Solange Cruz Encontro Discente UNINOVE 2015 (RE)CORRIGIDO

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pesquisa sobre o brincar na educação infantil

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    AS CONCEPES DE BRINCAR, ORIENTADORAS DAS PRTICAS DE DOCENTES DA EDUCAO INFANTIL, POR ELAS MESMAS.

    Solange Maria de Oliveira Cruz1. Universidade Nove de Julho UNINOVE.

    Supervisora de Ensino da Rede Pblica Municipal de Cubato-SP. E-mail para contato: [email protected].

    INTRODUO

    A brincadeira infantil uma atividade carregada de sensaes gostosas e de mltiplos significados que acompanham as fases do desenvolvimento da criana, levando-a a estabelecer relaes com o mundo sua volta, contribuindo de maneira fecunda para a formao da sua personalidade adulta.Segundo Kishimoto, (2002, p. 139)A brincadeira uma atividade que a criana comea desde seu nascimento no mbito familiar.

    E brincando que a criana aprende, ao reproduzir em si, para si e com o outro, relaes que observa ao seu redor, desenvolvendo a linguagem, a socializao, a personalidade prpria, o controle social de suas condutas, dentre outras funes psquicas importantes para seu desenvolvimento futuro, imprescindveis para seu processo de tornar-se humana. (LEONTIEV, 1978; 1988, MUKHINA, 1996; ELKONIM, 1998).

    Brincar permite s crianas satisfazer desejos e necessidades afetivas e cognitivas recorrendo imaginao para vivenciar papis sociais, estabelecendo dilogos com o mundo exterior que a cerca, assimilando regras, projetando aes, e apropriando-se do modo adulto de viver. Assim, a criana aprende a atividade adequada. Pela sua funo, este processo , portanto, um processo de educao (LEONTIEV, 1978, P.272).

    Vigotski (2010)2, seguidor da Teoria Histrico- Cultural, entre outros pressupostos, afirma que na ausncia do outro o homem no se constri homem e sob a tica desta teoria 1 Bolsista do Programa de Ps-Graduao em Educao Mestrado, da Universidade Nove de Julho -

    UNINOVE.

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    a escola entendida como o lugar privilegiado para a humanizao dos indivduos. Para ele, tal processo de tornar-se homem precisa ser acompanhado de perto pela mediao de outros indivduos mais velhos ou mais experientes, para que este seja um momento de aprendizagens significativas para a criana.

    Transpondo essa discusso para o contexto escolar, vemos que as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educao Infantil (BRASIL, 2009) estabelecem em seu Art. 9 que "as prticas pedaggicas que compem a proposta curricular da Educao Infantil devem ter como eixos norteadores as interaes e a brincadeira [...], enfatizando que a dimenso ldica dever ser o eixo condutor do trabalho educativo neste nvel de ensino.

    No sendo a brincadeira uma atividade inata do ser humano, mas um fenmeno social, uma atividade aprendida entre seus semelhantes, nas relaes que estabelece com o outro, e que, portanto precisa estar presente na escola, fundamentada em VIGOTSKI3 (2007), LURIA (1990), LEONTIEV (1988) MUKHINA (1996) defendemos que o profissional de educao, sobretudo o educador infantil, deve estar preparado para aproveitar ao mximo as brincadeiras da criana no espao escolar, como alavanca para o desenvolvimento cognitivo e social da mesma, incentivando sua autonomia, criatividade e liberdade de aprender, elementos significativos para a evoluo do ser humano e da sociedade.

    Pautada no reconhecimento de que as interaes com o meio representam uma importante fonte de desenvolvimento humano, fomos pesquisar quais meios temos oferecido s crianas nas escolas de educao infantil de zero a cinco anos de idade e que vivncias e interaes ldicas esto sendo oferecidas para que essas crianas se desenvolvam pedagogicamente e emocionalmente para viver em sociedade.

    METODOLOGIA

    Realizamos a coleta das falas de professoras 4 de Educao Infantil sobre suas concepes e prticas do brincar nas escolas onde atuam.

    2VIGOTSKI, L. S. Formao social da mente. 3. ed., So Paulo: Martins Fontes, 2010. 3Dentreos diversos modos de grafar o nome do estudiosorusso Lev SemenovichVigotski: Vigotsky, Vygotsky, Vygotski, Vigotskii, Vigotski, outras, neste trabalho, a forma usual ser VIGOTSKI, salvo as referncias bibliogrficas, que tero a escrita do texto original. 4 Neste trabalho utilizaremos o termo professoras porque o grupo pesquisado formado s por docentes do

    sexo feminino.

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    A amostragem foi composta por 58 professoras de Educao Infantil de uma rede pblica municipal, localizada em uma cidade do litoral paulista.

    Os dados foram coletados a partir do registro de suas opinies, observaes e reflexes, em um curso de formao continuada a distncia, com o tema o brincar e as brincadeiras na escola para crianas de zero a cinco anos e sobre como esse brincar acontece nos diferentes espaos da escola e suas implicaes para a prtica docente e para a aprendizagem infantil.

    Os objetivos eram fortalecer, aprimorar, disseminar, propor e desenvolver prticas que faam sentido e tenham significado para as crianas das escolas de Educao Infantil 5.

    A proposta inicial do curso era explorar o brincar dentro dos diversos contextos culturais 6 , promovendo discusses que possibilitassem s professoras uma reviso 7 e ressignificao 8 de sua relao com o brincar, para posteriormente refletir por que e como inclu-lo no currculo, e foram estruturados trs mdulos temticos, desenvolvidos num prazo de cinco semanas, totalizando uma carga horria total de 60 horas, com uma avaliao dissertativa ao final, cujos temas tratados foram os seguintes: a infncia e a cultura ldica; o brincar na escola e brinquedos.

    Coletando dados registrados no Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA, observamos que as turmas foram formadas por trinta e uma docentes que atendiam crianas menores de dois anos (54% do total de cursistas), dez docentes (17%) que atendiam crianas de dois a trs anos e dezessete docentes (29%) que atendiam crianas de quatro e cinco anos.

    A docente que possua mais tempo de trabalho na rede atuava h vinte anos, e a que possua menos tempo, trs. Dentre as demais, a mdia de atuao de onze anos.

    Transportando graficamente os dados, temos o que segue:

    Tabela 1 percentagem de cursistas por idade das crianas atendidas.

    5 Transcrio literal do trecho da ementa de apresentao do curso mencionado.

    6 Idem.

    7 Idem.

    8 Idem

  • A partir do exposto fanos de idade so maioria no curso, o que pode indicaruma ao primordial deste nvel de ensino. Alm disso, pode significar que visualizaram no curso a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos, melhorando

    Embora algumas atuemnecessidade que sentem de trocar experincias e debater o tema com seus pares, como demonstra a fala de algumas brincar atravs da troca de experincias e debates.

    Espero conhecer, trocar e aprender novas experincias. (atuao)

    Em relao s expectativas com a

    conhecimentos novos sobre o assunto subsdios para a minha prtica

    A partir do exposto fizemos a seguinte leitura: as professoras de crianas de idade so maioria no curso, o que pode indicar que estas concebem o brincar como

    deste nvel de ensino. Alm disso, pode significar que visualizaram no curso a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos, melhorando sua

    RESULTADOS E DISCUSSES

    tuem h bastante tempo na rede, as docentes cursistas necessidade que sentem de trocar experincias e debater o tema com seus pares, como demonstra a fala de algumas delas: Espero, com esse curso, aprender novas tcnicas do brincar atravs da troca de experincias e debates. (nove anos de atuao)

    Espero conhecer, trocar e aprender novas experincias. (

    ao s expectativas com a formao ofertada, de modo geral, esperavam adquirir sobre o assunto e melhorar a prtica: Acredito que o curso

    subsdios para a minha prtica (doze anos de atuao)

    54%

    17%

    29%

    0 - 2 anos

    2 - 3 anos

    4 - 5 anos

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    as professoras de crianas de zero a trs que estas concebem o brincar como

    deste nvel de ensino. Alm disso, pode significar que visualizaram no sua prtica docente.

    cursistas expressaram a

    necessidade que sentem de trocar experincias e debater o tema com seus pares, como Espero, com esse curso, aprender novas tcnicas do

    anos de atuao) Espero conhecer, trocar e aprender novas experincias. (cinco anos de

    formao ofertada, de modo geral, esperavam adquirir Acredito que o curso trar muitos

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    No mdulo inicial do curso a proposta era discutir A infncia e a cultura ldica, afim de9 :

    - Refletir sobre a cultura da infncia e as produes das nossas crianas da educao infantil;

    - Reconhecer e valorizar o brincar como uma das principais atividades da infncia e como uma ferramenta por excelncia para a criana aprender a viver reinventar suas experincias e criar cultura;

    - Contribuir para o entendimento da criana como produtora de cultura ao criar diferentes contextos.

    Para trabalhar os objetivos propostos foi apresentado ao grupo o texto : Viajando nas esteiras das culturas infantis10e o VDEO: A Inveno da infncia11.

    Aps assistir ao vdeo e ler o texto, as docentes deveriam relatar uma situao de crianas brincando na escola que chamou sua ateno, pensando nas idias que os autores apresentaram no texto sobre as manifestaes culturais da infncia.

    As docentes apontaram a necessidade de criar espaos para o brincar dentro da escola, e alegaram ter seu trabalho ldico interpretado de maneira errada pelos demais membros da comunidade escolar onde ,segundo elas, alguns pais ou pares profissionais, que trabalham na escola,tendem a ver o brincar como perda de tempo, enrolao ou algo que no pedaggico:Realmente muito triste ver como o brincar desvalorizado e visto por alguns dos nossos pares e pelas famlias como um mero passatempo.(sujeito1)

    Na escola isso precisa ser revisto urgentemente, pois a brincadeira muitas vezes vista como algo que no pedaggico, assim somos cobradas a aplicar atividades pedaggicas. Dessa forma ficam questionamentos de como introduzir essa brincadeira sem parecer que as crianas esto brincando porque a professora no quer trabalhar. ( sujeito 2)

    Uma docente aponta uma possvel soluo para o problema: Para que o brincar deixe de ser tratado pelos pais apenas como um passatempo na educao devemos abordar nas reunies de pais e mestres a sua importncia no desenvolvimento infantil. (sujeito 3)

    Tocam na questo da rotina como fator que dificulta o desenvolvimento do brincar dentro da escola, pois, segundo elas, introduz uma rigidez de horrios no condizentes com a atividade ldica do brincar, e vem isso como algo que empobrece o brincar: Muitas vezes a rotina nos envolve de tal maneira, que o brincar passa despercebido. (sujeito 4) 9 Transcrio literal dos objetivos do curso.

    10 Revista Poisis Volume I, Nmero 1, pp.5-19, janeiro/dezembro 2003

    11https://vimeo.com/proeca

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    [...]s vezes na correria do dia-a-dia, seguimos uma rotina com horrios fechadinhos e temos que segui-los rigorosamente para o bom andamento da escola, muitas vezes podamos nossos pequenos, seja encerrando uma brincadeira para comear outra coisa ou at mesmo inibindo que se crie uma brincadeira. Precisamos estar atentos!!!. (sujeito 5)

    Mencionam em suas falas a tendncia de algumas colegas em inserir a escolarizao precoce: [...]nos dias de hoje, nos deparamos com professores dando atividades em papel A4 para crianas de trs anos, preocupados que a criana aprenda as letras. (sujeito 6);[...] infelizmente na escola a viso, mesmo na educao infantil est relativamente ligada aprendizagem de contedos e o brincar, atividade to importante nesta fase da vida da criana, menos valorizado. (sujeito 7)

    Alguns relatos demonstram a no superao da viso assistencialista, ainda presentes no cotidiano das creches, gerando questionamento sobre o que de fato importante na educao infantil: Deparamo-nos com certas crticas de pais que querem as crianas limpinhas e arrumadinhas quando vo busc-las no fim do perodo. ( sujeito 8)

    [...] muitas vezes, a viso assistencialista das creches predomina. Fatores como o penteado e a roupa limpa na hora de entregar para a me (sendo que em sua maioria, no so assim que eles chegam) so mais importantes [...] e geram intrigas com a equipe gestora/limpeza/mes, da volto a questionar quem o sujeito principal da creche, as mes que no podem ir reclamar na Seduc ou o desenvolvimento pleno infantil?(sujeito 9)

    Demonstram em suas colocaes que o cuidar ainda permeia fortemente a Educao Infantil, sobressaindo-se em relao ao educar e interferindo na qualidade do brincar:

    [...] muitas vezes nos deparamos com esses problemas de querer fazer, mas no ter a possibilidade simplesmente porque temos que dar conta do cuidar(dar banhos, trocar...). Tudo isso nos frustra, pois nos capacitamos para fazer o melhor, mas para muitos somos babs. (sujeito 10)

    Criticam os brinquedos eletrnicos:

    A falta de espao apropriado para as brincadeiras, o excesso de brinquedos automatizados e a evoluo da informtica acabam por adultizar cada vez mais cedo as nossas crianas. (sujeito 11)

    [...] triste, mas um fato, no importa o nvel social, a infncia est resumida em tablets, celulares, etc...Qualquer artifcio que os deixe longe, quietos e ocupados.( sujeito12)

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    Praticamente todas as educadoras mencionam os cantinhos com diferentes objetos, como brinquedos e outros materiais (fantasias, objetos que reproduzem a casa, um salo de beleza, supermercado, etc.) como forma de organizar e proporcionar brincadeiras, oferecidos, na maioria das vezes, dentro da prpria sala de aula como uma forma de desenvolver o brincar em suas salas, sem a necessidade de deslocar as crianas para outros espaos, como explicam:

    [...] nesse canto tem desde esmalte, maquiagem, secador, chapinha e outros acessrios reais e de brinquedos, as meninas fazem a festa. (sujeito13).

    Realmente os cantinhos so maravilhosos para despertar os faz de conta nas crianas. Elas viajam na imaginao e muitas vezes usam diversos artifcios para variar a brincadeira. Um mesmo objeto numa hora carteira outra hora uma mquina fotogrfica e por a vai. (sujeito14)

    Sobre as questes de Gnero e Incluso, as docentes mencionam que as brincadeiras tanto dirigidas, como livres, favorecem a integrao:

    [...] favoreceu que no sejam determinados papis especficos de seu sexo e no meio do ano todos brincavam juntos sem constrangimentos, criando atravs das brincadeiras um mundo particular, sem preconceitos. (sujeito15)

    No mdulo dois do curso citado anteriormente, foi apresentado um texto retirado de uma revista de educao infantil12, tratando a liberdade do brincar, denominado Livres para Brincar de Luciana Alvarez, refletindo que, ao ser escolarizada, a brincadeira pode perder uma de suas caractersticas principais: provocar a criatividade infantil.

    O texto tambm convidava o educador a repensar como deve fazer suas intervenes e quais ambientes esto sendo ofertados para que as crianas exeram de forma autnoma a linguagem ldica.

    Foi disponibilizado o acesso a dois vdeos: Aproveitamento do espao escolar do Programa pelo Direito de ser Criana da Unilever/OMO e um vdeo com registro de experincias de brincadeiras nas escolas da rede onde atuam as docentes cursistas, de autoria de uma das formadoras, com o tema: O brincar na escola, ambos trazendo uma reflexo sobre as brincadeiras, interaes, descobertas, faz-de-conta, autonomia do professor e organizao de espaos.

    Neste segundo mdulo, os objetivos propostos eram13:

    12Revista Educao Infantil, n 10: Editora Segmento, So Paulo. jul/ set/ 2014 13

    Transcrio literal dos objetivos do curso.

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    - Pensar na organizao do trabalho pedaggico, no que se refere aos tempos, espaos e atividades com o brincar nas quais as crianas se inserem;

    - Discutir sobre o papel do adulto nas situaes de brincadeira presentes na rotina e como podem ser suas intervenes, favorecendo os processos de desenvolvimento das capacidades infantis.

    A proposta no frum foi convid-las a descrever como a rotina e os ambientes da escola em que trabalham esto organizados para que proporcionem descobertas s crianas.

    Sobre os espaos, as docentes registram que a maior parte do tempo retiram alguns brinquedos da brinquedoteca e disponibilizam em suas respectivas salas de aula, a fim de que as crianas exercitem o seu direito de escolha sobre do que brincar.

    Alegam que disponibilizar e ressignificar os brinquedos em outros espaos criam novas possibilidades e maneiras diferentes de brincar com o mesmo objeto.

    Mas em suas falas aparecem questes relacionadas falta de espaos adequados e problemas na estruturao fsica dos espaos destinados s brincadeiras, como a principal razo para que faam essa ressignificao do espao:

    [...] o que nos resta fazer improvisar e tentar fazer os espaos que temos mais atrativos possveis. (sujeito 16)

    [...] onde trabalho temos um espao enorme, que o nosso refeitrio, espao este que deveria ser melhor aproveitado. E uma sala pequena, onde a Brinquedoteca e a Sala de Leitura, espao muito quente e sem ventilao, que nestes dias super quentes, fica impossvel utilizar com as crianas. E acabamos, ,por fim, trazendo estes materiais para nossa sala, delimitando o espao do brincar.( sujeito 17)

    E para os menores a situao espacial torna-se mais complicada, vejamos as falas das professoras a respeito:

    [...] esse trnsito com crianas muito pequenas muito difcil [...] tentamos montar salas ambiente para que as crianas possam sair um pouco das salas de referencia e explorem a escola. (sujeito 18)

    Temos uma brinquedoteca boa e um espao externo na frente da creche, porm nesse espao, as crianas da minha sala, no caso bebs que engatinham, no podem ficar livres, porque o cho grosso e machucaria os joelhos.(sujeito 19)

    [...]o espao que eles podem utilizar a sala de vdeo, pois a brinquedoteca s tem brinquedos que no so adequados para a idade deles. (sujeito 20)

    E vem tona a questo do banho:

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    temos que dividir o tempo entre as trocas, banhos, alimentao (cuidar) e o pedaggico (educar) bem corrido (sujeito 21) [...] para haver este momento do banho prazeroso hoje, teramos que ter, no mnimo, mais uma profissional dentro da sala, no meu caso so 26 crianas de trs anos, sendo 12 pra dar banho, quando no ocorre nenhuma intercorrncia. (sujeito 22)

    O brincar aparece como rotineiro nas atividades das escolas, mesmo com os registros de falta de espao a e estruturas adequadas:

    Em minha escola as crianas todos os dias tem contato com brinquedos, sendo parte de nossa rotina. (sujeito 23).

    Na nossa rotina as crianas vo ao parque todos os dias por 30 minutos [...]. (sujeito24)

    Sobre brinquedos e brincadeiras, sobressaem nas falas indicaes que as brincadeiras so na maior parte do tempo dirigidas pelos adultos, que definem onde e quando brincar, alm de escolherem os brinquedos que sero utilizados em determinados espaos, por eles previamente definidos (sala de aula, parque, brinquedoteca, etc.):

    Eu e minhas companheiras de sala selecionamos brinquedos, bichinhos, fantoches, livrinhos diferentes a cada vez e levamos para sala para brincar com os bebs. (sujeito 25)

    Bem, no momento, o que tenho feito, so as rodas da conversa, da histria e das cantigas e os cantinhos (atividades permanentes) dentro da prpria sala de aula, e aproveitando o mximo do Parque, quando no chove. (sujeito 26)

    Relatam que, alm dos brinquedos estruturados que as instituies oferecem utilizam brinquedos no estruturados14:

    [...] nossos pequenos se divertem mais quando brincam com sucata, utenslios domsticos, revistas. (sujeito 27)

    E os brinquedos que mais aparecem nas falas so as bolas, bonecas, panelinhas, bandinha:

    [...] temos utilizado bolas, feito cabana com lanterna, levando uma trave para brincarmos em uma rea externa da sala, utilizamos tambm a bandinha, sucatas e alguns brinquedos que foram doados. Circuitos, bonecas, panelinhas, revistas. (sujeito 28)

    Uma queixa comum a falta de um tanque de areia para que as crianas tenham contato direto com a terra (sujeito 29), o que demonstra que a falta de espao para um 14

    Brinquedos estruturados so aqueles adquiridos prontos, industrializados ou no.J os brinquedos no-estruturados so objetos que no necessariamente foram feitos para ser brinquedos, mas que podem possuir tal utilidade quando nas mos das crianas adquirem tal significado: um pedao de madeira vira cavalo, uma tampa de panela, um volante de carro, e assim por diante.

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    contato mais prximo com a natureza, est levando as docentes a buscar formas alternativas de propiciar este contato.

    E novamente aparece nas falas a questo da vocao da creche: se educacional ou assistencialista:

    [...] muitos pais ainda tem a viso que a Educao Infantil assistencialista (sujeito 30)

    O terceiro e ltimo Mdulo tratou dos brinquedos estruturados e brinquedos de largo alcance15, com objetivos de discutir como a postura do adulto pode ampliar a qualidade das vivncias ldicas com relao ao espao, materiais, tempo e interaes e criar referncias para a organizao de rotinas pedaggicas.

    O texto apresentado foi o da autora Tizuko Morchida Kishimoto Brinquedos e brincadeiras na educao infantil16 e o vdeo Brinquedos no estruturados, do Programa pelo direito de ser criana, da UNILEVER/OMO17 que trouxeram importantes reflexes sobre os brinquedos industrializados e no industrializados e a relao que a criana constri com eles.

    As professoras foram convidadas a discutir como esto organizados os materiais ldicos oferecidos na escola: se h uma classificao, conservao e disponibilidade do acervo e como isso acontece. Se as crianas tm acesso aos brinquedos e em quais momentos. Se brincam com brinquedos no estruturados ou de largo alcance, e o que preciso para brincar. E finalmente, de que forma conduzem as manifestaes do brincar no seu cotidiano.

    De modo geral todas relataram que onde trabalham existem os brinquedos estruturados que ficam nas salas, como por exemplo, caixas organizadoras que contem chocalhos, mordedores, brinquedos de borracha, bolas com guizos etc, brinquedos no estruturados:

    So muitos os brinquedos que, feitos com materiais de sucata, divertem as crianas. (sujeito 31)

    Quanto ao cuidado e organizao do acervo contam com o auxilio das crianas, como citou uma delas:

    "O brinquedo deve ser utilizado, mas com responsabilidade. A criana deve aprender a usar, limpar, guardar e a reutilizar materiais. [...] (sujeito 32)

    Sobre os brinquedos no estruturados uma fala interessante se sobressai: 15Leontiev traz o conceito de brinquedo de largo alcance,como sendo aquele brinquedo no-convencional:panos de diversos tamanhos e cores; garrafas plsticas; caixas de papelo, entre outros. 16ANAIS DO I SEMINRIO NACIONAL: CURRCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010 17

    http://vimeopro.com/aiue/aquisebrinca/video/40945679

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    Confesso que me utilizei pouco de materiais no estruturados, hoje sinto que necessito utilizar mais deste material, pois , h uma tendncia de pedagogizar tambm os brinquedos no estruturados, com medo de brincar, por esse ainda ser visto como "cio". (sujeito 33)

    E alegaram que os brinquedos no estruturados fazem mais sucesso que os brinquedos de marca, pois nesse momento as crianas criam e vivem o faz de conta.

    Tocaram no assunto da interao necessria e recomendada por especialistas em relao s crianas mais experientes com as menos experientes, que elas chamam de maiores e menores, como forma de distinguir os mais novos dos mais velhos:

    [...], alm disso, muito gostoso ver essa interao, porque os maiorzinhos entendem que os bebs so menores e tem um cuidado todo especial com eles (sujeito 34)

    Retomam o tema j discutido, sobre os pais no compreenderem o verdadeiro sentido do brincar na escola:

    [...] precisamos trabalhar as cabecinhas dos pais, pois eles no aceitam o fato de seus filhos chegarem em casa com o uniforme sujo, seja de areia ou tinta,[...] E uma aluninha me disse que a me no quer que ela v ao parque para no sujar o tnis. Pode?(sujeito 35)

    E novamente sugerem que o assunto deveria ser tratado em reunio com os pais, desde o incio do ano letivo.

    Relatam sua rotina colocando o brincar como importante para o desenvolvimento das crianas, e esforam-se para que as brincadeiras permeiem todas as atividades desenvolvidas no interior da escola:

    O Brincar deve ser visto, na Educao Infantil, como um eixo norteador de todos os outros. natural da criana aprender brincando, e assim que trao minha rotina e seqncia didtica. (sujeito 36)

    Durante o curso citam alguns referenciais tericos, mas no aprofundam as discusses sobre os mesmos:

    A infncia o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano. Jean Piaget. (sujeito 37)

    Para Piaget (1973), os jogos e as atividades ldicas tornaram-se significativas medida que a criana se desenvolve, com a livre manipulao de materiais variados, ela passa a reconstituir, reinventar as coisas, o que j exige uma adaptao mais completa. Essa adaptao s possvel, a partir do momento em que ela prpria evolui internamente, transformando essas atividades ldicas, que o concreto da vida dela, em linguagem escrita que o abstrato.

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    (PIAGET,J.A psicologia da criana.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998). (sujeito 38)

    Segundo, Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, professora emrita da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da Universidade de So Paulo em Ribeiro Preto (FFCLRP): Um dos maiores desafios do cotidiano da educao infantil organizar a escola em prol da interao entre crianas, inclusive bebs, de forma favorvel ao desenvolvimento delas. (sujeito 39)

    "No h nenhuma atividade significativa no desenvolvimento da simbolizao da criana, da sua estruturao, que no passe pelo brincar. Winnicott (sujeito 40)

    O jornalista, escritor e educador Alexander S. Neill acreditava em um sistema educativo em que o importante a criana ter liberdade para escolher e decidir o que aprender e desenvolver-se no prprio ritmo. (sujeito 41)

    Vera Mellis, que fala muito sobre a questo dos espaos e como eles podem auxiliar a aprendizagem. "Todo espao educa, assim como faz a linguagem ou as relaes interpessoais tem capacidade para facilitar, limitar e orientar tudo o que se faz na educao infantil. (sujeito 42)

    No processo da educao infantil, o educador de suma importncia, pois ele que cria os espaos, disponibiliza os materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediao da construo do conhecimento." Vigostki (sujeito 43)

    [...] a criana precisa ser ensinada a brincar Kishimoto.(sujeito 44)

    Wallon foi o primeiro a quebrar os paradigmas da poca ao dizer que a aprendizagem no depende apenas do ensino de contedos: para que ela ocorra, so necessrios afeto e movimento tambm. Ele afirmava que preciso ficar atento aos interesses dos pequenos e deix-los se deslocar livremente para que faam descobertas. (sujeito 45)

    CONSIDERAES FINAIS

    Inicialmente as cursistas anunciaram entusiasmo em comear o curso e o desejo de trocar experincias com o grupo. Demonstraram desejo de aprender coisas novas sobre o brincar e melhorar sua prtica docente.

    Ao longo do percurso comentaram sobre as dificuldades encontradas em organizar brincadeiras nos espaos escolares, visando ao pleno desenvolvimento das crianas, por se

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    tratarem de espaos que restringem as brincadeiras, ora porque os brinquedos so insuficientes, ou inadequados faixa etria, ora porque o ambiente pequeno, sem ventilao ou no dispe de estrutura fsica para acolher as atividades de brincar das crianas (piso grosso, ausncia de gramado, jardim, terra ou outro elemento que reporte natureza).

    Sinalizaram que alguns profissionais que atuam na educao infantil no consideram as atividades ldicas com a mesma importncia que elas, transpondo essas aes para a questo da escola organizada e limpa. Ou seja, associando brincadeira desorganizao, insistindo em manter uma rotina inflexvel baseada nos horrios a serem cumpridos, interferindo negativamente nas brincadeiras livres e restringindo o tempo das brincadeiras dirigidas.

    Para elas os pais precisam ser esclarecidos sobre a importncia das brincadeiras desenvolvidas na escola, e que nem sempre possvel entreg-las no final do perodo escolar, com as roupas e cabelos impecavelmente alinhados, como alguns assim insistem em reclamar.

    Comentaram ainda, que entre seus pares,existem aes que denotam escolarizao precoce das crianas pequenas, alm de lamentarem que o apelo consumista das tecnologias j alcanam as crianas desde a tenra idade, levando os pais a lhes oferecem brinquedos ou jogos eletrnicos, que as crianas apresentam na escola, aos amiguinhos, no dia do brinquedo.

    Quando mencionam o banho, atrelam tal atribuio ao assistencialismo, que outrora caracterizava o servio de creche, e sentem-se ressentidas por, sob seu ponto de vista, ainda hoje serem vistas como babs, por terem que desempenhar esta tarefa, o que aparenta demonstrar que no consideram o banho uma atividade pedaggica.

    Exploram praticamente em todas as ocasies os cantinhos de brincar, geralmente oferecidos dentro da sala de aula, e reforam que isso se d por conta da falta de espao e estrutura adequados ao atendimento da criana em ambientes externos sala de aula.

    Suas falas demonstram que vem muita importncia nas interaes por meio do brincar e buscam referenciais tericos em diferentes autores para fundamentar sua prtica.

    Tambm ficou evidente a necessidade de uma melhor adequao e aproveitamento dos tempos e espaos escolares, e uma aproximao dos olhares docentes e gestores a respeito da importncia do planejamento e implementao de atividades ldicas que promovam o desenvolvimento motor, afetivo e psicolgico dos pequenos, ampliando seus conhecimentos e favorecendo o processo de socializao e humanizao, finalidade ltima da educao escolar.

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    E PARA FINALIZAR...

    Uma fala marcante:

    Realmente o tempo que sobra para brincarmos com nossos pequenos pouco pensando na quantidade de horas que eles ficam na escola, eu tambm fico triste com isso, porque de fato as pessoas, inclusive os pais se preocupam muito em receber seus filhos limpos e arrumados, mas nunca nenhum deles me perguntou se o filho brincou bastante, que coisa no!?!(sujeito 46).

    REFERNCIAS

    BRASIL. Conselho Nacional de Educao. Resoluo CNECEB n 5/2009. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil. Braslia, DF: Dirio Oficial da Unio, 18 dez de 2009 ELKONIN, D. B. Psicologia do jogo. So Paulo: Martins Fontes, 1998. KISHIMOTO, T. M. Bruner e a Brincadeira. In: O Brincar e suas Teorias, KISHIMOTO, Tizuko M. (ORG.) So Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2002. ___________________. Brinquedos e materiais pedaggicos nas escolas infantis. Educ. Pesqui., So Paulo , v. 27, n. 2, p. 229-245, July 2001 . acesso em 31/03/2105. LEONTIEV, A. O homem e a cultura. In: LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. p. 261-284. MUKHINA, V. Psicologia da idade pr-escolar. Traduo de Claudia Berliner. So Paulo: Martins Fontes, 1996. VIGOTSKI, L. S.A Formao social da mente. 3. ed., So Paulo: Martins Fontes, 2010. VYGOTSKY, L. S. Obras Escogidas, Vol. IV. Madrid: Visor, 1996.