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FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA – GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO HUGO ALEXANDRE CAETANO GUIMARÃES MAT.200991043 PROJETO UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA E SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE DO RIO DE JANEIRO

TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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Page 1: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN

CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA – GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO

HUGO ALEXANDRE CAETANO GUIMARÃES

MAT.200991043

PROJETO UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA E SUA

INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE DO RIO DE JANEIRO

RIO DE JANEIRO

2011

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HUGO ALEXANDRE CAETANO GUIMARÃES

MAT.200991043

PROJETO UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA E SUA

INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE DO RIO DE JANEIRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado as

Faculdades Integradas Simonsen como requisito

parcial para obtenção de titulo de licenciatura em

geografia

Prof. Orientador: Eliane Borba

RIO DE JANEIRO

2011

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D e d i c a d o a o s i r m ã o s i n c l u s o s , g u e r r e i r o s i n c a n s á v e i s , c o m a d i f í c i l m i s s ã o d e n o s t r a z e r a p a z .

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AGRADECIMENTOS

A meus pais pela confiança e investimento depositados em meu potencial.

A Minha Esposa Débora que amo, por compreender a importância de todo este trabalho.

Ao Sr. Nelson Machado irmão querido, desde o início meu grande incentivador .

Ao Sr. Major Fafalat, mentor intelectual, deste projeto.

A Professora e Coordenadora Eliane Borba, por seu entusiasmo e devoção.

Aos Professores pela atenção e dedicação a toda essa vereda.

Aos colegas de curso pelo apoio desde o primeiro dia.

Aos colegas de trabalho pela determinação e coragem.

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“É preciso ter um caos dentro de si, para dar à luz uma estrela cintilante.” “Friedrich Nietzsche”

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RESUMO

GUIMARÃES, Hugo Alexandre. Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência

na sociedade do Rio de Janeiro. Professora Orientadora: Eliane Borba; Rio de Janeiro, 30

folhas, Trabalho de Conclusão de Curso.

A cidade do Rio de Janeiro encontra-se em um processo de ocupação em comunidades

dominadas por facções criminosas, através de um projeto da Secretaria de Segurança Pública

do Estado do Rio de Janeiro denominado Unidade de Polícia Pacificadora, também conhecido

pela sigla UPP.

Segundo o Governo do Estado do Rio de Janeiro, este projeto pretende erradicar as

quadrilhas que agem à margem da lei em todas as comunidades existentes no Estado,

recuperar estes territórios dominados por narcotraficantes e milicianos por décadas e devolver

estes espaços a sociedade.

Justificando a busca em entender esta nova realidade do universo sócio espacial

carioca, que está modificando o comportamento populacional dos espaços segregados pelo

Estado de Direito, que este trabalho pretende demonstrar os benefícios para as comunidades

contempladas com o projeto do atual governo e as mudanças comportamentais da sociedade

atingida por este novo projeto de segurança pública implementado pelo atual Governo

Estadual, não deixando de relatar os problemas no relacionamento entre moradores e

policiais, enfatizar as consequências para outras áreas da cidade e do Estado não

contempladas pela implantação deste novo modelo de policiamento, e esclarecer o fenômeno

da migração da criminalidade causada pela implantação das Unidades Pacificadoras.

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ABSTRACT

GUIMARÃES Hugo Alexandre. Project Pacification Police Unit and its Influence in the

Society of Rio de Janeiro. Advisor teacher: Eliane Borba, Rio de Janeiro, 30 Sheets, End of

Course Work.

The city of Rio de Janeiro, is in the process of occuping communities dominated by

gangs, through a project of the Department of Public Security of the State of Rio de Janeiro

called Pacification Police Unit, also known by the acronym UPP.

According to the Government of the State of Rio de Janeiro, this project aims to

eradicate the gangs who act out law in all communities of the State, by recovering these areas

dominated by drug traffickers and militia and return to decades these spaces to society.

Justifying the quest in understand this new reality of the socio-spatial universe

“carioca”, who is modifying the behavior of the population segregated spaces for the rule of

law, that this paper seeks to demonstrate the benefits to the communities dealt with the design

of current government and the behavioral changes society affected by this new public safety

project implemented by the current State Government, not forgetting to report problems in the

relationship between residents and police, to emphasize the consequences for other areas of

the city and the state not covered by the implementation of this new model of policing, and

clarify the phenomenon of migration of crime caused by the deployment of Peacekeeping

Units.

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LISTA DE TABELAS

1 Tabela estatística de homicídios em áreas com UPP. Fonte: www. isp.gov.com.br .

2 Tabela estatística de homicídios em áreas sem UPP. Fonte: www. isp.gov.com.br .

3 Tabela de produção Policial da UPP Cidade de Deus no Ano de 2010.Fonte: www.isp.gov.

com.br

4 Tabela de produção Policial da UPP providência no Ano de 2010. Fonte: www. isp.gov.com

.br.

5 Tabela de ocorrências de maior poder ofensivo da 8° AISP. Fonte: www. isp.gov.com.br .

6 Tabela de ocorrências de maior poder ofensivo da 12° AISP. Fonte: www. isp.gov.com.br .

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AISP: Áreas Integradas de Segurança Pública

BPM: Batalhão de Polícia Militar

Del: Delegado

DP: Delegacia de Polícia

Dr: Doutor

ISP: Instituto de Segurança Pública

LCP: Leis de Contravenções Penais

Pol: Polícia

UPP: Unidade de Polícia Pacificadoras

Var: Variação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................11

2 AS AÇÕES DO ESTADO DENTRO DAS COMUNIDADES PACIFICADAS.............13

2.1 A operação que antecede a pacificação das comunidades...............................................13

2.2 A relação de conflitos entre a Polícia e a população das comunidades pacificadas........14

3 A MIGRAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO..................................................................15

3.1 A permuta de territórios criminalizados...........................................................................15

3.2 A expansão dos territórios dominados pelo crime organizado........................................16

3.3 A disputa dentro dos territórios conflagrados..................................................................16

3.4 Consequências para as áreas não pacificadas..................................................................17

4 AÇÃO POLICIAL NAS COMUNIDADES OCUPADAS...............................................18

4.1 A corrupção policial dentro das comunidades pacificadas..............................................18

5 DADOS DAS ÁREAS INTEGRADAS E DAS COMUNIDADES PACIFICADAS......19

6 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO PROJETO UPP NA SOCIEDADE CARIOCA.........24

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................25

8 GLOSSÁRIO......................................................................................................................28

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................29

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OBJETIVOS

Objetivo geral Analisar a Unidade de Policia Pacificadora, e seu impacto na Sociedade do Estado do Rio

de Janeiro.

Objetivos específicos Este trabalho tem como objetivos:

Analisar do projeto Unidade de Policia Pacificadora, seu efeito na sociedade e a relação de

conflito com a população.

Demonstrar as consequências para a sociedade direta e indiretamente atingida pelo projeto

Unidade de Polícia Pacificadora.

Esclarecer a teoria de migração da criminalidade, e propor uma conclusão para o analisado

problema.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Marcelo Lopes Souza:

O Rio de Janeiro passou por uma mutação onde indivíduos residentes em comunidades distintas podiam visitar-se sem problema algum, hoje a situação mudou devido aos mecanismos de controle impostos pelos traficantes e à rivalidade e aos choques entre quadrilhas baseadas em favelas diferentes. (Souza, 2000, P. 191)

Diante do quadro atual de caos social e de cobrança popular por uma política de segurança

eficaz, o Governo Estadual deu inicio ao projeto Unidade de Polícia Pacificadora, considerada

por este, como a solução do problema da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a Unidade de Polícia Pacificadora é um novo

modelo de segurança, um policiamento moldado nos princípios da Polícia Comunitária, que

tem como base a integração entre a população e as instituições públicas, aliado ao

fortalecimento das políticas sociais nas comunidades.

Um dos objetivos do projeto UPP é a “construção” de um “cinturão de segurança”

estrategicamente localizado na Zona Norte da cidade, nas imediações do complexo do

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Maracanã, principal palco da Copa do mundo em 2014, e ativamente utilizado nas Olimpíadas

de 2016, com a função de afastar a criminalidade do centro das atenções do evento, e evitar

constrangimentos políticos, prejudicando sua organização e a imagem da administração da

cidade e do estado.

A primeira unidade pacificadora instalada foi a do Morro Santa Marta, inaugurada no dia 20

de novembro de 2008, posteriormente outras unidades foram instaladas priorizando a

inauguração das comunidades localizadas na Zona Sul da cidade, atendendo aos anseios da

classe nobre da sociedade em reduzir a criminalidade nos bairros mais ricos, porém não os

mais violentos, sendo semelhante a dificuldade geográfica e a necessidade de efetivo policial

para a implantação do projeto entre comunidades localizadas na Zona Sul como Pavão

Pavãozinho e Santa Marta de comunidades como Salgueiro e Formiga localizadas na Zona

Norte da cidade. Para exemplificar esta afirmação usaremos a UPP Cidade de Deus, que conta

com um efetivo policial de 344 policiais para uma população de aproximadamente 45 mil

indivíduos, esta comunidade teve sua unidade pacificadora instalada antecipadamente devido

a pressão exercida pela população da Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade do Rio de

Janeiro, devido a sua proximidade da comunidade da Cidade de Deus. Outras localidades

também tiveram privilégios na instalação do projeto UPP, mesmo que inicialmente estando

fora dos planos da Secretaria de Segurança Pública, porém a opinião pública e a forte

intervenção da mídia fez com que estas comunidades entrassem para o planejamento atual. A

comunidade do Batam é uma destas comunidades, localizada em Realengo, Zona Oeste da

cidade do Rio de Janeiro, a única de todas as ocupações que era dominada por uma milícia,

seu projeto deu inicio após um fato ocorrido no dia 14 de maio de 2008 quando uma equipe

de jornalistas sofreu um sequestro e foram torturados dentro da comunidade por 7 horas, este

acontecimento mobilizou a mídia e pressionou a administração pública a incluir a comunidade

nos planos de instalação de uma unidade pacificadora, sendo inaugurada no dia 18 de

fevereiro de 2009.

A Unidade de Polícia Pacificadora é uma resposta do governo para todos os eventos que

trazem transtorno a cidade e que toma proporção na mídia fazendo o clamor público exigir as

devidas providencias tendo como objetivo calar a opinião pública. É sem sombra de dúvidas

um projeto bem volúvel, que flexibiliza seu cronograma em prol de uma inesperada

emergência, trata-se de uma intervenção policial que cobre as lacunas na ação de prevenção

abandonada por sucessivos governos, e uma forma de oferecer à população a resposta que

desejam. A questão principal desta forma de administração são as consequências para o

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território do Estado que tais medidas acarretam, as mudanças abruptas de comportamentos da

sociedade, a migração do organização criminal, os abusos perpetrados pelas forças de

segurança, a mudança do eixo de exportação do tráfico de drogas, são todos resultados das

transformações territoriais em áreas militarizadas, a grande questão destas mudanças, não são

a base concreta e os bons atributos do projeto UPP, mas a forma com que ele é implementado

e as circunstancias que levam administração a dar inicio a este processo.

2 AS AÇÕES DO ESTADO DENTRO DAS COMUNIDADES PACIFICADAS

2.1 A operação que antecede a pacificação das comunidades

A operação policial é uma das principais ações executadas pelo Estado em uma comunidade

antecedendo a instalação da unidade pacificadora, entretanto, essa incursão é informada com

antecedência o que impede os confrontos entre as forças de seguranças e os narcotraficantes

dispostos dentro de sua fortaleza, essa medida também evita um cerco por tempo demasiado,

o que obrigaria a utilização de um grande efetivo e de uma grande despesa excedente, esta

medida foi usada em todas as ocupações até o momento, de outra forma seria improvável que

uma operação súbita de qualquer corporação policial, não deixassem varias baixas de ambos

os lados, o que poderia por a perder todo o planejamento e investimento, porém esta medida

traz consequências trágicas para as áreas não ocupadas. Após sucessivos governos que

erguiam a bandeira da guerra contra o crime organizado, o projeto UPP tenta inverter este

histórico de incontáveis operações para combater a violência através da truculência, por uma

política de pacificação das comunidades, com o propósito de erradicar os confrontos entre a

polícia e traficantes, as forças de segurança tentam incursionar sem um traumatizante

confronto, trazendo para esta comunidade uma falsa sensação de segurança.

As ocupações obedecem a um plano organizado pela Secretaria de Segurança Pública para

conter o crescimento da incidência criminal nas áreas próximas aos locais mais visíveis da

cidade do Rio de Janeiro, os bairros turísticos da cidade e as localidades que serão utilizadas

nos eventos agendados no calendário esportivo da cidade até 2016, após esta data passam a

ser uma incógnita a sua continuidade, devido as mudanças de governo, deixando outras

localidades da cidade invisíveis ao Estado, porém são esses territórios que após a migração de

criminosos abrigarão os elementos evadidos das áreas pacificadas e que mais tarde terão

posição de destaque dentro do organograma da facção criminosa e que possivelmente

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passarão a comandar outras áreas conflagradas pelo tráfico de drogas.

Segundo o Major Rafael Fernandes Fafalate:

A pacificação das comunidades é uma utopia, algo inalcançável, com a substituição constante dos principais elementos do tráfico de drogas, e a interligação entre as favelas comandadas por facções aliadas, para cada comunidade pacificada cria-se outro território segregado, nas áreas do Estado que não foram contempladas com o projeto UPP. ( Major Fafalate)

2.2 A relação de conflitos entre a Polícia e a população das comunidades pacificadas

Após a inauguração da unidade pacificadora, o Estado começa a aproximação com a

população da comunidade, em alguns casos essa integração é bem realizada, porém na

maioria das ocasiões essa relação é de grande desconfiança e insegurança, resultada de

décadas de domínio do crime organizado sobre estas comunidades, e de operações desastrosas

executadas pela Policia, gerando uma aversão as forças de segurança pública.

Segundo o Major da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Sr. Rafael Fernandes

Fafalate:

Alguns moradores das comunidades tem uma certa aversão a polícia e vê as forças de segurança como inimigas da comunidade, criando uma situação conflitante, muitas vezes uma aversão gratuita, quase uma inversão de valores. ( Major Fafalate )

A maioria das localidades ocupadas registra um grande histórico de confrontos e rejeições,

como o caso mais recente, da comunidade do Turano onde a ocupação foi atribulada e

enfrentou a resistência de uma parcela da população. Segundo relato de moradores, a

operação para sua instalação no Turano, foi truculenta e traumatizante, os moradores

deixaram suas casas fugindo da repressão policial, o que foi chamado por eles de política de

repressão contra o povo pobre do Rio de Janeiro. Podemos entender que como a comunidade

nunca é consultada sobre as medidas tomadas em seu território, o projeto é colocado em

prática em uma atitude antidemocrática, quase sempre traumatizante para a população, não só

pela ação policial, mas pela mudança de rotina da comunidade, passando a conviver

diariamente com a presença policial.

Nas ocupações foram constatados vários relatos de abusos por parte da polícia, como

humilhações e arbitrariedades nas abordagens policiais, porém, cabe salientar que a população

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da comunidade onde a unidade pacificadora é recém inaugurada não está acostumada com as

sucessivas abordagens em seu transito pela comunidade, o que gera a maior parte dos

conflitos, os moradores sentem seus direitos cerceados, a militarização não é bem aceita desta

forma, quando imposto de uma maneira repentina, sem a preparação necessária e a ingressão

gradual do braço do Estado, trazendo desconforto no relacionamento entre os envolvidos.

As populações das comunidades possuem seus próprios hábitos e comportamentos, criados

por décadas de histórico descaso por parte do Estado, negando-lhes sua própria cidadania,

algumas regras básicas não são bem aceitas, pois são divergentes a sua cultura. Usaremos

um evento ocorrido na comunidade do Turano como exemplo. Policiais da UPP Turano

terminaram uma festa que gerou uma revolta deixando 3 (três) policiais feridos e cerca de 13

(treze) pessoas detidas, após moradores reclamarem do alto volume do som de uma festa na

quadra da comunidade no final da noite do dia 14 de agosto de 2011, que infligia a lei de

perturbação do trabalho ou do sossego alheios, Decreto lei 3688/41, do LCP, Art. 42. Segundo

o Tenente Eduardo Souza, supervisor de Coordenação das UPPs: “A festa foi encerrada por

não ter sido previamente autorizada” (Fonte, Jornal O DIA). O presidente da associação de

moradores do Morro do Turano, Gilberto Rodrigues tentou justificar tal revolta instaurada: “A

comunidade está revoltada com o rigor dos horários determinados para eventos na

comunidade. “O pessoal tinha uma cultura no passado, temos que mudar essa cultura, não

discordo”(Fonte, Jornal O DIA). Esta afirmação corrobora com a idéia de conflito civil e com

o desprezo ao direito alheio dentro dos territórios segregados por décadas de exclusão social,

essa cultura não pode ser mudada de uma hora para outra, a fragmentação da sociedade é uma

possível causadora da criação desta cultura singular, e de mudanças de características para

uma porção da população carioca, dessemelhante da existente na sociedade.

3 A MIGRAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO

3.1 A permuta de territórios criminalizados

Segundo Luke Dowdney no livro Crianças do tráfico:

Em razão de suas redes de becos, de pontos de acesso restritos, e do fato de que muitas estão localizadas em morros, as favelas são geograficamente convenientes do ponto de vista da defesa militar. (DOWDNEY, 2004, p.76)

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Antes da operação que antecede a ocupação nas comunidades, muitos traficantes

abandonam seu reduto, devido ao aviso prévio dado pelo comando das forças de segurança, e

é obrigado a procurar abrigo em outros territórios da mesma facção criminosa de onde se

originou, isto ficou claro na fuga dos traficantes da Vila do Cruzeiro, para o Complexo do

Alemão, transformando o local em uma imensa fortaleza do crime, a Secretária de Segurança

Pública estimou um número de cerca de 600 homens bem armados, com fuzis e metralhadoras

na comunidade do Alemão. A chegada de elementos oriundos de outros locais, que se

concentram em um só território faz exceder o efetivo na organização criminosa. No tráfico de

drogas como no comércio informal a uma procura por mercado e por local de venda e

estoque, como o território já está ocupado, o excesso de contingente é obrigado a procurar

novos locais para movimentá-la seu comércio sem que entrem em concorrência com os

elementos de sua própria organização, esse deslocamento é causador de dois efeitos, a

expansão de territórios e a disputa por territórios.

3.2 A expansão dos territórios dominados pelo crime organizado

A expansão tem seu inicio quando o território já ocupado pelo tráfico existente recebe esse

novo efetivo expulso de seu antigo reduto, este excesso de contingente, “desempregado” por

assim dizer, precisa produzir seu próprio sustento, obrigando a expansão de seus domínios

para as imediações da comunidade que os abrigou. As cercanias que antes não presenciavam a

ostentação de armas e a passagem frequente de criminosos, passam a conviver com estes

eventos, com o comércio ilegal de drogas e com outras atividades ilegais da rede criminosa,

fazendo esta área ser efetivamente parte do território da facção criminosa, trazendo para a

localidade uma mudança imediata de qualidade de vida. Os moradores passam a conviver

com o medo e a clausura, reprimidos pela onda aterrorizante de crimes e pela nova ordem do

poder paralelo, que é expandir o território, crescer, e multiplicar sua renda para abrigar os

elementos oriundos de outras comunidades recém ocupadas pelo Estado.

3.3 A disputa dentro dos territórios conflagrados

O segundo episódio é iniciado quando a facção criminosa não tem mais como expandir seu

território sem esbarrar nos domínios de outra facção rival, este é o principal pivô dos

confrontos entre facções criminosas. O tráfico de drogas como uma instituição capitalista tem

suas atividades baseadas na busca de lucro incessante e na tomada de mercado rival, para a

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própria sobrevivência da “firma”, mesmo que inconsciente o tráfico de drogas resgata o

conceito de território inserido na proposta de geografia política, esta busca por territórios não

é somente uma mera rivalidade, é um ato planejado com a intenção de abrir seu mercado, e

como a probabilidade de encontrar resistência, há uma grande corrida armamentista por

ambas as partes, aquecendo este comércio ilegal. Essa organização tem características de

Estado, a comunidade obtém lucro com a venda de mercadoria, expande seus domínios,

compra produtos necessários a sua sobrevivência e defende seu território. Como afirma

Milton Santos em seus Novos Rumos da Geografia Brasileira: “Quando uma sociedade se

organiza para defender seu território, ela transforma-se em Estado” (Santos,1982, p.123). É

inevitável a analogia deste conceito com as ações do tráfico de drogas. A distribuição espacial

da criminalidade não respeita uma organização territorial, e sim, uma busca por mercado

comercial afim de aumentar a demanda e entendendo que quanto mais expandir seu território,

mais riquezas pode angariar e mais mercado consumidor pode agregar visando sempre o

crescimento de sua organização.

3.4 Consequências para as áreas não pacificadas

As consequências para as localidades onde o tráfico de drogas não atuava são tão abruptas

quanto as mudanças para as comunidades onde as UPPs são instaladas, por não ser cultural de

esta população conviver com o crime organizado, estes locais outrora pacíficos entram na

zona de conflito, e passam a dar “abrigo” a indivíduos que para fixar seus alicerces

definitivos, expulsam antigos moradores e passam a habitar em suas residências, como

acontecido na localidade conhecida como Parque Esperança, no inicio do ano de 2011, situada

nos acessos das ruas Alcobaça e Javatá no Bairro de Anchieta. A ocupação do tráfico veio

sobrevir logo que foram inauguradas as UPPs na zona norte, forçando centenas de criminosos

a refugiar-se em comunidades de mesma facção, uma delas a denominada Chapadão, no

bairro de Costa Barros, próximo a Anchieta, a facção “inflou” de tal forma que seu excedente

foi obrigado a expandir seu território até o então tranquilo Parque Esperança, fazendo do local

uma colônia da comunidade do Chapadão e um novo reduto do tráfico, o mesmo aconteceu

em bairros residenciais de São Gonçalo como o Jóquei, e em Campo Grande como o Vilar

Carioca que se tornaram comunidades criminalizadas. A rota de fuga desses criminosos vem

se desenhando para a Baixada Fluminense, São Gonçalo e Zona Oeste onde uma destas

comunidades a da Vila Kennedy entrou em confronto com traficantes da Vila Aliança pelo

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domínio do comércio ilegal de drogas na localidade conhecida como Malvinas, transformando

essa local na maior área conflagrada do Estado, os moradores desses locais denunciam que

após a pacificação das comunidades na zona norte o número de criminosos nesta região

aumentou muito, deixando estes moradores na linha de confronto. Essa nova onda de crimes

acarretou consequências econômicas trágicas para essas regiões como a desvalorização dos

imóveis, por estarem localizados em áreas de confrontos e onde os índices de criminalidades

não param de crescer, a falência do comércio local, por sofrerem interferência direta do

tráfico, o aumento de alguns produtos de consumo e do transporte público, devido a

exploração do tráfico de drogas também nestas atividades e o aumento nos preços dos

seguros, residenciais e automotivos, diferentemente do que ocorre em regiões próximas a

comunidades pacificadas.

4 AÇÃO POLICIAL NAS COMUNIDADES OCUPADAS

4.1 A corrupção policial dentro das comunidades pacificadas

O maior motivo de desgaste e de críticas sofrida pela UPP são os novos casos de corrupção

policial dentro das comunidades, dificultando ainda mais a integração entre Segurança

Pública e sociedade, como o recente caso de envolvimento dos policiais lotados na UPP Fallet

localizado no charmoso bairro turístico de Santa Tereza, região do centro da cidade do Rio de

Janeiro, em um esquema de propinas pagas por traficantes para agir livremente na região. Esta

relação de “arrego” pago por traficantes, comprova que mesmo nas comunidades onde estão

instaladas as unidades pacificadoras, ainda existem atividades criminosas executadas por

traficantes locais, o que coloca em risco a credibilidade do projeto UPP. Os traficantes de

certa forma desfrutam de um esquema de proteção, através das propinas pagas a policiais para

não atuar, por estarem dentro de uma comunidade onde a segurança pública pode ser

comprada e ser uma segurança privada do próprio tráfico de drogas, que mantém seu

comércio, sem serem importunados por traficantes rivais ou por incursões policiais, é uma

ótima conveniência e um bom negócio para os traficantes de drogas. No início do projeto

UPP, os policiais recém-formados eram os principais responsáveis pela defesa da comunidade

e por exercer seu poder de polícia dentro deste território, nas buscas e apreensões, porém

apenas estes policiais, sem a experiência necessária para o andamento do serviço, não são

suficientes para o exercício da função policial.

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Segundo o Dr. Del. Pol. Hélio Luz:

Eu não entendo por que colocam recrutas para montar UPPs […]. Então 3 mil recrutas estão resolvendo a situação da criminalidade no Rio? A Policia Militar tem um contingente de 40 mil policiais, mais 10 mil da Polícia Civil e não resolveu o problema da criminalidade. Então é isto que estão dizendo? Estão confirmando então que o problema é a corrupção. (Hélio Luz)

Se o futuro do projeto UPP depende da distinção entre membros da própria corporação, a

questão é como separar os policiais antigos, que em tese teriam desvios de conduta, dos

policiais recém incorporados? Dificilmente é a resposta, pelo simples fato de todos serem

membros da mesma corporação, de haver uma intensa permuta entre batalhões, uma intensa

troca de informações, e também pelo fato de que estes recrutas sem a orientação de policiais

graduados e mais experientes dificilmente conduziriam ocorrências mais expressivas e com

maior grau de dificuldade, o que traria ineficiência para o serviço. Muitos policiais recém

formados estão insatisfeitos em servir em uma Unidade de Polícia Pacificadora, por

aspirações pessoais na procura de desafios na própria polícia em outros batalhões fora das

unidades pacificadoras e em batalhões de elite, pelos baixos salários pagos pelo governo

estadual, e pela falta de estrutura para executar o serviço, como armamento, viaturas, e até

mesmo falta de fardamentos, obrigando estes policiais a comprarem seus próprios

equipamentos.

5 DADOS DAS ÁREAS INTEGRADAS E DAS COMUNIDADES PACIFICADAS

As UPPs são elogiadas pelas baixas dos índices de criminalidades, portanto iremos analisar

tais dados e assim concluir se os mesmos são realmente relevantes, porém cabe ainda salientar

que, o ISP, Instituto de Segurança Pública, divulgador dos dados oficiais usados pelo governo

vem sofrendo questionamentos pela forma como estes são coletados, ocultando informações

que deveriam constar nas estatísticas divulgadas. Segundo Doriam Borges, ex-coordenador de

pesquisas de vitimização do ISP: “Não existe uma política aplicada de redução de homicídios.

Pode haver fatores externos que justifiquem tais quedas”. O problema pode estar no registro e

não na análise de dados. Os dados das tabelas não distinguem os fatos ocorridos dentro das

comunidades dos ocorridos fora da comunidade, o que torna estes números pouco

significativos, porém são os dados em que são baseados as analises e os planos do governo.

A seguir está a tabela estatística de homicídios das áreas que possuem pelo menos uma

Unidade de Polícia Pacificadora.

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Estatística de homicídios em áreas que possuem Unidades de Polícia Pacificadora

AISP DP DPS C/ UPP 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 VAR 04/10

02 10 10 a. DP 07 02 04 04 04 06 03 -57.1

18 32 32 a. DP 48 73 59 57 63 40 24 -50.0

14 33 33 a. DP 86 96 74 87 67 83 38 -55.8

19 12 12 a. DP 08 04 02 05 0 04 03 -62.5

19 e 23 13 13 a. DP 03 04 04 03 01 03 02 -33.3

19 e 23 14 14 a. DP 04 04 04 05 04 03 01 -75.0

05 04 04 a. DP 16 31 23 21 16 27 12 -25.0

06 19 19 a. DP 11 11 14 09 15 11 05 -54.5

SOMA 183 225 184 191 170 177 88 -51.9

VAR. ANUAL 22.95 -18.2 3.804 -10.9 4.11 -50.2

Tabela número 1, Fonte: Instituto de Segurança Pública

A tabela abaixo mostra dados referentes a áreas que não possuem sequer uma Unidade de

Polícia Pacificadora e demonstra a mesma tendência analisada nas áreas que possuem pelo

menos uma UPP em sua área de atuação.

Estatística de homicídios em áreas que não possuem Unidades de Polícia Pacificadora

AISP DP DPS S/ UPPS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 VAR 04/10

06 18 18 a. DP 08 13 08 14 10 05 07 -12.50

05 01 01 a. DP 04 05 01 06 05 04 03 -25.00

06 20 20 a. DP 07 14 19 35 16 13 06 -14.28

14 34 34 a. DP 134 117 142 88 95 86 59 -55.97

18 41 41 a. DP 32 40 23 26 11 09 11 -65.62

02 09 09 a. DP 11 07 15 08 07 13 06 -45.45

23 15 15 a. DP 17 25 12 11 10 08 12 -29.41

SOMA 213 221 220 188 154 138 104 -51.17

VAR. ANUAL 3.755 -0.45 -14.5 -18.0 -10.3 -24.6

Tabela número 2, Fonte: Instituto de Segurança Pública

Page 21: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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As tabelas acima demonstram que o índice de homicídios vem caindo gradualmente desde

2005, antes do projeto UPP, e que a baixa demonstrada nas tabelas são praticamente as

mesmas, desta forma podemos concluir que cada UPP é uma pequena porção em um universo

muito mais extenso e podemos usar como exemplo a comunidade do Batam localizada no

bairro de Realengo que abriga uma UPP desde 18 de fevereiro de 2009, vizinha da

comunidade do Conjunto Água Branca, conhecida também como Fumacê, e localizada a 100

metros de distancia da mesma, divididas apenas pela Avenida Brasil, portanto, crimes como

roubo de veículos, roubo a transeuntes e homicídios ocorridos nas imediações da comunidade

do Fumacê interferem diretamente nas estatísticas da UPP Batam, localidade bem distante do

bairro da Sulacap, onde está localizada a 33° Delegacia de Policia Civil, responsável pela

jurisdição e pelos registro de ambos os bairros. Torna-se pouco provável uma relação entre os

números das estatísticas, com a real atuação da criminalidade local. As Unidades de Polícia

Pacificadoras mostram-se apenas coadjuvantes no efeito de queda nas estatísticas de crimes

em seus respectivos bairros, não evitando a atuação do crime organizado nas imediações de

suas jurisdições e em alguns casos até mesmo dentro das comunidades atendidas por estas

unidades pacificadoras.

É constatado até hoje em algumas comunidades atendidas pelas UPPs, ocorrências de

apreensões de materiais, de entorpecentes e de armamentos, deixando clara a atuação de uma

organização criminosa na esfera de domínio das Ocupações como podemos ver abaixo na

tabela de produção policial do ano de 2010.

Tabela de Produção Policial da UPP Cidade de Deus no Ano de 2010

Produção policial Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Soma

Apreensão de Drogas 26 31 33 17 35 17 33 16 15 23 22 13 281

Armas Apreendidas 03 - - - - 02 - - 01 - 01 02 09

Recuperação de Veículos 01 01 02 - 01 03 02 04 01 - 01 01 17

Cumprimento de Mandado 03 07 04 01 03 02 - 03 01 - 20 17 61

Ocorrências com Flagrante 21 15 15 15 13 11 19 15 17 25 15 14 195

Tabela número 3, Fonte: Instituto de Segurança Pública

Também na comunidade da Providencia continuam a serem apreendidas armas de fogo, e

entorpecentes, sinais de resistência de traficantes em deixar as comunidades ocupadas pelo

Estado, não pelo alto escalão da organização criminosa, mas talvez por algumas pequenas

Page 22: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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frações de resistências que mantém a atividade criminosa com certa discrição, o que pelos

criminosos são denominadas como “esticas”, que é uma colônia desta organização criminosa.

Demonstraremos na tabela a seguir a produção policial do ano de 2010 na comunidade da

Providência, onde é constatada a existência dessas chamadas “esticas”.

Tabela de Produção Policial da UPP Providência no Ano de 2010

Produção policial Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Soma

Apreensão de Drogas 01 03 02 04 04 03 06 - 02 02 02 - 29

Armas Apreendidas - - 01 01 01 01 - - - - - - 04

Recuperação de Veículos 03 - - - 01 - - 01 - - - - 05

Cumprimento de Mandado - - - - 02 - - - - - - 01 03

Ocorrências com Flagrante 01 01 01 0 1 01 01 02 03 02 03 03 01

Tabela número 4, Fonte: Instituto de Segurança Pública

Verificando a tabela da 8° AISP a seguir, podemos constatar que esta área integrada que

abrange o interior do Estado cuja maior cidade elencada é Campo vem apresentando um

crescimento significativo das atividades criminosas, e um assustador aumento de ocorrências

de grande porte, causadas pela migração de criminosos, oriundos das comunidades da Capital

do Estado, estes dados foram divulgados pelo próprio instituto de pesquisa do governo

estadual, sendo a estatística dos anos de 2010 e 2011 proporcionais de janeiro a junho dos

respectivos anos.

Tabelas de ocorrências de maior poder ofensivo da 8° AISP

Tipos de crimes 2009 2010 Dif. Tipos de crimes 2010 2011 Dif.

Homicídio doloso 271 233 -38 Homicídio doloso 124 116 -08

Encontro de cadáver 29 30 01 Encontro de cadáver 13 09 -04

Tentativa de Homicídio 291 221 -70 Tentativa de Homicídio 132 144 12

Roubo de veículo 237 145 -92 Roubo de veículo 80 68 -12

Roubo a residência 97 73 -24 Roubo a residência 37 25 -12

Roubo a transeunte 1170 944 -266 Roubo a transeunte 454 404 -50

Roubo a est. comercial 134 96 -38 Roubo a est. comercial 52 62 10

Tabela número 5, Fonte: Instituto de Segurança Pública

Page 23: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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Analisando os referidos dados, concluímos que os crimes de maior potencial ofensivo estão

ganhando mais espaço nas regiões do interior como observado na notícia exibida no tele

jornal RJ TV primeira edição no dia 23 de setembro de 2011 na cidade de Campos, a

apreensão recorde de pasta base de cocaína, a polícia acredita que a refinaria teria a função de

preparar a pasta base de cocaína para o consumo local e para as cidades próximas.

É possível duas hipóteses capaz de causar a magnitude desta ocorrência; A primeira diz

respeito ao aumento da demanda por drogas ilícitas na região devido ao crescimento da cidade

de Campos causado pela maior exploração petrolífera na região; A segunda é influenciada

diretamente pelo projeto UPP, devido à maior fiscalização nas comunidades pacificadas, a

“refinaria” do trafico teria se transferido para cidades menos policiadas como Campos, para

distribuição do material entorpecente na localidade em constante crescimento, e uma mudança

da rota de exportação de entorpecentes por portos menos congestionados, chamando menos a

atenção das autoridades.

Verificamos também o crescimento das estatísticas em São Gonçalo, um dos principais

locais da migração do crime organizado, esta cidade é classificada na 12° AISP e influencia

diretamente os números das estatísticas da citada área integrada.

É comprovadamente preocupante o êxodo da criminalidade das regiões centrais para as

periferias de cidades de perfil residencial e tranquilo sem a incidência criminal vista nos dias

atuais.

Vide a tabela de crimes de maior potencialidade ofensiva dos últimos anos abaixo, sendo os

anos de 2010 e 2011, proporcionais aos meses de janeiro a junho dos respectivos anos.

Tabelas de ocorrências de maior poder ofensivo da 12° AISP

Tipos de crimes 2009 2010 Dif. Tipos de crimes 2010 2011 Dif.

Homicídio doloso 201 176 -25 Homicídio doloso 89 81 -8

Encontro de cadáver 14 20 06 Encontro de cadáver 11 20 9

Tentativa de Homicídio 165 198 33 Tentativa de Homicídio 86 104 18

Roubo de veículo 1100 837 -263 Roubo de veículo 406 410 4

Roubo a residência 101 132 31 Roubo a residência 61 60 -1

Roubo a transeunte 3405 2.851 -554 Roubo a transeunte 1.462 1.545 83

Roubo a est. comercial 253 255 2 Roubo a est. comercial 117 132 15

Tabela número 6, Fonte: Instituto de Segurança Pública

Page 24: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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6 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO PROJETO UPP NA SOCIEDADE CARIOCA

Fazendo uma análise fria quanto à implantação deste projeto de segurança pública, vale a

pena destacar que a euforia da população diretamente atingida pelo projeto UPP não é

totalmente infundado, de fato vários relatos de moradores onde essas unidades estão

instaladas são de entusiasmo quanto as melhorias obtidas após a inauguração de suas

instalações, e realmente podemos destacar alguns pontos positivos, embora seja uma realidade

muito recente para uma análise mais profunda, destacamos que nos locais onde estão

instaladas, há uma relevante baixa nos índices de criminalidade divulgados pelo governo,

embora ainda existam atividades criminosas nestas regiões, porém sem a incidência de crimes

mais violentos, também não são mais encontrados elementos armados pela comunidade, bem

como os famigerados confrontos armados entre facções criminosas e entre criminosos e a

polícia, o que aumenta a sensação de segurança da população. Sem a influência mítica do

“bandido-heroi”, benfeitor da comunidade, ostentador de poder e de credibilidade dentro da

comunidade, deixa de existir a cultura do tráfico com suas músicas e seus ídolos, diminuindo

a formação de novos criminosos nas próximas gerações dentro dessa segregada sociedade,

porém é fundamental deixar claro que apenas uma pequena minoria é recrutada pelo

exército do narcotráfico, mas essa minoria causa um estrago sem precedentes para a

sociedade. De qualquer forma as UPPs não diminuem a fragmentação da sociedade em

pequenas porções segregadas, e não contribui para sua integração, basta analisar que as

regiões indiretamente atingidas pelo projeto, e mais abastadas, embora satisfeitas com as

mudanças, não querem uma UPP em seu bairro, mas querem a resolução do problema

criminalístico nas cercanias de suas residências.

O abandono das políticas sociais e serviços públicos nos territórios em decadência

econômica, por no mínimo três décadas de descaso e falta de vontade política, aliada a

posição estratégica do Estado do Rio de Janeiro como rota no circuito mundial de comércio de

drogas, produziu a situação encontrada nos dias atuais, onde os negócios mais rentáveis são o

tráfico de drogas, o comércio de armas ilegais, e negócios diretamente ligados a área de

segurança, como empresas de segurança privadas e mercado imobiliário dos condomínios de

luxo exclusivos, criando a atual situação encontrada em praticamente todo Estado.

A desagregação populacional e o controle da criminalidade no Estado são problemas

gigantescos, e não serão resolvidos apenas com o projeto UPP. O governo do Estado repete

que após as instalações a comunidade é inundada por serviços públicos, entretanto até o

Page 25: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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momentos nas comunidades verificadas os serviços que chegam primeiro são os privados, já

os serviços públicos gratuitos, como a coleta de lixo, a água, o esgoto, os postos de saúde e as

creches públicas ainda estão sendo aguardados, é perceptível o interesse financeiro por traz da

instalação do projeto UPPs em locais aonde os serviços privados não chegavam e eram

obtidos pela comunidade de maneira irregular.

Segundo o Dr. Del Pol Hélio Luz:

Quando ocorre esta ação espetacular, (a fuga dos traficantes da Vila do Cruzeiro), você pensa que o Estado venceu e que nós estamos derrotando um inimigo. Mas eles não são inimigos do Estado, eles são integrantes do Estado, mas foram marginalizados. O Estado criou estes caras. É produto direto do que nós fizemos. Num nível mais direto da segurança é resultado da corrupção das polícias do Rio. ( Hélio Luz )

Não obstante o fato de existir uma instalação policial ativamente ostensiva nas

comunidades, a relação entre o tráfico de drogas e a polícia são estreitas, e a corrupção

policial colabora para a desordem da administração da segurança na localidade, devido a

atuação de policiais mal remunerados, e explorados pelo esquema de interesses por traz do

projeto Unidade de Polícia Pacificadora, no entanto o fator que compromete ainda mais o

futuro de um projeto promissor, está diretamente ligado a administração pública, os interesses

econômicos e os interesses políticos que estão acima do bem estar social. O objetivo real do

projeto é a promoção pessoal do próprio governo, em uma jogada de marketing político,

visando divulgar a imagem ilibada de um governo pacificador e prover a manutenção da

gestão atual até a realização dos jogos olímpicos de 2016, o que geraria um ágio gigantesco

para a atual administração.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É relevante para a conclusão desta pesquisa salientar que o projeto Unidade de Policia

Pacificadora mostrou elementos que possibilitariam um melhor aproveitamento e maior

benfeitoria para a população carioca, seu problema sócio político, e controle da criminalidade,

resultado que difere da avaliação inicial do projeto, porém os múltiplos interesses envolvidos

no desenvolvimento do projeto divergem do que seria a finalidade das UPPs. Ainda é

considerada prematura qualquer conclusão definitiva sobre o projeto, por se tratar de um

programa muito recente, mas infelizmente os primeiros indícios conduzem a visão para uma

Page 26: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

26

provável exploração oportuna das favoráveis circunstancias atuais por parte do atual governo,

aproveitando o apoio da mídia e de parte da população. É fato que há uma demasiada aposta

da Secretaria de Segurança nas Unidades de Polícia Pacificadoras, “menina dos olhos” do

governo, criadora de novos espaços segregados com a transferência da criminalidade, em uma

“reorganização” espacial do crime, promovida pela administração pública, deixando em

dúvida se esta consequência era inesperada ou era o objetivo da inserção do projeto UPP nas

comunidades onde os principais núcleos criminosos estavam agrupados, por puro interesse

politico. O projeto Unidade de Polícia Pacificadora demonstra ser apenas uma jogada de

marketing do governo estadual, apenas uma promoção particular, nada semelhante a um

projeto de segurança social sério, que seria a finalidade deste projeto, o que o governo

continua a fazer a população do Estado acreditar, com grande investimento em infra-estrutura,

em serviços de inclusão social, em educação e em segurança, o projeto transforma o

comportamento da sociedade de forma abrupta forçando a militarização das comunidades e

forçando a população de outras localidades a um convívio desastroso com organizações

criminosas devido a forma com que estas Unidades de Polícia Pacificadoras são instaladas

causando a migração da criminalidade causadora da maior parte das disputas territoriais vistas

atualmente no Estado do Rio de Janeiro.

Nas comunidades onde já foram instaladas as Unidades Pacificadoras, a corrupção policial

continua a fazer parte do cotidiano, assim como nas comunidades sem as UPPs, e este fator

não tem como fazer parte dos dados fornecidos pelo Instituto de Segurança Pública, dados

estes tão irrelevantes, como já fora demonstrado anteriormente, porém um fator que encobre a

realidade dos territórios ocupados, onde polícia e traficante convivem em aparente

tranquilidade, desde que cumpridos os devidos “acordos” por ambas as partes, de outra forma,

começam a ter evidencia, mais casos de confronto entre marginais da lei e a polícia como o

ocorrido na comunidade do Fallet.

É substancial para a população carioca que o governo exerça seu poder público e devolva à

cidadania as comunidades aterrorizadas pela criminalidade, porém é fundamental que o

Estado esteja presente em todas as áreas e níveis da sociedade, sendo necessário um

contingente policial gigantesco a um custo inviável para assegurar a retomada de todas as

comunidades dominadas pelo tráfico através apenas da ocupação policial, são cerca de 811

comunidades subnormais (as denominadas favelas), no Estado de Rio de Janeiro, segundo o

IBGE, com uma lotação de 200 policiais em média em cada UPP, seria um efetivo

aproximadamente quatro vezes maior que o efetivo policial do Estado do Rio de Janeiro atual,

Page 27: TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e sua influência na sociedade do Rio de Janeiro

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para compor todas as unidades pacificadoras em todas as comunidades do Estado do Rio de

Janeiro, seria um absurdo acreditar na hipótese de ocupar todas as comunidades cariocas.

Portanto, não pode pesar a grande responsabilidade de pacificar o Estado do Rio de Janeiro

apenas nos ombros de uma corporação abandonada pelo seu gestor, não é só com polícia que

se faz segurança pública. A solução possivelmente seria iniciada através de um maciço

investimento em infra-estrutura, para dar início a um processo de resgate da cidadania da

população carente carioca, com a a construção de residências populares fora das

comunidades, e regularização e restauração das residências construídas dentro das

comunidades com o objetivo de resgatar a auto-estima desta população, com a construção e

restauração das escolas públicas, com a restauração e construção de hospitais, com a expansão

de serviços públicos como esgoto, água e iluminação pública, garantir a inclusão a cidadania

para todos os indivíduos sem exceção, através de uma inundação de serviços públicos, uma

boa vontade política gigantesca, com pulso forte para aguentar a pressão interna e externa,

para agir com energia, porém com humanidade, respeitando a Constituição, a democracia e os

direitos humanos sem baixar a guarda para a criminalidade, valorizar o funcionalismo

público, pois sem estes não é possível fazer funcionar a máquina do Estado e todos os

serviços param ou funcionam mal, colocando todo o processo de resgate da cidadania a

perder, oferecer salários mais dignos e melhores condições de trabalho, não só para os

policiais, mas para todo o funcionalismo público, todos os inclusos neste sistema,

responsáveis pela missão de diária e cotidiana de nos trazer a sensação de segurança que tanto

almejamos e a tão sonhada paz que precisamos para fazer crescer e evoluir este nosso lindo

País.

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8 GLOSSÁRIO

Ágio: Lucro resultante.

Antítese: O contrário, o oposto.

Arrego: Usado na gíria policial como propina.

Cercania: Lugares que estão em redor, proximidade, vizinhança, Arredores.

Cerceados: Do verbo cercear, restringir, limitar, cortar.

Conflagrada: Do verbo conflagrar, Incendiar totalmente, abrasar, diz-se de locais em conflito.

Esticas: Comércio ilegal de drogas praticado por uma pequena quadrilha em uma localidade.

Ilibada: Intocada, imaculada, pura.

Obstante: Apesar de tudo isso, ao contrário do que se esperava

Organograma: Gráfico da estrutura hierárquica de uma organização social

Rentável: Que produz rendimento satisfatório

Sobrevir: Vir ou acontecer em seguida ou depois de outra coisa. Acontecer inesperadamente

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9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOG ARMA BRANCA, Índices de criminalidade do RJ caem, mas estão sob suspeita, Rio

de Janeiro, Disponível em http://armabranca.blogspot.com/2010/06/indices-de-criminalidade

-do-rj-caem-mas.html. Acesso em: 13 de Outubro de 2011.

BLOG DO CEL PAULO RICARDO PAÚL, Ex chefe de polícia fala sobre a corrupção na

Unidade de Polícia Pacificadora, Rio de Janeiro, Disponível em: celprpaul.blogspot.com

/2011/01/ex-chefe-da-policia-civil-fala-sobre.html. Acesso em: 13 de Outubro 2011.

BLOG REINALDO AZEVEDO, Polícia pacificadora de Cabral prende bandidos ou os

convida a mudar de método sem mudar de ramo,Rio de Janeiro, Disponível em: http://veja.

abril.com.br/blog reinaldo/geral/policia-pacificadora-de-Cabral-prende-bandidos-ou-so-os-

convida-a-mudar-de-metodo-sem-mudar-de-ramo, Acesso em: 13 de Outubro de 2011.

DOWDNEY, Luke. Crianças do tráfico. Viveiros de Castro Editora Ltda., 2004, p 76.

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em: www.ibge.gov.br, Acesso em: 16 de Outubro de 2011.

JORNAL A NOVA DEMOCRACIA, Rio de Janeiro, A UPP chegou aterrorizando os

moradores, Rio de Janeiro. Disponível em: www.Anovademocracia.com.br , Acesso em: 13

de Outubro de 2011.

NOTÍCIAS TERRA REVISTA ONLINE, Rio de Janeiro, Disponível em: www.noticias.terra.

com.br, Acesso em: 15 de Agosto de 2011.

O DIA ONLINE, Rio de Janeiro,Confronto entre UPP e moradores no Turano, Disponível em:

http://odia.ig.com.br/portal/ , Acesso em: 14 de Outubro de 2011.

O GLOBO ONLINE, Rio de Janeiro. Jornalistas são torturados por milicianos no Rio de

Janeiro, 2008. Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2008/05/31/ jornalistas_sao_

torturados_por_milicianos_no_rio_equipe_de_dia_foi_espancada_por_7_horas_na_zona_oest

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e-546603280.asp. Acesso em: 05 de Novembro de 2011.

O PORTAL JURIDICO JURIS DOCTOR, Lei das contravenções penais Art. 42, Rio de

Janeiro, Disponível em: http://www.jurisdoctor.adv.br/legis/leicontp.htm. Acesso em:14 de

Outubro de 2011.

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, Unidades de Polícia

Pacificadoras, Rio de Janeiro 2011. Disponível em: www.policiamilitar.rj.gov.br. Acesso em:

14 de Outubro de 2011.

SANTOS, Milton. Novos Rumos da Geografia Brasileira. Hucitec, 1982, p 123.

SOUZA, Marcelo Lopes. O Desafio Metropolitano - Um estudo sobre a problemática sócia

espacial nas metrópoles brasileiras. Bertrand Brasil, 2000, p 191.

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