Upload
alicewonderland
View
12
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Julgamentos interessantes do STJ e do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Conteúdo Público. Fundado em 1919, 15 de julho.
Citation preview
PODER JUDICIRIO TRIBUNAL DE JUSTIA DE SO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIA DE SO PAULO ACRDO/DECISO MONOCRTICA
REGISTRADO(A) SOB N
A C R D O i mm um um um um mu um um m nu *03877522*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Habeas Corpus n 0271261-27.2012.8.26.0000, da
Comarca de Piracicaba, em que paciente LEONARDO RIBEIRO MARIANNO, Impetrantes ROBERTO PODVAL, ODEL
MIKAEL JEAN ANTUN, MARCELO GASPAR GOMES RAFFAINI e
RICARDO CAIADO LIMA.
ACORDAM, em 15a Cmara de Direito Criminal do
Tribunal de Justia de So Paulo, proferir a seguinte
deciso: "CONCEDERAM A ORDEM, DETERMINANDO-SE O
TRANCAMENTO DA AO PENAL N 1739/11 QUE TRAMITA PERANTE A Ia VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PIRACICABA,
COM EXTENSO AO DENUNCIADO SAMUEL ARRUDA, NOS TERMOS DO ART. 580, DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. V. U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acrdo.
O julgamento teve a participao dos Desembargadores WALTER DE ALMEIDA GUILHERME
(Presidente sem voto), GRASSI NETO E ENCINAS MANFR.
rf^fofcly
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
VOTO N 15.795
HABEAS CORPUS N 0 2 7 1 2 6 1 - 2 7 . 2 0 1 2 COMARCA IMPETRANTES
PACIENTE
PIRACICABA - ia V.C. - 1.739/11 ROBERTO PODVAL ODEL MIKAEL JEAN ANTUN MARCELO GASPAR GOMES RAFFAINI e RICARDO CAIADO LIMA LEONARDO RIBEIRO MARIANNO
HABEAS CORPUS - AO PENAL - DENUNCIAAO CALUNIOSA TENTADA - ADVOGADO - FALTA DE JUSTA CAUSA - ATIPICIDADE - TRANCAMENTO -Necessidade: No demostrada a vontade ntida e consciente de provocar a iniciativa da autoridade imputando falsamente crime a algum, no h que se falar em delito de denunciao caluniosa por parte do paciente e mesmo do correu, sendo atpica a conduta. Ordem concedida para o trancamento da ao penal em relao ao paciente e o correu.
Os advogados ROBERTO PODVAL, ODEL MIKAEL JEAN ANTUN, MARCELO GASPAR GOMES RAFFAINI e RICARDO CAIADO LIMA impetram a presente ordem de habeas corpus, com pedido liminar, em favor de LEONARDO RIBEIRO MARIANNO alegando constrangimento ilegal por ato do MM. Juzo da I a Vara Criminal da Comarca de Piracicaba.
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
Conforme se depreende dos autos, o paciente que advogado, foi denunciado em coautoria como incurso no art. 339, caput, c.c. art. 14, inciso I I , e 29, todos do Cdigo Penal.
Os impetrantes alegam constrangimento ilegal diante da nulidade do despacho que, no aceitando os argumentos da resposta escrita, sem fundamentao suficiente, determinou o prosseguimento do processo; ausncia de justa causa para o prosseguimento da ao penal por ausncia de materialidade e indcios suficientes de autoria e dolo em sua conduta, j que apenas exerceu seu ofcio de advogado na causa, no orientando ningum a mentir ou atribuir crime a algum. Aduzem, ainda, que os fatos so atpicos, no podendo se confundir referido delito com o de falso testemunho. Por fim, levantam a questo de inpcia da denncia, requerendo a anulao do feito ou seu trancamento por falta de justa causa (fls. 02/44).
A liminar foi concedida para suspender o curso da ao penal at o julgamento final deste writ (fls. 46).
A autoridade apontada como coatora prestou as informaes (fls. 50/51), que vieram acompanhadas de documentos (fls. 53/82).
Nesta instncia, o parecer da douta Procuradoria Geral da Justia pela denegao da ordem (fls. 84/88).
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 3
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO
SEO CRIMINAL
O RELATRIO.
Trata-se de pedido de trancamento da ao penal por falta de justa causa ou o reconhecimento da nulidade da denncia ou do despacho que rejeitou a resposta acusao.
Segundo a exordial acusatria, o paciente, na qualidade de advogado do ru Adriano Pinheiro de Campos, nos autos do processo criminal n 749/11 , em trmite na 2a Vara Criminal da Comarca de Piracicaba, teria instrudo a testemunha Samuel Arruda (correu) a mentir, declarando este ltimo que policiais militares no teriam encontrado droga alguma com o acusado Adriano, tentando, com isso, dar causa instaurao de procedimento criminal e administrativo contra os milicianos, o que s no ocorreu porque no houve tal determinao pelo magistrado presente em audincia (fls. 52/54).
Em relao ao primeiro argumento, a denncia, ao contrrio do alegado pelos impetrantes, relata de maneira correta e clara a eventual prtica de crime.
O despacho que rejeitou a resposta escrita da defesa, de qualquer modo, entendeu estar apta a denncia e, ainda que de modo intrnseco, afastou a alegao de sua inpcia.
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 4
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
Sem vislumbrar, ainda, a presena de qualquer das excludentes do art. 397, do CPP, a culta magistrada a quo determinou o prosseguimento do feito (fls. 81).
Estando entre as hipteses do art. 397, especificamente no inciso I I I , a possibilidade de absolvio sumria quando "o fato narrado evidentemente no constitui crime", percebe-se te r sido t a m b m
afastada pela autoridade coatora a tese de atipicidade e ausncia do dolo necessrio configurao do crime.
O despacho, alm do mais, no necessita dos requisitos de uma deciso de mrito, j que no se trata de ato decisrio e, sim, interlocutrio, ficando dispensada a fundamentao explcita.
Nesta fase se analisa apenas da possibilidade de uma absolvio sumria, diante da prova existente e a viabilidade, em tese, da imputao, vista dos elementos de convico cunhados na fase instrutria, no havendo sujeio regra do art. 93, IX, da Constituio Federal.
Trata-se de deciso interlocutria simples, um mero juzo de admissibilidade da acusao que independe de uma fundamentao mais acurada, no havendo recurso para a espcie.
Neste ato o magistrado limita-se a aprovar a inicial, sem necessidade de motivao ou formalismo e nem poderia ir alm, sob pena de inaceitvel prejulgamento. Alis, a fundamentao
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 \ ^ 5
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
somente exigvel nas hipteses de absolvio sumria, o que no foi o caso.
Neste sentido remansosa a jurisprudncia:
"A ausncia de fundamentao no despacho que recebe a
denncia no acarreta nenhuma nulidade procedimental, pois, por
tratar-se de deciso de natureza interlocutria simples, dispensa
qualquer motivao" (RT 751/591).
Tendo sido, portanto, recebida a denuncia de modo escorreito e no havendo necessidade de uma fundamentao aprofundada para o prosseguimento da ao penal aps a resposta escrita, no se vislumbra nenhum constrangimento ilegal neste tpico.
Por outro lado, entendo que neste caso a ao penal dever ser trancada por falta de justa causa para o seu prosseguimento, ante a atipicidade dos fatos.
Ao meu entender, no ocorreu a propalada tentativa de crime de denunciao caluniosa cometido pelo ora paciente, em coautoria com a testemunha que teria mentido em audincia, j que a inteno desta ltima era to somente beneficiar ru em processo criminal.
Pelo que se verifica dos autos, o paciente era advogado contratado pelo ru Adriano Pinheiro de Campos, o qu\l era
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795
^ T O TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO ^ 8 B F SEO CRIMINAL
acusado de crime de trfico de entorpecentes. Arrolou-se como testemunha de defesa Samuel Arruda, vizinho e colega do ru, que teria visto policiais militares abordarem o ru do crime de trfico e, apesar de no ter sido encontrada droga alguma em seu poder, o prendeu em flagrante e o acusaram injustamente por aquele crime.
compreensvel neste caso, que Samuel queria apenas proteger o acusado Adriano, seu amigo, ao mentir na referida audincia, o que levou a magistrada a determinar a extrao de cpias para apurao do delito de falso testemunho, tanto que a testemunha acabou se retratando e confirmou que mentiu.
Imputar ao paciente crime de tentativa de denunciao caluniosa porque no exerccio de sua atuao como advogado do ru Adriano teria, segundo a denncia, instrudo a testemunha, no mnimo foi uma atitude precipitada.
Primeiro porque o crime de denunciao caluniosa exige como elemento subjetivo a vontade de dar causa instaurao de procedimento criminal ou administrativo, imputando falsamente um delito a terceira pessoa.
Neste sentido:
No delito de denunciao caluniosa exige-se que haja por parte do agente a certeza da inocncia da pessoa a quem se atribui a prtica
criminosa. Em outras palavras, deve o agente atuar contra a prpria
convico, intencionalmente e com o conhecimento de causa, sanendo
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 X \
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
que o denunciado inocente (Precedentes) (STJ. HC/CE 20070203653(1 Rei. FelixFisher, 14 4/08).
O delito de denunciao caluniosa pressupe a acusao contra
algum, ciente aquele que acusa de ser falsa, caluniosa, a imputao. Exige-se se a m-f, o dolo direto da provocao do procedimento contra nutrem, sabendo o denunciante que este inocente (TJSP - HC -Rei. Thomaz Carvalhal - RJTJSP 03/358-35 9 e, no mesmo sentido,
RJTJSP 23/485/486; RT 495/277).
A jurisprudncia, de longa data. vem entendendo ser necessria a prova do elemento subjetivo do injusto, para que haja processo e, se for o caso, condenao por denunciao caluniosa (TJSP - HC - Rei. Weiss de Andrade- RT490/306).
No caso em apreo, nem de longe foi essa a inteno do paciente ou mesmo da testemunha, pois esta que queria somente favorecer o acusado Adriano, com o intuito de ser ele absolvido do delito de trfico de drogas.
Dizer que o paciente, juntamente com a testemunha que mentiu, tinha a inteno de provocar a iniciativa do Ministrio Pblico ou da Magistrada a instaurar inqurito policial contra os policiais, sabendo serem falsas as imputaes, alm de incongruente, fica apenas no campo da probabilidade, o que inadmissvel em matria penal.
Se crime houve, este seguramente no de denunciao caluniosa, mas sim de falso testemunho pr parte de
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 ^ 8
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
Samuel, o que, alis, acabou se retratando e sendo extinta sua punibilidade.
Mesmo se assim no fosse, ficou claro que o paciente no tinha conhecimento da falsidade das imputaes que foram narradas por Samuel, em seu escritrio, tanto que quando deps na delegacia, alm de negar que tivesse instrudo a testemunha a mentir, afirmou que a alertou no sentido de que as alegaes eram muito srias, pedindo, inclusive, que fizesse uma declarao de prprio punho sobre tais fatos (fls. 96 do apenso).
Assim, agiu o paciente no exerccio de sua atividade profissional, com tica e estrita observncia das declaraes que lhe foram passadas pela referida testemunha, no podendo ser considerado coautor de referido delito.
Alis, este o entendimento do STJ:
PENAL. PROCESSUAL. ADVOGADO. INSTAURAO DE INQURITO POLK TAL. DENUNX TAO C ALUNIOSA. TRAN AMENTO DA Ai\ AO PENAL. HABEAS CORPUS.
1. A existncia de dvida sobre a responsabilidade criminal de terceiro exclui a caracterizao do crime de denunciaro caluniosa.
2. O exerccio regular da advocacia, com estreita observncia das orientaes de seu cliente, no faz o advogado co-autor do crime referido.
3. Lfabeas corpus conhecido; ordem concedida para trancar a ao penal (STJ, HC 5610, Min. Rei Edson Vidigalj. 24/06/97)\
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 ^ \ ^9
TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO SEO CRIMINAL
Portanto, ntido o constrangimento ilegal, devendo a ao penal ser trancada por atipicidade dos fatos.
Diante do exposto, CONCEDE-SE A ORDEM, determinando-se o trancamento da Ao Penal n 1739/11 que tramita perante a I a Vara Criminal da Comarca de Piracicaba, com extenso ao denunciado Samuel Arruda, nos termos do art. 580, do Cdigo de Processo Penal.
MARTINS ELATOR
\ i
HABEAS CORPUS N 0271261-27.2012 - VOTO N 15.795 10