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2021 8ª edição Revista, ampliada e atualizada TÉCNICAS DE REDAÇÃO para CONCURSOS TEORIA e PRÁTICA LILIAN FURTADO VINÍCIUS CARVALHO PEREIRA

TÉCNICAS DE REDAÇÃO - Editora Juspodivm · 2020. 9. 9. · por fazer uma ambientação do tema, isto é, uma apresentação panorâmica do assunto de que fala o texto, mas sem

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2021

8ª ediçãoRevista, ampliada e atualizada

TÉCNICAS DE REDAÇÃO

para

CONCURSOST E O R I A e P R Á T I C A

LILIAN FURTADO

VINÍCIUS CARVALHO PEREIRA

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1. A ESTRUTURA GERAL DO PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO

No capítulo anterior, estudamos a organização de parágrafos em geral, investigando suas macro e microestruturas. Agora, vamos partir para uma análise mais detalhada de um parágrafo de importância crucial na sua prova de redação: o parágrafo de introdução.

Antes de nos aprofundarmos neste tema, porém, vale dizer que há bons textos, publicados em jornais, revistas ou na Internet, que apresentam mais de um parágrafo com características de introdução. Entretanto, o objetivo deste livro é ensinar-lhe como escrever um gênero textual muito específico, que não se confunde com artigos jornalísticos ou de opinião. Aqui, estamos nos preparando a fim de escrever redações para concursos.

O gênero redação para concurso tem características particulares, que o diferem dos demais: além de ser escrito com vistas a uma avaliação, em um curto prazo de tempo e sem consulta a outras fontes de informação, esse gênero tem uma exigência muito clara: o limite de linhas determinado pela banca.

Assim, não adianta você escrever dois ou três ótimos parágrafos introdutórios, se, na maioria das provas, só vai ter direito a redigir trinta linhas ao todo. É preciso planejar seu texto, conforme vimos no capítulo I, tentando certa simetria entre os parágrafos. Não é necessário que eles tenham rigorosamente a mesma extensão, mas é interessante que não difiram drasticamente entre si.

Dessa forma, levando em consideração que geralmente se espera do candidato um texto dissertativo com quatro ou cinco parágrafos, um único parágrafo introdutório é o suficiente, no qual devem ser claramente definidos o tema do texto (proposto pela banca) e o posicionamento do autor (em caso de texto argumentativo), ou o tema do texto e o recorte proposto pelo autor (em caso de texto expositivo).

A fim de ver melhor como esse parágrafo se articula com os demais, leia atentamente o texto a seguir:

Capítulo III

O PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO

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Contribuição de um antropólogoA maior contribuição do antropólogo Claude Lévi-Strauss (que,

ainda jovem, trabalhou no Brasil, e morreu, centenário, em 2009) é de uma simplicidade fundamental, e se expressa na convicção de que não pode existir uma civilização absoluta mundial, porque a própria ideia de civilização implica a coexistência de culturas marcadas pela diversidade. O melhor da civilização é, justamente, essa “coalizão” de culturas, cada uma delas preservando a sua originalidade. Ninguém deu um golpe mais contundente no racismo do que Lévi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como ele, a ser mais humildes.

Lévi-Strauss, em suas andanças pelo mundo, foi um pensador aberto para influências de outras disciplinas, como a linguística. Foi ele também quem abriu as portas da antropologia para as ciências de ponta, como a cibernética, que era então como se chamava a informática, conectando-a com novas disciplinas como a teoria dos sistemas e a teoria da informa-ção. Isso deu um novo perfil à antropologia, que propiciou uma nova abertura para as ciências exatas, e reuniu-a com as ciências humanas.

Em 1952, escreveu o livro Raça e história, a pedido da Unesco, para combater o racismo. De fato, foi um ataque feroz ao etnocen-trismo, materializado num texto onde se formulavam de modo claro e inteligível teses que excediam a mera discussão acadêmica e se apoiavam em fatos. Comenta o antropólogo brasileiro Viveiros de Castro, do Museu Nacional: “Ele traz para diante dos olhos ocidentais a questão dos índios americanos, algo que nunca antes havia sido feito. O colonialismo não mais podia sair nas ruas como costumava fazer. Foi um crítico demolidor da arrogância ocidental: os índios deixaram de ser relíquias do passado, deixaram de ser alegorias, tornando-se nossos contemporâneos. Isso vale mais do que qualquer análise.”

Reconhecer a existência do outro, a identidade do outro, a cultura do outro – eis a perspectiva generosa que Lévi-Strauss abriu e conso-lidou, para que nos víssemos a todos como variações de uma mesma humanidade essencial.

(Carlos Haag, Pesquisa Fapesp, dez. 2009, com adaptações.)

No parágrafo de introdução, o leitor logo pode perceber a tese defendida pelo autor do texto: “Ninguém deu um golpe mais contundente no racismo do que Lévi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como ele, a ser mais humildes”. Veja, porém, que, antes de afirmar sua tese, o autor optou por fazer uma ambientação do tema, isto é, uma apresentação panorâmica do assunto de que fala o texto, mas sem expressar ainda seu ponto de vista.

Uma organização textual como essa, no parágrafo de introdução, não é obrigatória, mas se revela muito produtiva, especialmente quando temos de escrever rápido, como em um concurso. Redigir primeiro uma frase com uma informação geral acerca do tema e depois outra contendo o ponto de vista defendido na argumentação é um expediente para evitar o típico “branco” no início do texto, seção que costuma tomar mais tempo dos candidatos na hora da prova.

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Além disso, ordenar as informações em cada parágrafo, da mais ge-nérica para a mais específica, não é novidade para você. No capítulo II, vimos como essa estrutura organiza as ideias e favorece o fluxo da leitura e da escrita no âmbito de cada parágrafo.

A redação da introdução é uma das partes mais importantes na elabora-ção de um texto dissertativo argumentativo, uma vez que os parágrafos de desenvolvimento devem remeter diretamente à tese apresentada no início do texto. É um erro comum dos candidatos redigir parágrafos argumentativos que não respaldam especificamente a tese apresentada na introdução, limitando-se apenas a expandir o tema apresentado no primeiro parágrafo. Tal abordagem só é plausível em um texto dissertativo expositivo, em que não há tese a ser defendida, apenas tópicos a serem desenvolvidos, em caráter informativo.

No texto argumentativo que estamos analisando, note como todos os demais parágrafos remetem diretamente à tese contida na introdução:

• 1.º parágrafo do desenvolvimento (2.º parágrafo do texto): apresenta o percurso intelectual trilhado por Lévi-Strauss, que influenciou a antropologia e deu ensejo à crítica ao racismo mencionada na tese;

• 2.º parágrafo do desenvolvimento (3.º parágrafo do texto): emprega um exemplo notório de texto de Lévi-Strauss contra o racismo e alude ao testemunho de uma autoridade no assunto, que corrobora a tese expressa na introdução;

• parágrafo de conclusão (4.º parágrafo do texto): reafirma a tese, parafraseando-a e acrescentando uma frase de efeito acerca da aplicação da visão antirracista à vida em sociedade.

No entanto, é muito pouco dizer que a introdução deve conter a deli-mitação do tema e a tese defendida pelo autor. Há diferentes técnicas para fazê-lo, que veremos a seguir. Optamos, neste caso, por redigir diversos parágrafos introdutórios sobre um mesmo tema, o papel da mulher no século XXI, mas usando técnicas diferentes, a fim de mostrar as diversas opções de que você pode se valer na hora da prova. Escolha aquela com que você tem mais facilidade e pratique-a!

2. TÉCNICAS PARA REDIGIR UM PARÁGRAFO DE INTRODUÇÃO

2.1. Abordagem padrão

Neste tipo de introdução, apresenta-se primeiramente a tese e logo a seguir enumeram-se os argumentos que serão desenvolvidos ao longo do

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texto (cada um desses argumentos corresponderá, a seguir, a cada um dos parágrafos subsequentes). Veja o exemplo abaixo:

O mundo moderno, apesar de já perceber em sua constituição uma maior igualdade entre homens e mulheres, ainda está eivado de situações ultrajantes para o sexo feminino. Nesse contexto, podemos perceber a submissão das mulheres islamitas a seus cônjuges, a pressão da mídia sobre a estética feminina e a resistência dos homens quanto a auxiliar suas esposas nas tarefas domésticas.

Nesse caso, a primeira frase, tópico frasal do parágrafo, é tam-bém a tese do texto (ponto de vista principal defendido na redação). Seguem-se a ela três argumentos, que serão explorados em detalhe nos próximos três parágrafos de desenvolvimento. Essa técnica de in-trodução é muito produtiva, na medida em que exige poucos minutos para sua elaboração.

É preciso, no entanto, tomar cuidado para não tornar seu texto re-petitivo. Se você citou os três argumentos já na introdução, não deverá fazê-lo novamente na conclusão. Além disso, em uma abordagem como essa, é interessante que os parágrafos de desenvolvimento sejam iniciados por elementos coesivos que remetam à noção de enumeração, presente na introdução. Dessa forma, é uma boa ideia começar cada um deles por ex-pressões como primeiramente, em primeiro lugar, além disso, ademais, some-se a isso etc. Retomar ao longo do texto a estrutura enumerativa presente na introdução garante à sua redação mais coesão e unidade.

2.2. Definição

Nesse tipo de introdução, antes de apresentar a tese, faz-se uma ambientação, isto é, uma afirmação inicial que situa a tese na proposta dada pela banca. Neste caso, a ambientação pode ser a definição de um conceito-chave para a argumentação acerca do tema proposto. Veja:

A própria palavra “mulher” carrega em si uma ambiguidade que denota, de certa forma, a situação ambivalente que vivem hoje os membros do sexo feminino de nossa espécie. Se, por um lado, esse vocábulo quer dizer “ser humano do sexo feminino”, por outro pode ser empregado como sinônimo de “esposa”. Mas ser mulher implica, de fato, ser esposa? Essa breve reflexão de ordem linguística reflete um pouco do imaginário popular acerca do feminino em nossa sociedade e a urgência de que se reavaliem as representações sociais sobre esse grupo.

Como, na hora da prova, você não terá acesso a dicionários ou outras fontes de consulta, tente bolar sua própria definição, mas tome o cuidado

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de não ser demasiado reducionista. A partir dessa definição, introduza sua tese, situando-a em relação à ambientação do tema. Essa modalidade de introdução é extremamente produtiva em textos expositivos, em que a banca geralmente pede que você escreva sobre determinado item do edital, discorrendo informativamente sobre ele.

2.3. Questionamento(s)

A ambientação pode também ser composta por uma ou mais pergun-tas, que convidam o leitor à reflexão acerca do tema. No entanto, tome o cuidado de, após essas perguntas, afirmar sua tese. Não deixe também de responder a todas as perguntas ao longo de seu texto.

Observe o exemplo a seguir:

É ainda cabível, na sociedade hodierna, a expressão “sexo frágil’? A evolução da história confirma a derrocada de tal clichê, visto que, dia após dia, as mulheres assumem postos de trabalho e funções sociais até então restritas ao homem.

Vale ressaltar que esses questionamentos, chamados de perguntas retó-ricas, são apenas falsas perguntas, servindo mais à condução do raciocínio do autor do que a uma efetiva demanda por determinada resposta. Dessa forma, evite responder a tais questionamentos simplesmente dizendo “sim” ou “não”. Como sua função é ajudar o encadeamento da argumentação, as respostas devem ser apresentadas em frases completas, que sustentem a tese defendida ao longo do texto.

2.4. Citação

A ambientação também pode apresentar uma citação de alguém famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr entre aspas uma fala que não é propriamente sua, caso seja transcrita literalmente. No entanto, se você não tiver certeza sobre a forma exata da citação, é melhor parafraseá-la (escrevê-la com suas próprias palavras). Além disso, não deixe de colocar sua tese logo após a citação.

“As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Essa citação do poeta brasileiro Vinícius de Moraes revela-se não só politicamente incorreta, mas também caduca nos dias de hoje. A atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, não mais atrelada à sua constituição física, como um objeto, mas voltada para aspectos como força de trabalho, produção intelectual e igualdade

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de direitos. O sexo feminino equipara-se, assim, ao masculino e exige tratamentos iguais.

A citação pode servir como ponto de partida a ser ratificado ou cri-ticado, mas é importante que você escolha com propriedade que autor e que fala irá reproduzir em seu texto. Dê preferência a pessoas famosas e consideradas referências no tema sobre o qual você está escrevendo.

2.5. Sequência de frases nominais

Um recurso interessante para iniciar um texto é fazer uma enumeração de frases nominais (sem verbo), separando-as por ponto final. Por ser uma estratégia diferente, isso chama a atenção do leitor. Como sempre, a presença da tese logo após essa ambientação é fundamental. Veja:

Panela no fogão. Celular apoiado entre o ombro e a orelha. Filho choroso. Pilha de relatórios a serem lidos e assinados. Essa é a rotina estressante de uma série de brasileiras, que, dadas as dificuldades econômicas por que passa o país, não podem depender apenas do salário de seus maridos. Muitas sequer os têm, ou são casadas, mas não desejam depender de seus cônjuges. Todavia, a estrutura familiar ainda tem de flexibilizar-se muito, para que os homens se envolvam plenamente nas tarefas até então ditas femininas.

Note também que uma boa seleção dos elementos a serem enumerados é crucial: estes devem manter entre si paralelismo sintático e semântico, a fim de garantir coesão ao texto. Isso quer dizer que esses elementos devem ser estruturados basicamente da mesma forma (substantivo + expressão modificadora, no caso aqui analisado) e pertencer a um mesmo grupo conceitual (campo semântico).

2.6. Exposição do ponto de vista oposto

Você pode também iniciar seu texto enunciando um ponto de vista contrário ao seu, na ambientação. Em seguida, use um conectivo que expresse oposição de ideias (porém, no entanto, contudo, todavia etc.) e apresente sua própria tese, provando ser ela mais acertada do que o posicionamento anteriormente mencionado.

Há uma série de homens que dizem que, se as mulheres desejam direitos iguais, têm de abrir mão de certas regalias, como o que a tradição convencionou chamar de cavalheirismo. Todavia, é preciso

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destacar que a luta feminista não visa a acabar com as diferenças entre os gêneros, tampouco com os mecanismos de interação entre eles, como a corte. Seu objetivo é permitir que homens e mulheres tenham as mesmas chances de decidir sua posição na sociedade.

Tal recurso, chamado de contra-argumentação, será estudado em mais detalhes no próximo capítulo, mas pode-se adiantar desde já que se trata de poderoso recurso de persuasão, uma vez que desautoriza teses e argumentos opostos à sua linha de raciocínio ao mesmo tempo em que define claramente o seu ponto de vista.

2.7. Analogia

Este recurso consiste em, antes da tese, fazer uma comparação/metáfora com outros campos semânticos. Trata-se, no entanto, de uma estratégia extremamente arriscada, pois, se mal empregada, pode resultar em um texto pouco objetivo. Caso opte por iniciar seu texto assim, lembre-se de revisitar a mesma analogia na conclusão e não a mencionar repetidamen-te nos parágrafos de desenvolvimento. Leia um exemplo de introdução construído dessa forma:

Comer a maçã parece ter amaldiçoado as filhas de Eva de forma muito mais intensa do que os descendentes de Adão. Além de perderem o Éden e sentirem as dores do parto, as mulheres parecem condenadas às tarefas do lar, ao choro dos filhos e à submissão a seus cônjuges. Faz-se, portanto, necessário que os deserdados do Jardim das Delícias se unam e passem a tratar-se com igualdade, carregando seu fardo de forma igualitária.

Veja que o parágrafo acima se vale da imagem de Adão e Eva para introduzir seu ponto de vista sobre o papel da mulher no mundo contem-porâneo. Atente também para o fato de que é imprescindível afirmar sua tese claramente logo após essa analogia.

2.8. Alusão histórica

Antes de apresentar sua tese, você pode lançar mão de uma ambien-tação que a situe historicamente, expondo, brevemente, os antecedentes históricos que confirmam seu ponto de vista. Veja:

Perto da metade do século XX, o mundo vê-se em meio a um conflito de proporções colossais deflagrado entre as potências do globo. Nesse contexto, os homens deixam suas casas e rumam para a

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batalha, enquanto as mulheres têm de assumir seus postos de trabalho, para assegurar que as nações não parem. A Segunda Guerra Mundial revela-se, portanto, a derrocada final do mito de que as mulheres tivessem nascido para o serviço doméstico.

Para redigir esse tipo de introdução, é indispensável que o candidato tenha um amplo conhecimento de mundo, sendo capaz de relacionar o tema proposto pela banca e o contexto sócio-histórico. Caso não tenha certeza sobre os dados que se pretende apresentar, é melhor optar por outra estratégia de introdução, a fim de não incorrer em incoerências. Ademais, é preciso tomar cuidado para essa alusão histórica não tomar proporções demasiado narrativas em seu texto. Lembre-se de que ela deve servir apenas para ambientar a sua tese, pois o texto a ser escrito tem de ser dissertativo.

Cumpre ressaltar que, entre todas essas estruturas para o parágrafo de introdução, temos notado que, atualmente, as mais bem aceitas pelas bancas de concursos públicos são a abordagem padrão, a definição, a citação e a exposição do ponto de vista oposto.

3. A AFIRMAÇÃO DA TESE E A IMPESSOALIZAÇÃO DO DISCURSO

Uma característica básica do texto dissertativo, seja ele argumentativo ou expositivo, é a impessoalidade. Isso quer dizer que, na hora de uma prova de redação, o mais importante não é quem escreve ou quem lê, mas sim o próprio assunto do texto. Ainda que isso pareça óbvio, há uma série de conclusões que podem ser extraídas dessa afirmação, no que diz respeito à estruturação da redação e às funções da linguagem. A esse respeito, lembre-se de que um texto que tem o objetivo básico de:

• informar alguém e chamar atenção para seu conteúdo é marcado predominantemente pela função referencial da linguagem;

• expressar as emoções e opiniões do locutor (autor ou falante) é marcado predominantemente pela função emotiva da linguagem;

• convencer o interlocutor é marcado predominantemente pela função apelativa da linguagem.

Assim, a dissertação expositiva é um texto exclusivamente referencial. Já a dissertação argumentativa carrega um pouco de cada uma dessas três funções, embora deva sobressair-lhe também a referencial.

Essas considerações acerca das funções da linguagem têm consequên-cia direta sobre a escolha de palavras e estruturas gramaticais a serem

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empregadas no texto. Como em ambos os tipos textuais deve predominar a função referencial da linguagem, é importante que o candidato não utilize marcas linguísticas muito evidentes das outras funções. Isso quer dizer que referências diretas ao autor e ao leitor não são bem-vindas em uma redação para concursos públicos. Para isso ficar mais claro, observe as frases a seguir, retiradas de textos de alunos, e veja como as adaptamos para que atendam melhor às expectativas da banca corretora:

a. Percebo que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse incremento.

Nesse caso, o candidato, ao expor sua tese, reforçou excessivamente que tal opinião é sua. Como o objetivo do texto argumentativo é conven-cer o leitor acerca de algo, é mais contundente uma argumentação que se baseia em opiniões partilhadas por todos, não só pelo autor do texto. Por isso, recomendamos que se evite o uso de verbos e pronomes na 1.ª pessoa, dando-se preferência a estruturas mais impessoais, que apresentam a tese ou os argumentos como algo aceito pela sociedade. Sugerimos, pois, que você opte por uma dessas estruturas:

• Verbo + seExemplos:Percebe-se que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a

crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse incremento.

Sabe-se que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse in-cremento.

Nota-se que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse incremento.

• Ser + adjetivoExemplos:É evidente que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a

crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse incremento.

É notório que a violência no Brasil cresce a cada dia, sendo a crise da educação pública um dos fatores que mais contribuem para esse incremento.

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b. A violência é uma chaga horrenda e monstruosa em nossa socieda-de, que dizima, como um cataclismo, a vida de pobres pessoas inocentes, que mereciam ser felizes e plenas em suas existências.

Nessa frase, um candidato um pouco mais “empolgado” enveredou por um estilo argumentativo acalorado, repleto de exageros e juízos de valores não respaldados no texto. Como a impessoalidade é um princípio a ser respeitado na redação para concursos públicos, é mais prudente adotar um estilo sóbrio, com adjetivação menos carregada e mais objetiva. Essa frase ficaria melhor, pois, escrita da seguinte forma: “A violência é um problema grave nas sociedades humanas em geral, interrompendo de forma antinatural a vida de muitos inocentes”.

c. É preciso que todos façam a sua parte para resolver o problema da violência. Cobre dos seus governantes mais investimento em educação, vá às escolas próximas a sua casa e fiscalize a aplicação do dinheiro público. A solução desse problema também depende de você!

Nesse parágrafo de conclusão, o candidato tentou convencer a ban-ca quanto à sua tese, mas foi infeliz nos recursos usados para tal fim. Devem-se evitar referências diretas ao leitor, como o uso do imperativo e de pronomes de tratamento, uma vez que comprometem a impessoali-dade do texto. Além disso, o ponto de exclamação é um sinal gráfico não recomendável para uma redação em prova de concurso público, visto que denota subjetividade e emoções em excesso.

Tal parágrafo de conclusão ficaria mais adequado assim:

“É preciso que todos façam a sua parte para resolver o problema da violência. Deve-se, pois, cobrar dos governantes mais investimento em educação, ir às escolas próximas de casa e fiscalizar a aplicação do dinheiro público. A solução desse problema depende de toda a sociedade, agindo em prol da educação”.

4. EXERCÍCIOS

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 1.

Brasileiro se realiza em arte menor. Com raras exceções aqui e ali na literatura, no teatro ou na música erudita, pouco temos a oferecer ao resto do mundo em matéria de grandes manifestações artísticas. Em compensa-ção, a caricatura ou a canção popular, por exemplo, têm sido superlativas aqui, alcançando uma densidade raramente obtida por nossos melhores artistas plásticos ou compositores sinfônicos. Outras artes, ditas “menores”, desempenham um papel fundamental na cultura brasileira. É o caso da

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crônica e da telenovela. Gêneros inequivocamente menores e que, no entanto, alcançam níveis de superação artística nem sempre observada em seus congêneres de outros quadrantes do planeta.

Mas são menores diante do quê? É óbvio que o critério de valoração continua sendo a norma europeia: a epopeia, o romance, a sinfonia, as “belas artes” em geral. O movimento é dialético e não pressupõe maniqueísmo. Pois se aqui não se geraram obras como as de Cervantes, Wagner ou Picasso, “lá” também – onde quer que seja esse lugar – nunca floresceu uma canção popular como a nossa que, sem favor, pode compor um elenco com o que de melhor já foi feito em matéria de poesia e de melodia no Brasil.

Machado de Assis, como de costume, intuiu admiravelmente tudo. No conto “Um homem célebre”, ele nos mostra Pestana, compositor que deseja tornar-se um Mozart mas, desafortunadamente, consegue apenas criar polcas e maxixes de imenso apelo popular. Morre consagrado – mas como autor pop. Aliás, não foi à toa que Caetano Veloso colocou uma frase desse conto na contracapa de Circuladô (1991). Um de nossos grandes artistas “menores” por excelência, Caetano sempre soube refletir a partir das limitações de seu meio, conseguindo às vezes transcendê-lo em verso e prosa. (...)

O curioso é que o conceito de arte acabou se alastrando para outros campos (e gramados) da sociedade brasileira. É o caso da consagração do futebol como esporte nacional, a partir da década de 30, quando o bate-bola foi adotado pela imprensa carioca, recebendo status de futebol-arte.

Ainda no terreno das manifestações populares, o ibope de alguns car-navalescos é bastante sintomático: eles são os encenadores da mais vista de todas as nossas óperas, o Carnaval. Quem acompanha a cobertura do evento costuma ouvir o testemunho deliciado de estrangeiros a respeito das imensas “qualidades artísticas” dos desfiles nacionais...

Seguindo a fórmula clássica de Antonio Candido em Formação da literatura brasileira (“Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, e não outra, que nos exprime.”), pode-se arriscar que muito da produção artística brasileira é tímida se comparada com o que é feito em outras paragens. Não temos Shakespeare nem Mozart? Mas temos Nelson Rodrigues, Tom Jobim, Nássara, Cartola – produtores de “miudezas” da mais alta estatura. Afinal são eles, e não outros, que expressam o que somos.

(Leandro Sarmatz. Ideias que desafiam o senso comum. Superinteressante, nov. 2000, p.106, com adaptações.)

1. (FCC) Segundo o texto, está correto o que se afirma em:

a) O 1.º parágrafo aponta a tese que será desenvolvida em todo o texto, até seu final, de modo plenamente coerente.

b) Entende-se o 2.º parágrafo como a real proposição do texto, na defesa das mani-festações da arte brasileira.

c) Machado de Assis e Caetano Veloso são citados, no 3.º parágrafo, como exemplos de expressões, respectivamente, do maior e do menor em nossa literatura.

d) Embora seja habitual, tanto entre brasileiros quanto entre estrangeiros, considerar--se o carnaval como “arte” (5.º parágrafo), suas manifestações não devem ser vistas como “artísticas”.

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e) O autor concorda com Antonio Candido, ao considerar, no último parágrafo, a po-breza da produção artística brasileira, em qualquer de seus aspectos.

Leia o texto a seguir para responder às questões de números 2 e 3.

Caipiradas

A gente que vive na cidade procurou sempre adotar modos de ser, pensar e agir que lhe pareciam os mais civilizados, os que permitem ver logo que uma pessoa está acostumada com o que é prescrito de maneira tirânica pelas modas – moda na roupa, na etiqueta, na escolha dos objetos, na comida, na dança, nos espetáculos, na gíria. A moda logo passa; por isso, a gente da cidade deve e pode mudar, trocar de objetos e costumes, estar em dia. Como consequência, se entra em contato com um grupo ou uma pessoa que não mudaram tanto assim; que usam roupa como a de dez anos atrás e respondem a um cumprimento com certa fórmula desusada; que não sabem qual é o cantor da moda nem o novo jeito de namorar; quando entra em contato com gente assim, o citadino diz que ela é caipira, querendo dizer que é atrasada e portanto meio ridícula.

Diz, ou dizia; porque hoje a mudança é tão rápida que o termo está saindo das expressões de todo dia e serve mais para designar certas sobrevivências teimosas ou alteradas do passado: músicas caipiras, festas caipiras, danças caipiras, por exemplo. Que, aliás, na maioria das vezes, conhecemos não praticadas por caipiras, mas por gente que finge de caipira e usa a realidade do seu mundo como um produto comercial pitoresco.

Nem podia ser de outro modo, porque o mundo em geral está mu-dando depressa demais, e nada pode ficar parado. Hoje, creio que não se pode falar mais de criatividade cultural no universo do caipira, porque ele quase acabou. O que há é impulso adquirido, resto, repetição – ou paródia e imitação deformada, mais ou menos parecida. Há, registre-se, iniciativas culturais com o fito de fixar o que sobra de autêntico no mundo caipira. É o caso do disco Caipira: Raízes e frutos, do selo Eldorado, gravado em 1980, que será altamente apreciado por quantos se interessem por essa cultura tão especial, e já quase extinta.

(Antonio Candido, Recortes, com adaptações.)

2. (FCC) No primeiro parágrafo, estabelece-se uma contraposição entre as ex-pressões

a) mais civilizados e fórmula desusada, identificando pontos de vista adotados pelos citadinos.

b) logo passa e estar em dia, destacando parâmetros adotados pelos caipiras.

c) de maneira tirânica e está acostumada, enfatizando as críticas dos citadinos aos modos caipiras.

d) deve e pode mudar, sublinhando os impulsos a que os caipiras têm que se render.

e) é atrasada e meio ridícula, acentuando a variabilidade que ocorre com as modas.

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3. (FCC) Atente para as seguintes afirmações sobre o primeiro parágrafo:I. Com a expressão o que é prescrito de maneira tirânica, o autor está qua-

lificando modos de ser, pensar e agir, com cuja imposição os citadinos estão acostumados.

II. A submissão dos citadinos aos valores da moda é a causa de uma alternância de valores que reflete uma clara hesitação entre o que é velho e o que é novo.

III. No último e longo período, a sequência de pontos e vírgulas destaca uma enu-meração de traços que identificam um caipira aos olhos do citadino.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:

a) I e III, apenas.

b) II e III, apenas.

c) I e II, apenas.

d) I, II e III.

e) III, apenas.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 4.

Acerca de Montaigne

Montaigne, o influente filósofo francês do século XVI, foi um conser-vador, mas nada teve de rígido ou estreito, muito menos de dogmático. Por temperamento, foi bem o contrário de um revolucionário; certamente faltaram-lhe a fé e a energia de um homem de ação, o idealismo ardente e a vontade. Seu conservadorismo aproxima-se, sob certos aspectos, do que no século XIX viria a ser chamado de liberalismo.

Na concepção política de Montaigne, o indivíduo deve ser deixado livre dentro do quadro das leis, e a autoridade do Estado deve ser a mais leve possível. Para o filósofo, o melhor governo será o que menos se fizer sentir; assegurará a ordem pública sem invadir a vida privada e sem pretender orientar os espíritos. Montaigne não escolheu as instituições sob as quais viveu, mas resolveu respeitá-las, a elas obedecendo fielmente, como achava correto num bom cidadão e súdito leal. Que não lhe pedissem mais do que o exigido pelo equilíbrio da razão e pela clareza da consciência.

(Montaigne. Ensaios, Tradução de Sergio Milliet. São Paulo: Abril, 1972, Coleção Os Pensadores.)

4. (FCC) Há no primeiro parágrafo afirmações que induzem o leitor a identificar:I. um conservador típico como alguém rígido, limitado e dogmático.

II. um revolucionário como alguém ativo, idealista, dotado de fé, energia e vontade.

III. um conservador do século XVI com um liberal do século XIX.

Completa corretamente o enunciado desta questão o que está em

a) I, II e III.

b) I e II, apenas.

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c) II e III, apenas.

d) I e III, apenas.

e) II, apenas.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 5.

Brasil e África do Sul assinam acordo de cooperação

O Ministério da Educação do Brasil e o da África do Sul assinaram no início de julho um acordo de cooperação internacional na área da educa-ção superior. Além de apoiar o ensino universitário e prever a promoção conjunta de eventos científicos e técnicos, o acordo contempla o intercâm-bio de materiais educacionais e de pesquisa e o incentivo à mobilidade acadêmica e estudantil entre instituições de ensino superior, institutos de pesquisa e escolas técnicas.

Para incentivar a mobilidade, além de projetos conjuntos de pesquisa, os dois países devem promover a implantação de programas de intercâmbio acadêmico, com a concessão de bolsas, tanto a brasileiros na África do Sul quanto a sul-africanos no Brasil, para professores e alunos de doutorado e pós-doutorado. Ainda nessa área, a cooperação também prevê a criação de um programa de fomento a publicações científicas associadas entre representantes dos dois países.

Segundo o ministro da Educação brasileiro, Fernando Haddad, as equipes de ambos os ministérios da Educação trabalham há tempos na construção de um acordo para incrementar a cooperação entre os dois países. “Brasil e África do Sul têm uma grande similaridade de pensamento, oportunidades e desafios. Esperávamos há tempos a formatação de um acordo sólido”.

(<portal.mec.gov.br>, com adaptações.)

(CESPE) Julgue os itens a seguir quanto à compreensão do texto e à tipologia textual.

5. A ideia central do texto está resumida no primeiro período do primeiro pará-grafo.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 6.

Sociedade da informação e da educação

Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento. Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do conhecimento, na sociedade do conhe-cimento, sobretudo em consequência da informatização e do processo de globalização das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo admitindo que grandes massas da população estejam excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância da difusão de dados e informações e não de conheci-mentos. Isso está sendo possível graças às novas tecnologias que estocam

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o conhecimento, de forma prática e acessível, em gigantescos volumes de informações, que são armazenadas inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a Internet: para ser “usuário”, basta dispor de uma linha telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui apenas receptor de informações, mas também emissor de informações. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do planeta, podem-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. As novas tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia) etc. Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. (...)

As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. (...) Esses espaços de formação têm tudo para permitir maior democratização da informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e menos manipulação, menos controle e mais liberdade. (...)

O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é apenas o capital da transnacional que precisa dele para a inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. Espera--se que a educação do futuro seja mais democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista, tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico. (...)

Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir conheci-mento elaborado. E mais: numa perspectiva emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos, não discriminando o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada ao exercício da cidadania. (...)

Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma que deveria governar--se. É dever dela ser cidadã e desenvolver na sociedade a capacidade de governar e controlar o desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão do futuro. (...)

(Moacir Gadotti. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?>. Acesso em: abr. 2008.)

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6. (CESGRANRIO) Assinale a opção que exprime corretamente as ideias do pri-meiro parágrafo:

a) O fato de todos os setores valorizarem o conhecimento nos dá a certeza de que estamos na era do conhecimento.

b) As novas tecnologias permitem que na sociedade predomine a difusão de informa-ções e de conhecimento.

c) A existência de grande parte da população excluída justifica estarmos na sociedade do conhecimento.

d) A suposição de que nossa era é a do conhecimento se deve, principalmente, à ação da informática e ao processo de globalização das telecomunicações.

e) As mudanças radicais na sociedade provocadas pela informação asseguram as re-voluções no campo e na indústria.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 7.

Podem ser fios demais caídos no travesseiro. Ou fios de menos perce-bidos na cabeça ao se olhar no espelho. No fim das contas, o resultado é o mesmo: você está perdendo cabelo.

E não está sozinho. “A calvície atinge 50% da população masculina”, diz o dermatologista Ademir Carvalho Leite Jr.

Se tanta companhia não vale como consolo, a vantagem de ter muita gente sofrendo com o problema é que isso estimula as pesquisas cientí-ficas. “Há equipes estudando o uso de células-tronco para tratamento da calvície”, conta Leite Jr. Também já foi descoberto que são oito os pares de genes envolvidos no crescimento dos cabelos, segundo ele, o que abre possibilidades à pesquisa genética.

“Entre as perspectivas, está o desenvolvimento de testes genéticos para diagnóstico da alopecia androgenética, ou seja, a ausência de cabelos provo-cada pela interação entre os genes herdados e os hormônios masculinos. O teste pode determinar o risco e os graus de calvície antes de sua manifestação, permitindo o tratamento precoce”, diz Arthur Tykocinski, dermatologista da Santa Casa de São Paulo, que aponta ainda, entre as novidades na área, os estudos para uso de robôs no processo de transplante de cabelos.

(Iara Biderman. Folha de S. Paulo, 29.08.2008, com adaptações.)

Com relação às ideias, à organização e à tipologia do texto, julgue os itens que se seguem.

7. (CESPE) Para apresentar o tema do texto, a autora recorre, no primeiro pará-grafo, a imagens que indiciam o início da calvície.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 8.

O tribunal do mundo(...)

A partir da instalação da Corte no próximo ano em Haia (Holanda), os delitos cometidos contra os direitos humanos em situações de conflito não

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serão mais protegidos pelas barreiras da impunidade. A jurisdição julgadora está garantida pelos 65 países que a ratificaram entre os 139 subscritores do pacto da capital italiana.

Um órgão acima das estruturas nacionais com competência penal não serve apenas para punir os crimes de guerra, de genocídio, de lesa-humanidade, de agressão. Sua presença no topo da ordem jurídica mundial, com autoridade avalizada pela maioria das nações, se presta, sobretudo, para inibir tais tipos de violação. Constitui, pois, instrumento preventivo para assegurar os direitos essenciais de grupos humanos em nome da paz.

(Visão do Correio, Correio Braziliense, 12.04.2002, com adaptações.)

8. (ESAF) Assinale a opção que, ao preencher o espaço (...), constitui uma intro-dução coerente e gramaticalmente correta para o texto.

a) Com a assinatura do Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), aprovado em Haia em julho de 1998, e novas perspectivas para a paz mundial, embora o primeiro passo seja ainda convencer os italianos de sua necessidade.

b) Nova perspectiva para a paz mundial se abre com a entrada em vigor do Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), aprovado em Roma em julho de 1998.

c) Finalmente aprovado em julho de 1998, entra em vigor em Roma o Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), com o objetivo restritivamente preventivo para a paz mundial.

d) Parece que na China e na Rússia, as barreiras de impunidade para os dirigentes que usam de meios degenerados para eliminar adversários vão ao encontro do novo Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI).

e) Assim, ao ser assinado, em Paris, o Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), em julho de 1998, crimes verificados em diversas partes do planeta, que constituem abusos aos direitos humanos.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 9.

Com seus 5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia represen-ta 3,6% da superfície seca do planeta, área equivalente a nove vezes o território da França. O rio Amazonas, o maior do mundo em extensão e volume, despeja no mar, em um único dia, a mesma quantidade de água que o Tâmisa, que atravessa Londres, leva um ano para lançar. O vapor de água que a Amazônia produz por meio de evaporação responde por 60% das chuvas que caem nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Mesmo agora, com o reconhecimento de sua grandeza, a floresta amazônica permanece um domínio da natureza em que o ho-mem não é bem-vindo. No entanto, vivem lá 25 milhões de brasileiros, pessoas que enfrentaram o desafio do ambiente hostil e fincaram raízes na porção norte do Brasil.

(Edição Especial, Veja, set. 2009, p. 22, com adaptações.)

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Julgue os próximos itens com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e à sua organização linguística.

9. (CESPE) A ideia central do texto acima, apresentada no primeiro período, é explicitada nos demais, como argumentação secundária.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 10.

O homem moral e o moralizador

Depois de um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas, esta-mos certos disto: o moralizador e o homem moral são figuras diferentes, se não opostas. O homem moral se impõe padrões de conduta e tenta respeitá-los; o moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar.

A distinção entre ambos tem alguns corolários relevantes. Primeiro, o moralizador é um homem moral falido: se soubesse respeitar o padrão moral que ele impõe, ele não precisaria punir suas imperfeições nos outros. Segundo, é possível e compreensível que um homem moral tenha um espírito missionário: ele pode agir para levar os outros a adotar um padrão parecido com o seu. Mas a imposição forçada de um padrão moral não é nunca o ato de um homem moral, é sempre o ato de um moralizador. Em geral, as sociedades em que as normas morais ganham força de lei (os Estados confessionais, por exemplo) não são regradas por uma moral comum, nem pelas aspirações de poucos e escolhidos homens exemplares, mas por moralizadores que tentam remir suas próprias falhas morais pela brutalidade do controle que eles exercem sobre os outros. A pior barbá-rie do mundo é isto: um mundo em que todos pagam pelos pecados de hipócritas que não se aguentam.

(Contardo Calligaris. Folha de S. Paulo, 20.03.2008.)

10. (FCC) No contexto do primeiro parágrafo, a afirmação de que já decorreu um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas indica um fator determinante para que

a) concluamos que o homem moderno já não dispõe de rigorosos padrões morais para avaliar sua conduta.

b) consideremos cada vez mais difícil a discriminação entre o homem moral e o homem moralizador.

c) reconheçamos como bastante remota a possibilidade de se caracterizar um homem moralizador.

d) identifiquemos divergências profundas entre o comportamento de um homem moral e o de um moralizador.

e) divisemos as contradições internas que costumam ocorrer nas atitudes tomadas pelo homem moral.

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Leia o texto a seguir para responder à questão de número 11.

Religião mestiça

Insulado deste modo no país, que o não conhece, em luta aberta com o meio, que lhe parece haver estampado na organização e no temperamento a sua rudeza extraordinária, nômade ou mal fixo à terra, o sertanejo não tem, por bem dizer, ainda capacidade orgânica para se afeiçoar a situação mais alta.

O círculo estreito da atividade remorou-lhe o aperfeiçoamento psíquico. Está na fase religiosa de um monoteísmo incompreendido, eivado de misti-cismo extravagante, em que se rebate o fetichismo do índio e do africano. É o homem primitivo, audacioso e forte, mas ao mesmo tempo crédulo, deixando-se facilmente arrebatar pelas superstições mais absurdas. Uma análise destas revelaria a fusão de estádios emocionais distintos.

(Euclides da Cunha. O homem/Os sertões. In Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 197.)

Com relação ao texto, julgue (C ou E) os itens seguintes.

11. (CESPE) No primeiro parágrafo, a antecipação das causas e das explicações é um recurso de ênfase que reforça a afirmação final do autor.

Leia o texto a seguir para responder à questão de número 12.

E se... não tivéssemos medo?

Quem diria: aquele frio na espinha na hora de pular do trampolim é essencial para a nossa vida. O medo acaba com a gente quando estamos vendo um filme de terror ou tentando pular na piscina, mas, sem ele, não seríamos nada, coisa nenhuma. Na ausência do medo, não teríamos nenhuma reação em situações de perigo, como a aproximação de um mastodonte na idade do gelo ou quando o carro vai dar de cara no poste. Essa proteção acontece involuntariamente: a sensação de temor chega antes às partes do cérebro que regem nossas ações involuntárias que ao córtex, a casca cerebral onde está o raciocínio.

Além desse medo primordial, existe o medo criado pela mente. Afinal, não corremos risco iminente de não perpetuar a espécie quando gague-jamos diante de uma possível paquera, ao tentar pedir aumento para o chefe ou quando construímos muralhas e bombas atômicas.

Pelo contrário. “O medo de ser ridicularizado ou menos amado pelo outro é a fonte de neuroses e fobias sociais, mas está presente em todas as pessoas”, diz a psicóloga Maria Tereza Giordan Góes, autora do livro Vivendo Sem medo de Ter Medo. E o que aconteceria se seguíssemos com o medo involuntário, mas deixássemos de ter o medo imaginário? Pois é, também não seríamos muita coisa.

O medo é um conceito fundamental para Freud, o pai da psicanálise. Segundo ele, é o medo da castração, de ser ridicularizado ou menos amado, que faz os homens lutarem por objetivos e se submeterem a provas sexuais

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e sociais. Sem medo, poderíamos ficar sem motivação de competir, inovar, ser melhor que o vizinho.

Pior: viveríamos num caos danado, já que o medo de ser culpado e castigado é raiz para instituições e religiões. “Nunca uma civilização con-cedeu tanto peso à culpa e ao arrependimento quanto o cristianismo”, afirma o historiador francês Jean Delumeau, autor do livro História do medo no Ocidente.

“O medo se reproduz na forma da autoridade física e espiritual”, afir-ma a psicanalista Cleide Monteiro. “Ele está na base de instituições que podem ser opressoras, mas fazem a sociedade andar para a frente longe de barbáries.” Para a psicanálise, funciona assim: quando eu reconheço em mim a possibilidade de fazer mal a alguém, a enxergo também em você, então passo a temê-lo.

Para podermos conviver numa boa, criamos coisas superiores para temer, como a polícia e a religião. Sem o medo, não teríamos nada disso. Sairíamos direto na faca.

(Leandro Narlock. Superinteressante, com adaptações.)

12. (CESGRANRIO) No primeiro período do texto, o que está sendo focalizado especificamente é (são):

a) a dificuldade de escolha quanto a que rumo tomar.

b) o sentimento que norteia as ações humanas.

c) o sofrimento advindo de uma derrota.

d) as necessidades de lançar-se à vida.

e) os momentos decisivos na vida de cada um.

5. ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL

A banca da ESAF por vezes omite o primeiro parágrafo de um texto, na prova objetiva, exigindo que o candidato identifique, entre as opções disponíveis, aquela que poderia figurar como introdução do texto cujo início foi suprimido. Nesta atividade, faremos algo semelhante, pois omitiremos a introdução de um texto dissertativo, deixando a seu cargo redigir esse parágrafo inicial. Como o objetivo aqui é praticar, pedimos que você es-creva pelo menos quatro versões diferentes para esse parágrafo, utilizando distintas técnicas aprendidas neste capítulo. Não deixe, porém, de deixar claros o tema e a tese em todas as versões que você elaborar.

Texto adaptado para essa questão: O Haiti é aqui (Paulo Gurgel Valente, <http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/o-haiti-e-aqui/>.

Acesso em: 25 fev. 2010).

(...)No caso recente do Rio de Janeiro de abril de 2010, a contagem

de, pelo menos, 100 perdas humanas, é devida à má administração

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de recursos financeiros da Prefeitura e do Estado, aí incluídos casos não publicáveis. Atribuir à meteorologia a quantificação do índice pluviométrico, conhecendo-se a cidade e a região metro-politana desde a sua fundação, há praticamente 500 anos, e as características águas de março, extensivas agora a abril, é uma desculpa inaceitável.

A autoridade municipal tem todos os poderes para impedir construções nas encostas, desapropriar edificações ilegais e promover a relocali-zação e, se não o fez, foi por ineficiência, conjugada pelo populismo herdado do “socialismo moreno”, cuja filosofia era a permissividade e, por que não, o objetivo eleitoreiro. Se, ao longo das últimas déca-das, essa função tivesse sido cumprida com rigor, a probabilidade de acidentes resultantes de chuvas seria muito diminuída.

Por outro lado, os investimentos em sistemas de proteção para prevenir enchentes, limpeza de bueiros e valas teria sido uma opção mais útil do que, por exemplo, a Cidade da Música, cujo orçamento, noticiava o Globo em fevereiro de 2008, estava em R$ 460 milhões, cinco vezes o valor inicialmente projetado. É melhor nem saber a quanto monta este investimento em 2010, ainda não utilizado e sem previsão.

Na falta de direcionamento adequado da Prefeitura para os in-vestimentos relevantes, a orientação que o cidadão recebe em casos de calamidade é “ficar em casa”, paralisar as atividades pessoais, o comércio, a indústria e os serviços. Aos que moram em encostas, resta apenas procurar abrigo em “equipamentos públicos” ou buscar favores de caridade.

Na fúria de arrecadação, tanto a Prefeitura quanto o Estado, mal se inicia o ano, enviam para os contribuintes as guias do IPTU e do IPVA, desnorteando os orçamentos familiares, sem falar dos demais impostos como ISS e ICMS, que cercam o povo o ano inteiro. Não seria o caso de devolução destes impostos neste momento, tal como prevê o Código de Defesa do Consumidor em produtos defeituosos?

A questão de a carga tributária do país ser recorde e crescente, comparativamente ao PIB e a outros países, é que aqui não se ob-tém o retorno dos impostos, haja vista o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que em 2009 coloca o Brasil na vergonhosa 75.ª colocação mundial. Esta certamente não é uma informação útil para ser aproveitada na próxima campanha eleitoral.

Espera-se que o planejamento profissional substitua as praticas eleitoreiras e que os incidentes, desconfortos e as tragédias como a atual tenham algum efeito sobre os eleitores. Devem-se buscar políticos com soluções para os problemas cotidianos, em lugar de demagogos e inauguradores de placas de obras que nunca são entregues.

Furtado-Pereira -Tecnicas de Redacao p Conc-8ed.indb 89Furtado-Pereira -Tecnicas de Redacao p Conc-8ed.indb 89 01/09/2020 15:36:5901/09/2020 15:36:59