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ESCOLA DE ENGENHARIA DE PIRACICABA ENGENHARIA MECÂNICA
MARCELLO H. S. PARRA
LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO
PIRACICABA
2010
2
MARCELLO H. S. PARRA
LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO
Trabalho de Conclusão de curso de engenharia para obtenção de grau como engenheiro mecânico pleno da Escola de Engenharia de Piracicaba. Professor Orientador: Jurandir Jones Nardini
PIRACICABA
2010
3
MARCELLO H. S. PARRA
LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO
Trabalho de Conclusão de curso de engenharia para obtenção de grau como engenheiro mecânico pleno da Escola de Engenharia de Piracicaba.
Professor Orientador: Jurandir Jones Nardini
Banca examinadora: ____________________________
____________________________
____________________________
4
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma doaram um pouco de si para que a conclusão deste trabalho se tornasse possível: A Deus, por acreditar que nossa existência pressupõe uma outra infinitamente superior. Ao meu professor orientador, pelo auxílio, disponibilidade de tempo e material, sempre com uma simpatia contagiante. A minha esposa, por acrescentar razão e beleza aos meus dias. Aos meus pais, pelo exemplo, amizade e o carinho.
5
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo principal discutir a logística reversa e sua
influência nas decisões estratégicas das empresas. A logística empresarial passou por
mudanças nas últimas décadas, ganhando agora uma visão competitiva. São abordados três
grandes tópicos: A logística tradicional ou logística direta, a logística reversa e por fim um
estudo de caso demonstrando as vantagens dos fluxos reversos. Em relação à logística direta
temos como principais itens a sua história, sua posição e atuação dentro da indústria, a
distribuição física, o produto logístico e o gerenciamento de estoques. No tocante a fluxos
reversos são abrangidos temas como conceitos, custo, competitividade, canais reversos, índice
de reciclagem, níveis de integração, fatores de influência, reciclabilidade, objetivo econômico
e formação de preço. Por fim, o estudo de caso mostra na prática como são analisadas as
oportunidades de implantação de fluxos reversos, suas vantagens e resultados reais através de
valores numéricos.
Palavras-chave: logística reversa, competitividade, distribuição física, custo, canais reversos.
6
Lista de figuras
Figura 1- Fluxos típicos no canal de distribuição. 15
Figura 2- Compensação de custos para determinação
do total de depósitos em um sistema de distribuição. 16
Figura 3- Compensação de custos na seleção do modal de transporte. 17
Figura 4- Etapas de comercialização e formação de preço do produto
Reciclado. 33
Figura 5- Embalagens tipo Big Bag. 35
Figura 6- Embalagem em papel de 25 kg 35
Figura 7- Fluxo logístico antes do projeto de Logística reversa. 36
Figura 8- Fluxo logístico após a implantação do projeto de
Logística reversa. 36
Figura 9- Quantidade utilizada e comprada no ano de 2004. 38
7
Lista de tabelas
Tabela 1- Custos anuais para três alternativas de transporte
para um fabricante de instrumentos eletrônicos. 18
Tabela 2- Valores médios de taxas de reciclagem de materiais
no Brasil. 27
Tabela 3- Comparativo saco 25kg x Big Bag novo e reciclado 37
Tabela 4- Economia total no ano de 2004. 38
8
Sumário
1.Introdução 10
2.Logística: Conceitos e História 11
2.1.Atividades logísticas nas empresas 12
2.2.Distribuição física 13
2.3.A compensação de custos 16
2.4.O produto logístico 19
2.5.Controle de estoques 20
2.6.Custos de estoques 20
2.7.Previsão da demanda 21
2.8.Estoque mínimo 21
3.Sistemas logísticos reversos 21
3.1.Custos na logística reversa 23
3.2.Competitividade na logística reversa 23
3.3.Ganhos de competitividade do fabricante no retorno 24
4.Logística reversa dos bens de pós-consumo 25
4.1.Conceitos 25
4.2.Canais reversos de distribuição 26
4.3.Fluxos diretos e reversos 26
4.4.Índice de reciclagem 27
4.5.Entrada dos bens duráveis no ciclo reverso 28
4.6.Canais reversos de bens descartáveis 29
5.Níveis de integração nas cadeias reversas 30
5.1.Fatores de influência na implantação de cadeias reversas 30
5.2.Etapas seguintes à coleta 31
5.3.Reciclabilidade 32
5.4.Objetivo econômico nos canais reversos 32
5.5.Formação de preço 33
6.Estudo de caso 34
6.1.A empresa 34
9
6.2.O produto – amido de milho 34
6.3.Implantação da logística reversa 35
6.4.Comparações 36
7.Economias obtidas 37
8.Conclusão 39
9.Bibliografia 40
10
1.INTRODUÇÃO
Ao longo do século passado, o mundo industrial sofreu mudanças estruturais e
estratégicas devido à necessidade de atender um consumidor cada vez mais exigente. Com o
tempo aparecem as novas tecnologias que requerem processos mais sofisticados, caros e
flexíveis.
O consumismo é hoje uma realidade diária, milhões de unidades de diversos produtos
são consumidas todos os dias, desde gêneros de primeira necessidade até produtos de alta
tecnologia agregada. Por muito tempo as empresas focaram suas atenções nos setores de
marketing e produção, o que é natural, já que o objetivo é produzir e vender cada vez mais.
Porém, os conceitos sobre gestão empresarial estão se modificando e as atenções estratégicas
de negócio estão se voltando para setores que outrora não eram considerados importantes na
gestão industrial.
Um exemplo clássico desta mudança de mentalidade é a visão em relação à logística
industrial. Considerado um setor de apoio, por muito tempo a logística foi concebida como
setor não produtivo, sem importância estratégica sendo responsável apenas pela locação de
frota para entrega de produtos.
Felizmente, o empresário começou a perceber o setor logístico como estratégia
competitiva, dando a devida importância à gestão dos processos logísticos e valorizando o
profissional capacitado em sistemas logísticos. A idéia de que somente a transformação da
matéria-prima agrega valor ao produto se soma à visão da entrega do produto(no lugar certo e
na hora certa)como agregador de valores.
A logística se torna então um setor importante, desde sua participação na estratégia
competitiva da empresa bem como na redução de custos associados. O sistemas logísticos
ganham maiores dimensões contendo cadeias de suprimento complexas, grandes armazéns
localizados em pontos estratégicos facilitando as operações.
A existência de grandes distribuidores logísticos reflete a necessidade imediata do
consumidor, devendo as empresas atendê-lo o mais rápido possível, agregando assim os
valores de entrega e tempo ao seu produto.
As empresas querem vender, os consumidores querem consumir, mas outros conceitos
modernos aparecem para dar sentido a este ciclo. A preocupação ambiental é hoje um
11
problema discutido mundialmente, a sociedade tem procurado racionalizar o uso de recursos
naturais e as empresas, por sua vez, minimizar a produção de resíduos.
Atualmente, a administração do processo chamado de pós-consumo pode reduzir
custos industriais, possibilitando o retorno de matéria-prima para ser transformada novamente
agregando mais valor ao processo. Chamamos este retorno de produto já consumido,
danificado, sem uso, de logística reversa. É possível assim fazer com que estes
produtos(sucateados) retornem ao processo ou agreguem outros valores reduzindo custos.
O objetivo deste trabalho é retratar de forma geral o setor logístico clássico, introduzir
uma visão competitiva da administração logística do pós-consumo e apresentar um estudo de
caso sobre a aplicação destes conceitos.
2.LOGÍSTICA: CONCEITOS E HISTÓRIA
O dicionário Aurélio define a logística como “parte da arte da guerra que trata do
planejamento e da realização de: projeto e desenvolvimento, obtenção, armazenamento,
transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de material para fins operativos
ou administrativos”.
Os povos mais antigos da terra utilizavam conceitos logísticos para expandir seus
impérios. Na antiguidade, a ferramenta mais utilizada para a conquista foi a guerra. Nem
sempre a zona de combate estava próxima das bases dos exércitos, por isso era necessário um
planejamento que garantisse um fornecimento constante de suprimentos, armas, veículos, etc.
As antigas civilizações já dispunham de sistemas logísticos eficientes que traziam
vantagens nos momentos críticos das guerras. Com certeza, quem possuísse eficiência no
momento de alocar tropas, materiais, alimentos, água, etc, teria considerável superioridade
para chegar a vitória. Os conceitos logísticos eram utilizados sem uma total consciência por
parte dos líderes daquela época, estes não tinham uma visão clara da importância de se
administrar materiais.
Este quadro perdurou até o ano de 1950. Segundo BALLOU(2007), a logística
empresarial se desenvolveu em três eras: antes de 1950, 1950-1970, e após 1970. Até 1950, o
setor logístico estava adormecido nas empresas que não o viam como setor independente com
atividades próprias. Nestas empresas, o transporte era administrado pela produção, estoques
eram responsabilidade da área de marketing e o processo de pedidos era controlado pelo setor
12
de finanças ou vendas. Essa situação gera conflitos, pois na gestão empresarial moderna, o
setor de produção tem como foco produzir, não entregar produtos. De 1950 à 1970 temos um
período de desenvolvimento para a prática da logística. Estudiosos de outras áreas da indústria
começam a perceber que as empresas prestam muito mais atenção a compra e venda do que na
distribuição física. BALLOU(2007) aponta quatro condições-chave para o desenvolvimento
logístico neste período:
1) Alterações nos padrões e atitudes da demanda dos consumidores;
2) Pressão por custos nas indústrias;
3) Avanço na tecnologia de computação;
4) Influências do trato com a logística militar.
Após 1970, começa a crescer um interesse na administração logística por parte dos
gestores industriais. O embargo petrolífero de 1973 fez com que o preço do petróleo
aumentasse e nos sete anos seguintes este preço quadruplicou, gerando inflação e diminuição
no crescimento de mercado. A preocupação neste momento não é a busca de demanda e sim a
melhor administração de suprimentos. Controle de qualidade, custos e produtividade passaram
a ser áreas de maior interesse, o aumento do preço do petróleo influi fortemente nos custos de
transporte, obrigando o empresário a se atentar para o os custos e conceitos administrativos do
setor logístico.
Atualmente, o foco do setor logístico são as operações de manufatura ou militar. Não
existe ainda uma presença significativa dos conceitos logísticos nos setores de prestação de
serviços. A economia caminha para um crescimento acentuado dos setores de serviços,
possibilitando assim futuramente a implantação de um setor logístico em hospitais, bancos,
escolas; pois assim como a indústria, o setor de serviços também perceberá a importância da
administração de materiais e distribuição física.
2.1.ATIVIDADES LOGÍSTICAS NAS EMPRESAS
BALLOU(2007) afirma que estrategicamente a logística está em posição intermediária
entre a produção e marketing. O foco da operação logística é a movimentação e armazenagem
de materiais englobando transporte, manutenção de estoques, armazenagem e manuseio de
materiais.
13
É impossível dividir as atividades industriais de forma que cada área tenha
responsabilidades exclusivas não havendo sobreposição. Devido a esta situação aparecerão
inevitavelmente interfaces onde mais de um setor terá responsabilidade.
Como exemplo podemos citar a formação de preços ou criação de embalagens. Estas
atividades são administradas conjuntamente por logística e marketing. A formação de preços
sofre influências geográficas e possui fatores competitivos, daí a necessidade de uma
administração conjunta.
2.2.DISTRIBUIÇÃO FÍSICA
Segundo BALLOU(2007), distribuição física é o ramo da logística que trata da
movimentação, estocagem e processamento de pedidos dos produtos finais. Estas atividades
absorvem cerca de dois terços dos custos logísticos, sendo então a distribuição física assunto
importante em relação a custos.
A distribuição física preocupa-se com produtos acabados. Quando o produto é
finalizado na área de produção, é responsabilidade da logística a armazenagem e a entrega ao
cliente. A armazenagem pode se dar em depósitos locais ou depósitos remotos em locais
estratégicos. Há também os casos em que não ocorre à formação de depósitos sendo o produto
final entregue diretamente ao cliente.
A atenção do profissional em logística deve estar voltada em atender o cliente
garantindo a disponibilidade dos produtos à medida da necessidade deste cliente, fazendo isto,
é claro, ao menor custo possível.
Existem dois tipos de mercados alvo para o planejamento da distribuição física. Os
consumidores finais e os intermediários. Dentro do grupo de consumidores finais estão
aqueles que usam o produto para satisfazer suas necessidades, aqueles que fabricam outros
produtos e aqueles que vendem seus produtos aos seus clientes.
Podemos entender como consumidor intermediário àquele que não consome o produto,
mas sim revende para intermediários ou consumidores finais.
Estes dois grupos de consumidores diferem entre si no volume e perfil de suas
compras. Os consumidores finais compram poucas quantidades e são numerosos, comprando
com mais frequência. Consumidores intermediários compram com menos frequência, porém
os lotes são maiores.
14
Normalmente, as empresas possuem os dois tipos de clientes, exigindo dos sistemas de
distribuição física muita flexibilidade para atender a todos os clientes com o menor custo
possível. BALLOU(2007) cita três formas básicas de distribuição que podem ser utilizadas:
- entrega direta a partir de estoques de fábrica
- entrega direta a partir de vendedores ou da linha de produção
- entrega feita utilizando um sistema de depósitos
Quando um cliente compra produtos em quantidades para lotar um veículo, a entrega
pode ser feita direto da fábrica. O valor de frete é menor para cargas “cheias” com um único
destino no cliente. Isto gera um custo total de transporte menor. A prática de carga “cheia” é
muito utilizada por fornecedores de matéria-prima, que vendem grandes quantidades. Porém,
nem sempre é possível o uso desta prática, consumidores finais compram em pequenas
quantidades, encarecendo o custo logístico, se o produto for entregue direto da fábrica para o
cliente em localidades distantes.
Estes casos são supridos por um sistema de depósitos. Ocorre daí uma redução de
custos e uma melhoria no nível de serviço.
Com a existência de depósitos em pontos estratégicos próximos aos clientes, é possível
transportar mercadorias em grandes quantidades(cargas “cheias”) até estes depósitos
diminuindo o custo total do transporte. Daí transportar os produtos em cargas parciais, que
encarecem o custo, até o cliente, percorrendo menores distâncias. Com isso, o custo adicional
de estoques é compensado pelo custo de transporte global menor, tendo ainda uma melhoria
no nível de serviço. A figura seguinte mostra os fluxos típicos de uma distribuição física.
15
Figura 1. Fluxos típicos no canal de distribuição.(fonte:Adaptado de Ballou(2007))
De maneira geral, a administração da distribuição física é feita em três níveis:
1) Operacional
2) Tático
3) Estratégico
A administração estratégica define as características do sistema de distribuição de uma
forma geral, como a localização dos depósitos, sistemas informatizados a serem implantados e
escolha dos modos de transporte a serem utilizados.
O planejamento tático está relacionado com o uso eficiente dos recursos disponíveis,
investimentos como armazéns, caminhões e dispositivos de manuseio devem ser utilizados
com a maior eficiência possível. Caminhões precisam estar sempre transportando cargas
completas, armazéns utilizados em suas capacidades máximas disponíveis e equipamentos de
16
transmissão de pedidos com pouca ociosidade. É claro que estas condições nem sempre são
possíveis, necessitando esta situação de uma análise completa da parte dos administradores.
O nível operacional contempla os processos de transporte, manuseio, armazenagem e
distribuição nos seus mínimos detalhes. BALLOU(2007) resume este nível em “vamos fazer a
mercadoria sair!”. A dinâmica, a movimentação e a falta de ociosidade são termos que
realmente simplificam as preocupações operacionais.
2.3.A COMPENSAÇÃO DE CUSTOS
A administração da distribuição física considera três principais custos no planejamento:
- o custo de estoque;
- o custo de transporte;
- o custo de processamento de pedido.
BALLOU(2007) mostra na figura abaixo o comportamento destes custos em relação ao
número de armazéns no sistema de distribuição.
Figura 2. Compensação de custos para determinação do total de depósitos em um
sistema de distribuição.(fonte:Ballou(2007))
A figura 2 mostra um conflito existente entre os tipos de custo nos sistemas de
distribuição. À medida que se aumenta o número de armazéns o custo de estoque também
aumenta, já o custo de transporte diminui. O custo de processamento de pedidos varia de
forma desprezível não influenciando na tomada de decisões. O custo total representa a soma
17
dos outros três custos. O aumento do número de armazéns implica no aumento do custo de
estoque, aumento este que é compensado pela redução do custo de transporte.
Percebe-se através das figuras 2 e 3 que existe um ponto de equilíbrio entre os custos
da distribuição física. Neste ponto está o menor custo total possível. Para operar atividades
logísticas com o menor custo total, é preciso analisar as questões particulares de cada caso,
que varia de empresa para empresa, avaliando as necessidades e buscando pontos
compensatórios entre a quantidade de armazéns existentes e o custo gerado por eles.
BALLOU(2007) ilustra o conceito de custo total através de um exemplo de seleção de
modo de transporte:
“Um fabricante de instrumentos eletrônicos, localizado na Costa Oeste
estava interessado em providenciar bom serviço de distribuição para
mercados da Costa Leste. Foram consideradas três formas básicas de
transporte - aéreo, rodoviário e ferroviário. Tanto os custos como os
desempenhos associados a cada um destes serviços variavam
substancialmente. Na entrega porta a porta, o transporte aéreo
poderia levar um tempo médio de cerca de quatro dias, enquanto o
transporte por trem ou caminhão exigiria em média oito dias”.
Figura 3. Compensação de custos na seleção do modal de transporte.(fonte:Ballou(2007))
18
Tabela 1. Custos anuais para três alternativas de transporte para um fabricante de instrumentos eletrônicos.(fonte: BALLOU(2007))
Na figura 3 temos o comportamento geral de custo associado à escolha do modo de
transporte. Considerando o transporte ferroviário, aéreo e rodoviário, custos de processamento
de pedidos não se alteram em relação ao modal escolhido, já o custo de transporte e estoques
varia de acordo com o tipo de transporte.
Transportar produtos por avião implica em redução de custos de estoque, porém
acarreta custo alto de transporte. Geralmente, quanto mais eficiente é o meio de transporte,
menor nível de estoque é necessário nas pontas de movimentação de materiais. Apesar do trem
ser uma opção barata de transporte, sua utilização gera necessidade de maiores estoques
aumentando assim o custo total.
Nota-se que, para modal de transporte em relação a custos, também existe um ponto
que seria teoricamente o mais equilibrado para se compor uma estratégia de operação. Este
ponto contempla o menor custo total com a utilização de um transporte rodoviário. Mas isto
não é regra geral, devendo-se analisar cada caso e procurar a melhor solução. Transportar com
caminhões pode não ser a melhor solução para alguns casos. Isto fica claro na Tabela 1,
exemplo do fabricante de produtos eletrônicos citado anteriormente. Apesar do transporte
ferroviário ser o mais barato, o transporte aéreo se mostrou mais adequado, resultando em
custo total menor.
19
O fator decisivo neste caso é a distância a ser vencida. O fabricante precisa distribuir
seus produtos da Costa Oeste dos Estados Unidos para a Costa Leste. Sua intenção é
atravessar o país. Fazer esta distribuição de trem levaria o dobro de tempo em relação ao uso
do avião. Este é um exemplo de compensação de custos, o valor alto de se transportar por via
aérea é compensado pela baixa necessidade de estoques.
2.4.O PRODUTO LOGÍSTICO
Produto, na concepção logística, pode ser definido como um bem físico. Este bem
possui características físicas como forma, peso e volume, fatores que influenciam os custos
logísticos.
Relação peso-volume: A densidade de um produto está diretamente ligada aos custos
de armazenagem e transporte. Produtos com densidade alta, como o aço, garantem uma boa
utilização dos espaços de armazenagem e dos equipamentos de transporte. Produtos pouco
densos, como isopor ou lâmpadas, ocupam muito espaço em relação ao seu próprio peso,
encarecendo os custos de manuseio e armazenagem.
Relação valor-peso: A razão valor/peso de um produto deve ser analisada com cuidado
no planejamento logístico. Produtos com baixo valor específico, como areia, carvão e minério
de ferro geram baixos custos de estoque, porém os custos de transporte são elevados. Por sua
vez, produtos com alto valor específico, como jóias e eletrônicos, encarecem os custos de
estoque e geram custos de transporte mais baixos.
Substitutibilidade: Produto substituível é aquele cujo consumidor não nota diferença
em relação ao produto do concorrente. O consumidor pode comprar outra marca do mesmo
produto de imediato, caso o produto habitual não esteja disponível. Então, substitutibilidade se
traduz em vendas perdidas pelo fornecedor. A logística não tem controle sobre esta
característica dos produtos, devendo o administrador logístico viabilizar alternativas
mesclando transporte e estocagem para manter o produto altamente disponível no mercado.
Risco do produto: São os atributos de valor, flamabilidade, tendência à explosão,
perecibilidade e facilidade de roubo. Produtos com alto risco de roubo necessitam de cuidados
especiais na armazenagem e transporte. Produtos altamente perecíveis, precisam ser
transportados em caminhões refrigerados. A mistura de produtos contaminantes no mesmo
20
armazém pode encarecer os custos de distribuição pela necessidade de embalagens
apropriadas.
Embalagem do produto: A embalagem do produto possui vários objetivos,
BALLOU(2007) destaca dentre eles:
• Facilitar manuseio e armazenagem
• Promover melhor utilização do equipamento de transporte
• Proteger o produto
• Promover a venda do produto
• Alterar a densidade do produto
• Prover valor de reutilização para o consumidor
2.5.CONTROLE DE ESTOQUES
Segundo BALLOU(2007), estoques podem absorver de 25 a 40% dos custos totais da
empresa, devendo então ser o estoque gerenciado de forma correta.
Manter estoques melhora o nível de serviço, incentiva economias na produção, protege
contra aumentos de preço e incertezas quanto à demanda. Porém, manter ativos imobilizados
resulta em altos custos para empresa. O capital absorvido pelos estoques poderia estar sendo
investido em outras áreas, internas ou externas à empresa.
2.6.CUSTOS DE ESTOQUES
O custo relacionado a estoques apresenta três categorias:
• Custos de manutenção: Associados aos custos para se manter uma quantidade de
mercadorias por um certo período de tempo.
• Custos de requisição: Associados à compra de itens necessários para reposição do
estoque.
• Custos de falta de estoques: Custo associado à falta de um item demandado por um
cliente no estoque.
21
2.7.PREVISÃO DA DEMANDA
Prever o nível de vendas é assunto muito importante para qualquer empresa. A técnica
mais comum utilizada em controle de estoques é a previsão de vendas passadas. Segundo
BALLOU(2007), 85% das empresas americanas utilizam este método de previsão.
A técnica baseada em vendas passadas mais utilizada é a suavização exponencial. É
uma técnica fácil de usar e necessita de poucos dados acumulados. Ela se autocorrige caso
aconteça alteração de demanda. Sua fórmula básica é:
))(1()(Pr AR PaDaevisão −+=
onde
=a 0,1 a 0,3(constante de suavização exponencial)
=RD Demanda real
=AP Previsão anterior
2.8.ESTOQUE MÍNIMO (PONTO DE REPOSIÇÃO OU LOTE ECON ÔMICO DE
COMPRA)
O ponto de reposição tem como objetivo iniciar o processo de ressuprimento
antecipadamente para que não aconteça a falta do material. O lote econômico de compra pode
ser calculado através da seguinte equação:
EC
DAQ
2=
onde
Q=quantidade a ser reposta
D =demanda anual(unidades)
A=custo de aquisição por pedido
E =custo de manutenção anual do item(%)
C =custo do item
3.SISTEMAS LOGÍSTICOS REVERSOS
Até o momento, foram apresentadas as características gerais do que se pode chamar de
“espinha dorsal” da logística clássica: A distribuição física, o produto logístico e o controle de
estoques. A partir de agora, a proposta é desenvolver um tema ainda restrito, de pouca
22
divulgação no setor industrial, que somente há poucos anos vem ganhando à atenção do
empresário.
A produção crescente, a criação acelerada de novos produtos que tendem a ter tempo
de vida cada vez menor, e a necessidade de estratégias mais competitivas visando o lucro,
fizeram com que os fluxos reversos de materiais ganhassem importância na indústria. Grandes
quantidades de produtos já consumidos devem de alguma forma retornar a cadeia produtiva,
com o objetivo de recuperar valores.
As empresas, atualmente, prezam por uma imagem corporativa e ecologicamente
correta e a manutenção desta imagem se torna difícil quando toneladas de produtos já
utilizados causam poluição ambiental. O governo lança mão de leis rígidas que
responsabilizam as empresas e seus processos pelo controle de detritos lançados no ambiente.
A tendência da população ao consumismo e descartabilidade é realidade, exigindo do
empresário um estudo mais aprofundado sobre a administração dos retornos. Este crescente
interesse em fluxos reversos otimizou estudos de fluxo reverso do passado, atribuindo várias
definições para o termo “logística reversa”.
LEITE(2009) apresenta uma definição dada por ROGERS e TIBBEM-
LEMBKE(1999,P.2):
É o processo de planejamento, implementação e controle da
eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em
processo, produtos acabados e informações correspondentes de ponto
de consumo ao ponto de origem com o propósito de recapturar o
valor ou destinar à apropriada disposição.
Em conseqüência, LEITE(2009) define logística reversa como a utilização de sistemas
operacionais diferentes em cada categoria de fluxos reversos, com o objetivo de tornar
possível o retorno de bens, ou dos materiais dos quais são compostos, aos ciclos produtivos,
agregando valores econômico, ecológico e legal.
O conceito de logística reversa ainda está em evolução, podendo sofrer transformações
em relação à sua abrangência, dependendo das novas possibilidades de negócio e do valor
estratégico da sua aplicação.
Do ponto de vista operacional, a logística reversa utiliza as mesmas ferramentas da
logística clássica:
• Localização de origens e destinos
23
• Sistemas de informação
• Definições de rede operacional
• Modos de transporte
• Armazenagem
• Gestão de estoques
3.1.CUSTOS NA LOGÍSTICA REVERSA
Os custos na logística reversa estão, em geral, associados às operações da logística
clássica. Porém existem algumas distinções que devem ser feitas.
Custos contabilizados: Soma dos custos de armazenagem, transporte e sistemas de
informação, relacionados ao tipo de canal reverso. Somam-se os custos de seleção de produtos
retornados e distribuição destes produtos.
Custos de gestão: São os mesmos indicadores utilizados na logística clássica como os
custos controláveis, metas, melhorias, etc.
Custos pouco visíveis: Estão relacionados com imagem da empresa. Falhas de
atendimento, desperdícios de tempo e outros recursos podem denegrir a imagem corporativa
da empresa em relação à comunidade. Estes custos são intangíveis e envolvem a imagem da
marca, sendo também denominados de custos de risco.
Segundo LEITE(2009), em 85% dos casos o cliente abandona a marca do produto
devido a uma falha ou experiência negativa. Conquistar um cliente custa cinco vezes mais que
mantê-lo. Quanto maior é a regularidade de um cliente maior é o lucro gerado por ele. Se gasta
muito mais para recuperar uma imagem do que mantê-la.
3.2.COMPETITIVIDADE NA LOGÍSTICA REVERSA
A logística de retorno produz um número de transações que é de cinco a dez vezes
maior do que o número de transações da logística direta(logística clássica de envio). O custo
gerado pelo fluxo reverso pode ser de três a cinco vezes maior que o custo de envio.
O fator de compensação de custos pode e deve ser utilizado também na administração
de fluxos reversos. LEITE(2009) cita PORTER(1985) que sugere atitudes que podem criar
relacionamentos duradouros entre clientes e empresas:
• Redução de desperdícios de matéria-prima: fornecimento de produtos customizados.
24
• Redução de custo de mão-de-obra: facilitação de operações.
• Redução de tempo de espera: oferecer confiabilidade e pronta disposição.
• Redução de custos de manutenção de estoques: proporcionar flexibilidade e entrega
rápida.
• Redução dos custos de poluição: coleta de destino adequado dos materiais.
• Redução dos custos de reparo: melhor confiabilidade do produto.
Do ponto de vista do fabricante, a logística reversa pode oferecer ganhos competitivos
desde que seja possível a reintegração dos retornos ao ciclo produtivo ou de negócio.
3.3.*GANHOS DE COMPETITIVIDADE DO FABRICANTE NO RET ORNO
Estratégia de competitividade:
• Reaproveitamento de componentes.
Atividades da logística de retorno:
• Montagem da rede logística reversa.
• Coletas e suprimento de produtos de retorno à linha de desmanche.
• Distribuição dos produtos ou componentes remanufaturados nos mercados
secundários.
• Apoio ao processo industrial.
Ganhos de competitividade:
• Competitividade de custos operacionais pelas economias na confecção do produto.
• Competitividade de imagem corporativa.
Estratégia de competitividade:
• Reaproveitamento de materiais constituintes.
Atividades da logística de retorno:
• Montagem da rede logística reversa.
• Coletas e suprimento de produtos de retorno à linha de desmanche.
• Distribuição das matérias-primas secundárias nos mercados secundários.
Ganhos de competitividade:
• Competitividade de custos operacionais pelas economias na confecção do produto.
25
• Competitividade de imagem corporativa.
Estratégia de competitividade:
• Adequação fiscal.
Atividades da logística de retorno:
• Adequação da cadeia reversa às condições.
Ganhos de competitividade:
• Competitividade de custos.
Estratégia de competitividade:
• Demonstração de responsabilidade empresarial.
Atividades da logística de retorno:
• Montagem e operação da rede logística reversa.
Ganhos de competitividade:
• Competitividade de imagem corporativa.
*Adaptação de LEITE(2009, pág.34)
4.LOGÍSTICA REVERSA DOS BENS DE PÓS-CONSUMO
4.1.CONCEITOS
Para compreender os fluxos logísticos reversos, algumas definições relacionadas à
produção de bens materiais devem ser trabalhadas.
Vida útil de um bem: Tempo decorrido desde sua produção original até o momento
em que o primeiro possuidor de desfaça deste bem.
Bens descartáveis: Bens com duração média de vida útil de algumas semanas. Ex:
Materiais de escritório, embalagens, brinquedos, fraldas, jornais, etc.
Bens duráveis: Apresentam vida útil média que varia de alguns anos a décadas. Ex:
Máquinas e equipamentos industriais, automóveis, eletrodomésticos, edifícios, aviões, navios,
etc.
Bens semiduráveis: Apresentam vida útil de alguns meses, não ultrapassando dois
anos. Esta é uma categoria intermediária, apresentando características de bens duráveis e
26
descartáveis. Ex: Baterias de celular, óleos lubrificantes, computadores, baterias de veículos,
etc.
A preocupação da logística reversa de bens de pós-consumo é justamente o caminho
que estes bens percorrem após o fim de sua vida útil. Estes bens, ou suas partes constituintes
devem retornar ao processo de negócio agregando valores econômicos, sociais e ambientais.
LEITE(2009) define logística reversa de pós-consumo como “área da logística reversa que
equaciona e operacionaliza o fluxo físico e as informações de bens de pós-consumo
descartados pela sociedade, que retornam ao ciclo produtivo por meio de canais reversos
específicos”.
Então, bens produzidos em algum momento se tornam o produto da logística reversa de
pós-consumo, com o fim de sua vida útil. O destino destes materiais pode acontecer de forma
segura ou não.
Disposição final segura: Usa-se meio controlado para desembaraço dos bens para que
não haja poluição ambiental ou prejuízo para a sociedade.
Disposição final não segura: O destino dos bens acontece de maneira não controlada,
sendo feito em lixões, terrenos baldios, mares, rios, etc.
4.2.CANAIS REVERSOS DE DISTRIBUIÇÃO
Segundo LEITE(2009), canais reversos de distribuição são “as etapas de
comercialização e industrialização pelas quais fluem os resíduos industriais e os diferentes
tipos de bens de utilidade ou seus materiais constituintes, até sua reintegração ao processo
produtivo, por meio de reúso, remanufatura ou reciclagem”.
4.3.FLUXOS DIRETOS E REVERSOS
Fluxos diretos são os produtos e materiais constituintes que fluem de forma
direta(logística clássica) são chamados de fluxos diretos, enquanto que os produtos e materiais
constituintes que fluem no sentido inverso são chamados de fluxos reversos. Tem-se então
uma relação entre estes fluxos:
PoluiçãoFDFR
EquilíbrioFDFR
⇒<⇒=
onde
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=FR Fluxo reverso
=FD Fluxo direto
4.4.ÍNDICE DE RECICLAGEM
LEITE(2009) define índice de reciclagem de um bem durável “... como a relação
percentual entre as quantidades recicladas(fluxo reverso) de um determinado bem durável de
pós-consumo, em um período de tempo e em determinada região, e a quantidade total
produzida do mesmo bem, no mesmo período e na mesma região”.
O índice de reciclagem do material constituinte de um bem durável pode ser definido
como a relação entre quantidades recicladas do material constituinte em um certo espaço de
tempo e as quantidades produzidas deste material originadas de produtos de pós-consumo.
Tabela 2.Valores médios de taxas de reciclagem de materiais no Brasil(fonte:
Cempre(2000;2006) adaptado de LEITE(2009))
Material 2000 2006
Papel de escritório 37% 47%
Papel ondulado 60% 77%
Plástico-filme 15% 20%
Latas de alumínio 61% 94%
Vidro 27,6% 46%
Latas de aço 18% 47%
Plástico rígido 15% 20%
Plástico PET 21% 51%
Canal reverso de ciclo aberto
O foco deste tipo de canal reverso é o material constituinte do produto de pós-
consumo. Consiste nas etapas de retorno dos materiais constituintes visando sua reintegração
ao processo produtivo possibilitando a substituição de matérias-primas novas.
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Uma tendência no projeto de produtos é criá-los de forma que a sua desmontagem seja
facilitada, utilizando poucos tipos de materiais, evitando produtos com partes coladas ou
soldadas. Exemplos de cadeias reversas de ciclo aberto são os ciclos dos automóveis, navios,
máquinas, eletrodomésticos, etc.
Canal reverso de ciclo fechado
Constitui etapas de retorno do produto de pós-consumo nas quais os materiais
constituintes são extraídos de forma seletiva para a fabricação de um produto similar ao de
origem. Todas as etapas reversas são especializadas na revalorização do produto.
Óleos lubrificantes usados, baterias de veículos descartadas e latas de alumínio são
exemplos deste tipo de ciclo reverso.
4.5.ENTRADA DOS BENS DURÁVEIS NO CICLO REVERSO
Quando um bem durável chega ao fim de sua vida útil, parando de funcionar, sofrendo
algum tipo de avaria ou simplesmente é trocado por um modelo mais novo, este bem está apto
a entrar em uma cadeia de fluxo reverso. Pessoas físicas descartam estes bens por meio de
coletas informais como catadores de lixo, mas a saturação de aterros e lixões nas grandes
cidades faz com que esta coleta seja dificultada.
É justamente esta dificuldade em coletar produtos com vida útil encerrada que estimula
o aparecimento de redes reversas bem estruturadas para aproveitamento econômico do
descarte.
Canais reversos de reúso
Os bens são coletados nas fontes de coleta e enviados para o mercado de segunda mão
sendo compradores destes bens geralmente comerciantes estabelecidos ou empresários de
remanufatura. Automóveis, computadores e máquinas operatrizes são exemplos de produtos
para reúso, assim como leilões destes mesmos bens.
Canais reversos de remanufatura
São as etapas de coleta, classificação e transporte aos diferentes locais de
processamento do bem durável de pós-consumo. O produto é limpo, desmanchado e
submetido a testes nos seus componentes para verificação de possibilidade de
reaproveitamento. Um novo produto é confeccionado e disponibilizado para venda.
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A remanufatura traz grande economia para as empresas já que as principais partes
constituintes dos produtos são reaproveitadas. Apesar de representar oportunidades de ganho
econômico, a remanufatura ainda é pouco utilizada pelas empresas, que muitas vezes tem
pouca informação sobre seu potencial benéfico ou receio em relação aos desafios envolvidos.
O setor de remanufatura representa altos valores econômicos que podem ser
comparados com áreas de produção direta. Nos Estados Unidos, por exemplo, o setor pode ser
comparado, em quantidades de vendas, aos setores da indústria de bens duráveis domésticos e
a indústria siderúrgica. Fabricantes originais podem desenvolver atividades de remanufatura,
assim como empresas especializadas e empresas de remanufatura independentes. Elas
participam desde a captação dos produtos de pós-consumo(carcaças) até a redistribuição
destes produtos no mercado.
4.6.CANAIS REVERSOS DE BENS DESCARTÁVEIS
A fontes geradoras deste tipo de bem são as residências e as empresas comerciais e
industriais. São as embalagens descartáveis de materiais constituintes(vidro, plástico, papel),
objetos de pequeno volume e nas indústrias são alguns componentes de embalagens e resíduos
industriais. O canal reverso, neste tipo de bem, se configura com os sistemas de coleta.
Coleta domiciliar de lixo
Não havendo seleção, o lixo urbano domiciliar é uma mistura de material reciclável
com resíduos orgânicos. Este lixo é coletado nos domicílios e depositado em aterros que
geralmente estão sobrecarregados. LEITE(2009) exemplifica este tipo de coleta citando o caso
da cidade de São Paulo. Eram coletadas diariamente aproximadamente 16 mil toneladas/dia
em 2006 e isto é preocupante considerando-se que em 1985 a quantidade diária de lixo
coletado era de 4450 toneladas.
Um caminhão de coleta domiciliar tem capacidade de 10 toneladas, dependendo da
compactação do material. Seriam necessários 1600 caminhões para transportar o lixo diário da
cidade de São Paulo, isto não considerando o tempo de trajeto entre os pontos de coleta e o
destino no aterro. Percebe-se então a seriedade do problema da coleta de lixo urbano.
Coleta seletiva
Qualquer coleta que tenha uma seleção prévia do material pode ser chamada de coleta
seletiva. É feita a separação do material reciclável do resíduo orgânico, procedimento este que
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desafoga os aterros e torna o material reciclável mais atraente do ponto de vista operacional e
econômico. Os materiais são separados em grandes classes(vidro, plástico, papel,etc) e
embalados visando à diminuição de volume para obterem-se menores custos de transporte. A
coleta seletiva mostra-se uma das melhores opções para captação de lixo nos grandes centros,
possibilitando que o material reciclável não se misture com o resíduo orgânico, a coleta
seletiva desvia quantidades de materiais dos aterros, aumentando a qualidade e quantidade do
material reciclável.
5.NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO NAS CADEIAS REVERSAS
Nível de integração é maneira como as empresas se apoderam dos materiais de pós-
consumo e fazem a recolocação deste material no processo. Nas cadeias reversas de
remanufatura podemos ter:
Empresas não integradas: Compram as carcaças de distribuidores que são
encarregados da coleta direta no mercado. Não é realizado nenhum processamento por parte
destes distribuidores no material.
Empresas integradas: Implantam um sistema de coleta próprio na sua região,
realizando transporte do material diretamente para aproveitamento em seus processos.
Para os ciclos reversos de reciclagem as empresas podem executar algumas das fases
reversas ou adquirir material reciclado diretamente do mercado.
Empresas não integradas em reciclagem: É feita a compra de materiais da indústria
de reciclagem ou de agentes distribuidores de materiais reciclados. Os materiais podem
substituir matérias-primas no processo pois apresentam condições técnicas para tal.
Empresas integradas em reciclagem: A coleta dos produtos de pós-consumo é feita
diretamente da fonte primária pela própria empresa ou por meio de parcerias. É realizado um
beneficiamento no material para reaproveitamento.
5.1.FATORES DE INFLUÊNCIA NA IMPLANTAÇÃO DE CADEIAS REVERSAS
Podem-se destacar algumas condições essenciais para que uma cadeia reversa seja
iniciada:
Remuneração em todas as etapas: Os participantes do ciclo devem ter interesse
econômico, devendo os materiais possuir condições de mercado satisfatórias.
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Qualidade dos materiais reciclados: Os materiais não devem estar contaminados,
tendo alta viabilidade técnica de reintegração ao processo.
Escala econômica de atividade: As quantidades devem ser constantes no tempo, para
que as atividades aconteçam em escala empresarial e econômica.
Mercado para os produtos reciclados(remanufaturados): É necessário que exista
um mercado consumidor destes produtos reaproveitados em quantidade e qualidade
suficientes.
Para que um sistema reverso funcione a nível empresarial, é necessário que se satisfaça
a algumas condições de existência. Existem fatores de influência e fatores modificadores.
Como fatores de influência temos os Fatores Econômicos que são as condições que
possibilitem a reintegração do material ao processo de forma econômica garantindo
remuneração adequada aos agentes da cadeia.
Fatores Tecnológicos são as tecnologias necessárias para a realização das etapas
reversas de separação ou desmontagem dos produtos de pós-consumo. Estas tecnologias
devem permitir um tratamento dos materiais tornando o processo viável tecnicamente e
economicamente.
Às condições de organização, sistema de transporte e localização entre os elos da
cadeia reversa, chamamos de Fatores Logísticos.
Como fatores modificadores externos temos os Fatores ecológicos e Fatores
legislativos. Estes fatores estão relacionados a interesses de sustentabilidade ambiental de um
dos agentes da cadeia, como o governo ou as empresas. Também incluem a regulamentação de
processos exigidos pelos governos na forma de leis que devem ser cumpridas.
5.2.ETAPAS SEGUINTES À COLETA
Seleção, separação e adensamento
Os materiais são separados, é feita uma seleção pelo tipo de natureza do material e
posteriormente o material é adensado para facilitar o transporte. São geralmente “sucateiros”
ou alguma empresa especializada que realiza este processo. Esta especialização se dá por tipo
de material(ferro, vidro, plástico, etc.).
32
Processo industrial de reciclagem
É a extração ou separação de materiais componentes do produto retornado, eliminando-
se qualquer contaminação existente. Prepara-se os componentes dentro das especificações
exigidas e reintegra-se os mesmos ao processo. O projeto do produto pode contribuir para a
viabilidade técnica e financeira deste processo, pois os tipos de ligas e formas de união nos
produtos definem a dificuldade na desmontagem.
O uso de colas ou solda deve ser evitado porque dificulta a desmontagem. As ligas ou
mesclas de materiais ocasionam imensa dificuldade nos processos de reaproveitamento porque
sua separação exige processos mais complexos e caros.
Produtos com diferentes cores devem, no processo de reciclagem, ter estas eliminadas.
Isto causa um aumento de custo no processo de reaproveitamento.
Reintegração ao ciclo produtivo
É a última etapa do canal reverso onde os materiais são utilizados em substituição a
matérias-primas novas por terem alguma vantagem competitiva.
5.3.RECICLABILIDADE
É o nível de capacidade de um produto em adequar-se tecnicamente às fases de retorno
do ciclo produtivo. LEITE(2009) aponta as principais características:
• Facilidade de transporte
• Facilidade de desmontagem
• Aptidão para a remanufatura
• Facilidade de separação
• Facilidade de extração do material constituinte
• Conservação das propriedades originais
• Número de reutilizações possíveis
• Nível percentual de substituição das matérias-primas novas
5.4.OBJETIVO ECONÔMICO NOS CANAIS REVERSOS
Nos canais de remanufatura, o objetivo econômico é o reaproveitamento de parte de
um produto, fazendo-se a coleta de conjuntos chamados no mercado de “carcaças”,
substituindo-se peças e tornando o produto capaz de realizar as suas funções originais. O uso
33
de “carcaças” permite economia na energia de execução do produto e, segundo LEITE(2009),
podem ser esperados ganhos de 40 a 60% nos custos com uma utilização de esforço de
fabricação de somente 20% na produção de um produto novo. Um Produto remanufaturado
tem preço final de 30 a 50% menor em relação ao produto original.
Os canais de reciclagem têm como objetivo econômico reintegrar materiais oriundos
dos bens de pós-consumo ao processo como matérias-primas para fabricação de outras
matérias-primas ou como matérias-primas para fabricação de outros produtos.
5.5.FORMAÇÃO DE PREÇO
De maneira geral, o preço do produto reciclado(remanufaturado) se forma pelo
encadeamento das diversas etapas do ciclo reverso:
Figura 4.Etapas de comercialização e formação de preço do produto reciclado(adaptado de
LEITE(2009), Pág.104)
O preço é, portanto, formado pela soma dos custos e os lucros dos agentes da cadeia
reversa. Estudos citados por Penman e Stock(1995) indicam que a diferença entre os preços de
matérias-primas recicladas e o preço das matérias-primas que substituem são em média de
25%, afirma LEITE(2009).
LEITE(2009) também cita um acompanhamento demonstrado por MORRIS(1998),
num prazo de dez anos, que a diferença de preços entre lingotes de alumínio e latas de
alumínio de pós-consumo ficou em torno de US$ 500/t, equivalendo de 25 a 30% do valor do
alumínio virgem. Como regra geral, o valor do material reciclado deve ficar abaixo do valor
da matéria-prima correspondente, mas variando de forma equivalente no tempo.
Etapa da coleta Custo da coleta(Cc)= custo da posse(Cp) + custo de beneficiamento inicial(Cb) Preço de venda ao sucateiro= Cc + lucro do coletor(Lc) Etapa do sucateiro Custo para o sucateiro= Cc + Lc + custo próprio(Cs) Preço de venda do sucateiro= Cc + Lc + Cs + lucro do sucateiro(Ls) Etapa de reciclagem Custo do reciclador= Cc + Lc + Cs + Ls + custo próprio(Cr) Preço de venda do reciclador= Cc + Lc + Cs + Ls + Cr + lucro do reciclador(Lr)
34
6.ESTUDO DE CASO
O objetivo a partir de agora é mostrar uma visão prática do ciclo reverso e suas
vantagens no processo industrial. As empresas podem realmente obter vantagens competitivas
elaborando o reaproveitamento de produtos de pós-consumo, conseguindo também uma
imagem corporativa de compromisso social, imagem esta muito valorizada nos dias atuais, em
função das preocupações sócio-ambientais que envolvem os setores industriais.
6.1.A EMPRESA
Atuando no Brasil desde 1965, a Cargill é uma das maiores indústrias de alimentos do
país, é a maior exportadora de soja e uma das maiores processadoras de cacau da América
Latina. Sediada em São Paulo(SP), possui unidades industriais e administrativas em cerca de
120 municípios, onde trabalham aproximadamente 6 mil funcionários.
A responsabilidade corporativa é um dos lemas de atuação da empresa, motivando
assim a constante busca de alternativas que viabilizem crescimento aliado às responsabilidades
sociais e ambientais.
6.2.PRODUTO – AMIDO DE MILHO
A empresa fornece amido para indústrias dos setores de celulose, chocolates,
cervejaria, sorvetes, balas entre outros. O produto é originário do milho e possui sabor e odor
característico na forma de um pó fino e branco.
O amido de milho é vendido a granel e embalado em sacos de papel de 25 kg e também
em Big Bags com capacidade variando entre 500 kg e 1250 kg.
O Big Bag é uma embalagem para produtos a granel fabricado em Polipropileno de alta
resistência e tenacidade, podendo ser tratado contra raios ultravioleta. O Big Bag facilita muito
a carga, descarga e manuseio dos produtos sendo de larga utilização na indústria.
Geralmente o Big Bag é composto por duas válvulas, uma superior por onde o produto
é colocado e uma inferior por onde o produto é descarregado, ambas fechadas por cordas de
amarração.
35
Figura 5.Embalagens tipo Big Bag.
A embalagem de 25 kg é fabricada em papel multifolhado, com duas camadas de
papel, uma interna em contato com o produto e outra externa onde são impressas as
informações sobre o produto e a empresa.
A embalagem de 25 kg não possui detalhes visuais porque não se destina ao
consumidor final e sim às indústrias. Seu objetivo é oferecer qualidade e fácil utilização na
linha de produção.
Figura 6.Embalagem em papel de 25 kg (Fonte:software de qualidade da empresa)
6.3.IMPLANTAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA
A maior vantagem do Big Bag é a possibilidade de reaproveitamento no processo
produtivo após limpeza e sanitização do mesmo. O projeto de logística reversa prevê a retirada
das embalagens dos clientes, a reciclagem e a recolocação em condições de uso no centro
produtivo.
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O Big Bag de 1000 kg é o mais utilizado pela empresa. Alguns clientes exigem que o
amido de milho seja comercializado em Big Bags, mas a empresa nunca havia pensado na
possibilidade de retorno destas embalagens para reutilização. A reciclagem do Big Bag
proporciona uma economia considerável e diminui os resíduos na produção dos clientes
porque a embalagem não será mais descartada. O projeto incentiva também o abandono da
embalagem de 25 kg porque além desta ter um custo maior para a empresa, a própria
embalagem e seus acessórios de transporte não serão mais descartados.
Figura 7.Fluxo logístico antes do projeto de Logística reversa.
Figura 8.Fluxo logístico após a implantação do projeto de Logística reversa.
6.4.COMPARAÇÕES(SACO 25KG X BIG BAG NOVO E RECICLAD O)
A introdução da Logística reversa permite uma maior competitividade na cadeia como
um todo. Consumidores podem comprar maiores quantidades ou começar a ter acesso a
produtos que antes não eram acessíveis devido ao custo alto.
37
Tabela 3.Comparativo saco 25kg x Big Bag novo e reciclado(*para uma tonelada de amido)
O custo total do saco de 25 kg é R$ 41,60 contra R$ 36,10 do Big Bag novo e R$ 20,10
do custo do Big Bag reciclado. Com certeza, o Big Bag reciclado é viável em relação à
embalagem de 25 kg e ao Big Bag novo. A necessidade de embarque paletizado do saco de 25
kg gera custos adicionais com os acessórios utilizados, fato que não ocorre com os Big Bags.
Podemos identificar o papel sustentável da Logística reversa porque os acessórios
como plásticos e papéis, necessários ao embarque das embalagens de 25 kg não são mais
descartados pelo cliente devido à substituição destas pelos Big Bags.
7.ECONOMIAS OBTIDAS
A empresa aproveitou a estrutura interna disponível como equipamentos de
movimentação ociosos, espaços para armazenagem e profissionais de diversos departamentos
para suprir a nova demanda devido à implantação do sistema logístico reverso.
A reciclagem das embalagens é terceirizada, para tanto foi desenvolvido um fornecedor
especialista neste tipo de serviço que coleta as embalagens nos clientes, recicla e entrega as
mesmas prontas para serem utilizadas no processo produtivo. A reciclagem tem um custo por
unidade de R$ 18,00 sendo este valor fixo, independente do tamanho do Big Bag. Isto
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acontece porque os principais custos do fornecedor não sofrem alteração em função do
tamanho da embalagem.
Tabela 4. Economia total no ano de 2004.
Feita uma análise da tabela 4 podemos constatar que se todas as embalagens que foram
recicladas fossem compradas novas o custo total seria de R$ 292.285,00 enquanto que o custo
de reciclagem totalizou R$ 159.696,00. A diferença representa 45% de economia, o que é
considerável.
Figura 9.Quantidade utilizada e comprada no ano de 2004.
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A figura 9 traz informações sobre quantidades utilizadas e compradas em 2004. As
embalagens tipo Big Bag de 1000 kg e 1250 kg foram as mais utilizadas e percebemos que a
embalagem de 1000 kg tipo reciclada consumiu 6300 unidades contra 1325 unidades
compradas novas. Portanto, 79% das embalagens de 1000 kg utilizadas são recicladas,
demonstrando a maior utilização de reciclados no processo e sua boa aceitação.
Fica claro que acontece então uma diminuição nos custos totais de produção da
empresa e conseqüentemente um aumento na competitividade. O dados analisados permitem
que se conclua que o reaproveitamento destas embalagens traz vantagens econômicas
consideráveis, tornando totalmente viável o ciclo reverso e trazendo para empresa uma
melhora de sua imagem corporativa no que diz respeito a seus clientes e a sociedade onde está
inserida.
8.CONCLUSÃO
A visão de sustentabilidade com processos mais conscientes não é somente
responsabilidade do governo ou de certas classes sociais. Todos nós temos um papel
importante a cumprir dentro de um cenário onde as preocupações ambientais estão se tornando
prerrogativas básicas para se realizar qualquer projeto. A natureza pede socorro!
Como iremos manter o alto nível de produção e consumismo atual, sem se pensar em
fontes renováveis de recursos, métodos de produção ecologicamente corretos e respeito ao
planeta. Se práticas não forem realizadas o quanto antes, vamos literalmente cobrir nosso
planeta de lixo e não haverá mais espaço para a produção e o consumo.
Um dos papéis dos ciclos reversos é justamente possibilitar a continuidade dos
processos industriais com ações visando à produção e consumo sustentáveis, trazendo para a
empresa uma imagem corporativa ecologicamente correta somada a redução dos custos de
produção.
A visão do retorno deve estar presente inclusive no projeto de novos produtos. O
engenheiro de produto precisa considerar hipóteses como composição dos materiais,
componentes soldados ou colados, estratégias para captação do produto pós-consumo, etc. A
tendência é que produtos tenham apenas um tipo de material, seus componentes não sejam
soldados ou colados, já que cuidados como estes facilitam o fluxo reverso.
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A boa notícia é que o empresário mudou, através dos anos, seu conceito sobre a
logística, que ganhou uma visão mais estratégica dentro do negócio e participa mais
diretamente das decisões importantes porque é reconhecido o papel logístico de agregação de
valores ao produto.
O olhar empresarial se volta também aos fluxos reversos, como mostra o estudo de
caso apresentado, a implantação da logística reversa é economicamente viável, trazendo
redução de custos e melhorando a imagem da empresa.
Meios sustentáveis de produção serão cada vez mais necessários e profissionais das
diversas áreas industriais devem estar atentos às mudanças e buscar o aperfeiçoamento
contínuo. A logística reversa atua em todo este contexto de forma relevante como instrumento
de apoio às decisões estratégicas, abrangendo produção, sociedade e meio-ambiente.
9.Bibliografia
BALLOU, Ronald H; Logística Empresarial; 1ª edição; São Paulo; Ed. Atlas; 2007.
LEITE, Paulo Roberto; Logística Reversa: Meio ambiente e competitividade; 2ª edição; São
Paulo; Ed. Pearson; 2009.
ENEGEP.XXVI,2006,Fortaleza.O estudo de caso do projeto de logística reversa: reutilização
de embalagens do tipo big bag. 8 págs.