelos existe ainda um registo de alaúde, que encosta uma série

    de pequenos feltros (que estão colados a uma barra de madeira móvel) às

    cordas de um dos registos, perto do cavalete, resultando então num timbre muitodiferente, mais seco que o normal.

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    É possível acoplar os dois teclados, de modo a que quando usamos uma tecla

    do teclado inferior a tecla do teclado superior e o respectivo martinete são

    automaticamente acionados; assim num cravo como descrito, com o

    acoplamento e todos os registos ligados, ao usarmos o teclado inferior ouvimos

    simultaneamente três sons (dois em uníssono e um à oitava superior), resultando

    uma sonoridade cheia, enquanto que no teclado superior obtemos um único

    som, pouco intenso e anasalado.

    O teclado de cima pode deslizar um pouco, havendo duas posições para ele:

    quando está para dentro faz o acopolamento dos teclados; quando puxados para

    fora torna-os independentes.

    De assinalar que quando os teclados estão acopolados o teclado de cima fica

    independente (não faz atuar os martinetes do de baixo) o que permite a

    passagem repentina a tocar em piano, contrastando com o som forte e cheio que

    se obtém do teclado de baixo.

    Constituição do cravo

    Fig.3 - 1) tecla, 2) batente do nome, 3) placa do nome 4) pinos de afinação, 5) porca, 6) trilho domartinete, 7) registros superiores, 8) corda, 9) cavalete, 10) pino de sustentação, 11)

    revestimento, 12) curvatura lateral, 13) moldura, 14) placa de som, 15) folga, 16) trilho interno

    superior, 17) martinete, 18) trilho interno inferior, 19) base, 20) cavalete, 21) pino guia, 22)

    registros inferiores, 23) prancha de afinação, 24) pino balanceador, 25) estrutura do teclado.

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    Funcionamento do martinete

    Fig. 4 - A) Martinete na posição normal. O amortecedor está encostado à corda para evitar

    a sua vibração. B) Quando uma tecla é pressionada, o martinete é levantado e o plectro toca a

    corda e começa a dobrar-se. C) O plectro tange a corda, que emite uma vibração (som). D)

    Quando a mão do intérprete liberta a tecla, o martinete cai, sob a ação do próprio peso e o

    plectro inclina-se para trás, para permitir que passe pela corda sem tocá-la.

    1) trilho superior, 2) feltro, 3) amortecedor, 4) corda, 5) plectro, 6) lingueta, 7) eixo da

    lingueta, 8) mola, 9) martinete, 10) rotação da lingueta.

     A estrutura e configuração do cravo pode variar imenso, consoante a sua

    origem. Essas variações refletem-se tanto no formato da caixa como no sistema

    de barragem do tampo, número de manuais e disposição dos registos. Em

    particular, há diferenças significativas entre os cravos italianos e os dos países

    do Norte (Flandres, França, Inglaterra, Alemanha).

    Cravo Italiano

     Apesar das descrições mais antigas do cravo terem a sua origem a norte dos

     Alpes, os cravos mais antigos que hoje subsistem são italianos.

    Embora haja provas de construtores italianos a trabalhar desde 1419, o mais

    antigo exemplar que sobreviveu foi feito em Roma no ano de 1521. Ao contrário

    das escolas flamenca, francesa e inglesa, que concentravam o fabrico de cravos

    numa só cidade, em Itália a construção de cravos estava disseminada um pouco

    por todo o país com acentuada predominância no norte.

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    O cravo italiano manteve o seu modelo de construção quase inalterado desde o

    início até ao sec.XVIII. Esse facto deve-se à importância atribuída pelos italianos

    como instrumento de contínuo, durante o período barroco (técnica em que um ou

    mais instrumentistas, frequentemente o teclado (cravo), o alaúde ou outro

    instrumento similar do período, preenchiam a harmonia com acordes apropriados

    à progressão, ou improvisavam uma linha melódica). A sua sonoridade

    transparente, clareza de articulação e os seus graves precisos prestavam-se

    magnificamente para esse fim, não havendo outro cravo que se funda tão bem

    em agrupamentos de câmara e com vozes.

     A disposição básica do cravo italiano é de dois registos iguais de 8´, com um só

    manual (teclado) e uma extensão de Dó1  a Dó5, em média, geralmente com

    oitava curta.

    Cravo flamengo

    O desenvolvimento da literatura a solo para instrumentos de tecla a norte dos

     Alpes levou ao aparecimento de um tipo de cravo mais elaborado que o italiano.

    Os primeiros instrumentos deste tipo foram feitos em Antuérpia no final do

    sec.XVI, sobretudo pela família Ruckers; nascia assim o cravo flamengo, que

    viria a influenciar todas as escolas de construção de cravos a norte dos Alpes.

    O cravo flamengo mais antigo que se conhece data de 1548. Os cravos

    flamengos que sobreviveram revelam uma fase de desenvolvimento e

    experimentação, antes de se construir um tipo bem definido de instrumento.

    Em termos estruturais o cravo flamengo tem uma estrutura mais pesada que o

    italiano, apresenta pinturas exteriores e um interior decorado a papel branco,

    com desenhos impressos a preto. Frequentemente tem pinturas ou epigrafes em

    latim – por exemplo, “Scientia non habet inimicum nisi ignorantem” (oconhecimento não tem inimigo, salvo o ignorante).

    Inicialmente o cravo flamengo tinha um único manual, uma extensão de duas

    oitavas (Dó1 a Dó5) com oitava curta e dois registos: geralmente 1x8´, 1x4´.

    Mais tarde aparece a disposição 2x8´e encontram-se ocasionalmente cravos

    flamengos com três registos (2x8´, 1x4´).

     Alguns instrumentos da família Ruckers eram feitos com dois teclados, mas

    estes eram usados para transposição, e não como um meio de obter contraste.

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    Nestes instrumentos transpositores, no enfiamento da tecla Dó do teclado

    superior encontrava-se o Fá do teclado inferior: o teclado superior acaba em Dó

    e o inferior em Fá. Este intervalo de quarta corresponde à separação média que

    normalmente existe entre os membros adjacentes de uma mesma família de

    instrumentos.

    No final do séc.XVII este sistema desaparece, passando o teclado inferior a

    acabar também em Dó e o segundo manual, em vez de servir para transpor, é

    usado para fins expressivos, contrastando em timbre e sonoridade com o inferior.

    Esta concepção foi provavelmente desenvolvida em meados do séc.XVII pelos

    construtores franceses.

     A sonoridade dos cravos flamengos é muito mais constante do grave ao agudo,

    e de uma ressonância cheia e exuberante (especialmente nos graves), mas algo

    menos clara e articulada que a do italiano.

    Diferenças entre o Cravo Italiano e o Flamengo

    Cravo Italiano Flamengo

    Escala (comprimento)

    da corda Dó4) 

    Curta (c.25cm)  Longa (c.35cm)

    Cordas Muito finas – Pouco

    tensas

    Menos finas – Mais tensas

    Plectros Pena ou Couro Pena

    Registos 2x8´

    sem dispositivo de

    seleção

    2x8´, 1x4´

    registos diferenciados

    Manuais 1 2

    Caixa Muito fina, leve e

    ressonante

    Mais pesada, sólida tampo

    muitíssimo fino

    Durante o sec.XVIII os cravos flamengos foram imitados e reconstruídos em

    França, Inglaterra e Alemanha; nessa altura começam a desenvolver-se escolas

    com características individuais em cada um dos países, mas que nunca viriam a

    atingir a sonoridade dos cravos flamencos.

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    Cravo francês

    Durante o sec.XVII não foram muitos os cravos construídos em França devido à

    grande produção de cravos existente na Flandres. No sec.XVIII os cravos

    flamengos foram modificados em Franças para se adaptarem às obras de

    Couperin e Rameau. Esta modificação chamada ravalement consistia

    normalmente no aumento das dimensões do instrumento (comprimento e

    sobretudo a largura), o que tornava possível aumentar a extensão de quatro para

    cinco oitavas (normalmente a partir do Fá0). Estes cravos eram cópias dos

    cravos flamengos, reconstruídos com dois manuais, habitualmente cinco oitavas,

    três registos e possibilidade de acoplamento.

    Cravo Ibérico

    Os cravos ibéricos têm a estrutura dos italianos com um teclado e dois registos

    de 8´. O aumento da extensão do cravo foi mais rápida na Península Ibérica,

    Itália e França que no resto da Europa. No sec.XVIII a extensão do cravo ibérico

    vai até ao Sol5, talvez por exigência de certas obras de P.e Antonio Soler e de

    Domenico Scarlatti que utilizam esta nota. O cravos ibéricos são os que

    apresentam uma maior extensão nos agudos.

    Outra das diferenças em relação aos restantes cravos europeus é uso de

    madeiras diferentes vindas do brasil, como a macacáuba, mas também madeira

    de pinho e de árvores de fruto. A cor exterior verde é também caraterística dos

    cravos nacionais.

    Dos construtores portugueses salientam-se no séc. XVIII Michelangelo Vila,

    Matias Bostem, Joaquim José Antunes e Manuel Antunes.

    Afinação Os cravos são construídos para um determinado diapasão. Os valores mais

    vulgares são para o diapasão atual (f (lá3) = 440Hz), e o chamado diapasão

    antigo, aproximadamente meio-tom abaixo(f (lá3) = 415Hz).

    Radiação 

    O som que o cravo radia depende essencialmente dos modos vibratórios do

    tampo harmónico. A vibração exerce uma força dinâmica no cavalete que porsua vez excita o tampo harmónico.

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    Estudos realizados do comportamento acústico do cravo, por análise modal

    (modos vibratórios), indicaram 36 modos próprios entre os 0 e 600Hz. Em alguns

    destes modos a caixa do instrumento apresenta uma amplitude de movimento

    significativa.

     A radiação sonora é bastante uniforme na gama de frequências 50-2000Hz o

    que resulta da excitação pelos parciais das cordas de um grande número de

    modos de ar e da estrutura do instrumento (tampo e caixa).

    Os bons cravos apresentam graves intensos, no entanto segundo Kottick

    (1995) este facto é devido a sons diferenciais auriculares uma vez que as

    fundamentais são pouco intensas.

     A própria concepção dos cravos, de estrutura muito leve não permite que as

    cordas vibrem com muita energia.

    Repertório para cravo e clavicórdio

     A individualização dos repertórios para cravo e clavicórdio é impossível de

    fazer, pois até meados do sec. XVIII não era costume especificar a que

    instrumento de teclado – cravo, clavicórdio ou órgão – se destinava uma

    composição. São comuns designações genéricas como: Obras de Música para

    Tecla, Arpa y Vihuela (António de Cabezón, 1578).

     As distinções feitas hoje são sempre baseadas no tipo de música: as

    composições litúrgicas (missas, hinos, etc.) são destinadas a órgão, enquanto as

    danças (allemande , sarabande, menuets) sob a forma musical de toccata,

     perlúdio, fantasia, canzona e ricercari   (que mais tarde deram origem à fuga 

    no período barroco) se adaptam mais a cravo ou ao clavicórdio.

    Considerações de ordem estilística podem ser decisivas para determinar o

    instrumento a que dirigia determinada composição: certos ricercari empregamno tema notas muito longas, que só podem ser sustentadas pelo órgão.

    Toda música de tecla escrita até 1500 é destinada ao órgão. No séc. XVI há já

    um considerável repertório de danças para tecla, que são consideradas o início

    da literatura para cravo.

     António Carreira, Manuel Rodrigues e Pedro Araújo são os principais

    compositores portugueses de música de tecla dos séc. XVI e XVII.

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    Barroco

    No período barroco continuam a predominar as variações e as danças, mas

    certos tipos de música de órgão, como a tocata, ricercar , canzona e a fuga,

    começam gradualmente a ser compostos num estilo que torna também viável

    executá-las em cravo.

    Dos compositores que mais contribuiu para a literatura de cravo e do clavicórdio

    foi o compositor alemão Johann Sebastian Bach, com as obras Cravo Bem

    Temperado (48 prelúdios e fugas registadas em 2 volumes), as  6  Suites

    Francesas e as 6 Suites Inglesas e numerosos concertos para um, dois e três ou

    quatro cravos com orquestra, para além de inúmeras peças didácticas: as

    Invenções  a duas e três vozes, os pequenos prelúdios e fugas do Livro de

    Wilhelm Fiedmann Bach I e as danças do Livro de Anna Magdalena Bach. 

    Em França há uma importante escola de cravistas, podendo destacar Jacques

    Champion de Chambonnières e Jean-Philippe Rameau.

    Da escola francesa podemos ainda destacar:

    •  Louis Couperin (1626-1661) - Foi o primeiro de uma dinastia de músicos

    da escola francesa.

    •  François Couperin (1668-1713) - Deu um grande contributo com a obra

    L’ art de Toucher de Clavecin (1716), em que explica detalhadamente as

    dedilhações e a execução dos ornamentos, além de outros aspectos da

    técnica do instrumento.

    Em Inglaterra destacam-se os nomes de Henry Purcell e Friedrich Haendel

    Em Itália podem salientar-se os nomes de Domenico Scarlatti (1685-1757),

     Alessandro Scarlatti, Bernardo Pasquini e Francisco e Benedetto Marcello

    Na Peninsula Ibérica podemos destacar em Portugal Carlos Seixas (1704-1742)

    e em Espanha padre Antonio Soler.

    Pré-Classicismo

    Desde 1730 até cerca de 1770 medeia o período pré-clássico que se pode

    dividir em duas fases, cujos estilos são por vezes coincidentes: a do estilo

    galante e a do estilo da sensibilidade. Neste período muitos compositores

    italianos compuseram grande quantidade de sonatas para cravo e clavicórdio: é

    o caso de Rossi, Paradisi, Sacchini, Rutini. De uma maneira geral durante afase da sensibilidade cultiva-se mais o clavicórdio, enquanto na fase galante os

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    compositores preferem o cravo. 

    Repertório

    Durante os estilo da sensibilidade (a que estão ligados os filhos de Bach, em

    particular Carl Phillip) assiste-se ao fim da literatura para cravo e clavicórdio,

    começando a grande ascensão do piano, que rapidamente os irá eclipsar.

    Carl Phillip Emanuel Bach (1714-1788) escreveu numerosas sonatas

    destinadas ao clavicórdio, num estilo de grande originalidade. Além disso

    publicou em 1753 “Ensaio sobre o verdadeiro método de tocar o instrumento de

    tecla”em que são dadas importantes indicações quanto a dedilhações,

    ornamentos e realização de baixo continuo.

    Das escolas europeias podemos salientar:

    Escola Italiana: Girolamo Frescobaldi (1583-1643)

    Escola Flamenga: Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621)

    Escola Alemã: Johann Jakob Froberger (1616-1667)

    Piano

    Resumo histórico

    O piano é um cordofone de teclado com uma mecânica de funcionamento

    extremamente complexa (só superada pelo órgão de tubos), apresentando

    caraterísticas completamente novas em relação aos cordofones de teclas que

    lhe antecederam (clavicórdio e cravo).

    No entanto a originalidade da mecânica do piano é posta em causa por alguns

    estudiosos, visto que um instrumento que apareceu no séc.XIV e séc.XV, o

    Echiquier d’Angleterre ou Dulce Melos, (e sobre o qual pairam algumas dúvidas

    e falta de dados objectivos), poderia ter um princípio mecânico semelhante.Em 1709 Bartolomeu Cristofori criou em Florença um instrumento a que deu o

    nome de Gravicenbalo col Piano e col Forte (Cravo com Piano e Forte). Pelo ano

    de 1726 os instrumentos de Cristofori eram já bastante desenvolvidos e até finais

    do séc. XVIII não sofreram grandes alterações. Apesar das possibilidades

    apresentadas, não tiveram grande aceitação até Mozart começar a tocar e

    escrever para piano. A partir de 1770 o piano tem uma rápida expansão e a

    escrita de certos compositores (Beethoven e mais tarde Liszt) obriga a certasalterações e aperfeiçoamento na sua construção.

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    Em 1711 Scipione Maffei escreve um artigo sobre o piano depois de uma visita

    à oficina de Cristofori. Esse artigo aparece em 1725 traduzido em alemão, o que

    deve ter despertado o interesse em Gottfried Silbermann (1683-1753) e outros

    construtores alemães que começaram então a construir instrumentos similares.

    Silbermann um dos maiores construtores de orgãos, cravos e clavicórdios do

    séc.XVIII, foi o primeiro a construir pianos na Alemanha. Para além dele também

    os seus alunos Zumpe e Stein, foram importantes construtores de pianos.

    Johann Zumpe introduz o piano em Inglaterra em 1760 e desenvolveu um

    modelo muito simples, de caixa retangular. Este modelo teve muita aceitação,

    principalmente depois do uso do piano retangular por Johann Christian Bach.

    Johann Andreas Stein desenvolveu por volta de 1770 uma mecânica chamada

    vienense  ou alemã. Os seus pianos foram muito apreciados e elogiados por

    Mozart.

    Paralelamente, John Broadwood e outros construtores aperfeiçoam uma

    mecânica diferente (conhecida como inglesa), da qual deriva a mecânica dos

    pianos atuais.

    Para obter mais som, Bradwood usava cordas mais pesadas e mais tensas, o

    que implicava uma caixa de estrutura mais sólida. Em 1825 Alpheus Babcock

    inventa o quadro de ferro. Babcock inventou também um sistema de cordas

    cruzadas, passando umas por cima de outras em dois planos paralelos.

    O desenvolvimento do piano divide-se em 3 partes:

    •  Até ao fim do séc.XVIII não há grandes transformações, sendo as de

    maior importância verificadas ao nível da mecânica do instrumento.

    •  Durante a maior parte do séc.XIX assiste-se a transformações profundas

    •  Nos últimos cem anos, por outro lado, verifica-se uma tendência para aestandardização.

    Desenvolvimento da mecânica e estrutura

    •  Por volta 1770 Johann Andreas Stein (1782-1792) desenvolveu uma

    mecânica chamada de vienense ou alemã 

    •  Paralelamente em Inglaterra John Broadwood e outros construtores

    aperfeiçoam a mecânica inglesa, da qual deriva a mecânica dos pianosatuais

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    •  Em 1825 Alpheus Babcock inventa o quadro de ferro. Babcock cria

    também o sistema de cordas cruzadas, passando umas por cima das

    outras em dois planos paralelos.

    •  As novidades introduzidas por Babcock foram apresentadas em 1855 num

    exposição pela Steinway &Sons, de Nova York.

    Tipos de mecânica

    •  A mecânica simples que se encontra nos primitivos pianos de mesa

    ingleses

    •  A mecânica dupla (ou inglesa) usada por Silbermann e Bradwood,

    entre outros

    •  A mecânica vienense ou alemã usada por Streicher e Stingl, entre

    outros

    Pianoforte

    Os dois tipos de mecânica (vienense e inglesa) originaram instrumentos

    notáveis. No Inicio dos séc.XIX, o pianoforte vienense é artisticamente superior

    ao seu contemporâneo inglês, essencialmente devido a ter começado a ser

    aperfeiçoado desde mais cedo. No entanto, é na mecânica inglesa que se baseia

    a mecânica dos pianos actuais.

    O pianoforte é visto hoje em dia como um instrumento bem diferente do piano

    atual, com caraterísticas próprias e não tanto como um seu mero antepassado.

    Com graves menos profundos e agudos menos brilhantes, menos possibilidades

    dinâmicas que o piano atual, o pianoforte é por muitos considerado o instrumento

    que mais convêm ao repertório clássico, para o qual estas caraterísticas são

    desnecessárias.

    Aperfeiçoamentos durante o séc. XIX

    •  1818 – Sébastien Érard completa o fabrico do sistema de escape duplo

    (sistema que permitia que uma nota fosse repetida mesmo que a tecla

    não voltasse completamente à sua posição inicial).

    •  1825 – Alpheus Babcock introduz o quadro a ferro e o sistema de cordas

    cruzadas.

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    •  1826 – Henri Pape substitui o couro usado no revestimento dos martelos

    por feltro.

    •  1840 – a extensão do piano passa a ser de sete oitavas

    •  1880 – são acrescentadas mais três notas no extremos agudo, atingindo-

    se uma extensão de Lá-1 a Dó7. É este o âmbito de praticamente todos os

    pianos que se constroem, no entanto há pianos da marca Bosendorfer

    que tem uma extensão de 8 oitavas que vão até Dó -1 (16 Hz). Bartók

    chegou a usar este registo sub-grave.

    Construção

    Para cada oitava tem doze teclas, sendo cada oitava dividida em função de

    temperamento igual (esquema de afinação musical adotado actualmente no

    ocidente, em que a oitava é dividida em 12 semi-tons exatamente iguais, ou seja,

    cada semi-tom tem um intervalo de 2 1/12, o que corresponde a 100 cents.

    Destas 12 teclas, são brancas as que correspondem à escala diatónica Dó M e

    pretas as que correspondem aos meios-tons intercalares.

     As cordas são em aço para os agudos e revestidas a cobre (bordões) para os

    graves. Cada martelo percute três cordas nos médios e agudos, dois bordões

    nos médios-graves e um único bordão, bastante grosso no extremo grave.

    O uso de três codas para os agudos é usada não só para obeter uma maior

    intensidade mas também para criar um sistema complexo de batimentos lentos

    (devido à afinação não rigorosa) que tornam o som timbricamente mais rico.

     A tensão das cordas é da ordem das 10 toneladas nos pianos verticais e de 12

    toneladas nos pianos de cauda. Por esse facto os pianos actuais tem um quadro

    de ferro, de modo a evitar deformações e a manter a afinação.

    Por baixo das cordas, ou atrás delas (nos verticais) encontra-se o tampoharmónico. Trata-se de uma placa de madeira (de epícea) que ocupa toda a

    superfície do instrumento, e que é responsável pela boa amplificação e radiação

    de todas as frequências.

    Diferenças em relação ao clavicórdio

    •  A corda é percutida por um martelo revestido a feltro e não por uma

    tangente

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    •  Depois de percutida a tecla o martelo volta imediatamente para trás,

    graças ao mecanismo de escape (duração de contacto do martelo e corda

    é de 0,002s)

    •  Para cada nota existe um abafador individualizado (exceto na zona

    sobreaguda), que está pousado sobre as cordas (pelo efeito de gravidade

    nos pianos de cauda, graças a uma pequena mola nos pianos verticais)

    •  A acção dos abafadores é comandada pelo teclado: quando se carrega

    numa tecla o abafador desencosta das cordas respectivas, para que

    possam vibrar livremente: quando se larga a tecla, ele volta a pousar

    sobre as cordas.

    Os pedais

    Na sua maioria os pianos são munidos de dois pedais. O pedal esquerdo

    chamado de surdina ou una corda, aciona mecanismos diferentes no piano de

    cauda e vertical mas com o mesmo efeito prático – a diminuição do volume

    sonoro e a modificação do timbre –

    No piano de cauda quando se carrega no pedal esquerdo a mecânica desloca-

    se para a direita, de modo a que nos médios e agudos o martelo em vez de três

    cordas percute apenas duas, na região médio-grave percute uma em vez de

    duas e nos bordões graves bate descentrado. Nos pianos verticais, em vez

    disso, o ponto de repouso dos martelos é aproximado das teclas, encurtando o

    trajeto dos martelos até às cordas. 

    O pedal esquerdo permite que os abafadores, em bloco, desencostem das

    cordas. Isto permite um melhor legato, mas mais importante cria um timbre

    diferente, já que para além do som das cordas percutidas vêm juntar-se muitos

    outros sons resultantes da vibração por simpatia de outras cordas.Por vezes há um pedal, ao meio, que não tem sempre a mesma função

    •  Em alguns pianos de cauda existe um pedal sostenuto (sustaining pedal),

    que torna possível, por exemplo, prolongar uma nota (ou acorde) grave

    enquanto se utilizam as duas mãos no registo médio e agudo.

    •  Na maioria dos pianos verticais existe um pedal de estudo, com um

    entalhe que permite prendê-lo em baixo. Este pedal comanda uma cortina

    de feltro que se intercala entre os martelos e as cordas. O volume assimfica substancialmente reduzido.

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    •  Há ainda casos raros de pianos verticais com um pedal pseudo-sostenuto:

    trata-se de um pedal igual ao pedal direito, mas que atua apenas sobre as

    três oitavas mais graves.

    Mecânica

    O complexo conjunto de dispositivos e sistemas de alavancas responsáveis

    pela excitação e extinção das vibrações das cordas do piano tem o nome de

    mecânica. Uma das componentes fundamentais da mecânica é uma peça

    articulada em forma de L, o escape, que após impelir o martelo a percutir a

    corda, desapoia a noz   fazendo com que o martelo volte atrás graças ao

    movimento lateral provocado pelo parafuso do escape que atua como um

    batente.

    Fig.5 - Mecânica de um piano de cauda moderno (Steinway & Sons). As áreas a sombreado

    representam componentes em feltro, os traços escuros representam revestimentos em couro

    Fases do movimento da mecânica

    Fig.6 - A  - Ao baixar a tecla sobe o abafador, a báscula e o escape que empurra a noz

    acelerando o martelo em direção à corda

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    Fig. 7 - B - A haste de baixo do escape bate no parafuso, o escape faz uma pequena rotação e a

    noz do martelo fica apoiada no balanço (também chamado alavanca de repetição) e não no

    escape. A partir daqui o martelo move-se livremente.

    Fig.8 - C  – Depois de bater na corda, o martelo ressalta para baixo e a noz cai sobre o balanço

    pressionando-o. O martelo apoia no descanso. Ao soltar um pouco a tecla o descanso liberta o

    martelo, o que permite à alavanca de repetição empurrar o martelo até que o escape fique

    novamente sob a noz, possibilitando o início de um novo ciclo.

    Mecânica Vienense e Inglesa

    No final do séc.XVIII desenvolveram-se dois tipos de mecânica com concepção

    substancialmente diferente: A alemã e a inglesa. Como atrás referido a mecânica

    atual deriva da concepção inglesa embora a vienense tenha sido utilizada até

    1909, nomeadamente nos pianos Bosendorfer.

     As diferenças essenciais entre as duas mecânicas são:

    •  Mecânica vienense: o martelo e o sistema de escape estão situados na

    extremidade posterior da tecla

    •  Mecânica inglesa: o martelo situam-se a um terço da tecla necessitando

    de uma alavanca intermédia.

    O toucher da vienense é mais leve e delicado.

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    Nos pianos verticais os martelos estão na vertical, enquanto que nos pianos de

    cauda eles se encontram na horizontal, atacando as cordas num movimento de

    baixo para cima, voltando ao ponto de repouso pela ação da gravidade. Deste

    modo, a mecânica dos pianos de cauda torna-se mais simples e viável, pois a

    força da gravidade permite dispensar várias molas (o que também evita o

    aparecimento de desigualdades mecânicas decorrentes do uso).

    Fig. 9 - Piano de cauda

    Fig.10 - Piano vertical

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    Repertório para piano

    O registo da composição mais antiga escrita para piano é uma coleção de 12

    sonatas de Ludovico Giutini di Pistoia, publicada em 1732, com a designação

    “cravo com piano e forte, vulgarmente chamados de martelos”

    Só quarenta anos mais tarde é que surgem composição especificamente

    designadas para piano.

    Período Clássico (1750 a 1810)

    É no período clássico que o piano suplanta definitivamente o cravo.

    Este período é caracterizado pela submissão dos compositores à vontade dos

    seus mecenas (geralmente membros da monarquia e da corte real). As suas

    obras respeitavam e refletiam as emoções da corte e a imaginação criadora não

    era bem vinda se representa-se a quebra com as estruturas musicais

    tradicionais.

    Casos distintos são os de Haydn e Mozart. O primeiro aceitou esse trato e

    cumpriu com as indicações, enquanto que Mozart não aceitou esses limites e foi

    relegado para o esquecimento acabando a vida como mendigo.

    Beethoven foi o primeiro a exigir ser respeitado enquanto artista. Nascia com

    ele o período Romântico.

    Compositores do período clássico

    •  Emanuel Bach

    •  Johann Christian Bach

    •  Mozart

    •  João Domingos Bontempo (Português)•  Beethoven (nas suas obras iniciais)

    Período Romântico (1810 – Final do séc.XIX)

    Os compositores do período clássico tinham por objetivo atingir o equilíbrio

    entre a estrutura formal e a expressividade. Os românticos vieram desequilibrar

    tudo. Procuravam uma maior liberdade de forma, um nível expressivo mais

    intenso e vigoroso. Muitos compositores românticos eram ávidos leitores etinham grande interesse pelas outras artes, relacionando-se estreitamente com

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    escritores e pintores. Não é raro uma composição romântica ter como fonte de

    inspiração um quadro visto ou um livro lido pelo compositor.  Os compositores do

    período romântico buscam inspiração em variadas temáticas: terras exóticas e o

    passado distante, os sonhos, a noite e o luar, os rios, os lagos e as florestas, as

    tristezas do amor, lendas e contos de fadas, mistério, a magia e o sobrenatural.

     As melodias tornam-se apaixonadas, semelhantes à canção. As harmonias

    tornam-se mais ricas, com maior emprego de dissonâncias.

    Compositores do período romântico

    •  Beethoven

    •  Schubert

    •  Chopin

    •  Lizt

    •  Schumann

    •  Brahms

    Período Moderno

     A história da música no século XX constitui uma série de tentativas e

    experiências que levaram a uma série de novas tendências, técnicas e, em

    certos casos, também a criação de novos sons, tudo contribuindo para que seja

    um dos períodos mais empolgantes da história da música.

    Enquanto nos períodos anteriores se pode identificar uma tendência para um

    único estilo comum a todos os compositores da época, a partir do séc.XX

    assiste-se a uma mistura complexa de muitas tendências.

    Marcada pelo experimentalismo e pela tendência contra-romântica na música

    do séc.XX podemos encontrar diferentes tendências e técnicas de composição,podendo destacar de entre elas:

    Impressionismo Nacionalismo do Séc. XX ExpressionismoMúsica Concreta Serialismo Música EletrónicaInfluências do Jazz Neoclassicismo Música Aleatória

    Caraterísiticas

    Existem características ou marcas de estilo que definir uma peça como sendo

    do séc.XX. Por exemplo:

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    •  Melodias: São curtas e fragmentadas, angulosas, em oposição às longas

    sonoridades românticas. Em algumas peças, a melodia pode ser

    inexistente.

    •  Ritmos: Vigorosos e dinâmicos, com amplo uso de ritmos sincopados;

    métricas inusitadas, como compassos de cinco e sete tempos; mudança

    de métrica de um compasso para outro, uso poliritmia.

    •  Timbres: A maior preocupação com os timbres leva a inclusão de sons

    estranhos, intrigantes e exóticos; fortes contrastes, às vezes até

    explosivos; uso mais enfático da secção de percussão; sons

    desconhecidos tirados de instrumentos conhecidos; sons inteiramente

    novos, provenientes de aparelhagens eletrónicas e fitas magnéticas.

    Compositores do período moderno

    •  Debussy

    •  Ravel

    •  Éric Satie

    •  Rachmaninov

    •  Stravinsky

    •  Bartók

    •  Boulez

    •  Messiaen

    Período Pós I Guerra Mundial

    Certos compositore