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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Escola de Biblioteconomia (EB) Wallace Silva Santana de Almeida Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da aquisição e desenvolvimento de linguagem nas práticas informacionais de Surdos Rio de Janeiro 2018

Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da …...Ficha catalográfica elaborada pelo autor 020 A447s Almeida, Wallace Silva Santana de, 1990- Surdez, Informação e Língua(gem)

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Escola de Biblioteconomia (EB)

Wallace Silva Santana de Almeida

Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da aquisição e

desenvolvimento de linguagem nas práticas informacionais de Surdos

Rio de Janeiro

2018

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Wallace Silva Santana de Almeida

Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da aquisição e

desenvolvimento de linguagem nas práticas informacionais de surdos

Trabalho de conclusão de curso, requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Biblioteconomia, submetido à Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Orientação: Profa. Dra. Bruna Silva do Nascimento Barbosa

Rio de Janeiro

2018

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Ficha catalográfica elaborada pelo autor

020

A447s

Almeida, Wallace Silva Santana de, 1990-

Surdez, Informação e Língua(gem) : implicações da aquisição de linguagem nas

práticas informacionais de surdos [manuscrito] / Wallace Silva Santana de Almeida. —

2018

76 f. : il. ; 30 cm

Orientação: Bruna Silva do Nascimento Barbosa

Trabalho de conclusão de curso (Graduação)—Escola de Biblioteconomia,

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

1. Práticas informacionais de surdos. I. Barbosa, Bruna Silva do Nascimento,

orient. II. Título.

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Wallace Silva Santana de Almeida

Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da aquisição e

desenvolvimento de linguagem nas práticas informacionais de surdos

Trabalho de conclusão de curso, requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Biblioteconomia, submetido à Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Aprovado em: _____ de dezembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Bruna Silva do Nascimento Barbosa, Dra.

__________________________________________________

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Profa. Marianna Zattar Barra Ribeiro. Dra.

__________________________________________________

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Profa. Simone da Rocha Weitzel, Dra.

__________________________________________________

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

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Dedico este trabalho à minha mãe e ao meu pai que lutaram pelos meus

estudos e a todos os Surdos que ainda são silenciados.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a meus pais que fizeram o possível e as vezes até o

impossível para que eu tivesse acesso a meios educacionais e culturais,

proporcionando toda a base para que pudesse fazer parte da primeira geração da

família que ascendeu a universidade.

Aos familiares próximos que torceram e apoiaram todas as conquistas e

dificuldades até aqui.

Ao Victor por todo amor, paciência e companheirismo, em todos os momentos

durante a graduação.

Aos amigos de fora da Unirio, por não desistirem de mim e pelo entendimento

das exigências de dedicação e envolvimento que uma boa graduação exige.

Aos amigos que a Universidade me trouxe que estiveram ao meu lado

dividindo experiências e dando suportes nos momentos mais difíceis.

Aos amigos e colegas que construíram e participaram dos encontros

estudantis da qual pude fazer parte, obrigado por dividir os melhores momentos da

graduação.

Aos amigos da Licenciatura em Biblioteconomia, que mesmo quando vinha a

incerteza, mostravam o quão juntos estávamos, salvando inclusive o final do curso

com aquelas turmas de ensinos que me indicaram um caminho pelo qual vou buscar

seguir.

Aos professores do curso por compartilhar conhecimentos e estimular o

pensamento critico e dividir muitas histórias, para além da sala de aula,

especialmente ao "Dream team" do DEPB por apoiar todas as loucuras e inspirar

enquanto pessoas e docentes.

A professora Bruna Nascimento pela orientação do TCC de forma a fazer

caber no meu tempo e em diversos assuntos da vida pessoal.

As professoras Mariana Zattar e Simone Weitzel pela solidariedade e

contribuições diretas e indiretas e por serem exemplos como pesquisadoras e

professoras.

Aos sujeitos da pesquisa por compartilharem comigo suas experiências e

contribuíram para que este trabalho se torne realidade.

A todos aqueles que contribuíram para minha formação acadêmica e crítica e

que de alguma maneira ajudaram a transformar meu mundo melhor.

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“Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a

pessoa. Quando eu rejeito a língua, eu rejeitei a pessoa porque

a língua é parte de nós mesmos. Quando eu aceito a língua de

sinais, eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente

que o surdo tem o direito de ser surdo. Nós não devemos

mudá-los, devemos ensiná-los, ajudá-los, mas temos que

permitir-lhes ser surdo.”

Terje Basilier.

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RESUMO

Este trabalho busca compreender de que maneira os processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem podem influenciar nas práticas informacionais de Surdos. Para tal pretende identificar as barreiras encontradas por Surdos, com diferentes formas de aquisição de Linguagem, em suas práticas informacionais definidas a partir dos processos de acesso, uso e compartilhamento. Esforça-se para detectar as principais fontes e tecnologias de informações utilizadas no processo de Busca da informação por Surdos e procura diferenciar a interferência da Linguagem oral e da língua portuguesa e/ou da Libras no transcurso do uso e compartilhamento da informação. A pesquisa se caracteriza por ser exploratória, com abordagem qualitativa e utiliza como instrumento de coleta de dados um questionário. Os resultados demonstram a relação entre a aquisição e o desenvolvimento de linguagem dos Surdos e suas práticas informacionais. Indica a preferência pela informação acessível em Libras. O fechamento aponta para necessidade de criação de estratégias para democratização da informação, para a importância do processo de letramento informacional e para a necessidade de se ouvir os Surdos.

Palavras-chave: Práticas informacionais. Surdez. Aquisição de linguagem.

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ABSTRACT

This work seeks to understand how processes of acquisition and development of language can influence the information practices of Deaf people. As to that, it seeks to identify the barriers encountered by Deaf people, with different forms of language acquisition, in their information practices defined through access, use and sharing processes. It strives to detect the main sources and information technologies used in the process of information search by Deaf people and seeks to differentiate the interference of the Oral language and the Portuguese language and / or Libras in the course of the use and sharing of information. The research is characterized as exploratory, with a qualitative approach and uses as a data collection instrument a questionnaire. The results demonstrate the relationship between the acquisition and the development of language of Deaf people and its informational practices. It indicates preference for information accessible in Libras. The closure points to the need of strategies creation for the democratization of information, for the importance of the information literacy process and the need to listen to the deaf.

Keywords: Information practices. Deafness. Acquisition of language.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01 – Modalidade de escolarização ...................................................................... 40

Gráfico 02 – Preferência de comunicação ....................................................................... 41

Gráfico 03 – Ambientes digitais utilizados ...................................................................... 46

Gráfico 04 – Língua mais utilizada no processo de busca da informação .................... 48

Gráfico 05 – Eficiência linguística .................................................................................... 51

Gráfico 06 – A predominância linguística na escola ....................................................... 51

Gráfico 07 – O uso da língua com amigos ....................................................................... 52

Gráfico 08 – O uso da língua em atividades religiosas ................................................... 53

Gráfico 09 – O uso da língua para infamações cotidianas ............................................. 54

Gráfico 10 – O uso da língua para vídeos ........................................................................ 55

Gráfico 11 – O uso da língua na aprendizagem ............................................................... 56

Gráfico 12 – O uso da língua em compartilhamento ....................................................... 57

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALS Língua de Sinais Americana

EB Escola de Biblioteconomia

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INES Instituto Nacional de Educação para Surdos

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

SI Sinais internacionais

UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 SURDEZ................................................................................................................. 17

2.1 ASPECTOS DA SURDEZ: DIFERENÇA OU DEFICIÊNCIA? ............................. 20

2.2 PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUA(GEM) ............................................ 22

3 PRÁTICAS INFORMACIONAIS ............................................................................ 26

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: O CAMINHAR SILENCIOSO DE UM

OUVINTE .................................................................................................................. 33

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 33

4.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................................... 36

5 A VOZ DOS SURDOS: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ..... 39

5.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS PARTICIPANTES ................................................... 39

5.2 AS BARREIRAS NAS SUAS PRÁTICAS INFORMACIONAIS ............................ 41

5.3 FONTES E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO UTILIZADAS ........................... 45

5.4 ABORDAGENS LINGUÍSTICAS NAS PRÁTICAS INFORMACIONAIS .............. 50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62

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1 INTRODUÇÃO

A informação, desde o início do processo de civilização, é uma matéria prima

do desenvolvimento da humanidade. A sociedade contemporânea apresenta a

característica de estar articulada em redes, por onde transcorrem a comunicação e

informação, construindo novas formas de expressão cultural, atividades econômicas,

educativas e de lazer. Configura-se, desta maneira, uma sociedade que busca por

meios diferentes informação e conhecimento e novas possibilidades de interpretar e

conhecer o mundo.

Na sociedade contemporânea, a partir das informações, é possível

estabelecer diferentes versões da realidade, e a partir do confronto dos diferentes

discursos que são produzidos, permitir que os atores sociais se situem histórica e

politicamente no contexto na qual estamos inseridos.

Neste contexto, informação pode apresentar diferentes conceitos não tendo

um consenso para as áreas de Biblioteconomia e Ciência da informação. É oportuno

então conceituá-la para este trabalho, que entende a

Informação – substrato da vida social, fundamental à compreensão dos fenômenos, requerendo daquele que a recebe submetê-la a um processo de análise, crítica e reflexão, para que, inserindo-o na historicidade dos processos sociais possa ser incorporada como conhecimento, norteando a ação. (REIS, 1999, p. 155).

Assim, vale ressaltar que informação aqui é compreendido como um resultado

da interação social, entre agentes concretos, que estão inseridos em uma realidade

social, histórica, política, econômica e cultural o que torna necessária uma

compreensão em sua inserção social.

A informação como caracterizada acima, se torna de expressiva contribuição

e intervenção em diversos contextos sociais. Para o presente trabalho torna-se

relevante debater as inferências do processo de aquisição de linguagem nas

práticas informacionais, visto que a aquisição de linguagem atua como mecanismo

de socialização e interiorização da ordem social, através de práticas e saberes

instituídos para a apropriação da cultura e das diferentes circunstâncias da realidade

social.

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A relação entre informação e o processo aquisição de linguagem, a partir de

uma perspectiva crítica, torna-se uma opção para a compreensão da realidade

social de Surdos, e para sonhar com possibilidades de transformação social.

Compreendendo o processo de aquisição de linguagem como uma prática

social e um fator essencial para o indivíduo fortalecer sua cidadania e ainda

entendendo o acesso e a apropriação da informação com o potencial de minimizar

desigualdades sociais, o presente trabalho tem por objetivo compreender de que

maneira os processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem podem

influenciar nas práticas informacionais de Surdos1.

De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) de 2010 (BRASIL, 2012) aproximadamente 24% da população total (196

milhões de pessoas em 2010) têm algum tipo de deficiência (visual, auditiva, motora

e mental ou intelectual). Sendo 5,10% da população total com deficiência auditiva e

1,12% com deficiência auditiva severa. Hoje esses números são ainda maiores.

A perda da audição se levar em consideração sua etiologia, o tipo de perda, a

idade do diagnóstico e a intervenção e participação da família terá influências

significativa no processo de desenvolvimento do indivíduo.

O tema da surdez envolve, [...], muitos aspectos: de ordem médica (sobre a etiologia, o diagnóstico e a cirurgia de implante coclear); de ordem linguística (processos diferentes de aquisição e de desenvolvimento da linguagem oral e\ou de sinais); de ordem educacional (abordagens específicas para o surdo); de ordem terapêutica (acompanhamento especialmente no campo da fonoaudiologia); de ordem social (dificuldade nas interações com ouvintes); de ordem trabalhista (dificuldade de arranjar emprego e luta pelo aumento da “cota” da vaga para deficientes); de ordem política (luta pelos direitos dos surdos e pelo reconhecimento da língua de sinais). (SANTANA, 2007, p. 13-14).

Nossa sociedade vivencia a comunicação basicamente através da linguagem

oral, estruturada pela língua, que nos são apresentadas desde os primeiros

instantes da vida, e que nos chega preferencialmente por meio da audição. Não

ouvir, condição dos Surdos, significa uma enorme dificuldade a língua falada de

1 Em inglês a palavra ‘Surdo’ com a inicial maiúscula refere-se a uma cultura, distinta de surdo, que

é um termo patológico; essa distinção se parece com aquela feita nos Estados Unidos entre ‘gay’ e ‘homossexual’. Um número crescente de pessoas surdas sustenta que não escolheria ouvir. Para elas, a cura - surdez como patologia - é execrada; a adaptação - surdez como deficiência - é mais palatável; e a celebração - Surdez como cultura - supera todas. (SOLOMON, 2013, p. 67).

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“forma natural”, como pela maioria das pessoas. Não ter acesso a língua pode

acabar por isolar o Surdo de seu próprio grupo familiar, dos grupos escolares, e dos

mais diversos grupos sociais, interferindo significativamente nos diversos papéis

sociais que assumimos diariamente. “A surdez, especialmente a congênita, tem um

papel importante no desenvolvimento da linguagem e na construção da identidade

das pessoas surdas, e afeta também sua integração na sociedade dos ouvintes.”

(SOUZA; SILVESTRE; ARANTES, 2007, p. 49).

A Surdez pode ser pensada como uma característica, para além do fenômeno

físico pode ser pensada como uma construção cultural, e Surdos podem ser

enxergados como uma minoria linguística. A cultura surda é formada pelas

individualidades dos Surdos que se compõe em um grupo social legítimo, com uma

história, carregada de lutas e conquistas. Essa perspectiva vem alterar os contextos

político-sociais da Surdez na contemporaneidade.

Os significados sobre Surdez e sobre os Surdos foram construídos, nos mais

diferentes períodos históricos, por meio de suas condutas, formas de pensar,

literaturas, imagens, práticas educativas, avanços tecnológicos e medicinais,

participação social, dos espaços de atuação e militância política que exprimem a

representação social desse grupo linguístico minoritário.

A compreensão de Surdez e sobre os sujeitos Surdos vem se modificando ao

longo do tempo. E essa “história tem sido contada e recontada no decorrer dos

últimos cinco séculos, inicialmente pelos ouvintes, porém mais recentemente,

também pelos próprios Surdos” (LOUREIRO, 2004, p. 23).

Dentro dos Estudos Surdos, é muito importante a questão da representação

e o lugar de fala, da forma como o sujeito Surdo é representado, os discursos que

são propagados e por quem são feitos. Concordando com Lulkin (2000, p. 18)

[...] não ignoro minha condição de pesquisador ouvinte tampouco “escapa” de uma posição de poder que me permite, no espaço acadêmico, inventar o outro, ao falar desde minha perspectiva como mais uma possível “verdade” a qual não pertenço. Os dispositivos utilizados para falar do outro - neste caso, os Surdos - criam uma imagem feita pelas pessoas “normais” - neste caso os ouvintes - que são as que definem normalidade e anormalidade [...].

E assim como Lulkin questionou sua própria posição de ouvinte e pesquisador

diante a temática Surdez e diante dos Surdos, há de se considerar que este trabalho

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é desenvolvido por um ouvinte. Logo há aqui uma representação ouvinte do Surdo.

Entende-se, então que há um lugar privilegiado de fala ao representar o outro.

Porém ao mesmo tempo, busca-se contribuir com a mudança do entendimento

sobre Surdez socialmente cristalizada.

Conforme aponta Silva (2005, p. 48 apud CORRADI, 2011, p. 42) respeitar as

minorias, dentre elas as linguísticas, incluem o aprendizado do “‘ouvir, ver e

compreender’ o som de muitas línguas ao descobrir o silêncio”. E para que haja

respeito é necessário buscar entender os interesses das pessoas surdas.

A ressignificação da Surdez nos mais diversos campos de conhecimentos,

como diferença cultural, possibilita que os Surdos possam se sentir pertencentes a

todo o contexto social. E assim como fez Corradi (2005, p. 43) “a preocupação em

dar “voz” aos surdos prevaleceu neste trabalho, o que possibilitou “vê-los” e “ouvi-

los” enquanto representantes de comunidades Surdas política, cultural e socialmente

legitimadas”.

Sendo a Biblioteconomia e a Ciência da informação pertencentes a um campo

de conhecimento incrivelmente interdisciplinar, capaz de dialogar com os mais

diferentes campos de conhecimento, e ainda tratando-se de duas áreas que podem

colaborar muito com a transformação do atual contexto sócio informacional, acredita-

se que

A Ciência da Informação [e a Biblioteconomia], preocupada com os processos com que as pessoas geram, utilizam e buscam informação, depara-se com um importante objeto de estudo que se apresenta como particularmente importante na caracterização do processo de mediação entre o surdo e a informação (MIGLIOLI; SOUZA, 2014, p. 1223).

Este trabalho torna-se relevante para a comunidade acadêmica destas áreas,

visto que “na Ciência da informação poucos pesquisadores têm se debruçado sobre

este objeto de pesquisa” (CARDOSO; LIMA, 2013, p. 7) conforme o levantamento

feito para um trabalho apresentado ao XIV ENANCIB onde foi feita uma análise dos

dados referentes ao levantamento de artigos sobre Surdos na base de dados

BRAPCI (CARDOSO; LIMA, 2013). O trabalho é importante também a partir do

momento que pretende evidenciar que “os meios e suportes informacionais no geral

não privilegiam sua condição linguística e cultural. Essa barreira comunicativa

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dificulta o acesso e o uso da informação, afastando o surdo da biblioteca e dos

espaços culturais.” (CARDOSO; LIMA, 2013).

Outro fato a ser considerado sobre a relevância social deste trabalho, que

embora não se proponha a ser um mapa das práticas informacionais dos Surdos,

possa servir para a reflexão para a biblioteconomia e ciência da informação quanto

ao atendimento a comunidade Surda. Possibilitando pensar formas de diminuir as

desigualdade informacional, de modo a democratizar o acesso e derrubar as

barreiras inicialmente linguísticas, existentes na vida de Surdos.

A preocupação com a democratização e não-exclusão de minorias [...] tornam-se fundamental e evidente. Tal sistema de exclusão é reforçado por sistemas de livros, edições, bibliotecas, laboratórios científicos e pelas próprias TICs. (FREIRE, 2003).

A justificativa pessoal para o desenvolvimento da pesquisa é a de que em

2014 foi presenciado uma cena dentro da Biblioteca parque estadual, onde todos os

funcionários fugiam de um casal de Surdos que entrou no espaço, somado aos

diversos debates ocorridos nas disciplinas de Educação e Surdez I (Optativa),

Educação especial (Optativa) e Libras (Obrigatória) cursadas dentro do curso de

Licenciatura em Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro (UNIRIO) que foram sempre somadas aos aprendizados específicos da área

de Biblioteconomia resultando nas preocupações desta pesquisa.

Especificamente neste trabalho, está o entendimento de que entender como

os diferentes processos de aquisição de linguagem de Surdos interferem nas

práticas informacionais, para que se possa transformar as interações entre os

Surdos e os vários meios de comunicação e informação, as vivências, e contribuir na

melhora de autonomia e independência de surdos na participação na sociedade.

Há um abismo informacional e atitudinal entre ouvintes e surdos, o qual ultrapassa o despreparo diante do desconhecido, para a omissão e o descaso diante da invisibilidade da diferença sensorial auditiva em relação a condição ouvinte majoritária (CORRADI, 2011. p. 21).

Para que se compreenda como o processo de aquisição de linguagem

interfere nas práticas informacionais dos Surdos a pesquisa desdobrou-se nos

seguintes objetivos específicos:

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a) identificar as barreiras encontradas por Surdos, com diferentes formas de

aquisição de Linguagem, em suas práticas informacionais: acesso, uso e

compartilhamento;

b) detectar as principais fontes e tecnologias de informações utilizadas no

processo de Busca da informação;

c) diferenciar a interferência da Linguagem oral e da língua portuguesa e/ou da

Libras no transcurso do uso e compartilhamento da informação.

Acompanhando as tendências atuais voltadas para a Inclusão Social de

pessoas com deficiência, e a luta por espaço e reconhecimento da comunidade

Surda para a valorização da Cultura Surda, este trabalho se insere dentro de uma

perspectiva crítica onde todo o contexto histórico social dos sujeitos deve ser levado

em consideração.

O modo como a pessoa surda integra a surdez na construção da própria identidade ocorre em grande parte em função de outros fatores, como a qualidade de sua comunicação com o entorno mais imediato e a representação social dominante da surdez desse meio mais próximo (SOUZA; SILVESTRE; ARANTES, 2007, p. 75).

Esta monografia divide-se em seis seções. A segunda seção é a

apresentação teórica das discussões acerca da Surdez, traçando um breve histórico

sobre o entendimento de Surdez e debatendo de que forma pode impactar na

aquisição e desenvolvimento de linguagem. A terceira seção aborda as práticas

informacionais, tratando sobre a evolução dos conceitos e trazendo para

comparações práticas para que possa ser pesquisa. A quarta seção apresenta os

procedimentos metodológicos adotados para que se alcançasse os objetivos

propostos. Caracteriza ainda os atores da pesquisa. A quinta seção analisa e discute

os dados da pesquisa à luz dos conceitos estudados. A sexta e última seção

apresenta as considerações finais.

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2 SURDEZ

O entendimento acerca da Surdez e sobre os Surdos vêm mudando com o

tempo. Sabe-se que o processo de seleção natural Darwinista, a seleção biológica

dos espartanos, a acomodação benevolente do Cristianismo, a marginalização e

isolamento da idade média contribuíram para que ao longo do processo civilizatório

a ideia de deficiência auditiva ou Surdez estivesse ligada a fatos supersticiosos e

sobrenaturais.

Ao buscar na história referência sobre Surdos, encontra-se que no Egito

antigo os surdos eram temidos e respeitados, até adorados como seres divinos que

serviam como mediadores entre os Deuses e os faraós. Os Chineses lançavam-os

ao mar, os Gauleses os ofereciam em sacrifício aos Deuses, em Esparta eram

lançados dos rochedos para atrair os urubus. Ainda nos Séc. XVI e XVII, foram as

questões religiosas que afetaram essa ideia sobre a Surdez, a partir de julgamento

de valores, e ordem e de controle social. Por exemplo, “a declaração de São Paulo,

na carta aos Romanos, de que “a fé provém de ouvir” foi mal interpretada por muito

tempo no sentido de que aqueles que não podiam ouvir eram incapazes de ter fé,

[...]” (SOLOMON, 2013, p. 67).

Somente com a Revolução Francesa é que se começa a questionar a ideia

sobre a Surdez, passando para um entendimento mais humanista. No Séc. XVIII a

partir de novos estudos científicos o enfoque da Surdez estava mais ligado a

deficiência mental que propriamente a Surdez.

A situação das pessoas com surdez pré-linguística antes de 1750 era de fato uma calamidade: incapazes de desenvolver a fala, e portanto “mudos”, incapazes de comunicar-se livremente até mesmo com seus pais e familiares, restritos a alguns sinais e gestos rudimentares, isolados, exceto nas grandes cidades, até mesmo da comunidade de pessoas com o mesmo problema, privados de alfabetização e instrução, de todo o conhecimento do mundo, forçados a fazer os trabalhos mais desprezíveis, vivendo sozinhos, muitas vezes à beira da miséria, considerados pela lei e pela sociedade como pouco mais do que imbecis — a sorte dos surdos era evidentemente medonha. Mas o que se evidenciava não era nada em comparação com a destituição íntima — a destituição do conhecimento e do pensamento que a surdez pré-linguística podia acarretar, na ausência de qualquer comunicação ou de medidas reparadoras. (SACKS, 2010, p. 15).

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Essa ideia de surdos serem confundidos com pessoas com alguma debilidade

intelectual, fez com que a instrução dos Surdos se desse predominantemente de

maneira Oral, já que o aprendizado da fala significaria, para a sociedade daquela

época, determinar que surdos fossem dignos de direitos perante a lei, visto que

eram proibidos, por exemplo, de herdar bens e contrair matrimônio.

Embora houvesse o predomínio do ensino de linguagem Oral, em meados do

século XVIII, a partir do interesse do Abade Sicard e do Abade de L’Epée de mostrar

para a sociedade que os Surdos eram sujeitos humanos, com capacidade para

ingressar na vida social, a situação de parte dos Surdos começou a modificar-se.

Depois de observar a linguagem gestual utilizada pelos Surdos parisienses

para comunicar-se entre si, o Jovem abade Michel de L’Epée resolveu estudar e

aprender esta linguagem com o desejo de catequização dos jovens Surdos. Então

criou um Sistema de Sinais metódico, associando sinais com imagens e palavras,

buscando ensinar os surdos a ler (LOUREIRO, 2004).

O sucesso conseguido pelo método o fez abrir uma escola em 1755,

treinando professores Surdos para que se espalhasse pela França e pelo resto da

Europa. Cabe destacar que o L’Epée já sinalizava para a necessidade de diferenciar

os meios de instrução entre Surdos e ouvintes, conforme defendida hoje pela

Educação Bilíngue.

Apesar das conquistas educacionais e sociais da comunidade Surda

garantindo direitos e cidadania, todo o processo seria desmanchado pelo Congresso

de Milão em 1880. O Congresso de Milão, foi decisivo para que o Oralismo

predominasse até o séc. XX. O congresso determinou a imposição do método

oralista proibindo os Surdos a se comunicarem de maneira visuo-gestual nas

escolas. Há de ressaltar que o importante congresso foi realizado apenas entre/por

ouvintes, tendo como um dos líderes principais Graham Bell.

Somente após aproximadamente um século que se começa a questionar a

respeito do fracasso da educação oralista oferecida para os Surdos. Para Sacks

(1990) o Oralismo a anulação dos sinais resultaram em elevado prejuízo na

educação de pessoas Surdas e do grau de instrução dos Surdos tornando-os

iletrados funcionais. Conforme aponta Loureiro (2004) somente a partir da década

de 60 que aparecem os primeiros questionamentos, resultado das pesquisas na

educação de Surdos, e também as primeiras propostas de mudanças.

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A partir dos estudos de Willaim Stokoe sobre a Língua de Sinais Americana

(ALS) e das análises sobre os resultados do oralismo na Inglaterra no final da

década de 1970, é que se inicia um processo de tomada de consciência e de luta,

por parte dos Surdos, por direito à própria língua e a um ensino de qualidade e

emancipatório. Surge então a Comunicação Total no cenário educacional

americano.

Na área da Surdez, a Comunicação Total foi inicialmente defendida pelo Conselho de Administradores Educacionais de Escolas Americanas para Surdos, em 1976, como uma filosofia que incorpora formas de comunicação auditiva, manual e oral, apropriadas para assegurar a comunicação efetiva com e dentro da comunidade de Surdos (DELGADO, 1986 apud LOUREIRO, 2004, p. 30).

Os defensores deste movimento preocupavam-se principalmente com a

questão de comunicação e para o desenvolvimento sócio-emocional das crianças

surdas em famílias ouvinte. Assim a preocupação era aproximar as diferenças, se

utilizando das duas línguas, a de sinais e a oral, em contexto familiar e escolar.

A partir da década de 90, linguistas questionam a impossibilidade do uso

simultâneo de duas línguas. A partir de debates políticos, linguísticos e pedagógicos,

trazem a proposta de Educação Bilíngue para Surdos como solução para diminuir o

gap entre Surdos e ouvintes. (LOUREIRO, 2004).

A proposta de educação Bilíngue para os Surdos surgem com uma em

concepções sociológicas, filosóficas e políticas, assim o Bilinguismo entende que o

Surdo vive em uma sociedade ouvinte com línguas predominantemente orais e

também formam uma comunidade com características próprias como cultura e

língua.

A educação Bilíngue assume a importância da língua pátria, no caso do Brasil

o Português mas considera de suma importância o reconhecimento da língua de

Sinais, no Brasil a LIBRAS, como uma língua natural e própria da cultura gesto-

visual dos Surdos, principalmente dos Surdos congênitos. A educação Bilíngue

propõe portanto o aprendizado de duas línguas, portugues e LIBRAS, considerando

que este aprendizado seja feito em momentos distintos, e considera a intervenção

da educação o mais precoce possível.

Para que se chegasse a realidade das escolas bilíngues para Surdos no

Brasil foi necessária ações de políticas públicas por parte do Estado como, por

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exemplo a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002, que reconhece a LIBRAS como uma

“forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza

visuo-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de

transmissão de ideias e de fatos, oriundos da comunidade de pessoas Surdas do

Brasil” (BRASIL, 2002, não paginado) que mantém o português como língua pátria

dos brasileiros e ao mesmo tempo reconhece que existe outra língua oficial

circulante no país.

Outro marco importante foi o Decreto nº 5626, de 22 de dezembro de 2005,

que regulamenta a Lei nº 10436, que garante o direito do Surdo de estudar em

escola Bilíngue, seja ela pública ou privada, oferecendo “desde o ensino infantil, o

ensino de LIBRAS e também da língua portuguesa, como uma segunda língua para

alunos Surdos” (BRASIL, 2005, não paginado).

Mesmo com todos esses avanços Surdos ainda não possuem as mesmas

possibilidades que ouvintes, de modo geral não há condições igualitárias. E dentro

da comunidade Surda mesmo há diversos fatores que diferenciam esse

aprendizado. E todo o percurso histórico, assim como este trabalho, procura trazer

diferentes perspectivas buscando meios que possam favorecer o ensino e a

aprendizagem dos Surdos, favorecendo assim a inserção do aluno Surdo no espaço

escolar, a integração dos Surdos nesta chamada sociedade da informação e a

inclusão do Surdo de maneira total na sociedade.

2.1 ASPECTOS DA SURDEZ: DIFERENÇA OU DEFICIÊNCIA?

Uma possível discussão entre o que é considerado como normal e o que é

considerado patológico antecede a discussão da surdez como diferença ou como

deficiência.

Entre as áreas do conhecimento relacionadas com a surdez sempre houve disputa para apontar a melhor solução para a comunicação dos surdos. Essa competição de soluções para o problema tem duas bases. De um lado o Oralismo, que busca a “normalidade” e a fala, procurando dispor de avanços tecnológicos para oferecer ao surdo a possibilidade de ouvir. De outro, existe o Bilinguismo, que defende a língua de sinais como sendo a língua dos surdos, e até mesmo a ideia de uma cultura surda específica, direcionando o debate para uma questão de política linguística. Há, pois, um debate entre a área da saúde (que busca “normalizar”) e a área pedagógica (que procura diminuir os “estigmas”). (SANTANA, 2007, p. 14).

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A Surdez pode ser entendida como uma deficiência se for enxergada pelo

modelo clínico-terapêutico, ou como uma diferença se vista pela ótica do modelo

sócio-antropológico. Essas diferentes interpretações sobre Surdez incidem de

maneira decisiva sobre a vida dos Surdos, impactando diretamente em suas

identidades, no modo como interagem com o outro e ainda em como adquirem

linguagem.

O olhar do modelo clínico-terapêutico (médico), compreende a Surdez como

um deficiência, uma patologia que precisa ser tratada ou curada. Se enxergada

como a ausência de audição, a Surdez pode então ser remediada, seja por

aparelhos auditivos, implantes cocleares, acompanhamento de médicos e

fonoaudiólogos, que para compensar a “ausência de ouvir” procuram ensinar os

Surdos a falar, método denominado oralização.

Nesta perspectiva Oralista, o Surdo é considerado deficiente ou anormal, se

distinguindo dos ouvintes falantes. A incapacidade ou dificuldade de ouvir, tem como

resultado a dificuldade da fala, fazendo com que os tratamentos dirigidos ao

aprendizado da linguagem oral, seja de grande dificuldade para o Surdo. Dado que

pelo método Oralista busca-se capacitar o Surdo no entendimento e produção de

linguagem oral, para que possa constituir-se ao menos como interlocutor. Na

tentativa de reabilitação e equiparação aos ouvintes, surdos são treinados a falar e

treinados em leitura labial para se ajustarem na sociedade.

O modelo clínico-terapêutico foca em diagnósticos médicos e no processo de

reabilitação e tem por objetivo a normalização do sujeito, na tentativa de

aproximação dos ouvintes ressaltando as barreiras comunicativas.

Contrapondo-se ao modelo médico, o modelo sócio antropológico entende

que o Surdo pertence a uma comunidade linguística minoritária com uma linguagem

de natureza visuo-espacial, com características próprias e língua própria, que no

caso do Brasil a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Neste modelo, desloca-se o

entendimento de Surdez de Deficiência para diferença.

A maioria das pessoas que ouve supõe que ser surdo é carecer de audição. Muitas pessoas surdas vivenciam a surdez não como uma ausência, mas como uma presença. A surdez é uma cultura e uma vida, uma linguagem e uma estética, uma fisicalidade e uma intimidade diferente de todas as outras. (SOLOMON, 2013, p. 80).

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O sujeito que antes era visto como “ouvinte imperfeito” ou deficiente auditivo e

possuía o sujeito Ouvinte como padrão por não possuir a língua oral, hoje está

sendo entendido como parte de uma minoria linguística e cultural e tem sua língua

de caráter gesto-visual, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Uma definição

empregada por Behares (1991) se adequa para explicar como será entendido o

Surdo nesta pesquisa:

Uma pessoa surda é aquela que, por ter um déficit de audição, apresenta uma diferença com respeito ao padrão esperado e, portanto, deve construir uma identidade em termos dessa diferença para integrar-se na sociedade e na cultura em que nasceu. (BEHARES, 1991, p. 34).

Cabe ressaltar que os coletivos de surdos são muito diversificados, como

mostram Souza, Silvestre e Arantes (2007, p. 121),

o coletivo é formado por pessoas com características comunicacionais muito diferenciadas (surdos que usam sinais, surdos bilíngues com predominância de Língua de sinais, surdos oralizados com um bom nível de linguagem oral e escrita, surdos mal oralizados etc.)

Cabe ressaltar que esta pesquisa afasta-se do entendimento médico da

surdez que objetiva-se em modelar o “deficiente auditivo a partir do ouvinte”

(LOUREIRO, 2004), então dentro da variedade do coletivo de surdos a pesquisa

trata por Surdo o sujeito que independente do grau de surdez ou do grau de

oralidade utiliza-se da LIBRAS como primeira língua e o foco não será tratar a

deficiência e sim entender as dificuldades nas práticas informacionais para uma

possível intervenção social através dos estudos em Biblioteconomia e em Ciência da

Informação para atenuar ou eliminar as possíveis desvantagens sociais provenientes

de um processo de aquisição linguística diferenciado.

2.2 PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE LÍNGUA(GEM)

A linguagem é a forma mais eficiente de socialização com o mundo a nossa

volta. É através da linguagem que se expressam os valores culturais. A Linguagem é

a expressão que mais diferencia seres humanos de outros animais, sendo assim a

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capacidade de produzir e interpretar diversas manifestações como a língua, pinturas,

músicas, danças, e etc.

Segundo Vigotski (1984) a aquisição de linguagem se dá como uma

consequência de um processo dialético, de natureza histórico-social e é produzida

por meio da interação, mediada através dos signos ou códigos, da criança com o

outro. Para ele a Linguagem, após adquirida, teria um papel constitutivo, planificador

e organizador do pensamento.

Conforme aponta Borges e Salomão (2003), a medida em que a criança se

desenvolve, seu sistema sensorial se torna mais refinado e ela alcança um nível

linguístico e cognitivo mais elevado. Porém este não é um método rígido, visto que a

ideia de um período crítico para aquisição de linguagem está diretamente

relacionada a uma capacidade biológica de maturação cerebral e considera o

desenvolvimento como algo natural do indivíduo.

Se tratando de aquisição de linguagem deve ser levado em conta a

plasticidade cerebral contínua do ser humano, sem considerar um limite para a

“maturação”. Há de se considerar ainda os aspectos interativos do sujeito e seu

contexto social. Pois os processos cognitivos decorrem das interações sociais, e não

se pode negligenciar o fato de que a organização cerebral se dá por meio das nossa

práticas socioculturais. E é possibilitada por meio de uma língua.

A língua está diretamente ligada à cultura, história, à identidade e a

comunicação. Toda forma de pensamento, só existe através de uma língua. A forma

de aquisição de uma língua modela todo comportamento humano.

É de grande importância para o desenvolvimento futuro que quanto mais cedo a criança estiver em contato com a sua língua natural, de acordo com o desenvolvimento de suas capacidades, mais cedo ela se reconhece como indivíduo inserido na comunidade em que vive. Antes mesmo de a criança desenvolver uma língua própria, o processo dessa aquisição começa após o seu nascimento e desenvolve-se ao longo de toda sua formação como indivíduo pensante. (GIANOTO; GIANOTTO; MARQUES, 2016, 164-165).

Segundo a teoria inatista, defendida por Noam Chomsky, toda criança nasce

preparada para receber uma linguagem, uma língua e então comunicar-se, o que ele

costuma chamar durante toda sua obra de competência linguística. Isso vale para

qualquer criança, seja ela ouvinte ou Surda.

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Existem inúmeras barreiras para que Surdos desenvolvam uma língua. Para

um Surdo que nasce em Família de Surdos, com pelo menos um dos pais Surdos, é

quase que natural a aquisição da língua desde muito novo. Ainda que a opção dos

pais seja pela tentativa de aquisição de língua oral. Mas a maior parte dos Surdos

nascem em família de ouvintes. O que gera um conflito familiar com relação à

aquisição da língua se aprende o português, língua falada por seus pais; ou se

aprende Libras, língua da comunidade surda.

Durante muito tempo e ainda hoje, as crianças nascidas surdas em família

ouvinte eram excluídas de suas famílias, não tinham direito a participar do convívio

familiar, receber herança, estudar, casar-se e muitas outras coisas, pelo fato de

serem surdas. Assim, segundo Fernandes e Correia (2006, p. 18) “Propiciar à

pessoa surda a exposição a uma língua o mais cedo possível, obedecendo às fases

naturais de sua aquisição é fundamental ao seu desenvolvimento; privá-la desse

direito, sob qualquer alegação, é desrespeitá-la em sua integridade.”

Para os surdos filhos de pais ouvintes o processo de aquisição de linguagem

sofre atraso por que em geral há demora na identificação da surdez dos filhos.

Muitas vezes associadas a deficiência intelectual. Este processo de identificação

pode demorar anos. E ao ser identificado, os pais tendem primeiramente a buscar

médicos e fonoaudiólogos para “tratar” a surdez e para se tentar ensinar a falar.

Gerando a frustração familiar do filho imperfeito, incompleto e deficiente.

Quando os métodos de oralização não apresentam os resultados positivo,

percebe-se uma tremenda frustração dos pais. E acaba por esses filhos surdos

crescerem sem construir uma identidade definida, são surdos que não tem língua,

são meio ouvintes ou ouvinte incompleto, pois estão inseridos em uma cultura

ouvinte. A maioria deles quando adquirem a LIBRAS já são adultos ou juvenis; sem

contar que a defasagem escolar devido a esse atraso é enorme.

Pais ouvintes, em geral, apresentam problemas no processo comunicativo

diante de filhos Surdos, que podem gerar sérias complicações para aquisição de

linguagem e desenvolvimento cognitivo, tais como a dificuldade de interpretar sinais

comunicativos da criança, principalmente os não verbais. Outro grande problema é o

controle de interações do Surdo por parte dos ouvintes, o que causa a artificialização

dos contextos sociais. E ainda, enquanto mediadores de comunicação entre seus

filhos Surdos e ouvintes, tendem a simplificar os conteúdos objetos de conversas.

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A família tem papel determinante no processo de aquisição de linguagem

ainda mais se tratando de filhos Surdos. A falta de conhecimento e informações

acerca da Surdez, suas especificidades e possibilidades, são fatores impeditivos

para que o Surdo alcance todo seu potencial e exerça seu melhor papel na

sociedade. Solomon (2013, p.72) nos dá um exemplo: “Apenas um terço das

pessoas surdas completa o ensino médio, e, daquelas que frequentam o ensino

superior, apenas um quinto completa seus estudos; adultos surdos ganham cerca de

um terço a menos que seus colegas não surdos.”

O atraso de aquisição de língua, além de afetar o desenvolvimento social e

cognitivo traz problemas sérios de autoestima e aceitação dos Surdos. Visto que a

aquisição de língua é essencial para a construção de identidade, pois

A identidade não pode ser vista como inerente às pessoas, mas como resultado de práticas discursivas e sociais em circunstâncias sócio-históricas particulares. O modo como a Surdez é concebida socialmente também influencia na concepção de identidade. O sujeito não pode ser visto dentro de um “vácuo social”. Ele afeta os discursos e as práticas produzidos e é por eles afetados. (SANTANA, 2007. p.43).

E a constituição da identidade Surda, assim como a ouvinte, não é única.

Não existe uma identidade exclusiva e única como a surda. Ela é construída por papéis sociais diferentes (pode-se ser surdo, rico, heterossexual, branco, professor e pai) e também pela língua que constrói nossa subjetividade. [...], não há escolhas “livres” nas nossas identidades, isso independe da nossa vontade. Elas são determinadas pelas práticas discursivas, impregnadas por relações simbólicas de poder.” (SANTANA, 2007, p. 42).

Pode-se dizer que a desqualificação de uma língua e todas as

consequências políticas e sociais decorrentes disto acabam por reafirmar

identidades ou silenciá-las e transformando o processo de subjetivação da pessoas,

com reflexo direto nas práticas informacionais da pessoas.

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3 PRÁTICAS INFORMACIONAIS

Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC) houve

uma mudança qualitativa e quantitativa nos processos de aprendizado. Essa

mudança baseia-se basicamente em três características principais: a quantidade de

informações disponíveis, A diversidade das fontes de informações, e a velocidade do

fluxo informacional. A quantidade nos reporta a extensão constante de produção de

informações que ficam disponíveis a uma pessoa. A diversidade se refere à

diferença existente dentre as diversas fontes de informações e a velocidade

relaciona-se ao ao movimento contínuo de todo o fluxo informacional existente

desde a produção da informação até a apropriação por um outro alguém.

Com toda transformação mencionada torna-se cada vez mais relevante

conhecer os diferentes tipos de usuários e suas práticas informacionais para que se

possa desenvolver recursos e serviços cada vez mais respeitando as

particularidades de cada tipo, promovendo assim o acesso cada vez mais

democrático à informação.

Estudar como os diferentes tipos de pessoas interagem com a informação, é

uma prática que foi se desenvolvendo dentro das áreas de Biblioteconomia e da

Ciência da informação e é abarcado mais precisamente dentro da temática “Estudos

de Usuários da informação”. E ao buscar na literatura da área percebe-se uma

evolução nos Estudos de usuários, passando de uma ótica inicial centrada nos

sistemas de informação para aspectos centrados nos usuários, suas necessidades e

seus contextos sociais: “Estudar o usuário não é mais apenas uma questão de

técnica, é também uma questão política” (ARAÚJO, 2017, p. 138).

A evolução dos estudos de usuários enquanto pesquisa, inicia sua trajetória

na década de 60 onde estes estudos eram basicamente de natureza quantitativa

orientada para a frequência do uso dos materiais informacionais, comumente

chamados de estudos de usos. Já na década de 70 os estudos eram direcionados

para a forma como a informação era acessada e utilizada. Nos anos 80 os estudos

eram norteados pelo planejamento de serviços ou sistemas de informações

apropriados às necessidades individuais dos usuários, com foco no processo de

busca da informação desenvolvendo inclusive diversos modelos de comportamentos

de busca. Na década de 90, começou a haver a substituição dos estudos de busca,

uso e necessidade da informação para Comportamento informacional, Ques tinha

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por foco os problemas individuais de cada usuário, levando em consideração seus

aspectos cognitivos. (ARAUJO, 2016; GASQUE; COSTA, 2010; MARTINEZ-

SILVEIRA; ODDONE, 2007).

Ao final da década de 90, com “as demandas colocadas pelo surgimento da

abordagem social dos estudos de usuários constituem um cenário no qual o conceito

de práticas informacionais tem conquistado espaço como uma alternativa crítica ao

conceito de comportamento informacional.” (ROCHA; SIRIHAL DUARTE; PAULA,

2017; p. 37)

Então entende-se que:

Práticas informacionais é um conceito guarda-chuva considerado por Savolainen (2007) como adequado para investigar e descrever fenômenos relacionados à busca, uso [apropriação] e ao compartilhamento da informação. Fatores contextuais e sociais influenciam esses fenômenos e são abordados de forma distinta daquela dos estudos sobre comportamento informacional. O contexto é considerado como um elemento constitutivo das ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, por elas também constituído a partir de uma relação dialógica. O individual e o social também são considerados como interdependentes. (SAVOLAINEN, 2007 apud ROCHA; SIRIHAL DUARTE; PAULA, 2017, p. 39).

Conforme aponta Araújo (2017) por entender a informação como condição

para a cidadania e protagonismo social, as práticas informacionais são analisadas a

partir de uma abordagem crítica onde não se ignora a realidade social mais ampla e

leva em consideração os aspectos políticos e históricos dos sujeitos, buscando

através da inclusão, a democratização da informação. “Assim, contra o conceito de

“comportamento informacional” (um indivíduo que a partir de estímulos externo,

procura um sistema de informação para satisfazer sua necessidade de informação),

os estudos críticos propõem a ideia de “praxis informacional”. (ARAÚJO, 2017, p.

137).

Bourdieu (1996) propõe o que ele denomina abordagem “praxiológica”, que reposiciona o pesquisador, que passa ter como objeto de estudo o sistema de relações objetivas e também o processo de interiorização desse sistema sob a forma de disposições para a ação. Encontra-se aqui, por meio da expressão “praxiológica”, a ideia de “práxis”, isto é, o movimento mesmo por meio do qual os sujeitos agem no mundo e, como causa e também consequência dessa ação, constroem esse mesmo mundo. Essa é a ideia básica que fundamenta o conceito de “práticas” presente na expressão

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“práticas informacionais”. (BOURDIEU, 1996 apud ARAÚJO, 2017b. p. 220).

As práticas informacionais foca numa relação entre sujeito e informação

motivadas pelas interações sociais, onde busca-se enxergar a individualidade do

sujeito e a interação do sujeito com o meio, tendo por base suas construções

históricas e sociais. Para entender essa dicotomia entre influências “do meio de fora

para dentro” e ao mesmo tempo influenciar “o meio de dentro para fora”, Bourdieu

desenvolveu o conceito de Habitus

que “fornece, ao mesmo tempo, um princípio de sociação e de individuação: sociação porque as nossas categorias de juízo e de ação, vindas da sociedade, são partilhadas por todos aqueles que foram submetidos a condições e condicionamentos sociais similares (assim podemos falar de um habitus masculino, de um habitus nacional, de um habitus burguês, etc.); individuação porque cada pessoa, ao ter uma trajetória e uma localização únicas no mundo, internaliza uma combinação incomparável de esquemas” (WACQUANT, 2017, p. 215 apud ARAUJO, 2017a, p. 220).

O conceito proposto por Bourdieu de Habitus vai muito ao encontro do

conceito de prática informacional, enquanto prática social, onde as diferenças

sociais estão presentes em todas as nuances da vida inclusive marcadas nos

processos de busca, acesso, apropriação e compartilhamento. E também encontra-

se com a abordagem crítica da pedagogia de Paulo Freire onde entende-se que há

um caráter dialético no processo de apropriação da informação e do conhecimento,

onde o conhecimento não é transferido de maneira unilateral, porque o todo ser

humano além de “Constatar” tudo que o cerca, ele também atua, se posiciona, e a

partir de suas escolhas intervém na realidade a sua volta (FREIRE, 1997).

No campo das práticas informacionais, essa ideia se traduz por meio do conceito de “apropriação”, que significa pensar que o conhecimento não é simplesmente algo transferido de uma pessoa para outra, algo que possui uma objetividade em si (um “dado”) que sai de um ponto e chega a outro da mesma forma. Nem é, o conhecimento, produto de uma acumulação, de uma “afetação” de algo externo a um determinado estado mental de um sujeito. (ARAÚJO, 2017b, p. 223).

Ao trazer o conceito de Práticas informacionais, os estudos de usuários

adotam uma abordagem sócioconstrucionista e ainda uma abordagem crítica.

Socioconstrucionistas por enxergar que “as atividades informacionais são

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executadas por sujeitos ativos que constroem a informação a partir das interações

sociais situadas em comunidades” (ROCHA; SIRIHAL DUARTE; PAULA, 2017, p.

55) e

No caso da abordagem crítica, ao colocar o conflito como elemento estruturante da realidade humana, a agenda de pesquisa muda. Passa-se a problematizar não mais o que o usuário quer ou seu grau de satisfação com a biblioteca e os serviços de informação, mas as diferenças estruturais no acesso à informação, a possibilidade de estruturação de necessidade de informação, entre outros. Mais do que a adequação e o “bom funcionamento” das bibliotecas e sistemas da informação, discutem-se as contradições na posse e condições de uso da informação, questionam-se as prioridades das políticas informacionais” (DOWBOR, 2004 apud ARAÚJO, 2017, p. 137-138).

Grande parte das informações e dos conhecimentos que são aprendidos são

por meio de interação social seja com pais, com os professores, com colegas da

mesma idade, que são também uma importante fonte de construção de

conhecimentos, com diversos formatos de acessos a informação.

Conforme visto na seção 2 deste trabalho, observa-se que Surdos por

viverem num mundo majoritariamente ouvinte onde grande parte das interações

sociais ocorrem por meios sonoros, e em língua portuguesa, situação que coloca o

Surdo em situação de desvantagem informacional. Conforme Sacks (2010, p. 22)

nos

explica que os surdos congênitos sofrem de “privação de informações”. Várias são as razões disso. Primeiro, eles são menos expostos ao aprendizado “incidental” que se dá fora da escola — por exemplo, aquele burburinho de conversas que constitui o pano de fundo da vida cotidiana, à televisão quando não legendada etc.

Talvez da publicação do livro para hoje em dia esse abismo informacional que

existe entre Surdos e ouvintes tenha diminuído graças ao avanço das políticas

públicas de inclusão e acessibilidade e a luta da comunidade Surda por equidade de

direitos e acessos. E entre os próprios Surdos também, visto que a forma de

aquisição de linguagem pode causar desvio de acesso e apropriação de

informações dentro da própria comunidade. Tendo em vista que

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[...] algumas crianças surdas têm resultados [seja linguístico ou informacional] tão melhores do que outras, apesar da surdez mais profunda, não deve ser a surdez em si que está causando problemas, e sim algumas das consequências da surdez — em especial as dificuldades ou distorções da vida comunicativa desde o princípio. (SOUZA; SILVESTRE; ARANTES, 2007. p. 93).

Para fins deste trabalho não será adotado nenhum modelo de práticas

informacionais, e serão consideradas para categoria de análise as dimensões

acesso, uso e compartilhamento da informação.

Entende-se que acesso é o ato de obter algo e ingressar em alguma coisa. O

acesso à informação é o percurso que uma pessoa faz para chegar a uma

informação desejada. E esse acesso pode acontecer de inúmeras maneiras, pode

ser intencional, no qual a pessoa vai atrás da informação em um ambiente

informacional físico ou virtual (Internet, Bibliotecas, Universidades, Museus, etc) e

pode acontecer de maneira casual em interações inesperadas. O acesso a

informação é o que propicia ao sujeito, a participação e a construção de uma

sociedade mais igualitária e democrática.

A Busca informacional, parte da dimensão acesso, consiste na

intencionalidade em encontrar a informação que se necessita e acontece em

diversas fontes de informações, formais ou informais. Essa busca pode variar

conforme contexto social e a necessidade e oportunidade de acesso, sem nenhuma

regra específica em virtude das diversas singularidades presentes nos sujeitos. “A

busca de informação é o processo pelo qual o indivíduo procura informações de

modo a mudar seu estado de conhecimento.” (CHOO, 2006, p. 84).

As fontes de informações, em que são realizadas as buscas, se diferem entre

si em diversos aspectos, visto características internas, externas, linguísticas, orais e

escritas. Ou característica que podem diferenciar as fontes de informações são

quanto aos seus formatos e canais de comunicações. E a escolha de uma fonte

leva em consideração concepções do próprio sujeito que está realizando a busca,

sua experiência anterior e familiaridade com a fonte, a confiabilidade, a disposição e

custo, a apresentação e a qualidade (CHOO, 2006).

O uso da informação

é condição necessária ao receptor para validar a informação acessada. O indivíduo possui a habilidade de incorporar uma informação, como coisa, e organizá-la em suas capacidades mentais,

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atribuindo-lhe interpretações individuais, que finalmente se transformará em uma unidade de conhecimento. Sejam as capacidades mentais inatas ou não, conhecimento é adquirido por meio da apropriação de informações. (MIGLIOLI; SOUZA, 2014, p. 1224).

Ao usar apropriação e não por uso da informação, durante o trabalho, vem

das definições dos conceitos, já que o uso das informações serve para resolver

problemas ou situações (CHOO, 2006) e as vezes, parece que a informação tem

papel descartável na vida de uma pessoa, sendo assim, utiliza-se por vezes

apropriação da informação, que pressupõe uma alteração, uma transformação, uma

modificação do conhecimento (ALMEIDA JÚNIOR, 2007).

A ausência de apropriação natural da informação advinda do ambiente (das conversas, da televisão, do rádio, e outras informações formais e informais provenientes de forma sonora), e a consequente alienação situacional, influenciam, de maneira geral, as necessidades de informação [práticas informacionais] dos surdos (MIGLIOLI; SOUZA, 2014, p. 1225).

Ao final desse fluxo informacional apresenta-se o processo de

compartilhamento de informação, que é caracterizado por Choo (2006) como uma

cultura de interações sociais onde ocorre a disponibilização para o outro de

informações, conhecimentos, experiências e etc. Mas não como um algo cedido

unilateralmente, mas como algo usufruído junto. Os motivos de compartilhamento

são variados mas de uma maneira geral está o desejo de se sentir pertencente a

uma comunidade. Logo a interação social é responsável no compartilhamento de

informações.

Os meios de compartilhamentos são fatores que influenciam e facilitam ou

dificultam o compartilhamento de informação visto que o emissor e o receptor da

informação precisam compartilhar o mesmo canal de comunicação. Assim o uso de

linguagens comuns tende a maximizar ou minimizar o vínculo entre a rede de

compartilhamento.

As informações compartilhadas por Surdos vão construindo subjetividades e

significações sobre a própria Cultura Surda, visto que podem ser usadas como

marcador identitário e instrumento políticos. A partir do compartilhamento de

informações dos Surdos pode-se tentar enxergar suas interpretações do mundo.

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Investigar os fatores que podem influenciar diretamente nas práticas

informacionais de um determinado grupo, neste caso os Surdos, se faz necessário

para que possa ser pensados ações mais eficientes, que de alguma maneira

promovam a equidade nesta sociedade da informação entre os Surdos e ouvintes e

entre os próprios Surdos com diferentes contextos sociais, políticos e informacionais.

Nestes tempos em que pensar toda e qualquer forma de promoção de

inclusão social e informacional tornam-se imprescindíveis, trabalhos como estes se

tornam necessário para que se possa proporcionar aos usuários, com condições

próprias diferenciadas da maioria, metodologias de trabalhos diferenciadas,

objetivando através das interações informacionais empoderar as pessoas para o

exercício de uma sociedade mais justa e informada.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: O CAMINHAR SILENCIOSO DE UM

OUVINTE

Esta seção apresenta o percurso metodológico para realização desta

pesquisa, divide-se em duas seções: a primeira para caracterizar a pesquisa e a

segunda para descrever os sujeitos da pesquisa.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Para compreender de que maneira os processos de aquisição e

desenvolvimento da linguagem podem influenciar as práticas informacionais de

Surdos quanto à busca, acesso, apropriação e compartilhamento da informação em

diferentes contextos, foi necessário adotar um percurso metodológico para

sistematizar e formalizar a pesquisa de modo a considerar os objetivos propostos, os

recursos temporais disponíveis.

Cada pesquisa é naturalmente diferente de qualquer outra coisa. Daí a necessidade de previsão e provisão de recursos de acordo com a sua necessidade especificidade. Mas quando o pesquisador consegue rotular seu projeto de pesquisa de acordo com um sistema de classificação, tornar-se capaz de conferir maior racionalidade às etapas requeridas para a sua execução. O que pode significar a realização da pesquisa em tempo mais curto, a maximização da utilização de recursos e certamente a obtenção de resultados mais satisfatórios. (GIL, 2010, p. 25).

Devido à peculiaridade do trabalho, quanto ao tipo de pesquisa foi adotado

conforme os objetivos a pesquisa exploratória descritiva de abordagem qualitativa e

social. Ao agregar as pesquisas exploratórias com as pesquisas descritivas têm-se

uma representação das atuações práticas mais próximas da realidade, e tem sido

utilizado em pesquisas de práticas e comportamentos informacionais, visto que as

pesquisas exploratórias têm por objetivo a

[...] formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômenos, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa, ou modificar e clarificar conceitos. Empregam-se geralmente procedimentos sistemáticos ou para a obtenção de observação empírica ou para a análise dos

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dados (ou ambas, simultaneamente). (MARKONI; LAKATOS, 2010, p. 171).

Além das características exploratórias a pesquisa aproxima-se da pesquisa

descritiva visto que “As pesquisas descritivas têm como objetivo a descrição das

características de determinada população. Podem ser elaboradas também com o

objetivo de identificar possíveis relações entre variáveis.” (GIL, 2010, p. 27).

Quanto a abordagem, a pesquisa se classifica como qualitativa visto que “ela

trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças,

dos valores e das atitudes.” (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2013, p. 21) tentando

entender a realidade social, os aspectos sociais, históricos e políticos de um

contexto específico. E a adoção de uma abordagem social foi feita com a intenção

de compreender a dinâmica social (GIL, 2014).

A seleção dos textos bases para o trabalho partiu dos planos das disciplinas

do curso de Licenciatura em Biblioteconomia principalmente das disciplinas

Educação e Surdez, Estudos de usuários e comunidades, Métodos e técnicas da

pesquisa em educação biblioteconômica, Educação especial, Fontes da informação

e Competência em informação.

A partir dos planos de estudos dessas disciplinas, somado as indicações

extras dos professores ministrantes das disciplinas, utilizaram-se também as

referências Bibliográficas dos próprios textos das disciplinas como fonte primária. Ao

partir deste ponto buscou-se na base BRAPCI artigos que de alguma forma

pudessem acrescentar ao trabalho. Houve também uma Busca na BDTD para

procurar Teses e dissertações que versassem sobre o tema, todas as buscas foram

feitas com termos: Surdez, Surdos, Deficientes auditivos, Pessoas com deficiência,

Práticas informacionais e Estudos de usuários. Houve ainda a verificação dos anais

de alguns eventos científicos como o ENEU (Encontro Nacional de Estudos de

Usuários) e algumas edições do ENANCIB. Tudo a fim de buscar referências que se

complementam e contribuíssem para reforçar os objetivos do trabalho. Todos os

textos recuperados e selecionados em língua portuguesa. Ressalto que não se teve

contato com a Biblioteca do INES por não poder utilizar apenas como estudante do

curso de LIBRAS.

Para operacionalizar o estudo, definiu-se como instrumentos de coleta de

dados o uso de questionário, que pode ser definida como

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[...] uma técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente e passado etc (GIL, 2014, p. 121).

O instrumento de coleta foi definida com base nos objetivos e no tempo

disponível para realização da pesquisa, visto que facilita a análise dos dados,

permite atingir pessoas dispersas geograficamente, e garante a menor influência das

opiniões e dos aspectos pessoais do entrevistador.

Outro motivo que justifica a opção é o não domínio integral da língua por

parte do autor, e o questionário permitir a tradução seja através de vídeos junto as

perguntas ou ainda a opção de aplicativos de tradução que poderiam ser usado

junto na hora da resposta. Sem contar que como buscou-se entrevistar Surdos com

diferentes processos de aquisição de linguagem, e em um encontro pessoal, o fato

de o autor do trabalho ser ouvinte poderia interferir ainda mais nos resultados.

Portanto visando otimizar recursos e minimizar influências optou-se pela opção que

mais atendia a pesquisa.

A plataforma Google Docs foi utilizada, tendo em vista a facilidade do autor a

utilização com base em experiências anteriores. Além disso, a plataforma possibilita

adicionar opções Visuais as perguntas para apoio, para haver maior aproximação a

características de algum dos participantes da pesquisa, que pode se sentir

confortável seja com Vídeo ou imagem.

O questionário contém 37 perguntas, contendo perguntas múltipla escolha e

também perguntas com possibilidade de resposta aberta. O Questionário está em

português e contém um texto explicativo anterior ao preenchimento do questionário

explicando o contexto do trabalho, onde foi feita a tradução para Libras pelo

professor e intérprete Thiago dos Santos Batista. E ao final do questionário existe

um vídeo de agradecimento em Libras feito pelo próprio autor.

O questionário foi construído a partir da dissertação da Sarah Miglioli Da

Cunha Alves (2014) e também da Juliane Adne Mesa Corradi (2007) tendo em vista

que foram pesquisas que envolveram Surdos na Ciência da informação e que

relaciona-se com a temática do trabalho. Foram adaptadas as perguntas e

acrescidas outras para o contexto deste trabalho. Há de se considerar que o autor é

ouvinte e pensa em português então as perguntas foram elaboradas neste contexto,

buscando aproximação e respeito a especificidade dos entrevistados.

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Objetivando o aprimoramento do questionário, foi realizado um pré teste

primário com ouvintes que se relacionam com Surdos de alguma maneira para uma

avaliação prévia. Este conjunto de avaliações possibilitou a adequação de algumas

perguntas, de forma a torná-las mais claras e acessíveis eliminando erros lógicos,

de ambiguidades, e de linguagem. Após obter uma versão mais amadurecida e

revisada na orientação, foi realizado um pré teste com três Surdos não incluídos na

pesquisa e de conhecimento pessoal do autor nos dias 28 e 29 de novembro. Após

esta avaliação, foi avaliado se as respostas foram satisfatórias e correspondiam a

intencionalidade de cada questão, chegando a versão final que está disponível para

consulta no Apêndice A ao final do trabalho.

Após a versão final do questionário, foram enviados email para os então cinco

participantes selecionados. A seleção dos participantes foi feita de modo a trazer

diferentes tipos de aquisição de linguagem dos Surdos em que o autor da pesquisa

têm contato, através do curso de Libras, realizado no INES. O envio foi realizado dia

01 de dezembro para os emails dos participantes. Desses participantes, dois

perguntaram se não poderia ser enviado para o Whatsapp para facilitar e agilizar a

resposta. Então no mesmo dia foi enviado também para o Whatsapp destes dois

participantes.

Um dos participantes na intenção de ajudar replicou o questionário a outros

Surdos de conhecimento dele, o que ajudou a pesquisa visto que algum dos

participantes convidados inicialmente não respondeu o questionário a tempo.

4.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA

O total de participantes foram sete Surdos. Não foi cobrado identificação dos

participantes então serão tratados como P1, P2 e assim por diante. Serão descritos

abaixo, as características históricos sociais, e de grande impacto na formação

identitária do sujeito e nas práticas informacionais de cada participante.

O participante 1 (P1) se identifica como do gênero masculino, tem 39 anos,

mora com a esposa e 2 filhos, e é professor de Libras. Nascido Surdo, filho de pais

ouvintes, sendo o pai comerciante e a mãe doméstica. Não é o único Surdo na

família, tem três irmãos Surdos. Teve por primeira língua a Libras e prefere se

comunicar se utilizando da Libras e dos recursos de comunicação em português

utilizado pelos Surdos como leitura labial e oralização. Considera suas habilidades

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leitura e escrita de português medianas e muito habilidoso com LIBRAS. Além da

Libras também sabe ALS (Língua de Sinais Americana). A maior parte dos seus

estudos foi em escola bilíngue onde a Libras era a 1º Língua e a Língua portuguesa

a 2º Língua e hoje possui ensino superior completo.

A participantes 2 (P2) se identifica como do gênero feminino, tem 30 anos,

mora com a mãe e pai, e é professora de Libras. Ficou Surda aos dois meses, filha

de pais ouvintes, sendo o pai aposentado e a mãe professora de história. É a única

Surda na família ouvinte. Teve por primeira língua o português através da oralização

e também prefere se comunicar se utilizando da Libras e dos recursos de

comunicação em português utilizado pelos Surdos como leitura labial e oralização.

Avalia ter boas habilidades de leitura e escrita de português e muito habilidosa com

a Libras. Estudou a maior parte do tempo em escolas regular sem o auxílio de um

intérprete de Libras e atualmente tem pós graduação completa.

A participante 3 (P3) se identifica como do gênero feminino, tem 32 anos,

mora com o cônjuge e é professora de Libras. Nasceu Surda, filha de pais ouvintes,

sendo a mãe dona de casa e o pai aposentado. É a única Surda da família ouvinte.

Teve por primeira língua o português e tem preferência por se comunicar utilizando

da Libras e dos recursos de comunicação em português utilizado pelos Surdos como

leitura labial e oralização. Sinaliza em Libras desde os 19 anos. Julga suas

habilidades leitura e escrita de português medianas e muito habilidosa com LIBRAS.

A maior parte do tempo estudou em escola regular sem o auxílio de um intérprete de

Libras e atualmente tem pós graduação completa.

A participante 4 (P4) se identifica como do gênero feminino, tem 61 anos e

mora com sua mãe e é professora de educação bilíngue. Nascida Surda, filha de

pais ouvintes, sendo a mãe doméstica e o pai falecido ainda enquanto criança.

Possui somente uma prima Surda na família. Sua primeira língua foi o português,

mas desde os três anos sinaliza em Libras, e prefere se comunicar por meio da

Libras. Avalia ter ótima habilidades com leitura e escrita da língua portuguesa e

também com a Libras. Além de Libras e Português, também aprendeu Inglês,

espanhol Sinais Internacionais (SI) e ASL (American Sign Linguage ). A maior parte

de sua vida escolar foi em escola regular sem o auxílio de intérprete de Libras.

Atualmente possui pós graduação completa e destaca que é Doutora.

A participante 5 (P5) se identifica como do gênero feminino, tem 35 anos e

mora mãe, irmão e filho. Filha de pais ouvintes, aprendeu primeiro a língua

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portuguesa e sinaliza em Libras desde os 15 anos, sendo diagnosticada Surda

desde os dois anos de idade. Prefere se comunicar se utilizando da Libras e dos

recursos de comunicação em português utilizado pelos Surdos como leitura labial e

oralização. Considera-se com boa habilidade de leitura da língua portuguesa e

mediana facilidade de leitura em português e ótimas habilidades com Libras.

Estudou a maior parte da vida em escola regular sem o auxílio de intérprete de

Libras. Possui pós graduação completa e atua como designer gráfica e fotógrafa.

O participante 6 (P6) se identifica como do gênero masculino, tem 59 anos e

mora com os filhos sendo uma ouvinte (Comumente chamado de Coda) e outro

Surdo (P7). Os pais são ouvintes, sendo a mãe do lar e o pai contador, teve por

primeira língua o português mas prefere se comunicar somente em Libras. Nascido

Surdo sinaliza desde os 12 anos de idade. Numa escala de 1 a 5, onde 5 representa

maior facilidade de escrever em português e 1 menor facilidade de escrita em

português, considerou suas habilidades em escrita como 2. Considerou ainda

mediana suas habilidades de Leitura na língua portuguesa e ainda ótimas suas

habilidades com a Libras. Possui o ensino médio incompleto, e estudou a maior

parte do tempo em escola Bilíngue. Hoje se encontra aposentado. Este participante

não respondeu sozinho o questionário visto ter baixa visão e “nenhuma habilidade

com tecnologias”, conforme apontou sua filha que o auxiliou juntamente com seu

irmão Surdo.

O participante 7 (P7) se identifica como do gênero masculino e tem 21 anos e

mora com o pai Surdo (P6) e com uma irmã ouvinte. Filho de pais Surdos, onde o

Pai é aposentado “por invalidez devido a baixa visão” e a mãe é auxiliar de produção

numa farmácia. Nascido Surdo, sinaliza desde que nasceu “inclusive com a irmã

[ouvinte]” prefere se comunicar somente em Libras, sua primeira língua. Considera

Boas suas habilidades com Leitura e escrita do português e ótimas suas habilidades

com Libras. Possui o ensino médio completo e estudou a maior parte da vida escolar

em escola Bilíngue Libras-Português, e atualmente atua como Jovem aprendiz

administrativo.

Abordar a heterogeneidade dos participantes da pesquisa, de modo a

demonstrar diversos fatores histórico-sociais, se faz necessário para que seja

demonstrado como a subjetividade construída socialmente trazem impactos

informacionais.

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5 A VOZ DOS SURDOS: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Esta seção refere-se a analisar os dados coletados por meio do questionário

(Apêndice A) que teve por objetivo compreender de que maneira os processos de

aquisição e desenvolvimento da linguagem podem influenciar nas práticas

informacionais de Surdos. Por isso buscou-se identificar as barreiras encontradas

por Surdos, com diferentes formas de aquisição de Linguagem, em suas práticas

informacionais: Busca, acesso, apropriação e compartilhamento, buscou-se também

detectar as principais fontes e tecnologias de informações utilizadas no processo de

busca da informação e ainda diferenciar a interferência da linguagem oral e/ou da

Libras no transcurso do acesso, apropriação e compartilhamento da informação.

5.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS PARTICIPANTES

O grupo de participantes mostra uma certa diversidade dentre os Surdos.

Num contexto mais geral, participaram da pesquisa sete Surdos, entre 21 e 61 anos

de idade. Onde três se identificaram como do gênero masculino e 4 do gênero

feminino.

Nenhum dos participantes mora sozinho, todos moram com familiares, sendo

que 6 participantes moram com familiares ouvintes. O que nos revela que dentro de

casa, onde acontece, uma parte de comunicação diária e aquisição de informação

de maneira informal, acaba tendo diferenças linguísticas, podendo gerar ruídos na

informação.

Conforme mostram as estatísticas gerais da população Surda, a pesquisa

também demonstra que a maioria dos participantes, um total de seis, têm pais

ouvintes. Tendo ainda quatro dos participantes que passaram pelo processo da

oralização e tiveram contato primeiro com o português, só mais tarde na

adolescência aprendendo a sinalizar em Libras. Contrariando a afirmação de Sacks

(2010, p. 74), que ao falar sobre período crítico de aquisição de linguagem afirma

que

a surdez deve ser diagnosticada o mais cedo possível. As crianças surdas precisam ser postas em contato primeiro com pessoas fluentes na língua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros. Assim que a comunicação por sinais for aprendida — e ela pode ser

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fluente aos três anos de idade —, tudo então pode decorrer: livre intercurso de pensamento, livre fluxo de informações, aprendizado da leitura e escrita e, talvez, da fala.

O que também nos mostra a importância da família na formação da

identidade do Surdo. Outro fator relevante de se destacar, é que a aquisição da

Libras enquanto primeira possibilita maior possibilidade de aprendizado de outras

línguas além do português e da Libras, visto que os resultados apontam para que os

participantes que sabem outras línguas aprenderam Libras mais cedo que os outros,

com exceção do P7.

Um dado interessante apontado pelo perfil dos participantes é o da questão

da escolarização, onde a maioria indica ter estudado em escola regular sem a

presença de um intérprete, conforme aponta o gráfico 01 visto que “As escolas

desempenham um papel extraordinariamente importante na vida das crianças

surdas”(SOLOMON, 2013. p.66). Há de se considerar que a idade dos participantes,

permite inferir que estudaram durante a prevalencia do modelo educacional da

oralização ou Comunicação total, e que ainda não haviam as políticas públicas

inclusivas atuais. Porém ainda assim é um fator a se considerar visto que todo o

aprendizado escolar pode ter sido comprometido juntamente com a questão da

socialização que acontece nas escolas.

Gráfico 01 – Modalidade de escolarização

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

E mesmo com a maioria dos participantes sendo Surdos pré-linguísticos e

tendo o primeiro contato com a língua portuguesa e estudado em escolas regulares

sem a presença de intérprete e ainda sem a presença ou o contato direto com outros

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Surdos na família, a maior parte dos participantes se preferem se comunicar através

de Libras ou no máximo se utilizando das duas línguas, dentro das suas limitações,

conforme ilustra o gráfico. Nenhum dos participantes avaliaram preferir se comunicar

somente através da língua portuguesa, também confirmando a afirmação de Sacks

(2010, p. 76):

as pessoas profundamente surdas não mostram em absoluto nenhuma inclinação inata para falar. Falar é uma habilidade que tem de ser ensinada a elas, e constitui um trabalho de anos. Por outro lado, elas demonstram uma inclinação imediata e acentuada para a língua de sinais que, sendo uma língua visual, é para essas pessoas totalmente acessível. Isso se evidencia mais nas crianças surdas filhas de pais surdos que usam a língua de sinais, as quais executam seus primeiros sinais aproximadamente aos seis meses de vida e adquirem uma fluência considerável expressando-se por sinais com a idade de quinze meses

Gráfico 02 – Preferência de comunicação

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Buscou-se através dos perfis dos participantes demonstrar a pluralidade

dentre os Surdos, e como os fatores histórico-sociais podem impactar na forma de

aquisição e desenvolvimento de linguagem e ainda demonstrar as diferenças

estruturantes nas práticas informacionais dos sujeitos.

5.2 AS BARREIRAS NAS SUAS PRÁTICAS INFORMACIONAIS

Esta seção compreende o objetivo específico que procura identificar as

barreiras encontradas por Surdos, com diferentes formas de aquisição de

Linguagem, em suas práticas informacionais: acesso, uso e compartilhamento.

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Também discute as questões relacionadas conforme os dados obtidos através do

instrumento de coleta de dados.

É possível perceber através da respostas que todos os Surdos participantes

da pesquisa que perderam a audição antes do período pré-Linguístico (anterior a

aquisição de Língua), visto que cinco dos participantes são Nati Surdos (P1, P3, P4,

P6 e P7), a participante P2 perdeu a audição dois meses após nascer e a

Participante P5 perdeu aos dois anos de idade,

Se considerarmos ainda que 5 dos participantes (P1, P2, P3, P5 e P6) só

aprenderam Libras após os dez anos de idade. É possível inferir que os

participantes tiveram problemas no acesso a informação durante todo esse período,

visto que não há uma língua consolidada e não se aproximaram da sua língua

materna, a Libras.

Se somarmos ainda ao fato de que muitos deles passaram pela tentativa de

oralização, por serem basicamente os únicos Surdos das famílias (P2, P3, P5 E P6),

tendo que lidar talvez com comunicação pouco proficiente e interlocutores ouvintes,

e que cinco dos participantes usaram aparelhos auditivos na infância e juventude

(P2, P3, P5, P6 e P7), possivelmente indicado por médicos aos responsáveis como

forma de “curar a Surdez” e “minimizando” o impacto da ausência de som, como se

tudo isso fosse imprescindível para ser “normal”, minando assim as etapas de

progressão de aquisição de língua, de formação de identidade, aprendizado de

valores e também de acesso a informação nesta fase da vida, pois assim como só é

possível formar pensamento através da linguagem, só é possível acessar uma

informação através de uma linguagem bem desenvolvida, conforme aponta Gasque

(2012, p. 69) “o pensamento só se constrói na interação de novas informações com

o conhecimento prévio e experiências humanas”.

Haja vista que do nascimento até os dez anos de idade, cinco dos sete

participantes, tiveram uma aquisição de língua defasada pelos fatores acimas

apontados, podemos concluir que o pouco do desenvolvimento do processo de

letramento informacional que normalmente se potencializa em período escolar,

através da realização de pesquisas, também ocorreu tardiamente, pois a língua é

imprescindível para o desenvolvimento das competências informacionais.

E ainda há o fato de que três participantes (P2, P3 e P4) estudaram em

escolas regulares sem o auxílio de um intérprete, o que ainda dificulta ainda mais o

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desenvolvimento do Letramento informacional retardando assim, ainda mais, o

alcance das competências informacionais.

Quando questionados sobre as dificuldade ao acessar as informações

(Questão 24), os participantes citaram alguns locais e profissionais imprescindíveis a

qualquer pessoa como Bancos, hospitais e médicos, farmácia, Rh, advogados e

teatro. A falta de acessibilidade e presença de intérpretes de Libras ou algum

profissional proficiente em Libras nestes locais dificulta o acesso a informação por

parte dos participantes e dos Surdos em Geral.

É muito difícil para um ouvinte, conseguir entender, o que é trabalhar numa

empresa e não conseguir se comunicar com o setor de Recursos humanos

plenamente, ou ainda procurar solução para uma possível doença e não ter

atendimento adequado em hospitais e farmácias. Estas respostas apresentam

principalmente as pessoas como barreiras ao acesso à informação.

E se tratando de pessoas como barreira pode-se pensar que bibliotecas ou

unidades de informações físicas também apresentam esta barreira. Embora não

tenham sido citados nas respostas, é perceptível que estes espaços em geral

contam com profissionais que também não estão muito preparados para lidar com

Surdos. Imagina-se quantos Bibliotecários são minimamente proficiente em Libras?

Quantos conhecem ao menos softwares que poderiam auxiliar neste processo

comunicacional? Quantos sequer leram o manual orientados Fortalecimento de

bibliotecas acessíveis e inclusivas desenvolvido pelo Mais Diferenças,e

recomendado pelo extinto Minc?

Outra resposta que apareceu como uma barreira quanto ao acesso a

informação foi a questão linguística e de acessibilidade das fontes informacionais,

pois foram citados como uma dificuldade, informações sem legenda ou sem

intérprete de Libras [possivelmente em materiais visuais] e os significados de

palavras em português, dado que muitos Surdos têm uma maior dificuldade em

leitura e escrita de português, dado inclusive que aparece refletido na pesquisa onde

a maioria dos participantes não se sentem com muita facilidade em leitura e escrita

de português.

Quanto ao uso da informação as barreiras apontadas pelos participantes da

pesquisa foram principalmente do âmbito linguístico. Visto que foram apontadas

pelos participantes a questão da extensão dos textos, sendo talvez muito cansativo

ler textos de uma língua que não é a sua materna e que não há o domínio e fluência

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necessária para textos específicos. Metáforas e gírias foi uma outra barreira citada,

pois são muito contextuais e dependem de conhecimentos prévio. As ambiguidades

também foram citadas como uma barreira, porque também dificultam o entendimento

se o interlocutor não conhecer os diversos contextos em que uma palavra pode ser

usada.

A resposta mais frequente se refere a vocabulário e entendimento, em razão

de que a língua natural dos Surdos é a Libras, se considerar seu desenvolvimento

como uma experiência visuo-espaciais. Embora muitos Surdos, inclusive os

participantes da pesquisa, tenham tido seus primeiros contatos com a língua

portuguesa antes do contato com a língua de sinais, a maior parte não se adapta

muito bem por conta do português se tratar de uma língua oral-auditiva, com sintaxe

linear, se utilizando de anáforas e marcações de gênero, flexões temporais e ter por

escrita o modelo alfabético. Características essas que dificultam o entendimento e

crescimento de vocabulário por parte dos Surdos. Assim sendo o acesso á

informação em língua portuguesa torna-se barreira quando a informação aparece

com nível mais complexo da língua.

Sobre as barreiras encontradas no compartilhamento de informações a

dificuldade apontada foi em relação às plataformas de compartilhamento serem em

português e não terem nenhuma acessibilidade para Libras. E as plataformas não

comportarem muito bem o formato vídeo.

As barreiras no acesso, uso e compartilhamento da informação apontados

pelos participantes da pesquisa, apontam para o que podem ser barreiras nas

práticas informacionais de muitos outros Surdos. Embora exista hoje uma

abundância de informação, existem muitas barreiras pelos quais o Surdos precisam

vencer para sair do estágio de ausência de informação. A negação da informação de

maneira adequada para os Surdos, pode significar a negação da própria identidade

Surda. Bibliotecários e demais profissionais da informação, precisam buscar

juntamente com os Surdos “o direito do Surdo de ser diferente nas questões sociais,

políticas e econômicas que envolvem o mundo do trabalho, da saúde, da educação

e do bem estar social” como propõe Perlin (1998, p. 71). E porque não pensar

também na questão informacional acessível e inclusiva.

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5.3 FONTES E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO UTILIZADAS

Esta seção compreende o objetivo específico que detectar as principais

fontes e tecnologias de informações utilizadas no processo de Busca da informação,

de suas práticas informacionais: acesso, uso e compartilhamento. A tratativa é

realizada a partir dos dados obtidos através do instrumento de coleta de dados.

Analisando as suas respostas, no que diz respeito aos locais onde os

participantes costumam procurar por informações quando necessitam (questão 21),

todos apontaram a internet, menos o participante P6 posto que possui também baixa

visão e não interage sozinho em aparelhos eletrônicos, suportes para acessar a

internet. A internet foi tão citada por apresentar uma diversidade de possibilidades

de fontes, inclusive por apresentar inúmeros sites acessíveis.

Bibliotecas foi uma opção marcada por três participantes (P1, P2 e P4), mas

há de se ressaltar que os participantes que sinalizaram se utilizar da Biblioteca como

um local de consulta são professores de Libras e possivelmente consultam a

Biblioteca no local que trabalham, que por sua vez devem ser locais com algum

preparo para atendê-los. Conforme aponta Cardoso e Lima (2013. p.2) “os meios e

suportes informacionais no geral não privilegiam sua condição linguística e cultural.

Essa barreira comunicativa dificulta o acesso e o uso da informação, afastando o

surdo da biblioteca e dos espaços culturais.”

Livros e Revistas foram citados por cinco participantes (P1, P2, P3, P4 e P5),

Sugerindo que mesmo em sua maioria não se apresentando em Libras, em sua

maioria, são fontes importantes para Surdos.

Outras pessoas também foi uma opção citada por cinco participantes (P2, P4

P5, P6 e P7) como uma fonte de informação. O que pode levar a pensar que mesmo

não sendo Surdas, as pessoas que convivem com o participantes de comunicam e

trocam informações com frequência, tornando-se uma fonte mais rápida e de alguma

forma acessível. Há de se ressaltar que dois participantes (P6 e P7) com o nível

formal de educação em menor nível, marcaram esta opção, mas não Livros e

revistas, e também são do que marcaram as menores opções na escala, dentre os

participantes sobre facilidade leitura em língua portuguesa. Outro fator a se

considerar é que foi a única opção indicada pelo P6 que devido a baixa visão fica

totalmente na dependência de outra pessoa como fonte de informação.

Um resultado surpreendente foi que quatro participantes consideram

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acessíveis para Surdos os locais em que costumam buscar informações. Talvez

devido ao perfil dos participantes, ou também pode indicar que uma vez que os

Surdos encontram locais, fontes de informações ou alguma tecnologia que sejam

acessíveis para Surdos, estes locais se tornem locais de consultas exclusivas,

descartando locais fontes e tecnologias que não são acessíveis, o que é perceptível

ser a maioria dos conteúdos na internet.

Uma vez que era esperado a Internet aparecer como o principal local onde os

Surdos buscam por informação, questionou-se também sobre quais ambiente

digitais os participantes mais se utilizam para buscar uma informação. E o resultado

pode ser observado na figura abaixo:

Gráfico 03 – Ambientes digitais utilizados

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

É possível verificar que dentre as respostas mais frequentes (Email,

Facebook e Skype, Chat ou Messenger) se referem a ambientes digitais onde há

uma interlocução com outros atores. O que permite deduzir que os Surdos formam

entre si, uma rede informacional se utilizando das plataformas em que é possível

interagir com todos os recursos, escritos e visuais, disponíveis.

Outro ambiente digital que aparece como maior frequência é a TV INES

(Instituto Nacional de Educação de Surdos). A TV INES é a primeira webTV em

Língua Brasileira de Sinais com legenda e locução em todos os produtos,

disponíveis 24 horas por dia em streaming e vídeo on demand, transmitida através

de satélite, parabólica, e dispositivos conectados a internet (SOBRE…, c2016).

A proposta da TV INES é integrar os públicos surdo e ouvinte numa grade de

programação bilíngue respeitando todas as questões gramaticais, lexicais e

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sintáticas da Libras, através de narrativas audiovisuais que conjugam Libras e

Língua Portuguesa oferecendo uma grade de programação eclética com foco na

comunicação educativa: informação, cultura, entretenimento, esporte,

documentários, desenhos animados, tecnologia, aulas de Libras, revistas

eletrônicas, filmes com legendas descritivas e um talk show em Língua Brasileira de

Sinais. E a TV INES é construidas por equipe de profissionais bilíngues de televisão,

formados por surdos, ouvintes, tradutores intérpretes e profissionais do Ines. A TV

INES é viabilizada pela Parceria do Instituto Nacional de Educação de Surdos

(INES) e da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP)

(SOBRE…, c2016).

Este dado nos mostra a importância de fontes de informações bilíngues, para

acesso informação dos Surdos. E a partir de que a maioria dos participantes

afirmaram preferir se comunicar através da Libras, podemos concluir que fontes de

informação que oferecem esta opção linguística também são de preferência por

parte dos Surdos.

Sites de jornais e sites de outros Surdos também aparecem com relevância

nas respostas. Jornais são aquelas informações diárias para se manter informado

sobre qualquer atualidade. Uma fonte muito acessada por todos que tem acesso a

internet. Sites de outros Surdos reafirma a questão da informação produzida por

Surdo, causando identificação e representatividade no interlocutor Surdo. Quantos

ouvintes será que acessam sites feitos por Surdos buscando informações?

No que concerne a utilização de buscadores, exemplificado pelo Google na

questão, os participantes responderam que se utilizam do Português escrito em

detrimento as outras opções (Libras escrito, Sign Write e Inglês) conforme figura

abaixo:

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Gráfico 04 – Língua mais utilizada no processo de busca da informação

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Se for considerado que a maioria das fontes de informação na internet, são

produzidas por ouvintes, as plataformas que suportam estas fontes também, e todo

o processo de adaptação e tradução feita para os países e para as diversas fontes

também são desenvolvidos por ouvintes, podemos entender que são indexadas por

ouvintes em suas línguas na modalidade escrita. No caso aqui do Brasil, como a

língua oficial é o português, tem-se um melhor resultado das buscas a partir de

buscas em português escritos. Talvez esse seja o motivo desta opção pelos

participantes da pesquisa, visto que a maioria dos participantes considera boa mas

não ótima suas habilidades com português escrito.

Essa relação entre escrita- oralidade de uma língua é uma relação de

interdependência simbólica, visto que não necessariamente necessita saber uma

língua oral para conhecer sua modalidade escrita. Embora escrita e fala faça parte

do mesmo sistema linguístico, a escrita é uma representação da comunicação oral,

no caso da Libras da representação visual da língua, confirmando Santana (2007, p.

191) “Não há necessidade de ser competente nas duas línguas nem em todos os

contextos.”

Na área dos estudos Surdos e de línguística, dentro da perspectiva bilíngue

tem sido defendido o desenvolvimento da escrita do português para Surdos sem

passar pela oralidade, mas atingindo um grau de escrita que os tornem

independentes como Fernandes (2003, p. 47) que afirma que:

No que se refere ao fato específico da aprendizagem da escrita, ou seja, do domínio de um código escrito que reproduza uma língua oral

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auditivo em seu funcionamento, ouvir, algumas vezes, até “atrapalha”: o que faz uma criança se perguntar se ‘beleza’ se escreve com ‘s’ ou com ‘z’? [...] Concluímos que este percurso é natural a criança de modo geral, Surda ou ouvinte, e nada tem haver com a presença ou ausência do som na fase do aprendizado da escrita. [...] não é a consciência dos sons, em si mesmos, nem a forma como eles se combinam, os responsáveis pela aquisição da língua, mesmo para crianças ouvintes.

A Libras escrita é a representação alfabética, com base na Libras, da

organização da linguagem dos Surdos. A Libras escrita seria a modalidade “natural”

para os Surdos, visto que mantém os aspectos sintáticos, que respeita por exemplo

o não uso de conectivos, morfologia verbal e nominal, concordâncias verbais

temporais, utilização de preposições, e ainda assim surpreendentemente não foi a

opção preferida.

O SignWriting é um sistema de escrita das línguas gestuais. SignWriting

expressa os movimentos as forma das mãos, as marcas não-manuais e os pontos

de articulação. Mas não foi muita aceita no Brasil e a maior parte das tecnologias

não encontra ainda adaptadas para tal sistema. Existem aplicativos de Surdos que é

para utilizar este sistema para recuperar informações, porém os resultados indicam

que não é utilizado pelos participantes.

O inglês só foi sinalizado como utilizado para realização de buscas em

buscadores pela participante P4 que é doutora, sendo possível concluir que participa

da comunidade acadêmica e do processo de comunicação científica, onde é

importantes apresentar resultados e tendências estrangeiras.

E quando questionados o motivo da utilização das línguas utilizadas

representadas pelas opções marcadas, as respostas confirmam o fato de as fontes

não não serem acessíveis em Libras e ter uma melhor recuperação de resultados se

buscados em português.

Sobre o quanto os participantes se sentem em relação a recuperação da

informação e o atendimento de suas necessidades informacionais, foi solicitado

(Questão 30) que marcassem uma opção numa escala de um a cinco onde um

representa totalmente insatisfeito e cinco representa totalmente satisfeito. A maioria

optou pela representação da metade da escala.

Os termos de indexação foram apontados pelos participantes quando

perguntados das dificuldades encontradas utilizando um buscador tipo o Google ou

catálogos de bibliotecas, por exemplo, (Questão 32), visto que surgiram respostas

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como a da P4 “Poucas palavras para “surdos” ou a do P7 “Entender palavras difíceis

do português e seu significado”.

A partir da análise destes dados, podemos entender que essa recuperação

poderia ser melhorada, embora venha atendendo as necessidades. O melhoramento

do processo, poderia ser a partir do melhoramento da indexação das fontes, da

acessibilidade nos algoritmos de busca, e da intensificação do processo de

letramento informacional e identificação das necessidades informacionais.

Se faz cada vez mais necessário repensar as fontes e tecnologias da

informação, com objetivos de cada vez mais torná-las acessíveis e inclusivas,

respeitando todas as diferenças entre as pessoas, dentre elas as linguísticas, assim

podendo levar a informação para cada vez mais pessoas, fazendo com que

alcancemos uma democracia plena e que todos possam se exercer dentro do

processo de cidadania.

5.4 ABORDAGENS LINGUÍSTICAS NAS PRÁTICAS INFORMACIONAIS

Esta seção compreende o objetivo específico que busca diferenciar a

interferência da Linguagem oral e/ou da Libras no transcurso do uso e

compartilhamento da informação. A tratativa é realizada a partir dos dados obtidos

através do instrumento de coleta de dados.

Conforme mencionado anteriormente a maior parte dos participantes da

pesquisa preferem se comunicar com outra pessoas somente através da Libras,

porém a partir da questão 19 foram propostas situações para que respondessem

qual a Língua que melhor lhe representa nas situações propostas. Os resultados

serão apresentados abaixo.

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Gráfico 05 – Eficiência linguística

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

É possível observar a partir da imagem acima que a maioria dos participantes

se sente mais eficiente se comunicando através da Libras, que também é a língua

conforme já apresentado em que preferem se comunicar, confirmando que a Libras

é a língua em que merece ganhar mais destaque dos bibliotecários e demais

profissionais da informação quando se trata de comunicação com os Surdos.

Tornando muito importante que, assim como os cursos de licenciatura onde pelo

menos uma disciplina de Libras é obrigatória, os cursos de Biblioteconomia se

preocupe em oferecer a disciplina, contribuindo em chamar a atenção para essa

variante linguística.

Gráfico 06 – A predominância linguística na escola

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

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O destaque da deste dado acima se dá ao fato de que os participantes da

pesquisa tiveram sua primeira língua em sua maioria em língua portuguesa

conforme demonstrado anteriormente, porém a maioria estudou em escolas

bilíngues onde a Libras é a primeira língua e o português segunda língua. Podemos

compreender então que as famílias percebem que o método de oralização não

alcança o objetivo desejado e então procuram por uma escola bilíngue. Uma

pesquisa futura que há a pretensão de fazer a partir destes dados é de averiguar

então como se dá o processo de letramento informacional de Surdos que estudam

em uma escola regular de ensino onde o português é a primeira língua, e como se

dá o processo de letramento informacional numa escola bilíngue para Surdos, e

como impacta em suas práticas informacionais.

Quando perguntado sobre qual das línguas se utilizam no dia a dia com os

amigos, a maioria dos participantes (P2, P3, P4, P5, P6 e P7) disseram se utilizar

principalmente da Libras. Então podemos compreender que aquelas informações

obtidas cotidianamente a partir de interações casuais e afetuosas são alcançadas a

partir da Libras. Confirmando a preferência por se comunicar através da Libras e

confirmando também a rede que é feita a partir de fontes de informações que

dependem da interlocução de outros , como email e redes sociais, com outros

Surdos ou ouvintes proficiente em línguas de sinais.

Gráfico 07 – O uso da língua com amigos

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Uma questão um pouco controvérsia dentro dos Estudos Surdos é a questão

das atividades religiosas. Um grupo grande de pesquisadores acredita que as igrejas

se utilizam de Libras para atrair mais pessoas não por uma missão altruísta, visto

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que no passado a igreja negava Surdos. Porém é um fato que muitos Surdos da

comunidade Surda se sentem acolhidos e participativos assim como os ouvintes.

Entende-se que cada vez mais as atividades religiosas e regras das diversas igrejas

se colocam como fator interveniente das práticas informacionais. O que justifica o

questionamento nesta pesquisa. A partir da imagem abaixo, pode-se observar que a

maioria dos participantes se utiliza da Libras nas atividades religiosas, o que

comprova que muitas igrejas têm se preocupado com a questão da acessibilidade

para incluir os Surdos em suas atividades.

Gráfico 08 – O uso da língua em atividades religiosas

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Sobre a língua utilizada para se manter atualizados dos acontecimentos

cotidianos buscando acompanhar os fatos os participantes se mostraram divididos,

visto que três participantes (P1, P2 e P6) sinalizaram a língua portuguesa e quatro

participantes (P3, P4, P5 e P7) sinalizaram Libras, conforme a imagem abaixo.

Podemos inferir que os que optaram pela língua portuguesa foram os mesmo que

sinalizaram se utilizar de jornais quando perguntado sobre quais fontes utilizam.

Com exceção do P6 que devido a baixa visão apontou em outra resposta que se

utiliza muito da televisão, que é toda produzida em português. Todos os

participantes que marcaram Libras também sinalizaram a TV INES como uma fonte,

e pode estar relacionadas a estas informações para se atualizar.

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Gráfico 09 – O uso da língua para infamações cotidianas

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Sobre a busca por entretenimento, os participantes da pesquisas seguiram

exatamente o padrão da língua para o qual se mantém atualizados, da imagem

anterior. O interessante de observar é que os participantes se mostraram divididos

nos mesmos grupos, visto que os participantes P1, P2 e P6 buscam entretenimento

em língua portuguesa e quatro os participantes P3, P4, P5 e P7 buscam

entretenimento em Libras. Conforme a resposta anterior, embora a oferta de

entretenimento em português se dê em quantidades muito superior que em Libras, a

maioria dos participantes ainda assim declaram buscar essas atividades em sua

língua natural, a Libras. É de se pensar em quantas ações culturais promovidas por

bibliotecas e outras unidades de informações são dispostas em Libras ou com a

presença de intérprete para esta língua, possibilitando a presença de Surdos

também nestas atividades. Para pesquisas futuras, seria interessante, pesquisar

como as bibliotecas de escolas bilíngues e associação de Surdos promovem o

entretenimento inclusivo para os Surdos, para que as demais bibliotecas possam

aprender e replicar essas práticas.

Partindo do pressuposto que os Surdos se acessam e se utilizam muito dos

recursos informacionais visuais, principalmente por meio de vídeos, foi questionado

(Questão 27) sobre a preferência linguística ao buscar pelos vídeos. Conforme

demonstrado na imagem abaixo:

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Gráfico 10 – O uso da língua para vídeos

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Conforme podemos entender a partir do gráfico a preferência da maioria dos

participantes (P1, P2, P3, P5, P6 e P7) são por vídeos com legendas em português,

independente da língua em que é produzido ou com a janela de Libras. E também

há a preferência por vídeos em Libras. Todos esses participantes não buscam por

vídeos produzidos em português e sem legenda, que por percepção são a maioria

disponíveis na internet. A participante P4 destoa de todas as respostas dos outros

participantes, e ao olhar isoladamente esta pergunta, não é compreensível o motivo,

porém foi utilizado a resposta da questão 29, que era uma questão aberta para

justificar a questão 28, para justificar esta também. A participantes informa que

“prefere vídeos em português sem legenda para treinar leitura labial, espaços não

acessíveis”. Possivelmente ela frequenta muitos locais em que não tem intérprete e

buscando a participação e entendimento nesses espaços ela prefere estar

preparada para tentar maior compreensão. É consenso entre os pesquisadores que

a melhor leitura labial em condições normais não chega a metade do conteúdo

expressado. Mas essa resposta confirma a diversidade dentre os Surdos de acordo

com suas vivências num mundo ouvinte.

Se tratando da questão da interferência da língua quanto ao uso, apropriação

da informação e no aprendizado, foi questionado frente a uma informação em qual

língua os participantes sentiam que aprendiam com mais facilidades. Conforme

resultado ilustrado na imagem abaixo:

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Gráfico 11 – O uso da língua na aprendizagem

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Esta pergunta foi semiaberta, visto que os participantes tinham as opções

português e Libras e puderam acrescentar outra língua em que se sentissem à

vontade. A maioria dos participantes (P1, P5, P6 e P7) corresponderam a

expectativa e disseram Libras, confirmando a Libras como sua língua natural e

apropriada para os Surdos. Os participantes P3 e P4 surpreenderam respondendo

Português, a P4 é compreensível, pois se pensarmos que com o doutorado, se

encontra dentro do mundo acadêmico que não é nem um pouco inclusivo, então

possivelmente aprende com essa estrutura tradicional da academia. A P3 embora

tenha família ouvinte, estudado em escolas regulares sem a presença de intérprete

de Libras, e tenha preferência por se comunicar por meio da Libras, entende-se que

devido a sinalização tardia (aos 19 anos) acostumou-se a aprender em português.

É perceptível a partir dos dados que para uso e apropriação da informação

dos Surdos não existe uma fórmula, porém é necessário que a informação esteja

acessível às suas preferências.

Quanto a interferência das línguas no compartilhamento de informações, foi

questionado sobre em qual língua os participantes costumam compartilhar

informações em suas redes, objetivando observar os participantes enquanto

produtores ou mediadores de informações como seria o comportamento é uma

pergunta em que poderia sinalizar as duas opções possíveis Português e Libras.

Abaixo a imagem ilustra a preferência dos participantes:

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Gráfico 12 – O uso da língua em compartilhamento

Fonte: elaborado pelo autor a partir da coleta de dados (2018).

Os participantes P1 e P7 costumam compartilhar nas duas línguas, os

participantes P5 e P6 marcaram somente a Libras, e os participantes P2, P3 e P4

marcaram somente a língua portuguesa. Temos de considerar que conforme

apontado pelos próprios participantes anteriormente as plataformas de

compartilhamento não suportam formatos de vídeos com facilidade a velocidade que

por exemplo mensagens textuais, há de se considera os tamanhos dos arquivos

também. É mais difícil para realizar o compartilhamento. É importante observar que

P2 prefere se comunicar através da Libras e do português mas não costuma

compartilhar informações em Libras. A participante P4 mais uma vez tem preferência

pela língua portuguesa também em seus compartilhamentos. Nenhum dos

participantes se utilizou da opção outros para incluir alguma língua não mencionada.

Ainda há de se considerar que vivemos em uma sociedade ouvinte, onde

possivelmente a maior parte das pessoas com que os Surdos participantes da

pesquisa compartilhem conteúdos sejam ouvintes. Então, entende-se que embora

muitos ouvintes não reflitam sobre suas práticas de compartilhamento de informação

acessível a todos, os Surdos preocupam-se em acompanhar a maioria, ouvinte e

fluente em português.

Diante dos dados apresentados entende-se que há a interferência da língua

portuguesa nas práticas informacionais, embora a preferência seja pelo acesso e

uso de informações em Libras. Porém quanto ao compartilhamento, considerando as

limitações das plataformas e a maioria de interlocutores ouvintes, os participantes

Surdos preferem em português.

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A Biblioteconomia e Ciência da informação precisam se atentar para

interferência da questão linguística nas práticas informacionais dos Surdos. Para

que alcancemos um dia uma sociedade da informação inclusiva e bilíngue.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho é fruto de questionamentos e reflexões que sobre

as práticas informacionais de sujeitos que encontram cada vez mais espaço na

sociedade, porém não tem sido muito estudado na Biblioteconomia e Ciência da

informação: os Surdos. A partir da análise dos dados, refletiu-se sobre como a

aquisição de linguagem e língua pelos Surdos têm impacto sobre suas práticas

informacionais.

A surdez aqui entendida como uma marca cultural e os Surdos entendidos

como parte de uma minoria linguísticas com características e necessidades

singulares, pertencentes a um grupo com uma enorme diversidade entre si.

As práticas informacionais apresentadas, a partir dos processos de acesso,

uso e compartilhamento, seguem uma abordagem socioconstrucionistas, nas quais

os sujeitos produzem informações e são produzidos por elas a partir de interações

sociais, considerando todo o aspecto político histórico cultural.

Conhecer os fatores intervenientes das práticas informacionais objetivando a

democratização da informação é um ato político, deve estar sempre permeados de

aspectos éticos levando-se em considerando a historicidade dos sujeitos. No caso

desta pesquisa, compreender de que maneira os processos de aquisição e

desenvolvimento da linguagem podem influenciar nas práticas informacionais de

Surdos é um ato político e pode contribuir para a democratização da informação

para a comunidade Surda.

Buscando identificar as barreiras encontradas por Surdos, com diferentes

formas de aquisição de Linguagem, em suas práticas informacionais, conclui-se que

a idade/período em que se perde a audição, o período de aprendizagem e contato

com a LIBRAS e o entendimento familiar sobre a Surdez, são barreiras encontradas

por Surdos para desenvolver suas práticas informacionais.

Outro obstáculo encontrado foi a falta de adaptação e preparo dos meios

informacionais sejam eles: as plataformas digitais que não tem facilidade para

compartilhamento de suportes visuais e comunicação e informação ou sejam locais

de necessidade comum como hospitais, bancos ou bibliotecas, visto que as pessoas

que trabalham nestes locais se tornam empecilho.

Ao buscar detectar as principais fontes e tecnologias de informações

utilizadas no processo de busca da informação, confirmou-se que podem ser mais

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confortáveis para Surdos fontes em que acontecem a interlocução com outros

atores, como outra pessoas de confiança ou através de suas redes de contatos na

internet. Foi sinalizado a afinidade com fontes e tecnologias que se adaptem aos

recursos visuais e possibilitem a presença da Libras. E não só adaptação com

também há uma busca por identificação, reconhecimento e representatividade como

citado a TV INES e os sites feitos por Surdos.

É notável que a falta de acessibilidade e fontes inclusivas, fazem com que

Surdos façam mais esforço para se obter a informação desejada, por questões de

diferenças linguísticas entre a Libras, a língua de preferência, e o Português, a

língua da maioria.

Tentando diferenciar a interferência da Linguagem oral e da língua

portuguesa e/ou da Libras no transcurso do uso e compartilhamento da informação,

mesmo se considerarmos estar numa sociedade ouvinte, onde a comunicação oral

prevalece, todas as respostas indicam há a preferência e o conforto pela utilização

da Libras. Seja em ações cotidianas, como conversas com amigos, trabalho ou até

mesmo atividades religiosas. A preferência pela Libras denota a interferência das

características da língua visuo-espacial em suas práticas informacionais,

principalmente através de recursos visuais.

Ainda nas questões dos recursos visuais, foi indicado a preferência por

vídeos em Libras ou com janela de tradução em Libras. Aos produtores de vídeos

cabe entender a importância de incluir um público com características tão

específicas e o entendimento de no mínimo se preocupar em ter por opção legendas

em português.

É de suma importância que a Biblioteconomia e a Ciência da informação,

perceba a necessidade deste público e tome ações a partir de pesquisas, como esta

por exemplo, para que a Libras possa vir a se tornar uma realidade no meios

informacional, e possa a partir da facilidade de apropriação da informação por meio

de recursos informacionais em Libras, democratizar o acesso à informação.

Se faz necessário ainda que a Libras se torne cada vez mais popular e

comum entre os ouvintes para que Surdos possam compartilhar suas próprias

informações, conteúdos e saberes em Libras, pois com o avanço das tecnologias,

cada vez mais plataformas devem procurar facilitar o compartilhamento de vídeos,

fazendo assim com Surdos se integrem cada vez mais na sociedade.

Há aqui o entendimento de que esta pesquisa não acaba em si mesma, visto

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que há um risco grande de subjetividade ao perguntar aos Surdos, em português,

sobre suas práticas informacionais, visto que a pesquisa realiza-se por um autor

ouvinte, por meio do português escrito, para um ambiente pouco inclusivo que é a

universidade no Brasil, da qual uma minoria de Surdos tem acesso. Então o

replicamento da pesquisa talvez fique limitado a sujeitos da pesquisa com perfil

próximo de entendimento de português e entendimento do que seja uma pesquisa.

Outro fator limitante do trabalho foi não ter atingido ainda mais possibilidades

de aquisição e desenvolvimento de linguagens entre os Surdos, por conta de o

convívio do autor com os protagonistas da pesquisa ser limitada ao grupo conhecido

através do curso de Libras da qual o autor faz parte no INES.

Os sujeitos Surdos, pela defasagem auditiva, enfrenta muita dificuldade para

se inserir no grupo social ouvinte, que é a maioria. O atraso do desenvolvimento de

linguagem, podem trazer consequências emocionais, sociais e cognitivas. As

tecnologias, com a internet, podem propiciar maior integração social, pois na internet

as relações de poder e autoridade, entre Surdos e ouvintes, são mais dissolvidas.

Um caminho a ser seguido para pesquisas na área de Biblioteconomia e Ciência da

informação, buscando nas redes, formas mais eficazes para vencer as limitações

informacionais e comunicacionais. Não deixando de pensar soluções alternativas,

visto que a internet, por si só, não são suficientes para solucionar problemas tão

abrangentes e socialmente construídos.

O conhecimento destes resultados poderá ter uma utilidade prática se ,

somatizados as políticas públicas inclusivas, contribuírem de alguma forma para um

projeto de intervenção com um programa que vise a democratização da informação,

e funcione talvez como ponto de partida para se pensar em planos de ação que

desenvolva o processo de letramento informacional para que os Surdos possam

alcançar o pleno exercício da cidadania de maneira crítica.

Julgou-se que a presente pesquisa, além de ter possibilitado uma melhor

compreensão da realidade que se propôs estudar, também se constitui como uma

forma de chamar para a reflexão, em torno das limitações linguísticas em que as

práticas biblioteconômicas se fazem.

É cada vez mais urgente que a Biblioteconomia e a ciência da informação

contribuam para tirar os surdos do silêncio dando voz e visibilidade a eles.

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APÊNDICE A – Questionário aplicado

Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da aquisição e desenvolvimento de

linguagem nas práticas informacionais de surdos

O presente questionário faz parte do Trabalho de conclusão de curso, requisito parcial para

obtenção do grau de licenciado em Biblioteconomia, submetido à Escola de Biblioteconomia

da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Esta pesquisa tem por objetivo compreender de que maneira os processos de aquisição e

desenvolvimento da linguagem podem influenciar nas práticas informacionais de Surdos.

Por isso buscou-se identificar as barreiras encontradas por Surdos, com diferentes formas

de aquisição de Linguagem, em suas práticas informacionais: Busca, acesso, apropriação e

compartilhamento, buscou-se também detectar as principais fontes e tecnologias de

informações utilizadas no processo de busca da informação e ainda diferenciar a

interferência da linguagem oral e/ou da Libras no transcurso do acesso, apropriação e

compartilhamento da informação.

O Questionário está dividido em 5 partes:

a) Perfil dos participantes;

b) Como acessa a informação?;

c) O processo de Busca da informação;

d) Apropriação da informação;

e) O compartilhamento da informação;

Não há respostas certas ou erradas para nenhum ponto do questionário. Sinta-se à vontade

para responder as questões da forma com que mais se relaciona com sua Prática

informacional.As respostas são confidenciais e serão analisadas juntas com a dos demais

participantes. É muito importante que todas as questões sejam respondidas.

Desde já grato pela participação,

WALLACE SILVA. SANTANA DE ALMEIDA - Aluno do curso de Licenciatura em

Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). - Autor da

pesquisa

BRUNA SILVA DO NASCIMENTO - Doutora em Educação pela Universidade Federal do

Paraná (UFPR) e professora Adjunta I na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

(Unirio) – Orientadora

1. Email address *

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Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da aquisição e desenvolvimento de

linguagem nas práticas informacionais de surdos

http://youtube.com/watch?v=9EFVZetGASs Tradução da apresentação do trabalho em

Libras feita por Thiago Santos, Mestre em Educação pela UniRio e professor vinculado ao

Departamento de Didática na UNIRIO, Intérprete de Libras (LINK DO VÍDEO EXPLICATIVO:

https://www.youtube.com/watch?v=9EFVZetGASs&t=108s )

Termo de consentimento Livre e Esclarecido

Certo de que as informações apresentadas no questionário fornecerão os esclarecimentos

necessários em relação a pesquisa: Surdez, Informação e Língua(gem): implicações da

aquisição e desenvolvimento de linguagem nas práticas informacionais de surdos. Caso

haja concordância em participar do estudo, compreendendo que minha participação é

inteiramente voluntária e que desta forma tem-se toda a liberdade de recusar ou retirar o

consentimento sem nenhuma penalidade. Os dados obtidos da participação deste

questionário, serão documentados e sistematizados, sendo com consentimento que haverá

divulgação dos resultados em contextos acadêmicos e publicações científicas com o

encerramento do Trabalho de conclusão de curso e que o uso dessas informações em

outros suportes e finalidades só serão permitidas mediante a autorização prévia.

Termo de consentimento Livre e Esclarecido

http://youtube.com/watch?v=pp0FFGTo5yo Tradução do Termo em LIBRAS (Link:

https://www.youtube.com/watch?v=pp0FFGTo5yo )

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2. Eu aceito participar da pesquisa voluntariamente. * Mark only one

oval.

Sim, eu aceito.

Não, não aceito.

Perfil dos participantes

Para conhecer melhor quem está participando da pesquisa precisamos de algumas

informações pessoais, que serão mantidas em sigilo e analisadas juntamente com

outras respostas e para fins acadêmicos.

3. 1) Gênero: *

Masculino

Feminino

Other:

4. 2) Qual a sua idade?

5. 3) Quantas pessoas moram com você?

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6. 4) Com

quem você mora?.

Pai Mãe

Irmão/Irmã Avós

Cônjuge Filho/a

Other:

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7. 5) Seus pais são? * Mark only one oval.

Pai e Mãe Ouvintes

Pai Surdo e Mãe Ouvinte

Pai Ouvinte e Mãe Surda

Pai e Mãe Surdos

8. 6) Qual a sua profissão?

9. 7) Qual a profissão da sua Mãe?

10. 8) Qual a profissão do seu Pai?

11. 9) Em sua família há outras pessoas Surdas?

12. 10) Com qual idade você perdeu a audição?

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12. 11) Como você prefere se comunicar

com outra pessoa?

Somente através de oralização da língua

portuguesa e leitura Labial

Somente pela Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS)

Pela oralização da língua portuguesa e leitura labial juntamente

com a Lingua Brasileiras de Sinais (LIBRAS)

14. 12) Considerando uma escala onde 1 representa mais dificuldade de

ler em português, e 5 representa maior facilidade de ler em português. Como você

considera suas habilidades de leitura da Língua portuguesa?

1 2 3 4 5

15. 13) Considerando uma escala onde 1 representa mais

dificuldade de escrever em português, e 5 representa maior facilidade de

escrever em português. Como você considera suas habilidades de escrita

em língua portuguesa? *

1 2 3 4 5

16. 14) Considerando uma escala onde 1 representa pouca

habilidade com a LIBRAS, e 5 representa muita habilidade com a

LIBRAS.Como você considera suas habilidades em LIBRAS? *

1 2 3 4 5

17. 15) Sabe alguma língua estrangeira ou a Língua de Sinais de

algum outro lugar? Se sim quais? *

18. 16)

Grau de

escolaridade?

Ensino Fundamental incompleto

Ensino Fundamental Completo

Ensino Médio incompleto

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Ensino Médio Completo

Ensino Superior incompleto

Ensino Superior Completo

Pós graduação incompleta

Pós graduação Completa

Other:

19. 17) A maior parte de sua vida,

estudou em escola... * Mark only one oval.

Regular com o auxílio de um intérprete de Libras

Regular sem o auxílio de um intérprete de Libras

Bilíngue, onde a Língua portuguesa era a 1º Lingua e a Libras a 2º Lingua

Bilíngue, onde a Libras era a 1º Língua e a Língua portuguesa a 2º Língua

20. 18) Usa ou já usou algum aparelho amplificador de Som ou

Implante Coclear? * Importante responder se já utilizou e não usa mais

hoje em dia, quando foi que usou. Se puder relatar brevemente a

experiência, se gosta ou não?

21. 19) Selecione a Língua que melhor lhe representa

nas situações abaixo: Mark only one oval per row.

Português LIBRAS

Me considero mais eficiente com ... Minha primeira língua foi... A língua principal durante a escola foi... Utilizo mais no dia a dia com amigos Utilizo mais no dia a dia no trabalho Utilizo mais em atividades religiosas Procuro me manter atualizado através de Procuro mais entretenimento em

22. 20) Desde de que idade sinaliza em Libras? *

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23. 21) Onde você costuma procurar por

informações quando precisa? * Check all that apply.

Internet

Bibliotecas Livros

Revistas Outras pessoas

Other:

24. 22) Você considera acessível para surdos os locais em que costuma

buscar informação? * Mark only one oval.

Sim Não

Other:

25. 23) Em quais locais costuma

acessar a internet? * Check all that apply.

Em casa Na escola/Faculdade

Na casa de amigos No trabalho

Telecentro

Biblioteca

Other:

26. 24) Quais são suas dificuldades ao acessar informações? *

25) Você acredita que a língua seja uma barreira para o acesso a informação por parte dos

Surdos? Porque? *

28. 26) Quais ambientes digitais você mais utiliza para

buscar informações? * Check all that apply.

E-mail

Facebook Listas de Discussão

Sites estrangeiros

Sites de resvistas

Sites de jornais

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Skype, Chat ou Messeger

Sites de Surdos Sites de escolas/Faculdade

TV INES

Bibliotecas Digitais

Other:

29. 27) Os vídeos que me interessam

são procurados em... * Mark only one oval per row.

Sim Não

Português Legendados em Português Português sem legenda Português com a janela de Libras Libras Outras línguas legendados em Português

30. 28) Ao utilizar um buscador, tipo o Google, costuma

utilizar de qual língua... * Check all that apply.

Português escrito

Libras escrita Sign Write

Inglês

Other:

31. 29) Porque? * Justifique a questão anterior

32. 30) Considerando uma escala onde 5 representa

TOTALMENTE SATISFEITO e 1 TOTALMENTE INSATISFEITO,

como você se sente quanto aos resultados das Buscas, as

informações obtidas costumam atender suas necessidades?

*

Mark only one oval.

1 2 3 4 5

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33. 31) Considerando uma escala onde 5 representa

TOTALMENTE SATISFEITO e 1 TOTALMENTE INSATISFEITO, Como se

sente quanto a presença de LIBRAS nos resultados das pesquisas *

Mark only one oval.

1 2 3 4 5

Totalmente Insatisfeito Totalmente Satisfeito

34. 32) Qual dificuldade costuma-se encontrar ao buscar

informações, seja utilizando um buscador tipo o Google

ou catálogos de bibliotecas por exemplo. *

35. 33) Aprende com mais facilidade com uma informação

quando a ela se apresenta em ... * Mark only one oval.

Português

Libras

Other:

36. 34) Quais são as maiores dificuldades quando está em

contato com uma informação em Português? *

37. 35) Quais são as maiores dificuldades quando está em

contato com uma informação em Libras? *

38. 36) Em que língua costuma compartilhar informações no dia

a dia, como por exemplo em Mídias sociais? * Check all that apply.

Português

Libras

Other:

39. 37) Sobre quais assuntos costuma compartilhar mais informações? *

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Muito obrigado pela participação!!!

http://youtube.com/watch?v=6moAiPqZhJY

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