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SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Os tempos atuais nos trazem mudanças que são cada vez mais aceleradas. Estas se refletem em nosso cotidianoexigindo-nos adaptações e assimilações constantes. O nosso jeito de falar, trabalhar, assim como de estudar sãoalterados. Não estudamos mais como antigamente. Hoje, temos um elemento-chave que faz parte, permanentemente,desta atividade - o ‘computador’. Os currículos escolares se modificam para acompanhar essas mudanças e comoum dos frutos de todas essas transformações temos uma nova metodologia de ensino que é o Ensino a Distância –EaD.
Dentro desse contexto descrito acima, a Sociologia, como outras disciplinas, inicia sua trajetória “on-line” ao seulado.
Tendo em vista essas novas necessidades, procuramos organizar uma disciplina que propicie a você – aluno – umaauto-suficiência, isto é, que você seja capaz de conduzir o seu processo de aprendizagem, fazendo a leitura domaterial, interagindo com o conteúdo e se auto-avaliando ao final de cada unidade de estudo.
Se por um lado a Sociologia é considerada uma ciência nova, pois nasceu no século XIX, por outro lado, é consideradatambém uma ciência dinâmica que incorpora novas questões, constantemente, ao seu objeto de estudo e ampliasuas relações com outras ciências. E é essa visão dinâmica que enfatizamos em nossos estudos, procurando nãosó transmitir conhecimentos, mas estimular a reflexão, contribuindo para fomentar a produção de conhecimentosatravés da pesquisa.
Dessa forma, iremos introduzi-lo no estudo das principais problemáticas que fazem parte do arcabouço teórico destadisciplina, assim como não deixaremos de examinar seus principais pensadores que montaram os diferentesparadigmas no intuito de embasá-lo para a compreensão da realidade social aplicando a teoria à prática através deexemplos de sua vida real.
As profundas mudanças que vivenciamos hoje conferem à Sociologia um especial papel analítico, daí a importânciado seu ensino na formação profissional de diferentes áreas, contribuindo para que este profissional possa construiruma postura crítica e consciente deste quadro, assumindo um papel ativo na busca de uma sociedade mais justa esolidária.
Estaremos presente para auxiliá-lo nesta tarefa quando for preciso, por isso vamos em frente, cumprindo passo apasso as atividades propostas, administrando bem o seu tempo e alcançando todos os prazos!
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
UN
IDA
DE 1
A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA
COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo
uma análise do contexto sócio-histórico que propiciou o seu surgimento e, a
partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de
estudo.
OBJETIVO DA UNIDADE:
• Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o
surgimento da Sociologia como ciência, identificando seu objeto
de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas
neste contexto, a fim de que possa participar do processo social
conscientemente.
PLANO DA UNIDADE:
• O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da
Sociologia.
• A crise do Feudalismo.
• A formação dos Estados-Nacionais.
• O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina.
• A Sociologia se estabelece como Ciência.
Bem-vindo à primeira unidade de estudo.
Sucesso!
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA
SOCIOLOGIA
O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo
processo histórico que tem início na transição feudal-capitalista, quando se
dá a desagregação da sociedade feudal no
século XV e vai até o período das revoluções
burguesas - revolução industrial inglesa e a
revolução francesa no século XVIII, marcando
a consolidação da sociedade capitalista.
Respondendo a essas indagações,
estaremos com os nossos estudos bem
encaminhados... Sendo assim, vamos em
frente!
A CRISE DO FEUDALISMO
Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a
nova ordem pudesse ganhar espaço, o Feudalismo teria que extinguir todas
as suas possibilidades de reprodução.
A partir dos séculos XV e XVI podemos observar que grandes
transformações ocorreram na Europa e, conseqüentemente, no mundo todo.
Esses acontecimentos desestruturaram o
sistema feudal existente e deram origem a
um novo sistema – o capitalismo. A grande
crise do feudalismo desenvolveu-se na
Europa Ocidental no século XIV, atingindo
indiscriminadamente campo e cidade,
disseminando a fome, epidemias e as
guerras, podendo ser explicada por um
conjunto de fatores que trouxe, como
conseqüência, a superação do sistema
feudal.
A economia medieval encontrava-se em
crise face à baixa produtividade agrícola,
ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilização inadequada de técnicas
agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de alimentos,
gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias.
Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da
região do Mar Negro uma epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a
morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianças
de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um
castigo de Deus.
A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus
rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento
dos campos.
Capitalismo: sistema
social baseado no capital, no
dinheiro.
SOCIOLOGIA APLICADA
A mortalidade trazida pela fome e a peste
negra foi ainda ampliada pela longa Guerra
dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada
pela disputa das regiões de Bordéus e
Flandres, entre França e Inglaterra.
A conjuntura de epidemias, de aumento
brutal da mortalidade e de superexploração
camponesa que caracterizou a Europa do
século XIV trazendo a crise, foi sendo superada
no decorrer do século XV, com a retomada do
crescimento populacional, agrícola e comercial.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS
Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental
concentrarmos-nos na aliança entre a burguesia e o rei, que resulta na formação
dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação territorial a partir de
práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade
dos reis.
Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto
da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente
dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados
os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os
seus títulos nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias
de regimentos militares.
Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos
para a manutenção de exércitos profissionais permanentes, necessários à
manutenção da ordem e do poder. Além disso, a centralização política e
administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos,
medidas e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia.
Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em
Portugal e durante o século XV na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no
sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual o rei detém o poder
total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as
regiões que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a
Itália e a Alemanha, a tendência foi para o
fortalecimento do poder político dos
governantes locais.
MERCANTILISMO E A EXPANSÃO
COMERCIAL ULTRAMARINA
Veremos agora como os europeus –
pioneiramente Espanha e Portugal - chegam
a regiões nunca antes alcançadas e quais
os seus verdadeiros interesses. A expansão
territorial implementada pela política
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios
denominados “colônias” e estas passando a cumprir o papel de
complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes
geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”,
ficava assegurada a exclusividade das transações mercantis estabelecidas
entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação também
conhecida como monopólio comercial.
Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar:
• expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados
fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra;
• busca incessante do lucro, através da manutenção de uma
balança comercial de superávit, ou seja, exportar sempre mais
do que importar;
• idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo
montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional;
• absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno
do rei que constituía-se na autoridade maior do sistema, com o
Estado controlando a política econômica em favor dos interesses
burgueses.
As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo
comercial dando origem à acumulação primitiva de capitais, pré-condição
necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo.
Secularização
É importante agora, percebermos as mudanças do
entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transição
feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos
centros urbanos, mais crítico e sensível, representando um
pensamento antropocêntrico – o homem como o centro de
todas as coisas e racionalista – crença ilimitada na capacidade
da razão em dar conta do mundo - movimento resgatado da
antiguidade greco-romana, que chocava-se com a postura
teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade
Média.
Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a
realidade, isto é, a razão passou a ser considerada o elemento
principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção
anticlerical apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter
à autoridade divina imposta pela Igreja Católica.
Renascimento
O Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura
européia entre os séculos XIV e XVI, originário da Itália e irradiado por toda
a Europa.
SOCIOLOGIA APLICADA
Está associado ao humanismo e fudamentado nos conceitos dacivilização da antiguidade clássica, numa demonstração demenosprezo pela Idade Média, considerada como “noite de mil anos”ou “escuridão”.
O Renascimento representou uma nova visão de mundo queatendia plenamente aos interesses da burguesia em ascensão. Suasprincipais características eram o racionalismo, crença na razão comoforma explicativa do mundo em oposição à fé; o antropocentrismo,colocando o homem no centro de todas as coisas, em oposição aoteocentrismo e o individualismo, em oposição ao coletivismo cristão.
O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica e a observação, emoposição ao princípio da autoridade.
A explicação da origem italiana do Renascimento e doHumanismo, se dá em função da riqueza das cidades italianas, dapresença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Romae da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito
para a divulgação das novas idéias.
Fases do Renascimento
O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases,correspondentes aos séculos XIV, XV e o XVI.
Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, maisespecificamente na cidade de Florença, pólo político, econômico e cultural daregião. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus representantes. Suascaracterísticas gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia dapintura medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos;
Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela penínsulaitálica, atingindo seu auge. Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci,Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os três últimos o “triosagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiraçãogreco-romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo eexperimentalismo;
Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século ummovimento universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência.Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a Contra-reforma instaurao Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram LudovicoAriosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael eMichelangelo.
O Iluminismo
O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no séculoXVII e teve o seu apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século dasLuzes”, que enfatizava o domínio da razão e da ciência como formas deexplicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosase o misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porémera corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam quese todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais paratodos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contraas imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contráriosao absolutismo do rei, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero.
O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a RevoluçãoFrancesa, assim como na Inglaterra e em diversos países da Europa onde aforça dos protestantes era maior, chegando a ter repercussões, mesmo emalguns países católicos.
Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro datradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização doHomem e da Razão, contribuindo também para o avanço do capitalismo eda sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de umasociedade “livre”, com possibilidades de transição de classes e maisoportunidades iguais para todos.
Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e danatureza que deveriam ser extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam
Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem escrúpulos o que,
em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização.
Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704),ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempoatravés do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade depensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-JacquesRousseau (1712-1778), ele defendia a idéia de um estado democrático quegarantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu adivisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot(1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaramuma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da
época.
O outro lado da moeda
Estas transformações foram acompanhadas, nos séculos XVII e XVIII,
por mudanças políticas, tais como: a Revolução Inglesa, a Revolução
SOCIOLOGIA APLICADA
Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações
nessas sociedades e influenciaram a mudança de outras no mundo a fora.
Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na
produção da terra passa a ter suas bases na produção industrial e trouxe
consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho assalariado. Este
também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de
representatividade nos governos.
Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava
completamente transformada precisando se organizar para atender às novas
necessidades.
Revolução Industrial Inglesa
Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os
homens, configurando as formas do mundo contemporâneo.
No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande
transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das
técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de
Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas
permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição
dos preços dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros.
Esse momento revolucionário de passagem da energia humana,
hidráulica e animal para motriz, é o ponto culminante de uma revolução
tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser encontradas nos
séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos
Estados-Nacionais e a adoção da política mercantilista. A acumulação de
capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados
proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da
produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente,
passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas
para a produção mecanizada nas fábricas.
Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das
chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise
do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial.
Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos
Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios
iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade
Contemporânea.
A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns
fatores contribuíram para isso:
• o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal
em meados do século XVIII, liberalizando a indústria e o
comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e
aumento da produtividade em um curto espaço de tempo;
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
• a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres”
marcou o fim do uso comum das terras, expulsando o homem
do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que
não tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para
as cidades, gerando forte concentração de mão-de-obra urbana,
o que favorecia às indústrias;
• a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em
seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as
máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também
consideráveis reservas de minério de ferro, principal matéria-
prima utilizada neste período.
• a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as
fábricas, comprar matéria-prima, máquinas e contratar
empregados por causa da grande taxa de poupança que existia
na época;
• a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas
técnicas e instrumentos de cultivo.
A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano,
composto de homens, mulheres e crianças, submetido a jornadas de trabalho
diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fábricas.
Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado
em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o
proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força de trabalho, que
vendiam aos capitalistas em troca de um salário.
O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas
ou crédito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do
capital, controlam o processo de produção, contratam ou demitem os
trabalhadores, conforme seus interesses.
As formas de transformação de matérias-primas em produtos são:
trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada
pelo homem há milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilização
de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as etapas da produção,
desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos,
não havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção
- oficina e ferramentas simples - possuindo também o produto final de seu
trabalho.
trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a
indústria. Neste processo, podemos observar o uso de máquinas simples e
a divisão social do trabalho (especialização do trabalhador) com cada
trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção
do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com
interferência direta no processo produtivo, passando a comprar a matéria-
prima e a determinar o ritmo de produção.
indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela
Revolução Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo
SOCIOLOGIA APLICADA
produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição de
operários – empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a
manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos meios de
produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o
produto final não mais lhes pertencem.
Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos:
Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século
XVIII até as últimas décadas do século XIX, com a predominância do trabalho
intensivo com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, com baixa
remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias
têxteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral.
Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas
do século XIX até o final da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho
cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a
partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O
petróleo vai substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de
energia e a indústria automobilística como maior atividade produtiva.
Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução
Técnico-Científica, tem início a apartir da segunda metade da década de 1970,
sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e tecnologia avançada.
As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de
ponta são a informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a
biotecnologia. Neste período, temos uma diversificação quanto às fontes de
energia – hidrogênio, energia solar, etc.
A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos
transportes. Logo vieram a locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com
que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando os preços dos
produtos e aumentando o consumo.
Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior
produtor e exportador de produtos manufaturados e a população dos centros
urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que havia
nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a
construção dessas máquinas – carvão e ferro.
E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia
investiu na inovação tecnológica e as máquinas foram cada vez mais se
aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o mundo,
estabelecendo laços de dependência entre as nações.
O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força
utilizando-se fortemente da mão-de-obra feminina e infantil e a energia a
vapor cresce em lugar da energia humana.
Revolução Francesa
A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do
feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade
baseada na economia de mercado.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do
Antigo Regime e o fim da monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo,
propiciou a ascensão da burguesia ao poder político, fortalecendo as condições
essenciais para a consolidação do capitalismo.
Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e
para o Ocidente, a Revolução Francesa teve início em 1789 e se prolongou
até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo, baseando-se
no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios
democráticos e liberais da Independência Americana(1776).
O êxito do processo revolucionário francês, encerrando os privilégios
da nobreza e do clero, serviu de motivação para novos movimentos em
direção ao igualitarismo em outras partes da Europa.
A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes
períodos: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção
e o Directório.
Causas da Revolução
A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores
sociais, econômicos, políticos e, pelo menos um desses fatores, é apontado,
pela maioria dos historiadores, como determinante para o desencadeamento
do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os
abusos e privilégios do regime absolutista.
A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do
século XVIII, é marcada por uma rígida hierarquia e estratificação social. A
hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em função do
nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens
ou estados.
De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam
dos privilégios e da riqueza produzida pela sociedade francesa.
O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja
Católica, originário da nobreza, que em 1789 representava 2% da população
francesa.
A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como
outros nobres como: condes, duques, marqueses, aproximava-se de 1,5%
dos habitantes. Controlava a maior parte das terras, concentrando em suas
mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros
privilégios e não pagava impostos.
Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava
pelo peso de impostos que pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres
e do clero.
O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores
urbanos (a maioria deles desempregados), artesãos e camponeses - sans
cullotes.
SOCIOLOGIA APLICADA
O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista
de novos mercados na Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular
riquezas muito rapidamente. A confortável posição que desfrutava no campo
dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia
ocupava na vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura
social francesa barrava a ascensão da burguesia, uma vez que os privilégios,
honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto clero.
Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de
impostos e os gastos descontrolados da nobreza eram considerados
obstáculos aos interesses burgueses.
Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a
esmagadora maioria da população francesa viviam em precárias condições
de vida e de existência, ou seja, em quase absoluta miséria.
No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente
uma pequena parcela podia manter-se com a produção da terra. A elevada
carga de impostos relegou boa parte dos pequenos proprietários a subsistir
trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a
produção artesanal.
Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe
trabalhadora operária uma melhoria das condições de vida e de trabalho. A
classe operária convivia com salários muito baixos e com altos níveis de
desemprego.
O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado
pela crise econômico-financeira do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias
as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da cidade.
Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores
urbanos desejavam novas formas de vida e de trabalho.
As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser
buscadas nas contradições dos interesses estabelecidos pelo regime
absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja, os
interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa
sufocada por uma organização social aristocrática e decadente fizeram
despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens, as
diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e
fraternidade, o povo foi atraído para a causa
revolucionária.
A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO
CIÊNCIA
Tendo em vista todos estes
acontecimentos, Augusto Comte (1798-
1857) defende uma proposta para resolver
os problemas da sociedade de sua época que
viria através da reforma intelectual do homem
alcançando a reforma das instituições.
Liberalismo: corrente
política de pensamento que
defende a liberdade do indi-
víduo frente ao
intervencionismo do Estado.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no
século XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém,
suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pública contra os abusos
do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).
A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela
sociedade capitalista e vai assim enfatizar as ações altruístas entre os
homens.
O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas
partes que a constituem desempenham funções que se orientam para a
preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia sofrer revoluções
violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire
do Liberalismo, pregando o planejamento social.
Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima
objetividade possível.
A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também
os republicanos no Brasil, como podemos observar, o lema na bandeira
nacional “Ordem e Progresso”.
A especificidade do conhecimento sociológico
As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus
métodos.
E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma
sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de
individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também, praticam atos
considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações
que só podem ser entendidas através das relações que se estabelecem
entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não podem ser entendidas
isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois
suas causas são encontradas não no individual, mas sim na sociedade.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como
conhecimento científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia
Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos muito que estudar!
Positivismo: corrente fi-
losófica cujo iniciador foi
Augusto Comte. Defendia a
ciência acima de tudo.
Laissez-faire: expressão
francesa que transmite uma
das essências do Liberalismo
que dizia: deixai - fazer, ou
seja, o homem era livre para
fazer o que quisesse.
Objeto de estudo: aquilo
que vai ser estudado pelo ci-
entista.
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
EXERCÍCIOS
9
SOCIOLOGIA APLICADA
UN
IDA
DE 1
A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
1. A partir da transição feudal-capitalista, surge uma nova postura intelectual
do homem, nova forma de ver a realidade e uma nova maneira de interpretar
as coisas sagradas, que o colocava numa condição de liberdade, rompendo
com a submissão diante da autoridade divina:
a) existencialismo;b) positivismo;c) marxismo;d) racionalismo;e) tomismo.
2. A Sociologia é a ciência que estuda as ações humanas sob qual perspectiva?
a) As ações humanas fora do contexto histórico-social;b) As ações humanas comparativamente às demais espécies animais;c) As ações humanas tomadas isoladamente;d) As ações humanas tomadas em coletividade;e) As ações humanas tomadas em estado de natureza.
3. Dentre os pensadores iluministas, destacamos Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778), que defendia a idéia de:
a) procura do lucro individual sem escrúpulos;b) centralização política em torno de um Estado forte;c) intolerância religiosa;d) um estado democrático que garanta igualdade para todos;e) divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário.
4. A Crise Geral do Feudalismo do século XIV, só foi superada em função da:
a) retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial;b) linha de crédito bancária obtida junto aos reis;c) Revolução Industrial Inglesa;d) fatores naturais dada a fé religiosa do povo;e) união entre todos os segmentos sociais em torno do Pacto de Moncloa.
5. A produção industrial trouxe consigo uma nova forma de expressão do
trabalho:
a) servil;b) escravo;c) voluntário;d) assalariado;e) terceirizado.
10
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
6. A Revolução Industrial inglesa, utiliza em seus momentos iniciais, que tipos
de energia?
a) Energia humana e energia eólica;b) Energia humana e energia a vapor;c) Energia humana e energia nuclear;d) Energia humana e energia elétrica;e) Energia humana e energia solar.
7. Que tipo de motivação, inserida na lógica do capitalismo, levou a classe
burguesa a investir em “inventos”?
a) Acompanhar o ritmo de produção da classe trabalhadora;b) Retração da produção para atendimento do mercado interno;c) Atender as exigências dos reis;d) Renovação do parque industrial;e) Racionalização e aumento da produção.
8. Com a Revolução Industrial, que tipo de fenômeno populacional se deu
na Inglaterra?
a) Aumento vertiginoso das populações urbanas;b) Envelhecimento assustador da população adulta;c) Aumento da população feminina, uma vez que o número de óbito en-
tre os homens aumentou em face da exploração desumana do traba-lhador;
d) Alta na taxa de mortalidade infantil, num processo de contaminaçãoproduzida pelas máquinas;
e) Aumento da taxa de mortalidade, tanto dos homens quanto das mu-lheres, em razão de que, as condições de trabalho no sistema capita-lista, se apresentavam mais hostis do que as verificadas no sistemafeudal.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO
1. O que foi o Renascimento e quais as suas principais características?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
2. O que foi o “Pacto Colonial” e quais as partes envolvidas neste acordo?
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___________________________________________________________
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1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
25
UN
IDA
DE 2
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como
resposta intelectual para as “crises” decorrentes da implantação e da
consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda unidade
de estudo, vamos a Sociologia Clássica.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos
na Sociologia do século XIX e no início do século XX. São eles Émile Durkheim,
Max Weber e Karl Marx.
PLANO DA UNIDADE:
• Uma nova ciência: a Sociologia.
• A Sociologia de Émile Durkheim.
• A Sociologia de Karl Marx.
• A Sociologia compreensiva de Max Weber.
Bons estudos!
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
26
UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA
As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo
duplo processo revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa,
no século XVIII - fizeram emergir um novo gênero de “questões sociais” que
despertou o interesse de filósofos e intelectuais em investigar a sociedade.
A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma
nova ciência – a Sociologia.
Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles
procurou em estudos que realizaram, interpretar as questões sociais
fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos três, de maneira diversa,
estavam comprometidos com o propósito de apresentar respostas para a
crise da sociedade moderna. Suas obras apresentam distintas interpretações
das crises sociais de uma nova sociedade que nasce mergulhada em
contradições profundas.
Para Durkheim(1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna
estava associada à fragilidade moral da época em orientar com eficácia a
conduta dos indivíduos. A sociedade só poderia manter sua estrutura e
equilíbrio se reconstituísse uma nova moral comum que pudesse reunir os
membros da coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar
o bom funcionamento da sociedade, reconstruindo novos hábitos e valores,
instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a “normalidade social”
e preservando, assim, a ordem social.
Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do
seu tempo eram as contradições insolúveis engendradas pela sociedade
capitalista. O antagonismo entre as classes sociais constituía a realidade
concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os homens
era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua
tarefa de conhecer a realidade, deveria converter-se em um instrumento
político para a transformação social.
A contribuição dos trabalhos realizados por Weber(1864-1920) tornou-
se referência para o desenvolvimento da Sociologia. Polêmico pelas críticas
ao positivismo de Durkheim e ao Materialismo Histórico de Marx, Weber foi
capaz de compreender as particularidades das ciências humanas realçando
o caráter particular de cada formação social e histórica, realçando aquilo
que ela apresenta de específico.
Caro aluno, saiba que quando buscamos empreender uma análise da
vida social, nos deparamos com um conjunto significativo de pressupostos
teóricos, que nos levam a diferentes abordagens e concepções metodológicas
também variada. A marca principal da análise sociológica do fenômeno social
é a pluralidade de abordagens e contribuições teóricas que nos informam
como a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa
diversidade teórica nos permite construir diferentes imagens do fenômeno
estudado e apontam para diferentes direções.
SOCIOLOGIA APLICADA
27
A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como
fundador da Sociologia pela sua preocupação de dotar a Sociologia de bases
científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros grandes teóricos
desta ciência.
Representante do Positivismo, uma das preocupações centrais de
Durkheim foi estabelecer a Sociologia como uma disciplina rigorosamente
científica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria assentar-se em uma
base sólida afastando-se de todas as orientações que transformavam a
investigação social numa dedução de fatos particulares, mergulhada em
generalidades abstratas, interpretando a realidade social sem critérios e
limites impostos pela ciência.
Autor de obras essenciais para o pensamento sociológico, como: A
Divisão de Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O
Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1909).
Em sua visão, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de
estudo de seu interesse; definir um objeto de investigação próprio, específico,
distinto do objeto analisado por outras ciências.
Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim
afirmava que a Sociologia deveria estudar fatos essencialmente sociais e
procurar interpretá-los sociologicamente.
O Fato Social como objeto de investigação da Sociologia
Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social.
Mas, o que são fatos sociais? Afirma Durkheim (1970, p.87-88):
“Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo
dos fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos.
A questão é tanto mais necessária quanto as pessoas se servem
desta qualificação sem grande precisão. Empregam-na correntemente
para designar, mais ou menos, todos os fenômenos que ocorrem na
sociedade, mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades,
pouco interesse social. Mas, partindo desta acepção, não há, por assim
dizer, acontecimentos humanos que não possam ser apelidados de
sociais. Cada indiví-duo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade
tem todo o interesse em que estas fun-ções se exerçam regularmente.
Assim, se estes fatos fossem sociais, a sociologia não teria um objeto
que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir-se-ia com os da biologia
e da psicologia.
Mas, na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado
de fenômenos que se distinguem por características distintas dos
estudados pelas outras ciências da natureza.
Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou
cidadão, quando satis-faço os compromissos que contraí, cumpro
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
28
deveres que estão definidos, para além de mim e dos meus atos, no
direito e nos costumes. Mesmo quando eles estão de acordo com os
meus próprios sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta
não deixa de ser objetiva, pois não foram estabelecidos por mim, mas
sim recebidos através da educação. Quantas vezes acontece
ignorarmos os pormenores das obrigações que nos incumbem e, para
os conhecer, termos de recorrer ao Código e aos seus intérpretes
autorizados! Do mesmo modo, os fiéis, quando nascem, encontram já
feitas as crenças e práticas da sua vida religiosa; se elas existiam
antes deles, é porque existiam fora deles. O sistema de sinais de que
me sirvo para exprimir o pensamento, o sistema monetário que
emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo
nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha
profissão, etc. funcionam independentemente do uso que deles faço.
Tomando um após outro todos os membros de que a sociedade se
compõe, pode repetir-se tudo o que foi dito, a propósito de cada um
deles.
Estamos, pois, em presença de modos de agir, de pensar e de
sentir que apresentam a notável propriedade de existir fora das
consciências individuais.
Não somente estes tipos de conduta ou de pensamento são
exteriores ao indivíduo, como são dotados dum poder imperativo e
coercivo em virtude do qual se lhe impõem, quer ele queira quer não.
Sem dúvida, quando me conformo de boa vontade, esta coerção não
se faz sentir ou faz-se sentir muito pouco, uma vez que é inútil. Mas
não é por esse motivo uma característica menos intrínseca de tais
fatos, e a prova é que ela se afirma desde o momento em que eu
tente resistir. Se tento violar as regras do direito, elas rea-gem contra
mim de modo a impedir o meu ato, se ainda for possível, ou a anulá-
lo e a restabelecê-lo sob a sua forma normal, caso já tenha sido
executado e seja reparável, ou a fazer-me expiá-lo, se não houver
outra forma de reparação. Tratar-se-á de máximas puramente morais?
A consciência pública reprime todos os atos que as ofendam, através
da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas
especiais de que dis-põe. Noutros casos, a coação é menos violenta,
mas não deixa de existir. Se não me submeto às convenções do mundo,
se, ao vestir-me, não levo em conta os usos seguidos no meu país e
na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto
produ-zem, ainda que duma maneira mais atenuada, os mesmos efeitos
de uma pena propria-mente dita. Aliás, a coação não é menos eficaz
por ser indireta. Não sou obrigado a falar francês com os meus
compatriotas, nem a usar as moedas legais, mas é impossível fazê-lo
de outro modo. Se tentasse escapar a esta necessidade, a minha
tentativa falharia miseravelmente. Se for industrial, nada me proíbe
de trabalhar com processos e métodos do século passado, mas, se o
fizer, arruíno-me pela certa. Mesmo quando posso libertar-me dessas
regras e violá-las com sucesso, nunca é sem ser obrigado a lutar
SOCIOLOGIA APLICADA
29
contra elas. Mesmo quando são finalmente vencidas, ainda fazem sentir
suficientemente a sua força constrangedora, pela resistência que opõem.
Não há inovador, mesmo bem sucedido, cujos empreendimentos não
acabem por chocar com oposições deste tipo.
Aqui está, portanto, um tipo de fatos que apresentam
características muito especiais: consistem em maneiras de
agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um
poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem. Por
conseguinte, não poderiam ser confundidos com os fenômenos
orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem com os
fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos
indiví-duos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de
fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais.
Tal qualificação convém-lhes, pois, não tendo o indivíduo por substrato,
não dispõem de outro para além da sociedade, quer se trate da
sociedade política na sua íntegra ou de um dos grupos parciais que
engloba: or-dens religiosas, escolas políticas, literárias, corporações
profissionais, etc. Por outro lado, a designação convém unicamente a
estes fatos, visto a palavra “social” só ter um sentido definido na
condição de designar apenas os fenômenos que não se enquadrem em
nenhuma das categorias de fatos já constituídas e classificadas. Eles
são, portanto, o domínio próprio da sociologia.”
A partir dessa definição, podemos, então, afirmar que são três as
características básicas que permitem reconhecer os fatos sociais.
A primeira característica dos fatos sociais é a exterioridade. Segundo
Durkheim, o indivíduo ao nascer já encontra regras sociais, morais, legais,
religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas gerações anteriores que
deverão ser internalizadas a sua existência para que ela possa viver em
sociedade. São maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que
existem independente de sua vontade individual, ou seja, são fatos sociais
exteriores ao indivíduo. Ele não é consultado para decidir se agirá ou não
em concordância com esse conjunto de regras. O fato do indivíduo pertencer
a uma determinada sociedade ou grupo social implica na adesão obrigatória
de regras que servirão para orientar sua conduta e comportamento.
Portanto, além de exteriores, os fatos sociais são coercitivos, ou seja,
dotados de um poder imperativo que se impõem ao indivíduo pela força.
Essa é, pois, a segunda característica dos fatos sociais - exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior. Todo conjunto de regras: jurídicas, morais,
religiosas, financeiras, lingüísticas, etc., constituídas pela sociedade é imposto
coercitivamente ao indivíduo. Cabe a ele conformar-se às regras socialmente
instituídas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua vontade
particular.
Segundo Durkheim, um fato social é reconhecido pelo poder de coação
externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a
presença desse poder é reconhecida, por sua vez, pela existência que o fato
opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violentá-lo.
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
30
Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade,
pode não querer usar a moeda corrente em seu país ou pode não querer se
subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio, mas certamente, suas
atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá
sobre seu comportamento.
Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira
característica deve ser considerada – a generalidade. Será considerado
social o fato que é geral, ou seja, o fato que se manifesta pela sua natureza
coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os hábitos,
as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de
comunicação que definem o fluxo das correntes migratórias e de escoamento
da produção.
Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo
de fenômenos – fatos sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de
coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos;
e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de
uma determinada sociedade.
O Método Sociológico
Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem
ao pesquisador a escolha de um método que permita investigar de maneira
cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a realidade social, o
pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das
ciências naturais, considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos
que pertencem ao reino social, com especificidades próprias que os
distinguem dos fenômenos da natureza.
Segundo Durkheim, a explicação científica dos fatos sociais exigiria
do pesquisador um compromisso com a objetividade e a neutralidade em
relação aos fenômenos observados. A regra fundamental para observação
dos fatos sociais era considerá-los como coisa, isto é, como realidades
exteriores ao indivíduo.
O distanciamento do pesquisador em relação ao objeto investigado é
condição essencial para garantir a cientificidade de seu estudo. O sociólogo
deve ser capaz de observar a realidade dos fatos sem “contaminar” a
interpretação com suas prenoções, seus preconceitos, sentimentos e
concepções de mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer
verdadeiramente o objeto em questão. O sociólogo deve procurar interpretar
a realidade tal como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse, fazendo
prevalecer visões permeadas de valores e preconceitos.
A Sociedade
Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências
naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que cada
“órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade,
SOCIOLOGIA APLICADA
31
desempenha uma função específica para a preservação e a coesão do todo.
Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois
estados em que a sociedade pode se encontrar: o normal e o patológico.
Para ele, os fenômenos que apresentam uma regularidade no meio
social e que estão previstos em sua estrutura e organização deverão ser
interpretados como normais. De outra forma, a sociedade poderá apresentar
comportamentos que podem ameaçar a integridade e a harmonia sociais,
colocando em risco o consenso que deverá prevalecer. Tais situações são
consideradas “patológicas”, anormais. Considerava Durkheim que a
sociedade poderia apresentar, como um “corpo vivo” que é, alguma disfunção.
Depois de instalada, a “doença” deveria ser tratada para não provocar
prejuízos maiores e comprometer a integridade e “bom” funcionamento da
ordem social. Os fenômenos sociais “patológicos” deveriam ser tratados
para restabelecer a “saúde” e o equilíbrio da sociedade.
Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado
patológico porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno
funcionamento. A crise que se encontrava a sociedade capitalista, não era
de natureza econômica, como defendiam os socialistas, mas sim uma certa
fragilidade moral e a ausência de regras de conduta e comportamento que
correspondessem à nova realidade, capazes de frear o ímpeto de destruição
e de desordem sociais e guiar com eficácia a vida dos indivíduos.
A Sociologia de Karl Marx
Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo
seleto de intelectuais que integram o pensamento teórico da Sociologia
Clássica.
Autor de obras fundamentais para a teoria sociológica, como o Manifesto
do Partido Comunista(1848), Contribuição à Crítica da Economia Política (1859)
e, sem dúvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento
do sistema capitalista – O Capital (1867). A questão central que orientou os
trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo
histórico que o gerou e a sua evolução.
Em sua trajetória intelectual, contou com a colaboração de outro
importante intelectual alemão – Friederich Engels(1820-1903).
Comprometidos com a não-preservação da ordem socioeconômica do sistema
capitalista, Marx e Engels não estavam interessados em dotar a Sociologia
de um caráter científico, institucionalizá-la como disciplina acadêmica, como,
aliás, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torná-la instrumento político de
reflexão e crítica da sociedade capitalista, denunciando as contradições e os
antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de
proporcionar os fundamentos teóricos para a transformação revolucionária
desse modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionário,
defendiam a adesão da ciência a uma proposta de ação política prática. Para
Marx, a ciência deveria converter-se em um instrumento de transformação
radical da sociedade.
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
32
A análise socioeconômica do capitalismo
Enquanto para análise positivista, as crises sociais e os conflitos entre
trabalhadores e empresários na sociedade capitalista eram interpretados
como fenômenos passageiros, passíveis de serem superados pela inclusão
de um sistema de regras para orientar a conduta dos indivíduos. A análise
marxista procurou realizar uma crítica radical a esse modelo histórico de
sociedade, apontando suas contradições e antagonismos.
Comprometidos com ideal revolucionário de transformação social, Marx
e Engels identificavam a luta de classes como a principal característica da
sociedade capitalista. Concordavam que a crescente divisão de trabalho na
sociedade moderna era a principal fonte de exploração, opressão e alienação.
Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista:
A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias
tem sido a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre
de corporação e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos,
em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma
transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição
das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte,
uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala
graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios,
cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores vassalos,
mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes,
gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade
feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir
novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às
que existiram no passado.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia caracteriza-se
por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se
cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes
classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
(Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In: FERNANDES, Florestan. Marx e Engels –
História. São Paulo: Editora Ática, p.365-366)
Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser
analisados a partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe
social e alienação.
Marx partiu da idéia de que a sociedade estava dividida em classes,
cada uma com regras e condutas apropriadas, mas que estão inseridas em
um único sistema que é o modo de produção capitalista.
SOCIOLOGIA APLICADA
33
Para Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção
definem duas classes principais: a burguesia – classe dominante detentora
dos meios de produção (propriedades, máquinas, ferramentas, capital, etc.),
e o proletariado que destituído dos meios de produção, oferece a sua força
de trabalho em troca de salário.
Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria
desigualdade social, uma vez que a concentração de riquezas se daria pela
exploração dos trabalhadores. O capitalismo se revelaria, portanto, em um
sistema “selvagem”, pois o trabalhador produziria mais para o seu empresário
do que o seu próprio custo para a sociedade. O capitalismo se apresentaria
necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-
valia a lei fundamental do sistema.
O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus
meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc.), provocando
um “estranhamento” entre o trabalhador e seu trabalho. O homem aliena-
se de sua própria essência que é o trabalho. A divisão social do trabalho no
capitalismo promove, então, a alienação, uma vez que o trabalhador deixa
de ter o domínio do processo de trabalho e dele não se beneficia.
As crises e conflitos em que se envolviam a burguesia e o proletariado
decorriam, em grande medida, da oposição de interesses entre as classes
sociais. No capitalismo, os trabalhadores estão submetidos à dominação
econômica, uma vez que se encontram destituídos da propriedade dos meios
de trabalho. A enorme capacidade de produzir do regime capitalista não foi
capaz de reduzir a miséria da grande massa da população.
Os trabalhadores, no entanto, não estavam submetidos somente a
dominação econômica. A dominação estendia-se ao campo político, ideológico
e jurídico da sociedade. Para Marx, o instrumento de que dispõe a burguesia
para fazer prevalecer seus interesses e privilégios é o Estado. Através do
Estado e dos seus aparatos repressivos (exércitos, polícias), a classe
dominante impõe seus interesses ao conjunto da sociedade, fazendo-a
submeter-se às regras políticas. Além do aparato repressivo, a classe
dominante dispõe do aparato jurídico – o Direito – para garantir, através do
estabelecimento de leis que sua vontade prevaleça.
Materialismo Histórico
Para interpretar o capitalismo e compreender a história das sociedades
humanas, Marx desenvolveu uma teoria – o Materialismo Histórico, que
procurava explicar qualquer tipo de sociedade, em todas as épocas, através
de fatos materiais, essencialmente econômicos.
Na Contribuição à Critica a Economia Política, afirmava Marx (1957, 4-5):
“O resultado geral ao qual cheguei, e que, uma vez adquirido, serviu
de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado brevemente
assim: na produção social de sua existência, os homens entram em
relações determinadas, necessárias, independente de suas vontades,
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
34
relações de produção que correspondem a um grau de
desenvolvimento determinado de suas forças produtivas materiais. O
conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica
da sociedade, base concreta sobre a qual se ergue uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem formas de consciências sociais
determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o
processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser; é inversamente seu
ser social que determina sua consciência. A um certo estágio de seu
desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram
em contradição com as relações existentes, ou, o que não é senão a
expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais
se moviam até então. De formas de desenvolvimento de forças
produtivas que eram, essas relações tornaram-se obstáculos. Abre-
se, então, uma época de revolução social. A mudança na base
econômica transtorna mais ou menos rapidamente toda a enorme
superestrutura. Considerando-se estes transtornos, torna-se
necessário sempre distinguir entre a desordem material – que pode
-constatar de forma cientificamente rigorosa - das condições de
produção econômica e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas
ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os
homens tomam consciência desse conflito, levando-o às últimas
conseqüências. Da mesma forma que não se pode julgar um indivíduo
pela idéia que faz de si mesmo, não se poderia julgar uma época de
transtornos pela consciência que ela tem em si mesma; é necessário,
ao contrário explicar esta consciência pelas contradições da vida
material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as
relações de produção. Uma formação social nunca desaparece antes
que sejam desenvolvidas todas as forças produtivas que ela possa
conter, e nunca relações de produção novas e superiores tomam seu
lugar antes que as condições de existência materiais destas relações
surjam no seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se
coloca problemas que possa resolver; pois, olhando isso de mais perto,
poder-se-á observar sempre que o problema só surge onde as
condições materiais para resolvê-lo já existem ou estão pelo menos
em vias de existir. Em geral, os modos de produção asiático, antigo,
feudal e burguês moderno podem ser qualificados de épocas
progressivas da formação social-econômica. As relações de produção
burguesas são a última formação contraditória do processo de produção
social, contraditória, não no sentido de uma contradição individual,
mas de uma contradição que nasce das condições de existência
social dos indivíduos; entretanto, as forças produtivas que se
desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo
as condições materiais para resolver esta contradição. Com esta
formação social termina então a pré-história da sociedade humana.”
Nessa passagem destacamos algumas questões centrais que serviram
de suporte teórico ao materialismo histórico:
SOCIOLOGIA APLICADA
35
1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua história, porém não
as constroem em condições por eles escolhidas, determinadas pela sua
vontade. A vida em sociedade estabelece relações sociais que não foram
geradas pela vontade individual. A ação do indivíduo no mundo que o envolve
obriga-o a contrair relações, as relações sociais. Elas determinam o ser
social, ou seja, o indivíduo é o resultado das forças econômicas e das relações
sociais que atuam sobre ele.
Para viver, os homens têm de inicialmente transformar a natureza,
arrancando dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a
vida simplesmente natural. É pelo trabalho que os homens transformam e
dominam a si próprios e a natureza. Assim, é pelo trabalho, através dos
instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou máquinas, as técnicas
empregadas para produzir e a divisão do trabalho, que os homens produzem
a sua existência.
Portanto, as relações fundamentais de qualquer sociedade são as
relações de produção. As relações de produção são as formas pelas quais
os homens se organizam para executar a atividade produtiva. São as relações
fundamentais dos homens com a natureza e dos homens entre si na sua
atividade produtiva.
As relações de produção articulam-se a três elementos: as condições
naturais (clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela própria natureza,
as tecnologias e a divisão do trabalho. Esses três elementos constituem as
forças produtivas.
No curso da história, cada um desses elementos pode sofrer
modificações e aperfeiçoamentos. Por exemplo, a exploração e o uso de
novos recursos naturais exigem o aperfeiçoamento tecnológico e a invenção
de novas técnicas para atingir o máximo de produção. Por outro lado, além
da incorporação de novos instrumentais e tecnologias, uma nova organização
da divisão do trabalho também será exigida, determinando novos padrões
de formação e aperfeiçoamento da capacidade técnica da força de trabalho.
Portanto, as forças produtivas e as relações de produção são fatores
essenciais para organização de toda atividade produtiva realizada em
sociedade. A forma como cada uma existe e se desenvolve vai determinar o
que Marx chamou de modo de produção.
2) Defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades
humanas, Marx distingue as etapas da história humana a partir dos modos
de produção. São quatro os modos de produção: o asiático, o antigo, o feudal
e o capitalista.
Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser
reunidos em dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista
são representantes da história do Ocidente. Enquanto o modo de produção
asiático caracteriza uma civilização distinta da do Ocidente. O modo de
produção antigo é caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal
pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho assalariado.
Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
36
homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma
formação social baseada na exploração do homem pelo homem, na medida
em que o modo de produção que o substituiria, seria o modo de produção
socialista, não submeteria a massa de trabalhadores à exploração e à
opressão.
3) Estabelece uma distinção entre a infra-estrutura e a superestrutura.
Compara a sociedade a um edifício, cuja base, a infra-estrutura, seria
representada pelas forças econômicas - forças produtivas e relações de
produção, enquanto a superestrutura representaria as idéias, costumes e
instituições jurídicas e políticas, as ideologias e as filosofias.
É sobre essa base econômica que se ergue a superestrutura da
sociedade moderna. O campo político, jurídico e ideológico por sua vez
representa a forma como os homens estão organizados no processo
produtivo. Para Marx, a esfera econômica determina e condiciona o
desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral.
A Sociologia compreensiva de Max Weber
Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim – que pretendia
estabelecer “leis universais” comuns a várias ou a todas as configurações
históricas, e do Materialismo Histórico de Marx – que pressupõe um
determinismo econômico na análise dos processos históricos, Max Weber
parte da idéia de que cada formação histórica carrega especificidade e
importância próprias. Sendo tarefa do sociólogo trazer à tona o que há de
peculiar, de particular em cada uma delas.
Para Weber, os fenômenos sociais que interessam a Sociologia não
devem ser tratados como “coisa”, ou seja, fatos exteriores que devem ser
analisados à distância pelo pesquisador.
“O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões
‘objetivas’ entre as ‘coisas’ mas as conexões conceituais entre os
problemas. Só quando se estuda um novo problema com auxílio de
um método novo e descobrem verdades que abre novas e importantes
perspectivas é que nasce uma nova ciência”.
(WEBER, M. A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, G. Weber –
Sociologia. São Paulo: Editora Ática, p.84)
Nem tampouco devem tentar interpretá-los sempre tomando como
única explicação causal a esfera econômica. “Em nenhum domínio dos
fenômenos culturais pode a redução unicamente a causas econômicas ser
exaustiva, mesmo no caso específico dos fenômenos ‘econômicos’”.
(WEBER,Op.Cit,86)
Sua obra é marcada pela análise teórica e empírica dos fatos
econômicos, históricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a
realidade social era infinita e inesgotável, portanto, o conhecimento e os
fundamentos gerados pelas ciências sociais não deveriam se limitar a
determinar “leis” gerais que explicassem a totalidade da vida social.
SOCIOLOGIA APLICADA
37
“A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da
realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos
rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de
específico; por um lado, as conexões e a significação cultural das
suas diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro, as
causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e não de outro
modo.
Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como
se nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos
mani-festa, “dentro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade
de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente.
E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer
atenuante do seu caráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa
atenção, isoladamente, a um único “objeto” - por exemplo, uma
transação concreta -; e isso tão logo tentamos sequer descrever de
forma exaus-tiva essa “singularidade” em todos os seus componentes
individuais, e muito mais ainda quando tentamos captá-la naquilo que
tem de causal-mente determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo
da realidade infinita realizado pelo espírito humano finito baseia-se na
premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade
poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica, e de
que só ele será “essencial” no sentido de “digno de ser conhecido”.
(WEBER, In: COHN, 1979, p.88)
Segundo Weber, o propósito da ciência não é dar conta da infinita e
exaustiva totalidade da vida social, reduzindo-a às leis gerais “vazias de
conteúdo”.
“Isto porque quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade
de um conceito genérico – isto é quanto maior a sua extensão -, tanto
mais nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger
o que existe de comum no maior número possível de fenômenos,
forçosamente deverá ser mais abstrato e pobre de conteúdo.”
(Ibid., p.96)
Na perspectiva de Weber, a ciência pode e deve produzir uma análise
objetiva das diversas dimensões (econômica, política, cultural, religiosa, etc.)
da realidade, sem a intenção de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos
fatos a leis gerais. O que importa é compreender a significação que a
realidade da vida possui para os indivíduos em diferentes contextos e em
diferentes épocas.
O método sociológico interpretativo
Para Weber, todo o conhecimento da realidade social é parcial, limitado
e subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social fará sempre
uma seleção, consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade
que pretende analisar a partir do seu ponto de vista particular, destacando
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
38
“conexões” que, para ele, possui significado. O fenômeno social que o
pesquisador escolhe, assim como a delimitação do problema que orientará
a sua investigação serão determinados pelas suas escolhas, orientado
pelas suas idéias de valor, ou seja, o pesquisador é orientado pela sua
convicção pessoal e subjetiva, que é ele que confere ao seu estudo uma
direção e exprime uma determinada interpretação do fato estudado.
Afirmava Weber que apenas as idéias de valor que dominam o
investigador e uma época podem determinar o objeto de estudo e os limites
desse estudo.
Mas, no que refere a validade científica, uma questão emerge: como
conferir ao conhecimento produzido a partir das idéias e dos valores
subjetivos do pesquisador, a validade e o rigor de uma obra científica? Como
alcançar a objetividade científica?
No que se refere ao método de investigação, defendia Weber que
para alcançar maior objetividade científica seria fundamental o pesquisador
construir sua interpretação baseada nas normas e preceitos válidos e
determinados pela ciência de seu tempo “só será considerada uma verdade
científica aquilo que se pretende válido para todos os que querem a
verdade.”(WEBER,idem,p.100)
Segundo Aron (1987), a ciência, na perspectiva weberiana, apresenta
dois pressupostos fundamentais para o alcance de sua validade científica.
O primeiro significa que a ciência moderna se caracteriza pelo não-
acabamento, isto, porque o conhecimento científico é um processo que
jamais se esgotará.
Weber não acreditava que o conhecimento gerado na atividade
científica representava um retrato fiel e acabado da realidade, já que esta é
ampla e inesgotável, impossível de ser encerrada em sua totalidade. O
conhecimento será sempre parcial, fragmentado e inacabado. O que o
pesquisador consegue alcançar em sua tarefa investigativa é apenas uma
comparação aproximada da realidade.
O segundo diz respeito à objetividade do conhecimento como requisito
indispensável para qualquer cientista que procure construir um conhecimento
verdadeiro e válido.
Ação Social: objeto da ciência
Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência voltada para a
compreensão interpretativa da ação social, conduta humana dotada de
sentido e subjetivamente elaborada. À Sociologia caberia buscar
compreender o sentido que os indivíduos atribuem a sua conduta. Segundo
Cohn (1979) é tarefa da Sociologia desvendar o sentido que manifesta em
ações concretas e que envolve um motivo sustentado pelo indivíduo como
fundamento da sua ação. Tanto o indivíduo como as suas ações são
considerados pontos-chave da investigação científica, evidenciando o que
SOCIOLOGIA APLICADA
39
para Weber era o ponto de partida para a Sociologia: a compreensão e a
percepção do sentido que cada indivíduo atribui à sua conduta.
Portanto, é tarefa do cientista social reconstruir o motivo que
fundamenta a ação, porque ela figura como causa e efeitos da conduta dos
indivíduos. Na concepção weberiana, o indivíduo age orientado por
motivações informadas pelos valores, por interesses racionais ou pela
emoção.
Existirá uma ação social toda vez que um indivíduo estabelecer com
outro algum tipo de comunicação, a partir da sua conduta com os demais
indivíduos. Para Cohn (1979) a ação social é a conduta à qual o indivíduo
associa um sentido subjetivo. É a ação orientada significativamente pelo
indivíduo conforme a conduta de outros indivíduos e que transcorrem
consonância com isso.
Weber elabora uma distinção entre quatro tipos de ação social: a ação
racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a
ação tradicional e a ação afetiva.
1) A ação racional com relação a fins: é uma ação concreta em
que o agente concebe claramente objetivos específicos a serem alcançados.
Exemplo: o atleta que se prepara para realizar uma competição; a ação do
cientista.
2) A ação racional com relação a um valor: é a ação definida pela
crença consciente no valor - moral, ético, religioso, estético, etc. – que justifica
determinada conduta. O indivíduo age motivado pela “força” dos valores
sobre a sua conduta. Aceita todos os riscos para manter-se fiel a sua honra
ou causa que acredita. Por exemplo: o “homem-bomba”, que mesmo
consciente do fim trágico de sua ação, age em conformidade com a sua
crença religiosa.
3) A ação afetiva: é a ação que corresponde ao “estado de
espírito” do agente que a pratica. É definida por uma reação emocional dos
indivíduos em determinadas circunstâncias, que necessariamente não foi
orientada por um planejamento prévio ou motivada por valores. Exemplo: a
explosão de raiva do motorista quando leva uma “fechada” no trânsito.
4) A ação tradicional: é a ação ditada pelos hábitos, costumes ecrenças arraigadas. O indivíduo age obedecendo a reflexos adquiridos pelaprática. Para agir conforme a tradição, o indivíduo não precisa orientar-sepor um objetivo ou valor, nem tragado por uma emoção, obedecesimplesmente a hábitos enraizados por longa prática. Exemplo:o batismodos filhos realizados por pais pouco comprometidos com a religião.
Segundo Quintaneiro (1999), o sociólogo pode usar essas categoriaspara analisar o sentido de quase todas as condutas que o indivíduo pode ounão praticar: estudar, dar esmolas, comprar, casar, participar de umaassociação, fumar, presentear, socorrer, castigar, comer certos alimentos,assistir à televisão, ir à missa, à guerra, etc. É tarefa do sociólogo, portanto,compreender o sentido que o sujeito atribui à sua ação e seu significado
social.
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
40
Os “tipos ideais”
Para tornar possível a investigação e a compreensão de categorias e
conceitos empregados na análise sociológica, Weber recorreu a certos
instrumentos metodológicos que permitiriam ao cientista uma investigação
dos fenômenos particulares. A este recurso metodológico Weber chamou
de tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar
explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e,
posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas
sutilezas concretas.
Para Weber(Falta o ano e a página), o tipo ideal é construído:
“mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista,
e mediante o encadeamento de grande quan-tidade de fenômenos
isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior
ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam
segundo os pontos de vista unilateralmente acentua-dos a fim de se
formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível
encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza
conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historio-gráfica
defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a
proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em
que medida portanto o caráter econômico das condições de determinada
cidade poderá ser qualificado como “economia urbana” em sentido
conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito
cumpre as funções específicas que dele se esperam, em benefício da
investigação e da representação”.
Trata-se, portanto, de uma construção teórica abstrata dos fenômenos
particulares que se pretende investigar. O cientista constrói um modelo (tipo
ideal) acentuando algumas características cujo exame lhe parece importante
na observação do fenômeno selecionado para o estudo.
Segundo Costa(2005, 100):
o tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas
forma-ções sociais históricas nem mesmo em qualquer realidade
observável. É um instrumento de análise científica, numa construção
do pensa-mento que permite conceituar fenômenos e formações sociais
e iden-tificar na realidade observada suas manifestações. Permite
ainda com-parar tais manifestações.
A construção do tipo ideal permite ao sociólogo explicar uma realidade
complexa, partindo de traços característicos essenciais.
Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questões
e conceitos que orientaram os estudos dos principais teóricos clássicos da
Sociologia. Esperamos que você tenha percebido que a realidade social é
um fenômeno que pode ser compreendido de várias formas distintas e que
a análise sociológica é plural, porque permite olhar um mesmo fenômeno
por diferentes ângulos.
SOCIOLOGIA APLICADA
41
LEITURA COMPLEMENTAR:
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da
sociedade. 3a.ed. ver. ampl..SãoPaulo: Moderna, 2005. 416p.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38a. ed. São
Paulo: Brasiliense,1994. (Coleção Primeiros Passos-57). 58p.
QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e
Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 157p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na unidade 3, estudaremos a caracterização da sociedade humana.
Vamos em frente!
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
EXERCÍCIOS
11
SOCIOLOGIA APLICADA
UN
IDA
DE 2
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
1. Segundo Durkheim, é objeto de estudo da Sociologia:
a) a ação social.b) o fenômeno orgânico.c) a consciência individual.d) o fato social.e) as classes sociais.
2. Aponte os principais critérios de validade científica para Durkheim.
a) Objetividade e especificidade.b) Subjetividade e neutralidade.c) Neutralidade e especificidade.d) Objetividade e neutralidade.e) Subjetividade e especificidade.
3. Marque a alternativa correta:
É a maneira como a sociedade é organizada para produzir bens e
serviços. Consiste de dois aspectos principais: forças produtivas e relações
de produção.
A que conceito fundamental da análise marxista se refere esta idéia?
a) Modo de produção.b) Mais-valia.c) Alienação.d) Força de Trabalho.e) Mercado de Trabalho.
4. Marque a alternativa correta:
É a relação rompida entre o trabalhador e o seu trabalho, porque os
que produzem bens não têm voz sobre o que produzir e como produzir.
Na perspectiva marxista, este conceito representa a idéia de:
a) classe social.b) divisão do trabalho.c) meios de produção.d) relações sociais.e) alienação.
12
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
5. Marque a alternativa correta:
Ao denunciar a forma de contradição inerente ao regime capitalista,
afirmava que o papel da Sociologia era unir conhecimento científico à ação
política. Caberia a Sociologia denunciar a contradição essencial do capitalismo
entre o aumento das riquezas e a miséria crescente da maioria, contribuindo,
assim, para a realização de transformações radicais na sociedade.
Essa idéia expressa o pensamento de:
a) Émile Durkheim.b) Georg Hegel.c) Max Weber.d) Karl Marx.e) Auguste Comte.
6. Marque a alternativa correta:
A percepção de um estado de anarquia na sociedade capitalista não
poderia ser atribuída somente a uma distribuição injusta da riqueza, mas,
principalmente, à falta de regras de comportamento mais rigorosas capazes
de conduzir a vida dos indivíduos. A união de esforços entre a elite
empresarial e intelectual seria fundamental para a orientação da conduta
dos indivíduos.
Essa idéia expressa o pensamento de :
a) Karl Marx.b) Max Weber.c) Friedrich Engels.d) Émile Durkheim.e) Francis Bacon.
7. Perspectiva teórica baseada na idéia de que uma interpretação sociológica
de comportamento deve necessariamente incluir o significado que os fatores
sociais atribuem as suas condutas.
a) Sociologia Marxista.b) Sociologia Compreensiva.c) Sociologia Positivista.d) Sociologia Crítica.e) Sociologia Aplicada.
8. Marque a alternativa correta:
“Depois que um terrorista suicida de Gaza voou pelos ares, os parentes
encontraram freqüentes referências ao Paraíso em seus cadernos. Ele escreveu
muito sobre o desejo de morrer, de ‘conhecer Deus como mártir e viver uma
vida muito melhor do que esta’”. (Jornal Estado de São Paulo,1994)
De acordo com a análise weberiana, esta passagem exemplifica que tipo de
ação social?
13
SOCIOLOGIA APLICADA
a) Afetiva.b) Irracional.c) Racional em relação aos fins.d) Tradicional.e) Racional em relação a valor.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO
1. Explique porque, segundo Durkheim, os fatos sociais são exteriores e
coercitivos:
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2. Leia e explique a afirmação a partir da análise sociológica desenvolvida
por Max Weber:
“Apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma época podem
determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo.”
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1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
43
UN
IDA
DE 3
CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE
HUMANA
Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em
grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano.
Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em grupo. Vamos lá!
OBJETIVOS DA UNIDADE:
• Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal,
identificando seus elementos principais.
• Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.
• Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria
cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideológico.
PLANO DA UNIDADE:
• Elementos principais da sociedade humana.
• A essência da cultura.
• Classificação da cultura.
• Cultura popular e cultura erudita.
• Indústria cultural ou cultura de massa.
Bons estudos!
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
44
Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos
agora o ambiente social do homem, o seu papel como elemento ativo da
sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras deste
ambiente.
ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA
O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua
existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente
pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por
exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes
queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de
hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver
com outros homens e a se comportar como tal.
Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo
com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que
ele irá aprender a conviver.
Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade.
A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo,
primeiramente, com seus grupos mais íntimos
(família e escola) e depois com outros grupos
que irá se tornar um membro ativo da sociedade
em que nasceu. A esse processo chamamos de
socialização.
Conseqüentemente, podemos observar que
a criança tem poucas possibilidades de seguir
seus desejos e suas vontades, que
normalmente são hedonistas e egoístas e que
muitas vezes são opostas às vontades do
grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem
e abnegação. E nesta relação, a sociedade
normalmente sai ganhando.
Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o
fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este
processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre
aprendendo coisas novas em nossa sociedade.
O ambiente social influencia até no tipo de
personalidade dos indivíduos, assim
observamos, ao longo da História, sociedades
que geraram homens guerreiros, homens
caçadores, homens viajantes, homens
executivos com tino para negócios, etc. De um
modo geral, pode-se dizer que cada cultura
produzirá seu tipo especial ou tipos especiais
de personalidades.
Socialização: processo de
aprendizagem da cultura da
sociedade em que nascemos.
Hedonista: ligado aos praze-
res.
SOCIOLOGIA APLICADA
45
Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o
comportamento dos indivíduos são determinados pelas “representações
coletivas”. Esta representação indicava o corpo de experiências, idéias e
ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a
formulação de suas idéias, atitudes e comportamento.
A ESSÊNCIA DA CULTURA
A cultura tem sido definida de diversas maneiras.
Spencer (In: KOENIG, 1985) considerou-a o ambiente superorgânico,
ambiente peculiar ao homem, enquanto os outros dois (inorgânico ou físico
e orgânico, o mundo dos vegetais e animais) ele compartilha com os animais
inferiores.
Uma definição muito conhecida é a de Edward Tylor (1871, p1):
“Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte,
moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Também pode ser definida como:
A soma total dos esforços do homem para ajustar-se a seu ambiente
e melhorar suas maneiras de viver.
Desta forma, os antropólogos enfatizam que a cultura é o comportamento
aprendido em sociedade, pois o comportamento instintivo é inerente aos
animais. Logo, a cultura é resultante da invenção social, é aprendida e
transmitida por meio da educação e da comunicação entre os membros de
uma sociedade humana.
Alguns animais vivem em sociedades, mas
estas se baseiam em instintos ou
comportamento reflexo e não mostram variação
de geração para geração. O caso mais
apontado é o das abelhas, em que visualizamos
certa organização social.
Os instintos animais respondem a leis
biológicas, sendo assim suas reações podem
ser previstas e estão ligadas completamente
ao mundo natural, não o ultrapassando. Já o
homem se comportará de acordo com a
sociedade em que vive, respondendo
diferenciadamente aos estímulos e às necessidades de seu meio ambiente
e de seu tempo.
Entretanto, para a produção de cultura, o homem precisa se comunicar e
esta comunicação, que é feita de várias maneiras na sociedade humana,
ganha maior peso com a linguagem simbólica (abstrata) que é exclusiva do
homem.
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
46
Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe
com as tradições, renovando esta cultura e acrescentando novos elementos
à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser histórico que
vive a cada época de maneira diferente.
CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA
As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui
podemos situar as tradições, os costumes, as leis, as ciências, as ideologias,
etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto, em que são
produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão
ligados, obviamente, ao lado abstrato.
Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único
animal que produz cultura, pois é o único animal que transforma a natureza
através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a sua subsistência.
CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA
Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos
da questão, pois como se define o que é popular e o que é erudito? Quais os
critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é outra?
O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular
pertenceria ao povo e a cultura erudita às elites ou classes dominantes
dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos, estas definições
são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as
classes não são homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural.
Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico.
Em uma sociedade como a nossa, verificamos a existência de uma inter-
relação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a manutenção
da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à
cultura popular ou à cultura erudita vão se transformando dinamicamente e
se entrelaçando. O que podemos dizer é que este fenômeno é conseqüência
da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada
que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das
cidades, por outro lado, vemos a música clássica (pertencente às elites) em
um radinho de pilha de um operário.
SOCIOLOGIA APLICADA
47
Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais,
analisa o conceito de cultura da seguinte forma:
Cultura: falsa evidência, palavra que parece uma, estável, firme, e,
no entanto, é a palavra armadilha, vazia, sonífera, mimada, dúbia,
traiçoeira. Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa
salvação: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade...
O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os
elementos estão ligados entre si e que cada sociedade transmite a seus
membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural.
Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza.
Indústria cultural ou cultura de massa
Podemos começar a falar de indústria
cultural ou cultura de massa a partir do século
XVIII quando foi marcante a multiplicação dos
jornais na Europa, fato que anteriormente à
industrialização somente o clero e a nobreza
tinham acesso à escrita.
A industrialização trouxe consigo grandes
transformações sociais, econômicas, políticas e
culturais, não somente os bens materiais
produzidos por ela apresentaram aumento no
consumo, mas também os bens culturais. O número de leitores aumentou
consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os jornais
tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, balé,
circos, que se preocupavam com o público das cidades que aumentava a
cada dia com o êxodo rural.
Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria
passasse a se dedicar exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais
apresentavam crescimento, como já foi dito anteriormente, mas os livros, as
peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam.
Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos
contemporâneos: Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895-
1973).
Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão,
cinema) vendem as mercadorias culturais e como são veiculadas as imagens
da sociedade capitalista através da propaganda desta sociedade, a fim de
que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça
a mesma.
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
48
Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte
que foram sendo popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os
estudiosos da questão afirmam que não podemos pensar em cultura erudita
ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural.
Entretanto, os autores mencionados
criticavam a indústria cultural, pois
consideravam que, ao invés de democratizar os
bens culturais chamados de eruditos,
simplesmente os banalizavam, na medida em
que o povo não conseguia compreendê-los.
Logo, só serviam para controlar e manter o
status quo através da dependência e da
alienação dos homens.
Em contrapartida, outros autores, assim
como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a
indústria cultural sob outro ângulo mais positivo,
pois consideram que os meios de comunicação de massa aproximam os
homens e diminuem as distâncias territoriais e sociais entre eles e muitas
vezes, estes são as únicas fontes de informação para uma considerável
parcela da população.
Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu
para a emancipação e melhoria das sociedades, pois promovendo a
padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais, promove
também a união e o sentimento de nacionalidade.
Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais
que foram abordados.
LEITURA COMPLEMENTAR:
CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio
de Janeiro: Eldorado, 1981.
KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar,
1985.
MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo
-2. NECROSE. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na próxima unidade, estudaremos a estratificação social. Até lá!
Status quo – expressão latina
que significa o sistema vigen-
te.
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
EXERCÍCIOS
15
SOCIOLOGIA APLICADA
UN
IDA
DE 3
CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE
HUMANA
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
Marque a alternativa correta nas questões abaixo:
1. A indústria cultural nasceu na Europa propiciando a expansão e circulação
dos livros, das peças teatrais, dos jornais, na maioria das cidades, portanto:
a) a produção das mercadorias culturais aumentou, mas a circulação con-tinuou restrita às classes dominantes.
b) o comércio das mercadorias culturais continuou a se restringir ao cleroe à nobreza.
c) a indústria cultural produz mercadorias que interessam basicamenteàs pessoas que estão ligadas à educação formal.
d) as mercadorias produzidas pela indústria cultural se tornaram de difícilacesso ao povo porque eram caras.
e) a indústria cultural produzia mercadorias culturais que passaram a cir-cular entre as diversas classes sociais.
2. Marque a alternativa que completa corretamente o parágrafo abaixo:
Spencer chamou o ambiente peculiar ao homem de _________________,
enquanto que o _______________ pertenceria ao mundo físico e o
__________________ aos animais e vegetais.
a) orgânico – superorgânico – inorgânico;b) superorgânico – inorgânico – orgânico;c) inorgânico – superorgânico – orgânico.d) orgânico – inorgânico – superorgânico;e) superorgânico – orgânico – inorgânico;
3. O homem é considerado um ser histórico porque:
a) vive diferentemente em cada sociedade ao mesmo tempo.b) estabelece contato com várias culturas diferentes aprimorando a sua
cada vez mais.c) vive diferentemente em cada época, o que demonstra o seu poder de
transformação.d) transforma a sua cultura de acordo com a influência de outros povos.e) interage com várias pessoas de lugares diferentes através da comuni-
cação.
16
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
4. Como vimos nesta unidade, o homem é um ser que não nasce pronto e
por isso depende do grupo social para se:
a) movimentar.b) concentrar.c) transportar.d) socializar.e) especializar.
5. O processo de socialização é aquele no qual:
a) o homem aprende a cultura de sua sociedade de forma contínua.b) a criança aprende a respeitar seus amiguinhos.c) o homem troca experiências com as gerações mais novas.d) o homem aprende a cultura dos países com quais mantém contato.e) as crianças brincam com os coleguinhas na escola.
6. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas:
I. ( ) As culturas apresentam três aspectos considerados importantes:
o material, o não-material e o sobrenatural.
II. ( ) Os conceitos de cultura erudita e de cultura popular são facilmente
definidos entre os antropólogos.
III. ( ) Muitas vezes, quando definimos cultura, somente o seu aspecto
abstrato é lembrado, como as tradições e as crenças.
IV. ( ) A linguagem simbólica é considerada uma linguagem abstrata
porque se baseia na fantasia humana.
V. ( ) Verificamos em sociedades como a nossa, uma freqüente inter-
relação entre o que é erudito e o que é considerado popular.
a) F, V, V, V, V.b) F, V, V, F, V.c) V, V, F, F, V.d) F, F, V, F, V.e) V, V, F, V, F.
7. Dois elementos são apontados durante esta unidade como diferenciadores
da sociedade humana, são eles:
a) o trabalho e os meios de comunicação.b) a cultura de massa e os meios de comunicação.c) a linguagem simbólica e os meios de comunicação.d) a leitura e os transportes.e) a linguagem simbólica e o trabalho.
8. A indústria cultural é vista por alguns autores sob um ângulo negativo
porque:
a) faz com que as pessoas consumam cada vez mais mercadorias des-necessárias.
17
SOCIOLOGIA APLICADA
b) diminui o papel da escola, pois as crianças se interessam mais pelatelevisão do que pelos estudos.
c) vende muito mais revistas do que livros.d) serve apenas para controlar e manter a sociedade capitalista através
da dependência e da alienação dos homens.e) aumenta o consumo de bens que antes eram apenas das classes
dominantes.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO
1. Quais são as críticas mais apontadas à indústria cultural por Adorno e
Horkheime?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
2. Explique por que Edgar Morin afirma que a palavra cultura parece ser
uma armadilha.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
49
UN
IDA
DE 4
A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
O estudo que faremos agora visa esclarecer as formas de estratificação
social que os diversos tipos de sociedades moldaram para se organizarem e
suprirem suas necessidades.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Analisar os variados tipos de estratificação social que se estabeleceram
nas diferentes sociedades através dos tempos, avaliando o grau de
desigualdades sociais gerados por esses.
PLANO DA UNIDADE:
• O que é estratificação social?
• O sistema de castas
• A organização social através dos estamentos
• As classes sociais
Bons estudos!
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
50
O QUE É ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL?
Os indivíduos, ao viverem em sociedade, ocupam posições diferentes por
motivos variados, compondo uma hierarquia social. Esta hierarquia é formada
por camadas de indivíduos e grupos superpostas de acordo com os valores
atribuídos a elas e é exatamente a esse fenômeno que chamamos de
estratificação social.
E sendo essa problemática uma constante em todas as sociedades, se
torna um objeto de estudo da Sociologia que é analisado por vários autores,
resultando daí uma tipologia que nos ajuda a compreender melhor esse fato
social.
Observando as diferentes formas de sociedade, poderemos verificar como
esse fato se expressou produzindo as castas, os estamentos e as classes
sociais.
O SISTEMA DE CASTAS
Existem sociedades nas quais a posição social do indivíduo é definida na
ocasião de seu nascimento independentemente de sua vontade e de seu
esforço posterior para tentar modificá-la. É uma situação herdada.
A sociedade indiana é o exemplo mais característico desse tipo de
estratificação social. Esse sistema é considerado muito rígido e fechado, como
vimos acima. Não é facultado ao indivíduo transitar de uma casta para outra,
ou seja, ele não tem mobilidade social, além de ser endógamo, isto é, os
casamentos ocorrem com indivíduos da mesma casta. Seus direitos e deveres
são específicos de sua casta.
De acordo com esse sistema foram instituídas quatro castas eternas
originárias da divindade que são: os brâmanes, os xátrias, os sudras e os
vaicias e aqueles que não pertencem a nenhuma casta, pois não seguiram
os códigos de suas castas que são os párias. As três primeiras castas são
compostas por indivíduos que já reencarnaram ou nasceram “duas vezes”.
As castas não podem manter contato entre elas, de acordo com o ritual isto
é impuro, deve-se manter distância entre as pessoas de castas diferentes,
sendo que em algumas regiões até o contato da sombra de um pária pode
ocasionar impurezas. O que os “impuros”
tocassem ficava contaminado. Os indivíduos são
identificados pelo modo de se vestir, pela
qualidade e cor das roupas e pela ocupação.
Outra característica dessa sociedade é com
referência ao prestígio de cada casta. As castas
daqueles “nascidos duas vezes” ou “puros”
gozam de maior prestígio do que aqueles que
“nasceram uma vez só” ou “impuros”. Os
brâmanes são considerados a casta de maior
prestígio e o principal critério de status de uma
casta é quando esta tem alguma relação com
A palavra casta é de origem
da língua portuguesa, mas na
língua indiana corresponde a
varna.
os párias - Grande número de-
les é composto por pessoas
que contraíram matrimônio
fora de suas castas.
SOCIOLOGIA APLICADA
51
eles. Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos
são desiguais por natureza, já que os elementos que os caracterizam foram
definidos hereditariamente. Somente os indivíduos considerados puros
poderiam exercer cargos públicos.
Como as ocupações são hereditárias, salvo algumas exceções, a
sociedade apresenta uma divisão funcional do trabalho baseada nesse
esquema. A industrialização teve grande impacto nesse sistema, mas este
incorporou muitas inovações.
Cada casta possui leis específicas e tribunais próprios. Grurye (In:
Lakatos, 1985) aponta algumas transgressões que devem ser julgadas pelos
tribunais:
· comer, beber ou manter atividades com pessoas de outras
castas;
· tomar por concubina mulheres pertencentes a outras castas;
· adultério;
· sedução de mulheres casadas;
· recusa de cumprimento de promessa de casamento;
· recusa de manter uma esposa;
· o não pagamento de dívidas;
· roubo;
· quebra dos hábitos de comércio peculiar à casta;
· apropriar-se de clientes de outro e elevar ou reduzir os preços
das mercadorias e serviços;
· matar uma vaca ou outro animal sagrado;
· insultar um brâmane;
· desafiar os costumes das castas por ocasião de cerimoniais de
casamento e outras.
Essas castas podem ser encontradas em qualquer lugar da Índia, apesar
de apresentarem diferenciações ocasionadas por vários fatores que deram
origem a divisões múltiplas. Algumas dessas subcastas têm caráter nacional,
mas outras são encontradas apenas em determinados locais.
Desvinculando a casta de seu conteúdo religioso, como ocorre na Índia,
alguns autores consideram a existência das castas em outras circunstâncias,
tais como: no Antigo Egito, no Japão medieval, na Alemanha nazista.
A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DOS ESTAMENTOS
A sociedade feudal européia (séc. IX ao séc. XIV) se organizou através
desse sistema, que tinha suas bases apoiadas na tradição que definia seus
estratos em nobres, clero e servos.
Nobres – dedicavam-se à guer-
ra, à caça e a funções jurídicas
e administrativas.
Clero – dividia-se em alto clero
(era uma elite eclesiástica e
intelectual e seus membros vi-
nham da nobreza); baixo clero
que era composto pelos padres
originários da população pobre.
Servos – trabalhavam a terra
para si e para os seus senho-
res.
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
52
Como foi dito anteriormente, era através da tradição que se definia os
elementos principais dessa organização que eram a honra, a hereditariedade
e a linhagem. Os estamentos ou estados eram semelhantes às castas, porém
não eram tão fechados. A mobilidade social era difícil, mas não impossível.
Este tipo de hierarquização social está ligado a um determinado momento
histórico com suas características econômicas e políticas.
E como se comportavam as pessoas nesse tipo de organização social?
Cada uma se comportava de acordo com o seu estamento porque os
privilégios também eram desiguais, pois aqueles que se encontravam no
topo da pirâmide social (nobres e clero) possuíam maiores privilégios. As
atividades guerreiras, sacerdotais e a administração pública eram reservadas
aos estamentos dominantes. Para manter seus privilégios, esses estamentos
criavam certas resistências à penetração de outros através de monopólios
de determinadas funções e da endogamia.
Os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais e estes os
protegiam. Um servo que não estivesse ligado a um senhor feudal estava
desprotegido perante a lei.
A propriedade e o uso da terra, no
sistema feudal, determinavam uma série de
obrigações que estavam ligadas por relações
de reciprocidade e de fidelidade.
Existiam também, nesse tipo de
organização social, os vassalos, que eram
aqueles que serviam a um senhor. Possuíam
obrigações de ajudar nas guerras, guardar
os castelos, prestar serviços de criadagem
doméstica, entre outros. Como foi dito acima,
o senhor também tinha obrigações de
proteger os seus vassalos.
Os senhores feudais, por sua vez,
também eram vassalos do rei, que estava no topo desta hierarquização e
ao qual todos estavam subordinados.
Esse tipo de organização social é chamado de patrimonialista, pois está
ligado diretamente à propriedade da terra, que era o maior patrimônio que
alguém poderia ter. Dessa forma, se definia a organização política da
sociedade feudal. Os nobres que não possuíam terras e usavam as de outro
nobre subordinado a eles. O clero também possuía terras e, com isso, muitos
nobres estavam subordinados a ele.
O poder estava nas mãos daqueles que detinham a propriedade das
terras, daí a nobreza e o clero estarem no topo da pirâmide social e,
conseqüentemente, os cargos públicos estavam vinculados a esse esquema
de tradição e fidelidade.
Os valores dessa sociedade eram difundidos pela Igreja Católica e os
indivíduos aceitavam que determinadas pessoas eram portadoras desses
privilégios pela hereditariedade, pela honra e pela linhagem.
Senhor – o proprietário das ter-
ras, também denominado de
suserano.
Marx foi o primeiro estudioso
a utilizar esse conceito, “clas-
ses sociais”, apesar de não tê-
lo definido com precisão.
SOCIOLOGIA APLICADA
53
AS CLASSES SOCIAIS
A sociedade capitalista produz uma hierarquização social própria que se
configura no sistema de classes sociais, ou seja, essas classes expressam
como se organiza tal tipo de sociedade.
Dessa forma, uns são capitalistas – proprietários dos meios de produção
e outros possuem apenas a sua força de trabalho - operários. Esses dois
grupos dão origem às classes sociais que sustentam todo o sistema e como
resultado dessa relação surgem os interesses opostos, os antagonismos.
Quando falamos que as classes que sustentam o sistema capitalista são
duas, não quer dizer que existam apenas essas duas. Outras classes
intermediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo.
Historicamente, desde o nascimento do sistema capitalista com a queda
do sistema feudal, essas classes são consideradas antagônicas tanto no
que diz respeito ao aspecto econômico quanto ao aspecto político.
Economicamente, no que diz respeito à apropriação/expropriação e
politicamente no que diz respeito à dominação que a classe capitalista exerce
sobre as demais.
Essa divisão da sociedade em classes sociais não é um fato opcional,
isto é, os homens não escolhem participar de uma ou de outra classe, pois
elas são produzidas socialmente. Contudo, a mobilidade social é possível
nesse sistema, um indivíduo pode ir de uma classe para outra dependendo
de seu êxito nas relações de produção. O operário não pode dizer que não
vai mais trabalhar para o capitalista e o capitalista não pode dizer que não
precisa mais do operário, pois estariam abrindo mão de sua própria
existência.
As classes sociais só se estabeleceram no
sistema capitalista, porque estão
relacionadas a esse sistema. Como vimos,
anteriormente, no sistema feudal a
hierarquização dos estratos estava baseada
em estamentos.
Por que isso acontece? Porque a forma
de organização do trabalho é diferente e a
forma de propriedade também. Na sociedade
capitalista, o trabalho é livre e assalariado e
a cada dia requer uma divisão mais
especializada. Isto se faz necessário porque
no capitalismo existe a necessidade de se
gerar sempre excedentes que são comercializados e geram os lucros dos
capitalistas.
Quanto à distribuição do prestígio, este está associado às relações entre
as pessoas e os elementos da produção, os proprietários dos meios de
produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores.
Quanto à distribuição de poder, também não é diferente, possuem maior
poder aqueles que detêm os meios de produção.
Antagônicas – que possuem
interesses contrários, opostos.
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
54
Vimos que o fenômeno da estratificação social está intimamente
relacionado às desigualdades sociais, pois ele é a própria expressão dessa
desigualdade.
Portanto, ao examinarmos os diversos tipos de estratificação social,
podemos concluir que não é possível compreendê-la sem antes compreender
como os homens organizam sua produção econômica e como distribuem o
poder político.
Agora, procure fazer uma nova leitura, observando os aspectos das
desigualdades sociais e da mobilidade social em cada um dos tipos de
estratificação social.
LEITURA COMPLEMENTAR:
LAKATOS, E. M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1985.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
No próximo capítulo, trataremos da sociedade capitalista atual, suas
características e sua inclinação para mudanças contínuas.
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
EXERCÍCIOS
19
SOCIOLOGIA APLICADA
UN
IDA
DE 4
A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
1. A organização do trabalho no sistema de classes sociais se diferencia do
sistema baseado em estamentos porque:
a) permite o trabalho escravo em suas colônias;b) se utiliza do trabalho assalariado;c) mantém uma relação de servidão entre as pessoas;d) depende do trabalho servil dos operários;e) permite a existência do trabalho feminino e infantil.
2. Marque a alternativa que corresponde ao sistema de castas.
a) Existe a liberdade de mudar de um estrato para o outro;b) Os servos trabalhavam nas terras do senhor;c) A busca pelo lucro é sempre o maior objetivo;d) O trabalho assalariado é uma característica essencial;e) Os indivíduos não podem mudar de um estrato para o outro.
3. Para entendermos a estratificação social de uma sociedade é necessário:
a) observar como eram as relações de vassalagem entre os senhoresfeudais e o rei;
b) estudar as relações entre os empregados e os serviços prestados poreles;
c) compreender como os capitalistas obtém os seus lucros;d) compreender como os homens organizam sua produção e como distri-
buem o poder na sociedade;e) estudar a distribuição das mercadorias na economia.
4. No sistema de castas indiano as desigualdades sociais são justificadas
através:
a) dos problemas políticos;b) da base religiosa;c) das diferenças sociais;d) das culturas populares;e) da economia de mercado.
5. O sistema feudal possuía como seu principal bem:
a) a terra;b) o castelo do senhor feudal;c) o exército do rei;d) o produto agrícola;e) a igreja.
20
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
6. Complete a frase abaixo com o grupo de palavras mais adequado.
Chamamos de estratificação social a ___________________ de pessoas ougrupos de pessoas que vivem em uma sociedade determinada, ocupando____________________ diferentes, de acordo com os _______________que lhes são atribuídos.
a) convocação – cargos – missõesb) colocação – cargos – valoresc) aceitação – estratos – ocupaçõesd) especificação – locais – problemase) hierarquização – posições – valores
7. Os estamentos faziam parte de um tipo de estratificação social que estavaapoiada em:
a) relações econômicas onde o lucro era o principal objetivo;b) tradições das épocas greco-romanas;c) relações de obrigações e fidelidade entre seus membros;d) produções de riquezas nas colônias americanas;e) produções de um excedente para a comercialização.
8. A mobilidade social no sistema capitalista é considerada:
a) muito rígida porque o operário sempre vai ser operário;b) fechada porque cada classe tem o seu próprio lugar no sistema;c) rígida e fechada porque é herdada de pai para filho;d) semi-aberta, pois o capitalista permite que o operário mude de classe
ou não;e) aberta porque um indivíduo pode mudar de classe social.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO
1. Por que é dito, pelos estudiosos da questão da estratificação, que somentena sociedade capitalista e não na sociedade feudal, e nem na indiana, amobilidade social é possível?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
2. Explique por que as classes sociais (capitalistas/ trabalhadores) possueminteresses antagônicos.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
55
UN
IDA
DE 5
A SOCIEDADE CAPITALISTA
CONTEMPORÂNEA
Nesta unidade, examinaremos o processo de globalização que se
desenvolve entre nós e suas repercussões nas áreas econômica, política e
cultural.
OBJETIVO DA UNIDADE:
Caracterizar o processo de globalização, avaliando suas conseqüências
no contexto sócio-político-econômico e cultural.
PLANO DA UNIDADE:
• O fenômeno da globalização
• Um estudo sobre os primórdios da globalização
• As conseqüências do processo de globalização
Bons estudos!
56
UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO
O assunto que vamos estudar agora é muito comentado em revistas,
jornais e livros, pois se trata de um tema bastante atual e polêmico. Contudo,
tentaremos esclarecê-lo abordando-o passo a passo.
O fenômeno da globalização vem se fazendo presente na atualidade de
forma avassaladora, se expandindo a cada dia, alterando estruturas políticas,
econômicas, jurídicas e ideológicas. O panorama nacional e internacional
ganha novos perfis, uma vez que, as negociações transnacionais com
empresas que aplicam seus capitais nos mercados que mais lhes ofereçam
vantagens, crescem vertiginosamente.
Esse fato é possível, pois a tecnologia, as comunicações e a economia
fazem do planeta uma unidade cada vez mais entrelaçada, complexa e inter-
relacionada, como afirma Leslie Sklair (1995, p.14):
Historicamente, a sociedade mundial se tornou uma idéia
acreditável somente nos últimos séculos e a ciência, a tecnologia, a
indústria e os valores universais estão produzindo um mundo do século
XX que difere de qualquer épocas passadas.
O estudioso no assunto John Naisbitt (1983) chamou a atenção para um
fato muito importante, pois observou que ao invés do que pensava Marshall
McLuhan que seria a televisão que faria do mundo uma “aldeia global”, na
verdade foram os satélites que a princípio estavam voltados para as
pesquisas espaciais, que realmente propiciaram esse fato.
UM ESTUDO SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA GLOBALIZAÇÃO
Mas o que é globalização? Quando este fenômeno começou?
Tentaremos responder a essas perguntas nesse item, mas precisaremos
recorrer aos conhecimentos de várias ciências, pois esse fenômeno vem
desafiando os diversos saberes, e, conseqüentemente, não encontraremos
um conceito único para o tema e nem tão pouco uma data ou época precisas.
Ainda mais por se tratar de um assunto estudado pelas ciências sociais que
são, na sua essência, questionadoras, proporcionando pontos de vistas
diferentes entre os estudiosos do assunto.
Enquanto que para alguns autores a globalização se iniciou desde o
século XV com as Grandes Navegações, pois a partir daí a Europa tomou
conhecimento de outros povos e nações do mundo como um todo e o
capitalismo encontrou assim as possibilidades de seu desenvolvimento, para
outros a globalização é um processo nítido que teve início no século passado
(século XX) através da comunicação via satélite, o que propiciou uma
transformação na sociedade como destaca NAISBITT (1983, p.12):
(...) 1957, marca o começo da globalização, da revolução da
informação. Os soviéticos lançam o Sputnik – o catalisador tecnológico
que faltava numa crescente sociedade de informação. A real importância
não vem do fato de ter se iniciado a era espacial – iniciou-se a era da
comunicação global por satélite.
Aldeia global – termo criado por
Marshall McLuhan com a inten-
ção de demonstrar que com a
utilização da televisão o mun-
do todo faria parte de uma mes-
ma sociedade.
57
SOCIOLOGIA APLICADA
Portanto, observando por esta perspectiva, a globalização é um
fenômeno típico da segunda metade do século XX que estabeleceu a crescente
inter-relação das economias e das sociedades dos vários países, tanto no
que diz respeito à circulação de mercadorias e serviços quanto aos mercados
financeiros e de informações e que vem se desenvolvendo até hoje.
Segundo outros autores, a globalização
surgiu a partir da queda do bloco socialista e
o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989
e 1991), como esclarece IANNI ( 1997, p.219):
(...) Emerge de forma particularmente
evidente, em suas configurações e em seus
movimentos, no fim do século XX, a partir do
desabamento do mundo bipolarizado em
capitalismo e comunismo (...)
A globalização também é considerada
como uma fase do desenvolvimento do
capitalismo, ou seja, assim como o
colonialismo esteve para a sua etapa
comercial e o imperialismo para sua fase industrial e inicio da financeira,
está a globalização para a fase científico-tecnológica do capitalismo.
Verificamos também que essa fase é uma expansão que tem por objetivo
aumentar os mercados e conseqüentemente os lucros da classe dominante.
Desta forma, a globalização rompe fronteiras geográficas e históricas se
consolidando a cada dia, como podemos observar nos estudos de IANNI
(1997, p.221):
Na base da ruptura que abala a geografia e a história no fim do
século XX está a globalização do capitalismo. Em poucas décadas, logo
se revela que o capitalismo se tornou um modo de produção global.
Está presente em todas as nações e nacionalidades, independente de
seus regimes políticos e de suas tradições culturais ou civilizatórias.
Aos poucos, ou de repentemente, as forças produtivas e as relações
de produção organizadas em moldes capitalistas generalizam-se por
todo o mundo.
Mas apesar dessa expansão da globalização ter sido vertiginosa, isto
não quer dizer que tenha sido de forma linear e sem resistências.
Encontramos, no decorrer desse processo, avanços e recuos, como esclarece
HAESBAERT (1998, p.14):
Se retornarmos no tempo, verificaremos que, na identificação de
fases ou “ondas”, o capitalismo apresentou avanços e recuos em sua
dinâmica competitiva, imperialista e globalizadora, não só pela natureza
contraditória de sua reprodução como também pela interferência, mais
ou menos intensa, dos trabalhadores (organizados em sindicatos, por
exemplo) e do Estado (...)
A sociedade global deixou de ser imaginária e se tornou uma realidade
econômica, política e social, tendo conseqüências marcantes no campo
cultural, pois alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas.
58
UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
No passado, as inovações tecnológicas atingiram a sociedade agrária
dando lugar ao desenvolvimento do setor industrial, a mão de obra se
transferiu para a área urbana. Hoje, as novas tecnologias, ligadas ao setor
da informação e da microeletrônica atingem o setor industrial, aumentando
a sua produção e destruindo milhões de empregos. Entretanto, como
podemos observar, há uma mudança nos empregos, como afirma MAGNOLI
et al (1997, p.24):
Nas duas últimas décadas, a diminuição de empregos industriais
nos países ricos foi parcialmente compensada pela criação de empregos
no setor de serviços. Nos países do G7 (os sete países economicamente
mais poderosos do planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França,
Grã-Bretanha, Itália e Canadá), entre 1974 e 1994, registraram-se
treze anos de redução de empregos no setor secundário: no mesmo
período os serviços ampliaram continuamente os seus postos de
trabalho (...)
Surge então, a sociedade de informação ou a sociedade pós-moderna
como chamou Daniel Bell sociólogo de Harvard. Atualmente, muito mais
trabalhadores lidam com a informação do que dentro de fábricas. Muito mais
pessoas gastam o seu tempo criando, processando ou distribuindo
informações. E o que caracteriza uma sociedade, como já vimos em outras
unidades, é justamente o modo como se organiza o trabalho.
Portanto, a sociedade hoje é chamada de sociedade de informação,
pois passou a sociedade industrial em números de trabalhadores (Naisbitt,
1983). Da mesma forma que a rede de transportes levou os produtos da
industrialização, a rede de comunicação está levando agora os novos
produtos da sociedade da informação.
AS CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO.
O fenômeno da globalização vem desafiando os estudiosos quanto as
suas conseqüências. Apesar de seu aspecto econômico ter sido enfatizado,
outras ciências, como já foi dito anteriormente, também vêm estudando
esse processo. A cada dia são promovidos seminários, encontros, palestras
de avaliação e previsão de suas conseqüências. O interesse dispensado ao
tema pelas universidades e pela imprensa, já demonstra que este se trata
de um assunto que gera polêmicas e conflitos. Delineiam-se, desta forma,
dois grupos de análises: os que são a favor e os que são contra a
globalização, FLORIANI (2004).
GLOBALIFÓLICOS GLOBALIFÍLICOS
Grupo que critica a globalização Grupo que defende a globalização
O grupo contrário à globalização critica a idéia de que este fenômeno
promove a interdependência entre os países e as regiões, aproximando-os
e propiciando o desenvolvimento. Acredita, este grupo, que a unilateralidade
59
SOCIOLOGIA APLICADA
do poder das nações mais ricas em busca da hegemonia do mercado é que
acaba prevalecendo, ou seja, essas nações é que ditariam sempre as regras
para as nações mais pobres. Além de destacarem que as nações mais ricas
possuem o domínio da tecnologia e que hoje a distância entre os países
ricos e os países pobres é cada vez maior do que no passado.
Já para o grupo que a defende, a
globalização desfaz fronteiras e o mundo
passa a ser um todo regido por regras e
práticas comuns, que devem ser adotadas
por todos. Nessa abordagem, muitas são
as vantagens advindas da globalização,
pois um mercado sem limites entre as
nações, que possui liberdade e se auto-
regulariza é a base ideal para o
desenvolvimento pleno do Neoliberalismo.
Também, o Estado se livra de suas
responsabilidades públicas, diminuindo sua
participação nas ações sociais destinadas
a garantir o desenvolvimento da
população, deixando essas atribuições para as empresas particulares. É a
política do Estado Mínimo.
Conseqüentemente, os Estados-Nacionais transformarão seus perfis
adotando novas formas e funções possibilitando a formação de uma gestão
mundial, como prevêem alguns cientistas políticos.
Entretanto, o processo de globalização vem recebendo severas críticas
desde as últimas crises no mercado financeiro internacional e também a partir
do elevado crescimento dos níveis de pobreza e de exclusão social. Um outro
aspecto apontado é que a globalização não está conseguindo uniformizar
os gostos, os padrões culturais como era previsto, pois os seus benefícios
não são para todos os cidadãos como já foi dito acima. Grande parte da
população não consegue se inserir nesse processo ficando assim excluída.
Diante desses fatos, adverte FLORIANI (2004, p.54) que:
Como pano de fundo, dois cenários parecem desafiar os
contendores: por um lado, o economicismo do Fórum Econômico
(Davos-Nova York) que não só propugna por mais globalização dos
mercados, do comércio, mas considera a única saída viável para o
planeta; por outro, o Fórum Social Mundial (de Porto Alegre) que se
coloca na resistência do processso, com os mais diferentes matizes,
mas com uma grande coincidência de oposição ao neoliberalismo
globalizante.
Além dos riscos econômicos, sociais e culturais, Giddens e Beck (In: Floriani,
2004) apontam como o maior problema da sociedade mundial o risco global,
em especial o risco ecológico proveniente, dentre outros, da crescente
desigualdade entre as regiões e países.
Hegemonia – dominação e di-
reção exercidas por uma clas-
se social dominante.
Neoliberalismo – Fase atual do
capitalismo que prega a liber-
dade total de transações co-
merciais sem a interferência do
Estado.
Estados-Nacionais – Surgiram
na Europa renascentista quan-
do as monarquias absolutistas
empreenderam a centralização
do poder político, destruindo
assim o poder local dos senho-
res feudais.
60
UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
MAS SERÁ QUE ESSE PROCESSO É IGUAL EM TODOS OS PAÍSES?
Apesar de falarmos sempre em um processo de globalização, os
sociólogos advertem que existem vários processos de globalização, que
este fenômeno é plural, isto é, cada realidade compõe o processo de
globalização de forma diferente. Portanto, existem vários processos de
globalização distintos para cada realidade, ou seja, cada país, dependendo
da sua posição no capitalismo (país central ou periférico), viverá este
processo de maneira particular.
Quanto às influências culturais, os antropólogos assinalam que cada
realidade incorporará os elementos importados de outros países de acordo
com sua realidade, ou seja, a homogeneização cultural seria impossível na
medida em que cada grupo social incorporasse nesses elementos as suas
vivências locais recriando-os.
Segundo Huntington (1998) os conflitos que surgirão nas próximas
décadas entre as nações serão de ordem cultural, pois estas questões
gerarão os maiores conflitos no mundo contemporâneo. O choque entre as
diferentes civilizações dominará a política global.
TERIA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ATINGIDO TAMBÉM A ÁREA
EDUCACIONAL?
Podemos afirmar que sim, pois nesse contexto constatamos mudanças
nos processos de produção das mercadorias, nos perfis dos trabalhadores,
nas relações de trabalho e nos hábitos de consumo que necessariamente
terão repercussões no terreno educacional, exigindo novas necessidades
de qualificação e requalificação profissional.
Muitas são as idéias que surgem desse
processo, uma delas é a de que o estudante
será cada vez mais independente e
autodidata, podendo aprender sozinho
através de suas pesquisas e o professor não
será mais um transmissor de conteúdos em
uma escola formal, mas um orientador em
uma escola virtual.
Os estudiosos no assunto enfatizam que
a escola atual não está atendendo as
necessidades de uma sociedade em
transformação, pois a mesma não está
conseguindo acompanhar a evolução tecnológica. Em contrapartida,
assinalam que a escola também é uma formadora de valores essenciais
para o convívio humano, valorizando o seu papel na educação.
Faz-se necessário que a escola atenda as demandas do século XXI seja
criada, com novos currículos, metodologias e dinâmicas educativas próprias
que enfrentem o futuro. Essas mudanças seriam resultantes de novos
objetivos advindos dessa visão de mundo. Uma escola onde exista a crítica
61
SOCIOLOGIA APLICADA
das informações e a produção do conhecimento. Onde os estudantes saibam
encontrar a informação, seja nas aulas, na biblioteca, no computador, e diante
dessa informação saibam reelaborá-la criticamente. Os veículos de informação,
tais como: a televisão, o vídeo, o computador, o cinema não poderão mais
ser ignorados, pois eles também são veículos de aprendizagem. Cabe ao
professor ensinar ao aluno a processar essas informações, ou seja, dar
significado a elas.
Outros paradigmas de ensino-aprendizagem surgirão para atender esse
novo processo. Os professores, segundo Libâneo (1998), deverão
desenvolver comportamentos éticos e saberem orientar os alunos em valores
e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas e a si
próprios.
Estamos cientes de que com esta unidade não esgotamos o assunto,
mas esperamos que você tenha aprendido um pouco sobre o processo de
globalização que, como vimos, é muito complexo.
LEITURA COMPLEMENTAR:
NAISBITT, J. Megatendências. As dez grandes transformações
que estão ocorrendo na sociedade moderna. Edição. São
Paulo: Abril, 1983.
SKLAIR, L. Sociologia do sistema global. Trad. de Reinaldo
Orth. Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
IANNI, O. Sociedade e linguagem. Edição. Campinas: Editora
da UNICAMP, 1997.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na próxima unidade, iremos estudar alguns dos conceitos e expressões
muito utilizadas no campo da Sociologia.
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
EXERCÍCIOS
21
SOCIOLOGIA APLICADA
UN
IDA
DE 5
A SOCIEDADE CAPITALISTA
CONTEMPORÂNEA
EXERCÍCIOS AUTO-AVALIAÇÃO
1. Uma das conseqüências da globalização, apontada pelos estudiosos,
será:
a) o estudante ficará cada vez mais dependente do computador e datelevisão;
b) o professor passará a transmitir muito mais conteúdos do que agora;c) o professor se ocupará mais em valorizar os livros;d) o aluno será cada vez mais independente e autodidata;e) a direção das escolas terá que ser mais centralizadora.
2. Os teóricos que são contrários à globalização declaram que:
a) o comércio exterior não é tão expressivo quanto pretende ser;b) a globalização trará uma ameaça de guerra constante entre as na-
ções;c) as culturas locais serão as mais prejudicadas;d) a educação será atingida de forma progressista;e) haverá um relacionamento mais humano entre as nações pobres e as
nações ricas.
3. Marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas.
I. A era da comunicação global começou através da televisão. ( )
II. A globalização tem como um de seus objetivos aumentar os mercados e,
conseqüentemente, os lucros da classe dominante. ( )
III. A globalização alterou as condições de vida e de trabalho de muitas
pessoas. ( )
IV. Entramos na sociedade de informação ou na sociedade pós-moderna. ( )
V. Hoje, muito mais trabalhadores estão nas fábricas do que criando,
processando e distribuindo informações. ( )
a) F, F, V, F, V;
b) F, F, F, V, V.
c) F, V, V, V, F;
d) V,V, F, F, V;
e) V, F, V, F, F;
22
UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
4. A globalização por ser um fenômeno ligado às tecnologias, o marco
histórico de seu início é apontado como sendo:
a) As Grandes Navegações;b) A chegada do Homem à lua;c) O descobrimento das Américas;d) A invenção do telefone.e) O lançamento do satélite Sputinik;
5. Complete o parágrafo abaixo com o grupo de palavras mais adequado.
O processo de globalização vem recebendo severas ______________, desde
as últimas ___________ do mercado financeiro internacional e também a
partir do elevado crescimento da pobreza e da ___________.
a) condenações – críticas – poluição;b) condenações – advertências – exclusão social.c) críticas – crises – exclusão social;d) advertências – décadas – fome;e) características – advertências – inclusão social.
6. O tema globalização é considerado:
a) por demais econômico, pois só atinge essa área de estudo;b) irrelevante, pois queira ou não teremos que participar dele;c) um tema ultrapassado, pois já se falou muito sobre ele e tudo já foi
dito;d) um tema polêmico, haja vista a quantidade de palestras e artigos
sobre o assunto;e) unilateral, pois só interessa as grandes empresas.
7. A Globalização é um fenômeno que faz parte de uma determinada fase
do capitalismo que é:
a) a fase tecnológico-científica;b) a fase comercial;c) a fase colonial;d) a fase financeira;e) a fase imperialista.
8. O fenômeno da globalização é um processo que acontece:
a) somente na área econômica, pois promove diversos tipos de transa-ções comerciais;
b) entre os países considerados centrais, pois os países periféricos nãopodem participar desse processo;
c) nos campos econômicos e políticos, pois envolve transações de altonível;
d) na Europa e nos Estados Unidos, pois é lá que se encontram os paí-ses centrais que comandam o capitalismo mundial;
e) na economia, na política e nas áreas cultural e social, pois envolvesituações variadas de transações e comunicações.
23
SOCIOLOGIA APLICADA
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO
1. Desenvolva a afirmativa abaixo:
A globalização é um fenômeno que não é vivenciado pelos países da mesma
forma.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
2. Que pontos positivos e negativos são apontados para o papel da escola
nesse contexto globalizado?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
63
UN
IDA
DE 6
CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTESUTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e
expressões muito utilizados no campo da Sociologia.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica
observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão
da mesma.
PLANO DA UNIDADE:
• ACOMODAÇÃO
• E adaptação?
• ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação?
• ANTAGONISMO SOCIAL
• ASSIMILAÇÃO
• CIDADANIA
• COMPETIÇÃO
• CONFLITO
• CONSCIÊNCIA DE CLASSE
• COOPERAÇÃO
• DIREITOS FUNDAMENTAIS
• INTERAÇÃO SOCIAL
• JUSTIÇA SOCIAL
• MOBILIDADE SOCIAL
• MOVIMENTOS SOCIAIS
Bons estudos!
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
64
A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música,
textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da
contextualização que os significados se tornam mais claros.
ACOMODAÇÃO
A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal
e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e
obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos
julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências.
É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo
que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que
a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto
Freire (1984, p.163) aborda esse assunto:
“Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das
iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-
se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo
deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de
tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram
penando.”
E ADAPTAÇÃO?
A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade,
podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o
biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado
aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos
namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O
segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões
desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais.
Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram
de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como
esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”,
de Vinícius de Moraes (1998, p.179)
(...)
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
SOCIOLOGIA APLICADA
65
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
(...)
O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema
(Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao
Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento
dos índios causam aos portugueses:
(...)
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO?
Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes
ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se
insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht
(1982, p.183) em “O analfabeto político”:
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa
Dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das
decisões políticas.
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
66
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o
peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da
sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra,
corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
ANTAGONISMO SOCIAL
Antagonismo social é a incompatibilidade de convívio harmonioso entre
as classes sociais, sendo cada uma destas, tal como Karl Marx afirmava, o
conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no processo
de produção com afinidades ideológicas e políticas. Dessa forma, uma tenta
manter seus privilégios, e a outra, superar a dominação tanto política quanto
econômica que sofre por parte da primeira.
Não é isso que Cazuza retrata em seus versos “Brasil”?
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
ASSIMILAÇÃO
A assimilação é um processo pelo qual um conjunto de traços culturais
é abandonado e um novo conjunto é adquirido. Este entendido como padrões
de comportamento, sentimentos e tradições. Pode ocorrer não só entre
povos distintos, mas também entre classes sociais. Como exemplo, pode
ser citado o caso de determinadas construções lingüísticas próprias das
camadas socialmente desprestigiadas que acabam influenciando o linguajar
das mais abastadas. Repare como Oswald de Andrade (1971, p.112) trata
dessa questão:
SOCIOLOGIA APLICADA
67
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
E também em Erro de Português, do mesmo autor, com um tom, porém,
bastante irônico:
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
(Ibid., p.123)
CIDADANIA
Da forma como abordada por Thomas Marshall, o conceito de cidadania
pode ser compreendido a partir da articulação de três tipos distintos de
direito:
1) direitos civis, que incluem os direitos fundamentais à vida, à
liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei.
2) direitos políticos, se referem à participação do cidadão na vida
política da sociedade. Consistem na capacidade do cidadão
participar da organização dos partidos políticos de votar e de
ser votado.
3) direitos sociais, se referem aos direitos que garantem sua
participação na riqueza coletiva. São direitos sociais: a
educação, a saúde, o trabalho, o salário, a segurança pública,
a habitação, o lazer, etc.
Portanto, na ótica de Marshall, seria considerado cidadão pleno aquele
que usufruísse dos três tipos de direito. Cidadãos incompletos seriam os
que parcialmente usufruíssem alguns dos direitos. Os que não se
beneficiassem de nenhum direito não seriam considerados cidadãos.
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
68
É o que se verifica nas estrofes de Ferreira Gullar (1980, p.137) em
seu poema O Açúcar:
O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu no açucareiro por milagre.
(...)
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
(...)
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.”
COMPETIÇÃO
Você já reparou como os indivíduos competem entre si na sociedade
em maior ou menor intensidade, porque seus desejos e necessidades são
diferentes? A competição se faz presente quanto maior for a escassez dos
recursos ou mesmo quando existem poucos lugares para muitos. A
competição é a luta que ocorre quando as pessoas tentam maximizar suas
vantagens a expensas dos demais.
A competição pode ser pessoal, como quando dois rivais lutam para
vencerem uma eleição; ou pode ser impessoal, como nos concursos públicos,
SOCIOLOGIA APLICADA
69
em que os concorrentes nem ao menos têm a consciência da identidade dos
outros.
Todas essas tentativas de melhorar de vida ou de atingir uma posição
mais significativa na sociedade tem por base uma competição.
No inciso II, do art. 37, da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, encontra-se a seguinte determinação:
(...) a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Nasce desse dispositivo, então, uma intensa luta entre candidatos por
uma vaga no serviço público. Ao se empenharem nos estudos, tentam através
destes alcançar seu objetivo, excluindo assim o uso da força e da violência.
CONFLITO
Conflito é um processo que pode ser definido como um processo em
que os envolvidos procuram obter recompensas pela eliminação ou
enfraquecimento dos competidores. É um processo que revela uma grande
tensão entre os indivíduos, já que o objetivo a ser alcançado visa à lesão,
neutralização e eliminação dos rivais.
Isso torna-se freqüente quando os privilégios de uma classe social
chegam a tal ponto que a menos favorecida já consegue obter o mínimo
necessário para a sobrevivência.
A todo momento a imprensa noticia os conflitos entre os fazendeiros e
os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra:
MST e ruralistas entram em conflito em Cascavel
O conflito no campo teve mais um capítulo de tensão ontem:
integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)
afirmam terem sido agredidos após pararem em um bloqueio
promovido por ruralistas em Cascavel, no Oeste do Paraná. Os
supostos agressores negam e acusam os sem-terra de terem
agido com violência. O resultado da confusão: vários feridos.
Os sem-terra se dirigiam para a fazenda experimental da Sygenta
Seeds, desapropriada pelo governo estadual, em Santa Tereza
do Oeste, quando foram parados quilômetros antes do destino
por um bloqueio da Sociedade Rural Oeste (SRO) na BR-277.
Segundo a assessoria do MST, os integrantes tiveram que descer
dos veículos e atravessar a pé os tratores e caminhões parados
na pista, momento em que alguns teriam sido atingidos por
pauladas. A viagem somente pôde prosseguir no fim da tarde,
quando a pista começou a ser liberada.
Já o presidente da SRO, Alessandro Meneghel, afirma que os
cerca de 150 produtores rurais não agrediram ninguém e que,
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
70
ao contrário, teriam sido alvejados por pedras. “Uma delas
acertou um homem de 70 anos”, contou. “Chegaram a mostrar
arma para nós”. O MST promovia uma marcha de encerramento
da 1ª Jornada de Educação na Reforma Agrária, que teve início
no último domingo (26), no Centro de Convenções e Eventos
de Cascavel. A manifestação dos ruralistas aconteceu em frente
ao Parque de Exposições Celso Garcia Cid. Disponível em: <http:/
/www.terradedireitos.org.br>. Acesso em: 27/12/2006
Outro caso remete a uma situação particular que desde tempos
remotos vem preenchendo as páginas da literatura universal – o tão
malfadado triângulo amoroso. Confira em “Domingo no Parque”, de Gilberto
Gil:
(...)
A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar capoeira
Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar
(...)
Foi no parque que ele avistou Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
(...)
Olha a faca! (olha a faca!)
Olha o sangue na mão (ê, José)
Juliana no chão (ê, José)
Outro corpo caído (ê, José)
Seu amigo João (ê, José)
Amanhã não tem feira (ê, José)
Não tem mais construção (ê, João)
Não tem mais brincadeira (ê, José)
Não tem mais confusão (ê João)
CONSCIÊNCIA DE CLASSE
Já ouviu falar de consciência de classe? Pois bem. De acordo com Karl
Marx, é um processo pelo qual os membros de uma classe – o proletariado
SOCIOLOGIA APLICADA
71
- se tornam consciente de si mesmos como classe. Tornam-se conhecedores
de sua condição de vendedores de sua força de trabalho aos detentores
dos meios de produção e, conseqüentemente, lutam pelo rompimento dos
privilégios e da dominação política e econômica que estes últimos exercem
sobre eles. Assim, não há como separar conhecimento da realidade e o
resultado deste, que vem no bojo da luta entre dominantes e dominados.
Para ilustrar o exposto, cabe a leitura de um fragmento de “Operário
em Construção”, de Vinícius de Moraes (1998, p.335):
“Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem
É um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
(...)
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
72
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
(...)
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
(...)
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
COOPERAÇÃO
É um processo pelo qual se visa à realização de um objetivo comum. É
o esforço coordenado para atingir objetivos comuns. Pode ser temporária
quando os indivíduos ou grupos se reúnem num determinado período de
tempo para executar a ação ou contínua quando os indivíduos ou grupos
se reúnem freqüentemente, pois necessitam sempre da colaboração entre
eles. Pode ser direta quando os indivíduos fazem atividades semelhantes
ou indireta quando fazem atividades diferentes e necessitam uns dos outros.
Quando os detentores dos cargos eletivos se reuniram em Assembléia
Constituinte em 1988 para a elaboração da nossa atual Carta Magna, o
fizeram temporária e diretamente. Naquele momento, a sociedade ansiava
por uma Constituição que extirpasse todo o autoritarismo dos governos
SOCIOLOGIA APLICADA
73
militares, trazendo como um de seus pontos altos a ampliação e defesa dos
direitos de cidadania.
Outro exemplo relaciona-se a uma fábrica que se volta para uma
atividade complexa, que exige fases diversas, desenvolvendo-se numa forma
contínua e indireta, pois a etapa seguinte depende da anterior e,
evidentemente, cada momento tem um trabalhador especializado.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Naturalmente você já deve ter ouvido falar em Direitos Fundamentais.
São aqueles direitos considerados indispensáveis à pessoa humana,
necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. Direitos
Individuais são limitações impostas pela soberania popular aos poderes
constituídos, para resguardar direitos indispensáveis à pessoa humana. Após
os governos militares, fez-se questão de que a Constituição Federal, também
denominada “Constituição Cidadã”, deixasse explícitos esses direitos,
conforme se verifica no artigo 5º:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
INTERAÇÃO SOCIAL
É o processo que ocorre quando pessoas agem sob a influência
recíproca de um contexto social. Pode ocorrer por meio de comunicação. Saiba
que a esse conceito relacionam-se cooperação, competição e conflito.
Observe a seguinte estrofe de Bertolt Brecht (1982):
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo
da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.”
JUSTIÇA SOCIAL
Numa concepção ampla, justiça é um conceito que remete a idéia de
eqüidade, ou seja, o processo em que as pessoas almejam obter aquilo que
merecem. Do ponto de vista jurídico, por exemplo, justiça assume o sentido
de tratamento imparcial de todos perante a lei, com vistas a garantir os
direitos prescritos nas normas legais instituídas em uma determinada
sociedade.
Você já deve ter observado que o termo tem sido empregado para
designar uma realidade determinada, uma justiça específica.
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
74
Há uma divisão clássica que distingue três espécies da justiça nas
relações entre os homens:
a) as relações entre grupos ou pessoas particulares;
b) as relações entre a sociedade e seus membros;
c) as relações entre os membros das sociedades como tais
ligadas à justiça regida pelo direito, isto é, justiça legal.
Tem sido freqüente, no entanto, o emprego dessa expressão para a
distribuição igualitária das riquezas, a justa remuneração, que incluiria as
condições mínimas de sobrevivência, a distribuição da propriedade privada
e dos seguros sociais. E não havendo isso, haverá naturalmente injustiça
social, fato elucidado por Émile Zola (1978, p.209), ao tratar do dia-a-dia
dos trabalhadores de uma mina de carvão no século XIX, em O Germinal:
Na rua estava escuro, era noite fechada, e a lua, entre as nuvens,
iluminava a terra de uma maneira sinistra. Em vez de atalhar pelos
jardins, a mulher [ esposa de Maheu, que saiu de casa para implorar
comida para a família de 10 pessoas] fez a volta, desesperada, não
ousando entrar em casa. Mas, ao longo das fachadas mortas, todas as
portas ressudavam fome e inércia. De que adiantava bater? A miséria
estava por toda parte. Havia semanas que não se comia mais, o próprio
cheiro de cebola tinha desaparecido, esse cheiro forte que de longe,
do campo, anunciava a aldeia; agora só havia um odor de porões
bolorentos, de buracos úmidos onde ninguém vive. Os ruídos vagos
iam esmorecendo aos poucos: eram lágrimas abafadas, pragas soltas
ao léu. E o silêncio era cada vez mais pesado, sentia-se avançar o
sono da fome, o esquecimento dos corpos jogados nas camas sob os
pesadelos dos estômagos vazios (...)
MOBILIDADE SOCIAL
É o movimento ascendente ou descendente próprio das sociedades
estratificadas. Segundo Cherkaoui (1995, p.183) pode-se considerar a
mobilidade como resultado de uma seleção de indivíduos através de uma
série de mecanismos próprios de certos agentes como a família, a escola, a
Igreja, as burocracias. Essas instâncias controlam, orientam, determinam
diretamente a posição dos indivíduos dentro da sua estratificação própria.
O lugar e a importância desses agentes de seleção variam de sociedade
para sociedade. Para determinada mobilidade social, a família constitui
instância de orientação mais importante; para outra, é a Igreja ou o exército;
para uma terceira, é a escola e a competência adquirida no seio de certas
organizações.
MOVIMENTOS SOCIAIS
Segundo Alain Touraine (1995), os movimentos sociais se identificam
simultaneamente por um modo de ação, por um tipo de participantes e,
sobretudo, por um desafio. Segundo ele, os movimentos sociais consistem
de fato numa: 1- “ação conflitual”, 2- conduzida por um “ator de classe”, 3-
SOCIOLOGIA APLICADA
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que se opõe a seu adversário de classe com vistas a fazer prevalecer uma
nova ordem de vida e de sociedade.
Exemplo de movimento social é o Movimento dos Sem-Terra no Brasil.
Este movimento consiste em um movimento político-social brasileiro cujos
integrantes vêm ocupando as terras improdutivas como forma de pressão
pela reforma agrária, reivindicando também empréstimos e ajuda para que
possam realmente produzir nessas terras. Apesar dos constantes conflitos
e massacres, hoje existem escolas em sua área de assentamento e
acampamento e um trabalho de alfabetização de jovens e adultos sem-terra.
Tem-se notícia também da formação de técnicos e de educadores em cursos
de nível médio e superior, assim como diversas outras iniciativas de formação
de sua militância e do conjunto da família Sem-Terra.
É interessante notar que a Constituição da República Federativa, em
seu inciso XXIII, do art. V, determina que a propriedade atenderá a sua
função social, ainda que o inciso anterior garanta o direito de propriedade.
Caso contrário, em se tratando de propriedade rural, haverá desapropriação
para fins de reforma agrária.
Assim, esperamos que você daqui para frente comece também a
associar esses conceitos com a sua realidade e o mundo que o envolve. Boa
sorte!
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco!
LEITURA COMPLEMENTAR:
ANDRADE, C. D. de. Obra Completa. 4ª edição. Rio de Janeiro:
Nova Aguillar, 2000. 163p.
ANDRADE, O. A Descoberta. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Civilização brasileira. 1971. 253p.
BOURDON, R. & Bourricaud F. Dicionário Crítico de Sociologia.
2ª edição. São Paulo: Ática, 2002. 653p.
BRECHT, B. Poemas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1982. 224p.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13ª edição. São Paulo: Ática,
1995. 424p.
FERREIRA G. Toda poesia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1980. 300p.
FREIRE, G. Casa grande & senzala. 7ª edição. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1984. 294p.
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
76
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. 1ª edição.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.232p.
MORAES, V. de. Poesia completa e prosa. 4ª edição. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1988. 1597p.
ZOLA, É. Germinal. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978.280p.
Terminamos nesta unidade os nossos estudos sobre a Sociologia
Aplicada. Daqui para frente, nos dedicaremos ao estudo da Sociologia
Aplicada ao Direito (como texto complementar).
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
EXERCÍCIOS
25
SOCIOLOGIA APLICADA
CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES
UTILIZADAS PELA SOCIOLOGIA
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
1-Leia atentamente a estrofe do poema Banzo, de Menotti del Picchia.
“Ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando, morrendo.”
As palavras do poeta ilustram um momento de nossa história. Elas
exemplificam um caso de:
a) competição.b) conflito.c) acomodação.d) cooperação.e) mobilização social.
2-Observe a estrofe abaixo (Língua Portuguesa, de Olavo Bilac).
“Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” E em que Camões chorou, no exílio
amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!”
Os versos exemplificam um caso de:
a) assimilação.b) adaptação.c) competição.d) cooperação.e) acomodação.
3-Leia, com atenção, a seguinte notícia:
Quinta-feira, Abril 22, 2004
Brasil: Governo quer impedir confrontos entre índios e garimpeiros na
Amazônia .
UN
IDA
DE 6
26
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS PELA SOCIOLOGIA
“Brasília, 21 de Abril - A Polícia Federal e as Forças Armadas iniciaram uma
operação conjunta em Rondônia para tentar solucionar os conflitos entre índios
e garimpeiros na Reserva Indígena Roosevelt, na Amazônia, anunciou o ministro
da Justiça do Brasil. Márcio Thomaz Bastos, que recebeu terça-feira
representantes de 35 tribos indígenas do Brasil, admitiu ter ‘há muito tempo’
informações de que os garimpeiros que exploravam diamantes nas terras
indígenas da etnia Cinta Larga corriam riscos. ‘0 governo tem há muito tempo
informações das dificuldades, dos problemas, dos riscos no garimpo Roosevelt.
É uma situação séria, que veio relegada de outros governos. Hoje, estamos a
começar uma operação que tem vindo a ser planejada desde julho do ano
passado’, afirmou. A Polícia Federal já resgatou 29 corpos de garimpeiros na
região, a 534 quilômetros da capital Porto Velho, e continuam as buscas por
mais vítimas do massacre na maior reserva de diamantes da América do Sul. “
(http://indios.bloQspot.com/2004)
A situação retratada consiste em:
a) cooperação.b) acomodação.c) assimilação.d) alienação.e) conflito.
4. Leia os seguintes versos de Comportamento Geral, de Gonzaguinha:
“Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre: ‘Muito obrigado’
São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado / Deve
pois só fazer pelo bem da Nação / Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final / E diploma de bem comportado
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabar em teu Carnaval’
Observa-se que o autor trata de:
a) alienação.b) conflito.c) consciência de classe.d) competição.e) cooperação.
5. Quando você lê uma notícia sobre a situação dos hospitais públicos que
não vêm atendendo às necessidades da população, é correto afirmar que
se trata:
a) de mobilização social.b) de afronta a um direito fundamental.c) de competição.d) do respeito à cidadania.e) ocorrência de justiça social.
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SOCIOLOGIA APLICADA
6. Cidadania consiste:
a) apenas na participação das decisões políticas.b) em não ser alienado.c) em opinar sobre a atual situação de nosso país.d) não só na luta pelos próprios direitos, mas também na efetivação des-
tes.e) apenas na observação de realidade.
7. A organização de uma festa de aniversário para uma pessoa feita por um
grupo de amigos é um caso de:
a) conflito.b) competição.c) cooperação.d) mobilização social.e) consciência de classe.
8. O conflito existente entre as classes sociais reflete:
a) a justiça social.b) o antagonismo social.c) cidadania.d) alienação.e) acomodação.
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM E FIXAÇÃO
1. A cidadania consiste apenas na luta por determinados direitos do homem?
Justifique sua resposta e exemplifique.
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2. Você deve ter observado que o termo ‘conflito’ relaciona-se a duas
situações bem distintas. Disserte sobre elas e exemplifique.
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Questões Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Unidade 4 Unidade 5 Unidade 61 D D E B D C2 D D B E A B3 D A C D C E4 A E D B E A5 D D A A C B6 B D D E D D7 E B E C A C8 A E D E E B
OBS
GABARITOS DOS EXERCÍCIOS DAS UNIDADES DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA - ONLINE
questões 9 e 10 das unidades são subjetivas