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Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA 24.048 - SP (2007/0095077-0) RELATOR : MINISTRO LUIZ FUX RECORRENTE : ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDA ADVOGADO : FÁBIO AUGUSTO RIGO DE SOUZA E OUTRO(S) T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO IMPETRADO : JUÍZA DE DIREITO DO ANEXO FISCAL DE FRANCO DA ROCHA - SP RECORRIDO : SAFRAN INDÚSTRIA BRASILEIRA DE EMBALAGENS LTDA - MASSA FALIDA ADVOGADO : CARLOS ALBERTO CASSEB - SÍNDICO INTERES. : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO PROCURADOR : ERALDO AMERUSO OTTONI E OUTRO(S) INTERES. : SÉRGIO ANUSAUKAS E OUTRO INTERES. : ORSA CELULOSE PAPEL E EMBALAGENS S/A ADVOGADOS : JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI E OUTRO(S) PEDRO MIRANDA ROQUIM EMENTA PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. DECISÃO QUE ANULOU A ARREMATAÇÃO. SÚMULA 267/STF. APLICAÇÃO. ARREMATANTE (TERCEIRO PREJUDICADO). ARTIGO 499, DO CPC. RECURSO CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 202/STJ. INAPLICABILIDADE. 1. O Mandado de Segurança não é sucedâneo de recurso, sendo imprópria a sua impetração contra decisão judicial passível de impugnação prevista em lei, ex vi do disposto no artigo 5º, II, da Lei 1.533/51 e da Súmula 267/STF, segundo a qual "não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição" (Precedente da Corte Especial do STJ: MS 12.441/DF, Rel. Ministro Luiz Fux, Corte Especial, julgado em 01.02.2008, DJe 06.03.2008). 2. O artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, veda a utilização do mandado de segurança contra decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo. 3. Malgrado o writ tenha sido manejado por terceiro prejudicado, revela-se inaplicável, à espécie, a Súmula 202/STJ, segundo a qual "a impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona a interposição de recurso" . 4. Isto porque a ratio essendi da Súmula 202/STJ pressupõe a não participação do terceiro na lide, vale dizer: o desconhecimento dos atos processuais respectivos, exegese que se extrai, em regra, da leitura dos precedentes que embasaram o verbete sumular (REsp 2.224/SC, Rel. Ministro José de Jesus Filho, Segunda Turma, julgado em 09.12.1992, DJ 08.02.1993; RMS 243/RJ, Rel. Ministro Gueiros Leite, Terceira Turma, julgado em 21.08.1990, DJ 09.10.1990; RMS 1.114/SP, Rel. Ministro Athos Carneiro, Quarta Turma, julgado em 08.10.1991, DJ 04.11.1991; RMS 4.069/ES, Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Segunda Turma, julgado em 26.10.1994, DJ 21.11.1994; RMS 4.822/RJ, Rel. Ministro Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, julgado em 05.12.1994, DJ 19.12.1994; e RMS 7.087/MA, Rel. Ministro César Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em 24.03.1997, DJ 09.06.1997). 5. A decisão que anulou a arrematação e que foi objeto do presente mandado de segurança habilitava o arrematante a recorrer porquanto detinha evidente legitimidade, à luz do artigo 499, do CPC, sendo certo que requereu seu ingresso, na qualidade de terceiro Documento: 1021807 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/12/2010 Página 1 de 27

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.048 - SP (2007/0095077-0)

RELATOR : MINISTRO LUIZ FUXRECORRENTE : ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDAADVOGADO : FÁBIO AUGUSTO RIGO DE SOUZA E OUTRO(S)T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOIMPETRADO : JUÍZA DE DIREITO DO 1º ANEXO FISCAL DE FRANCO DA

ROCHA - SPRECORRIDO : SAFRAN INDÚSTRIA BRASILEIRA DE EMBALAGENS LTDA -

MASSA FALIDAADVOGADO : CARLOS ALBERTO CASSEB - SÍNDICOINTERES. : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULOPROCURADOR : ERALDO AMERUSO OTTONI E OUTRO(S)INTERES. : SÉRGIO ANUSAUKAS E OUTROINTERES. : ORSA CELULOSE PAPEL E EMBALAGENS S/AADVOGADOS : JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI E OUTRO(S)

PEDRO MIRANDA ROQUIMEMENTA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DESEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. DECISÃO QUE ANULOU AARREMATAÇÃO. SÚMULA 267/STF. APLICAÇÃO. ARREMATANTE(TERCEIRO PREJUDICADO). ARTIGO 499, DO CPC. RECURSO CABÍVEL.AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 202/STJ. INAPLICABILIDADE.1. O Mandado de Segurança não é sucedâneo de recurso, sendo imprópria a suaimpetração contra decisão judicial passível de impugnação prevista em lei, ex vi do dispostono artigo 5º, II, da Lei 1.533/51 e da Súmula 267/STF, segundo a qual "não cabemandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição"(Precedente da Corte Especial do STJ: MS 12.441/DF, Rel. Ministro Luiz Fux, CorteEspecial, julgado em 01.02.2008, DJe 06.03.2008).2. O artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, veda a utilização do mandado de segurança contradecisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo.3. Malgrado o writ tenha sido manejado por terceiro prejudicado, revela-se inaplicável, àespécie, a Súmula 202/STJ, segundo a qual "a impetração de segurança por terceiro,contra ato judicial, não se condiciona a interposição de recurso" .4. Isto porque a ratio essendi da Súmula 202/STJ pressupõe a não participação doterceiro na lide, vale dizer: o desconhecimento dos atos processuais respectivos, exegeseque se extrai, em regra, da leitura dos precedentes que embasaram o verbete sumular(REsp 2.224/SC, Rel. Ministro José de Jesus Filho, Segunda Turma, julgado em09.12.1992, DJ 08.02.1993; RMS 243/RJ, Rel. Ministro Gueiros Leite, Terceira Turma,julgado em 21.08.1990, DJ 09.10.1990; RMS 1.114/SP, Rel. Ministro Athos Carneiro,Quarta Turma, julgado em 08.10.1991, DJ 04.11.1991; RMS 4.069/ES, Rel. MinistroAntônio de Pádua Ribeiro, Segunda Turma, julgado em 26.10.1994, DJ 21.11.1994; RMS4.822/RJ, Rel. Ministro Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, julgado em 05.12.1994, DJ19.12.1994; e RMS 7.087/MA, Rel. Ministro César Asfor Rocha, Quarta Turma, julgadoem 24.03.1997, DJ 09.06.1997).5. A decisão que anulou a arrematação e que foi objeto do presente mandado desegurança habilitava o arrematante a recorrer porquanto detinha evidente legitimidade, àluz do artigo 499, do CPC, sendo certo que requereu seu ingresso, na qualidade de terceiro

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interessado, nos autos do agravo de instrumento interposto pela Fazenda Estadual, ao qualfoi conferido efeito suspensivo (fls. 532/533 e 542/551), razão pela qual se revelainadequada a via eleita.6. Deveras, in casu , o inteiro teor da decisão judicial que anulou a arrematação, objeto dopresente mandado de segurança, restou publicada no Diário Oficial do Estado em24.06.2005, e a alegada teratologia da decisão judicial não resta evidente, porquantoanulada a arrematação realizada na execução fiscal, ante a constatação, entre outros: (i)de que a penhora do imóvel ocorrera no termo legal da falência, (ii) que o bem penhoradofora arrecadado no feito falimentar, (iii) que a arrematação ocorrera por preço vil, (iv) queo Ministério Público não fora intimado e (vi) que o magistrado competente não participarado ato expropriatório.7. Acresce o fato de que o mérito do aludido agravo de instrumento (Agravo deInstrumento nº 431.419-5/9-00) restou julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado de SãoPaulo, em 03.12.2007, que lhe negou provimento, considerando válida a anulação daarrematação realizada no âmbito da execução fiscal.8. O desprovimento do recurso ordinário impõe a revogação da liminar deferida nos autosda Medida Cautelar 11.937/SP, máxime porque a perfectibilização da regular expropriaçãodo bem, realizada nos autos falimentares, não caracteriza dano irreparável ou de difícilreparação, uma vez que: (i) ainda que fosse considerada hígida a arrematação realizadanos autos da execução fiscal, o produto da alienação judicial do bem penhorado deveria serentregue ao juízo universal da falência para apuração das preferências; e (ii) aarrematação somente é considerada perfeita, acabada e irretratável com a assinatura doauto pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro (artigo 694, doCPC), hipótese inocorrente in casu .9. Recurso ordinário desprovido, revogada a liminar deferida nos autos da Medida Cautelar11.937/SP.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMAdo Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas aseguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário em mandado de segurança,revogada a liminar deferida nos autos da MC 11.937/SP, nos termos do voto do Sr. MinistroRelator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Arnaldo Esteves Lima, Benedito Gonçalves eHamilton Carvalhido votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 16 de novembro de 2010(Data do Julgamento)

MINISTRO LUIZ FUXRelator

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.048 - SP (2007/0095077-0)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX (Relator): Trata-se de recurso

ordinário em mandado de segurança interposto por ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDA.,

com fulcro no artigo 105, II, "b", da Constituição Federal de 1988, em face de acórdão proferido

pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cuja ementa restou assim vazada:

"MANDADO DE SEGURANÇA - Não cabimento de decisão judicial,ainda que aparelhado por terceiro interessado - Inequívoca ciência do atojurisdicional impugnado viabilizaria oferecimento de oportuno agravo deinstrumento - Via recursal sempre aberta, com possibilidade de serconcedido efeito suspensivo - Não caracterizada teratologia ouabusividade - Precedentes - Bem arrecadado na falência - Erro quanto àsituação de fato - Necessária intervenção do Ministério Públicoinocorrente a ensejar a nulidade do processo - Razoabilidade -Arrematante que não tem direito ao bem ainda que tenha depositado seuvalor em Juízo - Arrematação que só se aperfeiçoa com a expedição dacarta - Precedentes - Processo julgado extinto, sem honorários."

Noticiam os autos que ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDA., terceiro

supostamente prejudicado, impetrou mandado de segurança, em 15.08.2005, contra decisão

judicial, assim exarada:

"1) Assiste razão ao Ministério Público. A nulidade do feito é manifesta,eis que, segundo consta, desde 07/06/2001 (fls. 266) não é dada ciênciados atos processuais ao Ministério Público, embora então viesse atuandoregularmente no feito.

Verifico, outrossim, que embora houvesse expressa determinação judicialno r. despacho de fls. 267, não foi dele cientificado o Ministério Público,nem intimada a massa falida, autora afinal do pedido que restou apreciadopor aquela decisão.

Defiro, pois, o requerido pelo Ministério Público para decretar a nulidadedo feito a partir de fls. 266, bem como de todos os atos processuaispraticados .

Em conseqüência, torno sem efeito os autos de arrematação encartados afls., lavrados pela Serventia Judicial sem o conhecimento e autorizaçãodeste Juízo.

Expeça-se ofício ao Banco Nossa Caixa para que informe, de maneiradetalhada, a forma pela qual se deu o depósito de fls., ao que consta, porcheque de emissão da ELLENBURG FINANCE SOCIEDADE ANÔNIMA,encaminhando cópia do título.

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Determino, outrossim, mediante a confirmação da compensação a imediataliberação da quantia depositada a fls., em favor do depositante.

2) Certifique a Serventia a razão do não cumprimento da determinaçãocontida no r. despacho de fls. 267 e a absoluta ausência de intimação daMassa e do Ministério Público de todos os atos que se seguiram àquele.

3) Certifique, ainda, a Serventia a razão da lavratura dos dois autos dearrematação encartados, em nomes de arrematantes diferentes, bem comoesclareça por determinação de quem foram os mesmos lavrados eautorizada a arrematação pelo lance efetuado.

4) Intime-se a massa falida, na pessoa de seu síndico, conforme requeridopelo Ministério Público ..."

Na inicial, a impetrante formulou os seguintes pedidos:

"a) Ante a comprovação do FUMUS BONI IURIS e PERICULUM INMORA além da farta comprovação de serem os atos e decisão, totalmente,TERATOLÓGICOS, requer a concessão de segurança, por via de WRITpara suspender o ato motivador a caracterizar decisão arbitrária e ilegalda Autoridade Impetrada que cercou o direito de defender seus interessesbem como buscar o duplo grau de jurisdição: a uma pela nãodeterminação de intimação da arrematante, ora impetrante, a duas pelaconseqüente impossibilidade de recorrer da decisão judicial que anulou aarrematação ocorrida no processo 186/88, ante a impossibilidade decaracterizar a ciência para contagem do prazo recursal, determinando, viade conseqüência, que a Autoridade Coatora proceda a determinação deintimação da IMPETRANTE para que se possa ingressar com os recursoscabíveis para a defesa de seus direitos;

b) A três, haja vista a evidenciada comprovação que o bem objeto daarrematação do processo 186/88, foi penhorado antes da quebra daempresa Sefran; que pertence às pessoas físicas do Sr. Sérgio e Cleusa; queo Sr. Sérgio e Srª Cleusa, separaram-se judicialmente 3 anos antes daquebra da empresa falida; que a Srª Cleusa não fazia parte da sociedadequando da quebra da empresa falida; que o referido bem não foiarrecadado, conforme se comprova pela certidão do próprio juízo dafalência; que foi concedido efeito suspensivo no Agravo de Instrumentoproposto pela Fazenda Pública, proc. nº 431.419-5/9.00, além de que aAutoridade Coatora tomou conhecimento tanto nos autos da ExecuçãoFiscal nº 186/88 quanto nos autos da falência processo nº 918/96, atéporque é a referida magistrada Drª Cristina Ribeiro Leite Furquim aresponsável por ambos os processos , entretanto, sendo devidamentecientificada através de petição e docs. juntados, todavia, sem nenhumaprovidência tomar, portanto, requer, a concessão de segurança, por via deWRIT, para que seja, imediatamente, excluído, do EDITAL DE LEILÃODA MASSA FALIDA DE SEFRAN INDÚSTRIA BRASILEIRA DEEMBALAGENS LTDA., o imóvel que compõe a matrícula 12.219, bemcomo a imediata SUSPENSÃO DO LEILÃO designado para o dia 19 de

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agosto de 2005 - Às 13:00 hs, estendendo-se os efeitos deste mandamus,oficiando-se liminarmente o juízo falimentar no processo 918/86, pois, sefundamenta em EDITAL VICIADO, com avaliações com bem que não foiarrecadado e, portanto, sem pertencer à MASSA FALIDA DE SEFRANINDÚSTRIA BRASILEIRA DE EMBALAGENS LTDA., não pode serleiloado.(...)e) Requer que a liminar concedida seja referendada, concedendo emdefinitivo a segurança, no sentido de tornar válida a arrematação com aimediata IMISSÃO NA POSSE pela impetrante do imóvel que compõe amatrícula 12.219."

Prestadas informações pelo Juízo prolator da decisão judicial objeto do mandado

de segurança, nas quais se consignou que:

"Trata-se de ação de execução fiscal promovida pela Fazenda do Estadode São Paulo, relativa a débitos do ICM, em trâmite por esta Vara eCartório desde 21 de julho de 1988, contra SEFRAN INDÚSTRIABRASILEIRA DE EMBALAGENS LTDA., na qual posteriormente foramincluídos os seus sócios.

Ocorre que a empresa executada teve a quebra decretada por este mesmoJuízo (2ª Vara Cível local) em 31 de outubro de 1996, fixado termo o 60ºdia anterior à data do primeiro protesto (fls. 93/96 do processofalimentar).

Nos autos da referida falência, vieram aos autos as certidões dasmatrículas dos bens imóveis que integravam o patrimônio da empresafalida e dos seus sócios, inclusive o bem objeto da matrícula 12.219 (fls.296 do processo falimentar), cuja arrecadação foi expressamentedeterminada pelo juízo falimentar (fls. 360 e 659) e que integra o parqueindustrial e foi inclusive avaliado, conforme laudo elaborado pelo peritojudicial, em que consta o referido imóvel do item 4 da avaliação.

Ocorre que, por se tratar de processo desde o início eivado de grandetumulto processual, no qual foram realizadas várias arrecadaçõessucessivas, entre elas a do bem imóvel sobre o qual estava situado oparque fabril, no qual se inclui o bem objeto da matrícula 12.219, foigerada a errônea informação pela Serventia da 2ª Vara Judicial (ofício defls. 262 dos autos da execução fiscal) que induziu em erro a M.Ma. JuízaSubstituta oficiante no feito à época, levando-a ao não acolhimento dopedido de desconstituição da penhora do referido bem. Ocorre que,daquela decisão (fls. 267), não foi intimado o Ministério Público (muitoembora houvesse expressa determinação no r. despacho), vindo orepresentante do parquet a tomar conhecimento do leilão somente na dataem que realizado, razão pela qual requereu ao juízo o decreto de nulidadedo feito, diante do evidente prejuízo à Massa Falida, da qual é curador.

E, com efeito, não obstante o Auto de Arrematação lavrado pelosignificativo valor de R$ 950.000,00, o que, evidentemente, não ocorre

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diuturnamente no fórum, mas se trata de fato bastante relevante,(especialmente considerando que o bem em questão fora avaliado nosautos da execução fiscal pelos valores de R$ 1.975.000,00 - fls. 124; R$1.495.000,00 - fls. 174; R$ 1.058.300,00 - fls. 185; R$ 1.941.600,00 - fls.284 e finalmente em R$ 1.550.000,00 - fls 296), não houve qualquerconsulta a este Juízo, ou autorização para a arrematação supostamenteefetivada pela Serventia no dia 15/06/2005 , sob o manto da justificativade que se tratava de oferta no valor de 60% do valor da avaliação.(...)Cumpre consignar, portanto, que foi mesmo indevida a supostaarrematação, lavrada por conta e risco da Serventia Judicial, tanto assimque não homologada por este Juízo, diante de todas as irregularidadesprocessuais verificadas e especialmente porque se deu por valor vil,conforme supra explanado.

Ademais disto, após perfunctória análise dos autos da falência e mediantea confirmação de que se trata, sim, de bem arrecadado pela Massa ,constatado o erro com que prolatada a r. decisão de fls. 267 (na formaacima explanada), foi a mesma revista por este juízo, conforme decisãoproferida nos autos da execução fiscal (fls. 379/380).

Com efeito, dos autos do processo falimentar, verificamos que pelas r.decisão de fls. 360 e 659 foi determinada a arrecadação do bem imóvelobjeto da matrícula 12.219 (copiada a fls. 296 do processo falimentar),imóvel que integra o parque fabril da falida e, portanto, expressamentearrecadado e inclusive avaliado pelo perito judicial, conforme se verificado laudo pericial apresentado naqueles autos.

Trata-se, pois, de forma induvidosa, de bem imóvel que integra a MassaFalida e que, como tal, fora incluído no edital de leilão para venda debens da Massa Falida.

E nem poderia ser diferente, já que a penhora se deu dentro do termo legal(fls. 138, em 14/10/1996) e, portanto, trata-se de ato que não produziuefeito perante a Massa Falida, diante da quebra decretada em 31 deoutubro de 1996.

Ressalte-se, por fim, que o referido leilão foi realizado com sucesso noúltimo dia 19/08/05, colhendo-se 10 propostas de compra do parque fabril,correspondente ao lote A do referido edital, tratando-se de gleba de terrasde 39.970 m2 (que corresponde às matrículas 7806, 12.219 e 2337) sobre aqual está situado o Parque Industrial, avaliada pelo perito judicial em R$7.954.983,00 e que obteve maior proposta de compra pelo valor de R$11.100.000,00 (onze milhões e cem mil reais).

Informo, ainda, que da decisão que reconheceu a nulidade havida nosautos da execução fiscal e inexistente a suposta arrematação feita pela oraimpetrante, foi pessoalmente intimado o Procurador da Fazenda em28/07/2005 e interpôs recurso de agravo de instrumento, distribuído aoRel. EVARISTO DOS SANTOS (AI n. 431.419-5/9-00)."

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O pedido liminar restou indeferido (fls. 509/512), tendo o Tribunal de origem

julgado extinto o processo, sem julgamento do mérito, com espeque no artigo 267, VI, do CPC,

nos termos da ementa anteriormente reproduzida. Na oportunidade, assinalou o Juízo a quo :

"É caso de extinção do processo, ainda que terceiro interessado aimpetrante.

Reconhece-se que, em princípio, '... o terceiro pode, independentemente derecurso, impetrar mandado de segurança contra ato jurisdicional que lheatinja os interesses ...' (RMS nº 13.904/PB - Rel. Min. CASTRO FILHO -DJU de 07.04.03, p. 277), mas, para tanto, exige-se excepcionalidade, valedizer: ' ... situações teratológicas, abusivas, que possam gerar dano dedifícil ou incerta reparação, (e) o recurso não tenha ou não possa obterefeito supensivo ...' (AgRg no RMS nº 16.173/GO - Rel. Min. ARNALDOESTEVES LIMA - DJU de 10.04.06, p. 230), hipótese inocorrente .

Afora interlocutória (art. 162, § 2º, do CPC) a decisão em evidência (fls.428/429 ou 530/531), a desafiar agravo de instrumento (art. 522, caput,do CPC), suscetível de efeito suspensivo (art. 557, III, do CPC), ela não seapresenta manifestamente teratológica ou abusiva.

Só com o depósito e a lavratura do auto, '... a arremataçãoconsiderar-se-á perfeita, acabada e irretratável' (art. 694, caput, do CPC).Embora efetuado o primeiro (fls. 467), o questionado auto (fls. 463/466)não só não foi assinado pela MM. Juíza, como se viu anulado pela decisãoora impugnada (fls. 530/531).

Admite-se, mesmo de ofício, 'o desfazimento da arrematação por vício denulidade ...' (REsp nº 130.911- ...) e dessa natureza a falha em questão.

Necessária a intervenção do Ministério Público em execução fiscal,quando devedora é massa falida. Afasta-se, em tais hipóteses, '... aincidência da Súmula 189 deste Tribunal, sendo necessária a intimação doMinistério Público na execução fiscal, pois, nos termos do art. 210, da leide Falências, o Parquet é o curador e fiscal das massas falidas.' (REsp nº614.262- ...), cabendo a ele '... defender o patrimônio remanescente, emproteção aos interesses sócio-econômicos envolvidos'. (REsp nº 28.529-...).

O descompasso dos valores (fls. 422, 554 e 561), revela, inequivocamente,o prejuízo a justificar o reconhecimento da nulidade pela não intervençãodo Ministério Público.

De qualquer forma, eventual direito do arrematante só nasceria com acarta de arrematação, seu 'título formal da aquisição' (ARAKEN DEASSIS - 'Manual de Processo de Execução' - Ed. Revista dos Tribunais -nº 259 - p. 798) de cuja expedição sequer se cogitou. E o efeito suspensivoativo lá concedido (fls. 441 ou 532) não tem a amplitude firmada pelaimpetrante, como bem reconheceu a MM. Juíza a quo (fls. 597).

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Não se argumente que a arrematante não teve ciência do ato jurisdicional(fls. 530/531) que invalidou a arrematação (fls. 463/466). A impetração éprova inequívoca em contrário. Além do mais, reiteradas manifestações noagravo de instrumento da Fazenda (v.g - fls. 542/551) evidenciam seuinquestionável conhecimento dos atos processuais que agora pretendedesconstituir. De outra parte, alegadas dificuldades de acesso aos autosnão lhe obstaram a instrução do presente mandamus. Podia,oportunamente, agravar.

Finalmente, ainda que, por equívoco, como se admite apenas paraargumentar, o bem não pudesse estar arrecadado na falência, o fato é queele foi arrecadado (fls. 559). O imóvel (matrícula nº 12.219, no Registrode Imóveis de Franco da Rocha - fls. 154/155) arrestado (em 19.09.95 -fls. 153/156) e convertido em penhora (em 01.10.96 - fls. 173/174) naexecução fiscal foi objeto de arrecadação na falência (fls. 550/561 e item4, da relação de imóveis daquele feito - cf. referência do perito - fls. 254 efoi por ele avaliado, como integrante da fábrica, em Franco da Rocha, dafalida - fls. 254/256).

Confiram-se, a propósito, as informações do MM. Juízo a quo: 'Comefeito, dos autos do processo falimentar, verificamos que pelas r. decisõesde fls. 360 e 659 foi determinada a arrecadação do bem imóvel objeto damatrícula nº 12.219 (copiada a fls. 296 do processo falimentar), imóvelque integra o parque fabril da falida e, portanto, expressamentearrecadado e inclusive avaliado pelo perito judicial, conforme se verificado laudo pericial apresentado naqueles autos' (fls. 560/561).

E essa situação ainda não se desconstituiu.

Diante desse quadro, como se dispensou a manifestação do MinistérioPúblico por situação (bem não arrecadado na falência - fls. 290/291) emface de informação equívoca (fls. 295) e, de fato, inexistente (fls.559/561), outra não poderia ser a solução, pelo menos enquanto nãoresolvida, na falência, a legitimidade ou não da arrecadação doquestionado imóvel.

Em resumo: em que pese a combatividade dos advogados da impetrante,em face das informações do MM. Juiz a quo e dos demais elementosexistentes nos autos, não sendo despropositada ou desarrazoada a decisão,não se justifica, sequer em caráter excepcional, exceção à regra ao nãocabimento de mandado de segurança de decisão judicial, em que peseinterposto por terceiro."

Nas razões do recurso ordinário, pugna a empresa pela aplicação da Súmula

202/STJ à espécie ("A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se

condiciona à interposição de recurso." ). Sustenta que "a impetração da segurança é, sim,

prova cabal que a ora recorrente foi cerceada no seu direito de defesa de seus interesses

em virtude de não ter sido intimada da decisão combatida, além de, frise-se mais uma vez,

não ter tido acesso aos autos" . Alega que se configurou "situação teratológica" nos autos da

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execução fiscal, uma vez que fora "tolhida, pela D. Magistrada, de ter acesso aos autos

para defesa de seus interesses, bem como sequer ter sido intimada de uma decisão que lhe

atingia diretamente" . Acrescenta que "não bastasse estas primeiras afrontas ao Direito da

recorrente, maxima venia concessa, ter o Eminente Desembargador extinto o mandamus

sem julgamento do mérito, apesar de ter diretamente adentrado no meritum causae,

constitui-se, sim, em mais um cerceamento de defesa aos direitos da ora recorrente, para

não se dizer, data venia, em mais uma decisão teratológica" . Enfatiza que "de acordo com

o posicionamento desse Superior Tribunal de Justiça, a legislação pátria assegura ao

terceiro prejudicado o direito de operar mandado de segurança quando um ato judicial

repercutir os seus efeitos no direito líquido e certo daquele que não é parte no processo" .

Aduz que seu direito líquido e certo afigura-se "no fato de que não existe a alegada

arrecadação do imóvel matriculado sob o nº 12.219 pela Massa Falida" . De acordo com a

recorrente, "o imóvel jamais pertenceu à pessoa jurídica e, conseqüentemente, não poderia

ser arrecadado pela Massa (COMO DE FATO NÃO FOI, CONFORME CONSTA DA

CERTIDÃO DE FLS. 295, EMITIDA PELO JUÍZO DA FALÊNCIA, E DA DECISÃO

INTERLOCUTÓRIA DE FLS. 301, DA QUAL NÃO HOUVE RECURSO)" . Consigna ainda

que, "no que pertine à não intimação do Ministério Público para acompanhar o feito, ficou

provado, documentalmente, que a sua exclusão advém da sua própria solicitação, uma

vez que ficou constatado, nos autos, que o imóvel pertencia às pessoas físicas, e não à

pessoa jurídica, de forma que não havia legítimo interesse da sua interferência naquele

executivo fiscal, decisão esta que foi tomada com base no entendimento esposado na

Súmula 189, desse Egrégio Superior Tribunal" . Alfim, assinala que "afigura-se presente o

fumus boni juris, porquanto a validação do leilão resultará no seu direito líquido e certo

de adjudicar o imóvel leiloado, uma vez que o preço ofertado encontra-se integralmente à

disposição do juízo monocrático" .

Apresentadas contra-razões pela MASSA FALIDA DA SEFRAN INDÚSTRIA

BRASILEIRA DE EMBALAGENS LTDA., nas quais se pugna pelo não conhecimento do

recurso ordinário, ao argumento de que "o mandado de segurança interposto pela recorrente

foi julgado extinto sem resolução do mérito, sendo certo que não foi denegada decisão" .

Meritoriamente, aduz que o arrematante (terceiro prejudicado) poderia, sim, ter interposto o

recurso cabível, vale dizer, agravo de instrumento. Assinala ainda que:

"... quanto à r. decisão do D. Juízo a quo ao determinar a anulaçãoparcial do feito, a mesma está devidamente respaldada pela legislação,

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pois sabe-se que o Ilustre Representante do Ministério Público, não foiintimado do leilão em questão, devendo salientar que o imóvelencontrava-se devidamente arrecadado no processo falimentar darecorrida, justiçando-se assim a necessidade de sua intimação.

Outrossim, quanto a não intimação da recorrente, quando da anulaçãoparcial do feito, analisando a execução fiscal ficou constatado que amesma manejou em vários momentos petitórios junto ao D. Juízo a quo, afim de ver expedida a Carta de Arrematação.

Assim, se não houve realmente sua intimação da r. decisão, caberia,conforme já bem frisado, a interposição do recurso de agravo deinstrumento, devendo salientar que não foi acostado aos autos qualquerdocumento que comprove que a recorrente não teve acesso à execuçãofiscal em questão.(...)Quanto ao fato dos autos da execução fiscal estarem em poder do MM Juiz'a quo' durante 52 (cinqüenta e dois) dias, caberia ao mesmo pedir adevolução do prazo para a interposição do recurso cabível, por se tratar deterceiro interessado, eis que não se configurou em nenhum momentoarbitrariedade ou cerceamento de defesa por parte da magistrada.(...)No mais não se vislumbrou o aperfeiçoamento do ato de transmissão, hajavista a ausência da aceitação do lanço, o que por si só esvazia ainda maiso sobredito legítimo interesse do recorrente, valendo dizer que este teriasomente a expectativa da arrematação a qual não aconteceu.

Ademais, a alegação da recorrente que D. Desembargador ao julgar oMandado de Segurança adentrou ao mérito, quando menciona que '... oterceiro pode, independente de recurso, impetrar mandado de segurançacontra ato jurisdicional que lhe atinja os interesses...', melhor sorte nãoassiste ao mesmo, eis que o D. Julgador tão somente fundamentou suadecisão, sendo que não se verifica no v. acórdão atacado, qualquermenção da anulação de atos processuais, nem tão pouco a restrição deacesso aos autos pelo MM. Juízo a quo, entendendo ser este o mérito domandado de segurança.(...)Com efeito, quanto a alegação de que o imóvel leiloado não pertencia àmassa falida, a mesma também não prospera, pois quando da decretaçãoda falência o imóvel em questão, foi devidamente arrecadado, fato esteque pode ser devidamente comprovado nos autos falimentar, salientandoque esta questão já está mais do que decidida, e de conhecimento de todos.

Ademais, insta consignar que a recorrente vem tumultuando o bomandamento do processo falimentar, interpondo petições procrastinatóriascom a finalidade de perturbar o andamento do feito, bem como comrecursos inadequados e sem fundamento jurídico, bastando para tanto umapesquisa no Sistema do Tribunal de Justiça, para verificar o número derecursos interpostos pela recorrente, os quais, foram julgados improvidos.(...)"

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ORSA - CELULOSE, PAPEL E EMBALAGENS S.A., na condição de terceira

interessada, apresentou contra-razões ao recurso ordinário, aduzindo que:

"A ora requerente é a empresa que arrematou no leilão de falência os benscomponentes do Lote 'A', dentre os quais se inclui o imóvel cuja supostaprévia arrematação é discutida no presente writ. Apenas a título deesclarecimento, a requerente arrematou o Lote 'A" pelo valor total de R$11.100.000,00 (ou seja, mais de 10 vezes o valor da arrematação naexecução fiscal discutida neste agravo), os quais já foram integralmentedepositados no juízo da falência (Doc. 02).

Está, assim, justificado o seu interesse no presente 'writ', uma vez que areforma da r. decisão proferida terá efeitos sobre a arrematação realizadana falência, já que sobre este imóvel está construído o parque industrial daSEFRAN , de modo que, caso seja o mesmo excluído, indevidamente , daarrematação havida, haverá graves prejuízos a todos os envolvidos,especialmente à carente região de Franco da Rocha.(...)O presente mandado de segurança foi impetrado contra a r. decisão domm. Juízo da 2ª Vara Cível de Franco da Rocha, que, a pedido doMinistério Público e em face das inúmeras irregularidades havidas,decretou a nulidade de todos os atos processuais praticados na execuçãofiscal nº 186/88, a partir das fls. 266 daqueles autos, incluindo aí os atosrelacionados à tentativa de arrematação do imóvel objeto da matrícula12.219 pela empresa Ellenburg Participações Ltda.(...)Ocorre, porém, 'data máxima vênia', que, diversamente do que entende arecorrente, o recurso interposto não pode ser sequer processado , posto que,como bem reconhecido por este C. Tribunal de Justiça, em conformidadecom a Súmula 276, do STF, segundo a qual 'não cabe mandado desegurança contra ato judicial passível de recurso ou correição', como estáocorrendo no caso.(...)No caso presente, como se verifica dos autos, a Ellenburg foi intimada dar. decisão que reconheceu a nulidade dos atos praticados na execuçãofiscal, especialmente do leilão e da penhora do bem em questão. Contraesta r. decisão, poderia a mesma ter interposto agravo de instrumento compedido de efeito suspensivo (antecipação da tutela recursal), mas nada fez,quedando-se inerte .

Assim, nada mais correto do que o entendimento deste E. Tribunal aonegar seguimento ao mandado de segurança impetrado, poismanifestamente inadmissível, já que o recurso cabível era o agravo deinstrumento que tem efeito suspensivo.(...)... o fundamento da r. decisão proferida não foi a impossibilidade deterceiro impetrar mandado de segurança, de modo que não há que se falarem violação à Súmula 202 do recurso, não podendo sequer ser conhecidonesta parte o recurso.(...)... não há como se considerar teratológica a decisão proferida.

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Pelo contrário, como se verifica das informações prestadas pela d.autoridade impetrada neste feito (fls. 570/574) e também nos autos doagravo de instrumento ajuizado pela Fazenda do Estado (doc. 03), adecretação da nulidade se deu em razão de graves ocorrênciasrelacionadas ao processo :

a) Não houve intimação do Ministério Público dos atos lápraticados ;

b) a penhora do bem em discussão se deu dentro do prazolegal da decretação da falência, de modo que também por este motivo énula a mesma;

c) o bem em questão foi arrecadado na falência daempresa Sefran Indústria Brasileira de Embalagens Ltda. (processo nº918/96), imóvel este que, tendo sido incluído no Lote 'A' de bens damassa falida, foi levado a leilão no dia 19/08/2005; e

d) o leilão foi realizado à revelia do juízo, tendo aarrematação na execução fiscal ocorrido por preço vil.

(...)Tendo sido demonstrado que:

(i) a ora requerente é terceira interessada por teradquirido o parque industrial da empresa Sefran Indústria Brasileira deEmbalagens Ltda., em que se inclui o imóvel objeto da arremataçãodiscutida neste recurso;

(ii) o imóvel é parte essencial do terreno da antiga Sefranem Franco da Rocha, sobre o qual está instalado seu parque industrial;

(iii) o imóvel em questão foi arrecadado pela massa falidade Sefran Indústria Brasileira de Embalagens Ltda. e, assim, nãopoderia ter sido leiloado na execução fiscal;

(iv) de qualquer modo, a penhora do imóvel na execuçãofiscal se deu dentro do termo legal da falência;

(v) o r. despacho que negou a desconstituição da penhorafoi motivado por uma certidão da Serventia do mm. Juízo a quocontendo erro crasso a respeito da situação do imóvel na falência, oque motivou até mesmo expedição de ofício à Corregedoria de Justiça;

(vi) o Ministério Público não foi intimado pessoalmente dor. despacho que, num primeiro momento, negou a desconstituição dapenhora, o que sem dúvida autoriza a anulação do processo a partirdas fls. 266;

(vii) o valor da arrematação, de R$ 950.000,00, é vilquando comparado às avaliações do imóvel, de até R$ 1.975.000,00 ea ORSA pagou 11 vezes mais do que isto no leilão em que arrematou osbens na falência;

(viii) caso o r. despacho agravado seja reformado e aarrematação prevaleça, os credores da massa falida da Sefran, a massafalida em si, a ora requerente, as centenas de funcionários que estãosendo contratados para operar a fábrica e a própria Fazenda doEstado, ora agravante, sairão severamente prejudicados; e

(ix) as empresas Ibercor Papéis e Embalagens Ltda., aIbercraft Indústria de Papel e Celulose Ltda. e a EllenbourgParticipações Ltda. e a Ellenbourg Participações Ltda. constituem um

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típico caso de grupo societário de fato, cujo interesse é afastareventuais interessados no parque industrial da Sefran e encampá-lo porpreço vil.

Ante o exposto, pede e espera a ora requerente seja deferida suaparticipação na lide como terceira interessada e recebida a presente comosuas contra-razões ao recurso ordinário ou como mera manifestação.

Em qualquer hipótese, pede e espera seja de plano negado seguimento aopresente recurso ordinário, aplicando-se no caso o disposto na Súmula 276do STF.

Ainda que assim não se entenda, requer seja negado provimento aorecurso, na esteira do parecer do d. Ministério Público, mantendo-se o v.acórdão proferido nos termos em que proferido, como medida de justiça."

O prazo para oferecimento de contra-razões pela FAZENDA ESTADUAL

decorreu in albis .

O parquet estadual pugna pelo não provimento do recurso ordinário, ao

argumento de que:

"O artigo 105, inciso II, alínea 'b', da Carta Magna, esclarece ser cabívelo recurso ordinário em 'mandados de segurança decididos em únicainstância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dosEstados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão'.

Não é o caso dos autos, em que o v. acórdão, diferentemente de denegar apretensão deduzida, julgou extinto o feito, sem adentrar o mérito.

Desse modo, sem condições de ser conhecido e processado o presenterecurso ordinário.

Ademais disso, a questão trazida na impetração não é daquelas das quais,prima facie, emana o direito líquido e certo invocado que, para seramparado por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal etrazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação aoimpetrante."

O Ministério Público Federal opina pelo desprovimento do recurso ordinário,

assinalando que:

"Há que se reconhecer que não merece prosperar o presente recurso, umavez que a leitura dos autos não exsurgem as dificuldades de acesso ao feitoou cerceamento de defesa que teria ocorrido da forma acima relatada, nasfolhas indicadas. Ademais, é de se anotar que Vossa Excelência emrecentíssima decisão , em que o mesmo recorrente manejou mandado desegurança acerca do mesmo imóvel visando atacar decisão monocrática

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que confirmou decisão singular reservando a análise de pleito liminar até oexercício do contraditório, Vossa Excelência consignou, enfatizando aausência de situação teratológica:

'MANDADO DE SEGURANÇA Nº 12.627 - SP(2007/0028034-9)

RELATOR: MINISTRO LUIZ FUXIMPETRANTE: ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDAADVOGADO: FÁBIO FERREIRA GUEDES DA COSTA

E OUTROIMPETRADO: DESEMBARGADOR RELATOR DO

AGRAVO DE INSTRUMENTO NR 4853274 DO TRIBUNAL DEJUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇACONTRA ATO JUDICIAL. SÚMULA 267/STF.

1. O Pretório Excelso coíbe o uso promíscuo do writ contraato judicial suscetível de recurso próprio através da Súmula 267, queassim dispõe: "Não cabe mandado de segurança contra ato judicialpassível de recurso ou correição".

2. Writ impetrado para atacar decisão monocráticaproferida em sede de agravo de instrumento, que confirmou a decisãosingular que diferira a análise do pleito liminar até o exercício docontraditório, sendo cabível, ainda, agravo regimental, com vistas aoesgotamento das instâncias ordinárias.

3. O mandado de segurança não é sucedâneo de recurso,sendo imprópria a sua impetração contra decisão judicial passível deimpugnação prevista em lei, consoante o disposto na Súmula n.º 267 doSTF.

4. In casu, o STJ concedeu parcialmente a liminar parasustar carta de arrematação e o arrematante, segundo o impetrante,continua a comportar-se como se proprietário fosse, alterando o estadode fato da lide.

5. A alteração do estado de fato da lide a influir naexecução do julgado é passível de ser confirmada pela medida de"atentado", prevista no art. 879, III, do CPC, verbis:

"Art. 879. Comete atentado a parte que no curso doprocesso:

(omissis)III - pratica outra qualquer inovação ilegal no estado de

fato."6. O mandado de segurança, acaso admitido na questão

sub judice, consubstanciaria sucedâneo de ação acautelatória típica,além de inaugurar no STJ competência originária não prevista naConstituição Federal.

7. Indeferimento liminar da inicial do mandado desegurança.'

(...)

É igualmente certo, que, no caso ora posto sob exame, não se vislumbrasituação teratológica, mormente porque anulada a arrematação antes daexpedição da carta, o que se coaduna com a pacífica jurisprudência do

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'PROCESSUAL CIVIL. ARREMATAÇÃO.DESCONSTITUIÇÃO. EXCEPCIONALIDADE. PEDIDO EMEXECUÇÃO FISCAL. NECESSIDADE DE PROPOSITURA DAAÇÃO AUTÔNOMA DO ART. 486 DO CPC.

1. O desfazimento da arrematação por vício de nulidade,segundo a jurisprudência consagrada neste Superior Tribunal deJustiça, pode ser declarado de ofício pelo juiz ou a requerimento daparte interessada nos próprios autos da execução.

2. Esse posicionamento, entretanto, comporta exceção.Quando já houver sido expedida a carta de arrematação e transferida apropriedade do bem com o registro no Cartório de Imóveis, não épossível desconstituir a alienação nos próprios autos da execução,devendo ser realizada por meio de ação própria, anulatória, nos termosdo art. 486 do CPC.

3. Na hipótese dos autos, já expedida a carta dearrematação e transcrita no registro imobiliário, o pedido dedesfazimento da alienação somente poderia ser deferido, se for caso, emação autônoma, anulatória, e não nos próprios autos da execução fiscalcomo asseverou o Tribunal a quo.

4. Recurso especial provido.' (REsp 855863/RS, Rel.Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em26/09/2006, DJ 04/10/2006 p. 210)

Ante o exposto, e pelas razões aduzidas, o parecer é pelo desprovimento dopresente recurso."

Decisão de fl. 779 admitiu a empresa ORSA para atuar no feito como

interessada.

Nos autos da Medida Cautelar 11.937/SP, foi dado parcial provimento ao agravo

regimental interposto em face da decisão monocrática que indeferira o pleito liminar, nos termos

da seguinte ementa:

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDACAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ORDINÁRIO EMMANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR. EXECUÇÃO FISCAL.LEILÃO. ARREMATAÇÃO.1. A Corte Especial firmou o entendimento no sentido de que a falênciasuperveniente do devedor não tem o condão de paralisar o processo deexecução fiscal, nem de desconstituir a penhora realizada anteriormente àquebra. Outrossim, o produto da alienação judicial dos bens penhoradosdeve ser repassado ao juízo universal da falência para apuração daspreferências. (AgRg nos EDcl no REsp 421.994/RS)2. Consectariamente, a medida liminar que visa impedir a expedição decarta de arrematação de segunda expropriação, calcada em anulaçãoanterior que confronta com a jurisprudência do Eg. STJ, reclama

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deferimento.3. Agravo Regimental parcialmente provido. Liminar deferida em parte."

Opostos embargos de declaração em face do aludido acórdão, esclareceu-se que:

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ART. 535 DOCPC. MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSOORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR. EXECUÇÃOFISCAL. LEILÃO. ARREMATAÇÃO.1. As omissões relevantes e que influenciam no curso do processo devemser sanadas em Embargos de Declaração mercê de a vitória do embargantenão retirar-lhe, por isso, o interesse em recorrer.2. Embargos de Declaração acolhidos para esclarecer que: a) a penhorado bem matrícula 12.219 era anterior à quebra; b) a empresa falida era aSEFRAN INDÚSTRIA DE PAPEL E EMBALAGENS LTDA.; c) oembargante impetrou o mandamus como terceiro interessado, por isso quenão precisaria manejar qualquer recurso na forma da Súmula 202 do Eg.STJ; d) a liminar foi deferida diante do recurso de agravo da Fazendaquanto ao desfazimento da arrematação e arrecadação do bem na massade SEFRAN antes de julgada a irresignação da Fazenda, o que pode gerarsituação irreversível da alienação da segunda expropriação agora pararealização do passivo; e e) as modificações do estado de fato da lide sãoatentados à futura execução que se deve processar no juízo de primeirograu, onde dar-se-á o cumprimento da decisão, questões impassíveis deserem decididas em competência originária do Eg. STJ.3. Embargos de Declaração de ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDA.acolhidos e prejudicados os Embargos de Declaração de ORSA -CELULOSE, PAPEL E EMBALAGENS S.A."

É o relatório.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.048 - SP (2007/0095077-0)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADODE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. DECISÃO QUEANULOU A ARREMATAÇÃO. SÚMULA 267/STF.APLICAÇÃO. ARREMATANTE (TERCEIROPREJUDICADO). ARTIGO 499, DO CPC. RECURSOCABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 202/STJ.INAPLICABILIDADE.1. O Mandado de Segurança não é sucedâneo de recurso, sendoimprópria a sua impetração contra decisão judicial passível deimpugnação prevista em lei, ex vi do disposto no artigo 5º, II, da Lei1.533/51 e da Súmula 267/STF, segundo a qual "não cabe mandado desegurança contra ato judicial passível de recurso ou correição"(Precedente da Corte Especial do STJ: MS 12.441/DF, Rel. MinistroLuiz Fux, Corte Especial, julgado em 01.02.2008, DJe 06.03.2008).2. O artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, veda a utilização do mandado desegurança contra decisão judicial da qual caiba recurso com efeitosuspensivo.3. Malgrado o writ tenha sido manejado por terceiro prejudicado,revela-se inaplicável, à espécie, a Súmula 202/STJ, segundo a qual "aimpetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não secondiciona a interposição de recurso" .4. Isto porque a ratio essendi da Súmula 202/STJ pressupõe a nãoparticipação do terceiro na lide, vale dizer: o desconhecimento dos atosprocessuais respectivos, exegese que se extrai, em regra, da leitura dosprecedentes que embasaram o verbete sumular (REsp 2.224/SC, Rel.Ministro José de Jesus Filho, Segunda Turma, julgado em 09.12.1992, DJ08.02.1993; RMS 243/RJ, Rel. Ministro Gueiros Leite, Terceira Turma,julgado em 21.08.1990, DJ 09.10.1990; RMS 1.114/SP, Rel. MinistroAthos Carneiro, Quarta Turma, julgado em 08.10.1991, DJ 04.11.1991;RMS 4.069/ES, Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, SegundaTurma, julgado em 26.10.1994, DJ 21.11.1994; RMS 4.822/RJ, Rel.Ministro Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, julgado em 05.12.1994,DJ 19.12.1994; e RMS 7.087/MA, Rel. Ministro César Asfor Rocha,Quarta Turma, julgado em 24.03.1997, DJ 09.06.1997).5. A decisão que anulou a arrematação e que foi objeto do presentemandado de segurança habilitava o arrematante a recorrer porquantodetinha evidente legitimidade, à luz do artigo 499, do CPC, sendo certoque requereu seu ingresso, na qualidade de terceiro interessado, nosautos do agravo de instrumento interposto pela Fazenda Estadual, ao qualfoi conferido efeito suspensivo (fls. 532/533 e 542/551), razão pela qualse revela inadequada a via eleita.6. Deveras, in casu , o inteiro teor da decisão judicial que anulou aarrematação, objeto do presente mandado de segurança, restou publicadano Diário Oficial do Estado em 24.06.2005, e a alegada teratologia dadecisão judicial não resta evidente, porquanto anulada a arrematação

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realizada na execução fiscal, ante a constatação, entre outros: (i) de quea penhora do imóvel ocorrera no termo legal da falência, (ii) que o bempenhorado fora arrecadado no feito falimentar, (iii) que a arremataçãoocorrera por preço vil, (iv) que o Ministério Público não fora intimado e(vi) que o magistrado competente não participara do ato expropriatório.7. Acresce o fato de que o mérito do aludido agravo de instrumento(Agravo de Instrumento nº 431.419-5/9-00) restou julgado pelo Tribunalde Justiça do Estado de São Paulo, em 03.12.2007, que lhe negouprovimento, considerando válida a anulação da arrematação realizada noâmbito da execução fiscal.8. O desprovimento do recurso ordinário impõe a revogação da liminardeferida nos autos da Medida Cautelar 11.937/SP, máxime porque aperfectibilização da regular expropriação do bem, realizada nos autosfalimentares, não caracteriza dano irreparável ou de difícil reparação,uma vez que: (i) ainda que fosse considerada hígida a arremataçãorealizada nos autos da execução fiscal, o produto da alienação judicial dobem penhorado deveria ser entregue ao juízo universal da falência paraapuração das preferências; e (ii) a arrematação somente é consideradaperfeita, acabada e irretratável com a assinatura do auto pelo juiz, peloarrematante e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro (artigo 694, doCPC), hipótese inocorrente in casu .9. Recurso ordinário desprovido, revogada a liminar deferida nos autosda Medida Cautelar 11.937/SP.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX (Relator): Preliminarmente, revela-se

cognoscível o recurso ordinário manejado, uma vez que a expressão "denegatória de segurança"

(alínea "b", do inciso II, do artigo 105, da Constituição Federal de 1988, e alínea "a", do inciso II,

do artigo 539, do CPC) deve ser interpretada em sentido amplo, abrangendo inclusive o acórdão

que extinguir o processo sem julgamento do mérito, consoante se depreende da leitura das

seguintes ementas:

"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DESEGURANÇA. PRECATÓRIO COMPLEMENTAR. SEQÜESTRO.LEVANTAMENTO DE DEPÓSITO. INEXISTÊNCIA DE PERDA DOOBJETO. ANULAÇÃO DO JULGAMENTO. RETORNO DOS AUTOS ÀORIGEM.1. A expressão “denegatória de segurança”, inserta na alínea “b” doinciso II do art. 105 da CF/1988 e na letra “a” do inciso II do art. 539 doCPC, deve ser interpretada em sentido amplo, abarcando tanto o acórdãodenegatório da ordem como aquele que extingue o processo, semjulgamento do mérito.2. O levantamento do valor seqüestrado não ilide a pretensão do entepúblico em obter a tutela jurisdicional para cancelar o ato de constriçãoreputado ilegítimo.3. Recurso provido. Anulação do acórdão recorrido. Baixa dos autos ao

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egrégio Tribunal de origem para que prossiga no julgamento da ação, como exame das demais questões." (RMS 20.627/SP, Rel. Ministro JoséDelgado, Primeira Turma, julgado em 07.03.2006, DJ 03.04.2006)

"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DESEGURANÇA. CABIMENTO. ACÓRDÃO QUE NÃO CONHECEU DOWRIT. INCOMPETÊNCIA DA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL AQUO PARA APRECIAR A DEMANDA. REMESSA AO ÓRGÃOCOMPETENTE. ART. 113, § 2º, DO CPC. PRECEDENTES.1. O art. 105, inciso II, alínea "b", da Constituição Federal dispõe quecompete ao Superior Tribunal de Justiça julgar "os mandados desegurança decididos em única ou última instância pelos TribunaisRegionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal eTerritórios, quando a decisão for denegatória", ou seja, a expressãodenegatória deve ser interpretada em sentido amplo, abarcando o acórdãodenegatório da ordem após o julgamento do mérito, bem como o arestoextintivo do writ sem julgamento do mérito.2. Reconhecida a incompetência absoluta da Câmara Criminal, cabe aoTribunal o envio do mandamus ao órgão julgador competente.Inteligência do art. 113, § 2º, do CPC.3. Recurso em mandado de segurança provido." (RMS 14.675/RS, Rel.Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 06.09.2005,DJ 10.10.2005)

Nada obstante, não merece reforma o acórdão regional.

Com efeito, é de sabença que o mandado de segurança não pode ser utilizado

como sucedâneo do recurso legalmente cabível, sendo medida excepcional e extrema, admissível

somente em casos de ilegalidade ou abuso de poder por parte do prolator do ato processual

impugnado.

A doutrina esposa esse entendimento segundo se colhe das lições de Hely Lopes

Meirelles, in Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção,

Habeas Data, Malheiros, 1996, p. 35:

"Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo do recursopróprio, pois por ele não se reforma a decisão impugnada, mas apenas seobtém a sustação de seus efeitos lesivos ao direito líquido e certo doimpetrante, até a a revisão do julgado no recurso cabível."

Sob esse enfoque, sobreleva notar que o Pretório Excelso coíbe o uso promíscuo

do writ contra ato judicial suscetível de recurso próprio, ex vi do disposto no artigo 5º, II, da Lei

1.533/51, o que culminou na edição da Súmula 267, segundo a qual "não cabe mandado de

segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição".

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A Corte Especial do STJ já se pronunciou sobre o tema:

"PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATOJUDICIAL. SÚMULA 267/STF.1. O uso promíscuo do writ of mandamus contra ato judicial suscetível derecurso próprio é coibido pela Súmula 267, do Pretório Excelso, segundo aqual: "Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível derecurso ou correição".2. Writ impetrado para atacar decisão monocrática que considerouintempestivo o agravo regimental que impugnava anterior decisum dorelator que negara seguimento a recurso especial, ante a intempestividade,adotando, como termo a quo da contagem do prazo recursal, oarquivamento do mandado de intimação na Secretaria do Tribunal.3. Deveras, contra a aludida decisão monocrática era cabível ainterposição de outro agravo regimental, a fim de provocar opronunciamento do órgão colegiado acerca da tempestividade ou não doagravo interno anteriormente manejado.4. O mandado de segurança não é sucedâneo de recurso, sendo imprópriaa sua impetração contra decisão judicial passível de impugnação previstaem lei (Precedentes da Corte Especial: AgRg no MS 12749/DF, RelatorMinistro Luiz Fux, publicado no DJ de 20.08.2007; QO no MS 11260/DF,Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator p/ Acórdão MinistroCesar Asfor Rocha, publicado no DJ de 26.02.2007; AgRg no MS10436/DF, Relator Ministro Felix Fischer, publicado no DJ de28.08.2006; e AgRg no MS 4882/SP, Relator Ministro FernandoGonçalves, publicado no DJ de 13.10.2003).5. Mandado de segurança extinto sem julgamento do mérito, ante ainadequação da via eleita." (MS 12.441/DF, Rel. Ministro Luiz Fux, CorteEspecial, julgado em 01.02.2008, DJe 06.03.2008)

O artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, também não admite mandado de segurança

contra decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo.

Malgrado o writ tenha sido manejado por terceiro prejudicado, revela-se

inaplicável, à espécie, a Súmula 202/STJ, segundo a qual "a impetração de segurança por

terceiro, contra ato judicial, não se condiciona a interposição de recurso" .

Isto porque a ratio essendi da Súmula 202/STJ pressupõe a não participação do

terceiro na lide, vale dizer: o desconhecimento dos atos processuais respectivos, exegese que se

extrai, em regra, da leitura dos precedentes que embasaram o verbete sumular, verbis :

"RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO. NÃO SENDO PARTE NOFEITO, PODE O TERCEIRO PREJUDICADO FAZER USO DOMANDADO DE SEGURANÇA PARA IMPEDIR LESÃO A DIREITOSEU, LÍQUIDO E CERTO, PROVOCADA POR DECISÃO JUDICIAL,MESMO QUANDO SEJA ESTA PASSÍVEL DE RECURSO . (RTJ 88/890).

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E SE A PRETENSÃO DEDUZIDA NO WRIT DECORRE DE LEI EMVIGOR, HÁ DIREITO LÍQUIDO E CERTO A PROTEGER. RECURSOESPECIAL NÃO CONHECIDO." (REsp 2.224/SC, Rel. Ministro José deJesus Filho, Segunda Turma, julgado em 09.12.1992, DJ 08.02.1993)

"TERCEIRO. MANDADO DE SEGURANÇA EM EXECUÇÃO DESENTENÇA. NÃO INVESTE CONTRA A COISA JULGADA OMANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO POR QUEM NÃO FOIPARTE NO PROCESSO , E ESTÁ SENDO EXECUTADO E QUEPODERÁ, POR ESSA VIA, OPOR LIMITES À EFICÁCIA DASENTENÇA EXEQÜENDA. (RMS 243/RJ, Rel. Ministro Gueiros Leite,Terceira Turma, julgado em 21.08.1990, DJ 09.10.1990)

"MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. OPRINCÍPIO DE QUE O MANDADO DE SEGURANÇA NÃO PODE SERUTILIZADO COMO SUCEDÂNEO RECURSAL APLICA-SE ENTREPARTES, MAS NÃO INCIDE EM SE CUIDANDO DE SEGURANÇAIMPETRADA POR TERCEIRO, PREJUDICADO EM SEUPATRIMÔNIO PELO ATO JUDICIAL. AÇÃO POSSESSÓRIA, COMLIMINAR DEFERIDA, TENDO POR OBJETO A UTILIZAÇÃO DELINHA TELEFÔNICA, CUJA TITULARIDADE TODAVIAINDUVIDOSAMENTE TOCA A IMPETRANTE, ALHEIA A DEMANDA ,E QUE NÃO PODE SER PRIVADA DO DIREITO A LIVREDISPOSIÇÃO DO BEM.RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO." (RMS 1.114/SP, Rel. MinistroAthos Carneiro, Quarta Turma, julgado em 08.10.1991, DJ 04.11.1991)

"MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JUDICIAL. IMPETRAÇÃO PELOTERCEIRO PREJUDICADO.I - O TERCEIRO ATINGIDO PELO ATO JUDICIAL PODEIMPUGNÁ-LO POR MEIO DE MANDADO DE SEGURANÇA, AINDAQUE NÃO HAJA INTERPOSTO O RECURSO CABÍVEL. NO CASO, OSIMPETRANTES, NA QUALIDADE DE LITISCONSORTES PASSIVOSNECESSÁRIOS, DEVERIAM TER SIDO CITADOS PARA AÇÃOCAUTELAR INOMINADA ANTERIORMENTE PROPOSTA, EM QUEFOI PRATICADO O ATO ATACADO NESTA IMPETRAÇÃO, E NÃOFORAM . CONSEQUÊNCIAS.II - RECURSO ORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO." (RMS4.069/ES, Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Segunda Turma, julgadoem 26.10.1994, DJ 21.11.1994)

"MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO JUDICIAL.INEXISTÊNCIA DE RECURSO ADEQUADO CONTRA A DECISÃOIMPUGNADA. DISPENSABILIDADE POR CUIDAR-SE DE"MANDAMUS" IMPETRADO POR TERCEIRO.EM SE TRATANDO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO JUDICIAL,O IMPETRANTE DEVE, NO PRAZO LEGAL, MANIFESTAR ORECURSO ADEQUADO, PARA EVITAR A PRECLUSÃO DA MATÉRIA."IN CASU", EM SE TRATANDO DE IMPETRAÇÃO MANEJADA PORTERCEIRO ESTRANHO AO PROCESSO , QUALQUER DECISÃOPROFERIDA NESTE, EM RELAÇÃO AO IMPETRANTE, E"INUTILITER DATUR", NÃO SE CONFIGURANDO A PRECLUSÃO.

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NÃO SENDO, O IMPETRANTE, PARTE NO PROCESSO DEINVENTARIO (EM QUE SE PROFERIU A DECISÃO IMPUGNADA) ENÃO TENDO SIDO CITADO E NEM INTIMADO NA PESSOA DE SEUREPRESENTANTE LEGAL, IMPRATICÁVEL EXIGIR-SE VIESSE AMANIFESTAR RECURSO PROCESSUAL, ATEMPADAMENTE .RECURSO PROVIDO PARA AFASTAR A EXTINÇÃO DO PROCESSO,COM A REMESSA DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM PARA OJULGAMENTO DO MÉRITO.DECISÃO UNANIME." (RMS 4.822/RJ, Rel. Ministro DemócritoReinaldo, Primeira Turma, julgado em 05.12.1994, DJ 19.12.1994)

"CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DESEGURANÇA. COISA JULGADA. TERCEIRO NÃO INTEGRANTE DAANTERIOR LIDE. DESPOJAMENTO DA POSSE DE TITULAR PORJUSTO TÍTULO.O TERCEIRO QUE NÃO INTEGROU ANTERIOR PROCESSO PODEINVESTIR, PELA VIA DO MANDADO DE SEGURANÇA, CONTRA ADECISÃO DECORRENTE DE SENTENÇA TRANSITADA EMJULGADO, PARA IMPEDIR VIOLAÇÃO A SEU DIREITO LÍQUIDO ECERTO .AFETA O PRINCIPIO DA AMPLA DEFESA O DESPOJAMENTO DAPOSSE DE BENS ADQUIRIDOS POR JUSTO TÍTULO, NASCIRCUNSTÂNCIAS DA ESPÉCIE, PORQUE "NINGUÉM SERÁPRIVADO DE SEUS BENS SEM O DEVIDO PROCESSO LEGAL".RECURSO CONHECIDO E PROVIDO." (RMS 7.087/MA, Rel. MinistroCésar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em 24.03.1997, DJ09.06.1997)

In casu , restou assente na instância ordinária que:

"É caso de extinção do processo, ainda que terceiro interessado aimpetrante.

Reconhece-se que, em princípio, '... o terceiro pode, independentemente derecurso, impetrar mandado de segurança contra ato jurisdicional que lheatinja os interesses ...' (RMS nº 13.904/PB - Rel. Min. CASTRO FILHO -DJU de 07.04.03, p. 277), mas, para tanto, exige-se excepcionalidade, valedizer: ' ... situações teratológicas, abusivas, que possam gerar dano dedifícil ou incerta reparação, (e) o recurso não tenha ou não possa obterefeito supensivo ...' (AgRg no RMS nº 16.173/GO - Rel. Min. ARNALDOESTEVES LIMA - DJU de 10.04.06, p. 230), hipótese inocorrente .

Afora interlocutória (art. 162, § 2º, do CPC) a decisão em evidência (fls.428/429 ou 530/531), a desafiar agravo de instrumento (art. 522, caput,do CPC), suscetível de efeito suspensivo (art. 557, III, do CPC), ela não seapresenta manifestamente teratológica ou abusiva.

Só com o depósito e a lavratura do auto, '... a arremataçãoconsiderar-se-á perfeita, acabada e irretratável' (art. 694, caput, do CPC).Embora efetuado o primeiro (fls. 467), o questionado auto (fls. 463/466)não só não foi assinado pela MM. Juíza, como se viu anulado pela decisão

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ora impugnada (fls. 530/531).

Admite-se, mesmo de ofício, 'o desfazimento da arrematação por vício denulidade ...' (REsp nº 130.911- ...) e dessa natureza a falha em questão.

Necessária a intervenção do Ministério Público em execução fiscal,quando devedora é massa falida. Afasta-se, em tais hipóteses, '... aincidência da Súmula 189 deste Tribunal, sendo necessária a intimação doMinistério Público na execução fiscal, pois, nos termos do art. 210, da leide Falências, o Parquet é o curador e fiscal das massas falidas.' (REsp nº614.262- ...), cabendo a ele '... defender o patrimônio remanescente, emproteção aos interesses sócio-econômicos envolvidos'. (REsp nº 28.529-...).

O descompasso dos valores (fls. 422, 554 e 561), revela, inequivocamente,o prejuízo a justificar o reconhecimento da nulidade pela não intervençãodo Ministério Público.

De qualquer forma, eventual direito do arrematante só nasceria com acarta de arrematação, seu 'título formal da aquisição' (ARAKEN DEASSIS - 'Manual de Processo de Execução' - Ed. Revista dos Tribunais -nº 259 - p. 798) de cuja expedição sequer se cogitou. E o efeito suspensivoativo lá concedido (fls. 441 ou 532) não tem a amplitude firmada pelaimpetrante, como bem reconheceu a MM. Juíza a quo (fls. 597).

Não se argumente que a arrematante não teve ciência do ato jurisdicional(fls. 530/531) que invalidou a arrematação (fls. 463/466). A impetração éprova inequívoca em contrário. Além do mais, reiteradas manifestações noagravo de instrumento da Fazenda (v.g - fls. 542/551) evidenciam seuinquestionável conhecimento dos atos processuais que agora pretendedesconstituir. De outra parte, alegadas dificuldades de acesso aos autosnão lhe obstaram a instrução do presente mandamus. Podia,oportunamente, agravar .

Finalmente, ainda que, por equívoco, como se admite apenas paraargumentar, o bem não pudesse estar arrecadado na falência, o fato é queele foi arrecadado (fls. 559). O imóvel (matrícula nº 12.219, no Registrode Imóveis de Franco da Rocha - fls. 154/155) arrestado (em 19.09.95 -fls. 153/156) e convertido em penhora (em 01.10.96 - fls. 173/174) naexecução fiscal foi objeto de arrecadação na falência (fls. 550/561 e item4, da relação de imóveis daquele feito - cf. referência do perito - fls. 254 efoi por ele avaliado, como integrante da fábrica, em Franco da Rocha, dafalida - fls. 254/256).

Confiram-se, a propósito, as informações do MM. Juízo a quo: 'Comefeito, dos autos do processo falimentar, verificamos que pelas r. decisõesde fls. 360 e 659 foi determinada a arrecadação do bem imóvel objeto damatrícula nº 12.219 (copiada a fls. 296 do processo falimentar), imóvelque integra o parque fabril da falida e, portanto, expressamentearrecadado e inclusive avaliado pelo perito judicial, conforme se verificado laudo pericial apresentado naqueles autos' (fls. 560/561).

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E essa situação ainda não se desconstituiu.

Diante desse quadro, como se dispensou a manifestação do MinistérioPúblico por situação (bem não arrecadado na falência - fls. 290/291) emface de informação equívoca (fls. 295) e, de fato, inexistente (fls.559/561), outra não poderia ser a solução, pelo menos enquanto nãoresolvida, na falência, a legitimidade ou não da arrecadação doquestionado imóvel.

Em resumo: em que pese a combatividade dos advogados da impetrante,em face das informações do MM. Juiz a quo e dos demais elementosexistentes nos autos, não sendo despropositada ou desarrazoada a decisão,não se justifica, sequer em caráter excepcional, exceção à regra ao nãocabimento de mandado de segurança de decisão judicial, em que peseinterposto por terceiro."

Conseqüentemente, é certo que: (i) o inteiro teor da decisão judicial que anulou a

arrematação, objeto do presente mandado de segurança, restou publicada no Diário Oficial do

Estado em 24.06.2005; e (ii) a alegada teratologia da decisão judicial não resta evidente,

porquanto anulada a arrematação realizada na execução fiscal, ante a constatação, entre outros,

de que a penhora do imóvel ocorrera no termo legal da falência, que o bem penhorado fora

arrecadado no feito falimentar, que a arrematação ocorrera por preço vil, que o Ministério

Público não fora intimado e que o magistrado competente não participara do ato expropriatório.

A decisão que anulou a arrematação e que foi objeto do presente mandado de

segurança habilitava o arrematante a recorrer porquanto detinha evidente legitimidade, à luz do

artigo 499, do CPC, sendo certo que requereu seu ingresso, na qualidade de terceiro interessado,

nos autos do agravo de instrumento interposto pela Fazenda Estadual, ao qual foi conferido efeito

suspensivo (fls. 532/533 e 542/551), razão pela qual se revela inadequada a via eleita.

Acresce o fato de que o mérito do aludido agravo de instrumento (Agravo de

Instrumento nº 431.419-5/9-00) restou julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

em 03.12.2007, que lhe negou provimento, considerando válida a anulação da arrematação

realizada no âmbito da execução fiscal.

O desprovimento do recurso ordinário impõe a revogação da liminar deferida nos

autos da Medida Cautelar 11.937/SP, máxime porque a perfectibilização da regular expropriação

do bem, realizada nos autos falimentares, não caracteriza dano irreparável ou de difícil reparação,

uma vez que: (i) ainda que fosse considerada hígida a arrematação realizada nos autos da

execução fiscal, o produto da alienação judicial do bem penhorado deveria ser entregue ao juízoDocumento: 1021807 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/12/2010 Página 24de 27

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universal da falência para apuração das preferências; e (ii) a arrematação somente é

considerada perfeita, acabada e irretratável com a assinatura do auto pelo juiz, pelo arrematante

e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro (artigo 694, do CPC), hipótese inocorrente in casu .

Com essas considerações, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO

ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA, tendo em vista a inadequação da via eleita,

revogada a liminar deferida nos autos da Medida Cautelar 11.937/SP.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO

PRIMEIRA TURMA

Número Registro: 2007/0095077-0 RMS 24.048 / SP

Números Origem: 18688 2488 4338895 91896

PAUTA: 16/11/2010 JULGADO: 16/11/2010

RelatorExmo. Sr. Ministro LUIZ FUX

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES

Subprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. DENISE VINCI TULIO

SecretáriaBela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : ELLENBURG PARTICIPAÇÕES LTDAADVOGADO : FÁBIO AUGUSTO RIGO DE SOUZA E OUTRO(S)T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOIMPETRADO : JUÍZA DE DIREITO DO 1º ANEXO FISCAL DE FRANCO DA ROCHA - SPRECORRIDO : SAFRAN INDÚSTRIA BRASILEIRA DE EMBALAGENS LTDA - MASSA

FALIDAADVOGADO : CARLOS ALBERTO CASSEB - SÍNDICOINTERES. : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULOPROCURADOR : ERALDO AMERUSO OTTONI E OUTRO(S)INTERES. : SÉRGIO ANUSAUKAS E OUTROINTERES. : ORSA CELULOSE PAPEL E EMBALAGENS S/AADVOGADOS : JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI E OUTRO(S)

PEDROMIRANDA ROQUIM

ASSUNTO: Execução Fiscal - Arrematação

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe nasessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário em mandado desegurança, revogada a liminar deferida nos autos da MC 11.937/SP, nos termos do voto do Sr.Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Arnaldo Esteves Lima, Benedito Gonçalves eHamilton Carvalhido votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Page 27: Superior Tribunal de Justiça - Avaliações e Perícias ... · de que apenhora do imóvel ocorrera no termo ... como aimediata SUSPENSÃO DO LEILÃO designado para odia 19 de

Superior Tribunal de Justiça

Brasília, 16 de novembro de 2010

BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑASecretária

Documento: 1021807 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/12/2010 Página 27de 27