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Neste volume 7 - Sustentabilidade dos Oceanos, as autoras, por meio de uma linguagem acessível, pretendem trazer ao leitor a uma abordagem interdisciplinar da questão da sustentabilidade dos oceanos, bem como apontar os grandes desafios de governança que ainda demandam enfrentamento.
11Introduo
Contedo
1 Introduo, 15
2 A cincia, o cenrio poltico e o oceano, 19
3 O desafio da busca pela sustentabilidade, 51
4 O sistema oceano, 75 4.1 A gua e a Terra, 75
4.2 Oceano: estrutura e processos, 78
4.2.1 Estrutura geomorfolgica dos oceanos, 78 4.2.2 Domnios ocenicos, 82 4.3 A vida nos oceanos, 102
4.3.1 A evoluo da vida nos oceanos, 103 4.3.2 Os habitantes dos oceanos, 105 4.4 Consideraes finais, 122
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12 Sustentabilidade dos Oceanos
5 Recursos ocenicos, 127 5.1 Recursos abiticos, 130
5.1.1 Recursos minerais, 130 5.1.2 Fontes de Energia, 135
5.2 Recursos biticos, 137
5.2.1 Pesca, 138 5.2.2 Aquicultura, 141 5.2.3 Produtos naturais marinhos, 143
5.3 Servios ocenicos, 146
6 Ameaas aos servios ecossistmicos, 153 6.1 Sobrepesca, 157
6.2 Contaminao da gua, 161
6.3 Derramamento de leo, 164
6.4 Degradao de ecossistemas costeiros, 168
6.5 Mudanas climticas, 170
7 A governana necessria, 185 7.1 Concluses, 195
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15Introduo
1 Introduo
A imagem fotogrfica da Terra flutuando no espao um signo novo na histria humana e coincidiu com o perodo em que o homem co-meou a se defrontar com os impactos causados pelas suas aes: a desertificao; a extino de inmeras espcies de organismos; os de-sequilbrios ambientais gerados pela introduo, voluntria ou no, de organismos exticos; as chuvas cidas contaminando o solo, guas con-tinentais e oceanos, e reduzindo o crescimento, bem como a produti-vidade dos vegetais; a poluio de lagos, rios e mares por agrotxicos, fertilizantes e outras substncias sintetizadas pelo homem levando intoxicao dos organismos; os processos de eutrofizao de larga es-cala em lagos, rios, baas e mares, causando a reduo de oxignio e morte de organismos aquticos; o aumento da emisso de gs carbni-co e gases txicos para atmosfera, alm de desequilbrios na qumica do solo que provocam a elevao das concentraes de metano, pro-movendo um aumento do efeito estufa na Terra, entre inmeros outros exemplos. Essa imagem mostra a Terra sem suas divises em Naes ou Estados e tem colaborado para aumentar a conscincia da unicidade do planeta e da interdependncia entre o homem e a natureza.
Foi nesse contexto que emergiu a conscincia da necessidade de gerir a conduta humana de forma a impedir a degradao do ambiente e da vida, tornando imperativo o surgimento de uma ordem ambiental internacional, posto que os impactos gerados localmente ultrapassa-vam limites geopolticos e afetavam populaes distantes.
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19A cincia, o cenrio poltico e o oceano
A ligao do homem com o oceano intrnseca: o ser humano constitudo fundamentalmente por gua, coincidentemente ou no, em propores similares s do oceano em relao superfcie da Terra, isto , cerca de 70%. Alm disso, os fluidos que percorrem nosso corpo apresentam uma concentrao de sais similar dos oceanos, decorren-te da evoluo de espcies marinhas que ocuparam os continentes e a manuteno de um fluido interno similar ao do meio original. No , pois, sem fundamentos, que o homem, de modo universal, possui liga-es espirituais profundas com a gua, como se verifica pelas inmeras religies ao redor do mundo que a utilizam como meio de purificao espiritual ou a associam matria-prima primordial.
O homem que viveu nas regies costeiras e que dependeu do mar, inicialmente, como fonte de alimento, e mais tarde, como meio de transporte, sempre teve um conhecimento emprico sobre o oceano, decorrente da observao de suas mudanas em relao s fases da lua, poca do ano, condies do tempo, bem como da observao dos reflexos que essas mudanas tinham sobre o estado do oceano e so-bre a pesca, e, consequentemente, sua prpria vida. Assim, o homem sempre o associou o oceano a mitos que, como tais, colaboraram para o desenvolvimento de prticas sociais e simblicas para as diferentes culturas dos povos insulares e costeiros.
2 A cincia, o cenrio poltico e o oceano
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22 Sustentabilidade dos Oceanos
sistemas de turbina a vapor, substitudas em 1919 por motores com propulso a diesel, at que, em 1906, foi lanada a primeira embarca-o para navegao submarina (VAllEGA, 2001).
A industrializao, iniciada no perodo moderno, originou trans-formaes ambientais provocadas pelo homem em propores jamais alcanadas, tanto pelos requisitos energticos quanto pela busca de matrias-primas, mas a sociedade ainda no tinha conscincia das con-sequncias desse processo em escala global. Foi nesse perodo, por exemplo, que se iniciou o aumento significativo da emisso de gases contaminantes na atmosfera, pela queima de combustveis fsseis, inicialmente carvo, e posteriormente tambm gs e leo. Comeou a ocorrer tambm a contaminao das guas e do solo por metais pesa-dos, inseticidas e fertilizantes, entre outros. O aumento das concentra-es de gs carbnico, por exemplo, foi registrado por Charles Keeling, no Hava a partir de 1958 e se tornou um dos registros mais clssicos e incontestveis do impacto antrpico em escala global. Na Figura 2.1 possvel verificar tambm as concentraes da poca pr-industrial medidas a partir de amostras de gelo.
390
370
350
330
310
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2701750 1800 1850 1900 1950 2000
Mauna Loa (1958-presente)Testemunho de gelo da Estao Siple
Parte
s por
milh
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ppm
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Figura 2.1 Concentraes de dixido de carbono (CO2) na atmosfera, 1750-2000.Fonte: Modificada de: Baumert, K. A.; Herzog, T.; Pershing, J. (2005). Baseada em Neftel et al. (1994); Keeling; Worf (2005).
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51O desafio da busca pela sustentabilidade
A ideia da sustentabilidade surgiu na primeira conferncia mundial sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo em 1972, na qual foi proposto o termo ecodesenvolvimento. J nessa poca iniciou-se a preocupao com a produo de bens de consumo para satisfazer as necessidades de uma populao humana em constante crescimento, sem exaurir os recursos naturais finitos e com o menor impacto sobre o meio ambiente.
O adjetivo sustentvel para qualificar o desenvolvimento comeou a ser usado posteriormente, nos debates internacionais, por economis-tas como Ignacy Sachs, mas foi amplamente divulgado a partir de 1987, com a publicao do relatrio Nosso futuro comum, da Comisso Brundtland, e efetivamente consagrado somente em 1992, com a Con-ferncia Rio-92. O relatrio apresentou uma mensagem implcita no sentido da adoo de um novo modelo de sociedade em que o desen-volvimento visasse sustentabilidade, com um balano entre ambiente e economia, tendo em mente a sobrevivncia das futuras geraes.
Entretanto, como discutido por diversos autores, o conceito de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentvel, tal como colocado, permite vrias interpretaes (FABER et al., 2010) e no deixa claro como as mudanas necessrias devem ocorrer, principalmente a curto prazo.
3 O desafio da busca pela sustentabilidade
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61O desafio da busca pela sustentabilidade
relatrio sobre a questo (JOINT UNECE/EUROSTAT/OECD, 2009), com a finalidade de identificar os conceitos e prticas adequados para subsidiar os governos nacionais. Os autores desse relatrio utilizaram a abordagem do capital para a elaborao de indicadores de forma prag-mtica. Mas o maior impacto sobre a questo dos indicadores ocorreu aps a apresentao do relatrio Stiglitz-Sen-Fitoussi (2009).
Veiga (2010) realizou, recentemente, uma retrospectiva da evolu-o da questo dos indicadores de sustentabilidade em que descreve, com detalhes, os principais resultados desse relatrio. O autor consi-dera que o debate cientfico sobre o tema foi desencadeado h qua-se 40 anos pelo trabalho Is growth obsolete?, de Nordhaus e Tobin (1972). Aps discorrer sobre a evoluo dos ndices ao longo desses anos, apontando suas contribuies para a evoluo das ideias de me-didas de sustentabilidade, por um lado, e as dificuldades operacionais e conceituais, por outro, quer seja pela aplicao de ndices individuais ou compostos, bem como eventuais incoerncias que foram sendo ve-rificadas ao longo do tempo, Veiga conclui, indicando os resultados que foram apresentados recentemente no Report by the Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress (STIGlITz-SEN-FITOUSSI, 2009).
Em seu estudo Veiga aponta que a primeira grande contribuio dessa Comisso j foi mostrar com muita clareza que existem trs pro-blemas bem diferentes, que no deveriam ter sido misturados nem iso-lados, como fizeram todos os indicadores ao longo de quase 40 anos, tais sejam, medida de desempenho econmico, medida de qualidade de vida (ou bem-estar), e medida da sustentabilidade do desenvolvimen-to, enfatizando que para essas trs questes o relatrio deu orientaes muito mais radicais do que supunham quase todos os observadores: 1) O PIB (Produto Interno Bruto) deve ser inteiramente substitudo por uma medida bem precisa de renda domiciliar disponvel, e no de pro-duto; 2) A qualidade de vida s pode ser medida por um ndice compos-to bem sofisticado, que incorpore at mesmo as recentes descobertas desse novo ramo que a economia da felicidade; 3) A sustentabilidade exige um pequeno grupo de indicadores fsicos, e no de malabarismos que artificialmente tentam precificar coisas que no so mercadorias.
Em outras palavras, Veiga avalia que o relatrio prope a supera-o da contabilidade produtivista, a abertura do leque da qualidade
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75O sistema oceano
Uma imensa massa contnua de gua salgada em movimento, preen-chendo as depresses da crosta terrestre entre as massas continentais, abrigando uma gigantesca variedade de organismos e em constante interao com a atmosfera e com as terras emersas esse o siste-ma oceano. Apesar de particularidades locais, as cinco grandes massas ocenicas principais Atlntico, Pacfico, ndico, rtico e Antrtico esto interligadas e, em grande escala espacial e temporal, acabam por funcionar como um sistema nico. O presente captulo apresenta, de forma sucinta, algumas caractersticas da estrutura fsica e qumica, da biocenose e do funcionamento dos oceanos para subsidiar o entendi-mento dos processos que nele ocorrem e sua dinmica. Essa compreenso fundamental para que o uso, manejo e explorao dos oceanos possa ser planejado e realizado de uma maneira sustentvel.
4.1 A gua e a Terra
A gua um composto relativamente comum no universo, posto que o hidrognio o elemento mais abundante e o mais simples que exis-te, assim como o oxignio o segundo elemento quimicamente ativo mais abundante (ANDERS; EBIHARA, 1982). A gua no estado lquido, entretanto, muito menos comum, pois exige um ambiente planetrio para existir como tal, isto , requer uma faixa estreita de temperatura
4 O sistema oceano
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96 Sustentabilidade dos Oceanos
cido como Transporte de Ekman, a ao do vento sobre a superfcie da gua gera um fluxo mdio da poro de gua deslocada perpendicular direo do vento, para a esquerda no hemisfrio sul e para a direita no hemisfrio norte.
C. nortedo Pacfico
C.da
CalifrniaC. norte equatorial
Contra c. equatorial
C. sul equatorial
C. doAlasca
C. doGolfo
C. doLabrador
C. daNoruega
C. dasCanarias
C. doAtlntico
norte
C. norteequatorial
Contra c.equatorial
C. doPeru
C. doBrasil
C. das Malvinas
C. sulequatorial
C. circunpolar Antrtica
C. deBenguela
C. dasAgulhas
C. norteequatorial
Contra c. equatorial
C. sulequatorial
C. oeste daAutrlia
C. leste daAustrlia
C. norteequatorial
C. Kuroshio
C. Oyashio
C. nortedo Pacfico
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60
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Figura 4.3 Principais correntes ocenicas superficiais.
As correntes superficiais podem formar meandros, que ocasional-mente se separam da corrente principal, girando em sentido horrio ou anti-horrio. No hemisfrio sul, essas feies correspondem, respecti-vamente, aos chamados vrtices ciclnicos e anticiclnicos. No ncleo dos vrtices ciclnicos ocorre subida de gua subsuperficial ao passo que nos vrtices anticiclnicos ocorre subsidncia (afundamento). Es-ses fluxos verticais tm importantes implicaes biolgicas, especial-mente em reas sobre a plataforma continental.
As zonas de contato entre as principais correntes podem formar convergncias (quando ambas correntes fluem uma de encontro ou-tra) ou de divergncia (quando fluem em sentidos opostos). Nas reas de convergncia, ocorre o afundamento da gua, enquanto nas reas de divergncia ocorre o afloramento da gua subsuperficial. Esses pro-cessos so muito importantes para as trocas de calor e tambm para a
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127Recursos ocenicos
Apresentamos aqui uma sntese dos principais recursos e servios ocenicos, bem como alguns dos problemas relacionados sua explo-rao e uso, que sero discutidos mais especificamente no prximo captulo.
Os oceanos so fonte de recursos para a humanidade desde os pri-mrdios das civilizaes. A dependncia do homem pelos recursos na-turais marinhos fica bem ilustrada pelo fato de as grandes civilizaes antigas terem se desenvolvido em reas costeiras ou de deltas de gran-des rios como o Nilo, Tigre e Eufrates.
As regies costeiras englobam menos de 20% da superfcie do pla-neta. Entretanto, atualmente, comportam mais de 45% da populao humana, 75% das megalpoles com mais de 10 milhes de habitantes e produzem cerca de 90% da pesca global (lACERDA, 2010).
A pesca , sem dvida, um dos mais importantes e populares recur-sos marinhos, que h tempos d sinais de sobre-explorao. Porm, ela representa apenas um dentre uma enorme variedade de recursos oce-nicos de naturezas e usos mltiplos. O oceangrafo John Marra, em um artigo publicado na revista Nature em 2005, afirmava que os estoques pesqueiros em todo o mundo esto declinando rapidamente e que, as atividades futuras de manejo e preservao dos recursos ocenicos iro requerer uma transformao de nossa relao com os oceanos. No arti-
5 Recursos ocenicos
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140 Sustentabilidade dos Oceanos
ChinaMundo excluindo China
Milh
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e ton
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Anos50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 06
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Figura 5.1 Evoluo da captura pesqueira de 1950 a 2006, com destaque para a produo da China.Fonte: Adaptada de FAO, 2009.
A participao de espcies ocenicas no total de pescado mundial tambm tem crescido significativamente, com a contribuio principal-mente da pesca do atum (Figura 5.2).
Epipelgicos: atunsEpipelgicos: outras espciesEspcies de guas profundas
Milh
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Anos50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 06
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Figura 5.2 Comparao entre as capturas de espcies ocenicas em reas epipelgicas e profundas (abaixo dos 200 m). Fonte: Adaptada de FAO, 2009.
As guas abaixo dos 200 m de profundidade, onde j no h mais pe-netrao de luz, apesar de menos produtivas em termos de pesca, pos-suem vrios estoques de crustceos e peixes de elevado valor comer-cial. Com o desenvolvimento de recursos tecnolgicos e de navegao,
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153Ameaas aos servios ecossistmicos
Apesar de at recentemente os servios ecossistmicos nunca have-rem sido considerados pelo homem, atualmente, diante dos inmeros danos ao meio ambiente e dos prejuzos econmicos decorrentes da incapacidade da natureza para voltar a fornecer esses servios, passa-ram a ser considerados como tal e tm sido submetidos a processo de valorao (van DEN BElT et al., 2007).
A quantificao dos danos ambientais em termos monetrios tem um papel primordial, pois permite que esses danos sejam integrados nas anlises financeiras, apontando os impactos na economia e neg-cios globais, regionais ou locais, ainda mais lembrando as palavras de Herman Daly, do Banco Mundial e especialista em economia ecolgi-ca: No existe qualquer ponto de contato entre a macroeconomia e o meio ambiente. A quantificao tambm importante na avaliao dos danos para a determinao de instrumentos jurdicos de ressarcimento e eventual reparo dos danos pelo poluidor. A valorao dos servios ecossistmicos essencial para subsidiar a estruturao institucional de planos de gesto costeira e ocenica.
Quando a poluio marinha provoca danos significativos pesca e a outros usos produtivos do oceano, como turismo e laser, que j apre-sentam valor de mercado, esse procedimento de valorao simplifica-
do. Entretanto, quando, alm desses usos e recursos, preciso avaliar
6 Ameaas aos servios ecossistmicos
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156 Sustentabilidade dos Oceanos
Tabela 6.1 efeitos diretos de problemas identificados por antunes e Santos (1999) sobre bens e servios ocenicos.
Servios de ecossistemas marinhos e
costeiros midosa
Valor anual estimado do
servio(US$ bilhes/
ano)b
Problemas
SobrepescaContaminao
de origem terrestre
Derrames e disposio
ocenica de leo
Destruio de ecossistemas
costeiros
Mudanas climticas
Controle e regulao de gases e clima
1.272 Entrada de nutrientes afeta sumidouro de C
Afeta a produtividade e absoro de C
Afeta o contedo de calor, padro de correntes
Regulao de perturbaes/controle de eroso
575 Perda de recifes de coral
Mudanas em recifes de coral, reas midas, linhas de costa
Perda de recifes de coral
Ciclagem de nutrientes/tratamento de efluentes
16.432 Afeta o controle top-down da ciclagem de nutrientes
Sobrecarga da capacidade de assimilao
Perda de reas midas afeta a ciclagem de nutrientes e tratamento de efluentes
Mudanas na drenagem e liberao de nutrientes e resduos
Controle biolgico/habitat/recursos genticos
335 Afeta cadeias trficas, estrutura, diversidade e resilincia
Degrada hbitats, reduz diversidade
Mortalidade e alterao de hbitats
Reduz capacidade suporte de hbitats, biodiversidade
Mudanas de temperatura, nvel do mar, correntes, tempestades, drenagem
Alimento/produo de matrias-primas
902 Estoques reduzidos
Reduz pesca e impe riscos sade
Perda de hbitats crticos e alterao de cadeias trficas
Afeta a produtividade
Cultura e recreao
3.077 Perda de recursos recreacionais; cultura tradicional
Riscos sade pblica
Contamina praias, reduz valores estticos
Reduz recursos, valor recreacional, senso de lugar
Deslocamento de populaes costeiras
Transporte, segurana
Exposio e siltao de portos, perda de acesso navegao
Afeta frequncia e severidade de tempestades, nvel do mar
a Os sistemas marinhos e costeiros midos incluem oceano aberto, esturios, bancos de algas e gramas marinhas, recifes de coral, plataformas continentais e manguezais/marismas (de Costanza et al., 1997). A rea total de 36,5 bilhes h (cerca de 71% da superfcie terrestre global). Os servios so agregaes dos 17 servios identificados por Costanza et al. (1997) nos seis primeiros grupos, com a adio dos servios de transporte/segurana.
b De Costanza et al. (1997). Estas estimativas representam valores mnimos. Transporte e segurana no foram avaliados.Fonte: Antunes e Santos, 1999.
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185A governana necessria
A degradao dos ecossistemas raramente poder ser revertida sem
aes dirigidas no s s forantes diretas, como tambm s forantes
indiretas (fatores socioeconmicos, polticos, culturais etc.) que de-
terminam o nvel de produo e consumo dos servios ecossistmicos.
Em funo disso, qualquer tentativa para lidar com essa realidade se
torna um processo altamente complexo. Apesar de todos os esforos
realizados at o momento, os sistemas atuais de governana ambiental
tm se mostrado inadequados e tm levado degradao do ambien-
te, como demonstram os relatrios recentes de avaliao global (MEA,
2005; IPCC, 2007; UNEPFI, 2010; WB, 2010, entre outros).
Quando direcionamos o foco para regies costeiras, que representam
a interface terra-oceano, possvel verificar que muitos dos ambientes
que a se encontram (esturios, marismas, manguezais) constituem
ecossistemas que apresentam as maiores produtividades ecolgicas
por unidade de rea do planeta. Alm disso, como j apresentado an-
teriormente, esses ambientes exercem inmeros servios ambientais,
tais como filtrao e depurao de substncias txicas vindas de reas
terrestres, ciclagem de nutrientes e oferecem uma ampla diversidade
de hbitats, proteo e alimentao a formas juvenis de organismos
marinhos. Mas as reas costeiras costumam tambm abrigar inmeras
atividades humanas conflitantes com os servios ambientais fornecidos.
7 A governana necessria
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188 Sustentabilidade dos Oceanos
es Unidas, incluindo os nove anos da terceira Unclos uma das nego-ciaes mais longas daquele rgo. Freestone (2008) comenta o grande contraste entre os tpicos relevantes da Geneva Convention on Fishing and the Conservation of living Resources of the High Seas, realizada em 1958, com aqueles da law of the Sea Convention, de 1982, que revela as mudanas no pensamento moderno sobre a pesca e a conser-vao da biodiversidade.
Enquanto na conveno de 1958 os oceanos eram vistos meramen-te como fonte de alimento, a conveno de 1982 estabelece um novo princpio, uma obrigao de todos os Estados para proteger e preser-var o ambiente marinho, bem como a obrigao adicional de proteger e preservar as espcies raras e frgeis e os ecossistemas de todo o oceano. Tambm adota uma abordagem bem distinta em relao aos recursos vivos de alto-mar, obrigando todos os Estados cooperao mtua para manter e restaurar populaes de espcies sobrepesca-das, demonstrando que a liberdade de pesca no um direito, mas sim est submetida a condies e obrigaes. Essa nova postura de-monstra claramente uma preocupao geral com o ambiente que no existia at ento.
Em reconhecimento a essas mudanas de prioridades internacio-nais, Freestone (2008) prope dez princpios como ponto de partida para a identificao de princpios gerais de governana dos oceanos, que podem ser reconhecidos como aplicados a atividades que podem afetar o ambiente marinho ou a biodiversidade:
1. liberdade condicional de atividades no alto-mar;
2. Proteo e preservao do ambiente marinho;
3. Conservao dos recursos marinhos e biodiversidade de alto-mar;
4. Uso sustentvel e equitativo;
5. Cooperao;
6. Abordagem precaucionria;
7. Abordagem ecossistmica;
8. Uso da melhor cincia disponvel;
9. Transparncia;
10. Responsabilidade dos Estados para controlar as aes dos seus cidados e consequncias pela violao de obrigaes internacio-nais legais.
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